Pierre Bonnard (Fundación Mapfre) começou por estudar direito ao mesmo tempo que frequentava pintura na Académie Julian, onde conheceu outros membros do que se chamou mais tarde os nabis (profetas). O grupo seguia Gauguin e queria obter uma verdade que transcendesse a realidade através da exaltação da cor. Bonnard afastou-se das correntes modernistas e criou o seu estilo próprio, dentro de uma estética decorativa. Estranheza, melancolia, sonho - são alguns dos atributos. A sua mulher Marthe de Méligny, que serviu de modelo, teve problemas de saúde, com o pintor a retratar estados neuróticos. Ele pintou nus com outros modelos, Trabalhou paisagens mas concentrou-se muito em cenas íntimas de interior, como à volta da mesa, experimentação de cores (branco, amarelo), parecendo iluminadas por detrás, algumas delas sem profundidade, com as paredes revestidas de papel de parede, cujos temas se confundem com as personagens representadas. Mas também pintou telas gigantes de encomenda (para mim, de impacto estético menor). Bonnard viveu entre a Normandia e a Cote d’Azur, com iluminações diferentes, o que se reflete no seu trabalho. Dos quadros expostos, saliento um em que ele mostra o escritório dos comerciantes da sua obra. Há uma paisagem junto à costa, com cores muito experimentais. No seu percurso, há um momento de inspiração baseado na cultura japonesa. A reflexão do fim da vida nos autorretratos, caso do boxeur, quadros de crueza perante a morte.
Edvard Munch. Arquetipos (Museo Thyssen-Bornemisza). Muitas das obras provêm do museu de Oslo. Os temas são estados anímicos (melancolia, paixão, submissão) e obsessões existenciais (amor e ódio, desejo, ansiedade e morte). No primeiro tema, talvez o que mais me tenha chamado a atenção. As mulheres do campo mas junto à costa olham desencantadas ou sem esperança, repetindo formas em gerações diferentes. Mãe e filha têm a mesma postura de corpo, já conformadas com o destino, a pobreza e as condições duras da vida. Há cenas de uma povoação interior, com a sua pobreza e finitude de valores. Não sei se há alguma solidariedade entre as personagens. Munch retoma temas trabalhados quase trinta anos depois, como a doença da menina, experimentando ainda diversos materiais: folha de cobre (para impressão), litografia, tela com óleo. As salas do amor e do ódio são as mais significativas dos trabalhos presentes. A um conjunto pequeno de peças que representam o beijo (a lembrar também Klimt), no resto do tema o homem é apresentado como o sexo fraco. A mulher aparece como o vampiro, que morde e assassina o homem. Vê-se isso em cenas em que a mulher, de pé, contempla o cadáver do homem deitado na cama. Já nos quadros iniciais da povoação rural, as formas que se tornariam célebres em O Grito aparecem ali, uma espécie de grafia repetida ao longo da sua carreira. De O Grito, há uma pequena obra, um esboço do que se tornaria a mais emblemática obra do autor.
Kandinsky (CentroCentro Cibeles). A amostra não é significativa da evolução estética do autor, embora a sua divisão em quatro capítulos, de estudante de direito e economia a pintor nos dê instruções de percurso. Ela centra-se na fase geométrica, das linhas e dos círculos, da régua, esquadro e compasso, nomeadamente obras feitas no tempo da Bauhaus, para onde foi a convite de Gropius. Poucas obras da sua fase inicial figurativa e poucas obras fundamentais da abstração e da escolha de cores que o tornaram grande pintor (que se pôde ver poucos anos atrás no Centre Pompidou). Não há, portanto, uma linha biográfica muito forte mas uma aposta num determinado tempo ou esquema estético, sem permitir o conhecimento da sua evolução como artista, as ligações com outros pintores e com a sua mulher que o ajudou num tempo determinado, a relação dos materiais com a maior ou menor possibilidade financeira (Kandinsky, na fase do regresso à Rússia revolucionária, não tinha dinheiro para comprar telas, pelo que se ficou no papel, o que implica outras técnicas pictóricas). Vislumbra-se de longe a sua passagem por Paris ou pela Alemanha.