Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
NOVO LIVRO DE TIAGO BAPTISTA
Tiago Baptista trabalha como conservador do Arquivo Nacional das Imagens em Movimento (ANIM) da Cinemateca Nacional - Museu do Cinema, tem o mestrado e publicou nomeadamente As Cidades e os Filmes. Uma biografia de Rino Lupo, editado na Primavera deste ano e do qual eu fiz, em Outubro passado, uma curtíssima nota.
Agora, ele brinda-nos com um belo livro da editora Tinta da China intitulado A Invenção do Cinema Português. Livro-álbum como os de Luís Trindade a que também já aludi aqui no blogue, em que o texto é acompanhado de muitas imagens de fotogramas e cartazes de filmes fundamentais da produção nacional, Tiago Baptista organiza de modo agradável a história desta indústria cultural. Divide-a em quatro partes: 1) "Espelho da Nação", com Aurélio Paz dos Reis, Rino Lupo, Leitão de Barros, Cottinelli Telmo, Lopes Ribeiro e outros, 2) "Uma Ideia Nova de Cinema, uma Ideia Velha de País", com Manoel de Oliveira, Paulo Rocha, Fernando Lopes, Fonseca e Costa e outros, 3) "O Primo Afastado da Europa", lugar central dado a Manoel de Oliveira, mas também com António-Pedro Vasconcelos, João Botelho, João César Monteiro, e 4) "Outros Países", com Joaquim Leitão, João Canijo, Pedro Costa, Miguel Gomes e outros. A introdução tem uma designação feliz - "O Cinema Português Sempre Existiu" -, uma oposição a um título do seu presidente da Cinemateca, João Bénard da Costa, que escreveu O Cinema Português Nunca Existiu (1996).
Cada uma das partes do livro está bem delineada. Assim, a passagem de 1) para 2) reflecte a transferência do ambiente rural ou da rua ou bairro popular, onde todos se conhecem e solidarizam mas se espiam, para a cidade inóspita, de relações interpessoais mais intensas e frágeis, da filmagem em estúdio para a rua, as cores vivas e os ruídos urbanos. 3) e 4) são períodos em que o cinema, segundo Tiago Baptista, identifica um crescendo da complexidade e do engenho das relações humanas, dos finais nem sempre felizes, da densidade das atmosferas das lutas, algumas certezas e muitas dúvidas. Cada realizador aparece identificado com uma obra marcante, embora alguns apareçam repetidos como Manoel Oliveira ou Paulo Rocha, tal a importância destes autores.
Ainda não li o texto todo, mas registo a importância da obra. E anoto uma ausência: não escreve sobre João Mário Grilo.
Aqui, no blogue, tenho acompanhado a actividade de Tiago Baptista, a partir do momento em que o ouvi no ciclo Cultura de massas em Portugal no século XX, iniciativa do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (Universidade de Coimbra) e do Instituto de História Contemporânea (Universidade Nova de Lisboa) que se realizou no ano lectivo de 2006-2007 e se repetiu no de 2007-2008. Foi uma actividade de grande importância, pois conheci jovens investigadores de uma grande qualidade teórica e de uma elevada cultura, de que destaco o autor do livro aqui enunciado e Luís Trindade, sem desprimor para o restante conjunto. O vídeo a seguir mostra uma parcela do que Tiago Baptista então apresentou [e a minha inabilidade na época, sem saber colar planos, registando períodos curtos pois o cartão tinha pouca memória, contra a luz].
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