sábado, 1 de fevereiro de 2014

Novo estudo sobre indústrias criativas e culturais

"A taxa de crescimento média anual das exportações culturais e criativas excedeu os 10% na última década. Daí que as sinergias entre cultura, turismo e indústria estejam entre as recomendações de um documento apresentado esta sexta-feira que foi apadrinhado pelo Ministério da Economia e pela Secretaria de Estado da Cultura" (Vítor Belanciano, hoje no jornal Público).

No documento chamado A Cultura e a Criatividade na Internacionalização da Economia Portuguesa, de autoria da Sociedade de Consultores Augusto Mateus & Associados, lê-se que o "futuro das economias europeias, bem como da economia portuguesa, depende decisivamente da respetiva capacidade em colocar a cultura, a criatividade e o conhecimento no centro das atividades económicas. A aceleração da internacionalização da economia portuguesa constitui uma condição necessária para a superação da crise estrutural de competitividade da economia portuguesa. A internacionalização do próprio setor cultural e criativo é obviamente decisiva nesta viragem para o exterior da economia portuguesa. No plano interno, e mesmo sem incluir o crescente dinamismo da revolução digital, o setor cultural e criativo é um dos mais dinâmicos da economia portuguesa, comparando bem na geração de riqueza com outras fileiras emblemáticas do tecido produtivo nacional, como o setor têxtil e do vestuário, o setor da alimentação e bebidas ou o setor automóvel" (p. 10).

A frase mais emblemática do estudo é: "A economia é cada vez menos um caminho entre matérias-primas e produtos acabados, mas uma mistura cada vez mais explosiva de inovação e de diferenciação. Neste sentido, todas as indústrias serão culturais e criativas ou simplesmente não persistirão" (p. 11). O estudo tem seis partes (Abordagem metodólogica; Posicionamento internacional no comércio e na produção de índole criativa; Sinergia cultural; Sinergia turística; Sinergia industrial; Conclusões e recomendações).

Ressalto:“as exportações do conjunto das indústrias criativas (incluindo artigos de design, artesanato, artes visuais, edição, novos media e audiovisuais e serviços relacionados com publicidade, arquitetura, investigação e desenvolvimento, audiovisuais e outros serviços culturais e recreativos) como as exportações do conjunto das indústrias relacionadas (incluindo as matérias-primas e os equipamentos de suporte que asseguram a criação, produção, distribuição e consumo dos produtos das indústrias criativas) apresentam um dinamismo e uma resiliência superior à média nacional. Estas exportações recuperam do colapso do comércio internacional, desde 2009, a um ritmo que equivale ou que supera o de grandes fileiras exportadoras nacionais como química, automóvel, alimentar ou equipamento elétrico. As maiores exportações ©riativas nacionais envolvem produtos relacionados audiovisuais (empoladas pelo dinamismo de equipamentos de suporte à fruição cultural como os aparelhos recetores de radiodifusão para veículos automóveis, vulgo autorrádios), produtos relacionados de design (empoladas pela venda ao exterior de materiais de suporte como o ouro) e produtos de design, desde mobiliário, têxtil lar, papel de parede, porcelana, joias, iluminação, acessórios de moda a brinquedos (p. 145).

Depois: “A primeira sinergia é a sinergia cultural, que propõe um novo dinamismo de projeção internacional das atividades culturais e criativas, partilhando riscos e custos. A segunda sinergia é a sinergia turística, que propõe um novo relacionamento onde o setor cultural e criativo assume um papel relevante na renovação dos fatores chave de competitividade turística e beneficia dos novos públicos e de novos mercados abertos pelo desenvolvimento turístico. A terceira sinergia é a sinergia industrial, que propõe um avanço em direção a uma nova especialização e a um novo paradigma competitivo onde a cultura e a criatividade se juntam ao conhecimento para oferecer às empresas portuguesas uma combinação original de inovação e diferenciação suscetível de reforçar a sua competitividade internacional e alargar a exportação de valor acrescentado” (p. 148).

Quanto à sinergia cultural, esta “vem demonstrar a relevância que o reforço da cooperação dentro do setor cultural e criativo e o esforço simultâneo e coletivo dos diversos agentes e entidades culturais podem assumir na efetiva internacionalização das indústrias culturais e das atividades criativas. Formas de cooperação e de eficiência coletiva devem ser incentivadas para: i) capacitar o setor cultural e criativo, sensibilizando e informando sobre os desafios e os instrumentos disponíveis à sua internacionalização; ii) promover o setor cultural e criativo, integrando-o nas estratégias de desenvolvimento de ofensivas internacionais, de redes e de clusters, de regeneração urbana e das estratégias de investigação e inovação para especialização inteligente (RIS3); iii) conectar o setor cultural criativo, desenvolvendo parcerias tecnológicas para a transição digital, de modo a tirar pleno partido da plataforma de internacionalização que é a internet” (p. 148).

Da sinergia turística, para o estudo é preciso: “i) diferenciar os destinos turísticos, oferecendo experiências únicas a nichos de mercado com maior poder aquisitivo; ii) segmentar, aprofundando a compreensão das caraterísticas e das motivações dos turistas, de modo a maximizar as potencialidades do destino turístico; iii) interagir, através da maior coordenação dos intervenientes turísticos e da utilização das tecnologias de informação e comunicação, de modo a potenciar a inovação nos produtos turísticos” (p. 149).

Sobre a sinergia industrial, remeto para a sua leitura ainda na p. 149. Igualmente sobre a estratégia, ponto importante do documento, recomendo a leitura do texto original (pp. 150-155).

O documento traça o mapa mundial da produção criativa, onde se “avalia a relevância assumida a nível nacional pelos ativos intangíveis (como marcas), pelos bens e serviços criativos (como filmes) e pela criatividade online (como sites). A pontuação geral resulta de um total de 13 parâmetros de avaliação, sempre relativizados pelo contexto demográfico ou económico de cada país. No ranking global da produção ©riativa de 201314, Portugal surge na 16.ª posição dentro da União Europeia e na 27.ª posição a nível mundial, entre a Irlanda e os Emirados Árabes Unidos. É no Luxemburgo, na Suíça, na Islândia, nos Países Baixos, em Hong Kong, em Malta, na Noruega, na Dinamarca, no Reino Unido e na Estónia que a produção ©riativa assume maior relevância. Seguem-se Canadá, Suécia, Nova Zelândia, Alemanha e Finlândia” (p. 53).

Chamo ainda a atenção para a bibliografia incluída no final do texto. 

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