segunda-feira, 31 de janeiro de 2005

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Pela imagem, obrigado à Jacqueline Lima, do blogue Amorizade.


CINEMA EM ESPANHA

Lá como cá, a concorrência ao cinema em sala é grande: internet, videojogos, DVD, cinema em casa. Diz o El Pais de ontem que a ocupação média de salas não ultrapassa os 15% e a assistência média por sala desce desde 2000. Mas continuam a abrir mais salas, que passaram de 3500 em 2000 para 4348 o ano passado. E os exibidores investiram mais de €1500 milhões nos últimos cinco anos com novas tecnologias e para dotar as salas com maior conforto, escreve Rocío García na edição citada do jornal madrileno. Lamenta-se ainda que a ida ao cinema tenha perdido o sentido social e a liturgia cultural de entrar numa sala e assistir, no anonimato, no escuro e em silêncio, a um mesmo espectáculo.

Contudo, o ministério espanhol da Cultura não tem a mesma visão pessimista. É que 2004 terá tido um aumento de quatro milhões de espectadores nas salas de cinema. E os filmes agora em exibição - ou que sairam recentemente - como Alexandre o Grande, The aviator ou Ocean's twelve - são grandes êxitos de bilheteira.

Em Portugal, Ocean's twelve já vai em 235 mil espectadores, até à semana que acabou no dia 19 de Janeiro, segundo o sítio do ICAM, ao passo que Alexandre o Grande, até à mesma data, teve quase 177 mil espectadores. Apesar de não figurar na lista dos mais vistos, o filme de Ingmar Bergman, Saraband - magnífica obra -, está a encher a sala do Alvaláxia, o que põe em causa a minha perspectiva de flop de todo o centro comercial.

Voltando ao texto do El Pais, dá-se o exemplo do cinema francês, a partir do que diz Margaret Menegoz, presidente da Unifrance, organismo que luta sem cessar pela promoção do cinema francês dentro e fora do país. No ano passado, a cinematografia francesa teve quase 40% de quota no seu mercado natural, valor que não se atingia há mais de 40 anos (em 1984, a cifra atingiu 50%).

Não sei se tal se deve à qualidade do cinema francês ou às políticas de excepcionalidade cultural incrementadas pelos governos de França. O certo é que dá para pensar e tentar aplicar a Portugal!

domingo, 30 de janeiro de 2005

PROCESSO DE BOLONHA

Dado o interesse, aconselho a leitura do texto Implementação do Processo de Bolonha na área de conhecimento de Comunicação. Considerações sobre a proposta do grupo coordenado pelo Prof. Doutor José Viegas Soares, produzido pelo Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho.
UM ANO DE PROVEDOR DO LEITOR DO JORNAL DE NOTÍCIAS

No seu texto de hoje, em que faz uma espécie de balanço de actividade de provedor do leitor do Jornal de Notícias (Porto), Manuel Pinto escreve, mesmo a terminar: "Se os leitores parassem um pouco para pensar, descobririam que se se manifestassem e interviessem mais, isso teria consequências. Não há jornal que resista à voz insistente dos seus leitores. E neste jornal queremos ter as portas abertas para essas vozes, particularmente, no caso do provedor, para as questões do foro ético e deontológico e em geral da qualidade do jornalismo".

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O reforço da cidadania e a sua articulação com os media tem constituido um dos temas mais frequentes do provedor do leitor do Jornal de Notícias. E Manuel Pinto aponta três pontos na sua conduta semanal: 1) relação com as gerações mais novas, 2) relação do jornal com a escola e os professores, 3) questão da regulação e autoregulação.

Antigo jornalista do diário onde agora exerce o "ofício" de provedor, Manuel Pinto é professor na Universidade do Minho, principal animador do blogue Jornalismo e Comunicação e co-dirige, com Joaquim Fidalgo, a colecção "Comunicação" da Porto Editora. Parabéns, Manuel, pelo aniversário!

Novo provedor do leitor do El Pais [informação acrescentada dia 31, pelas 8:45]

Sebastián Serrano, 51 anos, licenciado em jornalismo, é profissional do El Pais desde 1989. Tem sido professor da Escola de Jornalismo Universidade Autónoma de Madrid/El Pais, desde 2001, e co-director do curso de jornalismo científico da Escola de Verão em 2003 e 2004. Serrano sucede no cargo de provedor a Malén Aznarés, que se manteve no seu posto durante dois anos, e é o nono provedor do jornal, figura que existe desde 1985.
V FÓRUM SOCIAL MUNDIAL (FSM)

Só agora li o que Sérgio Corrêa Vaz [parceria do blogue Intermezzo com o sítio BR Press] escreveu anteontem e ontem sobre o V Fórum Social Mundial. Olhando o mega-encontro a partir da óptica das tecnologias, o seu relato vigoroso teve um título que dá para pensar: FSM: com um (forte) pé no século passado?

Retiro as seguintes ideias: 1) a programação está contida num livro de 300 páginas, mas sem um "mecanismo de busca que permita resgatar informações sobre os dois mil painéis" propostos por 5700 organizações de mais de 100 países; 2) há 120 computadores para 5,6 mil jornalistas; 3) poucos eventos estão a ser gravados, logo haverá poucos registos áudio e muito menos áudio/vídeo; 4) as ligações da internet "caem" com frequência; 5) não há ferramentas digitais que possibilitem a publicação online; 6) a internet é ainda vista como um novo fenómeno, pelo que há "cautela na análise" e os blogues ainda não são muito discutidos. Contudo, a reunião sobre a revolução digital, que contou com Manuel Castells e o ministro brasileiro Gilberto Gil, entre outras personalidades muito conhecidas, teve muita repercussão. O próprio Sérgio Corrêa Vaz dela deu destaque.

E o jornalista compara a reunião de Porto Alegre com a de Davos, que envolve os países mais ricos do mundo. Estas duas galáxias (de poder e de dinheiro) têm óbvias repercussões no modo de andamento das tecnologias. A não perder estes relatos no blogue Intermezzo.
relvas5.JPGCARLOS RELVAS E A CASA DA FOTOGRAFIA

Fotógrafo amador, instalado na Golegã, Carlos Relvas deixou uma obra de vulto, em exposição no Museu Soares dos Reis (Porto) [a exposição deveria ter acabado a 3o de Novembro último, mas prolongou-se até hoje, permitindo-me apreciar tão importante espólio; confesso que ainda não visitei a casa-museu dos Patudos, na Golegã].

Lavrador e proprietário na Golegã, construiu um espaço próprio para servir de estúdio fotográfico. Tem fotografias que remontam aos anos de 1870. Muitos auto-retratos (de frente e de perfil), retratos de pessoas (populares, homens velhos e doentes, raparigas e mulheres), animais, paisagens, imagens do Porto junto ao rio Douro e da exposição universal em Paris, fizeram parte do espólio patente no museu do Porto.

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A exposição [de que recolhi alguns aspectos, como se podem observar nas imagens] foi apoiada por um catálogo (preço: €55). Infelizmente, esgotou e não consegui comprar um exemplar, para apoiar esta mensagem. Deixei o meu nome e morada na loja do museu; disseram-me que iriam arranjar um catálogo (reedição) e que mo enviarão à cobrança. Fico à espera.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2005

FIM-DE-SEMANA

O blogueiro volta de novo no começo da próxima semana.
TESE DE MESTRADO DE GONÇALO PEREIRA

Com o título A Quercus nas notícias. Consolidação de uma fonte não oficial nas notícias de ambiente, a tese de mestrado de Gonçalo Pereira, editor-executivo da National Geographic-Portugal, defendida na Universidade Católica Portuguesa, teve a classificação de muito bom. A arguência esteve a cargo da Professora Cristina Ponte (Universidade Nova de Lisboa).

Trata-se de um trabalho na área da sociologia do jornalismo. Do resumo (abstract) retiro: "A consolidação noticiosa da Quercus, associação de conservação da natureza que actua maioritariamente na esfera do Ambiente, é um fenómeno recente que contraria modelos vigentes de acesso ao campo noticioso. As estratégias desta fonte não oficial, a utilização dos seus recursos na negociação com os meios de comunicação e com o poder político e a cientificidade atribuída aos seus relatórios e estudos são essenciais para compreender por que motivos a agência Lusa recorre a esta fonte com tanta frequência. Simultaneamente, as notícias de Ambiente geram dificuldades adicionais para os jornalistas destacados para a cobertura da acticidade noticiosa deste campo. Os procedimentos rituais de objectividade, na luta dos repórteres pela simplificação do conteúdo a apresentar aos seus leitores e pelo domínio de conceitos científicos de difícil explicação, geram adaptações. A análise destes mecanismos de objectividade associados à cobertura noticiosa do Ambiente constituem a última parte desta dissertação, que se insere numa ampla tradição de estudos sobre comunicação de massas e sociologia do jornalismo".

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Das linhas de investigação prosseguidas na investigação, Gonçalo Pereira destacou as seguintes: 1) crescimento de referências à Quercus, 2) progressiva requalificação da associação (de fonte marginal a fonte pericial), 3) adaptação da Quercus à crescente divulgação mediática: programa, agenda, formato, tempo de intervenção, estrutura interna, 4) rituais de objectividade no campo específico do ambiente.

Nas conclusões, extraio o seguinte: "Neste intervalo temporal de análise, foi notório o crescente recurso da agência noticiosa, não só às fontes da Quercus, como também aos relatórios, comunicados e pareceres emitidos pela direcção nacional, por um dos núcleos regionais ou pelo Centro de Informação de Resíduos" (p. 142).

De particular atenção o modo como a Quercus evoluiu ao longo do tempo (pp. 61-75). Fundada em Braga em 1984, alargou-se nos anos seguintes a outros locais do país, formando núcleos activos. Foi em 1985 que teve constituição notarial mas o nome definitivo (Quercus) só foi decidido em 1987. A matriz de trabalho era ainda a da conservação da natureza, caso das campanhas contra a eucaliptização. Em 1988, a Quercus inicia um novo rumo, com a primeira "acção dramática", ao ocupar o navio Reijin na praia da Madalena (V. N. de Gaia). Depois, veio a acção judicial contra o derrube de árvores que tinham a maior colónia de cegonhas do Ribatejo (1990). Seguir-se-iam muitas outras acções.

O trabalho, de 158 páginas (excluindo bibliografia e anexos), é composto por três partes e oito capítulos mais as conclusões. A investigação empírica consistiu na análise de conteúdo a 1208 notícias produzidas pela agência Lusa durante 17 anos sobre ambiente e Quercus (1987-2003) e entrevistas a quatro dos principais actores (ambientalistas da Quercus e jornalista da Lusa).

Observação: confesso que estava um pouco nervoso durante a prova do Gonçalo Pereira. Ele foi o meu primeiro aluno de mestrado a defender tese. Mas correu tudo bem!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

UM BLOGUE SUPER-DIVERTIDO

De quatro alunas sobre as aulas na universidade, vale a pena ver o blogue
STRA blog. Obrigado pela referência ao meu trabalho.

O PESO DO COMÉRCIO ELECTRÓNICO NAS INDÚSTRIAS CULTURAIS

Shaun French e colegas escreveram um texto sobre o comércio electrónico e os efeitos potenciais e prováveis que ele terá na construção, transformação e reprodução das cadeias de valor na moda, música e serviços financeiros. O título do texto é Putting e-commerce in its place (2004).

Em primeiro lugar, apresentam a forma do bem [commodity]. Nos três sectores estudados – moda, música e serviços financeiros – tem havido diferentes níveis de resistência à transformação digital do bem. E se música e dinheiro fluem hoje pela internet, a materialidade da moda torna esse bem menos permeável à digitalização.

Depois, têm de se considerar as redes dos sectores industriais e as suas topologias para compreender o impacto da internet. Sobressaem os impactos organizacionais e espaciais, pois eles incidem sobre cadeias de valor, relações de poder, políticas organizacionais e discursivas.

Em terceiro, os efeitos da internet são mais complexos do que se pensava inicialmente em termos de determinismo tecnológico. Não se pode falar em “morte da distância”, isto é, nem tudo é redutível ao envio de ficheiros electrónicos de um sítio para outro. Há contactos sociais e de frente-a-frente que não se podem substituir. Os autores, na sua análise aos três sectores em estudo, sugerem que a internet reforça as geografias existentes de produção embora incremente novos nós de distribuição.

Finalmente, ergue-se uma crítica às narrativas bipolares que dominam a literatura (físico/virtual, material/imaterial). Há dimensões mais úteis como confiança/suspeita ou receio ou divisões de consumo.

Texto: Shaun French, Louise Crewe, Andrew Leyshon, Peter Webb e Nigel Thrift (2004). "Putting e-commerce in its place: reflections on the impact of the internet on the cultural industries". In Dominic Power e Allen J. Scott (eds.) Cultural industries and the production of culture. Londres e Nova Iorque: Routledge

quarta-feira, 26 de janeiro de 2005

DOIS OUTROS BLOGUES DE TRABALHO

Durante algum tempo, cortei o acesso ao blogue Teorias da Comunicação, onde escrevi apontamentos para as aulas daquela matéria, durante dois anos lectivos subsequentes. Agora, ele volta a "estar no ar". Outro blogue com alguns apontamentos de aulas que dei numa outra cadeira (que terminou nas semanas recentes) chama-se Media, Públicos e Audiências. São textos que ficam disponíveis para quem os quiser aproveitar.
O BLOGUE INTERMEZZO E O FÓRUM SOCIAL MUNDIAL

Importante o destaque que o blogue Intermezzo, em parceria com a BR Press, está a dar ao Fórum Social Mundial, que decorre de hoje até dia 31, em Porto Alegre (Brasil).

Assim, Sérgio Corrêa Vaz faz a cobertura de "um dos eventos com maior cobertura nacional e internacional entre aqueles concentrados em uma única cidade do Brasil". Ao evento, diz o mesmo jornalista, acorrem 5623 profissionais, dos quais 25% são free-lancers, credenciados por mais de 70 países e representando mais de 1600 meios.

Nos posts de hoje do blogue brasileiro, muito acarinhado pela comunidade blogueira portuguesa, já se podem ler os primeiros despachos. Aplaudo a ideia de que "a parceria Intermezzo/BR Press deve manter sua cobertura independente". Bom trabalho, Sérgio Corrêa Vaz.

Observação: o mesmo Sérgio Corrêa Vaz fez publicar anteontem um post, com o título "Para MIT, internet é a maior invenção dos últimos 25 anos", que eu gostaria de polemizar - no bom sentido, claro. Isto porque ele estabelece comparações entre a internet e a rádio. Independentemente da internet ser um veículo fundamental na comunicação de hoje - e nós estamos a comunicar através dela -, não podemos esquecer o pioneirismo da rádio. A rádio foi o primeiro medium electrónico, e isso a internet (como a televisão anteriormente) não elide.
PEÇAS DE PROMOÇÃO

Sou muito sensível ao (bom) gosto das peças de promoção de eventos.

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Acontece isso com o convite para o lançamento do livro de Cristina Ponte, que já assinalei aqui no lado direito, no próximo dia 1 de Fevereiro, pelas 18:00, na livraria Almedina, no Atrium Saldanha.

Diz a outra face do convite: "A Porto Editora e Joaquim Fidalgo e Manuel Pinto, coordenadores da Colecção Comunicação, têm o prazer de convidar V. Exa. para o lançamento do livro Notícias e silêncios - a cobertura da sida no Diário de Notícias e no Correio da Manhã, da autoria de Cristina Ponte.

Trata-se de uma peça simples mas muito harmoniosa, o mesmo acontecendo com o desdobrável da referida colecção da editora. Os meus parabéns a todos, acrescentando que o local de apresentação do livro é magnífico. Um(a) pianista a tocar no hall do centro comercial não acontece em qualquer centro (quando vou ao Atrium Saldanha refiro que é o centro do(a) pianista)!
FÃS E CLAQUES DE FUTEBOL

Dois grupos de alunos decidiram estudar o fenómeno das claques de futebol como extensão da análise dos fãs: Ana Catarino Alfredo, Ana Rita Santos e Maria Ana Figueira (Os fãs: claque do Sporting Clube de Portugal) e Duarte Pinto Coelho, Margarida Carmelo Rosa e Ana Gouveia (As claques de futebol - um mundo inverso).

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Um dos trabalhos fixou a seguinte metodologia: "A amostra compreenderá 90 indivíduos,sendo que os inquéritos realizar-se-ão a 30 membros de cada claque. No caso da Juve Leo, o jogo escolhido para a recolha de informação foi o Sporting-Belenenses; para o No Name Boys optou-se pelo Benfica-Nacional; no caso da Linha Amarela, a escolha recaiu sobre o Estoril-Beira Mar. [...] No que diz respeito à média de idades, ela situa-se na casa dos 20. [...] As classes sociais foram aferidas através de um indicador apenas: a escolaridade".

A base de inquéritos do outro trabalho foram 30, durante o encontro entre o Sporting e o Sporting de Braga, a 11 de Dezembro último. O grupo que estudou apenas a claque do Sporting tinha por objectivo principal perceber "porque é que as claques têm comportamentos violentos". Ana Catarino Alfredo, Ana Rita Santos e Maria Ana Figueira abordaram nos seus inquéritos quatro campos: dados pessoais dos membros, violência, consumo de bebidas e dedicação ao clube. Para efectuarem os inquéritos, as três alunas dividiram-se pelas bancadas e obtiveram as respostas durante o jogo e no intervalo.

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O trabalho sobre a claque do Sporting concluiu haver, maioritariamente, elementos das classes C1, C2 e D entre os espectadores e fãs de futebol. O outro estudo, que analisou claques do Sporting, Benfica e Estoril concluiu de modo diverso: enquanto os assistentes do Benfica eram constituidos por classes mais baixas, os elementos do Sporting tinha um estatuto social mais elevado e a claque do Estoril tinha bastantes estudantes. Aqui, dado o número baixo de inquéritos, poderemos encontrar - com grande probabilidade -, os estereótipos que caracterizam a base de classe trabalhadora no Benfica e uma base de classe média no Sporting, o que está longe de ser provado.

Agressividade, consumo de bebidas ou estupefacientes e fanatismo

Os grupos fizeram perguntas objectivas sobre essas questões (eu chamara previamente a atenção para o cuidado a ter com a elaboração destas perguntas e sugeri, mesmo, a sua eliminação ou "amaciamento" dos termos usados).

Num dos trabalhos, 23 dos 30 inquiridos afirmaram ter consumido, durante os jogos, bebidas e substâncias "que alteraram o seu estado de espírito". Das 23, 70% disseram ter consumido bebidas alcoólicas, 27% estupefacientes e os restantes 3% calmantes ou ansiolíticos. Claro que se trata de um número muito pequeno de respostas - pelo que é um erro extrapolar para o universo dos frequentadores dos estádios -, embora as alunas reconhecessem ser este "um dos factores geradores de grande parte da violência física e verbal que se vive nas bancadas dos estádios de futebol".

À pergunta "alguma vez foi agredido fisicamente", 17 em 30 pessoas afirmaram nunca ter sido. Mas 18 em 30 pessoas admitiu ter agredido alguém, em resposta a uma agressão prévia (66%), por descontrolo de emoções (18%) e devido ao consumo de bebidas (6%).

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Sobre o facto de os elementos das claques dos clubes se considerarem simples fãs ou extremistas - fanáticos - a resposta foi maioritariamente esta última. Os alunos escreveram: "Quanto à determinação de fanático, a maior parte dos membros destas claques aceita-a, ainda que tenha recorrido ao termo «ultra» como sinónimo. Sob esta designação encontra-se o adepto que apoia quase cegamente o clube em qualquer ocasião. [...] Os adeptos que se consideram fanáticos justificam-no unanimemente pelo apoio incondicional que dão à sua equipa". Inversamente, as claques das equipas adversárias são vistas como permanentemente inimigas, no sentido sociológico do "nós" contra "eles".

Estes trabalhos poderiam incluir outros elementos como a ligação aos media (no caso a transmissão de jogos pela televisão), pela formação da ideia de comunidade imaginária, no sentido de Benedict Anderson, e ao merchandising (venda de produtos do clube), num âmbito mais amplo da comunicação. Mas o retrato que traçaram deram luz a algumas das ideias que vemos ser formuladas de modo intuitivo.

terça-feira, 25 de janeiro de 2005

AOS MEUS ALUNOS DE PÚBLICOS E AUDIÊNCIAS DA LICENCIATURA

Hoje dei as últimas notas na cadeira de Públicos e Audiências, no curso de Comunicação Social e Cultural da Universidade Católica Portuguesa. "Liberto" desta tarefa, quero felicitar todas(os) as(os) alunas(os) pelo desempenho e pelos trabalhos que produziram (de que tenho vindo aqui a publicar sínteses de alguns deles). Foi um semestre muito bom para mim - os objectivos que eu esperava foram alcançados.

Tinha pedido, na última aula (a 44ª), que me fizessem chegar, ainda que anonimamente, as opiniões de cada um(a) sobre a cadeira e o modo como conduzi as aulas, após o lançamento de notas. Só me chegou ainda uma opinião: agradeço o elogio nos pontos fortes mas, sobretudo, as pertinentes sugestões quanto ao que haverá a emendar em próxima edição da cadeira.
VALOR-NOTÍCIA: INSÓLITO

O jornal tablóide romeno Libertatea, o principal diário de Bucareste, despediu um repórter - Ion Garnod - que escreveu a história de um casal que pôs ao seu filho o nome de Yahoo como sinal de gratidão por o encontro de ambos ter sido propiciado pela internet. A notícia vinha acompanhada de uma certidão de nascimento da criança.

Agora descobriu-se ter-se tratado do documento de nascimento do próprio filho do jornalista, que ele alterou, segundo a editora-adjunta principal do diário, Simona Ionescu. Ion Garnod, que trabalhou no jornal durante vários anos, admitiu ter inventado a história porque lhe parecera boa.

Fonte: European Journalism Centre
MAGIC THE GATHERING

Richard Garfield, professor de matemática, lançou o Magic The Gathering em 1993, jogo de estratégia e fantasia sob a forma de cartas ilustradas coleccionáveis. Há quem chame a Garfield o criador das novas noites árabes, fomentador de jogos, livros, acontecimentos e comunidades.

Escrevem as alunas Joana Campos, Suéli Neves e Marta Olim, no seu trabalho Os fãs de Magic The Gathering: "Fácil de aprender, extremamente portátil e muito versátil, Magic criou o seu próprio nicho de mercado, atraindo jogadores e coleccionadores de todas as idades e nacionalidades. Wizards of the Coast, empresa que comercializa este jogo, rapidamente se transformou na referência básica dos jogos de fantasia nos Estados Unidos".

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Calcula-se que haja cerca de sete milhões de jogadores em todo o mundo (em 50 países e traduzido em 10 línguas, incluindo o português). O jogo Magic foi lançado no nosso país em 1996, pela DEVIR, que funciona como empresa de edição e distribuição de jogos e de publicações, focando-se no chamado entretenimento inteligente: jogos de estratégia, de Role-Play, de cartas coleccionáveis e de miniaturas, livros e banda desenhada [as imagens seguintes foram retiradas do sítio magicthegathering].

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Joana Campos, Suéli Neves e Marta Olim quiseram saber como são os praticantes e fãs deste jogo com uma simbologia própria identificativa com as figuras do Senhor dos Anéis, Pokémon, Tabuleiro e outros. E encontraram-nos no campeonato nacional do Magic, em 6 de Novembro último, na escola secundária de Odivelas, inquirindo 34 dos participantes, com idades compreendidas entre os 12 e os 42 anos, essencialmente do género masculino. Na análise dos dados recolhidos, as alunas dividiram os inquiridos por faixa etária.

Dos mais jovens, entre 12 e 19 anos, a motivação para jogar adveio da curiosidade, passatempo e convívio transmitida pelos amigos e da possibilidade de ganharem prémios (o vencedor do campeonato ganha uma viagem ao país onde se joga o campeonato mundial). Já os mais velhos (20-30 anos) apreciam no jogo a estratégia e a possibilidade de usar o raciocínio e os veteranos (acima dos 30 anos), que podem levar cinco ou mais anos de jogo, para além da curiosidade e do convívio, também olham o aspecto comercial. É que a venda de cartas se revela um aspecto financeiramente rentável.

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Resumindo o trabalho das três estudantes de comunicação: a maioria dos inquiridos (19) joga há cinco ou mais anos, a estratégia é considerada elemento fulcral para se jogar (17 respostas), o convívio atrai 14 inquiridos. Curiosamente, 17 inquiridos revela não estar integrado num grupo (metade do universo); isto porque o Magic é um jogo de rivalidade, onde todos jogam para ganhar competindo entre si. A descoberta do jogo foi através de amigos (28 respostas) e 16 dos jogadores começaram a jogar entre os 12 e os 15 anos.

Os grupos na comunicação interpessoal (escolas secundárias), a internet (sítios, chats) e a televisão (filmes de animação) são os elementos vitais de interligação, conhecimento e promoção destes jogos, associados a lojas onde se vendem bandas desenhadas e mangas (e que eu já escrevi aqui há já algum tempo). É um tema a merecer acompanhamento, pela subcultura criada e pelo envolvimento comercial!

segunda-feira, 24 de janeiro de 2005

FÃS E CLUBES DE FÃS (II)

[continuação de post colocado ontem]

Dois outros trabalhos sobre fãs foram desenvolvidos por Ana Margarida Marques, Ana Rita Santa-Clara e Mafalda Melo (Fãs de Quim Barreiros) e Ana Sofia Rocha, Natacha Almeida e Rita Félix Soares (O clube de fãs da Mafalda Veiga). O primeiro trabalho teve como suporte empírico um inquérito a 32 pessoas (em Vila Franca de Xira e Seixal) e o segundo a 30 pessoas (junto às lojas FNAC do Colombo, Chiado e Cascais, nos dias 8 e 11 de Outubro passado).

Quanto a Quim Barreiros, as estudantes quiseram saber se os inquiridos se consideravam fãs do cantor e músico, partindo da definição de Lawrence Grossberg (Is there a fan in the house?: The affective sensibility of fandom) entre fãs passivos e fãs activos. Os inquiridos inseriam-se no primeiro grupo. Escrevem Ana Margarida Marques, Ana Rita Santa-Clara e Mafalda Melo: "Não consideramos que as pessoas que responderam ao inquérito tenham demonstrado uma identificação com o conteúdo, ou tenham operado sobre o mesmo, formulando novos conteúdos".

Quim Barreiros, um dos arautos da designada música pimba - com "duvidosa qualidade em termos musicais", segundo o trabalho agora presente -, teve 86% dos entrevistados a considerarem gostar da sua música, mas só 65% se considerava fã do cantor (distinção que não consegui apreender na totalidade). 32% de pessoas ouviam o cantor há mais de seis anos, 10% até há cinco anos, mas 58% não tinham percepção de há quanto tempo o ouvem. Alegria e divertidas (10 respostas cada) foram as principais qualidades atribuidas às músicas de Barreiros, seguindo-se razões para dançar (7). Em casa (9 respostas), em festas (8, presumo que com ele próprio) e no café (6) seriam os ambientes onde se ouve mais frequentemente a música do cantor pimba. 79% dos inquiridos já tinham visto Barreiros ao vivo.

Os títulos das músicas mais ouvidas seriam os seguintes [confesso que não sei associar os títulos às letras, elemento fundamental na compreensão do fenómeno Quim Barreiros]: Mestre culinária (32%), Bacalhau à portuguesa (26%) e Sorveteiro (chupa Teresa) (21%). fas2.JPGAs faixas etárias dos inquiridos foram: 15-30 anos (15%), 30-45 anos (31%), 45-60 anos (38%), mais de 60 anos (16%). 50% dos inquiridos possui o nível académico mais baixo (básico).

Já o trabalho de Ana Sofia Rocha, Natacha Almeida e Rita Félix Soares, que incidiu sobre Mafalda Veiga, deu conta de uma outra realidade de fãs. Trata-se de uma cantora que começou a sua carreira em 1987 com uma linha melodiosa menos fácil de caracterizar, mas aproximando-se de uma country à portuguesa.

Os fãs da cantora não são adictos ou fanáticos, não caindo "no exagero de saberem aquilo que ela gosta ou não de comer, de coleccionarem tudo o que lhes diga respeito ou mesmo de se vestirem ou usarem o mesmo penteado da cantora" (diferenças a estabelecer nomeadamente com os fãs dos Xutos & Pontapés, por exemplo, que usam lenços como os músicos e que acham que a banda os influenciou muito na sua vida). Claro que há sempre elementos que fogem à regra: as alunas descobriram que uma rapariga fez diversas tatuagens em homenagem ao álbum da cantora chamado Tatuagem.fas1.JPG

Trabalho igualmente qualitativo e quantitativo, o grupo de alunas concluiu que o clube de fãs de Mafalda Veiga (2685 membros, com uma média de idades de 22 anos, o que significa uma juvenilização dos fãs face à cantora) é maioritariamente feminino (71%) e tem 44% de fãs no distrito de Lisboa, a que se segue, de longe, o distrito do Porto, com 10%.

A maioria dos fãs descobriu o clube através da página da internet e do canal Mirc. O sítio, criado a partir do nascimento do clube de fãs da cantora em Outubro de 2000, disponibiliza informações sobre ela, mas também vende artigos de merchandising, como camisetas desenhadas por uma fã. O clube organiza jantares, a que pode aparecer a cantora. Esta dedicou-lhes, no seu álbum de 2003, um tema, Cúmplices.

Das razões porque gostam de Mafalda Veiga, os fãs elegem as músicas (44%), as letras (39%), para acompanhar amigos (11%). À pergunta para que servem os clubes de fãs, os respondentes ao inquérito afirmaram: acompanhar a actividade da cantora (70%), trocar informação (17%), fazer novas amizades (13%).

domingo, 23 de janeiro de 2005

OUTRA MENSAGEM SOBRE INDÚSTRIA FONOGRÁFICA

Nos jornais que tenho lido nas últimas semanas, há uma preocupação crescente quanto à indústria discográfica. Hoje, quero retomar o tema, já abordado anteontem e ontem - agora a partir do Le Monde. O título é significativo: O futuro incerto da música independente. Quem o assina é Stephan Bourdoiseau, presidente da Union des producteurs phonographiques français indépendants (UPFI) e presidente da Wagram Music. Como pano de fundo a quebra de 30% na venda de CDs nos últimos dois anos.

O texto abre assim: "Lutar pela diversidade cultural, longe de reflectir um recuo [repli], corresponde à afirmação dos nossos valores de tolerância e de permuta, da nossa identidade nacional e europeia, e da nossa capacidade de manter em França a criação e a sua difusão". E continua ao afirmar a necessidade dos artistas produzirem e os produtores apoiarem a criação musical (francesa, no texto). É que, escreve de seguida, "O dinamismo da indústria do disco tem assegurado, durante muito tempo, a renovação da produção local que sabe associar a qualidade, a popularidade e a diversidade".

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Em três parágrafos seguidos, Bourdoiseau escreve a palavra diversidade. O que, para ele, está em causa. A produção das etiquetas independentes constitui cerca de 80% dos catálogos existentes nas grandes superfícies que vendem discos, isto em França. As mesmas editoras independentes representam também 80% dos empregos e 30 a 40% do volume de negócios anuais do sector. Ora, explica, "a criação musical está ameaçada por dois factores opostos: a concentração dos meios de produção e de difusão e a democratização dos meios de transmissão e reprodução, que têm facilitado o desenvolvimento da pirataria".

Se Bourdoiseau realça a importância das tecnologias digitais na criação musical, as mesmas tecnologias permitem o registo gratuito, o que dificulta a venda de discos. Ele aponta, não sei se com alguma ingenuidade, para um tempo em que a internet seja não um lugar de pilhagem mas um veículo formidável para a transmissão de um património imenso e uma ferramenta de inovação para os músicos. Em que, com certeza, novas formas de exploração em linha (on-line) ajudem a divulgar e rentabilizar os produtos musicais.

Com as quebras de vendas, como explicitei acima, as multinacionais concentram-se [ver os meus posts dos dois últimos dias] e trabalham em economias de escala. Todo o modelo de negócio passa por uma profunda revisão em todos os escalões da cadeia de valor. Isto significa também um número menor de artistas a trabalharem para as etiquetas multinacionais. Já as produtoras independentes vêem-se a braços com novas dificuldades, com perda de autores, catálogos e diversidade [o texto que referi ontem tinha um tom menos dramático]. Bourdoiseau pede um abaixamento do IVA, capaz de amortizar parcialmente a crise, bem como apoios financeiros à criação artística e à digitalização dos catálogos independentes.

No último parágrafo, o presidente da Union des producteurs phonographiques français indépendants (UPFI) aponta a manifestação de vários países da União Europeia (Dinamarca, Alemanha, Espanha) em apoio de políticas de incentivos às indústrias culturais e à diversidade cultural.
CADEIA DE MUSEUS GUGGENHEIM

O mecenas principal do Guggenheim, Peter Lewis, presidente do conselho de administração do museu, afastou-se do cargo e, em simultâneo, deixou de o financiar. Em artigo assinado por Corine Lesnes, saído na edição de hoje-amanhã do Le Monde, a jornalista explica as razões da saída de Lewis, cuja fortuna foi obtida a partir de uma companhia de seguros de automóvel em Cleveland, no estado americano de Ohio.

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[as imagens representam as fachadas dos museus Guggenheim, na 5ª avenida em Nova Iorque, e em Bilbau]

Uma luta de homens, duas visões

Se Peter Lewis queria que o Guggenheim se concentrasse essencialmente no edifício redondo de Frank Lloyd Wright, inaugurado em Nova Iorque em 1959, ano da morte do arquitecto - e para o qual Lewis disponibilizou, o ano passado, 15 milhões de dólares apenas para a renovação da escada em espiral -, o gestor Thomas Krens tem outra visão. Krens, especialista em história da arte mas também diplomado pela escola de gestão de Yale, onde ensina gestão das instituições culturais, e dirigente do Guggenheim há 17 anos, promoveu o conceito de multinacional de artes plásticas, ao criar "sucursais" do museu em Bilbau, Veneza, Berlin e Las Vegas (o projecto do Rio de Janeiro está atrasado). Ele tem sido ainda responsável por exposições que causam espanto, caso da arte dos motociclos e da roupa Armani, enquanto a galeria permanente de Kandinski alberga presentemente uma exposição sobre o império azteca.

Com um financiamento de 77 milhões de dólares, Lewis tornou-se o maior mecenas do Guggenheim desde sempre. E tem-se oposto à ideia de cadeia de museus franchisados Guggenheim, projecto de Krens. Além disso, nos últimos anos o que estava em jogo era uma redução das despesas e a dispensa de pessoal (quase metade dos 380 empregados). A crítica nos jornais não se fez esperar, acusando-se o museu de gastar mais na arquitectura e menos nas artes.

O museu de Bilbau está a ser um sucesso, com um milhão de entradas por ano, e com contributos financeiros privados e do estado basco. Mas os outros projectos da cadeia de museus não tem tido este êxito: um segundo museu em Nova Iorque, no Soho, fechou em 2001, por falta de visitantes. Falta de visitantes também tem ocorrido no museu criado no casino de Las Vegas (onde se expõem obras emprestadas do museu de Ermitage, de São Petersburgo, da Rússia) e em Berlim, onde se apresentam as colecções do Deutsche Bank. Apesar destes insucessos, há novas candidaturas, caso de Guadalajara, no México, que quer copiar o êxito de Bilbau, e Taiwan, com uma postura mais política. Cada cidade candidata - continua a ler-se no texto do Le Monde - tem de possuir um financiamento próprio. A fundação Guggenheim factura um direito de franchise inicial e, eventualmente, royalties anuais.

Agora que o museu está sem o seu mecenas principal e ainda se não recuperou a perda de 20% de visitantes após os atentados de 11 de Setembro de 2001, é tempo de grande reflexão no Guggenheim. No museu idealizado por Solomon R. Guggenheim parece que venceu a perspectiva de Thomas Krens. Será por muito tempo?

FÃS E CLUBES DE FÃS (I)

Os meus alunos escolheram cantores ou bandas conhecidas (até mesmo tradicionais) do público para estudarem o modo como os fãs os vêem. A análise que aqui fica incide sobre a realidade nacional, e não em termos de estrangeiros. Assim, dois grupos de estudantes escolheram uma banda (Xutos & Pontapés), outro a cantora Mafalda Veiga e um último analisou os fãs de Quim Barreiros.

Xutos & Pontapés - um caso de sucesso transgeracional foi o título dado ao seu texto pelo conjunto de alunos Hugo Pinheiro, José Pedro Luís e Tiago Figueira. A base empírica foram 20 inquéritos trabalhados por ocasião da comemoração dos 25 anos de carreira dos músicos, à entrada da porta do Pavilhão Atlântico, em Lisboa, onde decorreu o espectáculo (o texto dos alunos incluiu ainda uma entrevista a um dos membros da banda, o guitarrista Zé Pedro). Dos 20 inquiridos, apenas 9 se considerava fã, sendo que quatro já o eram há mais de 15 anos. A rádio fora o principal meio de contacto do fã com a banda (13 em 20),seguindo-se os amigos (4), concertos (2) e outros (1). Dos 17 discos contabilizados pela banda, havia um fã que os possuia todos, mas a maioria (sete) tinha de um a três discos, sendo o mais marcante o Circo de feras (com 6 respostas) e as músicas de maior agrado Não sou o único e A minha casinha (ambas com cinco respostas). A uma outra pergunta (o que mais gosta na banda), responderam: letras (10), concertos (8), atitude (7). Sobre o clube de fãs, dos vinte inquiridos apenas 6 conheciam e dois pertenciam.

A representatividade dos inquéritosxutos2.JPG

Um dos problemas presentes neste tipo de trabalho é o número de inquiridos (e a sua apurada caracterização). Tratando-se de trabalhos de uma cadeira semestral (Públicos e Audiências), não se tem muito tempo para amadurecimento de conceitos e implementação de uma pesquisa empírica aprofundada. Claro que os grupos de estudantes precisam de saber gerir convenientemente o tempo disponível.

Isto vem a propósito do trabalho do segundo grupo que se dedicou ao mesmo tema, Fãs Xutos & Pontapés, constituido pelas alunas Fátima Ferreira e Lígia Silveira. Elas inquiriram 36 pessoas - em igualdade em termos de género - que foram ao concerto da banda no pavilhão Atlântico, no dia 9 de Outubro, como acima já fizera referência. A base teórica foi a mesma (textos de Lawrence Grossberg e Joli Jensen, já destacados algumas vezes no blogue). Este segundo trabalho fez um esforço mais acentuado em termos de caracterização, chegando a resultados algo diferentes dos do primeiro grupo.

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Em termos etários, as alunas entrevistaram 11 jovens abaixo dos 20 anos, 8 entre os 21 e 25 anos, 9 dos 26 aos 34 anos e 8 acima desta última idade. Escrevem Fátima Ferreira e Lígia Silveira: "Entrevistámos uma criança de nove anos (acompanhada pelos pais, sem estes serem grandes apreciadores), uma família «puxada» pelas filhas para assistirem ao concerto e pessoas mais velhas que não tiveram problemas em deixarem os cônjugues em casa para irem ao Pavilhão Atlântico". Se, inicialmente, elas pensaram ir encontrar pessoas residentes apenas na Grande Lisboa, concluiram que a assistência ao concerto provinha de diferentes pontos do país como Porto, Coimbra ou Bragança.

As duas alunas, ao inquirirem sobre o que é ser fã de uma banda, concluiram existir um pequeno número de fãs e outras pessoas soltas - isto é, com uma relação mais leve e descomprometida com os músicos. Aliás, quando se perguntou se a banda tinha exercido alguma influência na vida das pessoas, 21 em 36 disseram "nenhuma". Já os alunos Hugo Pinheiro, José Pedro Luís e Tiago Figueira procuraram saber se os Xutos & Pontapés tinham groupies, na entrevista conduzida a um dos músicos da banda, que respondeu: "Nos significados mais radicais da palavra (risos)? Bem... isso é normal, uma pessoa quer conhecer o ídolo e depois tentar-se aproximar poderá acontecer. Hoje em dia é mais difícil porque temos as nossas vidas e uns já são pais. Mas no início era normal acabarmos em casa lá de alguém e fazermos mais festas e after-hours com os fãs".

[continua]

sábado, 22 de janeiro de 2005

INDÚSTRIA FONOGRÁFICA - DE NOVO

Na revista Observatório já aqui referenciada algumas vezes, com o título A cadeia de valor do audiovisual, escreve-se, a propósito da indústria fonográfica, que esta envolve as seguintes actividades: "o desenvolvimento/criação, a negociação de direitos, a produção e reprodução, o marketing e promoção, a distribuição e comercialização e o consumo" (p. 74).

Da produção...

O retomar do tema, que já aludira ontem, prende-se com os artigos surgidos ontem no DNM[úsica] (Diário de Notícias), com o título "O futuro passa muito por aqui", e na revista "Actual" (Expresso), com o título Especial da casa. No primeiro texto, faz-se o levantamento de algumas editoras independentes: Loop Recordings, Lux Records, Metrodiscos e Transformadores.

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Segundo o responsável da Metrodiscos, [sou] "independente porque não tenho uma estrutura gigante para me suportar e tenho de estabelecer parcerias com quem me distribua os discos. Quanto à crise, 2004 foi um ano atípico, porque fiz as edições com o [jornal] Blitz. O facto de ser uma editora independente faz com que não me meta em grandes cavalgadas de budget. Isso implica que os meus breakevens sejam inferiores". Já para um dirigente da Transformadores: "A edição independente, ao ser menos generalista e mais direccionada a nichos de público, pode facilmente contornar a crise. Se considerarmos que os custos de produção do circuito independente são adaptados aos projectos e as estruturas editoriais mais flexíveis, creio que o futuro passa muito por aqui".

Há duas linhas de força nesta peça, assinada por M.L./R.S. A primeira é que as produtoras independentes, com pequenas estruturas, adaptam-se mais facilmente aos tempos difíceis em que vivemos. A segunda é a necessidade imperiosa de mais estações de rádios e com mais frequência passarem a música nacional.

...à comercialização

Para além da crise económica, o mercado discográfico está muito afectado pela implantação do formato MP3, e a consequente profusão de cópias e de partilhas pela internet, escreve César Avó, no Expresso. Nos últimos anos, houve um conjunto de lojas de grande superfície que desapareceram: Virgin, Valentim de Carvalho e Roma (as três marcas em Lisboa e Porto) e Strauss. Ao mesmo tempo, a FNAC emergiu como a grande superfície de comercialização fonográfica.

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O texto aponta para a sobrevivência das lojas tradicionais, que apostam na especialização. Entre elas, contam-se a Trem Azul, na rua do Alecrim (Lisboa), especializada em jazz, a AnAnAnA, no Bairro Alto, com um catálogo de música experimental, electrónica e jazz, o Mundo da Canção, às Picoas (também em Lisboa, a partir do começo no Porto), dedicada às músicas do mundo, a Carbono, no Centro Comercial Portugália, com rock (punk, hardcore, metal, independente), e a King Size, na rua da Madalena, com reggae, dub, hip hop, dancehall, e vinis em segunda mão.

Para além da especialização, as lojas pequenas tentam captar clientes com preços mais baixos que a FNAC. Ou seja, vale a pena fazer uma ronda pelas lojas do comércio tradicional. Até porque ficam em zonas bonitas da cidade!

BLOGUES DE MULHERES

Não me canso de ler e contemplar o que se produz nos blogues Nocturno com gatos, de Soledade Santos, Last Tapes, de Cristina M. Fernandes, Seta despedida, de Alexandra Barreto, Amorizade, de Jacqueline Lima, e Puta de vida, de Maria Clara Vale. Pode-se chamar - se elas me permitem - de blogues de rigorosa economia do lar - harmoniosos, cheios de cores e cheiros, em que o fundamental não é o tempo (o relógio, a necessidade de pôr mensagens todos os dias) mas sim o espaço (amizade, afectos, tertúlias).

Já os blogues masculinos são mais de disputa e conflitualidade, do estar à frente de, da necessidade de encontrar no novo meio a actualização que evite o risco de ficar para trás (caso dos anunciados blogues de políticos como Paulo Portas e José Sócrates, que, certamente, pouco têm para dizer).
COMO FOI VISTA A TELENOVELA CELEBRIDADE?

Um grupo de alunos (Ana Camós, Miguel Pinheiro e Sónia Marques) estudou o modo como a telenovela Celebridade foi vista em Portugal [a novela foi exibida na SIC entre Dezembro de 2003 e Outubro de 2004]. Para isso, realizaram um inquérito com o objectivo de entenderem o tipo de público, as causas da preferência da novela e saberem opiniões sobre o tema, enredo e personagens.

celebridade.jpgA história, de Gilberto Braga,andou em torno de Maria Clara ((Malu Mader), produtora de artistas e espectáculos. No início da novela, ela sofrera um trauma (sequestro). Aterrorizada, passaria a questionar a fama. Clara era um mito para Laura, aventureira que quis seguir os seus passos; com a cumplicidade de Marcos, aproximou-se da empresária. A história andava em torno de uma sociedade de consumo da celebridade instantânea. Durante o percurso da novela, músicos e cantores famosos actuaram no designado "espaço fama", fazendo uma ponte entre a realidade (a música e os artistas) e a ficção (a história e as personagens).

Ana Camós, Miguel Pinheiro e Sónia Marques fizeram 60 inquéritos, repartidos igualmente por duas localidades - Lisboa e Landal (aldeia do concelho de Caldas da Rainha) - e por género. À pergunta inicial (costuma ver telenovela?) responderam afirmativamente 24 mulheres (80%) e 13 homens (43,3%), indicador curioso. Os homens têm, em regra, relutância em admitir que vêem um género televisivo "voltado para as mulheres".celebridade1.jpg

Uma das questões colocadas pelo grupo de estudantes foi a de que modo as novelas influenciavam a audiência. As mulheres reconheceram que elas actuam sobre o seu modo de falar e de vestir. Outra das questões colocadas (o que faziam para além de verem a novela) foi respondida assim: conversar com familiares, jantar, pintar as unhas (no caso das mulheres). Sobre as personagens, os homens acharam que as actrizes eram atraentes fisicamente e as mulheres justificaram a sua preferência na diversificação de carácteres. No Landal, os jovens investigadores descobriram que a audiência teve alguma dificuldade em dissociar actores e personagens, entre ficção e realidade.

O grupo concluiu três dados principais: 1) no Landal, tanto homens e mulheres vêem mais novelas que em Lisboa, 2) os homens vêem mais novela na aldeia que em Lisboa, porque ali há apenas um televisor no lar, em média, 3) as mulheres viram mais a novela Celebridade em Lisboa que no Landal, o que significa que as mulheres das Caldas da Rainha preferem ver novelas de produção portuguesa.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2005

INDÚSTRIA FONOGRÁFICA

No passado dia 7, o DN Música publicou uma entrevista com David Ferreira a propósito da situação actual do mercado discográfico. No El Pais de domingo passado, os presidentes da Sony-BMG para a Península Ibérica e Espanha falaram do mesmo tema.

O mote inicial era a recente fusão das duas empresas (Sony e BMG). Até há pouco tempo, o mercado mundial era dominado por cinco gigantes, agora reagrupados em três: Universal, EMI-Warner e Sony-BMG. A fusão destas últimas duas levou a que tenham uma quota de mercado de 25,6%, isto é, a segunda editora discográfica a nível mundial. Razões para as fusões: perda de vendas, pirataria, concorrência de vendas de toques (melodias populares) através dos telemóveis. O que contraria o boom de crescimento ocorrido nos anos 1980 e 1990, quando a popularização do CD permitiu a reedição de quase todos os catálogos das companhias discográficas.

elpais1612005.JPGUm dos presidentes da Sony-BMC, José Maria Câmara, com o mercado da península – o que significa também Portugal –, nesta entrevista a Fietta Jarque, salienta que o mercado discográfico enfrenta uma luta permanente contra o tempo. Diz ele: “Concorremos com o tempo, com as emoções e o dinheiro do consumidor”. É que o consumidor tem cada vez mais entretenimentos nos seus tempos livres: videojogos, películas e até os toques dos telemóveis.

Contudo, e ao contrário da entrevista dada por David Ferreira, não se nota um tão acentuado pessimismo nem um apelo quase dramático ao poder político. Primeiro, o reparo que fazem ao Governo é no sentido de não fazer um grande agravamento fiscal, mas num tom empresarial (um negócio é sempre um risco). Em seu lugar, aponta-se para a necessidade de mudar o modelo de negócio, passando pelas empresas discográficas, mas também pelos autores, artistas, gestores, advogados associados aos direitos de autor, accionistas, empregados. Em terceiro lugar, a indicação de que, apesar de haver uma concentração de empresas multinacionais, existe um número crescente de pequenas editoras com catálogos específicos. E os entrevistados precisam que há cada vez mais artistas vendendo em pequena escala.

Uma nota final, e que não deixa de ser paradoxal. As emoções podem rentabilizar-se. Explicando melhor: a Operação Triunfo no país vizinho vendeu sentimentalismo e emoções fáceis. Mas salvou, nos últimos anos, os valores de venda da música espanhola. É algo que a teoria das indústrias culturais demonstra: os bens são produzidos com uma lógica de mercado (economia), independentemente do seu valor estético e cultural intrínseco.E isso faz trabalhar toda a cadeia de valor na qual um qualquer bem das indústrias culturais se integra.

CDs com os jornais

sabado.JPGPara além do Expresso e do Público, também a newsmagazine Sábado vai ter uma colecção de CDs com música clássica a acompanhar as edições semanais. Não devo dizer mal dos responsáveis de marketing das empresas jornalísticas, mas concluo que todos tiveram a mesma ideia: a de seduzir os leitores com produtos iguais. E, no caso do Público e da Sábado, começam por Beethoven: um a Nona, outra a Quinta sinfonia (esta acompanhada pela Sexta). Por que não começar com Béla Bártok ou Arnold Schönberg ou Dmitri Shostakovich? E por que não uma série de jazz? Ou com música brasileira? Ou australiana? Ou africana?

quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

INDICADOR TRIMESTRAL DE RÁDIO

Como já anunciara, a Marktest.com passa a publicar trimestralmente o seu indicador de rádio.

Diz a Marktest que "Os resultados da 4ª vaga de 2004 deste estudo indicam que na liderança das audiências de rádio se mantém a RFM, com 13,1% de audiência acumulada de véspera e 24,7% de reach semanal. As estações do Grupo Renascença registam um share de audiência de 39,8%, o Grupo Media Capital Rádio obtém 21,6% de share de audiência, o Grupo RDP 12,4% e a TSF/Press 6,5%".

Nos três últimos meses de 2004, a Marktest estima que "82,1% dos portugueses com 15 e mais anos, residentes no Continente, ouviram rádio pelo menos uma vez por semana, enquanto que 59,4% o fez diariamente (Audiência Acumulada de Véspera)".

O Bareme-Rádio foi lançado em 1994 e fornece informação sobre as audiências de rádio para todo o país.
A MODA E O CONSUMO

Propus aos meus alunos de Públicos e Audiências, finalistas da licenciatura de Comunicação Social e Cultural da Universidade Católica, que escrevessem sobre quatro temas: 1) fãs, 2) recepção de telenovelas e séries, 3) consumo, e 4) leitura dos media.

Com uma base teórica mínima mas consistente e um trabalho empírico envolvendo inquéritos (cerca de 30 por cada trabalho), houve um conjunto de aulas onde se definiu o objecto do trabalho e afinou o inquérito. Este foi desenvolvido por cada grupo entre Novembro e Dezembro últimos, de acordo com a conveniência dos grupos, após o que decorreu a escrita dos mesmos. A apresentação em turma decorreu entre meados de Dezembro e meados deste mês.

Do conjunto de trabalhos mostrados, ressaltaram alguns de muita qualidade, como o que anteontem aqui expus. Claro que o escasso número de inquéritos e de tempo de maturação de cada projecto não definem certezas mas apontam tendências ou, no pior dos cenários, sugerem pistas de investigação (pois formulam mais dúvidas que evidências). Do tema consumo, falo hoje de dois trabalhos: enquanto José Antonio Gata Núñez estudou o impacto de várias marcas, o grupo constituído por Liliana Pinto, Inês Ferreira e José Pimentel debruçou-se sobre a marca Levi’s. Outros trabalhos, envolvendo marcas como a Salsa, ficam para outro post.

Razões de consumo e tipologias

O objectivo de estudo Levi's era perceber as razões porque se consome uma marca determinada. Assim, o grupo entrevistou cem pessoas (58 do género feminino e 42 do género masculino), nos dias 21 e 22 de Dezembro, junto à porta de um dos estabelecimentos daquela marca no centro comercial Colombo. Do conjunto, 45% situava-se na faixa etária dos 19-25 anos e 25% tinha menos de 18 anos, 42% eram estudantes, 28% tinham profissões liberais e 10% pertenciam à indústria, 62% vivia em Lisboa e 30% nos arredores. Já José Antonio Gata inquiriu 48 pessoas em Madrid.

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Das perguntas do grupo de Liliana Pinto, Inês Ferreira e José Pimentel, uma delas auscultava as ocasiões em que se usam produtos Levi’s: os homens usam sempre (35%) ao passo que a percentagem é mais reduzida nas mulheres (20%), o que quer dizer que a informalidade parece estar mais do lado dos homens. Em termos de associações despertadas aquando da compra de um produto Levi’s (estilo de vida, estatuto, comodidade, qualidade, outros), os respondentes dividiram-se em termos de género. Assim, os homens destacaram a comodidade (45%), ao passo que as mulheres fizeram equivaler qualidade, estilo de vida e estatuto (25% cada).

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gata.JPGJá o trabalho de José Antonio Gata, em torno da imagem das marcas, propôs quatro elementos: elitista (18 dos 48 respondentes), vanguardista (16 respostas), inacessível em termos de preço (10) e com mais qualidade que a moda convencional (4). Gata chama a atenção para o facto dos entrevistados andarem nos 22 anos de média, na maioria estudantes ainda com dependência económica dos pais.

Noutra pergunta do grupo que estudou a Levi's queria saber-se se os respondentes eram ou não clientes habituais da marca. 53% dos inquiridos responderam que sim e os restantes disseram ser clientes esporádicos. Calças para os homens e calças e acessórios para as mulheres eram as compras preferenciais na loja.

Quanto aos clientes esporádicos, outras marcas preferenciais a destacar seriam Pepe Jean’s, Salsa e Bershka. No contexto madrileno, José Antonio Gata quis saber as marcas de maior identidade dos respondentes: 18 (em 48) apontaram a Zara, 9 a Bershka, 7 a Polo Ralph Laurent, 6 a Timberland e a DKNY cada uma, e 2 a Carolina Herrera.

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Observação: para compreendermos melhor o universo das marcas de roupa, refira-se que o grupo Inditex engloba oito registos comerciais: Zara, Pull and Bear, Massimo Dutti, Bershka, Stradivarius, Oysho, Zara Home, Kiddy's Class e Tempe. Logo, no trabalho do madrileno José Antonio Gata, os seus entrevistados eram maioritariamente adeptos das marcas Inditex: 27.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2005

COLÓQUIOS DE JORNALISMO

Amanhã, dia 20, realizam-se dois colóquios sobre jornalismo em Lisboa.

O primeiro é o começo do ciclo O jornalismo em Portugal, hoje, na Biblioteca Museu República e Resistência, à rua Alberto de Sousa, 10 A (ao Rego). Às 21:30, o tema é jornalismo e investigação histórica e conta como intervenientes António Jorge Branco (jornalista) e António Reis (professor universitário), moderado por Alfredo Maia (sindicato dos jornalistas).

São dez colóquios ao longo do ano, promovidos pela Biblioteca Museu República e Resistência. Anotem na vossa agenda: a 16 de Maio, Pacheco Pereira e José Magalhães irão falar sobre blogues. Para além da biblioteca, há diversos espaços: auditório, restaurante, cibercafé e galeria de exposições.

O outro evento, sobre Jornalismo nas TIC, internet, media & blogues decorrerá na Livraria Ler Devagar, à rua da Rosa, pelas 18:00. É um debate com José Pedro Castanheira (Expresso), Pedro Amaral (BIT) e Timóteo Figueiró (ComputerWorld/Imediatic), moderados por Manuel Melo (Centro de Contacto).


LIXO!

sunday16120051.JPGÉ o tema de capa da edição do último domingo do caderno 4 (News Review) do Sunday Times. Trata-se da história do Big Brother no Reino Unido, contada por uma das antigas residentes da casa inglesa, Germaine Greer.

Ora, o que diz esta feminista veterana? Primeiro, que entrou no Big Brother porque precisava de dinheiro para as suas campanhas em defesa da floresta australiana. Depois, fala dos residentes da casa, um verdadeiro ninho de vespas, a saber: Jackie Stallone, a mãe do Rambo (primeira à esquerda na imagem de baixo), Brigitte Nielsen (dinamarquesa e que foi casada com o mesmo Stallone há uns vinte anos atrás, à direita na imagem), Caprice (antiga miss Teen California e rosto de campanhas publicitárias da Pizza Hut, Diet Coke e Wonderbra, roupa íntima, antiga namorada de Rod Stewart e outros, a terceira a contar da esquerda). Para além de John McCririck, apresentador televisivo (quarto a contar da esquerda) e Lisa I'Anson, apresentadora de rádio e que nos anos 1990 teve um programa na Radio 1 (quarta a contar da direita). E Bez, que fazia de dançarino nos concertos dos Happy Mondays, o segundo a partir da esquerda. E mais, que eu não conheço [confesso que passei a conhecê-los a partir de domingo, com esta leitura].

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Todos, mas todos, entraram no programa para ganhar dinheiro.Vá lá, Caprice também procurou, durante a permanência na casa, fazer publicidade a uma sua marca de roupa íntima, mas parece que com pouco sucesso.

A necessidade do dinheiro, publica-se no jornal, resultou em humilhação e degradação da condição humana (já alguém escreveu isto sobre os nossos Big Brother e Quinta das celebridades?), conta Germaine Greer no seu longo relato que ocupa até ao final da segunda página broadsheet. Dificuldades em ir à casa de banho, má alimentação, intrigas (estou a imaginar as antigas sogra e nora passarem uma pela outra durante horas e dias, uma que fez a vida negra à outra enquanto o Rambo Stallone era familiar de ambas), ordens burocráticas dos gestores da Endemol - um rol de queixas.

Conclui Greer, que aparece coberta de espuma em banho retemperador numa das fotografias do Sunday, limpeza necessária após dias de lixo forçado: o Big Brother não é televisão da realidade, mas um programa de sadismo e de lascívia. Em Portugal, nós já o tínhamos descoberto (ainda me lembro do Big Brother das celebridades, com Cinha Jardim, um antigo e bom jogador de futebol que já arrumara as botas e outros em busca de fama e dinheiro).

Não, o Big Brother não é um reality-show, é uma novela com guião quase escrito. Basta ler personagem a personagem dos nove intérpretes na segunda imagem.

Pormenor curioso: a 19 de Dezembro último, um escritor e professor universitário inglês, Graham Barnfield, animador do blogue The Loneliest Jukebox, propôs-se traduzir um post meu, onde eu falava de um livro sobre esta temática do Big Brother, do qual ele é co-autor. Desconhecendo a nossa língua, socorreu-se do tradutor automático do Google. A tradução está um espanto. Como se consegue ser engenhoso! Depois, trocámos umas mensagens, em que Barnfield confessa que de Portugal apenas conhece uma mão cheia de nomes de clubes de futebol.

terça-feira, 18 de janeiro de 2005

MORANGOS COM AÇÚCAR

morangoscomacucar.JPGEm Portugal, as telenovelas começaram a ser exibidas em 1977, com a brasileira Gabriela cravo e canela (RTP), ainda a preto e branco. As novelas portuguesas iniciaram-se em Vila Faia (1982), seguindo-se outras como Chuva na areia (1984), A banqueira do povo (1993), A grande aposta (1997), Jardins proibidos (2000). A partir desta última data, haveria grandes transformações no panorama ficcional da televisão do nosso país, com o fenómeno dos reality-shows (Big Brother, Masterplan, Quinta das celebridades) e a produção de telenovelas para a TVI, produzidas pela NBP.

O propósito deste post é uma análise muito sucinta do actual fenómeno da novela Morangos com açúcar. A base do texto assenta num trabalho de alunas de licenciatura da Universidade Católica (Gisela Pereira, Marta Amado e Sofia Palma) - que me deram permissão de referir o trabalho [aliás, irei aproveitar diversos trabalhos realizados pelos alunos e alunas da cadeira de Públicos e Audiências para este blogue]. [a imagem reproduz a capa do trabalho das três alunas]

Enredo e inquérito

Morangos com açúcar atingiu um enorme sucesso entre os adolescentes e crianças portuguesas, visível ao nível do seu comportamento (estilos de vestir e penteados), fenómeno conhecido como morangomania. Os ingredientes da história são "sol, praia, desportos radicais, escola, juventude, gente bonita, conflitos, amizade e amor". O enredo anda à volta de quatro irmãos órfãos que saem do Porto e vão viver para Cascais. Pipo, Ricardo Moura Bastos, Joana, Catarina, Rui e Rafa são algumas das personagens centrais da telenovela. Além dos estudantes, outros núcleos de personagens são crianças, pais e professores.

Seguindo um texto de Irene Costera Meijer, já aqui apresentado, as alunas encontraram vários repertórios na narrativa ficcional: diversidade, género, potencial dramático, credibilidade e responsabilidade. Além da caracterização teórica, o grupo procurou perceber o impacto da novela nos jovens portugueses, fazendo para isso um inquérito a 50 estudantes em duas escolas do concelho de Setúbal, uma mais frequentada pela classe média alta e outra pela classe média baixa. Os inquéritos foram preenchidos na sala de aula, nos dias 26, 29 e 30 de Novembro último, após aceitação pela direcção de cada uma dessas escolas. O texto - constituído por 15 perguntas - foi dado aos alunos com a condição de não ser obrigatório o seu preenchimento e de se manter anonimato e confidencialidade das respostas.

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Das personagens com que os alunos das escolas inquiridas se identificam mais surgem: 1) na escola frequentada por jovens da classe baixa, o Rodas (repetente e delinquente) e a Joana obtiveram uma maior aprovação. Em termos de temas, a amizade e a relação de pais-filhos foram os dominantes; 2) na escola frequentada por alunos da classe média-alta, as personagens mais próximas são a Catarina e o Rafa, e os assuntos relacionados com a droga e a gravidez na adolescência foram os mais respondidos.

Em termos de género, os rapazes são os que falam menos da novela, "coisa" deixada para as raparigas. Grande percentagem de estudantes acha que não há grande semelhança entre a personagem e o actor mas a maioria acredita que existe uma proximidade entre a ficção e a realidade. Isto pode querer significar a forte influência da televisão nos adolescentes e nos seus comportamentos.

No trabalho aqui divulgado foi ainda apresentado um estudo de caso (entrevista a dois fãs da novela) e uma análise ao fórum on-line. Num dos casos, e contra a opinião maioritária do inquérito, a respondente "considera que na novela há muita aventura e os jovens têm demasiado tempo, não se dedicando aos estudos, o que não acontece na realidade". O outro respondente acha que a primeira série da novela foi melhor que a actual e o tema que mais o marcou foi o do ciúme [a novela segue um horário escolar, não havendo emissões entre Junho e Setembro, o período das férias grandes].

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Quanto ao fórum on-line, a maioria das mensagens são orientadas para a obtenção das músicas da novela, enquanto outros foristas pretendem saber quais as datas e locais de exibição da peça Morangos com açúcar e manifestam curiosidade em saber quais os novos actores da segunda série.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

RAFAEL BORDALLO PINHEIRO EM EXPOSIÇÃO

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Inaugura-se no próximo dia 21 a exposição intitulada Bordallo Pinheiro, um génio sem fronteiras, no Museu Nacional da Imprensa, no Porto (junto à ponte do Freixo).

Para obter mais informação sobre o museu, clicar em Museu Virtual da Imprensa. Entretanto, o Museu tem patente a exposição Vencedores do VI PortoCartoon em Portugal, no átrio do Ministério das Finanças (Lisboa), até 31 de Janeiro (na imagem o Grande Prémio, atribuído a Grzegorz Szumowski).
TEMAS QUE EU GOSTO

1) Manga - no Público de ontem, a secção "Cultura" dedicou duas páginas ao fenómeno manga, a banda desenhada japonesa, tema que eu já aqui tenho trabalhado. Escrito pela jornalista Vanessa Rato, os pontos de partida foram a abertura de mais uma loja especializada em manga, a Kingpin of Comics, e um pequeno boom nas vendas em 2004. Este último facto deu-se devido a "duas das maiores editoras norte-americanas terem conseguido desbloquear os seus direitos de exportação, passando a disponibilizar para a Europa muitas novas obras".

Lê-se manga em inglês, mas também em francês e espanhol. A jornalista aponta lojas onde se podem adquirir revistas de BD nipónica nas duas primeiras línguas mas não em espanhol. E faz uma radiografia sucinta do leitor tipo da manga: nível etário maioritário entre 16 e 25 anos (os abaixo de 16 não compram, devido ao custo de cada revista, que ronda os €12), público masculino mas também feminino (há produção orientada para este segundo público), simultaneamente fãs da internet, quase apenas fiéis a este tipo de BD, formação média ou superior para os consumidores acima dos 25 anos.

A manga cobre géneros diferentes: romance, pornografia, ficção científica, terror e comédia de costumes. Mas há ainda histórias de amor escolar e com heroínas com poderes mágicos (dirigidos para as raparigas) e histórias de aventura, policiais, desporto e ficção científica (para os rapazes). Sem excluir mangas para adultos, quer homens quer mulheres.

2) Livrarias - ainda no Público, mas de anteontem, o destaque foi para as livrarias. E, apesar de haver quase sempre más notícias a ler nos jornais, este destaque trouxe boas novas. A primeira é que a Fnac e a Bertrand juntas venderam 5,5 milhões de livros em 2004! Aquela 3,5 milhões e a segunda 2 milhões. No ano que terminou há pouco, a Fnac facturou €40 milhões (mais 10% que em 2003) e a Bertrand € 30 milhões (subida de 16% face a 2003). Em termos de lojas, a Fnac tem sete lojas (de grande dimensão) e a Bertrand 39 por todo o país.

No artigo, assinado por Joana Gorjão Henriques, considera-se que o conceito de livraria é comum às duas cadeias: "há uma aposta no espaço, nas zonas de lazer, nos bares, na programação cultural, nos cartões de cliente, nos expositores, na escolha de livros em destaque". Uma explicação para o surto de lojas mais amplas coincidiu com a explosão de centros comerciais, o que se aplica mais à Fnac que à Bertrand - algumas lojas desta cadeia situam-se na rua, casos da Av. de Roma e do Chiado, ambas em Lisboa. A Fnac funciona como loja âncora, por exemplo nos Armazéns do Chiado e mesmo no Colombo.

O Público traça ainda o perfil de algumas das livrarias tradicionais - mas especializadas e de crescimento possível - de Lisboa e Porto. Inclui a Buchholz, que atravessa um período menos bom, mas não inclui a Almedina (e eu creio que a loja do Saldanha será um espaço de forte crescimento num centro comercial bonito, onde não falta um pianista a tornar mais agradável uma visita aquele sítio).

leemiller.JPG3) Fotografia - saíu na revista do El Pais de ontem, com o título A fotógrafa mais sedutora, um artigo sobre a fotógrafa Lee Miller, escrito por Lourdes Gómez e com um auto-retrato daquela (1932).

Lee Miller, feminista, musa dos surrealistas, modelo e fotógrafa, nasceu no estado de Nova Iorque em 1907 e faleceu em Londres setenta anos depois. O seu legado artístico foram cerca de 40 mil negativos, depois recuperados e reunidos pelo seu filho Anthony Penrose num fundo, os Arquivos Lee Miller.

Agora, a partir de 3 de Fevereiro próximo (e até 30 de Maio), serão mostradas 120 imagens a preto e branco daquela fotógrafa, na National Portrait Gallery, em Londres. A exposição envolve cinco grandes áreas: 1) retratos de estúdio de celebridades, 2) retratos informais de artistas, 3) retratos íntimos de amigos, 4) mulheres colaborando em tarefas de guerra na Inglaterra, e 5) vítimas civis da mesma II Guerra Mundial.

Fotografada por grandes profissionais das revistas da moda e por mestres como Picasso, Miller também fotografou Picasso, outros artistas como Max Ernst e Joan Miró e escritores como T. S. Elliot e Dylan Thomas. A relação amorosa que manteve com Man Ray, o artista dos ready-made, foi tumultuosa, mas a amizade manteve-se para além dessa relação. Mais tarde, casaria com Roland Penrose, artista inglês e coleccionador de arte contemporânea.

O artigo agora editado no El Pais aventa a hipótese de Lee Miller ter sido a primeira fotógrafa a entrar com os aliados em Paris, a 25 de Agosto de 1944. Ali fez imagens de amigos como Picasso e Jean Cocteau, bem como de Fred Astaire actuando para as tropas americanas e outras cenas dos primeiros dias da libertação (para obter mais informações da artista, apontar para o sítio Lee Miller Archives).

meios.JPG4) Blogues (ou o meu obrigado a Vanda Ferreira) - a revista Meios, da Associação Portuguesa de Imprensa, edição de Novembro/Dezembro de 2004, dedica as suas páginas centrais aos blogues ou diários de bordo, como também lhes chama.

Vanda Ferreira seguiu uma proposta minha, a da definição de blogues por tipo de especialização: 1) repetidores ou referenciadores, que se dedicam a recolher e reproduzir artigos, documentos e fazer links considerados relevantes para o blogueiro, 2) sinaleiros, que procuram e assinalam matérias determinadas, com destaque para as opiniões que apareçam na sua sequência, com mais interligações e interactividade, e 3) produtores, resultantes de blogueiros que os criam e alimentam com reflexões e outros elementos próprios.

Parti ainda da distinção dos blogueiros como comunidade interpretativa e imaginária, a partir de conceitos desenvolvidos por Barbie Zelizer e Benedict Andersen. E, nesse trabalho de Vanda Ferreira, comparei os blogues com os pioneiros da rádio, nos idos anos de 1922-1923, fomentadores de comunidades virtuais em todo o planeta, graças a pequenos emissores que eles próprios montavam.

domingo, 16 de janeiro de 2005

IMITAÇÃO DE CIDADE

[post que dedico a Jaime Almeida (1920-2005), certamente o meu maior amigo de sempre, ele que me apoiou ao longo de muitos anos, me levou a primeira vez ao Museu Militar, ao Museu dos Coches e ao Museu da Marinha, me fez passear pela carreira de eléctrico 28, me mostrou os Jerónimos, a Torre de Belém, as Portas de Santo Antão, o Chiado e o Rossio, e me fez amar Lisboa, eu que era criança e morava noutra cidade]

Na aula de sexta-feira, procurei definir públicos de consumo, a partir de alguns textos onde se caracterizam tipos de espaços de consumo como centros comerciais ou outlets. Segui um texto aqui já elencado, de Lehtonen e Mäenpää (Shopping in the East Centre Mall, 1997), e um outro, que descobri recentemente, de Rachel Bowlby (Carried away, 2000).

Aí distingui entre tour (movimento circular) e trip (movimento pendular) para representar o "andar" num desses espaços de consumo, que conciliam a razão de comprar bens essenciais e o hedonismo de ir às compras. Segui aquilo a que Lehtonen e Mäenpää chamam de sociabilidade de rua, tipo de partilha dos públicos de consumo (embora raramente chegue à forma de comunicação real).

E com Bowlby destaquei o elemento infantil da ida às compras, onde podemos ficar todo o tempo que quisermos a ver as lojas e as prateleiras, criando necessidades ou sonhando com o que vemos e tocamos nesses espaços. Com a mesma autora percorri os diferentes vocábulos, do supermercado ao hipermercado, do self-service à superette.

A imitação da cidade

cc.JPGNão previa o texto que Manuel Graça Dias escreveria no Expresso de ontem, intitulado A imitação da cidade.

Começa o texto do seguinte modo: "Uma noite destas, analisando com algum detalhe um mapa turístico emblemático [...], pude ler, a dado momento, impresso a negro, em letras grossas: «Centro comercial». A designação atravessava uma parte da planta preenchida por ruas miúdas em quase quadrícula e reportava-se à noção genérica de zona comercial ou «baixa»".

E continua quase a seguir: "Hoje, o conceito deslocou-se um bocado e é praticamente inconcebível falarmos em centro comercial sem pensarmos logo numa estrutura fechada, climatizada, artificialmente iluminada, cheia de lojas, músicas e desafios supostamente consumistas".cc1.JPG

O texto deve ser lido até ao fim. Pena que eu não tenha levado este documento para análise na aula, pois complementaria muito o que disse na aula e o que as(os) alunas(os) contribuiram. A páginas tantas estávamos a discutir se o El Corte Inglés era um representante legítimo do grande armazém francês de finais de oitocentos, um dos traços da modernidade como exclamou Walter Benjamin, se o outlet de Alcochete representaria o "novo" centro histórico das cidades e se as Amoreiras tinham perdido clientes para o Colombo ou para o El Corte Inglés.

Claro que a perspectiva de Manuel Graça Dias não é optimista. Sem querer pensar como ele, julgo que vale a pena reflectir em tudo o que escreveu. Até porque a minha definição de públicos de consumo precisa de ser mais bem burilada e a minha análise necessita de se alargar para espaços nicho como alguns centros comerciais e algumas lojas estão a desenvolver.

Leitura: Câmara Municipal de Lisboa (1989). Centros comerciais. Lisboa: CML [a mesma colecção de livros inclui textos sobre hipermercados, supermercados, comércio de especialidade, franchising]