Tiago Baptista, conservador e investigador da Cinemateca Portuguesa há dez anos, assume o lugar de director do Arquivo Nacional das Imagens em Movimento (ANIM). Ele ocupa, após concurso, o lugar que Rui Machado ocupava antes de passar a subdirector da Cinemateca em 2014.
Tiago Baptista é ainda professor de cinema na Universidade Católica Portuguesa, investigador associado do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa e fundador da Associação de Investigadores da Imagem em Movimento. Das suas obras publicadas, destaca-se A Invenção do Cinema Português (2008).
Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
sexta-feira, 31 de março de 2017
terça-feira, 28 de março de 2017
António Sala e o prémio da SPA para carreira de rádio
Ao final da tarde, António Sala recebeu o prémio Igrejas Caeiro para uma carreira dedicada à rádio. O locutor, com mais de quarenta anos de carreira, nomeadamente na Rádio Renascença, foi apresentado por Pedro Ribeiro (Rádio Comercial). Este fez um relato quase íntimo, falando de uma familiar que acompanhava os programas de António Sala com muito carinho, em especial o programa Despertar, na manhã da Renascença. Mas o próprio Pedro Ribeiro sabia, de muito próximo, o percurso do premiado e da sua incursão na música através da banda Maranata. O apresentador falou ainda da sua memória de ouvinte da estação enquanto criança ou jovem, nomeando as vozes de Fernando Almeida e Jorge Peixoto (Porto), os programas PAJU e Bola Branca e os sons feitos pelo técnico Armando Rodrigues. Então, já queria trabalhar na rádio, pois o fascinava a magia da voz. Ele completou ao dizer que António Sala é alguém que gosta da Rádio (com letra maiúscula).
António Sala sucede, no prémio Igrejas Caeiro, a Luís Filipe Costa, Adelino Gomes e João Paulo Guerra.
Obs: não mencionei o nome de António Cartaxo, vencedor do prémio do ano passado, e que um leitor me o recordou. Na altura, a 30 de março de 2016, eu fiz, aliás, referência aqui no blogue. Obrigado pela correção.
Memória da rádio
Há algum tempo, publiquei aqui imagens das instalações degradadas de Rádio Clube Português, em Miramar (cortesia de Ana Isabel Reis). Agora, edito uma imagem das instalações da ex-Emissora Nacional (atual RTP) em Azurara (Vila do Conde).
A Emissora Nacional precisava de um emissor que cobrisse a área do Porto e norte do país, em ondas médias. O velho emissor junto ao Palácio de Cristal (Porto) tinha de ser substituído, por avarias constantes e porque o edificado naquela zona impedia uma boa propagação. Em 1954, o edifício da Azurara entrou em atividade, com duas antenas (para os dois programas). No edifício, à direita, funcionava a parte técnica, à esquerda os escritórios dos técnicos, com os aparelhos de ar condicionado, e ao fundo a cantina e armazém. A entrada tem ainda uma decoração da esfera armilar da bandeira nacional. As portas e janelas estão emparedadas. E vê-se, logo atrás do edifício, uma antena de feixes hertzianos. Com a crescente força da frequência modulada (FM), as antenas de ondas médias perderam importância, até ao desaparecimento da emissão nessas frequências. Quando as obras do metro de superfície Porto-Póvoa do Varzim passaram perto deste edifício, as antenas seriam desmanteladas.
A existência deste quase esqueleto físico do edifício tem por detrás de si uma memória de programas, trabalho, turnos de trabalho, potência emissora, técnicos, conhecimento. Qual a razão desta arqueologia industrial? Vai ser-lhe dada alguma função?
A Emissora Nacional precisava de um emissor que cobrisse a área do Porto e norte do país, em ondas médias. O velho emissor junto ao Palácio de Cristal (Porto) tinha de ser substituído, por avarias constantes e porque o edificado naquela zona impedia uma boa propagação. Em 1954, o edifício da Azurara entrou em atividade, com duas antenas (para os dois programas). No edifício, à direita, funcionava a parte técnica, à esquerda os escritórios dos técnicos, com os aparelhos de ar condicionado, e ao fundo a cantina e armazém. A entrada tem ainda uma decoração da esfera armilar da bandeira nacional. As portas e janelas estão emparedadas. E vê-se, logo atrás do edifício, uma antena de feixes hertzianos. Com a crescente força da frequência modulada (FM), as antenas de ondas médias perderam importância, até ao desaparecimento da emissão nessas frequências. Quando as obras do metro de superfície Porto-Póvoa do Varzim passaram perto deste edifício, as antenas seriam desmanteladas.
A existência deste quase esqueleto físico do edifício tem por detrás de si uma memória de programas, trabalho, turnos de trabalho, potência emissora, técnicos, conhecimento. Qual a razão desta arqueologia industrial? Vai ser-lhe dada alguma função?
segunda-feira, 27 de março de 2017
Esculturas
A escultura do ardina ao pé do marco do correio fica no ponto de encontro das praças da Liberdade e Almeida Garrett (à esquerda vê-se uma parte da estação ferroviária de S. Bento) (Porto). Por detrás, uma estátua viva, a de um carpinteiro, de tons cinzentos, e do seu cão, a descansar. A estátua viva falava português com sotaque brasileiro.
sábado, 25 de março de 2017
Tertúlia Recordar os Esquecidos
A tertúlia de hoje Recordar os Esquecidos (livraria Almedina, Saldanha, Lisboa) teve como convidados Luís Carmelo (esquerda) e Paulo Moreiras (direita), com moderação de João Morales. Os dois convidados evidenciaram a qualidade da literatura portuguesa, com autores muito esquecidos e à procura de resgate. Hoje, foi dito, vivemos sob o ditame da atualidade, da realidade que se remove permanentemente. Paulo Moreiras apresentou livros de Guilherme Centazzi (O Estudante de Coimbra), Fortunato da Câmara (Os Mistérios do Abade de Priscos), Bento da Cruz (Histórias de Lana-Caprina), António Manuel Policarpo da Silva (O Piolho Viajante) e João Palma Ferreira (Vida e Obra de D. Gibão). Já Luís Carmelo falou de livros de José Almada Negreiros (Nome de Guerra), Malcom Lowry (Através do Canal do Panamá), Patrícia Melo (Inferno), Adolfo Bioy Casares (A Invenção de Morel) e Maria Judite de Carvalho (Tanta Gente, Mariana).
Retirei algumas ideias. Em Paulo Moreiras, a confissão da influência do livro de João Palma Ferreira no seu primeiro romance, a este dedicado (A Demanda de D. Fuas Bragatela, 2002). Em Luís Carmelo, a emoção com que recordou Maria Judite Carvalho, casada com Urbano Tavares Rodrigues. Quando ia a casa deles, ela abria-lhe a porta mas afastava-se silenciosa. De Guilherme Centazzi, médico, foi destacado o seu papel pioneiro no romance português, mesmo antes de Alexandre Herculano e João Almeida Garrett, ele que foi estudante em Coimbra e diretor de dois jornais, um deles com o propositado nome Desenganos da Vida. Do livro de Fortunato da Câmara, destacou-se as viagens de noventa e tal histórias em torno da culinária. Por exemplo, a distinção entre porco com ameijoas e carne de porco à alentejana, modo de referir a alimentação do porco com peixe dado pelos pescadores do Algarve. Sobre o livro de Bento da Cruz, Paulo Moreiras falou do recorte satírico, de histórias bem humoradas, para não se andar com ar de enterro. Talvez o Piolho Viajante tenha merecido a mais divertida leitura. O dito piolho viajou por 72 cabeças no Terreiro do Paço, numa época em que este sítio era o local onde tudo acontecia, de festas a autos-de-fé e a touradas. O pequeno bicho passou por cabeças como boticário, estudante, caixeiro, ladrão, criada e velha gaiteira. Para quem quiser estudar a época e as suas expressões linguísticas, o livro de António Manuel Policarpo da Silva (1802) é aconselhável.
Para Luís Carmelo, se Almada Negreiros é recordado hoje pela bela exposição patente na Gulbenkian, o livro que ele levou para a tertúlia representaria três novidades: dar voz à noite, o eu que se interroga e o primeiro romance que alia a ficção à reflexão. De Malcom Lowry, em tradução de Ana Haterly, existe um universo de perda, errância e loucura, de ser deserdado, de tempestade interior e de solitário. O livro de Patrícia Melo, autora que foi jornalista e guionista e partilha muitas ideias com o escritor Rubem Fonseca, percorre a favela do Rio de Janeiro e dá um lado mitológico, com histórias de crianças que sobrevivem num mundo deveras hostil. De Adolfo Bioy Casares, livro escrito no ano da invasão de Paris pelas tropas nazis, há uma escrita do fantástico, com a personagem principal a ser objeto de uma projeção virtual. Isolado numa ilha, há uma máquina que produz imagens irreais. Sobre o livro de Maria Judite de Carvalho, duas notas: um grande elogio a um romance de género e retrato impiedoso de uma época (1959, com um regime político fechado a tudo); um pedido para as suas obras serem republicadas, dado ela estar injustamente esquecida (contudo, Tanta Gente, Mariana tem uma reedição de 2010).
Sónia / Clara
A atriz Sónia Braga e a personagem Clara, em Aquarius, têm pontos em comum: mulheres determinadas mesmo que tudo esteja contra elas, elas viveram, amaram e sofreram muito, são já velhas (a atriz com 67 anos, a personagem com 65 anos). Mas há diferenças, apesar de eu ver complementaridades: a atriz não se casou e não tem filhos, a personagem é viúva e mãe de três filhos e avó. Clara teve um cancro em 1980, a atriz mostra o seio direito destruído pelo cancro, no que é uma das cenas mais pungentes do filme.
Aquarius conta a história da tentativa de demolição de um prédio de Recife dos anos 1940 (chamado precisamente Aquarius) para substituição por um arranha-céus, imagem moderna da baía da cidade. Naquele momento, o seu apartamento é o único habitado; a construtora já comprara o resto do edifício. O filme assenta, pois, numa contradição: a memória histórica perde-se, de um tempo em que os habitantes saíam à rua e se agradavam com a paisagem do oceano Atlântico para um tempo de prédios com vigilância e segurança com medo de assaltos. O sol que banha a praia acaba às três da tarde, por causa da sombra causada pelos prédios. Mesmo a ida a banho está proibida pois os tubarões frequentam a zona.
Clara sente-se ameaçada pela construtora que quer demolir o prédio para construir um novo. Mas ela combina a qualidade de vida - poder ir à margem marítima quando quer, caminhar ao longo da praia - e a persistência e a memória. Ali viveram os seus filhos e ela foi feliz com o marido. Antiga jornalista e crítica musical tem força para combater.
O filme é realista - no sentido em que há cenas de uma crueza grande. Por outro lado, conta-nos uma história de resistência social e política. O realizador Kleber Mendonça Filho quis filmar num dos últimos prédios existentes dessa paisagem em desaparecimento. Já tinha mesmo idealizado cenas numa das suas dependências. Apesar da luta contra o desaparecimento do prédio, ele acabou por ir abaixo antes do começo das filmagens. Restava um só - foi nele que o filme foi realizado.
Hoje, quando caminhava pelas avenidas da República e de Fontes Pereira de Melo, aqui em Lisboa, procurei recuperar um movimento idêntico de alteração urbanística verificada na louca década de 1980. Tudo o que era palacete ou prédio de três andares de uma época entre o começo do século XX e 1940 quase desapareceu. Ficaram alguns prédios com o prémio Valmor e alguns estão degradados hoje. Os passeios largos e recuperados este ano não escondem essas feridas urbanísticas, chame-se progresso ou modernização.
Voltando à atriz que desempenha o papel de uma personagem, recordo o impacto que teve o desempenho de Sónia Braga na telenovela Gabriela, a contracenar com Armando Bogus (Nacib) [na imagem abaixo: Gabriela e Nacib], Paulo Gracindo (Ramiro Bastos), José Wilker (Mundinho Falcão), Nívea Maria (Gerusa Bastos), Elizabeth Savalla (Malvina Tavares) e Fúlvio Stefanini (Tonico Bastos), entre outros. A telenovela, que passou em 1977 em Portugal, causou muito sucesso. Sónia Braga, a interpretar Gabriela, personagem de vestidos curtos e sempre descalça, trabalhadora e por quem os homens se apaixonavam, tornou-se um símbolo sexual em país saído de uma longa ditadura, marcando modas e conceitos morais distintos. Agora, vemos uma mulher amargurada e quase sempre sem sorriso, mas a lutar, quase um exemplo de vida.
Aquarius conta a história da tentativa de demolição de um prédio de Recife dos anos 1940 (chamado precisamente Aquarius) para substituição por um arranha-céus, imagem moderna da baía da cidade. Naquele momento, o seu apartamento é o único habitado; a construtora já comprara o resto do edifício. O filme assenta, pois, numa contradição: a memória histórica perde-se, de um tempo em que os habitantes saíam à rua e se agradavam com a paisagem do oceano Atlântico para um tempo de prédios com vigilância e segurança com medo de assaltos. O sol que banha a praia acaba às três da tarde, por causa da sombra causada pelos prédios. Mesmo a ida a banho está proibida pois os tubarões frequentam a zona.
Clara sente-se ameaçada pela construtora que quer demolir o prédio para construir um novo. Mas ela combina a qualidade de vida - poder ir à margem marítima quando quer, caminhar ao longo da praia - e a persistência e a memória. Ali viveram os seus filhos e ela foi feliz com o marido. Antiga jornalista e crítica musical tem força para combater.
O filme é realista - no sentido em que há cenas de uma crueza grande. Por outro lado, conta-nos uma história de resistência social e política. O realizador Kleber Mendonça Filho quis filmar num dos últimos prédios existentes dessa paisagem em desaparecimento. Já tinha mesmo idealizado cenas numa das suas dependências. Apesar da luta contra o desaparecimento do prédio, ele acabou por ir abaixo antes do começo das filmagens. Restava um só - foi nele que o filme foi realizado.
Hoje, quando caminhava pelas avenidas da República e de Fontes Pereira de Melo, aqui em Lisboa, procurei recuperar um movimento idêntico de alteração urbanística verificada na louca década de 1980. Tudo o que era palacete ou prédio de três andares de uma época entre o começo do século XX e 1940 quase desapareceu. Ficaram alguns prédios com o prémio Valmor e alguns estão degradados hoje. Os passeios largos e recuperados este ano não escondem essas feridas urbanísticas, chame-se progresso ou modernização.
Voltando à atriz que desempenha o papel de uma personagem, recordo o impacto que teve o desempenho de Sónia Braga na telenovela Gabriela, a contracenar com Armando Bogus (Nacib) [na imagem abaixo: Gabriela e Nacib], Paulo Gracindo (Ramiro Bastos), José Wilker (Mundinho Falcão), Nívea Maria (Gerusa Bastos), Elizabeth Savalla (Malvina Tavares) e Fúlvio Stefanini (Tonico Bastos), entre outros. A telenovela, que passou em 1977 em Portugal, causou muito sucesso. Sónia Braga, a interpretar Gabriela, personagem de vestidos curtos e sempre descalça, trabalhadora e por quem os homens se apaixonavam, tornou-se um símbolo sexual em país saído de uma longa ditadura, marcando modas e conceitos morais distintos. Agora, vemos uma mulher amargurada e quase sempre sem sorriso, mas a lutar, quase um exemplo de vida.
sexta-feira, 24 de março de 2017
Terça-Feira: Tudo o que é Sólido Dissolve-se no Ar
Terça-Feira: Tudo o que é Sólido Dissolve-se no Ar é uma peça de Cláudia Dias a estrear no Maria Matos Teatro Municipal (Lisboa) no dia 29 de março. A peça tem como temas subjacentes a questão das migrações dos refugiados, fronteiras e linhas divisórias na Europa contemporânea e também o ideário do cinema de animação tradicional, principalmente, aquele veiculado pelo Vasco Granja.
Natércia Freire
Dar a conhecer a escritora Natércia Freire (1920-2004) foi a motivação que levou a filha Isabel Corte-Real a escrever a obra Da memória, do amor e do génio. Uma fotobiografia de Natércia Freire, publicada pela Alêtheia Editores. Foi hoje lançada na Biblioteca Nacional de Portugal, com apresentação por Fernando Pinto do Amaral (eu não assisti).
Retiro da informação publicada na página da Biblioteca Nacional: "Nascida em Benavente, Natércia Freire dirigiu o suplemento literário «Artes e Letras» do Diário de Notícias, tendo sido umas das primeiras jornalistas literárias portuguesas. Colaborou em publicações diversas, e na antiga Emissora Nacional. Estudou música e concluiu o curso do Magistério Primário, tendo iniciado a carreira docente em 1944. Integrou ainda, entre 1971 e 1974, a Comissão de Leitura da Fundação Calouste Gulbenkian".
Retiro da informação publicada na página da Biblioteca Nacional: "Nascida em Benavente, Natércia Freire dirigiu o suplemento literário «Artes e Letras» do Diário de Notícias, tendo sido umas das primeiras jornalistas literárias portuguesas. Colaborou em publicações diversas, e na antiga Emissora Nacional. Estudou música e concluiu o curso do Magistério Primário, tendo iniciado a carreira docente em 1944. Integrou ainda, entre 1971 e 1974, a Comissão de Leitura da Fundação Calouste Gulbenkian".
quinta-feira, 23 de março de 2017
Compre o giradiscos e leve os discos
A par deste lado comercial inovador, registo o posicionamento da loja. Isto porque a Electro-Visão tinha outros bens a publicitar como frigoríficos, por exemplo. Os lares portugueses começavam a apetrechar-se de bens ligados à eletricidade. O giradiscos - escolher música sem a ouvir na rádio - era algo que se começava a massificar. O anúncio não indica que discos de música ligeira variada ofereciam mas podemos conjeturar a partir da música de então: Simone de Oliveira, Tony de Matos, Madalena Iglésias, António Calvário.
Outra loja, a Ideal Rádio, que também fora estação de rádio, ia mais longe que a Electro-Visão. Ao querer esgotar o stock completo por motivo de obras, aos dez mil clientes que fossem à loja, comprassem ou não, recebiam grátis um disco ou uma cassete para gravar (Jornal de Notícias, 30 de maio de 1972).
A eletricidade, ela própria, estendia-se pelo país. Mas havia críticas. No inverno do mesmo ano de 1972, os moradores da rua Dr. Alves da Veiga, mesmo ao pé da rua da loja Electro-Visão, queixavam-se de falhas. Sempre que chovia, a eletricidade desaparecia. A brigada de reparações nem sempre estava disponível, pois o problema residia no pavimento. Era preciso levantá-lo e colocar novos cabos de eletricidade, questão que se arrastava fazia anos.
quarta-feira, 22 de março de 2017
Porto e indústrias criativas em debate
A Livraria Lello encerra as suas Conversas, no dia 24 de março, pelas 17:00, com Que caminhos para o Porto? Iniciadas em janeiro, as conversas procuram explorar as potencialidades da cultura enquanto motor de desenvolvimento e o turismo como fator de promoção da comunidade local.
Segundo uma nota de informação da entidade organizadora, a discussão ocorrerá "entre a tradição e as exigências do presente, um futuro para o Porto da moda; o Porto e o seu lugar na Europa, que posição ocupa a cidade?; a Universidade do Porto como polo transformador do tecido económico do Porto; a importação de cérebros; a cultura como produto comercial, que modelos de negócio para a cultura? – são linhas orientadoras destas conversas que serão animadas por Álvaro Covões (Everything is New), Dieter Hardt-Stremayr (European Cities Marketing, ECM), Nuno Correia (Fundação Bienal de Arte de Cerveira), Manuel Cabral (Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, IVDP), Carlos Abrunhosa de Brito (Agência para o Desenvolvimento das Indústrias Criativas, ADDICT) e David Parrish (especialista em empreendedorismo cultural e marketing da cultura), em debate moderado por Clara Gonçalves (diretora executiva do Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto, UPTEC)".
No dia seguinte, a conversa será complementada com ação de aceleração de indústrias criativas, com a participação de David Parrish.
Segundo uma nota de informação da entidade organizadora, a discussão ocorrerá "entre a tradição e as exigências do presente, um futuro para o Porto da moda; o Porto e o seu lugar na Europa, que posição ocupa a cidade?; a Universidade do Porto como polo transformador do tecido económico do Porto; a importação de cérebros; a cultura como produto comercial, que modelos de negócio para a cultura? – são linhas orientadoras destas conversas que serão animadas por Álvaro Covões (Everything is New), Dieter Hardt-Stremayr (European Cities Marketing, ECM), Nuno Correia (Fundação Bienal de Arte de Cerveira), Manuel Cabral (Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, IVDP), Carlos Abrunhosa de Brito (Agência para o Desenvolvimento das Indústrias Criativas, ADDICT) e David Parrish (especialista em empreendedorismo cultural e marketing da cultura), em debate moderado por Clara Gonçalves (diretora executiva do Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto, UPTEC)".
No dia seguinte, a conversa será complementada com ação de aceleração de indústrias criativas, com a participação de David Parrish.
terça-feira, 21 de março de 2017
A construção da telenovela
Lê-se bem e depressa o livro Telenovela, Indústria & Cultura, Lda. Primeiro, o título é muito feliz. Depois, porque o autor escreve de modo muito compreensivo. Em terceiro lugar, trata de um tema atual.
O livro é sobre uma telenovela, Mar Salgado. O autor, docente e crítico de televisão, acompanhou a construção da telenovela durante oito meses, reuniu com os argumentistas e falou com responsáveis da empresa SP Televisão que fez a telenovela para a SIC, acompanhou o planeamento da gravação, visitou os locais da gravação, entrevistou a autora do argumento, um dos protagonistas e a responsável da telenovela e reuniu dados sobre a audiência. Isso levou o livro a articular entre análise e documento (a partir de citações das conversas que foi tendo), muito mais perto do registo jornalístico do que do aparato teórico.
O livro tem 29 pequenos capítulos, desde um levantamento histórico do folhetim e da radionovela à fábrica, à escrita, aos interiores e exteriores, à representação naturalista e à distinção entre montagem e edição. Mas também escreveu sobre o merchandising social, a publicidade, a exportação (de novelas ou argumento) e do sucesso em termos de audiência.
O autor começa por explicar que a telenovela é o suporte da pequena indústria de audiovisual do país, ocupando algumas centenas de pessoas, de artistas a argumentistas, realizadores e técnicos. A telenovela é um folhetim industrial em que muitas marcas pessoais que existem no cinema se diluem aqui. Ele também salientou a grande quantidade de personagens e a repetição de núcleos ricos-médios-pobres e a mistura de modelos melodramático, trágico, cómico e burlesco.
O livro é sobre uma telenovela, Mar Salgado. O autor, docente e crítico de televisão, acompanhou a construção da telenovela durante oito meses, reuniu com os argumentistas e falou com responsáveis da empresa SP Televisão que fez a telenovela para a SIC, acompanhou o planeamento da gravação, visitou os locais da gravação, entrevistou a autora do argumento, um dos protagonistas e a responsável da telenovela e reuniu dados sobre a audiência. Isso levou o livro a articular entre análise e documento (a partir de citações das conversas que foi tendo), muito mais perto do registo jornalístico do que do aparato teórico.
O livro tem 29 pequenos capítulos, desde um levantamento histórico do folhetim e da radionovela à fábrica, à escrita, aos interiores e exteriores, à representação naturalista e à distinção entre montagem e edição. Mas também escreveu sobre o merchandising social, a publicidade, a exportação (de novelas ou argumento) e do sucesso em termos de audiência.
O autor começa por explicar que a telenovela é o suporte da pequena indústria de audiovisual do país, ocupando algumas centenas de pessoas, de artistas a argumentistas, realizadores e técnicos. A telenovela é um folhetim industrial em que muitas marcas pessoais que existem no cinema se diluem aqui. Ele também salientou a grande quantidade de personagens e a repetição de núcleos ricos-médios-pobres e a mistura de modelos melodramático, trágico, cómico e burlesco.
segunda-feira, 20 de março de 2017
Dia mundial do Teatro no Montijo
O Centro de Estudos de Teatro e a Companhia Mascarenhas-Martins juntaram-se para organizar a jornada intitulada Criar e produzir: modalidade de cooperação criativa nas artes cénicas, a ter lugar no Dia Mundial do Teatro, 27 de Março, a partir das 14:30, no Cinema-Teatro Joaquim d'Almeida, Montijo.
A jornada contará com a presença de vários profissionais do espectáculo, entre os quais Anne de Amézaga (Compagnie Louis Brouillard), Carla Ruiz (TNDMII) e Luis Miguel Cintra, que farão as primeiras intervenções.
[informação da entidade organizadora]
A jornada contará com a presença de vários profissionais do espectáculo, entre os quais Anne de Amézaga (Compagnie Louis Brouillard), Carla Ruiz (TNDMII) e Luis Miguel Cintra, que farão as primeiras intervenções.
[informação da entidade organizadora]
domingo, 19 de março de 2017
UHF
A Orquestra Nacional de Jovens (Figueira da Foz), com perto de 100 músicos, acompanhou ontem a banda UHF, misturando sons de violino, violoncelo e sopros com a sonoridade elétrica do rock. António Manuel Ribeiro e companheiros tocaram os temas mais conhecidos, como Cavalo de Corrida e Rua do Carmo, e chamaram ao palco um dos antigos guitarristas da banda.
A Orquestra Nacional de Jovens é a orquestra residente na Figueira da Foz em parceria com a Câmara Municipal e com o CAE, dirigida pelo maestro Cristiano Silva. Este, no final do concerto, apelou a que apoiassem o Festival de música clássica a realizar naquela cidade de 23 de Julho a 6 de Agosto de 2017.
A Orquestra Nacional de Jovens é a orquestra residente na Figueira da Foz em parceria com a Câmara Municipal e com o CAE, dirigida pelo maestro Cristiano Silva. Este, no final do concerto, apelou a que apoiassem o Festival de música clássica a realizar naquela cidade de 23 de Julho a 6 de Agosto de 2017.
sábado, 18 de março de 2017
Wim Wenders
Vistos em retrospetiva, os filme de Wim Wenders são mais do que road movies, são sobre a identidade e a sua busca. Em Paris Texas (1984), Travis Henderson (Harry Dean Stanton) vai quase inconscientemente à procura do sítio onde os pais se conheceram e o conceberam, tendo ele próprio comprado um terreno, de que possui uma vaga fotografia. Mas essa é parte da história, porque, na realidade, o que lhe vai acontecer é levar o filho Hunter (Hunter Carson), que reencontra, à mãe Jane (Nastassja Kinski). Um e outro tinham abandonado a criança ao irmão e cunhado dele, que o tinham adotado como filho. O filme mostra a procura da identidade em diversas personagens: pai, mãe e filho.
Mas Alice nas Cidades (1974), realizado uma década antes de Paris Texas, revela melhor essa ideia de busca de identidade. E também apresenta a ideia de lugares sempre iguais, como autoestradas e motéis, aquilo a que Marc Augé chamaria de não lugares, pois eles são semelhantes em qualquer parte do mundo. Neste filme, a história é mais dramática, a que se associa um grande experimentalismo do realizador e dos seus colaboradores mais próximos.
Philip Winter (Rüdger Vogler), jornalista em crise de identidade, "recebe" Alice em Nova Iorque das mãos da mãe, que a abandona temporariamente para voltar ao seu homem. Winter não conhecia a mãe nem Alice (Yella Rottländer), de nove anos, e fica encarregado de a levar até Amsterdão, onde a mãe Lisa (Lisa Kreuzer, então mulher de Wenders) a procuraria no dia seguinte ou nos dias seguintes. Mas ela não aparece e o jornalista procura uma avó da menina no Rhur (geografia natal do realizador), entrega-a à polícia e nos leva para uma sociedade cultural e arquitetónica em lenta decomposição, a dar lugar a uma nova geração.
Os filmes de Wenders revelam ainda a sua paixão pela música: a jukebox onde se ouve os Canned Heat e um rapazinho a trautear a música (On the Road Again, 1970) - "Well, I'm so tired of crying / But I'm out on the road again / I'm on the road again / Well, I'm so tired of crying / But I'm out on the road again / I'm on the road again / I ain't got no woman / Just to call my special friend" - e o concerto de Chuck Berry, hoje falecido com 90 anos. Do mesmo modo que, em Asas do Desejo (1987), Nick Cave e Bad Seeds apareciam. Ainda a realçar a música de Ry Cooder em Paris Texas.
Numa crítica ao filme Alice nas Cidades, há uma outra indicação - a das fotografias polaroid como provas de contacto. No filme, diz-se que as fotografias são uma prova da existência do jornalista-fotógrafo, para justificar a passagem dele por certos sítios. E, como as fotografias com grão (Robby Müller), o filme também tem o sinal do tempo. A passagem da película para o digital, com mudança de formatos (filmado em 16 mm mas desejado por Wim Wenders em 35 mm), ilustra a qualidade (ou perda de) da imagem como víamos na televisão a preto e branco.
Mas Alice nas Cidades (1974), realizado uma década antes de Paris Texas, revela melhor essa ideia de busca de identidade. E também apresenta a ideia de lugares sempre iguais, como autoestradas e motéis, aquilo a que Marc Augé chamaria de não lugares, pois eles são semelhantes em qualquer parte do mundo. Neste filme, a história é mais dramática, a que se associa um grande experimentalismo do realizador e dos seus colaboradores mais próximos.
Philip Winter (Rüdger Vogler), jornalista em crise de identidade, "recebe" Alice em Nova Iorque das mãos da mãe, que a abandona temporariamente para voltar ao seu homem. Winter não conhecia a mãe nem Alice (Yella Rottländer), de nove anos, e fica encarregado de a levar até Amsterdão, onde a mãe Lisa (Lisa Kreuzer, então mulher de Wenders) a procuraria no dia seguinte ou nos dias seguintes. Mas ela não aparece e o jornalista procura uma avó da menina no Rhur (geografia natal do realizador), entrega-a à polícia e nos leva para uma sociedade cultural e arquitetónica em lenta decomposição, a dar lugar a uma nova geração.
Os filmes de Wenders revelam ainda a sua paixão pela música: a jukebox onde se ouve os Canned Heat e um rapazinho a trautear a música (On the Road Again, 1970) - "Well, I'm so tired of crying / But I'm out on the road again / I'm on the road again / Well, I'm so tired of crying / But I'm out on the road again / I'm on the road again / I ain't got no woman / Just to call my special friend" - e o concerto de Chuck Berry, hoje falecido com 90 anos. Do mesmo modo que, em Asas do Desejo (1987), Nick Cave e Bad Seeds apareciam. Ainda a realçar a música de Ry Cooder em Paris Texas.
Numa crítica ao filme Alice nas Cidades, há uma outra indicação - a das fotografias polaroid como provas de contacto. No filme, diz-se que as fotografias são uma prova da existência do jornalista-fotógrafo, para justificar a passagem dele por certos sítios. E, como as fotografias com grão (Robby Müller), o filme também tem o sinal do tempo. A passagem da película para o digital, com mudança de formatos (filmado em 16 mm mas desejado por Wim Wenders em 35 mm), ilustra a qualidade (ou perda de) da imagem como víamos na televisão a preto e branco.
sexta-feira, 17 de março de 2017
Exposição do Instituto Português de Fotografia
O Instituto Português de Fotografia promove uma mostra de fotografias de oito finalistas do Curso Profissional de 2016: Angélica Moutinho [na imagem: Parte de Mim], Filipa Bernardo, Helena Amaral, José Carvalho, Luísa Neves, Margarida Góis, Margarida Macedo Basto e Rui Mourisca. Os trabalhos a refletirem um processo visual de reflexão, exploração e interação de espaços e da figura humana, onde se erguem fronteiras de contextualização social, cultural e económica.
A iniciativa decorre na Fábrica Braço de Prata (Lisboa), de ontem a 9 de abril (18:00-2:00, às quartas-feiras e quintas-feiras; 18:00-4:00, às sextas-feiras e sábados). Entrada gratuita.
15 anos de blogosfera
Ainda a propósito da palavra escanifobético, este blogue entra hoje no seu 15º ano de existência. O seu autor começa a ser fora do normal ou desajeitado. Porque escreve ele um blogue e não muda para o Facebook ou o Twitter? Estas duas redes sociais têm um design mais bonito e a sua interação é maior.
No cabeçalho do blogue, escrevi "Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos)". E Maria Arliette Moreira, pequena cantora da Rádio Peninsular (começos da década de 1930), está a encimar a apresentação do blogue. Isso significa a minha maior inclinação para a rádio entre as indústrias culturais e criativas.
Hoje, informaram-me que um livro sobre a história da rádio está quase pronto a arrancar em termos de produção. Por isso, percorri a pé, com mais alegria, as avenidas da República, Fontes Pereira de Melo e Liberdade. A manhã está magnífica, as lojas cheias de novidades e as pessoas passeiam lentas e em grupo, a antecipar um fim de semana agradável. A primavera espreita. Logo: este blogue é primaveril.
No cabeçalho do blogue, escrevi "Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos)". E Maria Arliette Moreira, pequena cantora da Rádio Peninsular (começos da década de 1930), está a encimar a apresentação do blogue. Isso significa a minha maior inclinação para a rádio entre as indústrias culturais e criativas.
Hoje, informaram-me que um livro sobre a história da rádio está quase pronto a arrancar em termos de produção. Por isso, percorri a pé, com mais alegria, as avenidas da República, Fontes Pereira de Melo e Liberdade. A manhã está magnífica, as lojas cheias de novidades e as pessoas passeiam lentas e em grupo, a antecipar um fim de semana agradável. A primavera espreita. Logo: este blogue é primaveril.
Escanifobético
Li no Público o texto "O Oceanário de Lisboa é um sítio com muitos animais escanifobéticos". Em criança ou adolescente, ouvi a palavra "escanifobético" mas nunca a tinha lido em forma impressa. Por isso, fui ao dicionário em linha da Infopédia e descobri o significado. Trata-se de um adjetivo usado de modo coloquial: que é estranho, esquisito ou fora do normal; que é pouco ágil, desajeitado.
O texto de Teresa Serafim começa assim: "Uma das missões do oceanário, agora emblema da nova Fundação Oceano Azul, é a conservação das espécies e a sua divulgação. Para este último objectivo, há ateliers para os mais novos. O mais recente chama-se Escanifoquê? – À Procura dos Escanifobéticos do Oceanário e até tem um livro".
O texto de Teresa Serafim começa assim: "Uma das missões do oceanário, agora emblema da nova Fundação Oceano Azul, é a conservação das espécies e a sua divulgação. Para este último objectivo, há ateliers para os mais novos. O mais recente chama-se Escanifoquê? – À Procura dos Escanifobéticos do Oceanário e até tem um livro".
Ex-correspondente de Luanda
"Se Paulo Catarro passou directamente da RTP para a Sonangol, o seu trabalho de anos como correspondente em Luanda deve ser escrutinado — agora. Se um governante teve ocupação na privada, antes ou depois de estar no poder, há «polémica» e investigação jornalística. Ainda bem. Quando o correspondente da RTP em Luanda, Paulo Catarro, deixa o cargo e entra directamente para a Sonangol — silêncio" (Eduardo Cintra Torres, ontem). Estou de acordo com o colunista.
terça-feira, 14 de março de 2017
A seguir João Carlos Callixto
A seguir a página de João Carlos Callixto no Facebook: https://www.facebook.com/joaocarloscallixto?hc_ref=NEWSFEED. Sempre com muita informação sobre a música (e a rádio e os media, também).
Os blogues e a sua memória histórica
Retirado de http://sobre.arquivo.pt/noticias/arquivo.pt-junta-bloggers-nacionais-em-workshop (2017-02-24) [como não soube da organização deste evento, fica aqui registado].
Blogs que ficam para a História: formação oferecida pelo Arquivo.pt
“Como pode o meu blog ficar na História digital de Portugal?” é a pergunta de partida para este encontro dedicado à preservação digital.
No dia 23 de Fevereiro de 2017, a unidade FCCN da Fundação para a Ciência e Tecnologia, em Lisboa, responsável pelo Arquivo.pt, foi palco de uma ação de formação gratuita para bloggers das áreas de tecnologia, lifestyle e moda. Sob o mote de trabalhar para deixar os seus blogs para a história da web portuguesa, este conjunto de bloggers uniu-se à infraestrutura de investigação Arquivo.pt assistindo a sessões sobre técnicas de preservação digital.
Audiências de rádio
A Rádio Comercial (16,6%) volta a liderar as audiência acumulada de véspera (AAV) em rádio na primeira vaga do Bareme Rádio deste ano, seguida da RFM (16%). Em termos de reach semanal e share de audiência, a RFM está em primeiro (33,6% e 23,4%, respetivamente), seguindo-se a Comercial (33% e 22,4%).
Pedro Coelho sobre Angola
A reportagem de Pedro Coelho sobre Angola Assalto ao Castelo (SIC) teve um grande impacto naquele país, de tal modo que hoje a SIC Notícias foi retirada da grelha de canais da ZAP (operadora de canais de televisão pertença de Isabel dos Santos). A decisão foi muito condenada e está a repercutir-se nas discussões nas redes sociais em Angola.
domingo, 12 de março de 2017
Tentativas para matar o amor
Ana (Cleia Almeida) é casada com João, apenas nomeado na narrativa, mas vive uma paixão com Jaime (Tomás Alves) há dez anos. Também presente-ausente é o filho dela, JP. Ao fim desse tempo, fazem um balanço das dificuldades em viver daquele modo. Contas para pagar, uma vida dupla, salários baixos, presença permanente de uma sociedade agressiva (tróica, tickets restaurante em vez de subsídio de alimentação, poluição e qualidade de vida). Manuel (Eurico Lopes) é uma espécie de contraponto, próximo do casal mas também quase o narrador.
Talvez as gerações mais novas compreendam a relação, talvez os mais velhos encontrem a história muito frágil, no sentido que damos a uma peça de cristal. Aliás, podia concluir-se que ela não é bem uma história mas um olhar poético sobre o amor e as relações no interior de um casal moderno numa geografia lisboeta bem precisa. A personagem feminina está mais bem desenvolvida, apresenta uma perspetiva do amor mais moderna e desinibida, enquanto os homens surgem mais defensivos. Será que Ana e Jaime vão continuar? Ou será a peça uma construção feminista?
A peça é de Marta Figueiredo, engenheira civil a trabalhar na Infraestruturas de Portugal, concorrente e vencedora do Grande Prémio de Teatro Português SPAutores / Teatro Aberto 2015. Ela tem dois filhos pequenos, nasceu na Meda, estudou em Lisboa e vive no Porto. Dramaturgia e encenação de Levi Martins e Maria Mascarenhas, figurinos de Dino Alves, cenário e desenho de luz de Adelino Lourenço, música original e sonoplastia de André Reis e vídeo de Eduardo Breda.
sábado, 11 de março de 2017
Fotografias de Alfredo Cunha em exposição
São quatro décadas de trabalhos fotográficos de Alfredo Cunha expostos na Cordoaria Nacional (Lisboa) - Tempo Depois do Tempo. Na folha da exposição, Maria do Carmo Serén explica que o tempo na exposição surge repartido por decénios, em que o fotógrafo deixou imagens relativas a questões internacionais e nacionais, quase momentos decisivos de guerras, catástrofes, intervenções policiais. Em Portugal, no Iraque, no Nepal, em Moçambique ou Guiné-Bissau.
As imagens refletem valores. Do fotógrafo, que acredita na humanidade e na superação de dificuldades, como as vítimas de um terramoto, que se deixam fotografar de frente. Numa delas, uma rapariga assoma à janela da casa, quando todo o resto é destruição. O olhar do fotógrafo é, com muita frequência, duro, ao colocar no centro da sua objetiva, os desapossados ou marginais da sociedade. Por isso, do lado dos fotografados, verifico uma regular presença com dignidade, mesmo que a situação seja medonha. Recordo a imagem de um rapazinho, do lado direito da imagem, quando o resto é ocupado por polícias de choque em ação num bairro problemático. E da imagem de retornados pós-1974, caso de uma de Angola, com uma mulher atarantada, que perdera todos os seus bens e estava ali à procura de embarque para Portugal, com as crianças ao seu lado.
Uma das salas é reservada a retratos de figuras políticas e culturais desta longa e aventurosa carreira de Alfredo Cunha. Na minha retina ficaram as fotografias de Mário Soares, sentado à secretária do poder com o pé fora do sapato, do rosto rugoso (quase brumoso) de Vasco Gonçalves, e da bonita imagem da pintora Graça Morais. E, das imagens dos militares de 25 de abril de 1974, a de Salgueiro Maia, de espingarda na mão, a olhar levemente de lado para o fotógrafo.
Chamo, de novo, a atenção para a folha da exposição, de autoria de Maria do Carmo Serén, para a informação sobre as obras de Alfredo Cunha. Ela explica, embora seja melhor ver a exposição, as mudanças sociais que as fotografias testemunham. O exemplo pode ser Portugal: da feira de gado e da procissão no rio à exuberância da nova cultura urbana. Concluo: se fossem vivos e visitassem a exposição, muito gostaria de ler o que Roland Barthes e Eric Hobsbawm teriam para escrever.
sexta-feira, 10 de março de 2017
Urban Sketchers
Na sequência de Lisboa por Urban Sketchers, a Zest Books associou-se aos Urban Sketchers Portugal para a criação de um projeto de maior fôlego: Portugal por Urban Sketchers – Norte, Sul e Ilhas. Um álbum de formato médio com 250 imagens de quase noventa desenhadores, com técnicas e estilos diferentes, que retratam Portugal com o olhar e a mão de maneira mais humana e intimista. Os desenhos [esboços], feitos no local, retratam o momento, a alma, as paisagens, monumentos, vivências, cidades e serras, vividos e registados pela sensibilidade e técnica dos artistas.
Lançamento no dia 24 de Março, 18:30, no Museu Nacional de Arqueologia (informação da entidade promotora).
Lançamento no dia 24 de Março, 18:30, no Museu Nacional de Arqueologia (informação da entidade promotora).
Em defesa da História - e da rádio
Esta semana, tenho ouvido muito falar de sessenta anos da RTP. Isto é errado, porque quer dizer apenas televisão.
Hoje, a sigla RTP - Rádio e Televisão de Portugal - representa isso mesmo, rádio e televisão públicas. A meu ver, a fusão deu-se tarde demais. No caso inglês, BBC, depois de um curtíssimo período de propriedade privada, significou o serviço público de rádio, primeiro, e televisão, depois. Isto deveu-se a processos tecnológicos, pois a oferta da televisão surgiu pouco antes da II Guerra Mundial, quando a rádio se desenvolveu logo depois do final da I Guerra Mundial.
Como o processo português de fusão da rádio e da televisão ainda é recente, surgem estas confusões. Na realidade, o que se comemora por estes dias não são sessenta anos de RTP mas sessenta anos de televisão. A rádio é mais antiga.
Sem ser desmancha-prazeres, até a data de comemoração está incorreta. Como Portugal é um país excessivamente legalista, a comemoração utiliza datas formais, de autoridades que visitam e inauguram. Como diria o linguista John L. Austin, a data de inauguração é performativa. Basta dizer para se realizar. Ora, a televisão começou a emitir antes de março de 1957. Em setembro de 1956, emitiu regularmente, com uma grelha de programas, entrando depois em silêncio para profissionalizar a sua atividade. De setembro de 1956 a março de 1957 passaram cerca de cinco meses de grande trabalho mas as fontes comemorativas parecem não querer marcar o período inicial como fazendo parte da História da empresa de televisão. Contudo, diz-se que Maria Armanda Falcão (Vera Lagoa) foi a primeira apresentadora da televisão. Isso foi no período experimental. Além disso, a televisão nasceu semi-pública (ou semi-privada, pois 2/3 do capital da estação era privado).
A rádio pública foi inaugurada em agosto de 1935 (1 de agosto para os puristas, 4 de agosto para os comemoradores da abertura oficial, quando Carmona foi inaugurar a estação), mas ela já emitia desde meados de 1934. Do mesmo modo, não se considera a estação de rádio como estando a funcionar desde 1934, porque se esperou pelo momento celebratório. Aqui, houve - na minha leitura - um elemento conspiratório. António Joyce era o presidente da rádio oficial (rádio pública) em 1934, mas foi substituído em 1935 por Henrique Galvão, então um forte discípulo de Salazar. Para evitar atribuir valor a Joyce, o regime quase fez desaparecer a sua importância. E, de então para cá, os historiadores marcam o começo da rádio de Estado no período mais recente.
Conclusão: não são sessenta anos de RTP mas, desde a fusão de rádio e televisão, a RTP tem dois momentos de aniversário, o da rádio e o da televisão. O aniversário que conta é o mais antigo - 82 anos. Um elemento suplementar: Manuel Bivar, vogal da direção da Emissora Nacional (rádio do Estado) desde o tempo de Joyce foi nomeado vogal da administração da RTP (televisão pública). E na primeira administração da televisão estava o homem-forte de Rádio Clube Português: Jorge Botelho Moniz. Os primeiros estudos da televisão em Portugal fizeram-se nos escritórios da estação de rádio pública. Compreende-se, porque a tecnologia da rádio nasceu primeiro que a televisão. Os estatutos iniciais da Emissora Nacional (1933) falam na exploração da radiodifusão e da televisão, num momento em que esta era ainda quase teoria.
Hoje, a euforia da imagem quer fazer esquecer a importância do som. A não ser que a televisão tenha morto em definitivo a rádio.
Hoje, a sigla RTP - Rádio e Televisão de Portugal - representa isso mesmo, rádio e televisão públicas. A meu ver, a fusão deu-se tarde demais. No caso inglês, BBC, depois de um curtíssimo período de propriedade privada, significou o serviço público de rádio, primeiro, e televisão, depois. Isto deveu-se a processos tecnológicos, pois a oferta da televisão surgiu pouco antes da II Guerra Mundial, quando a rádio se desenvolveu logo depois do final da I Guerra Mundial.
Como o processo português de fusão da rádio e da televisão ainda é recente, surgem estas confusões. Na realidade, o que se comemora por estes dias não são sessenta anos de RTP mas sessenta anos de televisão. A rádio é mais antiga.
Sem ser desmancha-prazeres, até a data de comemoração está incorreta. Como Portugal é um país excessivamente legalista, a comemoração utiliza datas formais, de autoridades que visitam e inauguram. Como diria o linguista John L. Austin, a data de inauguração é performativa. Basta dizer para se realizar. Ora, a televisão começou a emitir antes de março de 1957. Em setembro de 1956, emitiu regularmente, com uma grelha de programas, entrando depois em silêncio para profissionalizar a sua atividade. De setembro de 1956 a março de 1957 passaram cerca de cinco meses de grande trabalho mas as fontes comemorativas parecem não querer marcar o período inicial como fazendo parte da História da empresa de televisão. Contudo, diz-se que Maria Armanda Falcão (Vera Lagoa) foi a primeira apresentadora da televisão. Isso foi no período experimental. Além disso, a televisão nasceu semi-pública (ou semi-privada, pois 2/3 do capital da estação era privado).
A rádio pública foi inaugurada em agosto de 1935 (1 de agosto para os puristas, 4 de agosto para os comemoradores da abertura oficial, quando Carmona foi inaugurar a estação), mas ela já emitia desde meados de 1934. Do mesmo modo, não se considera a estação de rádio como estando a funcionar desde 1934, porque se esperou pelo momento celebratório. Aqui, houve - na minha leitura - um elemento conspiratório. António Joyce era o presidente da rádio oficial (rádio pública) em 1934, mas foi substituído em 1935 por Henrique Galvão, então um forte discípulo de Salazar. Para evitar atribuir valor a Joyce, o regime quase fez desaparecer a sua importância. E, de então para cá, os historiadores marcam o começo da rádio de Estado no período mais recente.
Conclusão: não são sessenta anos de RTP mas, desde a fusão de rádio e televisão, a RTP tem dois momentos de aniversário, o da rádio e o da televisão. O aniversário que conta é o mais antigo - 82 anos. Um elemento suplementar: Manuel Bivar, vogal da direção da Emissora Nacional (rádio do Estado) desde o tempo de Joyce foi nomeado vogal da administração da RTP (televisão pública). E na primeira administração da televisão estava o homem-forte de Rádio Clube Português: Jorge Botelho Moniz. Os primeiros estudos da televisão em Portugal fizeram-se nos escritórios da estação de rádio pública. Compreende-se, porque a tecnologia da rádio nasceu primeiro que a televisão. Os estatutos iniciais da Emissora Nacional (1933) falam na exploração da radiodifusão e da televisão, num momento em que esta era ainda quase teoria.
Hoje, a euforia da imagem quer fazer esquecer a importância do som. A não ser que a televisão tenha morto em definitivo a rádio.
quarta-feira, 8 de março de 2017
Despedimentos na SIC
A Impresa concluiu esta semana um processo de rescisões, que afectou apenas a SIC. Aqui, terão saído 15 a 20 empregados, sete deles jornalistas e repórteres de imagem. Sofia Carvalho, diretora da SIC Mulher e da revista Activa foi um desses colaboradores. O referido canal comemora hoje 14 anos.
terça-feira, 7 de março de 2017
Museu Machado de Castro revisitado
A tarde estava magnífica. O visitante fez uma paragem para rever o Museu Nacional Machado de Castro (Coimbra). Turmas de escolas primárias corriam pela longa estrutura subterrânea, imaginando a prisão e os prisioneiros. Em cima, o observador deleitava-se a olhar com mais profundidade o cavaleiro medieval, século XIV, de mestre Pero, capela dos Ferreiros, Oliveira do Hospital. O cavalo dócil não parecia talhado para aquele guerreiro.
Na galeria municipal, prossegue a exposição de fotografia de António Luís Campos sobre os Açores (Crónicas da Atlântida). Na rua, um músico tocava trompete.
segunda-feira, 6 de março de 2017
Arquivos da RTP - rádio e televisão
O primeiro arquivo que ouvi foi o da emissão inaugural do emissor da Madeira, ocorrido em 22 de outubro de 1967, com leitura da programação do dia, seguida da nota de abertura lida por José Sollari Allegro, presidente da Direção da Emissora Nacional. O segundo arquivo que vi foi o programa inicial No Ar, de João Paulo Diniz, a entrevistar Artur Agostinho. O terceiro a ouvir foi o quarto programa No Ar por Toda a Parte, de Jaime Fernandes. Vou procurar mais conteúdos de áudio para a minha investigação. Útil e lúdico. Obrigado, RTP, pelo lançamento do arquivo digital, que cobre vídeos, áudios, fotografias e textos da década de 1930 até à atualidade.
sábado, 4 de março de 2017
Ópera chinesa no Museu do Oriente
O ocidente gosta da ópera chinesa mas não conhece o seu repertório narrativo e o modo como se combinam o canto, a música, a dança, a mímica, a acrobacia e o humor. A ópera chinesa surgiu no final do século XI e a sua época dourada iniciou-se no século XIII. Há estilos regionais diferentes, mas destacam-se os de Beijing e de Cantão.
O repertório inclui comédias satíricas, histórias de amor, peças históricas e mitos fundadores da China. A exposição patente no Museu do Oriente explora quatro das mais célebres histórias: Romance dos Três Reinos, A Viagem ao Ocidente, A Lenda da Serpente Branca e o Pavilhão da Ala Oeste. Assim, compreendem-se traços gerais da história do país, como a crítica de costumes, a exaltação das virtudes guerreiras, o temor aos deuses, a transmissão da sabedoria dos mais velhos. Há ainda espaço para o teatro das marionetas.
Trajes, maquilhagem e acessórios identificam as personagens. Linhas negras indicam rugas. O branco é para ministros traidores e personagens violentas como generais e bandidos, o vermelho é para homens honestos e fieis, o azul para personagens vigorosas, o amarelo para calculistas, o verde para orgulhosos e o dourado para os deuses. As personagens masculinas dividem-se em idoso, jovem e guerreiro, as femininas em idosa, mulher virtuosa, cortesã ou criada, guerreira e jovem de família distinta. A estas personagens, juntam-se os rostos pintados e os palhaços [texto a partir dos elementos da exposição].
sexta-feira, 3 de março de 2017
Lisboa, cidade global no Renascimento
A exposição A Cidade Global. Lisboa no Renascimento abriu no final de fevereiro, envolta em polémica, por causa do quadro que serve como centro da exposição: Rua Nova dos Mercadores, pertença da Kelmscott Manor. Esta obra foi encontrada no espólio de Dante Gabriel Rossetti e a sua data seria atribuída pelas comissárias da exposição Annemarie Jordan e Kate Lowe, baseadas em cartas do seu antigo proprietário, entre 1570 e 1619. Mas não existe nenhuma análise laboratorial para saber a certeza. Da pintura, relevo as colunas, que permitem um longo percurso sob os edifícios, as persianas de madeira, uma arquitetura similar ao longo da rua (que dava para o Rossio), o comércio na rua e as figuras variadas (mercadores, membros do clero, militares, mulheres, criados negros, animais).
A obra seria a continuidade do quadro O Chafariz d'El Rei, da coleção de Joe Berardo, cuja data se atribui no catálologo da exposição ao século XII (1560-1580). Esta obra teria sido alvo de uma análise à madeira e à pigmentação. Mas alguns historiadores contestam a sua autenticidade, nomeadamente pela existência de um cão com coleira mas sem dono, o que não seria habitual (a revista do Expresso de 25 de fevereiro último traz textos de Vítor Serrão e de Diogo Ramada Curto, com posições opostas). Ao ver a reprodução deste quadro, surpreendo-me com um barqueiro que me faz lembrar Van Gogh (1853-1890) e um rio encapelado pintado à maneira dos pós-impressionistas, mas, ao mesmo tempo, parece haver a ironia de Hieronymus Bosch (1450-1516).
Independentemente da polémica, a exposição - que partiu do livro escrito pelas duas curadoras The Global City - On the Streets of Renaissance Lisbon - mostra pintura, contadores e cofres, porcelanas e lacas, gravuras que representam animais exóticos, um rinoceronte que o sultão de Guzarate ofereceu a D. Manuel I, o envio do rinoceronte ao papa mas que morreu afogado quando o barco naufragou, com a gravura imortalizada por Dürer (um animal cheio de couraças de ferro, pois o alemão não vira o animal mas desenhou-o a partir da descrição dele feita), sedas e panos. As mercadorias afluíam de África, Brasil e Ásia. No conjunto, a exposição descreve uma Lisboa cosmopolita e capital de império, com multculturalismo e inúmeros produtos e objetos exóticos trocados entre Portugal e o oriente após a viagem marítima de Vasco da Gama. O terramoto de 1755 destruiria a cidade mas ficaram memórias agora presentes no Museu Nacional de Arte Antiga. A arquitetura da Rua Nova dos Mercadores desapareceu.
A obra seria a continuidade do quadro O Chafariz d'El Rei, da coleção de Joe Berardo, cuja data se atribui no catálologo da exposição ao século XII (1560-1580). Esta obra teria sido alvo de uma análise à madeira e à pigmentação. Mas alguns historiadores contestam a sua autenticidade, nomeadamente pela existência de um cão com coleira mas sem dono, o que não seria habitual (a revista do Expresso de 25 de fevereiro último traz textos de Vítor Serrão e de Diogo Ramada Curto, com posições opostas). Ao ver a reprodução deste quadro, surpreendo-me com um barqueiro que me faz lembrar Van Gogh (1853-1890) e um rio encapelado pintado à maneira dos pós-impressionistas, mas, ao mesmo tempo, parece haver a ironia de Hieronymus Bosch (1450-1516).
Independentemente da polémica, a exposição - que partiu do livro escrito pelas duas curadoras The Global City - On the Streets of Renaissance Lisbon - mostra pintura, contadores e cofres, porcelanas e lacas, gravuras que representam animais exóticos, um rinoceronte que o sultão de Guzarate ofereceu a D. Manuel I, o envio do rinoceronte ao papa mas que morreu afogado quando o barco naufragou, com a gravura imortalizada por Dürer (um animal cheio de couraças de ferro, pois o alemão não vira o animal mas desenhou-o a partir da descrição dele feita), sedas e panos. As mercadorias afluíam de África, Brasil e Ásia. No conjunto, a exposição descreve uma Lisboa cosmopolita e capital de império, com multculturalismo e inúmeros produtos e objetos exóticos trocados entre Portugal e o oriente após a viagem marítima de Vasco da Gama. O terramoto de 1755 destruiria a cidade mas ficaram memórias agora presentes no Museu Nacional de Arte Antiga. A arquitetura da Rua Nova dos Mercadores desapareceu.
quinta-feira, 2 de março de 2017
Censura em exposição
São 25 painéis sobre a censura nas artes e na cultura em Portugal no tempo do Estado Novo (O que Ficou por Dizer), patente na Sociedade Portuguesa de Autores. Cinema, literatura, teatro, rádio.
No tópico rádio, há dois textos, assinados por João David Nunes e por António Cartaxo, cada um contando duas histórias ou pontos de vista. João David Nunes reporta-se ao Rádio Clube Português e escreve sobre o programa Onda do Optimismo, à época apresentado por Jorge Alves. Ele chegava habitualmente em cima da hora do programa, sem tempo para passar no gabinete de Jaime da Silva Pinto, outra pessoa excecional e homem exemplar da rádio, cuja função aquela hora era visar previamente os textos. Ambos tinham problemas de locomoção. Jorge Alves, na sua corrida para o estúdio, acenava a Jaime da Silva Pinto, dizendo "os textos já têm visto", a que o colega respondia "falta o carimbo". Jorge Alves abria o microfone e dizia: "Bom dia, senhores ouvintes. Aqui está, como todas as manhãs, a sua Onda do Optimismo". No final do programa, ouvia-se (ou podia ouvir-se?) o som do carimbo em todas as folhas.
Rádio Clube Português tinha um representante da censura, centralizada no SNI (Secretariado Nacional de Informação), que ia à estação com regularidade. Na administração da rádio, o pelouro da fiscalização estava atribuído a um administrador e havia, nos Serviços de Produção, funcionários que analisavam e visavam com o carimbo SP5 os textos a utilizar.
Por seu lado, António Cartaxo escreve sobre a BBC e a secção portuguesa. O primeiro registo remete para dezembro de 1941. Armando Cortesão, tradutor na secção brasileira e colaborador na portuguesa, era refugiado político anti-Salazar. Este e a embaixada portuguesa tanto pressionaram indiretamente a BBC que Cortesão acabou por ser despedido (a tese de doutoramento de Nelson Ribeiro analisa em profundidade a situação).
A segunda história de Cartaxo envolve-o diretamente, embora ele não o explicite. O serviço português da BBC fora encerrado em 1957, mas reaberto no começo da década seguinte, após o rebentar da guerra colonial em África. Em julho de 1973, Marcelo Caetano visitou oficialmente Londres. A imprensa britânica publicou artigos sobre a política colonial portuguesa e o Times deu notícia do massacre de Wiriamu (Moçambique). De nada disto se fez referência na revista de imprensa da secção portuguesa da BBC. Depois, em 1974, a BBC abdicaria do papel independente e instauraria censura sobre o modo de relatar a evolução da política nacional. Por exemplo, não seriam lidos ou comentados os artigos publicados no Guardian. Dois jornalistas seriam demitidos. Cartaxo não descreve o processo que chegou ao tribunal e que opôs a BBC e ele e o seu colega Jorge Ribeiro.
No tópico rádio, há dois textos, assinados por João David Nunes e por António Cartaxo, cada um contando duas histórias ou pontos de vista. João David Nunes reporta-se ao Rádio Clube Português e escreve sobre o programa Onda do Optimismo, à época apresentado por Jorge Alves. Ele chegava habitualmente em cima da hora do programa, sem tempo para passar no gabinete de Jaime da Silva Pinto, outra pessoa excecional e homem exemplar da rádio, cuja função aquela hora era visar previamente os textos. Ambos tinham problemas de locomoção. Jorge Alves, na sua corrida para o estúdio, acenava a Jaime da Silva Pinto, dizendo "os textos já têm visto", a que o colega respondia "falta o carimbo". Jorge Alves abria o microfone e dizia: "Bom dia, senhores ouvintes. Aqui está, como todas as manhãs, a sua Onda do Optimismo". No final do programa, ouvia-se (ou podia ouvir-se?) o som do carimbo em todas as folhas.
Rádio Clube Português tinha um representante da censura, centralizada no SNI (Secretariado Nacional de Informação), que ia à estação com regularidade. Na administração da rádio, o pelouro da fiscalização estava atribuído a um administrador e havia, nos Serviços de Produção, funcionários que analisavam e visavam com o carimbo SP5 os textos a utilizar.
Por seu lado, António Cartaxo escreve sobre a BBC e a secção portuguesa. O primeiro registo remete para dezembro de 1941. Armando Cortesão, tradutor na secção brasileira e colaborador na portuguesa, era refugiado político anti-Salazar. Este e a embaixada portuguesa tanto pressionaram indiretamente a BBC que Cortesão acabou por ser despedido (a tese de doutoramento de Nelson Ribeiro analisa em profundidade a situação).
A segunda história de Cartaxo envolve-o diretamente, embora ele não o explicite. O serviço português da BBC fora encerrado em 1957, mas reaberto no começo da década seguinte, após o rebentar da guerra colonial em África. Em julho de 1973, Marcelo Caetano visitou oficialmente Londres. A imprensa britânica publicou artigos sobre a política colonial portuguesa e o Times deu notícia do massacre de Wiriamu (Moçambique). De nada disto se fez referência na revista de imprensa da secção portuguesa da BBC. Depois, em 1974, a BBC abdicaria do papel independente e instauraria censura sobre o modo de relatar a evolução da política nacional. Por exemplo, não seriam lidos ou comentados os artigos publicados no Guardian. Dois jornalistas seriam demitidos. Cartaxo não descreve o processo que chegou ao tribunal e que opôs a BBC e ele e o seu colega Jorge Ribeiro.
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