Na sua coluna de hoje, Rui Araújo, provedor do leitor do Público, partiu de uma entrada que aqui coloquei no dia 19 do presente mês sobre um post-it de publicidade do BES na primeira página daquele jornal. O título da coluna de Rui Araújo mostra uma postura fortíssima: "Mais promiscuidade".
Obtida a posição do director, José Manuel Fernandes, o provedor considerou as explicações deste como "parcialmente aceitáveis". Contudo, logo depois - e aliás em destaque na coluna, o que prova o espírito democrático do director e do jornal, que eu louvo -, lê-se: "O problema com a publicidade do BES é, sobretudo, o desrespeito de algo sagrado: o próprio título do jornal. O PÚBLICO prescindiu, erradamente, da sua imagem".
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Olhando melhor para a página, ressalta uma coisa que eu não detectara quando olhei para o verde do post-it: é que este escondeu apenas uma parcela do título do jornal - as letras LICO. Pelo que ficaram as letras PUB (não coloquei o acento) [uma leitora chamara-me a atenção deste pormenor, como publiquei no passado dia 20]. Logo, está tudo bem. A palavra pub, de publicidade, consta do próprio título do jornal. Por isso, volto atrás na minha apreciação e aconselho a que insiram mais post-its junto ao título do jornal, pois até nem fica mal!
O leitor fixou-se na revista de domingo, que ostenta o feminino do título do jornal no cabeçalho, e no texto de Paulo Moura sobre José Afonso. Retiro uma fatia divertida sobre a faceta psicológica do músico desaparecido há 19 anos: "No dia combinado, nos finais de Janeiro de 1974, Zeca saiu de casa e esqueceu-se da guitarra. Voltou para a ir buscar e saiu de novo mas esqueceu-se das letras das canções. Voltou a casa. Saiu mas esqueceu-se do passaporte. Voltou e saiu de novo. Zélia [a mulher] levou-o à estação".
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É que, na página ao lado, cortando o artigo de três colunas, surge uma caixa com a indicação de Pub, fazendo reclame a um analgésico, como a "história do homem que combateu as dores". De princípio, pensei que fosse uma caixa com mais uma história de José Afonso, dada a doença que o acabou por vitimar. Parece-me, pois, que a doutrina de José Manuel Fernandes, se está a espalhar pelo jornal todo. Dizia ele, a propósito da interpelação do provedor: "Nos dias que correm, em que os espaços tradicionais de publicidade já não são atractivos como noutros tempos, sobretudo devido à diversidade dos suportes, é frequente as agências de publicidade proporem soluções inovadoras, únicas ou dificilmente repetíveis".
No caso do analgésico, confesso, tive de voltar a olhar a página para verificar o seu nome. Isto é, não dei qualquer relevo ao anúncio, mas tão só à forma insólita da sua colocação. Nunca comprarei o produto, pois não fixei o essencial da mensagem: o seu nome. E se a publicidade é para promover as vendas, não estou a ver a vantagem do anunciante gastar dinheiro num produto que ninguém se lembra do nome.
Observação: confesso que estou a ficar endoutrinado pelo livro dos Ries (Al e Laura), A queda da publicidade e a ascensão das relações públicas.
1 comentário:
Mais uma vez, sua Excelência, a publicidade, é sobreposta a tudo, até ao respeito que o jornal "PÚBLICO" deve àqueles sobre quem escreve (no caso, José Afonso). Não acredito, mesmo correndo o risco de ser "perversa", que a inserção da publicidade àquela coisa, no meio da matéria sobre o cantor, tenha sido inocente. O jornal serviu-se do facto de sabermos que José Afonso teve, nos últimos tempos de vida, crises bastantes dolorosas (lembro-me do último espectáculo no Coliseu de Lisboa, em que era indisfarçável o seu mal-estar), para nos levar a ler a publicidade, encimando-a com um título que considero vergonhoso e abusivo.
Fiquei ainda mais indignada, embora, após o que se passou com o "post it", já fosse de esperar quase tudo, mas nunca um abuso desrespeitoso como este.
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