Avenida de Berna, junto à Universidade Nova de Lisboa (Lisboa)
Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
quinta-feira, 31 de maio de 2012
quarta-feira, 30 de maio de 2012
AUDIÊNCIAS EM PORTUGAL EM 1970
Audiências dos meios de difusão em Portugal é um texto assinado por Oliveira e Castro e editado em 1971, a partir de um estudo da Norma. O autor, na nota prévia, indica que o estudo é importante para as agências de publicidade e para a definição de uma política de informação e de sensibilização da opinião pública. Os media incluídos no texto seriam imprensa diária, não diária, revistas, rádio, televisão e cinema.
Com dados recolhidos entre 30 de Março e 3 de Maio de 1970 (há 41 anos, portanto), foram inquiridos sete mil indivíduos, 47% de homens e 53% de mulheres, com 23% de indivíduos com idade entre 15 e 24 anos, 21% entre 25 e 34 anos, 17% entre 35 e 44 anos, 16% entre 45 e 54 anos, 12% entre 55 e 64 anos e 11% com mais de 64 anos.
A audiência geral na imprensa diária colocava o Diário de Notícias com 21,6%, O Século com 15,8%, o Diário Popular com 15,3%, o Primeiro de Janeiro com 13,2%, o Jornal de Notícias com 9,5%, o Diário de Lisboa com 7,6%, o Comércio do Porto com 7,3%, A Capital com 5% e o Diário de Coimbra com 2,1%. Todos os jornais eram mais lidos por homens que por mulheres e pelos mais novos (até 34 anos). Acidentes e desastres (12%), dia a dia (10,5%), política internacional (8,2%), política nacional (6,9%) e desporto (6%) eram os assuntos de maior interesse para os leitores.
Na rádio, a líder era a Emissora Nacional, programa 1 (35,3%), seguida do Rádio Clube Português da Parede (30,6%), do Rádio Clube Português de Miramar (23,7%), da Renascença de Lisboa (12,4%), da Renascença do Porto (11,1%), da Rádio Graça (6,9%) e dos Emissores Norte Reunidos (5,6%). As mulheres ouviam mais que os homens a Emissora Nacional, programa 1, o Rádio Clube Português e a Renascença. O que mais gostavam de ouvir eram programas de noticiário, teatro, discos pedidos, música portuguesa e fados. Só depois vinham os programas desportivos.
A televisão, então com apenas um canal, era mais vista à segunda-feira, seguindo-se o domingo, e o quadro de programas preferidos incluia teatro (37,9%), variedades (30,2%), séries filmadas (27,3%), telejornal (27,2%). Muito depois, preferiam-se programas desportivos (9,6%), folclore (8,8%), tourada (6,2%) e fados e futebol (juntos) (5%).
Frequentar as salas de cinema era um hábito polarizado entre um grande consumo e uma ausência de consumo: 23,7% ia três a sete vezes por semana, 10,7% entre uma e duas vezes, 1,3% uma vez por semana, 14,8% tinham ido na semana anterior, 64,1% não frequentavam o cinema.
Uma conclusão geral seria a da baixa taxa de leitura, visão e audição dos media, o que significava baixos índices de influência na formação da opinião pública.
Com dados recolhidos entre 30 de Março e 3 de Maio de 1970 (há 41 anos, portanto), foram inquiridos sete mil indivíduos, 47% de homens e 53% de mulheres, com 23% de indivíduos com idade entre 15 e 24 anos, 21% entre 25 e 34 anos, 17% entre 35 e 44 anos, 16% entre 45 e 54 anos, 12% entre 55 e 64 anos e 11% com mais de 64 anos.
A audiência geral na imprensa diária colocava o Diário de Notícias com 21,6%, O Século com 15,8%, o Diário Popular com 15,3%, o Primeiro de Janeiro com 13,2%, o Jornal de Notícias com 9,5%, o Diário de Lisboa com 7,6%, o Comércio do Porto com 7,3%, A Capital com 5% e o Diário de Coimbra com 2,1%. Todos os jornais eram mais lidos por homens que por mulheres e pelos mais novos (até 34 anos). Acidentes e desastres (12%), dia a dia (10,5%), política internacional (8,2%), política nacional (6,9%) e desporto (6%) eram os assuntos de maior interesse para os leitores.
Na rádio, a líder era a Emissora Nacional, programa 1 (35,3%), seguida do Rádio Clube Português da Parede (30,6%), do Rádio Clube Português de Miramar (23,7%), da Renascença de Lisboa (12,4%), da Renascença do Porto (11,1%), da Rádio Graça (6,9%) e dos Emissores Norte Reunidos (5,6%). As mulheres ouviam mais que os homens a Emissora Nacional, programa 1, o Rádio Clube Português e a Renascença. O que mais gostavam de ouvir eram programas de noticiário, teatro, discos pedidos, música portuguesa e fados. Só depois vinham os programas desportivos.
A televisão, então com apenas um canal, era mais vista à segunda-feira, seguindo-se o domingo, e o quadro de programas preferidos incluia teatro (37,9%), variedades (30,2%), séries filmadas (27,3%), telejornal (27,2%). Muito depois, preferiam-se programas desportivos (9,6%), folclore (8,8%), tourada (6,2%) e fados e futebol (juntos) (5%).
Frequentar as salas de cinema era um hábito polarizado entre um grande consumo e uma ausência de consumo: 23,7% ia três a sete vezes por semana, 10,7% entre uma e duas vezes, 1,3% uma vez por semana, 14,8% tinham ido na semana anterior, 64,1% não frequentavam o cinema.
Uma conclusão geral seria a da baixa taxa de leitura, visão e audição dos media, o que significava baixos índices de influência na formação da opinião pública.
domingo, 27 de maio de 2012
Armando Leça
Armando Leça. A música portuguesa nos novos meios de comunicação é uma exposição patente na Casa Verdades de Faria, Museu da Música Portuguesa, em Cascais. Armando Leça (1891-1977) foi compositor, intérprete, regente, folclorista, crítico, etnomusicólogo, ensaísta, novelista e poeta, além de pioneiro na utilização dos media (cinema, rádio e indústria discográfica). Na visita à exposição, há o contacto com a participação do músico "na construção do cinema português, no surgimento dos primeiros programas de rádio e da primeira etiqueta discográfica dedicada à música folclórica, e ainda com a primeira coleção de registos sonoros de matriz rural extensiva ao continente, realizada a pedido da Comissão dos Centenários por altura da exposição do Mundo Português (1940)" (do programa) [em baixo, reprodução de duas páginas da Agenda Cultural Cascais, nº 56, referente a maio-junho de 2012].
No cinema, colaborou com a Invicta Film (Porto), compondo a música do filme Os Fidalgos da Casa Mourisca (1920) e Mulheres da Beira (1921), mas também Amor da Perdição e Rosa do Adro, filmes ainda mudos. Na rádio, assumiu a direção artística do programa Hora de Música Portuguesa, em 1932, na Rádio Porto, uma das estações pioneiras de Portugal. O próprio Armando Leça tocou ao piano ou no harmónio composições de Alfredo Napoleão, António Fragoso, Armando Fernandes, Artur Ferreira, Augusto Machado, Freitas Branco, Hernani Torres, Óscar da Silva, Tomás Borba, Tomás de Lima e Rui Coelho, entre outros (do catálogo da exposição). Mais tarde, entre 1957 e 1964, participou num programa do Rádio Clube Português (Porto). No disco, coordenou a edição de discos comerciais da fábrica discográfica portuense Rádio Triunfo, na etiqueta Alvorada, onde reuniu 85 discos de grupos folclóricos do norte do país. O rancho regional de Manhouce estreou-se nesta coleção discográfica, distinguindo-se Isabel Silvestre, nas décadas de 1980 e 1990, já depois do desaparecimento de Armando Leça.
O catálogo destaca ainda o levantamento sonoro de música de matriz rural (1939-1940), realizado para as comemorações do centenário, levadas a efeito pelo Estado Novo. O levantamento foi dado por desaparecido mas a sua recuperação e tratamento digital foi iniciada em 2010, numa parceria entre a câmara de Matosinhos, a RTP, o Arquivo Fonográfico de Viena (Áustria) e o Instituto de Etnomusicologia: Centro de Estudos em Música e Dança (Lisboa).
No cinema, colaborou com a Invicta Film (Porto), compondo a música do filme Os Fidalgos da Casa Mourisca (1920) e Mulheres da Beira (1921), mas também Amor da Perdição e Rosa do Adro, filmes ainda mudos. Na rádio, assumiu a direção artística do programa Hora de Música Portuguesa, em 1932, na Rádio Porto, uma das estações pioneiras de Portugal. O próprio Armando Leça tocou ao piano ou no harmónio composições de Alfredo Napoleão, António Fragoso, Armando Fernandes, Artur Ferreira, Augusto Machado, Freitas Branco, Hernani Torres, Óscar da Silva, Tomás Borba, Tomás de Lima e Rui Coelho, entre outros (do catálogo da exposição). Mais tarde, entre 1957 e 1964, participou num programa do Rádio Clube Português (Porto). No disco, coordenou a edição de discos comerciais da fábrica discográfica portuense Rádio Triunfo, na etiqueta Alvorada, onde reuniu 85 discos de grupos folclóricos do norte do país. O rancho regional de Manhouce estreou-se nesta coleção discográfica, distinguindo-se Isabel Silvestre, nas décadas de 1980 e 1990, já depois do desaparecimento de Armando Leça.
O catálogo destaca ainda o levantamento sonoro de música de matriz rural (1939-1940), realizado para as comemorações do centenário, levadas a efeito pelo Estado Novo. O levantamento foi dado por desaparecido mas a sua recuperação e tratamento digital foi iniciada em 2010, numa parceria entre a câmara de Matosinhos, a RTP, o Arquivo Fonográfico de Viena (Áustria) e o Instituto de Etnomusicologia: Centro de Estudos em Música e Dança (Lisboa).
quarta-feira, 23 de maio de 2012
Jornalismo em tempo de crise
Como escrevi ontem, realiza-se no próximo sábado na Casa da Imprensa o terceiro colóquio sob o título Jornalismo em tempo de crise, promovido pelo Fórum dos Jornalistas. Um dos organizadores, o jornalista Rui Peres Jorge, antecipa aqui, num pequeno vídeo, o que será o colóquio.
Revista de Políticas de Comunicação abre Chamada de Trabalhos
A Revista Brasileira de Políticas de Comunicação (RBPC), vinculada ao Laboratório de Políticas de Comunicação da Universidade de Brasília (Lapcom/UnB), recebe artigos e resenhas para a sua próxima edição (jul-dez 2012). O prazo para submissão dos trabalhos encerra-se no próximo dia 30 de maio. O processo de avaliação é feito por pares (dois pareceristas, no sistema de anonimato mútuo), podendo o resultado ser: “recomendado para publicação”; “recomendado para publicação com modificações” ou “não recomendado para publicação”. Os artigos podem ser escritos em português, inglês, espanhol ou francês. Só serão aceites os trabalhos que estiverem de acordo com as normas de publicação da Revista; para conhecê-las aceda ao sítio www.rbpc.lapcom.unb.br/.
A (RBPC) é uma publicação eletrónica académica, com periodicidade semestral, focada na interseção entre as políticas de comunicação, os estudos culturais e a economia política. São aceites textos que abordem criticamente fenómenos sociais, políticos, culturais e normativos que se produzem no universo das políticas de comunicação e dos estudos culturais no Brasil e em outros países. O objetivo é dar visibilidade a aspectos relevantes das políticas de comunicação levadas a termo pelos poderes públicos dos países - da radiodifusão às telecomunicações e à internet -, que são cada vez mais importante para se pensar as relações contemporâneas entre sociedade, Estado, comunicação e economia.
A (RBPC) é uma publicação eletrónica académica, com periodicidade semestral, focada na interseção entre as políticas de comunicação, os estudos culturais e a economia política. São aceites textos que abordem criticamente fenómenos sociais, políticos, culturais e normativos que se produzem no universo das políticas de comunicação e dos estudos culturais no Brasil e em outros países. O objetivo é dar visibilidade a aspectos relevantes das políticas de comunicação levadas a termo pelos poderes públicos dos países - da radiodifusão às telecomunicações e à internet -, que são cada vez mais importante para se pensar as relações contemporâneas entre sociedade, Estado, comunicação e economia.
terça-feira, 22 de maio de 2012
Jornalismo em reflexão (26 de maio de 2012)
1 ª Sessão: 14:45
O que é que os consumidores querem? Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades dos leitores e consumidores de informação? O que os atrai num mundo de excesso de informação? Qual o real valor da informação? Que tipos de propostas editoriais as pessoas estão, de facto, disponíveis para pagar? O que consomem no online e no papel? Será que os consumidores querem criar comunidades para costumizarem a – sua – informação? Esta será a sessão dos leitores e dos que fazem da informação e da sua disseminação a matéria prima para trabalhar. Eles serão a voz do lado da procura no enorme mercado dos media e da informação de massas.
Oradores: Alberto Rui Pereira, diretor geral da Initiative, Cândida Almeida, diretora do DCIAP, João Botelho, realizador, e José Pacheco Pereira, historiador. Moderador: Luís Reis Ribeiro.
2 ª Sessão: 16:45
Como estão e vão mudar os órgãos de comunicação social ? – Um inquérito às posições de chefia em Portugal. Como evoluíram as redacções nos últimos anos e que segurança temos relativamente aos próximos cinco? Que impacto estão a ter as transformações tecnológicas nas notícias? E nos jornalistas, que novas competências lhes são exigidas? As barreiras entre o jornalismo e a publicidade estão ameaçadas? E qual a importância de um jornalismo mais especializado? Foi para estas e outras perguntas que foi pedida a opinião a jornalistas em cargos de responsabilidade editorial através de um inquérito realizado pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (CESOP) da Universidade Católica que terá a sua apresentação pública este sábado. O jornalismo e o seu futuro serão debatidos a partir das respostas dadas por dois terços das chefias de 21 órgãos de comunicação social portugueses.
Oradores: Adelino Gomes, jornalista, investigador PJS, José Vítor Malheiros, jornalista, e Rogério Santos, docente da Universidade Católica Portuguesa. Moderador: Rui Peres Jorge.
Colóquio na Casa da Imprensa, Lisboa.
O que é que os consumidores querem? Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades dos leitores e consumidores de informação? O que os atrai num mundo de excesso de informação? Qual o real valor da informação? Que tipos de propostas editoriais as pessoas estão, de facto, disponíveis para pagar? O que consomem no online e no papel? Será que os consumidores querem criar comunidades para costumizarem a – sua – informação? Esta será a sessão dos leitores e dos que fazem da informação e da sua disseminação a matéria prima para trabalhar. Eles serão a voz do lado da procura no enorme mercado dos media e da informação de massas.
Oradores: Alberto Rui Pereira, diretor geral da Initiative, Cândida Almeida, diretora do DCIAP, João Botelho, realizador, e José Pacheco Pereira, historiador. Moderador: Luís Reis Ribeiro.
2 ª Sessão: 16:45
Como estão e vão mudar os órgãos de comunicação social ? – Um inquérito às posições de chefia em Portugal. Como evoluíram as redacções nos últimos anos e que segurança temos relativamente aos próximos cinco? Que impacto estão a ter as transformações tecnológicas nas notícias? E nos jornalistas, que novas competências lhes são exigidas? As barreiras entre o jornalismo e a publicidade estão ameaçadas? E qual a importância de um jornalismo mais especializado? Foi para estas e outras perguntas que foi pedida a opinião a jornalistas em cargos de responsabilidade editorial através de um inquérito realizado pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (CESOP) da Universidade Católica que terá a sua apresentação pública este sábado. O jornalismo e o seu futuro serão debatidos a partir das respostas dadas por dois terços das chefias de 21 órgãos de comunicação social portugueses.
Oradores: Adelino Gomes, jornalista, investigador PJS, José Vítor Malheiros, jornalista, e Rogério Santos, docente da Universidade Católica Portuguesa. Moderador: Rui Peres Jorge.
Colóquio na Casa da Imprensa, Lisboa.
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Vânia
Tio Vânia, de Anton Tchekhov, agora sem o tio no título, é a peça em cena no Teatro da Trindade. A personagem principal é desempenhada por João Lagarto. O tio Vânia vive na Rússia rural, onde a sua riqueza é extraída da terra. Ele e a sobrinha Sonia (São José Correia) administram a propriedade. Nesta, residem ainda a mãe de Vânia, Maria (Elisa Lisboa), velha diletante dos manifestos políticos, Marina (Lucinda Loureiro) e Telegin (Wagner Borges), que trabalham diretamente com Vânia e Sonia nos cuidados da terra e dos animais. O eixo rural compõe-se ainda do médico Astrov (Pedro Lima), também dado à defesa e preservação do ambiente, por quem Sonia nutre uma paixão não correspondida. A pacatez do lar é alterada com a chegada do professor (José Wallenstein), genro de Maria, cunhado de Vânia e pai de Sonia, que chega acompanhado da sua muito jovem esposa Elena (Teresa Tavares), por quem Vânia e Astrov se apaixonam.
Cada uma das personagens permanece atual: o académico cuja obra é incompreensível ou desatualizada, a sua mulher que vive num permanente tédio apesar de adulada por todos, um médico falhado por não viver numa sociedade mais liberal, uma mulher que julga ainda viver de causas e combates políticos mas estes são já anacrónicos, um homem que se esforçou a vida toda mas que não retira qualquer provento intelectual ou material. Não incluindo aqui os papéis de Marina e Telegin, seres esforçados na vida do dia a dia mas que não figuram nos livros do porvir, restam Sonia, que tem um maior entendimento do mundo humano, com as suas fraquezas e imponderabilidades, e Vânia, individualista, sofredor e causador de sofrimento, um ser igual a muitos de nós, cujas análises e projetos têm incoerências e ambiguidades.
Para além dos papéis convincentes do grupo de atores e atrizes, numa versão e encenação de Isabel Medina, o mais importante é a história (as histórias) da peça, e a interpretação que ainda hoje damos a uma proposta escrita em 1896.
Cada uma das personagens permanece atual: o académico cuja obra é incompreensível ou desatualizada, a sua mulher que vive num permanente tédio apesar de adulada por todos, um médico falhado por não viver numa sociedade mais liberal, uma mulher que julga ainda viver de causas e combates políticos mas estes são já anacrónicos, um homem que se esforçou a vida toda mas que não retira qualquer provento intelectual ou material. Não incluindo aqui os papéis de Marina e Telegin, seres esforçados na vida do dia a dia mas que não figuram nos livros do porvir, restam Sonia, que tem um maior entendimento do mundo humano, com as suas fraquezas e imponderabilidades, e Vânia, individualista, sofredor e causador de sofrimento, um ser igual a muitos de nós, cujas análises e projetos têm incoerências e ambiguidades.
Para além dos papéis convincentes do grupo de atores e atrizes, numa versão e encenação de Isabel Medina, o mais importante é a história (as histórias) da peça, e a interpretação que ainda hoje damos a uma proposta escrita em 1896.
domingo, 20 de maio de 2012
Fanzine CRU
Casa de nomes como Esgar Acelerado, Rui Torres, Rui Ricardo, Eduardo de Portugal, Helen Gossip, Emerenciano Osga, Mário Moura, Paolo Matlam, Asnaldo di Pietro, Randy Alvey, Cunha Rêgo, entre muitos outros, a CRU, revista rasca e vadia, foi o fanzine mais representativo do no-design e do do it yourself português durante a década de 1990. Com tiragens que não ultrapassavam os 100 exemplares, a CRU é hoje um valioso objeto de coleção, que agora se (re)introduz a uma plateia mais vasta. No limbo desde 1999, a CRU regressa aos escaparates com uma nova edição, mais rasca e vadia de que nunca, com antigos e novos colaboradores. CRU, uma publicação pelintra, repleta do melhor da cultura underground. valter hugo mãe (que aqui se estreia como argumentista de BD), Nuno Saraiva, Alex Gozblau, Esgar Acelerado, Valquíria Aragão, Johnny Ryan, Rudolfo, Darren Merinuk ou Zita Carícias são alguns dos colaboradores desta edição, repleta de banda desenhada, ilustração, contos, críticas de discos, cinema, colunas de opinião e muitos outros motivos de interesse. Com impressão offset limitada a 300 exemplares [imagem e informação fornecidas pelos responsáveis da publicação].
sábado, 19 de maio de 2012
História contemporânea em congresso (segundo dia)
Do segundo dia do congresso de História Contemporânea, na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, retive duas comunicações, uma de Nuno Pinheiro, sobre progresso, velocidade e fotografia, outra de Daniel Melo, sobre a editora Romano Torres. Para o primeiro, observa-se que as primeiras fotografias na época industrial são de índole bucólica, como se os fotógrafos portugueses quisessem imitar o pintor José Malhoa (1855-1933). Em Portugal, as fotografias industriais seriam escassas até à Primeira Guerra Mundial. Há uma rejeição ideológica à fábrica, ao operário, à indústria. O que se vê é mais a fotografia sobre o artesanato. Mas também imagens sobre o automóvel, as vias férreas e os comboios, na imprensa e tiradas por amadores.
Daniel Melo traçaria uma biografia de João Romano Torres (1855-1935), tipógrafo que se tornara editor e criou a editora em 1885 (terminada em 1980). A comunicação trabalharia as influências, o projeto, a duração, os temas e autores escolhidos, o posicionamento do mercado, o catálogo, a história da instituição e a relação entre edição popular e de massas. Walter Scott, Dumas pai e filho, Emilio Salgari, Charles Dickens, Emile Zola, Jane Austin, as irmãs Brontë (Emily e Charlotte) e Odette de Saint-Maurice seriam alguns dos autores editados pela Romano Torres.
Daniel Melo traçaria uma biografia de João Romano Torres (1855-1935), tipógrafo que se tornara editor e criou a editora em 1885 (terminada em 1980). A comunicação trabalharia as influências, o projeto, a duração, os temas e autores escolhidos, o posicionamento do mercado, o catálogo, a história da instituição e a relação entre edição popular e de massas. Walter Scott, Dumas pai e filho, Emilio Salgari, Charles Dickens, Emile Zola, Jane Austin, as irmãs Brontë (Emily e Charlotte) e Odette de Saint-Maurice seriam alguns dos autores editados pela Romano Torres.
quinta-feira, 17 de maio de 2012
Turismo, publicação quinzenal
TURISMO: PUBLICAÇÃO QUINZENAL DE TURISMO, PROPAGANDA, VIAGENS, NAVEGAÇÃO, ARTE E LITERATURA [1916-1924]
No mês em que se encerra o Centenário do Turismo em Portugal, a Hemeroteca Municipal de Lisboa associa-se às comemorações com a digitalização da Revista de Turismo. Publicação quinzenal de turismo, propaganda, viagens, navegação, arte e literatura, surgiu em Lisboa, a 5 de Julho de 1916, reunindo no total 144 números, agora disponíveis em linha na Hemeroteca Digital, aqui. A Revista de Turismo foi a primeira publicação periódica integralmente dedicada ao sector, tratando-se, portanto, duma fonte primária da maior importância para o conhecimento e estudo do turismo na I República. Foi dirigida por Agostinho Lourenço, e teve como redactor principal Guerra Maio – ambos permanecendo no quinzenário até ao seu desaparecimento, em Março de 1924. Para saber mais sobre a Revista do Turismo, a sua “vida” e história, leia a ficha histórica que o Presidente da Comissão Nacional do Centenário do Turismo em Portugal lhe dedicou, aqui.
V Encontro de Marionetas de Montemor-o-Novo
A Alma d'Arame, estrutura sediada em Montemor-o-Novo, tem desenvolvido na área das artes cénicas, com particular destaque para o teatro de marionetas, um trabalho regular nomeadamente ao nível do Encontro de Marionetas de Montemor-o-Novo, que este ano apresenta a 5ª edição e conta mais uma vez com a parceria, entre outros, da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo e este ano também com o Espaço do Tempo . Entre os objectivos da associação e deste encontro está a angariação de novos públicos nomeadamente em áreas afastadas do acesso aos grandes eixos da programação, intervindo em ambientes rurais ou periféricos.
O V Encontro de Marionetas de Montemor-o-Novo realizar-se-á em Montemor-o-Novo de 29 de Maio a 10 de Junho de 2012 e contará com a apresentação de espectáculos, conversas, workshops e exposição. Este ano abrimos portas à internacionalização convidando a companhia Anima Theatre de França. Com os workshops sublinhamos mais uma vez a importância da formação ao nível do temática da marioneta que este ano dirigimos ao público em geral nomeadamente aos jovens, professores e profissionais da área. A entrada é livre em toda a programação.
Dia dos museus (2)
Núcleo da exposição “Nós na Arte – tapeçarias de Portalegre e arte contemporânea”, 17 a 19 de Maio, Museu da Presidência da República (Arpad Szenes).
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Congresso de História Contemporânea
Ver mais informações em http://congresso.histcontemp.pt/. Vou gostar de falar sobre a história da rádio em Portugal: "Grande parte da programação das rádios privadas em Portugal durante a década de 1960 foi feita por produtores independentes que alugavam períodos de tempo a uma estação (Rádio Clube Português, Rádio Renascença, Emissores Associados de Lisboa, Emissores Norte Reunidos). O programa podia ir de quinze minutos ou uma hora até uma manhã ou tarde completa. O produtor pagava à estação um valor monetário pela emissão do programa (musical, desportivo, de diálogos, teatro ou folhetim) e fazia angariação de publicidade para rentabilizar o investimento".
A dança para Salavisa
Jorge Salavisa escreveu as suas memórias, Dançar a Vida (2012). Ele pergunta na badana do livro: "porquê escrever estas memórias que não pretendem ser mais do que um relato por vezes desajeitado - mas animado e colorido, espero - dos meus encontros e desencontros profissionais, mas também e sobretudo das minhas relações de afeto profissional ao longo de mais de 50 anos"? Os primeiros anos, África, Lisboa, Rudolf Nureyev, London Festival Ballet, viagem à Índia, Margot Fonteyn, Ballet Gulbenkian, Lisboa 94, Pina Bauch, Companhia Nacional de Bailado e Teatro São Luiz são alguns dos tempos e capítulos do livro. O prólogo é triste: a doença levou-o a uma tentativa de suicídio. Alguém, na vida do bailarino, reapareceu para o ajudar. Mas as coisas não correram bem. Quando voltou ao hospital, a enfermeira Cláudia desvelou-se em cuidados. Ao ver os outros doentes, dignos na sua luta contra a enfermidade, José Jorge Salavisa, que tivera tantos triunfos na vida, entenderia que não devia desfalecer. Do prólogo saltou para os primeiros anos, nascido nos finais de 1939. Memórias das tias, das férias nas Caldas da Rainha e de S. Martinho do Porto, do Portugal do tempo da II Guerra Mundial e dos judeus refugiados que passavam em direção aos Estados Unidos. Depois, Salavisa viveria em Angola, onde o pai engenheiro foi trabalhar. O regresso a Lisboa dar-se-ia em 1955. Descobriria o teatro, a ópera e a dança. Apaixonou-se pela dança: como diria Pina Bauch: "comecei a dançar para não ter de falar" (p. 44). Em 1958, estava já nos estúdios Vacker e de Lubov Egorova em Paris a estudar. Com Anna Mascolo, iria também a Londres. Paris e Londres seriam pontos essenciais na vida e carreira do bailarino. Depois veio uma viagem muito atribulada pela Índia, numa altura em que aquele país e Portugal ainda não tinham restabelecido relações diplomáticas, Margot Fonteyn, de nome familiar Fontes Hookham (p. 173), o Ballet Gulbenkian quando os alunos é que avaliaram o mestre (p. 188), o reforço do repertório em obras de dança contemporânea (p. 197). Leitura: Jorge Salavisa (2012). Dançar a Vida. Memórias. Lisboa: D. Quixote, 315 p., 19,90 euros
sábado, 12 de maio de 2012
Bernardo Sassetti
Toda a gente gostava de ouvir o piano de Bernardo Sassetti (1970-2012). Recordo-o de um concerto nas Caldas da Rainha. E de dois recitais em Lisboa. A música do filme Alice (2004), realizado por Marco Martins, está gravada na minha lembrança. Então escrevi sobre a sua "música minimal, mas muito bonita". Presto-lhe aqui uma homenagem simples.
terça-feira, 8 de maio de 2012
Erving et les transistors
Erving et les transistors é um texto de Anthony Pecqueux sobre portabilidade da música e do espaço público. Vou ler com atenção, pois me parece ser útil para a minha presente investigação.
No dia em que sonhei com Chagall
Um dia sonhei com a pintura de Marc Chagall, Window on the île de Bréhat (1924), existente no Kunsthaus Zürich, museu que não conheço. Isto é, o modo como vemos uma paisagem que combina a cidade com o campo, o mar e a natureza, a partir de um ponto fixo como uma gruta. Lembro-me do colorido do sonho, que me deixou a pensar como seria fantástico esse mundo.
Vitebsk, a cidade russa de Chagall tinha uma forte comunidade judaica no tempo em que ele nasceu, cidade que preservava uma forte tradição que constituia o suporte da sua identidade. Ritos e costumes ofereciam uma forte resistência à inovação. Na pintura de Chagall, a cidade em perspetiva ou em planos inclinados pode indicar como isso teve significado, porque mostra o antagonismo provocado na estética de rutura do artista. Elementos como animais quase antropomórficos (galo, cabra, burro), violinos ou violoncelos e a ocupação da tela como se fosse uma pintura medieval que conta uma história em vários espaços (e que a banda desenhada e a manga japonesa disputam em certa medida) ampliam mais essa luta do novo contra o velho, que acompanham uma produção de quase oitenta anos. A cor (verdes, azuis, vermelhos), o sagrado (Bíblia), os contos e as fábulas (La Fontaine), numa combinação pitoresca mas satírica, atraem-me. E igualmente as incursões no cubismo e no surrealismo, que libertam ainda mais o lado onírico, de que o circo é uma fantasia libertadora. E ainda as ilustrações para livros. A guerra e o êxodo aparecem muito representados, com o seu lençol de mortes, destruição, mágoa e cores fortes.
Gosto menos das suas incursões na cerâmica, escultura e artes do vidro, mas isto tem a ver com a minha forma de olhar o mundo.
Rússia e França, as pátrias de Chagall, agora numa exposição temporária no Thyssen-Bornemisza e Caja de Madrid.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
terça-feira, 1 de maio de 2012
23 mil bilhetes no CCB
No fim-de-semana passado foram emitidos mais de 23 mil bilhetes para os Dias da Música no CCB, Lisboa, o que correspondeu a uma taxa de ocupação de 79%. Para o próximo ano, o tema será o impulso romântico, que irá abranger mais do que a história da música classifica como período do romantismo. Um dos responsáveis do CCB, no domingo à Antena 2, falava em compositores do século XX que tiveram um perfil romântico.
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