Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
sábado, 30 de setembro de 2006
Obrigatoriamente o texto de Paulo Querido (suplemento "Actual", Expresso de hoje). Com título O saber mutante, sobre a Wikipedia, começa deste modo fortíssimo: "Sejamos realistas: a Wikipédia é o sonho de todos os garimpeiros do saber. Desde logo porque se trata de uma enciclopédia desprovida de interesses comerciais, como os puristas sempre desejaram que as enciclopédias fossem".
Por Monique Sicard, em francês. No dia 18 de Outubro (10:00-13:00 e 14:30-17:30), na sala polivalente do Centro de Exposições do Centro Cultural de Belém (CCB).
Monique Sicard é investigadora no CNRS (Centre National de Recherche Scientifique), em França. Autora de La Fabrique du Regard (Odile Jacob, Paris, 1998) e agora traduzido para português na nova colecção de Imagem, das Edições 70, e a lançar em 17 de Outubro. Sicard, que escreveu ainda Images d’un autre monde: La photographie scientifique, foi colaboradora da revista Les Champs Médiologiques, dirigida por Régis Debray e realizou documentários para televisão.
Os destinatários do workshop são público em geral e público especializado em fotografia. Inscrições/informações: de 29 Setembro a 6 Outubro na recepção do Centro de Exposições ou telefones 213612800/213612867 ou e-mail servico.educativo@ccb.pt. Há 30 vagas e o preço é de €60. A organização pertence a José Carlos Abrantes e Universidade Nova de Lisboa (departamento de Comunicação).
sexta-feira, 29 de setembro de 2006
OPTIMISMO VERSUS REALISMO NA VENDA DE JORNAIS
Os dois jornais de referência Diário de Notícias e Público trazem hoje informação sobre vendas de jornais do primeiro semestre de 2006, após divulgação pela APCT (Associação Portuguesa de Controlo de Tiragens). Assim, o Diário de Notícias (texto de Paula Brito) tem o título DN foi o generalista que mais cresceu (antetítulo: Vendas face ao semestre anterior). O título do Público (texto de Maria Lopes) é: Portugueses compraram menos 33 mil diários no primeiro semestre.
Já manifestei neste espaço a crítica face a dados assim reportados pelos jornais. A informação contida nas notícias é verdadeira, mas incompleta ou joga com datas comparativas diferentes, o que distorce a análise. Não deixarei de manifestar o meu desapontamento mesmo que haja um zilhão de notícias sobre o tema.
Nesse sentido, enquanto o Diário de Notícias compara o primeiro semestre de 2006 com o segundo semestre de 2005, o Público estabelece paralelo com os primeiros semestres nos dois anos. Para o Diário de Notícias, os dados dos primeiros seis meses deste ano, quando comparados com os do último semestre, são positivos. Mas isso não aconteceria se eles fossem comparados com os dados do primeiro semestre de 2005. Trata-se de uma leitura optimista, que congratula em parte os seus accionistas, mas que não esconde a perda relativamente a um ano de distância.
Já o Público tem um texto mais equilibrado (da última vez que escrevi sobre o tema achei o texto do Público o menos correcto). Lê-se sobre a tendência para a queda na compra de jornais diários (o gráfico de circulação média paga não deixa margem de erro), o crescimento dos jornais gratuitos e das revistas do grupo Impala e do segmento feminino.
Quero expressar duas conclusões. A primeira é que um país com consumos reduzidos de jornais diários (não incluo os de desporto) indica fracos níveis de leitura e, mesmo, de competências científicas. A queda contínua de vendas vem comprovar que nem elites, gestores e quadros técnicos se aguentam na aquisição constante de jornais. Sem estes, a formação de conhecimento do que se passa cá dentro e no estrangeiro e a permanência de uma opinião pública que se quer livre e forte não passam de questões teóricas em que nos envolvemos como cidadãos. Se não lemos, não sabemos e não decidimos.
A segunda é que, como mostram as duas notícias que servem de pretexto para esta mensagem, os jornais têm de estar atentos ao modo como se redigem as peças, para evitar comparações deste tipo. Sem conterem mentiras, elas são (podem ser) tendenciosas, pois veiculam expectativas negadas parcialmente nos quadros. Uma subida esconde uma queda, pelo que deveria haver a assunção desse movimento duplo.
quinta-feira, 28 de setembro de 2006
Como aqui já anunciara, foi hoje lançado o livro Ecos da lusofonia. 7 anos de rádios em cooperação, uma edição da Fundação Evangelização e Culturas e organizado por Adelaide Elias e Sandra Lemos.
Escreve Marcelo Rebelo de Sousa no prefácio: "Juntar o desígnio evangelizador, pela comunicação social, à exigência da lusofonia global - eis o que levou a ONGD chamada Fundação Evangelização e Culturas (FEC), criada pela Igreja Católica Portuguesa, a lançar, com a Rádio Renascença, o programa de rádio Igreja Lusófona. Em 1999".
No presente momento, há mais de 350 edições, com retransmissão ou colaboração de muitas rádios nos vários países africanos de língua portuguesa e ainda nos Estados Unidos e Timor-Leste.
O livro contém algumas das mais importantes entrevistas que passaram no programa. Num dos capítulos do livro, o blogueiro deu um pequeno contributo, escrevendo um texto sobre a rádio em Portugal e a sua aproximação ao local; dois seus amigos fizeram-no sobre a realidade africana: o padre José Luzia sobre Moçambique e o frei António Estevão sobre Angola.
[no pequeno vídeo, Jorge Líbano Monteiro, administrador executivo da Fundação, explica a importância do programa]
HERMAN E SIC MULHER
Não sei mais nada para além do que as notícias indicam, mas parecem-me duas boas decisões do director de programas da SIC. Atá há muito pouco tempo, ambos (autor/actor e canal) pareciam condenados a desaparecer.
A notícia de assinatura de novo contrato com Herman José merece muito destaque dos jornais de referência de hoje. Particularmente feliz é a infografia do Diário de Notícias, onde se dá conta da queda de popularidade do presente programa de Herman, quer em termos de rating (audiência média, que começara em 15,2% e anda nos 3,5%, sete anos depois do arranque) e de share (de 49,6% para 23,3%).
quarta-feira, 27 de setembro de 2006
CONCURSO FOTOGRÁFICO PARA JOVENS DE LISBOA E BREMEN
Para todos os que têm entre 16 e 30 anos.
O tema é Eu amo Lisboa. O suporte é o fotográfico. Data de envio: 30 de Novembro.
Mais informações: www.lisboa-bremen.eu.
De 20 a 22 de Outubro (sexta a domingo), no Museu do Trajo, em S. Brás de Alportel.
Temas mais fortes: acção museal: participação e voluntariado; museus, comunidades e saberes. Destaque ainda para a visita à rota da cortiça.
Para inscrição e mais pormenores, contactar o email museu.trajoalgarve@clix.pt.
Ontem, decorreu o segundo dia do simpósio sobre a guerra civil de Espanha, como tenho publicitado. Os vídeos representam parcelas das comunicações de José Miguel Sardica e José Pacheco Pereira [se os vídeos "encravarem", por falta de largura de banda adequada, não desista, por favor, e continue a ver].
No seu sítio, Sofia Dias convida a ver as suas imagens e as capas que produziu para a le cool magazine (21 e 28 de Setembro).
Sofia Dias tem (e teve) os seguintes clientes: 1) Portugal - Moda Lisboa; Amo.te; Stock-Market; Expresso; Visão; Silva Designers!; Agenda Cultural CML; JN; JN Negócios; DNA; Cosmopolitan; Difference; Carteira; OMNI; Grande Reportagem; Máxima; Dance Club; SUSDesign; 2) França - Livre de Poche; Gloss; Colorado; Krys.
A le cool magazine é uma "revista semanal grátis, que apresenta uma selecção de concertos, d.j. sets, exposições, exibições de filmes antigos, peças de teatro e uma série de outros eventos culturais e de entretenimento".
terça-feira, 26 de setembro de 2006
[por lentidão no alojamento de imagens e desligamento do www.blogger.com (incrível pouca largura de banda, presumo), é-me impossível colocar mais informações sobre o dia de hoje do simpósio que decorreu sob este tema. Procurarei remediar nos próximos dias esta dificuldade]
segunda-feira, 25 de setembro de 2006
Conforme escrevi aqui, hoje e amanhã decorre o simpósio sobre a Guerra Civil em Espanha: cruzando fronteiras 70 anos depois.
Nas sessões da manhã, falaram Paul Preston (London School of Economics and Political Science), sobre La guerra civil española vista desde 2006, e Jorge Fazenda Lourenço (Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica), sobre Jorge de Sena e a Guerra Civil de Espanha.
Já de tarde, apresentaram comunicações Ana Paula Rias (Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica), sobre A iconografia do período 1936-39 na revista Crónica de la Guerra Española, Paloma Esteban (Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía), com O Guernica e a influência da guerra em Pablo Picasso, Carlos Cecília (escritor e jornalista), com La edad de oro de los corresponsales de guerra, e José María Ridao (escritor e comentarista), sobre George Orwell y a Guerra de España.
[nas fotografias, imagens das duas mesas iniciais; nos vídeos, parcelas das intervenções de Paul Preston, Jorge Fazenda Lourenço e José María Ridao]
Alguns eventos para esta semana:
1) dias 25 e 26 - simpósio Guerra Civil de Espanha: cruzando fronteiras 70 anos depois, organizado pela Universidade Católica e Instituto Cervantes, a decorrer nas duas instituições.
2) dia 26 - conferência Equipamentos desportivos e culturais: a gestão empresarial, a decorrer no Auditório Municipal Eunice Muñoz (Oeiras).
3) dia 26, às 18:00, na sala 1 da Fundação Calouste Gulbenkian - apresentação do livro de Gustavo Cardoso Os media na sociedade em rede, por António José Teixeira e José Alberto Carvalho.
4) dia 28, às 18:30, no Auditório da Rádio Renascença (Rua Ivens, 14, em Lisboa) - lançamento do livro Ecos da Lusofonia – 7 anos de rádios em cooperação.
5) dia 29, no auditório Carlos Paredes, em Vila Nova de Paiva - seminário Digital divider ou a acessibilidade a serviços culturais na sociedade da informação (na imagem, indicação do projecto Literacia digital sem fronteiras) (para mais informações: bmar@cm-vilanovadepaiva.pt).
domingo, 24 de setembro de 2006
Luís Trindade fez publicar agora um livro-álbum intitulado 1ªs páginas. O século XX nos jornais portugueses.
Para além de um texto de introdução, o autor olha alguns dos acontecimentos marcantes do século XX português através das primeiras páginas dos jornais mais importantes ao longo do período. A introdução ("Olhar os jornais, o olhar dos jornais") identifica a postura do historiador dos media: ele enuncia o jornalismo informativo como uma nova forma de fazer jornalismo desde os dinais do século XIX, mormente a partir do ultimato de 1890 (quando começa o novo século político, 26 anos após o nascimento do Diário de Notícias, dez anos após o surgimento do Século, os dois principais periódicos nacionais, melhor designados de jornais de referência).
Jornalismo informativo ou "novo noticiário universal", apto a ser lido por uma sociedade mais moderna, com mais gente alfabetizada e a trabalhar nos serviços e a viver na grande cidade, era, por outro lado, um jornal feito por todos, um espelho do quotidiano, como nos esclarece Luís Trindade (p. 12). De que a edição inicial do Diário de Notícias nos dá conta, com uma narrativa homogeneizadora, desfrutada por uma nova entidade abstracta, o público, que, assim, obtinha a "verdadeira interpretação dos factos" (p. 16).
Numa análise estruturalista e que combina interesses específicos do autor, Luís Trindade apresenta o jornal do dealbar do século XX como tendo três áreas fundamentais: 1) noticiário, que ocupava a primeira e segunda páginas, 2) folhetim, em capítulos diários, colocado no final da primeira página, 3) publicidade, que preenchia as duas últimas de quatro páginas dos jornais de então (p. 21). Para justificar esta divisão, o autor socorre-se do que o Século escreveu no primeiro dia de 1901: "O Século entra hoje no seu 21º ano de publicidade" (p. 23).
Dos acontecimentos seleccionados (cronologia nas pp. 215-219), separo os de 1908 (regicídio de D. Carlos I e princípe herdeiro), 1917 e 1918 (partida do Corpo Expedicionário português para a frente da batalha da I Guerra Mundial, golpe e assassinato de Sidónio Pais, aparições em Fátima), 1926 (golpe de Estado e ditadura), 1936 (X aniversário da ditadura e começo da Guerra Civil de Espanha), 1961 (tomada do navio Santa Maria por Henrique Galvão, que passara de colaborador a opositor do regime, início da guerra colonial, golpe de Botelho Moniz e tomada de Goa e outros territórios portugueses pela União Indiana), 1974 (golpe de estado que derrubou a ditadura) e 1999 (eleições e massacre em Timor-Leste).
O livro, como indica o autor na introdução, é um assumir de acontecimentos marcadamente políticos, com apresentação das primeiras páginas dos jornais. Há uma personalidade central retratada: Salazar, o político que comandou os destinos do país desde finais dos anos de 1920 até 1968. Com a possível oposição: Norton de Matos em 1949 (p. 112) e Humberto Delgado em 1958 (p. 128). Em que os jornais se identificam com três orientações políticas e ideológicas - jornalismo apologético do regime (Diário da Manhã), jornalismo de referência (Diário de Notícias, O Século) e jornalismo oposicionista (República) (p. 76). O autor avalia ainda a importância de capas em jornais mais antigos, como A Voz e As Novidades, jornais menos antigos mas que também já desapareceram, como Diário Popular, Diário de Lisboa e Jornal Novo e, dos mais recentes, Correio da Manhã e Público (e do ainda existente Jornal de Notícias).
Para além das reflexões do texto suculento mas breve que ocupa a parte inicial deste magnífico livro-álbum, e acima descritas, a tecnologia e o modo de usar as primeiras páginas são algumas outras perspectivas. Para o autor, "A veêmencia dos seus títulos e imagens dramatiza, todos os dias, o quotidiano" (p. 28). A proposta editorial de Luís Trindade é dupla: 1) vê o século XX em Portugal por intermédio de alguns acontecimentos políticos mais marcantes, 2) o que os jornais deram (ou não deram) aos seus leitores. Esta é a vantagem do livro - ser muito claro e conciso mas profundo no que estuda - e a sua falha - a ausência de uma leitura mais prolongada dos fios que aqui deixa impressos, pelo que se pede ao autor mais elaboração e continuidade da matéria. Falta a análise a jornais importantes para além do Diário de Notícias e O Século.
Luís Trindade é investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, onde se doutorou este ano com a tese O estranho caso do nacionalismo português. O salazarismo entre a literatura e a política. Publicou O espírito do Diabo. Discursos e posições intelectuais no semanário O Diabo, 1934-1940 (Campo das Letras, 2004) e O terceiro português - fotobiografia de António Silva (Círculo de Leitores, 2002). Irá publicar nesta última editora O Vasco - fotobiografia de Vasco Santana. No final do ano passado, coordenou, juntamente com António Pedro Pitta, o volume Transformações estruturais do campo cultural português. E, com o mesmo autor, coordenou o seminário de Cultura de massas em Portugal no século XX (realizado na Universidade Nova de Lisboa), preparando uma nova série a começar em finais de Outubro próximo [recupero um vídeo em que Luís Trindade destaca a importância deste seminário, em mensagem que coloquei a 3 de Abril último, como se vê em baixo]. Presentemente, Luís Trindade está a fazer pesquisa para um pós-doutoramento na École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris.
O livro 1ªs páginas. O século XX nos jornais portugueses é editado pela Tinta-da-China, tem 224 páginas e custa €44.
Hoje, as edições do Diário de Notícias e Público oferecem variações interessantes sobre as novas ferramentas da internet, sinal da importância das novas potencialidades do meio electrónico.
No Diário de Notícias, Nuno Galopim, Tiago Pereira e Davide Pinheiro - que escrevem com muita assiduidade no suplemento "6ª" - debruçam-se sobre as potencialidades das compras online de música, filmes e jogos por download. Especialista em música, Galopim, no começo do seu texto, pergunta: "Música vendida (ou oferecida) directamente do criador ao consumidor, sem editora envolvida? Um canal de televisão inventado e gerido por nós mesmos"? Claro, o Youtube aparece destacado (uma página), mas também há muito espaço para a música (Arctic Monkeys, Clap Your Hand Say Yeah, Gnarls Barkley), o MySpace e os equipamentos de leitura.
De novo, Nuno Galopim, em coluna designada "O novo mundo", escreve: "A cada mês que passa, a impressão de que as estruturas convencionais da indústria discográfica estão por um fio torna-se mais evidente". O jornalista enumera os erros - peso estático da indústria perante a revolução digital, preços muito elevados, reedições, edições de lixo e problemas de pirataria. O caminho do futuro, ainda conforme o mesmo articulista, é a "correcta gestão entre a oferta de uns ficheiros e a venda de outros", através da internet.
E Galopim aponta o acordo, na semana que acabou ontem, entre a Warner a o Youtube (do problema dos direitos de autor à disponibilização de catálogos de vídeos de bandas), assunto central nas peças escritas por João Pedro Pereira, Pedro Ribeiro e Joana Gorjão Henriques, no Público. Aliás, o destaque deste jornal é mesmo "Youtube. Quando o pequeno ecrã é o do computador". E o lead é" Numa altura em que os conteúdos audiovisuais na internet começam a fazer concorrência à televisão, uma pequena empresa está à frente dos gigantes on-line".
O texto de abertura do destaque do jornal, de autoria de João Pedro Pereira, tem este princípio: "Partilham-se filmes caseiros, vídeos de música amadores, excertos de programas televisivos, imagens de pequenos e grandes eventos - basicamente tudo o que possa ser gravado e convertido em formato digital. O Youtube é o destino preferido dos cibernautas que procuram conteúdos audiovisuais e é um dos sites que mais cresceu em todo o mundo no último ano".
Na outra página do Público, vem uma referência que responsabiliza este blogueiro, o do uso do Youtube como ferramenta para a sala de aulas [clicar na imagem para aumentar a dimensão]. É uma ideia-compromisso em que estou envolvido, experiência que quero ver coroada de êxito.
sábado, 23 de setembro de 2006
Lyon é uma cidade com muitas lojas, nomeadamente de moda (complemento do postal de 17 de Setembro).
sexta-feira, 22 de setembro de 2006
Chegou-me, há escassos minutos, um trabalho com este título, de Sandra Amaral, Gustavo Cardoso e Rita Espanha, do Obercom.
Com a dimensão de 43 páginas, o documento (working report) apresenta como uma das principais conclusões a constatação da cultura organizacional favorável ao uso da internet no contexto radiofónico. Essa cultura manifesta-se no objectivo de ampliação da participação dos ouvintes, na multiplicação de plataformas de acesso à informação, nas rupturas de carácter funcional e conceptual necessárias para transformar o modelo de rádio e na percepção por parte dos profissionais dos obstáculos (sociais, culturais e financeiros) que se deparam à rádio no curto e médio prazo.
Ver mais elementos do estudo aqui. Para Sandra Amaral, Gustavo Cardoso e Rita Espanha,
- a RR optou por uma maior estabilidade dos modelos enquanto a TSF explorou mais as possibilidades oferecidas pela multimedialidade, hipertextualidade e interactividade. [...] No caso da TSF o objectivo é o de assegurar, no grupo de media a que pertence, a presença de referência na Internet. Ou seja, quem consome produtos como o JN, DN, 24Horas e procurar um maior aprofundamento noticioso pode fazê-lo através do serviço disponibilizado pela TSF na Internet. Já a Rádio Renascença usa o seu site rr.pt com o objectivo de complementar a dimensão informativa já presente nos seus noticiários e programas e aumentar a sua notoriedade informativa junto dos ouvintes através do uso do on-line. Quanto às três rádios de entretenimento portuguesas analisadas (RFM, Antena 3 e Rádio Comercial) é visível um esforço notável de potenciar diversas formas/ferramentas de interactividade, sob a lógica da complementaridade entre o site e a emissão off-line, numa clara estratégia de fidelização de um público jovem já familiarizado com as novas tecnologias da informação e da comunicação e, por isso mesmo, mais susceptível de aderir a novos formatos e modelos de comunicação.
Escrevem os autores que a rádio é o meio que, em Portugal, melhor explorou as potencialidades da internet.
Ler os suplementos do Público ("Mil Folhas" e "Y") e Diário de Notícias ("6ª") é o melhor que os jornais têm às sextas-feiras (agora que o Público ajustou o dia de saída desses suplementos). Fica-se cheio de boas coisas: literatura, cinema, música, livros. Hoje, está-se no pleno de tal satisfação.
Para ser mais claro, começo pelo texto de Eduardo Prado Coelho (EPC), no suplemento "Mil Folhas"). Agora que se fala na morte dos jornais, ele propõe a reflexão sobre a morte da televisão, convocando um livro de Jean-Louis Missika (La fin de la télévision). E cito EPC que cita Missika: "A televisão é um meio de difusão de conteúdos vídeo, controlado por sociedades públicas ou privadas, titulares de licenças de difusão concedidas por uma autoridade pública, comprando direitos de difusão ou produzindo programas, e destinando estes programas para um público definido. Este trabalho de produção, reunião e difusão, conduzido por profissionais, é remunerado seja pela publicidade, seja pela taxa de televisão, seja por asinatura". E EPC passa por Umberto Eco, que, há muito e com muita felicidade, designou a evolução da televisão em três fases: 1) paleo-televisão, ou tempo da televisão pública e da legitimidade pública, 2) neo-televisão, ou tempo da televisão por cabo e da fragmentação de públicos, 3) pós-televisão, que o autor remete para artigo próximo.
Depois, salta-se para a "6ª". Num sítio, João Lopes escreve sobre a edição de Agosto da Interview, com a música a dominar. A revista fez "uma visita guiada ao universo de alguns nomes em ascensão", como Scissor Sisters, mas também reinventando nomes como Patti Smith. E, umas páginas à frente, com leitura sempre muito luminosa, aparece Portugal na primeira página, sobre um livro de Luís Trindade (1ªs páginas. O século XX nos jornais portugueses), peça assinada por João Morgado Fernandes. Livro de leitura dupla, é-nos dito: 1) história quase tradicional, cronológica, 2) história dos media, pois as primeiras páginas mostram a evolução dos processos narrativos e gráficos.
O Quorum Ballet vai apresentar o programa 5 Peças de Daniel Cardoso no Centro Cultural de Campo Maior (30 de Setembro) e no Largo do Camões, em Lisboa (1 Outubro). Elas são Dueto, às 19:00, e Getting Up, Kismet, From the Deep e No Começo, às 20:00.
Segundo informação disponível no sítio do Quorum Ballet.com, esta é
- "uma companhia de dança recentemente criada em Lisboa, totalmente virada para a dança contemporânea no que ela tem de mais actual. A criação desta companhia partiu da iniciativa e paixão pela dança do casal de bailarinos Daniel Cardoso e Theresa Da Silva Cardoso, que atingiram já um nível de profissionalismo e perfeição técnica e artística - integraram companhias como Martha Graham Dance Company, Donald Byrd/The Group, NY., Teatro Municipal do Rio de Janeiro e Peter Schaufuss Ballet, Dinamarca - nível esse responsável pelo prestígio amplamente reconhecido em Portugal e no estrangeiro. O Quorum Ballet é presentemente composto por 6 a 8 bailarinos, alguns dos quais oriundos do extinto Ballet Gulbenkian".
Chama-se Nathalie (não diz o nome de família e admite ser mais velha do que as fotografias mostram), mora na Nova Inglaterra (Estados Unidos) e tem o blogue Mini-Obs.
Pelas mesmas fotografias, parece ser uma coach potatoe, daquele tipo de pessoas que começa e acaba o dia a ver televisão. Critica programas e talk shows de um modo divertido. É isso, faz um blogue divertido. E tem umas cores muito "pró-metálica", que lhe deve vir do culto da música.
Aliás, o seu grande hóbi é música. Pelo menos é o que deixou transparecer na mensagem do dia 19 do corrente: "Alguém tem memórias associadas à rádio? Claro. Quando ouvia a rádio da escola Franklin & Marshall conheci Bowie. E na rádio da escola de Ohio State descobri os R.E.M., no começo dos anos 80. E também me lembro de, quando em criança, ouvir a WBZ (Boston) à noite, quando era suposto estar a dormir. Ouvia ainda a WOWO (Ft. Wayne IN) e a WLS (Chicago.) Cantava com a rádio quando devia estar a dormir"! E, depois, pergunta: "Gosta de ouvir rádio? Se sim, porquê? E porque não"?
Afinal, o seu blogue trata de mini-obsessões!
quinta-feira, 21 de setembro de 2006
Luísa Ribeiro defendeu dissertação de mestrado na Universidade do Minho, com o título O poder dos meios - análise das condições de produção jornalística no Correio do Minho e no Diário do Minho.
O trabalho, um contributo para o estudo da imprensa regional, procura entender o modo como os meios materiais e humanos influenciam a agenda dos jornais, numa altura em que, do lado das fontes de informação, há uma crescente profissionalização.
A autora, que é jornalista profissional em Braga, conclui que os dois diários têm linhas editoriais diferentes e possuem estruturas empresariais diferentes, mas apostam igualmente na criação de condições de modernização e boa performance junto dos seus leitores, anunciantes e trabalhadores. Profissionalização e parcerias estratégicas são duas posturas comuns a ambos os jornais. A divisão por editorias no Correio do Minho e a redacção como um todo, mais centralizada, no Diário do Minho, a relação entre jornalistas e fontes (a que Luísa Ribeiro dedicou bastante espaço) e o acesso de pessoas não conhecidas à primeira página dos jornais foram alguns dos temas investigados.
Com base em inquérito, a autora conclui que 83% dos jornalistas daqueles diários de Braga têm formação universitária e 47,82% do total ganha entre 750 e 1000 euros. Dada a proximidade entre redacção e meio residencial reportado há, simultaneamente, maior conhecimento da realidade e maior constrangimento (todos conhecem todos).
Quanto a edição, o Correio do Minho tem 10 mil exemplares diários mais 3500 em assinaturas, enquanto o Diário do Minho publica 9 mil exemplares e 4600 em assinatura. O primeiro jornal tem 17 jornalistas e o segundo um corpo de 44 funcionários (jornal e gráfica), além de outros 20 colaboradores na agência de publicidade própria.
Em termos de metodologia, a investigadora analisou as primeiras páginas dos dois jornais (313 chamadas em 32 edições, de 1 de Maio a 1 de Junho de 2005) e inquiriu 36 jornalistas (obtendo 23 respostas, ou 63,88%).
Por curiosidade, retiro do livro de Ana Cabrera muito recentemente editado (Marcello Caetano: poder e imprensa), alguns dados respeitantes aos jornais minhotos de um período bem mais antigo do que o estudado por Luísa Ribeiro. Assim, em 1974, o Diário do Minho tinha seis jornalistas e o Correio do Minho apenas um, ilustrando recursos humanos muito fracos (página 147). E, quanto a salários, nos então designados jornais locais Correio do Minho e Diário do Minho, pelo ACT de 1961 um chefe de redacção ganhava 29,5% do seu colega de um jornal de grande expansão como o Diário de Notícias ou o Século. Já um redactor em Braga auferia 33% do salário de um colega exercendo as mesmas funções em Lisboa (página 152). Não sei como é hoje, mas não haverá uma diferença tão acentuada, sinal da prosperidade económica e cultural das cidades e das regiões e da independência dos media de proximidade.
quarta-feira, 20 de setembro de 2006
Trata-se de um documento do Instituto para a Qualidade na Formação, com data de Junho último, e com coordenação técnica de Pedro Correia dos Santos e Sandra Lameira, seguindo a esteira de outros estudos sectoriais.
Ainda não tive tempo de ler convenientemente o trabalho. Mas posso adiantar as linhas gerais do que me foi permitido ver. Se o modelo inicial pressupõe três grandes sectores abordados - telecomunicações, sistemas de informação e indústrias de conteúdo -, apenas o último é analisado, no texto apresentado como cluster das indústrias de conteúdo, que explicita "melhor as características identificadoras de sistemas produtivos originalmente (ou convencionalmente) diferenciados, a que se associam áreas profissionais próprias".
Dentro do sector das indústrias de conteúdos, encontram-se a imprensa, rádio, multimedia convencional (televisão, cinema e audiovisual) e multimedia interactivo (pp. 12-13). Mas, mais à frente, a indústria do livro também é analisada. A partir da caracterização das estratégias empresariais, o documento mostra a evolução dos empregos, das qualificações e das competências, bem como faz o diagnóstico das necessidades de formação e pistas para a reorientação da formação profissional. No caso da formação, o estudo dedica particular atenção à formação inicial (universitário, profissional e tecnológico) e contínua.
A radiografia do sector em termos de formação deve ser bem lida, coisa que não tive tempo de fazer. Mas retiro as seguintes ideias: grande peso dos cursos de ciências da comunicação, crescimento previsto nas áreas de linguística, línguas, tradução e interpretação, audiovisual, multimedia e interactividade e design, design de comunicação e comunicação gráfica (p. 128).
terça-feira, 19 de setembro de 2006
É o Bibliotecas em Portugal. Só em categorias, estamos num vasto domínio: Acontecimentos, Actividades de Animação, Divulgação e Marketing, Exposições, Encontros com Autores, Bibliotecas Digitais e Virtuais, Bibliotecas e Sociedade, Biblioteca Nacional, Conferências, Congressos e Afins, Ensino & Formação, Eventos, Fontes de Informação, Geral, Informática e Bibliotecas, Livros e Leitura, Preservação e Restauro, Subsídios para a História, Tratamento Técnico e Documental e Bibliotecas Itinerantes, de Praia, Jardim, Piscina e afins.
Os animadores são: Fernando Vilarinho, José Pedro Silva e Olga Ferreira. A pesquisar e passar a palavra.
Está anunciado aqui na coluna direita, mas convém relembrar neste lado do blogue: o simpósio sobre a Guerra Civil de Espanha: cruzando fronteiras 70 anos depois.
O encontro, que decorre nas próximas segunda e terça- feiras, dias 25 (Universidade Católica) e 26 (Instituto Cervantes), tem "por finalidade revisitar e analisar um momento da maior importância histórica que, em certa medida, implica não só a história trágica da Espanha no século XX, como também a de toda a Península". Lê-se ainda no desdobrável que publicita o simpósio: "É fundamental tentar compreender a influência da Guerra Civil de Espanha na política, na sociedade e na cultura portuguesas, tendo em consideração que Lisboa representa talvez a mais activa retaguarda dos acontecimentos. Isto obriga a uma avaliação transversal da história peninsular contemporânea que transcenda os limites das fronteiras políticas dos dois Estados".
Da comissão organizadora da Universidade Católica fazem parte os professores e investigadores Jorge Fazenda Lourenço e Inês Vieira. A comissão organizadora inclui ainda elementos da Área da Cultura do Instituto Cervantes de Lisboa.
Entretanto, o jornal El Mundo (Madrid) começou, a partir de 10 de Setembro, a publicar a história do franquismo em 37 volumes (com 212 páginas cada) a sair ao domingo, do final da Guerra Civil (1939) até ao advento da democracia (1976), quando agora se comemoram 30 anos do novo regime político. Para além dos livros, o jornal edita, em DVD, as melhores imagens do NO-DO (Noticiários Documentais Cinematográficos) e de outros arquivos importantes.
Segundo a informação de promoção das obras do El Mundo, o leitor encontrará a política do regime franquista e a da oposição, além da vida quotidiana de milhares de espanhóis que sofreram fome e repressão pós-guerra, que passaram da miséria do leite em pó para o expansionismo económico chegado nos anos de 1960 com o turismo e o desenvolvimento industrial.
Os anos agora retratados trazem à memória triunfos desportivos (ciclista Frederico Bahamontes, taças dos campeões europeus de futebol do Real Madrid), êxitos musicais (Massiel na Eurovisão, Concha Velasco e as meninas ye-ye), o surgimento da televisão, os anúncios do Cola-Cao, as páginas do Coyote e a expansão do parque automobilístico com os Seat 600 e 1500.
segunda-feira, 18 de setembro de 2006
Dos blogues que escrevem sobre rádio e que consulto habitualmente - A Rádio em Portugal, NetFM, Blogouve-se, Rádio e Jornalismo e A nossa rádio - nenhum ainda se debruçou sobre o programa do provedor do ouvinte da rádio pública emitido ontem. Espero ler os contributos destes colegas que, espalhados pelo país, escrevem sobre um dos meios de comunicação mais importantes: a rádio.
Da minha parte, e do que ouvi, achei a intervenção de José Nuno Martins muito equilibrada, num raro exercício de pedagogia: número de cartas (ou emails) enviados, sua distribuição pelos canais (o maior volume foi para a Antena 1 e os critérios musicais de alguns animadores de programas), excertos das cartas e comentários assertivos do provedor. Retive as palavras sobre a Antena 2, com críticas à programação menos clássica. O nome de João de Almeida foi referido como responsável pelas alterações sentidas na antena desde algum tempo atrás. Nuno Martins apelou a uma mistura entre o clássico (a música clássica) e as novas expressões (experimentalismo, outras correntes musicais). Para ele, se se quer conquistar públicos há que saber dosear a novidade com a tradição.
Para a próxima semana, José Nuno Martins debruçar-se-á especificamente sobre a Antena 3.
L'industrie des médias é o título do livro de Jean Gabszewicz e Nathalie Sonnac, editado este ano no mercado francês (La Découverte, com 121 páginas).
O livro representa um contributo que privilegia a economia industrial e inclui elementos essenciais do mercado dos media, que os autores distinguem das outras indústrias, como a química ou a automobilística. Além disso, olham a componente pública do conteúdo mediático e a estrutura dual do mercado (preço por bem cultural e financiamento publicitário). Na obra, observa-se a interacção entre o mercado dos media e da publicidade, a sua incidência nos conteúdos mediáticos, a análise da concentração do sector e as suas consequências ao nível da diversidade e regulamentação.
Com seis capítulos, destaco o segundo, a oferta dos produtos mediáticos. Escrito em linguagem económica, os autores abordam o custo da produção dos media, a dimensão mínima eficiente nos emdia escritos (comparando os diários e as revistas), o custo da distribuição das publicações, o custo da programação e as receitas. Quanto a custos de programação, Gabszewicz e Sonnac avaliam a estratégia de receitas: se se tem assegurada uma grande audiência, os canais antecipam receitas publicitárias importantes, com uma parte substancial a ser consagrada à concepção da grelha de programas (p. 24). Por outro lado, a estratégia de custos é a seguida pelos canais de menor audiência.
Se nos media impressos, a dimensão mínima depende directamente da venda aos leitores e aos anunciantes, os media audiovisuais dependem das receitas publicitárias (e das assinaturas, caso do cabo e do satélite). A internalização e a externalização de produção constituem outras matéria bem estudada pelos dois autores.
Para quem queira conhecer o mercado francês dos media, o capítulo 4 (pp. 56-75) tem informação actualizada. Já o capítulo 1 traz definições económicas de produto mediático, com distinção entre notícia (news) e publicidade, diferenciação entre bem tutelar (o Estado como proprietário) e bem público (apesar da economia de mercado, tem de privilegiar o pluralismo). A regulamentação e desregulamentação, características económicas e jurídicas, assumidas nos vinte anos mais recentes, ocupam o capítulo 6 (pp. 95-112).
Finalmente, as práticas culturais (os seus consumos), um dos temas mais caros aqui no blogue, têm também espaço adequado no livro (pp. 35-45).
domingo, 17 de setembro de 2006
Os filmes Voltar, de Pedro Almodóvar, e Paraíso, agora, de Hany Abu-Assad, não têm semelhanças de conteúdo. A única aproximação possível é a do blogueiro os ter vistos um a seguir ao outro.
Há, contudo, uma ligação: o papel representado pelas mulheres. No filme de Almodóvar, o universo é feminino, com os homens a surgirem apenas como procriadores. Os problemas resolvem-se no seio das mulheres, a entreajuda processa-se entre elas, o "lavar a roupa suja" faz-se dentro de casa. A morte, a alegria, o trabalho, o reencontro, toda a vida, ocorrem no mundo feminino.
Quanto ao filme de Abu-Assad, a mulher chama a atenção dos homens prontos para o martírio (suicidas), propondo uma alternativa. Apesar de não ser escutada pelo homem que ama, levanta questões, tem uma posição de melhor bom senso.
Gostei imenso dos planos iniciais do filme de Almodóvar, quando as mulheres lavam e limpam as campas dos seus mortos e, até, as dos que ainda não morreram mas já reservaram espaço. Parece teatro ou ópera, tem a luz forte de um dia muito luminoso, conjugado com o vento, e a azáfama e as conversas das mulheres preparam o espectador.
Já no filme de Abu-Assad, quando os dois jovens amigos estão a fumar num cachimbo de água e bebem chá, olhando a cidade a uma luz de fim de tarde, também muito luminosa, percebe-se o curto espaço de liberdade e de imaginação que lhes resta. Se as mulheres de Almodóvar actuam, mesmo cuidando dos desaparecidos, os jovens de Abu-Assad olham o indefinido à espera da morte (aparentemente gloriosa, com anjos à sua espera, como diz o professor-ideólogo num primeiro momento de descrença do martírio).
LYON
Gosto muito de cidades banhadas por rios, como Porto, Lisboa, Paris, Londres, Nova Iorque, Praga, Florença, Saragoça. Mas também as banhadas pelo mar, como Porto, Barcelona, Luanda, para falar de cidades que conheço.
Lyon é das cidades banhadas por rio, não por um mas sim dois, o Rhône e o Saône, o que a torna ainda mais bonita. Quem a vê do alto, de um avião voando muito alto, fica deslumbrado com as curvas dos rios e o casario a acompanhá-los. Mas, cá em baixo, a cidade ainda é mais agradável.
Trata-se de uma cidade antiga. Do lado do rio Saône, a velha Lyon reflecte o esplendor dos séculos XV e XVI, uma das maiores áreas renascentistas da Europa e bastante bem conservada. Possui três bairros, Saint-Georges, Saint-Paul e Saint-Jean, onde se ergue a catedral, vinda de mais atrás no tempo (1180-1480), edifício de transição para a arquitectura gótica.
A praça Bellecour, anteriormente chamada Praça Real, fica no centro da península formada pelos rios Rhône e Saône. De grande dimensão possui no seu meio a estátua do rei Luís XIV, o Rei-Sol, de autoria de François Lemot. Dessa praça parte-se para a praça da Câmara Municipal, a Place des Terreaux, através de ruas como a da République e a do Président Edouard Herriot (antigo presidente de Câmara), onde existem muitas lojas de moda. Na praça Terreaux, a enorme fonte que se nos depara é do século XIX, uma obra de Bartholdi, o escultor da estátua da Liberdade em Nova Iorque.