Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
terça-feira, 31 de janeiro de 2006
Eduardo Street, antigo colaborador da Antena 2 - mas que ainda conta, naquela estação de música clássica, histórias deliciosas sobre a rádio no passado -, prepara-se para fazer sair um livro intitulado Teatro invisível (história do teatro radiofónico), a editar pela Página 4. O lançamento está previsto para o próximo mês de Março.
Decorreu hoje ao fim da tarde, na Universidade Católica Portuguesa (UCP), o lançamento do livro de Rui Marques, actual Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME), Timor-Leste: o agendamento mediático. Fazendo parte da colecção "Comunicação", da Porto Editora, o livro é a tese de mestrado que Rui Marques defendeu com brilhantismo no ano lectivo passado.
Das notas que tirei das apresentações, destaco Diogo Pires Aurélio, professor da Universidade Nova de Lisboa e da UCP, e orientador da tese (na segunda imagem). Para ele, o livro agora lançado tem três aspectos precisos: 1) paixão do autor sobre Timor [recordo que Rui Marques foi o obreiro do Lusitânia Express, um barco que navegou até ao mar de Timor para chamar a atenção, a nível mundial, do problema, há vários anos atrás], 2) o caso como jornalismo de causas, 3) um trabalho simultâneo de análise de comunicação social mas também comunicação política (envolvendo a opção religiosa pela Igreja Católica e a língua portuguesa como matrizes essenciais do povo de Timor-Leste).
Também Adelino Gomes, jornalista do Público e decano da questão de Timor (na terceira imagem), frisou a solidariedade de Rui Marques para com Timor. De modo poético, o jornalista referiu-se ao assunto Timor na tese e livro como um tempo de recolha de pedras, onde se via já uma luz. E - num discurso complementar do de Diogo Pires Aurélio - destacou ainda o jornalismo de causas, perguntando: a cobertura jornalística de Timor foi um caso típico desse jornalismo de causas? A sua comunicação ainda dedicou algum tempo a recordar alguns dos episódios dos tempos em que falar de Timor era olhado de viés. Os "mauberes" era como se chamavam aos escassos jornalistas que ousavam escrever sobre o drama daquela antiga colónia, 24 anos ocupada pela Indonésia.
Observação: na primeira imagem, o reitor da UCP, professor Braga da Cruz, faz uma apresentação inicial; na última imagem, o autor do livro refere algumas das passagens do seu livro.
segunda-feira, 30 de janeiro de 2006
O número 8 da aguasfurtadas - revista de literatura, música e artes visuais do Núcleo de Jornalismo Académico do Porto -, datado de Outubro de 2005, divide-se em espaços de poesia, tradução, conto, teatro, ensaio, banda desenhada e música.
Publicação de grande qualidade gráfica, a ficha técnica compõe-se, entre outros de Luísa Marinho e Rui Manuel Amaral, da direcção literária, Leandro Ribeiro e Francisco Eduardo, da direcção de artes visuais, e Pedro Junqueira Maia, da direcção musical. A capa pertence a Gabriel Loureiro.
Da componente musical, retiro o seguinte: "Seguindo a aposta nos jovens valores apresentamos agora três novas partituras, com respectiva gravação em CD, sendo duas de dois compositores em início de carreira - Rui Dias, formado pela Escola Superior de Música do Porto, e Rui Pena, em fase final de formação pela Universidade de Aveiro -, aos quais se junta um autor com créditos já firmados no panorama musical português - Fernando C. Lapa" (p. 6).
Novos autores e novas estéticas eis as propostas da revista. De um conto de António Tavares Lopes, O quarto, retiro a seguinte parcela: "Domingo. Estava a ouvir música e a pensar em sons que andam guardados na cabeça e um dos mais perdurantes arreigados molésticos é uma canção - se assim se pode chamar - de trabalho. Isso sim se pode chamar que o contexto de aplicação era verdadeira tortura do latim tripilium (que é nome de blog) e daí, por caminhos que desconheço, o tal trabalho" (p. 128).
Pego no texto de Clara Neves, Transmutações: "Os espaços em que vivemos carecem então de uma reavaliação? Os «protagonistas da evolução» terão acima de tudo que ter ainda a capacidade de ver. Talvez o mundo contemporâneo tenha perdido a capacidade de observar, enfatizada por uma ambiência envolvente prestíssimo" (p. 215).
O Núcleo de Jornalismo Académico do Porto (NJAP), editor da publicação, é uma associação juvenil constituída por estudantes da Universidade do Porto já existente há mais de 15 anos. A sua principal actividade é a edição do JUP - Jornal Universitário do Porto. A aguasfurtadas é outra das suas actividades, mas com bastante autonomia. Mas há também antigos estudantes, convidados pelo NJAP para coordenação da revista. O trabalho de coordenação consiste em convidar colaboradores, seleccionar textos, ordená-los, e acompanhar a edição da revista em todas as fases de produção.
Identificação das imagens: 1) capa da revista, 2) conto de António Tavares Lopes, 3) Tenebrae, música de Fernando C. Lapa, 4) Carlos Mota, 5) Raquel Costa (Something is cracking; How to disappear completely).
O número agora em distribuição da revista (semestral) aguasfurtadas tem 317 páginas e custa €12. Pedidos directos da revista para jup@jup.pt ou Rua Miguel Bombarda, 187, 4050-381 Porto.
Observação: gostei de ouvir o Rui Manuel Amaral na Antena 2, pelas 9:34-9:38 de hoje.
[agradecimentos a Rui Manuel Amaral, pelo envio da revista. Ele é co-autor do blogue Dias Felizes, um dos meus favoritos]
Reconheço que o nome do sítio não é muito ortodoxo, mas parece-me um bom local para visitar.
Conforme uma mensagem que recebi, "Trata-se de uma webzine dedicada à música alternativa e periférica que conta com mais de 3 anos de presença no ciberespaço (com um hiato forçado de um ano, por problemas técnicos) e um conjunto de leitores regular e crescente. Não tem fins lucrativos e é completamemente amadora, formada por um grupo de adolescentes que se conheceram pela internet e experimentaram o mesmo tipo de escrita num blog conjunto no verão de 2001". O sítio pode ser um espaço ainda mais alargado "numa altura em que se fala tanto da divulgação de música pela internet e o poder que este meio dispõe para dirigir gostos e influenciar opiniões". Aconselho a que espreitem a página da agenda de concertos previstos para Fevereiro, aqui.
Desejo muitas felicidades ao Luís Miranda e aos seus colegas de A puta da subjectividade.
Retiro, do blogue Palavras soltas, de Marta Amado, o seguinte texto, publicado em 26 deste mês, sobre a novela para adolescentes da TVI:
- Os Morangos com Açúcar continuam a fazer furor no panorama da televisão em Portugal. Este facto é confirmado pela enorme adesão ao casting, que está a decorrer na Casa do Artista, para a série dos Morangos. Muitos sonham em participar nesta série que, desde o ínicio, tem vindo a influenciar, como nunca, jovens e crianças.
No ano lectivo de 2004/2005, eu e mais duas amigas (Gisela Pereira e Sofia Palma) elaborámos um trabalho, para a cadeira de "Públicos e Audiências"(*), sobre o fenómeno Morangos com Açúcar e o seu impacto no pensamento e comportamento dos adolescentes e crianças portuguesas.
Após a realização do trabalho, foi-nos possível fazer algumas reflexões críticas acerca do mesmo. "A telenovela Morangos com Açúcar é um produto televisivo um tanto pobre nos diálogos, nas relações humanas e nas histórias. Então, de onde vem o seu sucesso?" O facto de as personagens serem interpretadas por actores portugueses, também eles em idade escolar, facilita a "tele-captação" pelos adolescentes. A escolha de temas actuais constitui um ingrediente apelativo. O seu sucesso deve-se a uma panóplia de ingedientes tão simples como: cor dos cenários e vestuário, caras bonitas, espectacularidade das imagens dos desportos radicais, sol, praia, juventude, conflitos, amizade, amor, actualidade das músicas e a vida de sonho das personagens.
A novela retrata histórias fabricadas, com situações inventadas e vividas por personagens estereotipadas. O problema que aqui se coloca prende-se com o facto de os adolescentes nem sempre terem consciência que a novela não reproduz fielmente a realidade, para além de que apenas mostra uma parte da realidade.
No entanto, há a salientar um aspecto positivo. É uma novela que incute nos jovens hábitos importantes, tais como estar com os amigos, fazer desporto e o espírito de camaradagem. De facto, nunca se vê as personagens a verem televisão. Isto é um aspecto positivo, e aqui os pais podem intervir e motivar os filhos para a prática de alguns dos desportos referidos na novela e também para o convívio com os amigos.
Os Morangos com Açúcar constituem um produto televisivo credível no que respeita aos temas abordados, mas peca pela forma como os trata, e pelo modo como os actores os interpretam. É uma série que assume sobretudo um papel de entretenimento.
Para terminar, confesso que às vezes também vejo esta série para descontrair. Penso que a terceira série, que está a passar actualmente na TVI, tem situações bastante cómicas e divertidas.
(*) ver a minha mensagem de 18 de Janeiro de 2005, de onde também retirei a imagem.
Na coluna "Zero de audiência", Miguel Gaspar escreve sobre a noite eleitoral de há uma semana atrás [independentemente da apreciação que faço ao texto de hoje, é de saudar a manutenção de um espaço que ele tem honrado no seu/nosso Diário de Notícias].
Em relação ao texto, o título não condiz com a última frase. Sem ser uma contradição, merece ser analisado [imagem a partir da página 41 da edição em papel]. Escreve o editor executivo do Diário de Notícias: "Na democracia mediática, a voz antipartidos está a falar mais alto do que a voz dos partidos. Alegre não vale de todo o seu milhão de votos. Mas os partidos valem o quê?" [colorido meu].
Como eixo da discussão do jornalista está ainda a "interferência" de Sócrates (Primeiro-Ministro) sobre Alegre (vice-presidente da Assembleia da República e candidato "contra" o seu partido) na noite de eleições. Para Miguel Gaspar, mais "do que «acelerar a história», a pressão do directo transforma a história. [...] Era como informar sobre as vítimas de um acidente e ignorar o acidente". E critica o valor-notícia - expressão que dá conta da importância de um acontecimento, pelo qual o jornalista não pode desprezar -, como eu defendera aqui no passado dia 25.
Hoje, um noticiário qualquer sofre dessa erosão da velocidade. Veja-se o que se escreve na internet: necessidade permanente de actualização, textos curtos, fornecimento de imagens e sons, links. Veja-se o que acontece na televisão: o directo implica actualização mas também poupança económica, pois é um formato barato. Muitas vezes, o jornalista que faz o directo é obrigado a "render o peixe", isto é, já não tem nada de novo para contar mas da redacção indicam que deve continuar (acontece o mesmo aos relatadores de futebol na televisão, profissão das mais ridículas do mundo se o relatador não tiver contenção nas ideias a proferir).
A decisão de "pôr no ar" é quase simultânea com o acontecimento, perdendo-se o distanciamento e a frieza de raciocínio, aquilo a que Miguel Gaspar chama de "directo [que] transforma a história". Logo: há sempre uma hipótese de ocorrer o mesmo que ao jogar póker - "bluff" ou erro de cálculo. Mas é preferível fazer o directo ou decidir entre duas possibilidades que não decidir (lembro-me de numa situação dramática da morte de um futebolista em campo, o benfiquista Féher, um editor ter decidido não mostrar o jovem caído morto no relvado, enquanto outros editores de canais mais sensacionalistas não se coibiram de mostrar o corpo do mesmo, sem preparação prévia dos telespectadores).
Isto é, para além do valor-notícia, um jornalista ou editor têm de possuir capacidade de discernir o que é bom para "pôr no ar", de ter bom senso. É mais arriscado do que escrever num jornal ou neste meu blogue, em que a pressão do tempo não é tão premente como na televisão. O que quero dizer ainda: a "aceleração da história" referida pelo jornalista do Diário de Notícias é provocada pelo meio que transmite o acontecimento. A televisão, a rádio e, crescentemente, a internet são do domínio do tempo real, do fragmento e do episódico, desaparecendo a sua importância com o esquecimento da ocorrência. A consolidação dos dados de um acontecimento vêm com a reflexão que o jornal e os meios escritos permitem.
domingo, 29 de janeiro de 2006
Francisco Rui Cádima, do blogue irreal tv, assina hoje uma carta aberta aos provedores do Público, Diário de Notícias e Jornal de Notícias, a propósito da constituição da Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC). Nesta, ele entende dever haver uma "total transparência de procedimentos, honrando a República e o Regime". Daí que ele resolva escrever aos provedores dos três jornais, Rui Araújo, José Carlos Abrantes e Manuel Pinto (este terá escrito a sua última coluna, uma vez que acabou o mandato, conforme se vê aqui). Na carta aberta, lê-se nomeadamente:
Como certamente concordarão, as questões que aqui invoco são questões de Cidadania, de transparência, de lisura de procedimentos, de interesse público e da sua rigorosa «pilotagem» e agendamento por parte dos media.
A narrativa mediática que até agora nos chegou sobre todo este caso, é muito insuficiente, contraditória e, portanto, preocupante.
Um Regulador fragilizado pelo anátema da falta de independência, é sempre um regulador permissivo e dificilmente imporá o seu programa mínimo face aos elevados objectivos e desígnios que a Cidadania exige do seu sistema mediático e mais em particular do seu sistema público mediático (julgamos que a Lei também é solidária nesta matéria, mas tem porventura alguma letra morta).
A totalidade da carta pode ser consultada e lida aqui.
O Público de hoje dá-lhe uma pequena notícia, o Le Monde dedica quase dois terços de uma página, com dois textos assinados por Claudine Mulard (correspondente do jornal em Los Angeles, nos Estados Unidos) e Nicole Vulser.
O realizador de, entre outros filmes, Sexo, mentiras e vídeo (1989), Traffic (2001) e Ocean's Eleven (2002), vai, com o seu novo filme Bubble, alterar o sistema de exploração dos filmes. É que a distribuição do filme se efectuou quase em simultâneo com a estreia nas salas de cinema e na televisão por cabo (anteontem, a nível mundial) e em DVD (depois de amanhã, ao preço de 30 dólares).
A fórmula, nunca tentada por Hollywood, está a pôr nervosos os donos das salas de cinema. Se, até ao momento, se dizia que o vídeo e o DVD faziam baixar as receitas das salas, agora com esta fórmula a ida ao cinema está comprometida. No Le Monde de hoje escreve-se que há uma guerra entre o grande ecrã e o pequeno ecrã. Como o mundo se torna cada vez mais digital, a estreia ou venda do mesmo bem cultural em diferentes suportes corresponde a essa mudança. A nova estratégia terá como alvo cerca de 90% da população, que não vai ver filmes a salas de cinema mas pode comprá-los em DVD ou visioná-los na televisão a pagamento. E consolida as campanhas de marketing do cinema e do vídeo.
Para o realizador - que terá feito um filme de baixo orçamento -, a decisão também está relacionada com a pirataria. Steven Soderbergh confessou mesmo que assistiu a filmes como o Senhor dos Anéis, de Peter Jackson a partir de cópias piratas. Apesar de ser um caso isolado, pode ser um golpe do marketing, revelador do pânico com que os Estados Unidos olham o mundo do cinema face a essa pirataria.
sábado, 28 de janeiro de 2006
Segundo o blogue Media Network Weblog, em mensagem editada ontem, os televisores de ecrã plano (cristal líquido ou plasma) ultrapassaram o volume de vendas dos televisores convencionais de ecrã de raio catódico no Japão, pela primeira vez, no ano passado. A Japan Electronics and Information Technology Industries Association fala em 4,68 milhões de aparelhos vendidos, o que significa um aumento de 150% face a 2004. Já as vendas de televisores com ecrãs tradicionais atingiram 3,98 milhões.
Isso reflecte-se nos principais fabricantes. Enquanto se reduzem as divisões fabris dos televisores convencionais, aumentam as ligadas aos ecrãs planos. A associação japonesa afirma que o crescimento dos ecrãs planos vai continuar, devido à concorrência entre fabricantes, aos jogos olímpicos de Inverno em Turim e à planeada expansão dos serviços de televisão digital terrestre.
Esta semana e por duas vezes, o jornal Público dedicou atenção à música digital. Melhor dizendo, na edição de 22 de Janeiro, com assinatura de Paulo Miguel Madeira, editou um texto sobre tecnologia, o podcasting, e ontem, escrito por vários colaboradores, sobre a divulgação da nova música através da internet.
O podcasting (combinação de iPod, leitor portátil de música digital, com broadcast, emissão em rádio ou televisão em inglês) tem uma vantagem quanto à distribuição de programas de rádio ou outros ficheiros de som, pois "permite aos utilizadores construir grelhas de conteúdos conforme os seus interesses". O iPod, escreve o jornalista, "acaba por ser um dos ícones [...] desta nova tendência". E o som, através de ligação por computador, "pode ser transferido para um leitor portátil de mp3 ou outro formato".
Tudo isto a propósito da adesão de estações radiofónicas ao podcasting, caso do grupo Media Capital (Rádio Comercial, Rádio Clube Português e portal Cotonete), já em meados do ano passado, e da TSF, mais recentemente.
Já o tema de capa do suplemento "Y" de ontem do Púbico mostra-nos como, "sem qualquer contrato discográfico, sem editora por trás, o boca-a-boca no ciberespaço faz-se de e-mail para e-mail". Vítor Belanciano retoma a ideia no começo do seu texto inicial: "Uma banda sem qualquer estrutura por trás, por iniciativa própria, coloca a sua música na Net. A Net perde-se de amores pela banda. Os internautas, pertencentes a blogues, comunidades virtuais, fóruns de conversação ou webzines, escrevem todos os dias sobre a banda. O culto propaga-se de e-mail para e-mail. A banda vende alguns milhares de discos através de e-mail e torna-se conhecida num ápice. Resumindo, esta é a história dos americanos Clap Your Hands Say Yeah".
E, em outro texto escrito pelo mesmo jornalista, ele afirma: "São o grupo preferido nos últimos meses da geração net. O vocalista [Alec Ounsworth] tem voz de cana rachada e a música não é a mais original do mundo, mas então porque diabo apetece ser feliz depois de se ouvir o álbum dos americanos Clap Your Hands Say Yeah"?
A "Y" dedica ainda espaço aos ingleses Artic Monkeys, com "Whatever people say I am, that's what I'm not", e aos portugueses Linda Martini, com "Linda Martini". Escreve Pedro Rios sobre estes últimos: "O sucesso dos Linda Martini é um exemplo da capacidade da Net como meio de aceleração dos normais trâmites que antecedem a edição de um disco". De início era uma maqueta, "que entretanto «ascendeu» ao estatuto de disco promocional do grupo e acabou por passar em algumas rádios como objecto discográfico de pleno direito".
Um outro texto, assinado por Mário Lopes, desce ainda mais ao pormenor do novo mundo da divulgação da música digital: "a minha geração [de Alexandre Camarão, autor de The Remixes], que está pelos 30, ainda compra revistas, jornais e CDs, mas agora surge uma outra que cresceu ligada à Net e que tem nela a sua principal ligação à música". Os grandes nomes, prossegue o texto, apoiados na rádio e televisão pelas campanhas das multinacionais, têm ainda lugar no espaço mediático; contudo, o processo encontra-se em mudança. No My Space alojam-se cerca de 1500 bandas nacionais, desde os conhecidos Da Weasel ou The Gift até bandas de garagem à espera do reconhecimento.
O negócio da indústria discográfica chegou, assim, a um novo modelo de funcionamento. Para além do software gratuito que permite criar uma página e colocar informação sobre uma banda, possibilita ainda descarregar quatro músicas para audição, simples maquetas ou o single de antecipação do álbum.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2006
- PANORAMA - MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS
Começa hoje, 6ª feira, dia 27 de Janeiro, às 21:00, no Fórum Lisboa, a Mostra do Documentário Português. Hoje, o programa da sessão de abertura inclui dois filmes de Manoel de Oliveira, como Douro Faina Fluvial [18'] e O Pintor e a Cidade [26'], e Cold Water, de Teresa Villaverde [5'], Contornos, de Rita Bonifácio [5'], O Inimigo, de Bruno Caracol [12'] e Aquecimento, de Miguel Ribeiro [14'].
A Mostra do Documentário, a prolongar até 5 de Fevereiro, "pretende ser um espaço privilegiado para dar a conhecer os documentários que se fazem em Portugal ou por portugueses, bem como proporcionar o encontro e partilha destas experiências. Tem como objectivo alargar e fortalecer a comunidade do documentário português, ser um elemento de ligação entre os filmes, os seus autores e o público, tentando aproximar quem faz e o que se faz de quem vê".
Com 175 páginas, o texto é de Jorge Alves dos Santos e José Soares Neves e colaboração de Paulo Almeida Paula, e faz parte da colecção de livros lançados pelo Observatório de Actividades Culturais, em finais de 2005, como resultado de um protocolo estabelecido com a Câmara Municipal de Cascais (preço: €10).
Qual a estrutura do livro? Traz o quadro orgânico dos museus (Condes de Castro Guimarães, do Mar, da Música Portuguesa, Forte de São Jorge de Oitavos e Moinho de Armação Tipo Americano), historial e actividades, frequência e participação.
Mas o capítulo principal é o inquérito aos públicos dos museus (pp. 69-134), distinguindo-se as seguintes parcelas: 1) perfil dos públicos (sexo, idade, situação conjugal, nível de escolaridade, capital escolar familiar e grupo ocupacional), 2) frequência e notoriedade (primeira visita ou recorrência de visita, conhecimento prévio dos museus), 3) meios de conhecimento (informação de amigos, familiares e professores, media, site, guias e brochuras), 4) condições de visita (programada ou improvisada, modalidade de acompanhamento, número de acompanhantes, meio de transporte, motivo de deslocação, tempo dispendido no museu), 5) avaliação da visita (agrado, ideia de voltar ao museu), 6) práticas de visita (no país e no estrangeiro), 7) motivos de visita (férias, visita a amigos ou familiares, negócios, evento cultural).
Para o presente trabalho seriam validados 1034 inquéritos aos museus de Cascais e 272 realizados durante a exposição "Michel Giacometti, caminho para um museu". De acordo com os dados deste inquérito, apurou-se que o visitante é maioritarimente do sexo feminino, casado e com idade superior a 35 anos e média de idade de 47 anos, com metade a possuir nacionalidade estrangeira (espanhola, britânica e americana), nível de instrução superior apesar do capital familiar precário (escolaridade inferior ou igual ao secundário, mais presente nos visitantes nacionais), com um terço dos inquiridos a pertencerem à categoria de profissionais técnicos e de enquadramento (pp.140-141).
Certamente mais do que o negócio da semana, deve ser o negócio do ano: a compra da Pixar pela Walt Disney. Daí o destaque dos jornais desta semana, caso do Diário de Notícias, que publicou três notícias sobre o assunto desde segunda-feira. Destas, destaco duas: a editada no dia 23, no caderno de "Economia" e assinada por Emanuel Graça, e a saída ontem, na secção "Artes" e assinada pela dupla Nuno Galopim e Eurico de Barros.
Na segunda-feira, o Diário de Notícias seguia a informação publicada no Wall Street Journal, para quem a Disney estava disposta a comprar as acções da Pixar por um preço acima do indicado pelo mercado, totalizando €5,6 mil milhões. Tal levaria Steve Jobs, detentor de 50% da Pixar, a maior accionista individual da Disney. Os objectivos traçados seriam, segundo o jornal, "derrubar as barreiras entre as áreas de conteúdos online, hardware e distribuição digital", com Jobs a poder "dar novas potencialidades ao serviço de downloads de vídeo e música digital iTunes, propriedade da Apple". As acções da Pixar e da Disney subiriam no dia da notícia do Wall Street Journal, respectivamente 2,8% e 4%.
Já a notícia de ontem do Diário de Notícias, confirmando uma breve de quinta-feira, enquadrava a compra da Pixar numa perspectiva menos económica e mais no domínio das artes e das indústrias culturais. O texto começa assim: "A Walt Disney adquiriu, por seis mil milhões de euros, a Pixar, estúdio especializado em animação digital que nos últimos anos garantiu ao gigante do entretenimento os seus maiores êxitos, com filmes como Toy Story, Monstros e Companhia, À Procura de Nemo ou Super-Heróis".
O texto analisa ainda a concorrência, com destaque para os estúdios da Dream Works, recentemente adquiridos pela Paramount, onde se produziram sucessos como Shrek e Madagáscar, e contrapunha o lucro dos Super-Heróis, em parceria Disney-Pixar (€513 milhões) com o de Chicken Little, sem essa parceria (€193 milhões). As mudanças dentro da Disney não se fariam demorar: o presidente da divisão de animação da Disney era demitido e John Lasseter, o realizador do filme Toy Story, passava a director das equipas criativas da Pixar e da Disney.
Mas o destaque da notícia de ontem vai para a infografia colocada em linha à direita da página, onde releva o engenho de Steve Jobs desde a fundação da marca de computadores Apple (1976) à criação da Pixar (1986), à produção do filme Toy Story (1995) e ao lançamento do iPod e da loja de música online iTunes (2001).
quinta-feira, 26 de janeiro de 2006
CARTOGRAFIA CULTURAL DE CASCAIS
- Foi hoje apresentado o livro Cartografia cultural do concelho de Cascais, do Observatório de Actividades Culturais (OAC), em encomenda desta autarquia. Além do referido volume, há mais seis estudos, cada um centrado em domínio específico: um determinado tipo de equipamentos (Os museus municipais de Cascais: políticas culturais locais e património móvel; As bibliotecas municipais de Cascais), um só equipamento (O Centro Cultural de Cascais: estudo de um equipamento municipal), um evento (O Festival Estoril Jazz: construção de uma imagem de marca), um movimento (Associativismo cultural em Cascais) e um projecto autárquico (Cascais e a "Memória dos Exílios").
Território com práticas culturais específicas (Ana Clara Justino, vereadora da Cultura de Cascais), economia da cultura (Jorge Manuel Martins, presidente do Instituto Português do Livro e das Bibliotecas), públicos e políticas culturais estruturantes (Clara Camacho, vice-presidente do Instituto Português), a importância do Estoril como rota dos exilados da Segunda Grande Guerra (António Mega Ferreira, presidente do Centro Cultural de Belém), as dimensões analíticas do acesso à cultura (Maria de Lourdes Lima dos Santos, presidente do Observatório de Actividades Culturais), rotas culturais, de negócios e de desporto (António Capucho, presidente da Câmara de Cascais) e o peso das actividades culturais no PIB (Mário Vieira de Carvalho, secretário de Estado da Cultura) foram alguns dos assuntos tratados pelos membros da mesa de apresentação das obras do OAC.
Das conclusões contidas em Cartografia cultural do concelho de Cascais, retiro algumas ideias: 1) acesso à cultura tomado como democratização da cultura, 2) acesso à cultura enquanto política de preços gratuita ou paga, 3) alargamento dos dias de abertura dos equipamentos como outra forma de acesso à cultura, 4) formação e alargamento de públicos de cultura, 5) promoção de iniciativas que chamem segmentos de população com pouca participação, 6) apoio às infra-estruturas do associativismo, 7) importância da acção no envolvimento de personalidades residentes no concelho que tenham notoriedade nacional e internacional nos domínios da cultura e da ciência, 8) alargamento da oferta ou diversificação cultural, 9) descentralização de equipamentos e eventos (pp. 331-336).
- A Câmara Municipal de Cascais, segundo o seu presidente, irá investir no quadriénio 50 milhões de euros para recuperar património arquitectónico e fortalecer redes de cultura. Entre as iniciativas enumeradas, destaque para instalações do teatro municipal de Cascais, orquestra de câmara Cascais/Oeiras, museu Paula Rego (a pintora doará significativas obras suas para o espaço a criar) e comemoração dos 100 anos de nascimento do compositor Fernando Lopes Graça.
Começou ontem o conjunto de seminários ligados ao mestrado de Ciências da Comunicação da UCP, tendo o conferencista sido o professor José Miguel Sardica (doutor em História e docente da mesma universidade), com o tema "Acordar" o país "a berros": a função sócio-política da imprensa no segundo liberalismo português.
Trata-se de um trabalho que o professor Sardica está a fazer e que aborda a imprensa portuguesa em finais do século XIX e começos do XX, não uma história de recensão de títulos mas uma história de construção da opinião pública, da alfabetização e da política, indicando ciclos de evolução. Ou seja, um período que começa em 1860/1870 e se estende até 1926.
No começo desse período, temos a geração nova, a de 1870, com Eça de Queirós e Ramalho Ortigão como figuras centrais, onde se procura uma reconfiguração do liberalismo de 1820. O espaço público de então era ténue e os arautos da geração de 1870 sonhavam com a sua expansão, coisa que os jornais podiam ajudar. José Miguel Sardica detecta aí uma nova militância ética e estética, em que o argumento principal é o da imprensa como instrumento primordial e os jornalistas com uma função de formadores e promotores desse alargamento da esfera pública, enquanto a opinião pública entra na agenda.
O núcleo de estudo do professor Sardica envolve os seguintes elementos: 1) o surgimento do jornalismo factual no Diário de Notícias, em Janeiro de 1865, 2) o dispositivo realista e interventivo da geração de Eça, com este a escrever nomeadamente no jornal Districto de Évora, 3) a imprensa massificada e sensacionalista dos republicanos, caso do surgimento dos jornais Lucta (1906), Mundo (1910) e República (1911). Segundo a investigação já produzida, o país possuiria cerca de 200 grandes jornais em 1880, número que subiria para 400 em 1900, 550 em 1910 e 660 em 1926. As tiragens dos jornais em Lisboa - apesar da dificuldade em comprovar estatisticamente tais valores - atingiriam 150 mil exemplares em 1900 e 250 mil em 1910, o que significaria um jornal por cada dois lisboetas.
Como conclusão de um trabalho importante em realização pelo professor Sardica, pode escrever-se que o Diário de Notícias, a geração de 1870 e a imprensa republicana constituiriam exemplos de modernidade jornalística, a par do fontismo enquanto "corrente" de desenvolvimento, industrialização e massificação. Outros assuntos nas mãos daquele investigador apontam para o surgimento do repórter, o peso do escritor no jornalismo nacional, a mudança de paradigma de jornais como O Século que se "desrepublicanizaram" (passagem de um jornalismo comprometido com causas partidárias para um jornalismo mais objectivo e factual) e a comercialização dos media de então.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2006
Seguem-se as capas de sete agendas culturais: 1) Centro Cultural Vila Flor (Guimarães), 2) Teatro Viriato (Viseu), 3) Teatro Municipal da Guarda, 4) Teatro Municipal de Faro, 5) Azambuja (capa e contracapa), 6) Cascais, e 7) Fundão.
Assim, Guimarães verá, no próximo dia 28, a companhia de Olga Roriz apresentar O amor ao canto do bar vestido de negro, Viseu, nos dias 27 e 28, assistirá à peça Romeu e Julieta, de Shakespeare (que também percorrerá Faro, no começo de Fevereiro), Guarda, amanhã, à exibição do filme Couraçado Potemkine, de Segei Eisenstein, Faro, no dia 27, à presença da cantora Jacinta e do seu quinteto, na Azambuja pode-se visitar a exposição de escultura de Luís Qual, O sublime e o grotesco da condição humana, enquanto em Cascais se promoverá um programa de literatura e música, dia 28, com a actriz Irene Cruz e o baixo Rui Baeta, e no Fundão, dia 27, faz-se a passagem do filme Metropolis, de Fritz Lang.
Uma última nota, sobre o teatro da Guarda, e a partir da capa da agenda respectiva, destaco para o dia 10 de Março (é longe, mas parece-me valer a pena) o concerto da First Vienna Vegetable Orchestra (Áustria), onde a música se faz com vegetais, nomeadamente alho francês, pimentos, cenouras e pepinos, e alguns utensílos de cozinha. São nove artistas que trabalham a partir de composições que incluem música tradicional africana, clássicos europeus e música electrónica.
- (*) Do meu "fornecedor" habitual de agendas culturais Carlos Filipe Maia, a quem agradeço.
São fotografias que fiz, nos anos 1970 e 1980. As quatro primeiras reflectem a festa da Bugiada (Sobrado, Valongo), no dia de S. João (24 de Junho), tiradas em película diapositivo de 35 mm.
Já o segundo conjunto reproduz, também em película diapositivo, uma deslocação à Grécia, podendo ver-se o interior da igreja bizantina de S. Dimitrius (Salónica), uma pequena parcela do conjunto religioso situado na montanha de Meteora, as estátuas arcaicas dos irmãos Cleobis no museu de Delfos e um vendedor de carne (Salónica), imagem que já podemos ver em restaurantes em Portugal.
O último conjunto, a partir de fotografias em papel, retrata o interior de Angola no começo dos anos 1970: Dala (leste do país), Muxima (junto ao rio Quanza) e campos de algodão (nos arredores de Catete, a menos de cem quilómetros a norte de Luanda).
Além da vitória de Cavaco Silva para a presidência da República, os jornais trazem notícias do candidato que ficou em segundo lugar e das audiências.
Ontem, com a argúcia habitual, Miguel Gaspar (Diário de Notícias) interrogava-se como fora possível a televisão optar por "dar a intervenção de José Sócrates em detrimento da de Manuel Alegre". A "opinião" do jornalista do Diário de Notícias partia da crítica de Ricardo Costa, da SIC, relativamente à opção editorial do próprio canal (quando Alegre falava, no ecrã surgiu a declaração de Sócrates). E acabava afirmando: "A questão de fundo é saber quem tem o poder de fixar a agenda. Sobretudo quando o directo impõe o seu critério".
Ora, quem marca a agenda, seguindo os estudos clássicos de teoria da notícia, são os agentes envolvidos na acção. Como há três agendas principais - pública, política e mediática -, e tal inclui políticos e jornalistas, a "condução" pode ser feita ora por uns ora por outros. A que se acrescenta que o directo televisivo exige uma opção imediata, muitas vezes não reflectida. O editor do canal de televisão escolhe rapidamente e não pode voltar atrás.
A meu ver, houve tão só uma decisão baseada no valor-notícia, ou seja: o que é mais importante quando dois actores sociais (políticos) decidem falar quase em simultâneo? O corpo principal da página do jornal (texto assinado por Filipe Morais e Sónia Correia dos Santos) contém esses elementos. Miguel Gaspar preferiu ir noutra direcção, de maior problematização para o interior dos próprios jornalistas, interrogando.
Ontem ainda, os jornais faziam referência às audiências de domingo. No Diário de Notícias, por exemplo, escrevia-se que a "RTP1 ultrapassa SIC mas não destrona TVI" no share total. E o filme 007 - morre noutro dia e o programa das presidenciais na TVI tinham sido os programas com maior audiência.
Resposta hoje editada no Público por António Luís Marinho: a RTP ganhou a noite das presidenciais. No artigo que aparece na página dos media daquele jornal (sem indicação de se tratar de texto de opinião mas apontando para o cargo de director de programas do canal público), Marinho afirma que a TVI só começou a noite eleitoral a partir das 20:00, pois até então aquele canal privado transmitia um filme, "que, aliás, cortou precipitadamente, antes do final, para iniciar a transmissão da noite eleitoral".
Cada jornal tem os seus critérios editoriais. Contudo, parece-me muito mais correcta a forma como o Diário de Notícias trabalhou ontem os directos das televisões, deixando um gráfico (a partir de dados da Marktest) para se analisar os picos de audiência, do que incluir hoje, como faz o Público, a opinião do director de um dos canais. Se não houver publicação de textos dos directores de informação dos outros canais de sinal aberto, o texto de hoje parece-me de promoção comercial, a merecer a atenção do provedor do leitor do jornal.
terça-feira, 24 de janeiro de 2006
- FESTA DA MÚSICA
Na revista "Actual", do Expresso, no passado dia 7, vinha uma entrevista com a administradora do CCB, Margarida Veiga, onde ela dava conta da possibilidade da Festa da Música ser reduzida a dois dias e passar a bienal. Ora, lembre-se que a original Folle Journée francesa, em Nantes, é anual e dura quatro dias e meio (Portugal adoptou um modelo de dois dias e meio).
Foi um colega meu, o professor Carlos Capucho, que me chamou a atenção para esta questão. Para ele, "quando sabemos o que significou para Portugal a coragem do administrador Lobo Antunes em trazer o admirável acontecimento de Nantes, quando sabemos como isso é importante para um país, como o nosso, onde a educação e divulgação musical é o que todos conhecemos, quando sabemos no se transformou a Festa da Música como grande acontecimento popular", nada justifica a regressão.
Até porque os concertos esgotam e tornam o CCB um local de encontro como não se vê nos restantes e longos dias do ano. E as indústrias criativas só têm a ganhar com a promoção e articulação da Festa a outros eventos culturais naquela faixa ribeirinha de Lisboa. Esperemos que a administração de Mega Ferreira, que já começou a trabalhar, proceda à revisão de tal hipótese.
Como se pode ler na coluna da direita, a 31 de Janeiro, pelas 18:00, na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, Rui Marques vai lançar o seu livro Timor-Leste: o agendamento mediático, da Porto Editora.
A presente obra assenta na tese de mestrado que o autor defendeu na Universidade Católica (UCP) em 1 de Outubro de 2004, e sobre a qual escrevi nesse próprio dia (ver aqui). Actualmente desempenhando a função de Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME), para além de professor na UCP, Rui Marques partiu de um modelo de investigação de construção da agenda (agenda-setting) de Kurt Lang e Gladys E. Lang. O casal Lang construiu quatro fases sequenciais que trabalham o conceito de agenda: 1) focalização, 2) enquadramento, 3) sistema simbólico, e 4) porta-vozes (Marques, 2005: 38-39). O autor seguiu ainda a hipótese de agendamento de Rogers e Dearing (agendamentos mediático, político e público) (pp. 39-66) para estudar o modo como Timor-Leste se manteve na agenda pública e política a nível mundial, apesar da mordaça imposta pela Indonésia, que invadira aquele antigo território administrado por Portugal.
O livro, de 287 páginas, contém um prefácio do jornalista Adelino Gomes e uma nota do orientador da tese, o professor Diogo Pires Aurélio. Do primeiro retiro a seguinte parcela: "O que o autor [Rui Marques] busca é uma explicação para a resposta pronta dada pelas opiniões públicas, pelas diplomacias que contavam e pelos media, no momento em que o dossier de Timor atingiu o seu ponto mais dramático, no Verão de 1999. Ou seja, «como e porquê conseguiu a causa da autodeterminação de Timor-Leste entrar na agenda mediática, crescendo em espiral até ao topo dessa agenda, e em que medida isso foi importante para obter sucesso nos seus objectivos estratégicos?»" (p. 10).
Adelino Gomes e Diogo Pires Aurélio estarão presentes no dia da apresentação deste magnífico livro. Desejo felicidades ao autor (a quem agradeço a oferta de um exemplar, que me permitiu olhar para o interior do texto) e parabéns à Porto Editora (e aos directores da colecção Comunicação, Joaquim Fidalgo e Manuel Pinto) pela edição.
JORNALISMO GUERREIRO
O título da mensagem pode não ser justo mas é o melhor que me aparece quando se lêem os textos de Mário Mesquita e de Rui Araújo na edição do Público de domingo passado. São do melhor que eu li nos últimos tempos.
De Mário Mesquita, cuja ironia fina e brilhante perpassa em todo o texto, retiro algumas frases (espero não descontruir a sua proposta) acerca de uma reflexão de Régis Debray sobre o jornalismo contemporâneo. E também a nostalgia de um tempo, quando "os repórteres dispunham de dois ou três meses para escrever uma série de quatro ou cinco reportagens longas e desenvolvidas, e os diversos títulos da imprensa - republicana, socialista, monárquica, católica ou jacobina - reenviavam os seus leitores para mundos diferentes uns dos outros, em vez de confluirem num consenso em que só pequenas subtilezas de tom ou de pormenor marcam suaves distinções".
Debray, segundo a leitura de Mesquita, olha a comunidade dos jornalistas não como um espaço homogéneo, mas com um "alto clero", constituido pelas hierarquias, directores e editores, associados aos intelectuais assimilados (colunistas e colaboradores externos), e um "baixo clero", eventualmente representado pelo repórter no terreno ou pelo jornalista e técnico que não aparece no ecrã nem tem o nome nas páginas do jornal. Nos representantes da esfera mais elevada, "A homogeneidade dos dirigentes dos media seria explicável por razões de formação, de educação, de meio social e de modo de vida". Contudo, Debray opõe-se a esse modelo simplista de dicotomia, com os jornalistas a reagirem mal às directivas vindas de cima.
Rui Araújo, com um título visual mas dúbio Re-promiscuidades (Re como prefixo que significa Repetição ou como Resposta?), marca o princípio do seu mandato como provedor do leitor do Público. Ele não espera que façamos especulações sobre o que escreve; embora duro, quase violento, é transparente e objectivo.
Motivo da coluna de domingo passado? Os textos de Margarida Pinto Correia (MPC) no recente Lisboa-Dakar. O provedor acha que a coluna devia ser entendida como publicidade (e eu concordo). Ora, o administrador da empresa que patrocinou a ida e a cobertura de MPC entende diferentemente, ao escrever que as peças publicadas eram crónicas e não textos publicitários. Directo, Araújo diz: "As reportagens e as crónicas não servem para rentabilizar investimentos. A isso se chama publicidade ou propaganda comercial (legítimas), mas não pode ser confundida com informação, a qual se rege por normas e princípios de independência. O Provedor gostaria de ter conhecimento das referidas «reportagens assumidamente patrocinadas por marcas e assinadas por jornalistas»". E conclui: "O jornalismo serve para informar. A publicidade e a propaganda comercial servem para convencer. A mistura destes géneros chama-se promiscuidade".
Se em Mário Mesquita se detecta uma ironia fina e desarmante, o que facilita o diálogo e a maleabilidade sem se pôr em causa os princípios fundadores do jornalismo, Rui Araújo assume uma postura precisa mas dogmática. Parece não haver mundo para além do que escreve. Ele, tendo razão, estraga tudo com afirmações simplistas - todos nós conhecemos o que é promiscuidade. E o dogmatismo alarga-se quando ele invoca a cartilha, no caso o precioso "Livro de Estilo" do jornal. A minha questão é: não perguntou ao director do jornal porque razão deixou passar a coluna de MPC como jornalismo e não publicidade? E não indagou o mesmo junto do director comercial? É que, assim, toma o lado dos jornalistas mas não explica as nuances modernas do jornalismo de concorrência, em que a publicidade paga assume um papel cada vez mais poderoso face ao jornalismo. E, além disso, não indaga o que ocorre com a versão electrónica do jornal (eu não tenho assinatura; logo, estou a especular). Certamente, para assinantes, a coluna de MPC surge de igual modo como trabalho jornalístico. E não se alarga aos outros media, em que há product placement ou patrocínio indicado no começo e fim de cada episódio da série, da telenovela ou do programa de informação.
Um terceiro texto ajuda-me - na ideia de circulação circulante da informação, como escreveu Pierre Bourdieu sobre a contaminação das notícias de uns jornais sobre outros jornais. Colunista de geração mais nova que Mário Mesquita e Rui Araújo, João Pereira Coutinho (JPC) olha para a permanente queda de vendas dos jornais ao longo dos últimos anos, no Expresso de sábado. Ele lembra-se do tempo do seu avó, em que este demorava uma hora a ler o jornal, após o que começava as suas tarefas laborais. Hoje, a "forma de vida de um homem civilizado", como anota JPC, desaparece. Não há tempo para ler um jornal, serve a informação da internet. Resta, diz a concluir, uma de duas coisas: 1) os jornais servem públicos elitistas, 2) os leitores abraçam a linguagem cibernauta, que avacalha e enterra o jornalismo clássico.
Não gosto do verbo avacalhar, embora o significado dado pelo dicionário seja claro: desmoralizar, rebaixar. Mas a reflexão de JPC remete para outro universo que não o dos dois colunistas do Público. Ultrapassa-se o mundo dos jornais e entra-se numa outra dimensão, que não devemos negligenciar. Possivelmente, as peças editadas no Público indicam a postura dos últimos guerreiros que defendem o jornalismo construido e alicerçado ao longo dos 200 anos mais recentes. A profissão, como muitas coisas dadas por adquiridas, está muito possivelmente em questionamento. O trabalho precário, o uso de múltiplas tecnologias, os elevados índices de mortalidade de títulos (jornais, programas), a pressão concorrencial, entre vários outros factores, leva-nos a considerar múltiplos pontos de vista e não apenas um só.
Na próxima quinta-feira, dia 26, pelas 15:00, no Centro Cultural de Cascais, serão apresentados os volumes Cartografia cultural do concelho de Cascais e seis estudos de caso como resultado do protocolo estabelecido entre a câmara de Cascais e o Observatório de Actividades Culturais (OAC), que produziu a obra.
Segundo se lê na última Agenda Cultural de Cascais (Janeiro-Fevereiro), a coordenadora do projecto e presidente do OAC, Maria de Lourdes Lima dos Santos, salienta as assimetrias do concelho entre litoral e interior e destaca a freguesia que suporta o nome do concelho, onde avultam a "oferta/procura cultural, a concentração de equipamentos, serviços, eventos, visitantes/públicos". Ela sugere que sejam tomadas acções de modo a alargar a cultura a toda a comunidade, "como forma de combater um perfil predominantemente selectivo ao nível dos públicos actuais".