domingo, 14 de março de 2021

Central telefónica da Trindade, Lisboa

A APT comprava o edifício onde construiria a central telefónica da Trindade (Lisboa) em 1920, inaugurando esta em 1925. Cinco anos depois, a central telefónica manual dava lugar à automática, a primeira do país. Quem conhece o exterior do edifício, identifica a grande pujança da arquitetura. Mas quando se olham as fotografias do seu interior, o espanto é maior. A sala da central é enorme, com um grande pé direito, grandes janelas, candeeiros de teto de vidro e possivelmente de latão bastante elegantes, teto trabalhado e colunas de suporte do edifício a lembrar o estilo dórico da arquitetura da Grécia clássica.

Após a automatização, a sala foi transformada no escritório principal da APT, conforme toda a publicidade produzida na época o indica. A fotografia que aqui coloco mostra uma sala de grande requinte no atendimento, com um balcão enorme a servir os assinantes que lá se deslocassem. Havia um problema: o serviço funcionava num terceiro andar, a provocar a subida e a descida de quem lá se deslocasse, mesmo que existisse um elevador. A fotografia revela outro pormenor: o pessoal da APT era constituído por homens.
Numa fase posterior, quando a APT passa a sede de Lisboa para a rua Andrade Corvo, junto à central telefónica Norte, ocupando crescentemente edifícios num dos lados da rua, o que leva mesmo à destruição de uma garagem muito antiga, houve mudanças significativas quanto ao atendimento. Isto ocorreu durante a década de 1950. O serviço de atendimento ocupa o rés-do-chão, igualmente com um grande balcão, já dentro do conceito de loja de rua e montras com os produtos mais recentes e cartazes de informação.
O atendimento passa a ser feito por pessoal feminino, simpático, jovem, mais culto, identificado por uma indumentária própria (na fotografia, de cor azul) e com acesso a serviços de retaguarda, como processamento de contas, centrais telefónicas e armazéns. Cada empregada tem um grupo de assinantes (ou clientes, na nomenclatura posterior) a si distribuído, com telefone na sua secretária, a agilizar qualquer processo.
Eu não tenho memória deste escritório, pois o meu conhecimento é da década de 1980. Mas lembro-me da grande azáfama, com sinais luminosos a indicar que chegara a vez da senha daquele cliente. E, no conjunto, estas profissionais constituíam um grupo importante na empresa. Elas eram as verdadeiras relações públicas da empresa, o ponto a partir do qual se formava a opinião do cliente.
Observação: as imagens não têm muita qualidade; duas pertencem ao arquivo da FPC.






Sem comentários: