Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
José Marquitos deixa a administração da RTP
O administrador da RTP José Marquitos deixou aquele cargo, em troca por um lugar na Newshold, grupo de capitais angolanos que detém o semanário Sol. José Marquitos tem uma longa carreira dedicada aos media, tendo já passado nomeadamente pelo grupo da Sonae (jornal Público). Além de proprietária do semanário Sol, a Newshold tem participações nos grupos Cofina e Impresa.
Problemas nos media
No final da semana passada, o Sindicato dos Jornalistas fez um comunicado dando conta da abordagem da Global Notícias, do grupo Controlinveste, detentora do Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF, a jornalistas e outros trabalhadores de forma a despedi-los, com propostas de rescisão apresentadas como de mútuo acordo e não por via de programas de rescisões de adesão voluntária.
Este comunicado surge num período de forte contracção do sector dos media. Muito recentemente, houve problemas no jornal Público, com negociações para redução de horários e salários, que a redacção terá recusado.
Este comunicado surge num período de forte contracção do sector dos media. Muito recentemente, houve problemas no jornal Público, com negociações para redução de horários e salários, que a redacção terá recusado.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Jornal Português de actualidades filmadas (1938-1951)
Já escrevi aqui sobre Maria do Carmo Piçarra (a 2 de Dezembro de 2006), a propósito do seu livro Salazar vai ao cinema – o Jornal Português de actualidades filmadas, da MinervaCoimbra. Ela insistiu no tema e publicou agora Salazar vai ao cinema II – a "Política do Espírito" no Jornal Português (edição DrellaDesign).
Ler o texto completo aqui.
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Jornalismo & jornalistas
O número mais recente da revista Jornalismo & Jornalistas (nº 48, de Outubro/Dezembro de 2011) tem dois temas principais, o primeiro dedicado ao Congresso Radio Evolution, em Braga, da ECREA, e o segundo ao Congresso de História dos Media e do Jornalismo, em Lisboa.
Retiro os sumários contidos no começo da revista. Sobre o congresso de Braga, "Investigadores e profissionais juntaram-se em Braga para reflectirem sobre a rádio. A migração para as plataformas digitais e móveis e o que isso significa para o futuro do meio dominaram a maior parte das intervenções e estudos apresentados. Mas entre o receio de alguns e o entusiasmo de muitos, ninguém tem dúvidas: a Internet é onde a rádio tem que estar" (Luís Bonixe). Sobre o congresso de história dos media e do jornalismo: "O 1º Congresso Internacional de História dos Media e do Jornalismo, organizado pelo Centro de Investigação Media e Jornalismo (CIMJ) nos dias 6 e 7 de Outubro, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, provou que já passaram… à história os tempos em que este debate se fazia entre amigos, sempre poucos e sempre os mesmos" (Carla Baptista).
Ler mais sobre o número aqui.
Retiro os sumários contidos no começo da revista. Sobre o congresso de Braga, "Investigadores e profissionais juntaram-se em Braga para reflectirem sobre a rádio. A migração para as plataformas digitais e móveis e o que isso significa para o futuro do meio dominaram a maior parte das intervenções e estudos apresentados. Mas entre o receio de alguns e o entusiasmo de muitos, ninguém tem dúvidas: a Internet é onde a rádio tem que estar" (Luís Bonixe). Sobre o congresso de história dos media e do jornalismo: "O 1º Congresso Internacional de História dos Media e do Jornalismo, organizado pelo Centro de Investigação Media e Jornalismo (CIMJ) nos dias 6 e 7 de Outubro, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, provou que já passaram… à história os tempos em que este debate se fazia entre amigos, sempre poucos e sempre os mesmos" (Carla Baptista).
Ler mais sobre o número aqui.
sábado, 17 de dezembro de 2011
Sagrado e modernidade
O número 11 (Primavera-Verão de 2011) da revista Comunicação & Cultura, do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura (Universidade Católica), agora com um novo design de capa, é dedicado ao tema "Sagrado e Modernidade".
Os organizadores do volume, Carlos Capucho e Nelson Ribeiro, partem de um produto cinematográfico (o filme A árvore da vida, de Terrence Malick) e da recente visita do papa Bento XVI a Portugal (Maio de 2010), aquele interrogando Deus sobre as vicissitudes da condição humana, esta pelo impacto que teve na televisão (ou que esta se aproveitou). Os dois professores partem ainda do 11 de Setembro de 2001 para traçarem o grande impacto na forma como as sociedades ocidentais se percepcionam a si mesmas, questionando os modelos de segurança colectiva e a (in)tolerância religiosa e da convivência com o "outro", entendido como o que possui um diferente enquadramento cultural (p. 13).
Os textos da problemática pertencem a João Manuel Duque ("Ambiguidades da secularização entre modernidade e pós-modernidade"), Robert Doran ("René Girard's apocalyptic modernity"), Wolfgang Benz ("Sobre a origem e a tradição do Feindbild Islão"), Fernando da Luz Soares ("O diálogo ecuménico enquanto diálogo como o "outro"), Esther Mucznick ("Deus na escola pública"), Carlos Capucho, Eduardo Cintra Torres e Catarina Duff Burnay ("A construção da festa electrónica na visita de Bento XVI a Portugal"), José Paulo Machado (Je vous salue, Marie: um olhar cristão") e Isabel Roque ("A exposição do sagrado no museu"). Duas entrevistas (de Fernando Cascais a Steve Doig e de Robert Doran a René Girard), recensões e montra de livros concluem a revista.
Do resumo do texto de Carlos Capucho, Eduardo Cintra Torres e Catarina Duff Burnay retiro a seguinte informação: "O Vaticano e a Igreja em Portugal consagraram a visita de Bento XVI a Portugal em Maio de 2010 como um evento mediático. Os media corresponderam à temática e ao(s) interveniente(s) com uma mobilização de investimentos financeiros e humanos que resultaram numa cobertura centrada e exaustiva. Os canais televisivos, público e privados, assumiram um papel de destaque na mediação dos acontecimentos, através da apresentação e da avaliação do «homem-papa» e das suas acções" (p.8).
Os organizadores do volume, Carlos Capucho e Nelson Ribeiro, partem de um produto cinematográfico (o filme A árvore da vida, de Terrence Malick) e da recente visita do papa Bento XVI a Portugal (Maio de 2010), aquele interrogando Deus sobre as vicissitudes da condição humana, esta pelo impacto que teve na televisão (ou que esta se aproveitou). Os dois professores partem ainda do 11 de Setembro de 2001 para traçarem o grande impacto na forma como as sociedades ocidentais se percepcionam a si mesmas, questionando os modelos de segurança colectiva e a (in)tolerância religiosa e da convivência com o "outro", entendido como o que possui um diferente enquadramento cultural (p. 13).
Os textos da problemática pertencem a João Manuel Duque ("Ambiguidades da secularização entre modernidade e pós-modernidade"), Robert Doran ("René Girard's apocalyptic modernity"), Wolfgang Benz ("Sobre a origem e a tradição do Feindbild Islão"), Fernando da Luz Soares ("O diálogo ecuménico enquanto diálogo como o "outro"), Esther Mucznick ("Deus na escola pública"), Carlos Capucho, Eduardo Cintra Torres e Catarina Duff Burnay ("A construção da festa electrónica na visita de Bento XVI a Portugal"), José Paulo Machado (Je vous salue, Marie: um olhar cristão") e Isabel Roque ("A exposição do sagrado no museu"). Duas entrevistas (de Fernando Cascais a Steve Doig e de Robert Doran a René Girard), recensões e montra de livros concluem a revista.
Do resumo do texto de Carlos Capucho, Eduardo Cintra Torres e Catarina Duff Burnay retiro a seguinte informação: "O Vaticano e a Igreja em Portugal consagraram a visita de Bento XVI a Portugal em Maio de 2010 como um evento mediático. Os media corresponderam à temática e ao(s) interveniente(s) com uma mobilização de investimentos financeiros e humanos que resultaram numa cobertura centrada e exaustiva. Os canais televisivos, público e privados, assumiram um papel de destaque na mediação dos acontecimentos, através da apresentação e da avaliação do «homem-papa» e das suas acções" (p.8).
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Indústrias criativas em congresso da SOPCOM
No congresso da SOPCOM, em realização no Porto, estive na sessão "Inova: O Futuro Provável: as Indústrias Criativas, os New Media e os Media Tradicionais", ao final da tarde de ontem. Na mesa, apresentara-se quatro conferencistas: Pedro Sousa, coordenador de projecto na agência INOVA, sediada no Porto, Bruno Pereira, director e editor da Magnética Magazine, com sede em Lisboa, Luís Ismael, realizador de cinema ligado à Light Box, oriunda do Porto, e João Peres Alves, partner da Ayr Trends, consultora que aplica as tendências do consumidor aos negócios, com escritórios em Lisboa, Amesterdão, S. Paulo e Miami.
Em Portugal, o recente estudo de Augusto Mateus sobre o sector cultural e criativo, e debatido nas mensagens do blogue, trouxe uma ampla discussão pública, pelos valores divulgados quanto ao PIB das actividades das indústrias criativas, no sentido do tópico desenvolvido por Richard Florida sobre cidades criativas, economia criativa e indústrias criativas. Para avaliar as indústrias criativas, Florida elaborou dois índices, o índice boémio, que apresenta a produção cultural (actividades de grande público versus actividades de vanguarda), e o índice de diversidade social (tolerância ou aceitação em termos de variadas comunidades criativas). No país, e nomeadamente em Lisboa e no Porto, tem havido uma profunda discussão sobre as indústrias criativas e a sua aplicação no país. Por exemplo, ainda este ano, a Fundação de Serralves promoveu um ciclo de conferências O Imaterial: Os Novos Paradigmas da Contemporaneidade, iniciativa focada no pensamento contemporâneo com abordagens entre a economia e a cultura. Richard Florida descrevera e analisara mega-regiões, casos de Dallas-Austin (Texas) e Barcelona-Lyon, na perspectiva da economia da criatividade. A ADDICT (Agência para o Desenvolvimento das Indústrias Criativas) deu um passo essencial ao colaborar com a universidade do Texas (Austin) na promoção de uma rede global aberta constituída por cidade médias de todo o mundo, em que a partilha de tecnologias e talento estejam orientadas para o negócio. A agência tem, no plano de actividades de 2012-2013, objectivos como capacitar e valorizar os recursos criativos (criatividade individual) numa economia baseada no talento e criatividade (criatividade empresarial) e com maior massa crítica urbana e atractividade do território (criatividade urbana). A sua actuação reside em três pilares de actuação e competências: pessoas, negócios e lugares com conhecimento, conectividade e promoção. Os sectores prioritários do plano são design, arquitectura, audiovisual e software. Outros sectores como tecnologias da informação, publicidade, design de moda, música e artes performativas beneficiarão do valor daqueles sectores estratégicos. Também a agência INOVA - Associação para a Cultura e Criatividade, a promotora da mesa da SOPCM, tem como missão contribuir para a afirmação das artes, do sector cultural, das indústrias criativas e dos seus agentes como elementos fundamentais de desenvolvimento da sociedade portuguesa. O congresso da SOPCOM daria cidadania ao tema, convocando-o para o assunto central do seu VII congresso no geral e para aquela mesa em particular.
Pedro Sousa (INOVA) falou de uma imagem prospectiva, da relação com os novos media, do apoio a projectos e do número de pessoas que trabalham na área. Acabou por reconhecer que ainda não existe um cluster (feixe) de actividades no Porto ligadas às indústrias criativas, mas espera que isso possa acontecer. Para tal, torna-se necessário, acrescento eu, haver mais envolvimento nacional e internacional, projectos e capital de risco. Bruno Pereira falou essencialmente da sua revista, que eu aconselho a fazer uma visita: Magnética Magazine. Luís Ismael falou do sector deprimido que é o audiovisual no Porto, por oposição a um sector mais pujante aqui em Lisboa. Para ele, há necessidade de formar mais quadros técnicos e criar estruturas de produção regionais. João Peres Alves desenvolveu a ideia das tendências de consumo para os próximos anos e como os media (velhos e novos) podem ajudar a captar e centrar essas tendâncias. Ele disse ser preciso haver confiança e transparência na vida, de modo a que a relação entre consumidores e produtos se reforce. A onda (alteração momentânea) precisa de chegar a ser moda e, em especial, a tendência.
A sala onde decorreu a mesa sobre indústrias criativas estava bem composta de assistência, mau grado a forte concorrência da mesa paralela, onde se discutia a internacionalização da comunicação, a qual arrastou muitos dos conferencistas, caso dos jovens investigadores do sector.
A seguir, um pequeno vídeo com parcelas dos textos dos quatro comunicadores na fase de perguntas e respostas.
Em Portugal, o recente estudo de Augusto Mateus sobre o sector cultural e criativo, e debatido nas mensagens do blogue, trouxe uma ampla discussão pública, pelos valores divulgados quanto ao PIB das actividades das indústrias criativas, no sentido do tópico desenvolvido por Richard Florida sobre cidades criativas, economia criativa e indústrias criativas. Para avaliar as indústrias criativas, Florida elaborou dois índices, o índice boémio, que apresenta a produção cultural (actividades de grande público versus actividades de vanguarda), e o índice de diversidade social (tolerância ou aceitação em termos de variadas comunidades criativas). No país, e nomeadamente em Lisboa e no Porto, tem havido uma profunda discussão sobre as indústrias criativas e a sua aplicação no país. Por exemplo, ainda este ano, a Fundação de Serralves promoveu um ciclo de conferências O Imaterial: Os Novos Paradigmas da Contemporaneidade, iniciativa focada no pensamento contemporâneo com abordagens entre a economia e a cultura. Richard Florida descrevera e analisara mega-regiões, casos de Dallas-Austin (Texas) e Barcelona-Lyon, na perspectiva da economia da criatividade. A ADDICT (Agência para o Desenvolvimento das Indústrias Criativas) deu um passo essencial ao colaborar com a universidade do Texas (Austin) na promoção de uma rede global aberta constituída por cidade médias de todo o mundo, em que a partilha de tecnologias e talento estejam orientadas para o negócio. A agência tem, no plano de actividades de 2012-2013, objectivos como capacitar e valorizar os recursos criativos (criatividade individual) numa economia baseada no talento e criatividade (criatividade empresarial) e com maior massa crítica urbana e atractividade do território (criatividade urbana). A sua actuação reside em três pilares de actuação e competências: pessoas, negócios e lugares com conhecimento, conectividade e promoção. Os sectores prioritários do plano são design, arquitectura, audiovisual e software. Outros sectores como tecnologias da informação, publicidade, design de moda, música e artes performativas beneficiarão do valor daqueles sectores estratégicos. Também a agência INOVA - Associação para a Cultura e Criatividade, a promotora da mesa da SOPCM, tem como missão contribuir para a afirmação das artes, do sector cultural, das indústrias criativas e dos seus agentes como elementos fundamentais de desenvolvimento da sociedade portuguesa. O congresso da SOPCOM daria cidadania ao tema, convocando-o para o assunto central do seu VII congresso no geral e para aquela mesa em particular.
Pedro Sousa (INOVA) falou de uma imagem prospectiva, da relação com os novos media, do apoio a projectos e do número de pessoas que trabalham na área. Acabou por reconhecer que ainda não existe um cluster (feixe) de actividades no Porto ligadas às indústrias criativas, mas espera que isso possa acontecer. Para tal, torna-se necessário, acrescento eu, haver mais envolvimento nacional e internacional, projectos e capital de risco. Bruno Pereira falou essencialmente da sua revista, que eu aconselho a fazer uma visita: Magnética Magazine. Luís Ismael falou do sector deprimido que é o audiovisual no Porto, por oposição a um sector mais pujante aqui em Lisboa. Para ele, há necessidade de formar mais quadros técnicos e criar estruturas de produção regionais. João Peres Alves desenvolveu a ideia das tendências de consumo para os próximos anos e como os media (velhos e novos) podem ajudar a captar e centrar essas tendâncias. Ele disse ser preciso haver confiança e transparência na vida, de modo a que a relação entre consumidores e produtos se reforce. A onda (alteração momentânea) precisa de chegar a ser moda e, em especial, a tendência.
A sala onde decorreu a mesa sobre indústrias criativas estava bem composta de assistência, mau grado a forte concorrência da mesa paralela, onde se discutia a internacionalização da comunicação, a qual arrastou muitos dos conferencistas, caso dos jovens investigadores do sector.
A seguir, um pequeno vídeo com parcelas dos textos dos quatro comunicadores na fase de perguntas e respostas.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Tese de doutoramento de Isabel Reis sobre rádio
No passado dia 7, na Universidade do Minho, Isabel Reis defendeu tese de doutoramento intitulada O áudio no jornalismo radiofónico na internet. A autora partiu da análise da rádio hertziana para a ciber-rádio, procurando encontrar semelhanças e diferenças. Em estudo empírico, analisou quatro sítios da internet de rádios nacionais (ou de cobertura nacional): TSF, RDP, Renascença e Rádio Clube Português, a última já desaparecida. Como conclusões, Isabel Reis indica que o áudio ainda define a ciber-rádio, a informação é um elemento marcador da ciber-rádio, a linguagem radiofónica não está presente nas notícias em destaque nas rádios da internet, o novo meio possui múltiplas narrativas e funciona à velocidade da actualidade mas ainda com pouca interactividade.
domingo, 11 de dezembro de 2011
sábado, 10 de dezembro de 2011
Teatro-circo contemporâneo
O desdobrável anuncia uma peça de circo contemporâneo e indica tratar-se de uma pesquisa sobre a globalização e a invasão. Dois actores (Filipe Caldeira e J. Lix) encarnam dois homens que procuram definir um território e lutam ferozmente por ele. Um mostra quadros da sua mobília de quarto, peças de uso quotidiano, plantas e animais de estimação (ilustrações de João Quintela). Lenta e eficazmente, equilibra essas cópias da realidade no seu braço, dispõe-nas no chão como se fosse uma narrativa, joga-as em cima de uma mesa, como que a dizer que é dono de uma quimera. Brincadeira de criança, poderia ter dito o outro homem. Este, rapidamente, constrói uma vedação, que eu entendi ser um campo de concentração rodeado por arame farpado. Ele despe a camisa e as meias e põe-nas no arame como se estivessem a secar. Equilibrista, joga com discos, como se fosse uma réplica do trabalho do outro, que, entretanto, ficara no silêncio e na escuridão do canto do palco.
Ao equilibrista junta-se o mágico, que faz aparecer e desaparecer objectos ou os coloca de outra forma. Porém, de repente, os dois homens lutam. Percebe-se que o fazem pela conquista de mais território. A luta é física, muito violenta. O homem mais baixo e musculado ganha ao homem mais alto e, aparentemente, mais intelectual. O resultado é como se fosse o animal do circo a ser preparado e exibido pelo domador. Os discos do equilibrista são usados agora como coleira. Há uma grande humilhação de um homem perante o outro, e que se prolonga por muito tempo. Seria leão, tigre ou simples cão? Confesso que, por duas vezes, estive para sair da sala, dada a inusitada força física posta em confronto. No final, os dois homens arfavam, exaustos, e viam-se as marcas no pescoço do actor que representava o papel de vencido.
A peça não é intelectual nem agradável, mas um pesadelo. Eu sei que os programadores da Companhia Erva Daninha, que montaram o espectáculo 50 ou nada na Fábrica da rua da Alegria (Porto), quiseram demonstrar como as conquistas e as guerras contemporâneas produzem grandes deslocações de populações, uma enorme miséria e opressão. Mas o teatro precisa de ser falado, algo que é escasso na peça, sem necessidade de tamanha brutalidade. O que pensaria o público jovem presente? Nos bancos corridos da plateia de uma das mais desconfortáveis salas que conheço, algum público ria, coisa que não percebi, durante a luta que culminou com a humilhação de uma das personagens.
Para ser o circo como lugar de produção de sonho, a peça representada deveria ter o palhaço e a música. Sei que o grande treino físico e maior agilidade demonstrada pelos dois actores retrata de perto a vida difícil dos saltimbancos do circo, o que nos aproxima um pouco da realidade - que não é igual ao sonho.
Ao equilibrista junta-se o mágico, que faz aparecer e desaparecer objectos ou os coloca de outra forma. Porém, de repente, os dois homens lutam. Percebe-se que o fazem pela conquista de mais território. A luta é física, muito violenta. O homem mais baixo e musculado ganha ao homem mais alto e, aparentemente, mais intelectual. O resultado é como se fosse o animal do circo a ser preparado e exibido pelo domador. Os discos do equilibrista são usados agora como coleira. Há uma grande humilhação de um homem perante o outro, e que se prolonga por muito tempo. Seria leão, tigre ou simples cão? Confesso que, por duas vezes, estive para sair da sala, dada a inusitada força física posta em confronto. No final, os dois homens arfavam, exaustos, e viam-se as marcas no pescoço do actor que representava o papel de vencido.
A peça não é intelectual nem agradável, mas um pesadelo. Eu sei que os programadores da Companhia Erva Daninha, que montaram o espectáculo 50 ou nada na Fábrica da rua da Alegria (Porto), quiseram demonstrar como as conquistas e as guerras contemporâneas produzem grandes deslocações de populações, uma enorme miséria e opressão. Mas o teatro precisa de ser falado, algo que é escasso na peça, sem necessidade de tamanha brutalidade. O que pensaria o público jovem presente? Nos bancos corridos da plateia de uma das mais desconfortáveis salas que conheço, algum público ria, coisa que não percebi, durante a luta que culminou com a humilhação de uma das personagens.
Para ser o circo como lugar de produção de sonho, a peça representada deveria ter o palhaço e a música. Sei que o grande treino físico e maior agilidade demonstrada pelos dois actores retrata de perto a vida difícil dos saltimbancos do circo, o que nos aproxima um pouco da realidade - que não é igual ao sonho.
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Flores para mim
Flores para Mim é uma peça de Abel Neves, com encenação de Natália Luiza e com Elsa Galvão, Rui M. Silva, Sara Leitão e Teresa Sobral na interpretação, em actuação no Teatro Meridional (rua do Açúcar, Lisboa).
Conta a história de Catarina, deficiente motora (movimenta-se em cadeira de rodas), alguém revoltada com a sua vida e que se refugia no passado, Jaime, a sua antiga paixão, Rita, tia daquela, e Mirita, a nova namorada de Jaime. A sala da casa de Catarina, onde decorre a acção, é, primeiro, o lugar da lembrança do encontro que não teve (o quarto de hotel barato). Depois, é o sítio, entretanto reformulado, onde Jaime e Mirita procuram alterar a rotina, perfumada com o aroma das flores. Há uma cumplicidade de acções antigas que nem todas as personagens sabem das outras mas que o enredo a revela aos espectadores, e que amarra essas personagens num jogo de aproximação e afastamento. Jaime é, pelas experiências anteriores, o centro da história dramática. Ele, contudo, não soube resolver convenientemente os problemas e aparece-nos ora arrependido ora quase indiferente para com a situação. Cobarde, é como Catarina o define, convidando-o a não voltar a aparecer na sua casa. E igualmente para Mirita, afinal a namorada do seu antigo amor, que lhe surgiu uma última vez com os olhos com orvalho (lágrimas). Ela queria ficar sozinha em casa, liberta da pressão dos que a queriam "ajudar" e das histórias do passado.
Trata-se, assim, de um trabalho sobre a condição humana e a sua imperfeição, em especial quando os defeitos são deficiências e estas são vistas com compaixão ou esquecimento, protelando o reconhecimento da pessoa e dos seus sentimentos.
Peça de e sobre a actualidade, além da história em si chama a atenção para a compreensão do outro e para a necessidade de preparar meios de acesso a esse outro. A peça é muito sóbria, muito bem representada, com um texto por vezes irónico (ou explorando a ingenuidade da personagem Mirita) mas agradável.
Conta a história de Catarina, deficiente motora (movimenta-se em cadeira de rodas), alguém revoltada com a sua vida e que se refugia no passado, Jaime, a sua antiga paixão, Rita, tia daquela, e Mirita, a nova namorada de Jaime. A sala da casa de Catarina, onde decorre a acção, é, primeiro, o lugar da lembrança do encontro que não teve (o quarto de hotel barato). Depois, é o sítio, entretanto reformulado, onde Jaime e Mirita procuram alterar a rotina, perfumada com o aroma das flores. Há uma cumplicidade de acções antigas que nem todas as personagens sabem das outras mas que o enredo a revela aos espectadores, e que amarra essas personagens num jogo de aproximação e afastamento. Jaime é, pelas experiências anteriores, o centro da história dramática. Ele, contudo, não soube resolver convenientemente os problemas e aparece-nos ora arrependido ora quase indiferente para com a situação. Cobarde, é como Catarina o define, convidando-o a não voltar a aparecer na sua casa. E igualmente para Mirita, afinal a namorada do seu antigo amor, que lhe surgiu uma última vez com os olhos com orvalho (lágrimas). Ela queria ficar sozinha em casa, liberta da pressão dos que a queriam "ajudar" e das histórias do passado.
Trata-se, assim, de um trabalho sobre a condição humana e a sua imperfeição, em especial quando os defeitos são deficiências e estas são vistas com compaixão ou esquecimento, protelando o reconhecimento da pessoa e dos seus sentimentos.
Peça de e sobre a actualidade, além da história em si chama a atenção para a compreensão do outro e para a necessidade de preparar meios de acesso a esse outro. A peça é muito sóbria, muito bem representada, com um texto por vezes irónico (ou explorando a ingenuidade da personagem Mirita) mas agradável.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Mercado de San Miguel em Madrid
Vale a pena uma visita ao mercado de San Miguel, em Madrid. Situado na praça de San Miguel, a sua construção foi concluída em 1916, sob a direcção de Alfonso Dubé y Díez (imagem de arquivo, retirada do sítio da internet), sucedendo ao mercado ao ar livre instalado em 1835. No começo da actual década, sofreu uma alteração profunda e tornou-se um Centro de Cultura Culinária, com espaços gourmet. Além de ser uma presença da cultura gastronómica, através de cursos, apresentações e feiras, a sua relação com a cultura é grande: conferências, recitais ou concertos são ali apresentados.
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