domingo, 6 de novembro de 2016

O Feio

Peça de Marius von Mayenburg, com encenação de Toni Cafiero, com os atores André Pardal, João Farraia, João Tempera e Maria João Falcão, para o teatro Municipal Joaquim Benites (Almada), numa curta série de representações no Teatro da Trindade (Lisboa). A história é de Lette, um engenheiro que inventou um aparelho que deu fama e proveito à sua empresa, mas cujo patrão não permite que ele a apresente num congresso. A razão é porque ele é muito feio. Mesmo a sua mulher não lhe dissera. Lette recorre a uma intervenção cirúrgica e renasce como homem belo, atraindo toda a gente. O cirurgião que o operou, repetiria o êxito, transformando os outros homens e ganhando fama e dinheiro, ao passo que o patrão do engenheiro passou a querer que ele fosse a congressos para atrair investidores ricos. Mas a produção em série, com muitos duplos, reduz o valor de Lette e mesmo a sua mulher pensa num outro.

A história tem muito potencial e a encenação recorre a imagens da cultura de massas (cinema, banda desenhada e desenhos animados, música e outras peças de teatro), em colagens e jogo de citações permanentes, que corta a narrativa e a transporta para outros níveis. O que está em jogo é a identidade e a sua perda ou transferência, à qual a nova pele tem dificuldades em se adaptar ao indivíduo. E ainda a imagem, elemento essencial na nossa sociedade. Os afetos e a sinceridade de sentimentos contam menos do que a aparência.


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