A fotografia parece mostrar os concorrentes a concurso da maior bigodaça da cidade. O bigode que mete mais medo é o do terceiro homem sentado a partir da esquerda; até faz lembrar os que assaltam velhinhas que estão a ver o Big Brother em direto. Mas o do bigode à esquerda deste não parece melhor, com cara de poucos amigos, talvez com um facalhão escondido. Eles não seriam Zés dos Telhados, que roubavam ricos para dar aos pobres? O bigode mais elegante é o jovem no centro da primeira fila de pé, mas talvez o mais tímido de todos. Ao lado deste, à esquerda, está um bigode a lembrar o do artista António Silva.
Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
sábado, 13 de março de 2021
Guarda-fios
Na fila dos que estão de pé, mesmo à esquerda, vê-se um homem mais baixo do que os outros, a lembrar o ditado que diz que os homens não se medem aos palmos - ele era baixo mas possuía um bigode farfalhudo. Falta apenas um daqueles bigodes que dá para enrolar e fazer um caracol. O chefe ou o mais respeitado do grupo fica no centro, de calças e sapatos diferentes, com chapéu à cowboy e um pingalim. Mais perto de nós, o general Spínola, além do monócolo no olho direito, usava um pingalim. No século XIX, os cavalheiros usavam uma bengala; quando se zangavam mandavam umas bengaladas.
Mas não, a fotografia parece representar uma banda musical, talvez da GNR. Aqueles botões dourados todos alinhados nos casacos, a que falta um debruado nas calças, apontam para um dia importante na vida do grupo. Imagino que o grupo sentado toque sopros, como flautas, clarinetes ou fagotes, os do grupo em pé metais maiores e os do grupo no estrado arrastem instrumentos grandes como trombones ou tubas. Ao homem pequeno da esquerda, reservo-lhe uma bateria ao seu tamanho.
Puro engano. A legenda que acompanha a fotografia no livro de onde a tirei diz secamente: guarda-fios. O livro revela pormenores sobre o uniforme de trabalho. Em 1912, vestiam jaqueta, colete e calça de pano cinzento; em 1927, boné, casaco de botões e calça de cotim. Cá está: casaco de botões.
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