No dia 20 de Julho último, escrevi aqui sobre a tese de doutoramento de Nelson Ribeiro, Radio broadcasting in Portugal during World War II, defendida na Universidade de Lincoln, no Reino Unido. Tive o grato prazer de ser membro do júri. Agora, houve a aprovação das amendments recomendadas no viva examination (exame). Naquele país, a defesa da tese de doutoramento não implica logo a aprovação; há sempre revisões a fazer, como gralhas ortográficas, falta de indicação de livros, erros de perspectiva. No caso, houve pequeníssimas correcções a fazer no trabalho. O júri era constituído pela professora Ann Gray, daquela universidade, pelo professor David Hendy, da Universidade de Westminster, e por este blogueiro.
Parabéns, Nelson. Esperamos a publicação da tese e mais trabalhos sobre a história da rádio e dos media.
Nelson Ribeiro é director de programas da Rádio Renascença e docente da Universidade Católica Portuguesa
Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
SOBRE A DIRECÇÃO DO JORNAL PÚBLICO
Na newsletter de ontem da Briefing, noticia-se que:
Paulo Ferreira segue as peugadas de outros jornalistas de peso do jornal, o último dos quais José Vítor Malheiro. José Manuel Fernandes, mesmo com a questão das "escutas" em Belém (hoje, volta a defender o que parece óbvio não poder defender), ao sair deixa um sentido de perda, pois os mais antigos do jornal estão a desaparecer, quando a comemoração dos vinte anos do jornal, a aproximar-se no tempo, deveria mostrar uma grande vitalidade do jornalismo de qualidade e de investigação. O jornal fragiliza-se, pois perde memória e respeitabilidade conferida pelos seus jornalistas. Aliás, a vida de uma democracia faz-se mais com jornais com força do que discursos frágeis e pretensas lutas entre órgãos de soberania que não interessam a ninguém. Há muitos anos que penso que o Público, e outros media, são um dos grandes garantes da democracia, mesmo que discorde do que os jornalistas A ou B escrevam.
Confesso que, quando se começou a falar da substituição do director, o nome que me veio à baila foi o de Miguel Gaspar, jornalista de provas dadas nomeadamente no Diário de Notícias e em especial na fase difícil de transição da direcção de António José Teixeira para a de João Marcelino. Gaspar é um jornalista que olha o mundo político e a cultura de modo independente e profundo, que coloca equações ao que analisa e não simples "acho que". Bárbara Reis tem a vantagem de ser mulher, quando os media são dominados pelo género masculino e isso não é bom. Ela fez um percurso interessante: correspondente do jornal em Nova Iorque, assessora de imprensa em Timor-Leste. Mas há uma questão de visibilidade pública e de margem de manobra face a problemas complicados dentro e fora do jornal. Por exemplo: para o leitor, não é importante reconhecer a anterior capacidade editorial do novo director? Vai haver refundação do jornal? Ou, se a Sonae decidir vender o jornal, a força simbólica do director não irá pesar?
- "Paulo Ferreira, actual editor-adjunto do jornal Público, vai para a RTP, confirmou o Briefing junto de fonte do canal público de televisão. A saída de Paulo Ferreira surge na sequência das noticiadas mexidas na direcção do jornal da Sonae, que irão resultar na saída da direcção de José Manuel Fernandes. José Manuel Fernandes sai da direcção do jornal Público a 16 de Outubro, sendo substituído pela jornalista Bárbara Reis".
Paulo Ferreira segue as peugadas de outros jornalistas de peso do jornal, o último dos quais José Vítor Malheiro. José Manuel Fernandes, mesmo com a questão das "escutas" em Belém (hoje, volta a defender o que parece óbvio não poder defender), ao sair deixa um sentido de perda, pois os mais antigos do jornal estão a desaparecer, quando a comemoração dos vinte anos do jornal, a aproximar-se no tempo, deveria mostrar uma grande vitalidade do jornalismo de qualidade e de investigação. O jornal fragiliza-se, pois perde memória e respeitabilidade conferida pelos seus jornalistas. Aliás, a vida de uma democracia faz-se mais com jornais com força do que discursos frágeis e pretensas lutas entre órgãos de soberania que não interessam a ninguém. Há muitos anos que penso que o Público, e outros media, são um dos grandes garantes da democracia, mesmo que discorde do que os jornalistas A ou B escrevam.
Confesso que, quando se começou a falar da substituição do director, o nome que me veio à baila foi o de Miguel Gaspar, jornalista de provas dadas nomeadamente no Diário de Notícias e em especial na fase difícil de transição da direcção de António José Teixeira para a de João Marcelino. Gaspar é um jornalista que olha o mundo político e a cultura de modo independente e profundo, que coloca equações ao que analisa e não simples "acho que". Bárbara Reis tem a vantagem de ser mulher, quando os media são dominados pelo género masculino e isso não é bom. Ela fez um percurso interessante: correspondente do jornal em Nova Iorque, assessora de imprensa em Timor-Leste. Mas há uma questão de visibilidade pública e de margem de manobra face a problemas complicados dentro e fora do jornal. Por exemplo: para o leitor, não é importante reconhecer a anterior capacidade editorial do novo director? Vai haver refundação do jornal? Ou, se a Sonae decidir vender o jornal, a força simbólica do director não irá pesar?
COMUNICACIÓN E CIDADANÍA
The Galician Media Monitor (Observatorio Galego dos Medios) of the Professional Association of Galician Journalists (Colexio Profesional de Xornalistas), associated with Media Watch Global and with the collaboration of the Cidacom (Cidadanía e Comunicación) research group of the University of Santiago de Compostela, is proud to announce that we are preparing a new number of Comunicación e Cidadanía. Revista Internacional de Xornalismo Social/Social Journalism International Review.
[Observatorio Galego dos Medios]
[Observatorio Galego dos Medios]
terça-feira, 29 de setembro de 2009
LEPANTO SEGUNDO CY TWOMBLY
A batalha de Lepanto (golfo de Patras, Grécia) teve lugar a 7 de Outubro de 1571, entre uma armada da Santa Aliança, com barcos de Espanha (que incluiam os territórios de Nápoles, Sicília e Sardenha), república de Veneza, Papado (Pio V), república de Génova, ducado de Sabóia e cavaleiros da ordem Hospitalar, e as tropas otomanas, com estas a sofrerem uma pesada derrota. Nos combates, o poeta de D. Quixote, Cervantes, ficaria gravemente ferido na mão esquerda.
Na bienal de Veneza de 2001, Cy Twombly, americano nascido em 1928 e radicado em Itália, apresentou a sua visão da batalha em doze telas gigantes. As suas obras misturam desenho e pintura, numa escrita caligráfica cheia de cores e possibilidade de múltiplas interpretações. Por isso, os barcos parecem fantasmas, as cores lembram o fogo e a luta. Mas também se lêem elementos de repetição, como se as tropas estivessem unidas ou em separação. A história do homem - feita permanentemente de aproximações e afastamentos, de coisas magníficas e horrendas, de encantamento e desgosto, de filosofia e acção animal - aparece ali naqueles quadros. Apesar da presença do abstracto na obra, descortinamos os barcos, as silhuetas dos soldados, o frente a frente dos barcos.
O Museum Brandhorst (Munique) tem uma magnífica colecção de arte, mas bastaria ver a bela e enorme sala com os quadros de Twombly para ficar extasiado. Vale a pena visitar o museu.
[imagem do interior do museu retirada do blogue Still Alive]
Na bienal de Veneza de 2001, Cy Twombly, americano nascido em 1928 e radicado em Itália, apresentou a sua visão da batalha em doze telas gigantes. As suas obras misturam desenho e pintura, numa escrita caligráfica cheia de cores e possibilidade de múltiplas interpretações. Por isso, os barcos parecem fantasmas, as cores lembram o fogo e a luta. Mas também se lêem elementos de repetição, como se as tropas estivessem unidas ou em separação. A história do homem - feita permanentemente de aproximações e afastamentos, de coisas magníficas e horrendas, de encantamento e desgosto, de filosofia e acção animal - aparece ali naqueles quadros. Apesar da presença do abstracto na obra, descortinamos os barcos, as silhuetas dos soldados, o frente a frente dos barcos.
O Museum Brandhorst (Munique) tem uma magnífica colecção de arte, mas bastaria ver a bela e enorme sala com os quadros de Twombly para ficar extasiado. Vale a pena visitar o museu.
[imagem do interior do museu retirada do blogue Still Alive]
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
REVISTA DE ARGUMENTISTAS E DRAMATURGOS
A DRAMA - revista de cinema e teatro, publicação da APAD - Associação Portuguesa de Argumentistas e Dramaturgos, já está online aqui. O tema do primeiro número é "Adaptação".
ESCRITA CRIATIVA
Workshop ESCRITA CRIATIVA. À descoberta da imaginação, de 13 de Outubro a 12 de Novembro (2ª e 4ª feiras), das 18:30 às 20:00, a partir dos 16 anos. Programa: Escrita Automática, Escrita Sensorial, Escrita a partir de objectos e condição Se, O conto - construção e análise de contos, Criação de uma história. Local: In Impetus, rua Pau da Bandeira, 50B (à Lapa), Lisboa. Contactos: Marta Amado (msb_amado@yahoo.com).
ONGOING COMPRA PARTE DA MEDIA CAPITAL
O blogueiro deixou escapar a história quase completa da TVI entre finais de Agosto e meados de Setembro. Moniz saiu de director-geral da TVI e foi para a Ongoing, a sua mulher deixou de apresentar o noticiário de sexta-feira.
Mas a Ongoing, como se previa, baralhou e voltou a dar de novo. Aí está a notícia, via Público: a compra de 35% da Media Capital, a que a TVI pertence, pela Ongoing. A Media Capital, segundo a vendedora Prisa, vale € 450 milhões; logo a Ongoing terá gasto € 157 milhões.
A esperar por mais desenvolvimentos.
Mas a Ongoing, como se previa, baralhou e voltou a dar de novo. Aí está a notícia, via Público: a compra de 35% da Media Capital, a que a TVI pertence, pela Ongoing. A Media Capital, segundo a vendedora Prisa, vale € 450 milhões; logo a Ongoing terá gasto € 157 milhões.
A esperar por mais desenvolvimentos.
domingo, 27 de setembro de 2009
A INTERNET SEGUNDO WALTER TEIXEIRA LIMA
Em recente congresso organizado pela Universidade Católica (Braga) sobre Comunicação, Cognição, Media, conheci Walter Teixeira Lima, docente da Faculdade Cásper Líbero, de São Paulo, Brasil. Jornalista, professor, investigador e coordenador da Rede de Pesquisa Aplicada Jornalismo e Tecnologias Digitais (JorTec), dentro da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPjor), foi editor-geral de Internet do Grupo A Tribuna de Santos, pioneiro no Brasil em conteúdos para a internet, editor de informática e assessor de imprensa da Universidade de São Paulo. Registei, num pequeno depoimento, algumas das suas ideias, que eu partilho na totalidade.
EXPOSIÇÃO MINIMALISTA
Encerrou hoje a exposição de Santiago Sierra no MARCO Museo de Arte Contemporánea de Vigo (Espanha). No sítio do museu, indica-se que o trabalho do artista se vincula a estruturas sociais ou políticas, no que questiona as relações de poder no âmbito artístico como no social. No meu entender, trata-se de uma instalação cuja relação com o social resulta ambígua e de fraco impacto cultural.
O museu inaugura, assim, um conjunto de exposições de carácter individual, mostrando artistas menos conhecidos na Galiza.
O museu inaugura, assim, um conjunto de exposições de carácter individual, mostrando artistas menos conhecidos na Galiza.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
COMENTÁRIO DE JOSÉ MANUEL FERNANDES AO MEU TEXTO DE ANTEONTEM
Do director do jornal Público, recebi ontem ao fim da noite o seguinte texto:
Gostava apenas de deixar alguns esclarecimentos factuais:
1. Não é verdade que a correspondência electrónica do provedor tivesse sido "vasculhada". A dele ou a de qualquer jornalista. Nem sequer que se tivesse procedido à detecção de envios ou reenvios de mails a partir da sua caixa de correio electrónica.
2. É verdade que estranhei que o jornalista tivesse falado ao telefone com o provedor pois este utiliza sempre o mail e, nessa semana, escreveu que eu não respondera a uma pergunta que me enviou por mail na sexta-feira à noite, mail que eu não vi mas para o qual me podia ter chamado a atenção, pois nunca antes tinha deixado de lhe responder.
3. O Público não tem nenhuma agenda política oculta. Basta pensar que a primeira notícia foi escrita por uma jornalista (São José Almeida) que tem uma coluna semanal de opinião no jornal que contrasta fortemente com as minhas opiniões. No que pensamos como cidadãos divergimos imenso, como jornalistas procuramos fazer o melhor.
Respeito as opiniões divergentes, mas acho importante que os factos sejam conhecidos.
José Manuel Fernandes
Gostava apenas de deixar alguns esclarecimentos factuais:
1. Não é verdade que a correspondência electrónica do provedor tivesse sido "vasculhada". A dele ou a de qualquer jornalista. Nem sequer que se tivesse procedido à detecção de envios ou reenvios de mails a partir da sua caixa de correio electrónica.
2. É verdade que estranhei que o jornalista tivesse falado ao telefone com o provedor pois este utiliza sempre o mail e, nessa semana, escreveu que eu não respondera a uma pergunta que me enviou por mail na sexta-feira à noite, mail que eu não vi mas para o qual me podia ter chamado a atenção, pois nunca antes tinha deixado de lhe responder.
3. O Público não tem nenhuma agenda política oculta. Basta pensar que a primeira notícia foi escrita por uma jornalista (São José Almeida) que tem uma coluna semanal de opinião no jornal que contrasta fortemente com as minhas opiniões. No que pensamos como cidadãos divergimos imenso, como jornalistas procuramos fazer o melhor.
Respeito as opiniões divergentes, mas acho importante que os factos sejam conhecidos.
José Manuel Fernandes
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
DANÇA
A POSIÇÃO DE BALSEMÃO
Estatuto do jornalista, lei da televisão, poderes da ERC, lei da concentração e concurso para o quinto canal - eis algumas das críticas de Francisco Pinto Balsemão ao governo, que considera ter seguido uma estratégia de enfraquecimento dos grupos privados. Em entrevista hoje ao Público, Balsemão é o fundador do Expresso e principal referência do grupo Impresa, dona da SIC e da Visão, entre outros activos.
domingo, 20 de setembro de 2009
A FORÇA DOS MEDIA
- As indústrias dos media são forças poderosas nas sociedades contemporâneas, e é essencial compreender como trabalham de modo a conhecer, agir e transformar o meio ambiente em que vivemos as nossas vidas. As indústrias dos media produzem entretenimento, notícias e informação; são empresas comerciais e crescem graças à publicidade, ajudando a reproduzir a sociedade de consumo. As indústrias dos media são uma força económica essencial, ajudando a gerir e promover a procura do consumo, a construir necessidades e fantasias através da publicidade e do entretenimento. Além disso, os media são instrumentos chave do poder político, constituindo um terreno no qual se travam as batalhas políticas e se fornecem instrumentos para a manipulação e domínio político.
UM DIRECTOR ACOSSADO
Mais uma interrupção na suspensão do blogue...
A questão das escutas surge dentro da campanha eleitoral. Já no começo de Agosto, o director-geral da TVI José Eduardo Moniz saira do canal e, no começo do presente mês, com igual ou maior estrondo, a mulher deste, Manuela Moura Guedes, vira cancelado o seu noticiário de sexta-feira, acusado de criticar o partido do governo, o PS. A oposição implicaria este partido de ser responsável pela saída de ambos e por, igualmente, criticar o director do Público. Não vou enunciar os pormenores pois eles são conhecidos por todos, mas procurar perceber outros contornos, o movimento de outros agentes.
As saídas do homem forte da TVI e da sua mulher (esta somente do programa) foram-no num momento errado, pois despertaram suspeitas de “asfixia democrática”, designação agora em voga, como se estivéssemos em regime de suspensão da opinião pública como no tempo de António Salazar. As saídas provocaram uma reacção no canal televisivo concorrente, a SIC, com as acções a valorizarem na bolsa. O programa diário do Gato Fedorento, com audiências à volta de dois milhões de espectadores, trouxe alegrias suplementares a um canal que estava em terceiro lugar, atrás mesmo do canal público. A simples recuperação financeira da SIC contra-indica a ideia de "asfixia". Os media, numa sociedade democrática, funcionam como pesos e contra-pesos; se a informação não sai num sítio, ela aparece noutro meio de comunicação. E criticar o governo (seja de direita ou de esquerda) é uma actividade que os media portugueses exercem visível e salutarmente há três décadas e meia, com mais ou menos rigor.
A situação interna na TVI parece caótica desde há muito tempo, pois os órgãos internos dos jornalistas não têm funcionado, como o sindicato dos Jornalistas referiu recentemente. O responsável principal do canal impunha uma ordem nas notícias não compaginável com a liberdade democrática, provocando fricções internas ou um desleixo face à objectividade noticiosa. A acusação de pressões por parte do proprietário do canal, o grupo espanhol Prisa, tem um forte peso na opinião pública, embora a economia do país vizinho esteja presente em muitos sectores, desde a gasolina a supermercados e marcas de vestuário, para referir três áreas de actividades.
A polémica entre Público e Diário de Notícias, para além do seu enfoque principal na política e na campanha eleitoral, não nos faz esquecer a luta entre os dois jornais pela venda de exemplares, numa época em que os jornais de papel estão em perda contínua de leitores. Ambos os jornais fizeram recentemente despedimentos por força do menor volume de vendas e menos publicidade, desviada para a televisão e para a internet. Sexta-feira deve ter sido um dia de vendas suplementares do Diário de Notícias – ou pelo menos foi um jornal muito citado nesse dia. Se o patrão do Diário de Notícias não se manifestou, o do Público disse estimar a liberdade do jornal, esperando ao mesmo tempo que venda mais exemplares. Mas não o ouvi aquando dos recentes despedimentos e da necessidade de baixar investimentos no jornal (os despedimentos devem ter reduzido as despesas em 700 mil euros, a par de um previsível corte de cinco milhões de euros no orçamento do jornal). Mas fica com aparentes razões para demitir o director do jornal, quando desde há meses se fala na saída deste para depois das eleições do próximo domingo.
Apesar do interesse público, a manchete do Diário de Notícias e a reprodução de email privado de um jornal concorrente são eticamente reprováveis. Escreveu o seu director: "Obtivemos essa informação da boca de uma «fonte» digna de todo o crédito, que defenderemos de forma profissional e séria. Cada um se preocupará com as suas «fontes» e será responsável pela protecção que lhes assegurar". Na teoria, a ideia é correcta; no caso em concreto, é um erro e um pesadelo para a democracia. O modo como o jornal apresentou o caso torna um terreno pantanoso e de suspeita permanente a relação entre cidadãos e destes com os jornalistas.
Falta conhecer o que pensa o provedor do leitor do Diário de Notícias, embora ele tivesse manifestado preocupações em intervenção televisiva. Contudo a sua coluna mais recente é omissa quanto ao caso, embora escreva: "É sabido que a linguagem jornalística deve obedecer a critérios de rigor e precisão que estão explicitados nos manuais que regem o exercício da profissão, em particular no Estatuto do Jornalista e no respectivo Código Deontológico".
A coluna do provedor do leitor do Público de hoje dá conta do mal estar que existe nos media. Ele pergunta mesmo se o jornal não terá uma agenda política oculta.
Para mim, e já o explicitei aqui uma vez, mais valia os jornais dizerem que, na campanha eleitoral, tendem para um ou outro partido. Seria mais simples o Público defender o bloco de direita PSD e CDS-PP e o Diário de Notícias o partido de esquerda PS. Toda a gente perceberia, pois a objectividade é um território difícil e os jornalistas têm simpatias. Se se sabe que os jornais desportivos são alinhados - a Bola com o Benfica, o Record com o Sporting e o Jogo com o Porto - porque escondem os jornais de qualidade essa simpatia? Ou a política é uma coisa somente séria e o futebol é uma coisa apenas de paixões? Pensam os jornais (de papel, na televisão) que iludem os leitores e espectadores? Vamos lá, acertem os vossos pensamentos e digam-nos.
- Na sequência da última crónica do provedor, instalou-se no Público um clima de nervosismo. Na segunda-feira, o director, José Manuel Fernandes (J.M.F.), acusou o provedor de mentiroso e disse-lhe que não voltaria a responder a qualquer outra questão sua. No mesmo dia, J.M.F. admoestou por escrito o jornalista Tolentino da Nóbrega (T.N.), correspondente do Público no Funchal, pela resposta escrita dada ao provedor sobre a matéria da crónica e considerou uma «anormalidade» ter falado com ele ao telefone. Na sexta-feira, o provedor tomou conhecimento de que a sua correspondência electrónica, assim como a de jornalistas deste diário, fora vasculhada sem aviso prévio pelos responsáveis do Público (certamente com a ajuda de técnicos informáticos), tendo estes procedido à detecção de envios e reenvios de emails entre membros da equipa do jornal (e presume-se que também de e para o exterior). Num momento em que tanto se fala, justa ou injustamente, de asfixia democrática no país, conviria que essa asfixia não se traduzisse numa caça às bruxas no Público, que sempre foi conhecido como um espaço de liberdade” (Joaquim Vieira, começo da sua coluna de provedor de leitor do Público, no jornal de hoje).
A questão das escutas surge dentro da campanha eleitoral. Já no começo de Agosto, o director-geral da TVI José Eduardo Moniz saira do canal e, no começo do presente mês, com igual ou maior estrondo, a mulher deste, Manuela Moura Guedes, vira cancelado o seu noticiário de sexta-feira, acusado de criticar o partido do governo, o PS. A oposição implicaria este partido de ser responsável pela saída de ambos e por, igualmente, criticar o director do Público. Não vou enunciar os pormenores pois eles são conhecidos por todos, mas procurar perceber outros contornos, o movimento de outros agentes.
As saídas do homem forte da TVI e da sua mulher (esta somente do programa) foram-no num momento errado, pois despertaram suspeitas de “asfixia democrática”, designação agora em voga, como se estivéssemos em regime de suspensão da opinião pública como no tempo de António Salazar. As saídas provocaram uma reacção no canal televisivo concorrente, a SIC, com as acções a valorizarem na bolsa. O programa diário do Gato Fedorento, com audiências à volta de dois milhões de espectadores, trouxe alegrias suplementares a um canal que estava em terceiro lugar, atrás mesmo do canal público. A simples recuperação financeira da SIC contra-indica a ideia de "asfixia". Os media, numa sociedade democrática, funcionam como pesos e contra-pesos; se a informação não sai num sítio, ela aparece noutro meio de comunicação. E criticar o governo (seja de direita ou de esquerda) é uma actividade que os media portugueses exercem visível e salutarmente há três décadas e meia, com mais ou menos rigor.
A situação interna na TVI parece caótica desde há muito tempo, pois os órgãos internos dos jornalistas não têm funcionado, como o sindicato dos Jornalistas referiu recentemente. O responsável principal do canal impunha uma ordem nas notícias não compaginável com a liberdade democrática, provocando fricções internas ou um desleixo face à objectividade noticiosa. A acusação de pressões por parte do proprietário do canal, o grupo espanhol Prisa, tem um forte peso na opinião pública, embora a economia do país vizinho esteja presente em muitos sectores, desde a gasolina a supermercados e marcas de vestuário, para referir três áreas de actividades.
A polémica entre Público e Diário de Notícias, para além do seu enfoque principal na política e na campanha eleitoral, não nos faz esquecer a luta entre os dois jornais pela venda de exemplares, numa época em que os jornais de papel estão em perda contínua de leitores. Ambos os jornais fizeram recentemente despedimentos por força do menor volume de vendas e menos publicidade, desviada para a televisão e para a internet. Sexta-feira deve ter sido um dia de vendas suplementares do Diário de Notícias – ou pelo menos foi um jornal muito citado nesse dia. Se o patrão do Diário de Notícias não se manifestou, o do Público disse estimar a liberdade do jornal, esperando ao mesmo tempo que venda mais exemplares. Mas não o ouvi aquando dos recentes despedimentos e da necessidade de baixar investimentos no jornal (os despedimentos devem ter reduzido as despesas em 700 mil euros, a par de um previsível corte de cinco milhões de euros no orçamento do jornal). Mas fica com aparentes razões para demitir o director do jornal, quando desde há meses se fala na saída deste para depois das eleições do próximo domingo.
Apesar do interesse público, a manchete do Diário de Notícias e a reprodução de email privado de um jornal concorrente são eticamente reprováveis. Escreveu o seu director: "Obtivemos essa informação da boca de uma «fonte» digna de todo o crédito, que defenderemos de forma profissional e séria. Cada um se preocupará com as suas «fontes» e será responsável pela protecção que lhes assegurar". Na teoria, a ideia é correcta; no caso em concreto, é um erro e um pesadelo para a democracia. O modo como o jornal apresentou o caso torna um terreno pantanoso e de suspeita permanente a relação entre cidadãos e destes com os jornalistas.
Falta conhecer o que pensa o provedor do leitor do Diário de Notícias, embora ele tivesse manifestado preocupações em intervenção televisiva. Contudo a sua coluna mais recente é omissa quanto ao caso, embora escreva: "É sabido que a linguagem jornalística deve obedecer a critérios de rigor e precisão que estão explicitados nos manuais que regem o exercício da profissão, em particular no Estatuto do Jornalista e no respectivo Código Deontológico".
A coluna do provedor do leitor do Público de hoje dá conta do mal estar que existe nos media. Ele pergunta mesmo se o jornal não terá uma agenda política oculta.
Para mim, e já o explicitei aqui uma vez, mais valia os jornais dizerem que, na campanha eleitoral, tendem para um ou outro partido. Seria mais simples o Público defender o bloco de direita PSD e CDS-PP e o Diário de Notícias o partido de esquerda PS. Toda a gente perceberia, pois a objectividade é um território difícil e os jornalistas têm simpatias. Se se sabe que os jornais desportivos são alinhados - a Bola com o Benfica, o Record com o Sporting e o Jogo com o Porto - porque escondem os jornais de qualidade essa simpatia? Ou a política é uma coisa somente séria e o futebol é uma coisa apenas de paixões? Pensam os jornais (de papel, na televisão) que iludem os leitores e espectadores? Vamos lá, acertem os vossos pensamentos e digam-nos.
sábado, 19 de setembro de 2009
NOVOS MEDIA
- Durante o século passado, uma técnica comum da publicidade foi descrever alguma coisa como "nova" de modo a regenerar as vendas de um produto velho. Ao delinear-se a novidade dos novos media estimulamos um cepticismo semelhante: o novo meio é tão diferente dos seus antecessores, ou o "novo" meio é uma outra forma de promoção tecnológica que leva a cultura consumista a satisfazer vontades e desejos antigos?
P. David Marshall (2009). "New media as transformed media industry". In Jennifer Holt e Alisa Perren (eds.) Media industries. History, theory, and method. Malden, MA, Oxford e West Sussex: Wiley-Blackwell, p. 81
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Press Freedom and Pluralism in Europe. Concepts and Conditions é um livro editado este ano por Andrea Czepek, Eva Nowak e Melanie Hellwig. Ele pode ser descarregado gratuitamente aqui.
Infelizmente, não tem nenhum capítulo sobre Portugal.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Call for Papers: Korean Film Symposium, Nottingham Trent University, Monday 16th of November 2009.
Participants are invited to a one-day Korean Film symposium taking place at Nottingham Trent University (Clifton campus). The day will close with a plenary session by Julian Stringer and Nikki J. Y. Lee who will present an historical overview of issues in Korean film history and Korean film studies in relation to material recently made available by the Korean Film Archive.
Participation may take the form of: 1) twenty-minute research paper presentation on Korean cinema, 2) attendance at the symposium. This is a free event (including refreshments) but places are limited both for attendance and presentation. Please send a 500 abstract or confirmation of attendance (with a few lines of relevant biography) to gary.needham@ntu.ac.uk by Monday October the 26th.
The event is funded by the Korean Cultural Centre.
Participants are invited to a one-day Korean Film symposium taking place at Nottingham Trent University (Clifton campus). The day will close with a plenary session by Julian Stringer and Nikki J. Y. Lee who will present an historical overview of issues in Korean film history and Korean film studies in relation to material recently made available by the Korean Film Archive.
Participation may take the form of: 1) twenty-minute research paper presentation on Korean cinema, 2) attendance at the symposium. This is a free event (including refreshments) but places are limited both for attendance and presentation. Please send a 500 abstract or confirmation of attendance (with a few lines of relevant biography) to gary.needham@ntu.ac.uk by Monday October the 26th.
The event is funded by the Korean Cultural Centre.
domingo, 13 de setembro de 2009
DEBATES POLÍTICOS
Observação: faço uma suspensão à suspensão do blogue por uma vez para comentar as audiências de debates políticos na televisão.
Os dez debates realizados nos últimos dias entre líderes políticos com vista às eleições legislativas de 27 de Setembro próximo foram dos programas mais vistos pelos telespectadores, equiparados às audiências de telenovelas e transmissões de futebol. Os três mais vistos envolveram o actual primeiro-ministro com, respectivamente, os líderes do CDS-PP, BE e PSD (dias 2, 8 e 12 de Setembro).
Os números das audiências revelam um interesse elevado pela política e pelas eleições que aí vêm. Durante anos, a grande discussão política foi retirada dos canais generalistas e transferida para os canais de cabo associados a cada estação generalista. Os debates vieram ilustrar a renovada importância da discussão política.
Das três jornalistas a moderar os debates, gostei mais do desempenho de Clara de Sousa (SIC), nomeadamente no debate que opôs os líderes do PS e do PSD, partidos com mais possibilidades de ganhar a eleição, pois disciplinou os tempos dos candidatos e colocou a ambos perguntas difíceis. Curiosamente, dos candidatos políticos há uma só mulher, as jornalistas são todas mulheres, o que mostra uma masculinização da política e uma feminização do jornalismo.
Na transmissão dos debates, os canais de cabo especializaram-se na análise aos mesmos. Segui a SIC Notícias em especial, embora espreitasse os outros canais (RTPN e TVI24), onde imperavam jornalistas comentadores, geralmente comedidos nos seus comentários. Os politólogos eram mais escassos mas com igual elevação intelectual, apontando pontos fortes e erros dos candidatos a primeiro-ministro. A SIC Notícias, pelo menos ontem, teve um fórum com telefonemas de telespectadores, com conteúdos militantes, a provar uma luta de votantes com convicções partidárias.
No mesmo canal de cabo, o programa Eixo do Mal, espaço de muita maledicência, os seus intervenientes foram mais claros e com menos contemporização com os candidatos, numa aproximação ao que pensa cada um dos eleitores. Pareceu-me, assim, estabelecer um terceiro círculo, sendo o primeiro o dos debates e o segundo o dos comentadores (canalistas, como chamei abaixo noutra mensagem).
Esperemos que a discussão política seja esclarecedora durante a próxima quinzena. O blogueiro vai regressar à suspensão.
Os dez debates realizados nos últimos dias entre líderes políticos com vista às eleições legislativas de 27 de Setembro próximo foram dos programas mais vistos pelos telespectadores, equiparados às audiências de telenovelas e transmissões de futebol. Os três mais vistos envolveram o actual primeiro-ministro com, respectivamente, os líderes do CDS-PP, BE e PSD (dias 2, 8 e 12 de Setembro).
Os números das audiências revelam um interesse elevado pela política e pelas eleições que aí vêm. Durante anos, a grande discussão política foi retirada dos canais generalistas e transferida para os canais de cabo associados a cada estação generalista. Os debates vieram ilustrar a renovada importância da discussão política.
Das três jornalistas a moderar os debates, gostei mais do desempenho de Clara de Sousa (SIC), nomeadamente no debate que opôs os líderes do PS e do PSD, partidos com mais possibilidades de ganhar a eleição, pois disciplinou os tempos dos candidatos e colocou a ambos perguntas difíceis. Curiosamente, dos candidatos políticos há uma só mulher, as jornalistas são todas mulheres, o que mostra uma masculinização da política e uma feminização do jornalismo.
Na transmissão dos debates, os canais de cabo especializaram-se na análise aos mesmos. Segui a SIC Notícias em especial, embora espreitasse os outros canais (RTPN e TVI24), onde imperavam jornalistas comentadores, geralmente comedidos nos seus comentários. Os politólogos eram mais escassos mas com igual elevação intelectual, apontando pontos fortes e erros dos candidatos a primeiro-ministro. A SIC Notícias, pelo menos ontem, teve um fórum com telefonemas de telespectadores, com conteúdos militantes, a provar uma luta de votantes com convicções partidárias.
No mesmo canal de cabo, o programa Eixo do Mal, espaço de muita maledicência, os seus intervenientes foram mais claros e com menos contemporização com os candidatos, numa aproximação ao que pensa cada um dos eleitores. Pareceu-me, assim, estabelecer um terceiro círculo, sendo o primeiro o dos debates e o segundo o dos comentadores (canalistas, como chamei abaixo noutra mensagem).
Esperemos que a discussão política seja esclarecedora durante a próxima quinzena. O blogueiro vai regressar à suspensão.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
AGRADECIMENTO A QUEM LÊ O BLOGUE E ME ESCREVEU
Email
1) Muito aprendi em grande parte dos seus cinco mil textos e sinto-me honrada de ter sido um entre o milhão dos seus visitantes únicos. [...] Gostaria de acreditar que novas formas literárias e artísticas sairão da sua criativa participação no mundo virtual. [...]
2) [...] Não sendo especialista em Ciências da Comunicação, aprendo a apreciá-lo pelo que o blog era, para mim: um vasto manancial de coisas novas e de ângulos de análise impensados, que me desafiavam - repito, como leitor, concedo que culto, mas representativo do "público" [...]. Acho que fez serviço público - do bom, do independente e do barato; só vantagens...!
3) Lamento a sua decisão de acabar com o blogue, um dos que lia diariamente e com muito interesse. Decisão irreversível? Espero que não!
4) [...] foi com surpresa que soube da sua decisão em suspender a publicação de textos no seu blog. Compreendo, nada é eterno, tudo tem o seu tempo e, certamente, outros desafios merecerão a sua atenção. No entanto fico com pena, é o único blog em Portugal sobre este tema [...]
5) Soube agora que suspendeu a publicação do seu blog. Entendo que o cansaço se acumule e talvez o tempo disponível seja curto para tanto esforço. De qualquer forma gostava que a suspensão não se torna-se em fim definitivo.
6) Tomei agora conhecimento de que "suspendeu" o seu blog. É evidente que terá as suas razões, mas como leitor assíduo e grande admirador do seu trabalho, venho pedir-lhe para que essa suspensão seja apenas a suspensão de umas férias e nada mais. Será muito banal dizer que sem o "Industrias Culturais" a blogoesfera portuguesa ficará mais pobre. Por isso, modestamente lhe digo que eu ficarei mais pobre assim como, estou certo, todos os interessados em Media e Cultura. Agradeço-lhe todo o seu trabalho que tem partilhado com todos e peço-lhe que, após algum descanso, regresse.
Comentários no blogue
1) Não para não. Eu linquei seu blog no meu, aqui no Brasil.
2) Não devia suspender o blog. Sou uma leitora anónima, mas assídua. E é com muita pena que vejo este desfecho.
Blogues
1) [...] decidiu suspender a publicação de textos naquele espaço. Rogério Santos prefere «escrever suspensão e não encerramento, termo suave que abre portas a uma pouco provável mudança de ideias». Durante quase sete anos, o "Indústrias Culturais" foi, provavelmente, o melhor espaço de análise, divulgação e crítica cultural, tendo sido, também, um local onde a Rádio teve sempre um destaque especial. De referir que o blogue ultrapassou o fantástico número de um milhão de visitantes.
2) Rogério Santos acabou com o blog Indústrias Culturais.
3) [...] apelo a que reconsidere, dado que o seu blogue foi e é referência muito grande neste panorama. Não é meu caro Rogério a nossa idade comum que nos faz não poder dar o contributo que com o teu blogue deste, por isso é muito importante a tua continuidade neste deserto, às vezes árido, de ideias e investigação como imprimiste ao blogue. [...]
SMS
1) Então? A Prisa mandou fechar o teu blogue? Vou fazer queixa à ERC... Deixa-te de conversas e vamos lá a postar rapidamente, antes que eu me chateie.
Observação: a família não gostou nada da suspensão :). Mas já arranjei tempo para ver os debates políticos e os programas que analisam os debates (até inventei um termo para os comentadores: canalistas). E para ouvir a música que pus no meu iPod (mp4).
1) Muito aprendi em grande parte dos seus cinco mil textos e sinto-me honrada de ter sido um entre o milhão dos seus visitantes únicos. [...] Gostaria de acreditar que novas formas literárias e artísticas sairão da sua criativa participação no mundo virtual. [...]
2) [...] Não sendo especialista em Ciências da Comunicação, aprendo a apreciá-lo pelo que o blog era, para mim: um vasto manancial de coisas novas e de ângulos de análise impensados, que me desafiavam - repito, como leitor, concedo que culto, mas representativo do "público" [...]. Acho que fez serviço público - do bom, do independente e do barato; só vantagens...!
3) Lamento a sua decisão de acabar com o blogue, um dos que lia diariamente e com muito interesse. Decisão irreversível? Espero que não!
4) [...] foi com surpresa que soube da sua decisão em suspender a publicação de textos no seu blog. Compreendo, nada é eterno, tudo tem o seu tempo e, certamente, outros desafios merecerão a sua atenção. No entanto fico com pena, é o único blog em Portugal sobre este tema [...]
5) Soube agora que suspendeu a publicação do seu blog. Entendo que o cansaço se acumule e talvez o tempo disponível seja curto para tanto esforço. De qualquer forma gostava que a suspensão não se torna-se em fim definitivo.
6) Tomei agora conhecimento de que "suspendeu" o seu blog. É evidente que terá as suas razões, mas como leitor assíduo e grande admirador do seu trabalho, venho pedir-lhe para que essa suspensão seja apenas a suspensão de umas férias e nada mais. Será muito banal dizer que sem o "Industrias Culturais" a blogoesfera portuguesa ficará mais pobre. Por isso, modestamente lhe digo que eu ficarei mais pobre assim como, estou certo, todos os interessados em Media e Cultura. Agradeço-lhe todo o seu trabalho que tem partilhado com todos e peço-lhe que, após algum descanso, regresse.
Comentários no blogue
1) Não para não. Eu linquei seu blog no meu, aqui no Brasil.
2) Não devia suspender o blog. Sou uma leitora anónima, mas assídua. E é com muita pena que vejo este desfecho.
Blogues
1) [...] decidiu suspender a publicação de textos naquele espaço. Rogério Santos prefere «escrever suspensão e não encerramento, termo suave que abre portas a uma pouco provável mudança de ideias». Durante quase sete anos, o "Indústrias Culturais" foi, provavelmente, o melhor espaço de análise, divulgação e crítica cultural, tendo sido, também, um local onde a Rádio teve sempre um destaque especial. De referir que o blogue ultrapassou o fantástico número de um milhão de visitantes.
2) Rogério Santos acabou com o blog Indústrias Culturais.
3) [...] apelo a que reconsidere, dado que o seu blogue foi e é referência muito grande neste panorama. Não é meu caro Rogério a nossa idade comum que nos faz não poder dar o contributo que com o teu blogue deste, por isso é muito importante a tua continuidade neste deserto, às vezes árido, de ideias e investigação como imprimiste ao blogue. [...]
SMS
1) Então? A Prisa mandou fechar o teu blogue? Vou fazer queixa à ERC... Deixa-te de conversas e vamos lá a postar rapidamente, antes que eu me chateie.
Observação: a família não gostou nada da suspensão :). Mas já arranjei tempo para ver os debates políticos e os programas que analisam os debates (até inventei um termo para os comentadores: canalistas). E para ouvir a música que pus no meu iPod (mp4).
sábado, 5 de setembro de 2009
SUSPENSÃO DO BLOGUE
Deixo de alimentar o blogue com mensagens. Prefiro escrever suspensão e não encerramento, termo suave que abre portas a uma pouco provável mudança de ideias.
Agradeço a todos os que leram o Indústrias e deram sugestões e contributos. Foi uma longa e agradável colaboração durante mais de sete anos. Vou descansar desta azáfama diária.
Até sempre.
SERVIÇO PÚBLICO DE TELEVISÃO (VI)
Victoria Johnson (2009: 59) distingue serviço público e acesso democrático, o da televisão hertziana, generalista, gratuita, e cultura de nicho, o da televisão por cabo e a pagamento, com a primeira a pertencer ao mercado de massa preenchido com descontos e promoção de produtos e a segunda a surgir como uma colecção de lojas de produtos de boutique. A criação de conglomerados e o relacionamento crescente entre televisão generalista e operadores de cabo durante e após a década de 1980, com interesses partilhados de propriedade, leva Johnson (2009: 60) a questionar-se sobre o futuro da televisão generalista.
Em Portugal, com a abertura de canais temáticos (SIC, TVI) nos operadores de cabo (ZON, PT), um dos quais controla também as plataformas hertzianas de televisão, a televisão generalista e gratuita tem perdido influência.
Leitura: Jonhson, Victoria (2009). “Historicizing TV networking. Broadcasting, cable, and the case of ESPN”. In Jennifer Holt e Alisa Perren (ed.) Media industries. History, theory, and method. Malden, MA, e Oxford: Wiley-Blackwell
SERVIÇO PÚBLICO DE TELEVISÃO (V)
A televisão nasceu como modelo público. Por isso, Nilza Mouzinho de Sena (2007: 76-77) chama a atenção para a televisão regulada, correspondendo a uma lógica de funcionamento e de oferta de produtos no cumprimento do serviço público, sem critérios comerciais. Tal missão implica obrigação do pluralismo, diversidade e qualidade, obedecendo ao imperativo da formação para a cidadania e valorização da identidade. O modelo americano de televisão, antagónico ao de serviço público, propõe desde a década de 1960 uma televisão desregulada, em que não há limites à concentração e sem directivas quanto à oferta de conteúdos. Na Europa, o modelo desregulado aberto às audiências começou mais tarde, com o desaparecimento (a autora usa o termo desmantelamento) dos monopólios públicos de televisão e abertura à iniciativa privada. A concorrência entre operadores públicos e privados agudizou as questões económicas. Na década de 1980, começaram a distinguir-se dois modelos: concorrencial (Itália, França e, desde 1990, Espanha) e civilizado (Reino Unido, Alemanha), com o primeiro a dar primazia à audiência, à oferta de entretenimento e variedades, e o segundo ao serviço público, com oferta diversificada e produção própria de qualidade.
A investigadora caracteriza a paisagem mediática portuguesa nas décadas de 1980 e 1990 em três linhas de evolução: 1) privatização dos media, 2) comercialização da propriedade dos media, 3) concentração da propriedade dos media (p. 202). Em termos de alterações, ela encontra as seguintes: aparecimento da imprensa especializada, declínio dos vespertinos, distinção entre jornalismo de qualidade e imprensa sensacionalista, sucesso dos jornais de orientação popular sensacionalista (Correio da Manhã, Tal & Qual, A Capital), consolidação dos semanários de referência (Expresso, Independente, Visão), crescimento da imprensa desportiva, chegada dos publicitários, multiplicidade dos géneros jornalísticos, afirmação dos líderes de opinião, novas tecnologias, imprensa regional, rádios livres com legalização em 1986.
Nilza Mouzinho de Sena estuda os tipos de oferta televisiva (1993-2005), o núcleo duro do seu trabalho, escolhendo o segmento de horário nobre. Conclui pela prevalência do entretenimento, empobrecimento da informação e da cultura, particularidades da informação (programas mais representativos: grandes entrevistas, debates), garante publicitário (vocação comercial), perfil da estação pública (menos programação distractiva) e das estações privadas (claramente veiculadoras de entretenimento) (pp. 291-292).
Leitura: Nilza Mouzinho de Sena (2007). A televisão portuguesa. Caracterização da oferta televisiva em Portugal 1990-2005. Tese de doutoramento defendida no ISCSP
A investigadora caracteriza a paisagem mediática portuguesa nas décadas de 1980 e 1990 em três linhas de evolução: 1) privatização dos media, 2) comercialização da propriedade dos media, 3) concentração da propriedade dos media (p. 202). Em termos de alterações, ela encontra as seguintes: aparecimento da imprensa especializada, declínio dos vespertinos, distinção entre jornalismo de qualidade e imprensa sensacionalista, sucesso dos jornais de orientação popular sensacionalista (Correio da Manhã, Tal & Qual, A Capital), consolidação dos semanários de referência (Expresso, Independente, Visão), crescimento da imprensa desportiva, chegada dos publicitários, multiplicidade dos géneros jornalísticos, afirmação dos líderes de opinião, novas tecnologias, imprensa regional, rádios livres com legalização em 1986.
Nilza Mouzinho de Sena estuda os tipos de oferta televisiva (1993-2005), o núcleo duro do seu trabalho, escolhendo o segmento de horário nobre. Conclui pela prevalência do entretenimento, empobrecimento da informação e da cultura, particularidades da informação (programas mais representativos: grandes entrevistas, debates), garante publicitário (vocação comercial), perfil da estação pública (menos programação distractiva) e das estações privadas (claramente veiculadoras de entretenimento) (pp. 291-292).
Leitura: Nilza Mouzinho de Sena (2007). A televisão portuguesa. Caracterização da oferta televisiva em Portugal 1990-2005. Tese de doutoramento defendida no ISCSP
5 DE SETEMBRO DE 1967
"Nasser mandou prender o seu antigo braço direito" ("Conspiração anulada no Cairo"), "Egípcios e israelitas lutaram no canal do Suez" e "Vão assaltar Goma os mercenários de Schramme" eram os títulos principais do Jornal de Notícias (Porto) naquela terça-feira dia 5 de Setembro de 1967. Os acontecimentos deste dia aparecem retratados na edição da quarta-feira seguinte: "Duas horas de tiroteio entre jordanos e israelitas", "Brasil: A Frente Ampla abriu a ofensiva política", "De Gaulle é o primeiro presidente da França a visitar a Polónia", "Requiem pela Federação da Arábia do Sul" e "No estádio das Antas - argentinos de mau perder".
No Porto dessa época contei oito cinemas: S. João, Águia, Batalha, Trindade (que estrearia My Fair Lady, com Audrey Hepburn e Rex Harrison, na mesma semana), Olímpia, Coliseu, Rivoli (a estrear Do Alto do Terraço, com Paul Neumann e Joanne Woodward) e Vale Formoso. Os primeiros sete estavam num perímetro bem apertado, dentro da considerada baixa da cidade. Noutra sala, a do teatro Sá da Bandeira, Raul Solnado apresentava O Fusível. Hoje, restam quatro das salas e uma outra foi convertida em espaço de culto religioso.
O que deu a televisão de canal único no dia 5 de Setembro de 1967? Com emissão a começar às 19:30, com noticiário, a culinária aparecia pela mão de Maria de Lurdes Modesto, às 19:50, hora ideal para o jantar. Às 20:15, passava o filme infantil Carrocel Mágico. Novo noticiário às 21:30, antecedendo a noite de cinema, Professora de rumba, com Wallace Beery, Jane Powell, Elizabeth Taylor, Carmen Miranda e Xavier Cugat. A emissão terminava perto da meia-noite, com o terceiro noticiário do dia.
A programação da rádio portuense (Emissores Norte Reunidos) era a seguinte: 7:00 - Bom dia, 8:00 - Almanaque, 9:00 - Rádio Placard, 9:30 - R.M., 11:00 - ORSEC, 13:00 - Electro-Mecânico, 16:00 - Ideal Rádio, 18:00 - Rádio Porto, 21:00 - Rádio Clube do Norte, 24:00 - Última Hora, 3:00 - Fecho.
Na página de programação da televisão, o Jornal de Notícias dedicava espaço ao seu folhetim Milagre do Amor e às tiras de banda desenhada Lola, O Agente Secreto X-9 e Dr. Kildare (esta inspirada na série televisiva). Na referida edição de 5 de Setembro de 1967, a página dedicada à moda trazia um texto de Aurora Jardim, Coisas vistas a correr das montras (que começava assim: "Um quadro: galinha branca e lua por cima. Tudo de branco sobre fundo bege"), texto com imagens de colecções italianas para o Outono/Inverno e uma interrogação "Como será a Moda 68 em Paris"?
Detenho-me agora no desporto, nas páginas de emprego e nas viagens. Os torneios de futebol de início de época tinham algum destaque noticioso. Na associação do Porto, o Penafiel ganhava 4-3 ao Tirsense e o Boavista 4-2 ao Leça; na associação de Lisboa, o Benfica ganhava 6-0 ao Atlético e o Belenenses 2-1 ao Sporting. No próprio dia 5 de Setembro, o F.C.Porto, treinado por Pedroto, goleava a equipa campeã da Argentina, os Estudiantes, por 5-o. Quanto a pedidos de emprego, surgiam 10 para ajudante, 21 para criada (ou rapariga), 14 para empregados (de 12 anos para cima). E promoção de viagens: circuito italiano (9000$00), Europa castiça (6200$00), Paris-Lourdes (4500$00), Lourdes Madrid (2650$00).
Um concurso do vestido de chita em S. Pedro da Cova e a morte de Ricardo Ornelas, jornalista ligado ao futebol, constituiam outras notícias de relevo. E uma notícia de ciência: a Philips anunciava um novo rádio portátil, constituído de circuitos integrados. Estavam aí as novas tecnologias a brotar. Mais pequena era a informação, com base num comunicado das forças armadas portuguesas, sobre quatro soldados mortos na frente das guerras africanas: um em combate, um de doença e dois de acidentes de viação.
Não resisto a fazer alusão a duas outras notícias: a 5 de Setembro, sobre Theodorakis (o jornal recorda que foi o compositor da música do filme Zorba) a compor na prisão, para onde fora mandado pelo exército que tomara o poder em Abril de 1967; a 6 de Setembro, sobre uma frente ampla que decidira concorrer às eleições directas no Brasil, país com regime de ditadura desde 1964. O jornalista escreveu: "Espera-se que o governo do presidente Costa e Silva mantenha apertada vigilância sobre o novo movimento que tem afirmado não ser um terceiro partido político no Brasil". Era inevitável a simpatia pelas ditaduras.
Nesse dia, senti-me adulto. Devo ter delirado com a vitória do Porto mas não me lembro de ver o filme com Elizabeth Taylor na televisão a preto e branco nem ouvi a rádio dos Emissores Norte Reunidos (não simpatizava com a programação popular; andava muito mais pelo Em Órbita do Rádio Clube Português, onde começava a ouvir os Fairport Convention e Sandy Denny, que hoje aprecio com nostalgia). Bebia toda a informação mas faltavam ainda os contornos mais complexos. Os anos ensinar-me-iam isso. Então, sentia-me cheio de força; agora, manifesto um certo cansaço.
FAIRPORT CONVENTION
Meet on the ledge é a canção que, habitualmente, encerra os concertos de reunião dos Fairport Convention, o que aconteceu de novo em All Star, no Barbican Hall em Londres em 18 de Julho (o blogueiro, por saber não chegar a horas, optou por ir a outro local, com muita pena sua). Meet on the ledge, composta por Richard Thompson, é uma espécie de hino da banda. Os Fairport Convention actuaram com os seus membros originais: Simon Nicol, Richard Thompson, Iain Matthews, Ashley Hutchings, Dave Mattacks (aqui a substituir Martin Lamble) e Dave Pegg no baixo. Com Chris Leslie no violino. No coro, estiveram Judy Dyble (vocalista da banda antes de Sandy Denny), Chris While, Kellie While, Linde Nijland (que tem cantado canções de Sandy Denny), Kamila Thompson, Linda Thompson e Teddy Thompson (vídeo de noordfolk).
We used to say / That come the day / We'd all be making songs / Or finding better words / These ideas never lasted long. /The way is up / Along the road / The air is growing thin / Too many friends who tried / Were blown off this mountain with the wind. / Meet on the ledge / We're gonna meet on the ledge / When my time is up I'm gonna see all my friends / Meet on the ledge / We're gonna meet on the ledge / If you really mean it, it all comes 'round again. / Yet now I see / I'm all alone / But that's the only way to be /You'll have your chance again / Then you can do the work for me. / Meet on the ledge / We're gonna meet on the ledge / When my time is up I'm gonna see all my friends / Meet on the ledge / We're gonna meet on the ledge /If you really mean it, it all comes 'round again. / Meet on the ledge / We're gonna meet on the ledge / When my time is up I'm gonna see all my friends / Meet on the ledge / We're gonna meet on the ledge / If you really mean it, it all comes 'round again.
Outro ângulo da mesma interpretação (vídeo de zwicky1979).
E Fotheringay, cantado pela dinamarquesa Linde Nijland (vídeo de noordfolk).
Ao concerto, faltaram evidentemente Sandy Denny (desaparecida em 1978, com 31 anos), Trevor George Lucas (o marido dela, membro inicial dos Fairport Convention e dos Fotheringay, falecido em 1989 de ataque de coração) e Georgia, a filha de ambos.
We used to say / That come the day / We'd all be making songs / Or finding better words / These ideas never lasted long. /The way is up / Along the road / The air is growing thin / Too many friends who tried / Were blown off this mountain with the wind. / Meet on the ledge / We're gonna meet on the ledge / When my time is up I'm gonna see all my friends / Meet on the ledge / We're gonna meet on the ledge / If you really mean it, it all comes 'round again. / Yet now I see / I'm all alone / But that's the only way to be /You'll have your chance again / Then you can do the work for me. / Meet on the ledge / We're gonna meet on the ledge / When my time is up I'm gonna see all my friends / Meet on the ledge / We're gonna meet on the ledge /If you really mean it, it all comes 'round again. / Meet on the ledge / We're gonna meet on the ledge / When my time is up I'm gonna see all my friends / Meet on the ledge / We're gonna meet on the ledge / If you really mean it, it all comes 'round again.
Outro ângulo da mesma interpretação (vídeo de zwicky1979).
E Fotheringay, cantado pela dinamarquesa Linde Nijland (vídeo de noordfolk).
Ao concerto, faltaram evidentemente Sandy Denny (desaparecida em 1978, com 31 anos), Trevor George Lucas (o marido dela, membro inicial dos Fairport Convention e dos Fotheringay, falecido em 1989 de ataque de coração) e Georgia, a filha de ambos.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
SERVIÇO PÚBLICO DE TELEVISÃO (IV)
A revista semanal Nova Antena (1968-1970), de perfil de publicação popular e de massa, dá indicações preciosas sobre a televisão e a época. Propriedade da RTP, Rádio Renascença e Rádio Clube Português, o primeiro número trazia na capa Raul Solnado (1929-2009), artista muito acompanhado pela publicação já em 1969, devido ao programa de televisão Zip Zip.
Nesse número inicial há igualmente referência a Marcelo Caetano, que tomara posse no mês anterior. A revista parecia indiciar a abertura política entrevista com o sucessor de Salazar.
Aliás, teve no primeiro ano e meio de actividade três períodos distintos, que identificam muito bem a ambiguidade política governante: 1) inicial, até ao número 7, com jornalistas mais tarde mais próximos da esquerda política, como João Paulo Guerra e Luís Filipe Costa, de grande ingenuidade, onde o centro parecia ser a locutora com rosto bonito na televisão, 2) intermédio, a partir do número 8, com saída daqueles jornalistas e homens de rádio e entrada do padre António Rêgo, que se tornaria uma figura central no audiovisual nacional, com textos mais centrados em aspectos sociais e morais, 3) coexistência, com o novo director, João Coito, a partir do número 36, com muitos editoriais a elogiar Marcelo Caetano, mas simultaneamente permitindo entrevistas e informações de artistas como o padre Fanhais, Carlos Paredes e Fernando Tordo.
Sem abandonar a rádio, pois dois dos proprietários da publicação eram estações, a televisão consumia cada vez mais espaço, num tempo em que só havia o serviço público.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
SERVIÇO PÚBLICO DE TELEVISÃO (III)
O texto de Condorcet da Silva Costa, Alguns aspectos financeiros e orçamentais dos programas de televisão, partiu da ideia comum que o gasto de uma emissão em televisão na RTP em meados da década de 1960 andava à volta de um conto por minuto, valor muito acima da realidade. Apesar de não datado, o trabalho de Costa deve ser de 1967, pois refere-se a dados do ano anterior a esse.
Escreve que em 1957 houve 665 horas de emissão e um gasto total de 18027 contos na RTP, logo o minuto custou 451$00. Já em 1966, o total de horas de emissão atingiu 2930 horas com o custo global de 97165 contos, pelo que o preço à hora foi de 556$00. O autor - que compara os custos de emissão entre a RTP, a BBC e a RAI, ficando o canal português entre a gastadora televisão italiana e a poupada inglesa - indica que as despesas com os programas atingiam 30% do orçamento geral de cada ano, ficando os restantes 70% para custos de pessoal. E destaca os valores por género em 1965: 32500$00 por peça de grande teatro, 40000$00 por programa de variedades, 10500$00 o telejornal, 62000$00 o desporto, 21700$00 os programas filmados estrangeiros.
Há também referências técnicas, caso da introdução de sistemas de gravação. Embora o telerecording fosse adquirido em 1959, o primeiro equipamento de videotape foi comprado em 1964, o que permitiu armazenar programas para emitir posteriormente, no que se chama de stock (por oposição a fluxo, seguindo a terminologia de Patrice Flichy). Em finais de 1966, havia produtos de stock com um valor de 690000$00, cerca de seis vezes o orçamento desse ano.
As expectativas próximas, indica o texto de Condorcet da Silva Costa, seriam o segundo canal e a televisão a cores, concretizadas respectivamente em 1978 e 1980, datas tardias a que não foi alheia a mudança de regime político ocorrida em 1974.
Leitura: Costa, Condorcet da Silva (s/d). Alguns aspectos financeiros e orçamentais dos programas de televisão. Lisboa: Edição da Casa do Pessoal da RTP
Escreve que em 1957 houve 665 horas de emissão e um gasto total de 18027 contos na RTP, logo o minuto custou 451$00. Já em 1966, o total de horas de emissão atingiu 2930 horas com o custo global de 97165 contos, pelo que o preço à hora foi de 556$00. O autor - que compara os custos de emissão entre a RTP, a BBC e a RAI, ficando o canal português entre a gastadora televisão italiana e a poupada inglesa - indica que as despesas com os programas atingiam 30% do orçamento geral de cada ano, ficando os restantes 70% para custos de pessoal. E destaca os valores por género em 1965: 32500$00 por peça de grande teatro, 40000$00 por programa de variedades, 10500$00 o telejornal, 62000$00 o desporto, 21700$00 os programas filmados estrangeiros.
Há também referências técnicas, caso da introdução de sistemas de gravação. Embora o telerecording fosse adquirido em 1959, o primeiro equipamento de videotape foi comprado em 1964, o que permitiu armazenar programas para emitir posteriormente, no que se chama de stock (por oposição a fluxo, seguindo a terminologia de Patrice Flichy). Em finais de 1966, havia produtos de stock com um valor de 690000$00, cerca de seis vezes o orçamento desse ano.
As expectativas próximas, indica o texto de Condorcet da Silva Costa, seriam o segundo canal e a televisão a cores, concretizadas respectivamente em 1978 e 1980, datas tardias a que não foi alheia a mudança de regime político ocorrida em 1974.
Leitura: Costa, Condorcet da Silva (s/d). Alguns aspectos financeiros e orçamentais dos programas de televisão. Lisboa: Edição da Casa do Pessoal da RTP
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
SERVIÇO PÚBLICO DE TELEVISÃO (II)
O texto de Maurice Duverger, publicado no número inicial do Boletim da Casa do Pessoal da RTP (15 de Setembro de 1964) distingue três tipos de estatuto de televisão: 1) empresa privada, 2) empresa de Estado financiada por fundos públicos e dependente do Estado, e 3) organismo financiado por fundos públicos mas com gestão autónoma. Curioso é que Duverger não coloca a hipótese de uma empresa de televisão ser privada (e comercial), o que indica uma época bem precisa.
O autor parte na defesa do terceiro sistema. Contudo, dado que, pela sua estrutura, o sistema de organismo com gestão autónoma tem de seguir o gosto do público em vez de o formar, isto é, o nível intelectual e artístico dos seus programas adequa-se aos níveis dos públicos de televisão, tal empresa pode não ser educativa. Por isso, defende a televisão governamental, pois o poder político possui "um meio de pressão formidável sobre os cidadãos". E não se inibe de escrever algo que não sei como passou na censura de então: "A formação intelectual, moral e artística dos soviéticos pela televisão é melhor que a dos americanos; mas o Estado americano não pode utilizar a televisão como meio de propaganda, como o faz o estado soviético".
Isso leva Duverger a escolher de novo e em definitivo o organismo público e autónomo.
O autor parte na defesa do terceiro sistema. Contudo, dado que, pela sua estrutura, o sistema de organismo com gestão autónoma tem de seguir o gosto do público em vez de o formar, isto é, o nível intelectual e artístico dos seus programas adequa-se aos níveis dos públicos de televisão, tal empresa pode não ser educativa. Por isso, defende a televisão governamental, pois o poder político possui "um meio de pressão formidável sobre os cidadãos". E não se inibe de escrever algo que não sei como passou na censura de então: "A formação intelectual, moral e artística dos soviéticos pela televisão é melhor que a dos americanos; mas o Estado americano não pode utilizar a televisão como meio de propaganda, como o faz o estado soviético".
Isso leva Duverger a escolher de novo e em definitivo o organismo público e autónomo.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
SERVIÇO PÚBLICO DE TELEVISÃO (I)
Alberto Arons de Carvalho (2009) dedica uma parte do texto a explicar os modelos de financiamento e de governação do serviço público de televisão (RTP). Identifica três fases: 1) 1957-1991, monopólio da actividade e auto-sustentação económica (taxa e publicidade), 2) 1991-2003, crise de financiamento da televisão pública, e 3) a partir de 2003, novo modelo de financiamento e recuperação da empresa.
Um ponto fulcral na investigação de Arons de Carvalho é a passagem do modelo misto da televisão pública portuguesa (capitais privados e do Estado na fundação da RTP) para o de empresa de capitais públicos, com a nacionalização em Dezembro de 1975, momento a partir do qual começariam problemas de financiamento, agravados com a entrada em actividade dos canais comerciais em 1992. A adesão de Portugal à CEE (1986), comunidade que liberalizaria o audiovisual, pressionando externamente os governos da época para a criação de estações privadas de televisão, não é trabalhada pelo autor.
Com uma longa carreira como deputado, Arons de Carvalho preferiu investigar as mudanças de opinião e de paradigma dos principais partidos políticos (PSD e PS), que se afastariam lentamente da defesa intransigente do modelo de televisão pública para aceitarem a concorrência no sector, o que aconteceria precisamente logo após a adesão do país ao mercado único europeu. Durante muito tempo, responsáveis políticos de ambos os partidos haviam manifestado profundas reservas a essa evolução ao longo de muitos anos. A alteração processou-se durante a primeira maioria absoluta do PSD (1995-2000), com Cavaco Silva como primeiro-ministro, acompanhado pelo Partido Socialista (necessário para fazer 2/3 de votação para aprovar alterações à Constituição).
Leitura: Carvalho, Alberto Arons (2009). A RTP e o serviço público de televisão. Coimbra: Almedina
Um ponto fulcral na investigação de Arons de Carvalho é a passagem do modelo misto da televisão pública portuguesa (capitais privados e do Estado na fundação da RTP) para o de empresa de capitais públicos, com a nacionalização em Dezembro de 1975, momento a partir do qual começariam problemas de financiamento, agravados com a entrada em actividade dos canais comerciais em 1992. A adesão de Portugal à CEE (1986), comunidade que liberalizaria o audiovisual, pressionando externamente os governos da época para a criação de estações privadas de televisão, não é trabalhada pelo autor.
Com uma longa carreira como deputado, Arons de Carvalho preferiu investigar as mudanças de opinião e de paradigma dos principais partidos políticos (PSD e PS), que se afastariam lentamente da defesa intransigente do modelo de televisão pública para aceitarem a concorrência no sector, o que aconteceria precisamente logo após a adesão do país ao mercado único europeu. Durante muito tempo, responsáveis políticos de ambos os partidos haviam manifestado profundas reservas a essa evolução ao longo de muitos anos. A alteração processou-se durante a primeira maioria absoluta do PSD (1995-2000), com Cavaco Silva como primeiro-ministro, acompanhado pelo Partido Socialista (necessário para fazer 2/3 de votação para aprovar alterações à Constituição).
Leitura: Carvalho, Alberto Arons (2009). A RTP e o serviço público de televisão. Coimbra: Almedina
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