quinta-feira, 7 de julho de 2005

LEITURA DO BLOGUE JORNALISMO E COMUNICAÇÃO

Como sabem, tenho uma preferência pelas leituras do blogue Jornalismo e Comunicação [e, de modo imodesto, acho que a equipa daquele blogue tem uma atitude recíproca para com o I. C.].

No domingo, reflecti sobre o que Manuel Pinto colocou no blogue sobre o arrastão de Carcavelos a 10 de Junho passado. Ele lera uma pequena notícia (mais comentário ou apontamento) de Adelino Gomes no Público sobre um vídeo da jornalista Diana Andringa sobre o mesmo acontecimento. Eu também lera e dera a pensar comigo - que pena não ter sabido e ter dado uma espreitadela na Videoteca de Lisboa. arrastao.JPGO vídeo teria como objectivo desmontar "a ligeireza com que os canais generalistas - e os jornais, no seu rasto - construíram um acontecimento [o "arrastão"] que esteve muito longe de assumir a dimensão que os media lhe imprimiram" [retiro do blogue, mas não sei agora a quem atribuir a citação]. Manuel Pinto, professor da Universidade do Minho deixava uma pergunta: "a existência deste trabalho de Diana Andringa já tinha sido divulgada em algum sítio"?

Dois outros blogueiros, João Paulo Meneses e Pedro Fonseca, muito atentos a estas coisas, apressaram-se a dar a indicação do sítio onde está alojado o vídeo: Era uma vez um arrastão [confesso que não consegui entrar no vídeo, mas isso relaciona-se com incompetência minha; mas pode ver-se a imagem de entrada do sítio de Andringa aqui no post].

Conclusão sumária: um blogue, instrumento fácil, económico e objectivo em termos de imediaticidade, consegue fornecer versões variadas e que se completam, a partir de uma fonte. No caso presente, a cadeia de desenvolvimento do tema envolveu dois jornalistas dos media clássicos, interagindo com outros jornalistas e analistas dos novos media (Andringa, vinda da televisão, usa já e também a internet para passagem do seu testemunho). As redes formais e hierárquicas são substituidas por redes informais, de geometria variável (número de elementos não constante) e de grande interactividade, que acrescentam informação. Eu li Adelino Gomes mas acedi ao trabalho de Diana Andringa através da mediação de blogues. Isto é, cada vez mais é fácil dar perspectivas alternativas de um acontecimento. Em tal contexto, a profissão de jornalista altera-se profundamente.

Conclusão menos sumária: o blogue não é de intervenção política (há-os bons na blogosfera) mas o blogueiro não é neutro em termos de sentimentos políticos: a ideia de Alberto João Jardim dizer que não quer chineses na Madeira - e há correlação entre o arrastão e o que disse o responsável máximo pela governação da região autónoma - poderia ler-se ao contrário (como referiram os jornais): e se os países de acolhimento de madeirenses dissessem "não queremos cá mais os madeirenses"? Não seria catastrófico, provocando arrastões mais violentos (ou mais bem encenados)?

Comentário meu colocado às 22:31: obrigado pelos comentários a este post. Foram todos igualmente apreciados por mim, apesar de distintos.

3 comentários:

Anónimo disse...

Como sempre, estão associadas neste post, uma competência profissional e uma análise crítica fundamentada, que ajudam o leitor deste blog a interpretar a realidade.

Manuel Pinto disse...

Bem visto, Rogério. Faço minhas as palavras do escritor anterior.

Joaquim Fidalgo disse...

Este é um tema que me seduz particularmente: o das modificações da profissão de jornalista. Sobretudo porque, em meu entender, estas modificações vão-se fazendo por 'acrescentos' que complementam e não por 'substituições' que excluem. As formas tradicionais do exercício da profissão vão, elas próprias, ficando mais ricas e complexas através do diálogo e da interacção que estabelecem com as formas propiciadas pelos novos meios (de que a Internet é o elemento incontornável). Além disso, com elas coexistem formas próprias, inovadoras, de pesquisa, tratamento e difusão de informação que, podendo não se chamar nem ser "jornalismo" no sentido habitual (e qual o problema?...), contribuem também para a dinamização do debate público e para a mobilização dos cidadãos. Para mim resulta claro, portanto, que não vai acabar esta ou aquela forma mais tradicional de trabalhar a informação: vão surgindo novas formas, com um lugar próprio de características específicas, e essas novas formas vão contribuindo também para desafiar, enriquecer, complexificar, alterar, as formas a que nos tínhamos habituado. Modifica-se o trabalho dos jornalistas - e alarga-se esse tipo de trabalho a outros modos de fazer, digamos, não-jornalísticos. Não é preciso que tudo seja "jornalístico" para que seja "bom", no que respeita ao trabalho da informação no espaço público.