terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Votos de bom ano novo

A importância da música

No ano que agora finda, David Hesmondhalgh editou o livro Why Music Matters. Logo no início do texto, partindo da ideia que a música é uma experiência individual e privada mas também pública e colectiva, ele informa que escreve sobre o valor social da música e explora as relações entre esta, a história, a sociedade e o eu (indivíduo), através de uma perspectiva crítica.

Ele adopta um duplo critério, vantajoso na minha leitura. Por um lado, entende haver uma ênfase exagerada da liberdade individual no uso da música e uma redução do pensamento ligado a problemas sociais como a desigualdade e o sofrimento (p. 6). Por outro lado, afasta-se da mitologização da cultura do rock enquanto contrapoder político e libertação, género o rock da década de 1950 causou um movimento de contestação tão forte que a geração da década de 1960 operou uma mudança política (p. 143). Esta leitura, prossegue, identifica o punk, o rave, o grunge e o hip hop como novos movimentos de contestação. Sim, conclui Hesmondhalgh, o rock foi socialmente importante na vida de milhões de pessoas, mas os jornalistas conservadores, os políticos mais velhos, os presidentes e os reitores das universidades também tiveram as suas bandas de rock preferidas - e o mundo continua semelhante.

O centro do livro é o período pós-1945, o que o leva a examinar géneros populares como o pop e o rock mas igualmente os estilos de música negra como o soul, o R&B e o hip hop. Diferentes géneros musicais envolvem diferentes configurações de emoção e sentimentos, visíveis quer na música quer na letra das canções.

David Hesmondhalgh é professor de Media e Indústrias Musicais na Universidade de Leeds. Ele é o autor de Cultural Industries, agora na terceira edição - um livro que funcionou como uma espécie de inspiração directa para o meu blogue, e sobre o qual já falei aqui diversas vezes - mas também escreveu Creative Labour (2011, com Sarah Baker), Popular Music Studies (2002, com Keith Negus), Western Music and its Others (2000, com Georgina Born) e a série de cinco volumes editados pela Open University Press sob a designação genérica de Understanding Media, em parceria com diversos investigadores e docentes dos media e das indústrias culturais.

Leitura: David Hesmondhalgh (2013). Why Music Matters.West Sussex: Wiley Blackwell, 198 p.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A etnomusicologia em Salwa Castelo-Branco

Tenho uma imensa admiração intelectual por Salwa Castelo-Branco (Cairo, 1950). A Enciclopédia da Música Em Portugal no Século XX (2010), em quatro volumes, é a face mais visível do seu trabalho como investigadora e como coordenadora de equipas, "obra decisiva pela sistematização daquilo que foi a música, em todas as suas vertentes (os intérpretes, os instrumentos, os letristas, os compositores, os géneros), no século passado", como se lê na entrevista no jornal Público de hoje. Para a enciclopédia, a "etnomusicologia é uma disciplina científica que estuda a música nas suas múltiplas dimensões, nomeadamente a social, a cultural, a política, a cognitiva e a estética”. Outros trabalhos com a sua assinatura incluem Portugal e o Mundo: Encontro de Culturas na Música (1997), Vozes do Povo: A Folclorização em Portugal (2003; com Jorge de Freitas Branco) e Traditional Arts in Southern Arabia: Music and Society in Sohar, Sultanate of Oman (2009; com Dieter Christensen) [imagem retirada daqui].


Retiro uma fatia da entrevista de Salwa Castelo-Branco dada a Mário Lopes (Público): "O que havia era um trabalho de colecta, meritório e importante, mas não havia o ensino da etnomusicologia, nem a pesquisa verdadeiramente etnomusicológica, que assenta na música enquanto fenómeno social. Giacometti fez um trabalho meritório, mas que se centrou no som musical. Ele queria registar, e fez isso muito bem de norte a sul do país, mas não tinha formação nem interesse no estudo das problemáticas. Por exemplo: desde o período em que começou o trabalho dele, em 1959, que se prolongaria até final dos anos 1980, Portugal passou por várias mudanças. Nos anos 1960, a época da grande mudança, houve a emigração para o estrangeiro e a imigração com o início da guerra colonial. Isso, quer num contexto rural quer urbano, afectou a música de forma extremamente aguda. Por outro lado, havia o movimento folclórico apoiado pelo Estado Novo. Eu teria gostado de saber qual foi a vivência das pessoas nas aldeias em que Giacometti gravou. Vou evocar um contexto que conheço muito bem, Cuba do Alentejo. Que diferença havia entre o cante nas tabernas e o cante num grupo? Olhando para hoje, vejamos a globalização. O que é que o estudo da música nos pode ensinar sobre ela? O que é que a música nos pode ensinar sobre as identidades dos grupos migrantes na área metropolitana de Lisboa, ou nos migrantes portugueses que vão para fora"?

Pode ler-se uma curta entrevista que fiz a Salwa Castelo-Branco em julho do ano passado aqui.

"Gostaria muito que o herói se chamasse Afonso. É um nome tão bonito"

Diretamente da Torre do Tombo, a ler o arquivo da Mocidade Portuguesa:

"Exmº Senhor,

"Já tenho 15 anos feitos e a mamã não quer que eu leia romances ou dramas românticos. Proibiu-me tudo o que fosse horrível ou divertido. No dizer dela, tais leituras obscurecem a imaginação de uma rapariga da minha idade. Eu não acredito nisso e vou-me à biblioteca do papá e leio tudo o que me vem à mão. Não posso descrever o prazer que sinto em ler à noite, na cama, um livro que me tivessem proibido. Acontece que se esgotou a biblioteca do papá e não sei o que fazer.

"Não poderia o senhor, que escreve livros tão bonitos, escrever um pequeno drama e uma pequena obra, tipo série «negra» com coisas horríveis e amor à «Lord Byron»? Ficar-lhe-ia eternamente reconhecida e recomendaria a leitura do seu livro a todas as minhas amigas.

"1º post scriptum: faço questão que o livro acabe mal, e que a heroína morra, sem apelo nem agravo.

"2º post scriptum: se não vir qualquer inconveniente, gostaria muito que o herói se chamasse Afonso. É um nome tão bonito".

Texto apresentado na rubrica Tempo de Teatro, da Rádio Universidade, em 11 de maio de 1970. Coordenação do programa: Alexandre Ribeirinho, montagem: Jorge Baptista, assistência técnica: Ramos Brás, locução: Maria de Fátima e Eduardo Fidalgo. No mesmo dia ou em dias seguintes, John Lennon nessa frequência e estação (em programação da Emissora Nacional) cantava Give Peace a Chance. A guerra colonial em três frentes africanas estava no auge. Quando li que a música do beatle passava na rádio da Mocidade Portuguesa tive de voltar a ler e a confrontar datas. Mas está lá escrita a indicação. A Rádio Universidade - que pertencia à Mocidade Portuguesa, uma estrutura do Estado Novo - fora fundada em 3 de abril de 1950, a partir da compra da Rádio Luso, e "transmitia diariamente programas culturais e recreativos concebidos e realizados por estudantes em regime de puro amadorismo", a partir da rua de D. Estefânia, 14, em Lisboa.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Tendências

"Um estudo da Universidade College de Londres revela que os mais jovens estão a abandonar o site [Facebook] em detrimento de outras redes sociais consideradas mais "fixes", como o Twitter, o Instagram, ou o Snapchat e o WhatsApp" (Expresso).

A interactividade nos programas de rádio

A Construção da Ordem Interaccional na Rádio. Contributos para uma análise linguística do discurso em interacções verbais é um livro de Carla Aurélia de Almeida e repousa sobre a tese de doutoramento que a autora defendeu na Universidade Aberta (2005), universidade onde lecciona.

O texto faz a análise linguística de interacções verbais (p. 19), em cinco programas de rádio portugueses nocturnos (p. 20) claramente interactivos (p. 75) - Boa Noite, Clube da Madrugada, Estação de Serviço, Tempo de Antena e Bancada Central (p. 83) -, num universo de 479 ouvintes e participantes e num período de recolha de dados compreendido entre 1997 e 2001 (p. 80), considerando as estratégias discursivas específicas, em especial as de ordem interaccional e de alinhamento dos participantes (p. 76). Em suma, a autora analisa as vozes na rádio e a sua heterogeneidade no discurso, a amplificação do dito e o modo como os interactantes procedem à desconstrução do sentido e à intercompreensão do que é dito e implícito (p. 77).

Alguns conceitos e autores que o livro abrange são quadros interaccionais e falar autêntico (Erwing Goffman), fala corrente (Harold Garfinkel), máximas conversacionais (Paul Grice), ligados ao interaccionismo simbólico e à teoria da acção linguística, estúdio como espaço discursivo público (Paddy Scannell), ligado aos media, e contrato comunicativo (Patrick Charadeau). Alguns títulos de capítulos ou tópicos centrais na investigação de Carla Aurélia de Almeida são: a linguagem em acção, práticas discursivas, processos de construção de sentido, aberturas e fechos da comunicação entre o locutor e animador e o público que usa o telefone ou o email e as redes sociais. A autora observa a constituição de elementos essenciais na produção do discurso radiofónico: controlo do tempo de emissão, voz e dicção do locutor, conteúdo e público abrangido no programa e condições de emissão (directo e diferido, diurno e nocturno) (p. 72). Ela acentua a importância da voz e do estúdio, em que aquela é uma presença incorpórea mas vital para tornar a rádio um meio íntimo e quente (p. 74), mas também as interacções verbais estabelecidas entre o locutor e o ouvinte: regras constitutivas, estratégicas, tácticas, agonísticas ou de competição e miméticas ou consensuais. O livro é uma confluência de áreas científicas diferentes como a pragmática linguística, a análise do discurso, a análise conversacional, a análise interaccional, a sociolinguística interaccional, a comunicação a e sociologia e procura saber as estratégias discursivas instaladas em momentos cruciais no contacto telefónico entre locutor e ouvinte (abertura, desenvolvimento e fecho).

O tempo é uma marca da rádio, escreve Carla Aurélia de Almeida, com os programas rodeados por referências à hora, ao boletim informativo e à temperatura (p. 87) (e acrescento eu: ao movimento matinal e de fim de tarde do tráfego rodoviário na 2ª circular, em Lisboa, ou na VCI, no Porto). E o locutor, de novo, enquanto organizador do diálogo: ele, enquanto anfitrião, faz a gestão do tempo, distribui a vez da elocução (isto é, fecha a via a um ouvinte e abre a via para outro ouvinte falar), mantém e relaciona os temas do programa e estabelece o que a autora designa por coerências semântico-pragmáticas interdiscursivas (p. 92).

Para Carla Aurélia de Almeida, não foi fácil reunir um conjunto sistemático de informações respeitantes aos ouvintes participantes. Mas, apesar disso, com o enorme trabalho de recolha que o seu corpus demonstra - mais de meio milhão de palavras - ela conseguiu obter dados quanto a sexo, idade, região do país de onde falavam e profissão (p. 97). Assim, 2/3 dos ouvintes participantes são homens, a maioria geográfica provém da Grande Lisboa (29%) e do Grande Porto (14%), há um peso significativo do operariado da indústria (9%), a que se seguem intelectuais e cientistas (8%), sem conseguir identificar profissionalmente 31% dos ouvintes (p. 98). Olhando para os programas, ela destacou o programa Estação de Serviço, com um predomínio do operariado (50%), ao passo que Bancada Central tinha 10% de intelectuais e cientistas como ouvintes participantes.

Leitura: Carla Aurélia de Almeida (2012). A Construção da Ordem Interaccional na Rádio. Contributos para uma análise linguística do discurso em interacções verbais. Porto: Edições Afrontamento, 259 p., 16 €

Textos da autora sobre rádio e interacção:

2011 - “Aspectos semânticos e pragmáticos da co-construção de identidades discursivas em narrativas de experiência de vida produzidas por participantes de emissões nocturnas de rádio” in Costa, Armanda; Falé, Isabel; Barbosa, Pilar (orgs.) Textos Seleccionados, XXVI Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, Lisboa, APL, ISBN 978-989-97440-0-4; também disponível em http://www.apl.org.pt/apl-actas/xxvi-encontro-nacional-da-associacao-portuguesa-de-linguistica.html.

2010a - «Então hoje pelos vistos o tema disse-lhe qualquer coisinha mais de perto, não?»:posições interaccionais e a co-construção de identidades discursivas em emissões nocturnas de rádio (“radio phone-in programmes”) in Silva, Augusto Soares; Martins, José Cândido; Magalhães, Luísa; Gonçalves, Miguel (orgs.) Comunicação, Cognição e Media, Braga, ALETHEIA, Publicações da Faculdade de Filosofia, Universidade Católica Portuguesa, pp. 3-15, vol.2, ISBN 978-972-697-195-5.

2010b - “(…) é um rapaz cheio de sorte, digo-lhe já (risos)”: o humor como estratégia discursiva de mitigação do conflito (potencial) em interacções verbais na rádio in Brito et al., Textos Seleccionados, XXV Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, Porto, APL, pp. 127-142, ISBN 978-989-96535-1-1; disponível também em http://www.apl.org.pt/apl-actas/xv-encontro-nacional-da-apl.html.

2010c - “«se à sua imagem corresponder a beleza da sua voz, é fácil imaginar a razão pela qual não nos dá o sono nestas duas horas»(ouvinte do programa ‘Boa Noite’): a co-construção do sentido em programas de rádio nocturnos”, in Ribeiro, José da Silva; Gonçalves, Ortelinda; Pinto, Casimiro (2010) Imagens da Cultura. Actas do VI Seminário Imagem da Cultura, Cultura das Imagens, Ebook, Edição Centro de Estudos das Migrações e Relações Interculturais – CEMRI –Universidade Aberta, ISBN: 978-972-674-699-7, pp. 122-130; disponível em
 
2009 – “Processos de figuração e manutenção da ordem interaccional: estratégias de mitigação no quadro do sistema de delicadeza desenvolvido pelos participantes de programas de rádios específicos” in Fiéis, Alexandra; Coutinho, Maria Antónia (2009) Textos seleccionados. XXIV Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística,Braga, 20-22 de Novembro de 2008, Lisboa, Colibri, pp. 43-60, também disponível em
http://www.apl.org.pt/docs/actas-24-encontro-apl-2008.pdf. 
2008 - “O ‘envolvimento conversacional’ no momento de desenvolvimento de interacções verbais na rádio: sequências de actos ilocutórios e ‘estratégias de alinhamento’ em programas de rádio específicos”, in Frota, Sónia; Santos, Ana Lúcia (org.), Textos seleccionados. XXIII Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, Évora, 1-3 de Outubro de 2007, Lisboa, Colibri, 2008, pp. 7-21; ISBN 978-972-96615-1-8; também disponível em http://www.apl.org.pt/images/docs/apl2008.pdf.

2007 - “‘Olhe estamos mesmo no fecho da emissão’:sequências prototípicas de actos ilocutórios, variações e estratégias discursivas no (pré-fecho) e fecho de interacções verbais na rádio” in Lobo, Maria; Coutinho, Maria Antónia, Textos seleccionados. Actas do XXII Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, Coimbra 2-4 de Outubro de 2006, Lisboa, Colibri, pp. 57-71; também disponível online no seguinte local: http://www.apl.org.pt/docs/actas-22-encontro-apl-2006.pdf.

2005 - Discurso radiofónico português: padrões de organização sequencial, actos e estratégias de discurso, relações interactivas e interlocutivas, tese de Doutoramento em Linguística, especialidade Linguística Portuguesa, Lisboa, Universidade Aberta, 2005, texto policopiado em 3 volumes (Tomo I: texto principal; Tomo II e III: Anexos).

2005 - “‘Não foi pela arbitragem que o Boavista perdeu’: a construção do sentido numa interacção conversacional com três participantes” in Carvalho, Dulce; Vila Maior, Dionísio; Teixeira, Rui de Azevedo (orgs.) Des(a)fiando discursos. Volume de homenagem a Maria Emília Ricardo Marques, Lisboa, Universidade Aberta, pp. 5-16; ISBN 972-674-456-3; disponível também no seguinte local: http://repositorioaberto.univ-ab.pt/bitstream/10400.2/331/1/Des%28a%29fiando%20Discursos5-16.pdf.pdf.

2004 - “‘Eh pá, pere aí, mas pere aí um pouco...’: a dinâmica das trocas interlocutivas em interacções verbais na rádio” in Oliveira, Fátima; Duarte, Isabel Margarida (orgs.), Da Língua e do Discurso, Porto, Campo das Letras, pp. 157-193; ISBN 972-610-902-2.

2003 - “Algumas questões teórico-metodológicas levantadas pela análise de um corpus de interacções verbais na rádio” in Actas do XVIII Encontro da Associação Portuguesa de Linguística (Porto, 2-4 de Outubro de 2002), Lisboa, Colibri, pp. 37-45; também disponível online no seguinte local: http://www.apl.org.pt/docs/actas-18-encontro-apl-2002.pdf.

sábado, 28 de dezembro de 2013

5th International Audiovisual Research Conference: Technology and Applied Digital Contents, Madrid, Spain


ESNE, Escuela Universitaria de Diseño e Innovación [Avenida de Alfonso XIII, 97, Madrid], together with Icono 14, undertake the organization of the 5th International Audiovisual Research Conference: Technology and Applied Digital Contents. The objective of this edition is to deepen, discuss and think over the audiovisual industry in its full complexity, particularly addressing to the new realities arising by technological development and new forms of digital contents.

The Conference potential lies in the diversity of all presentations, covering the area in which all actors in the audiovisual process are carried out – creators, broadcasters, media, authorities and audiences. This 5th International Audiovisual Research Conference aims to be an opportunity of scientific and academic analysis of this growing sector from an international, university and professional point of view, with attention paid to the audiovisual sector and its impact on both the educational and socioeconomic point of view. In realm of this 5th Conference is to deal thoroughly new digital contents and implement new communication dynamics, based in technological and natural development of the audiovisual sector.

Researchers are invited to present communication proposals in any of the thematic areas suggested by the organisation.

Broadcasting
Legal and business regulation policies of broadcasting media. Professional profiles and Jobs at present-day audiovisual era. Technology and new languages in broadcasting media. Local, regional, national and international broadcasting ecosystems. New formats in audiovisual media and on the net. New audiovisual media theories, concepts, paradigms and approaches. Mass-media audiences and effects. Dissemination of audiovisual media scientific research. Audiovisual media ethics: self-regulation codes and European Directive. Analysis and semiotics of audiovisual and multimedia discourses. New audiovisual investigation techniques and methods. New players in audiovisuals: Audiovisual clusters and councils. Social Audio Visual. New audiovisual financing options. Transmedia storytelling. Second Screen and impact of the multi-tasking viewer. User Generated Contents. Radio challenges for the Twenty-First Century. Gamification of audiovisual consumption. Challenges for cinema and its business model.

Digital contents
Cultural industries: economic, social and aesthetic aspects. Education and media (Edumedia). Copyright and intellectual property. Audiovisual storytelling and hipermedia: structure, semantics, poetics, rethorics and pragmatics. Interactive multimedia contents. New ad strategies. The power of the digital consumer. Traditional journalism vs. content aggregation. The new book 3.0. YouTube generation Video games as the basis for new information technology. Revival of animation in the Twenty-First Century. Social and empathic video games or how gaming can rejuvenate an aging society. Self-editing / Content creation and editing.

Channels/technologies
Big data and audiovisual content consumption. Internationalization vs. Regionalization. Digital marketing platform. Smartphones, phablets, tablets. Device challenges for consumption of digital content. Cloud distribution platforms. The Revolution of digital and audiovisual content streaming. New models for the distribution of literature industry. Ubiquitous computing and its impact on content consumption and Access.

Schedule
5th December 2013. Further information about the Conference will be available at the official website.
5th December 2013. Online registration for the Conference is now open
30th January 2014. Abstracts reception deadline
5th February 2014. Communication date for abstracts acceptance or rejection.
6th February 2014. Accepted abstracts publication at the Conference web page.
15th March 2014. Due date to send the full paper text.
22th March 2014. Accepted papers publication.
1st April 2014. Inscription fees payment due date.
24th April 2014. Conference Opening.

To know more: http://congresoaudiovisual.esne.es/

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Onze anos na blogosfera

O meu contributo para a blogosfera vem desde 26 de Dezembro de 2002. Há onze anos!


[imagem publicada na revista Flama, de 11 de Novembro de 1955]
 

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Memórias dos media

O pai de José Jorge Letria morreu quando ele tinha 16 anos. Prometeu à mãe dar menos atenção às guitarras e preparar-se para o curso de direito. Andou pela Faculdade, mas a música foi mais forte e enveredou por uma carreira que o levou a Paris e a outras andanças. Vicente Jorge Silva chegou ao quinto ano do liceu e fartou-se. Na Madeira, na esquina do café Golden Gate, ele via os passageiros que vinham de fora ou iam para fora da ilha. Para ele, esses viajantes vinham de mundos nebulosos ou estranhos para a terra, a existência, a vida. No caso de ambos, os percursos políticos são marcantes: José Jorge Letria da simpatia e militância no Partido Comunista para o Partido Socialista, Vicente Jorge Silva de social-democrata mais ou menos anarquista para deputado do Partido Socialista e abandono posterior.

Ambos apanharam a mudança de regime político em 1974 e fizeram opções políticas, eles que já estavam engajados social e culturalmente. O percurso de José Jorge Letria levou-o a Paris, ao contacto com a música de José Mário Branco, à descoberta e companhia de José Afonso e Carlos Paredes, à cumplicidade com José Barata-Moura. Eles eram os músicos que começavam a ser conhecidos mas marginalizados pela política vigente em 1968 e anos seguintes, até à explosão de 1974, momento a partir do qual os músicos receberiam muitas solicitações mas se separariam, consumidos pelas fracções partidárias. José Jorge Letria, entretanto com família constituída, tornara-se jornalista, percorrendo o Diário de Lisboa, o República, o Musicalíssimo, o Diário de Notícias e o Diário. Depois, viria o pelouro da cultura na Câmara Municipal de Cascais e a direcção da Sociedade Portuguesa de Autores.

Vicente Jorge Silva começara, depois de paragens em Londres e Paris, à procura de entrar num curso de cinema, por explorar uma agência de publicidade até que apareceu o Comércio do Funchal, o jornal cor-de-rosa que vendia e quase não tinha problemas com a censura apesar de muitos artigos censuráveis pelo regime político. Mudado o regime, surgia a oportunidade de começar a "Revista" do Expresso, ao lado de nomes como António Mega Ferreira e Teresa Schmidt. Era uma divisão de poderes: o director Marcelo Rebelo de Sousa, que se seguira a Francisco Pinto Balsemão, o proprietário que fora para primeiro-ministro, ficava com o primeiro caderno do Expresso, Vicente Jorge Silva com a revista. Depois, já em 1990, nascia o Público, o melhor diário ainda hoje publicado em Portugal. O seu fundador e primeiro director manter-se-ia seis anos no lugar e, entre muitas coisas, foi conhecido por caracterizar a juventude como geração rasca, por atitudes então tomadas.

De José Jorge Letria, retenho a escassa informação que dedica à rádio (e alguns aspectos da música), caso do suplemento "Mosca" do Diário de Lisboa e da designação nacional-cançonetismo, cunhada por João Paulo Guerra sobre os cantores do Centro de Preparação de Artistas da Rádio da então Emissora Nacional (p. 76). Mas também a referência a Manuel Jorge Veloso, crítico e músico de jazz e director do repertório de jazz da Sassetti (p. 93), as 24 pistas de gravação no estúdio moderno de Paris (p. 94) para o disco lançado e logo apreendido em 1972 (p. 96), o exemplar do disco de José Afonso com a faixa "Grândola" que tocou no programa Limite na madrugada de 25 de Abril de 1974 e foi uma das três senhas na rádio para o avanço dos militares em revolta (p. 155) e o debate sobre música ligeira e música erudita na Emissora Nacional com Luigi Nono (p. 182).

De Vicente Jorge Silva, fico com a sua grande erudição, mesmo que não tenha sequer completado o curso liceal, nomeadamente na literatura e no cinema (e da prática deste). As páginas sobre jornalismo e, em especial sobre o Público, merecem ser lidas e discutidas pelos meus alunos, pois são de uma grande densidade conceptual e prática. Projecto que custou três milhões de contos - uma quantia fabulosa e que creio que não se repetirá -, o seu director procurava alterar a ideia de ciclo de informação semanal a que os leitores do Expresso estavam habituados (p. 155), mas isso não aconteceria. A televisão fornecia essa informação e o Expresso continuava a ser lido ao sábado, fornecendo mais detalhes e profundidade. Fala também da importância do design do jornal e da fotografia (p. 153), da necessidade de uma maior cobertura internacional (p. 151), do caderno local em Lisboa e no Porto (p. 146), da gente nova que nunca tivesse trabalhado em jornais para ingressar no Público (p. 147).

Eu gosto de biografias ou autobiografias, já o escrevi aqui mais de uma vez. Elas narram histórias pessoais, remetem para tempos precisos. Mas não posso esquecer que as biografias são também ajustes de contas do biografado consigo mesmo e as personalidades com que trabalharam ou se relacionaram. Os autores são já sexagenários e preparam a sua posição na História. José Jorge Letria fala dos antigos companheiros comunistas com mágoa ou preocupação, Vicente Jorge Silva nomeia Francisco Pinto Balsemão (proprietário do Expresso), Belmiro de Azevedo (proprietário do Público) e José Manuel Fernandes (anterior director do Público).

Leituras: José Jorge Letria (2013). E Tudo Era Possível. Retrato de Juventude com Abril em Fundo. Lisboa: Clube do Autor, 287 p.
Isabel Lucas (2013). Conversas com Vicente Jorge Silva. Lisboa: Temas e Debates/Círculo de Leitores, 261 p.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

História dos media da Suécia

Editado por Monika Djerf-Pierre e Mats Ekström, A History of Swedish Broadcasting. Communicative ethos, genres and institutional change, com a marca da Nordicom, é um livro sobre os media electrónicos suecos, agora editado.

Os editores falam em cinco temas essenciais no livro: 1) inovações na rádio e na televisão, 2) orientação das audiências, 3) profissões dos media, 4) géneros de programas, e 5) mudanças institucionais. Para Ekström e Djerf-Pierre, estes temas capturam os aspectos significativos da radiodifusão (ou audiovisual, como se queira chamar) como comunicação pública (p. 13). Logo a seguir, os editores destacam a importância da história dos media como actividade multidisciplinar de investigação e relevam o trabalho dos diferentes contribuintes para o volume, que vêm das áreas da história dos media e da comunicação e ainda de áreas relacionadas como os estudos fílmicos. Dão ainda importância à periodização: 1) anos 1920-1950, em que os media se vêem como bem comum e com imparcialidade, 2) anos 1950, quando os media crescem em termos de influência social e de autoridade, 3) anos de 1960 e 1970, com a profissionalização da produção de programas, 4) décadas seguintes, com desregulação e concorrência comercial.

A maior parte dos textos - dezasseis capítulos - é de autores suecos ou nórdicos, mas destaco a senioridade de Paddy Scannell, um autor britânico respeitável e que sigo com assiduidade a sua produção teórica, agora a escrever sobre a historicalidade das instituições centrais da radiodifusão (audiovisual).

Leitura (ainda a fazer, porque o carteiro entregou-me o livro há uma hora): Monika Djerf-Pierre e Mats Ekström (2013). A History of Swedish Broadcasting. Communicative ethos, genres and institutional change. Göteborg: Nordicom, 379 páginas, 360 coroas suecas (40 euros).

Dados sobre audiências de rádio

"Os resultados agora divulgados pela Marktest relativos à vaga de Novembro de 2013, do estudo Bareme Rádio mostram que a Rádio Comercial, do Grupo Media Capital Rádios, se mantém como a estação de rádio mais ouvida em Portugal, com um reach semanal de 30.9%, uma audiência acumulada de véspera de 15.0% e 21.1% de share de audiência. É seguida pela RFM, do Grupo r/com, que obteve um reach semanal de 30.8%, uma audiência acumulada de véspera de 14.5% e 20.6% de share de audiência. A Rádio Renascença registou 15.4% de reach semanal, 7.4% de audiência acumulada de véspera e 9.3% de share de audiência" (http://www.marktest.com/wap/a/n/id~1c89.aspx).

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A rádio para Izani Mustafá

Izani Mustafá é docente de teoria e prática da rádio na universidade brasileira e jornalista. Actualmente, está a fazer o doutoramento, que inclui uma permanência na universidade de Coimbra. Em Portugal, tem participado em congressos com comunicações sobre rádio.

Filha de palestiniano, a quem ouvia em pequena a procura de emissoras de língua árabe, Izani Mustafá nasceu num universo de sons vindos das ondas curtas. Depois, acompanhando as lides domésticas da mãe, ela ouviu as radionovelas, as músicas mais tocadas, os programas de variedades e os noticiários, em ondas médias.



Muito depois, ela procurou reconstituir essas memórias de viver em Joinville e compreender como é que a rádio começou e desenvolveu naquela cidade. E Alô, Alô, Joinville! Está no Ar a Rádio Difusora. A Radiodifusão em Joinville (1941-1961) constituiu a sua tese de mestrado. Razões precisas: saber as motivações pessoais, políticas, sociais e culturais e a programação que levaram ao aparecimento da Rádio Difusora (1941) e de duas outras estações da mesma cidade: Rádio Colon (1958) e Rádio Cultura (1959).

Assim, a autora estudou o pioneiro (Wolfgang Brosig), o primeiro locutor (Jota Gonçalves), as mulheres na rádio (Juracy Maria Brosig e Ruth Costa) e a programação das três estações, num período preciso: 1941 a 1961. Mas acompanhou ainda o percurso de outros homens da rádio de Joinville: Eli Francisco, Léo César, Mario Hüttl, Paulo Roberto Brosig, Ramiro Gregório. A programação incluiria áreas como radionovelas, programas de auditório ao vivo, musicais e transmissões desportivas. A autora também analisou a informação. As estações viveram perto de simpatias políticas, o que representou facilidades ou dificuldades em distintos períodos.

Um lado interessante da obra é o trabalho da reconstituição de memórias. Como escreve na p. 97: ela "não seria tão completa e abrangente de dependesse apenas da pesquisa documental em acervos públicos, particulares e privados. Principalmente porque o objecto de estudo faz parte da História do Tempo Presente, o que significa ter permissão para ir muito além da investigação aprofundada em documentos, jornais, revistas e fotografias, e trabalhar com a história oral, com a colecta de depoimentos".

Leitura: Izani Mustafá (2009). Alô, Alô, Joinville! Está no Ar a Rádio Difusora. A Radiodifusão em Joinville (1941-1961). Joinville: Prefeitura e Fundação Cultural de Joinville, 194 páginas

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

João Mendonza, um percurso musical

João Mendonza nasceu em Setúbal em 1991. Aos onze anos, iniciou estudos de piano e com treze anos entrou no conservatório regional de Setúbal, onde conheceu a soprano portuguesa Filomena Amaro. É esta professora que levou João a ingressar no Conservatório Nacional de Lisboa onde protagonizou a ópera barroca de Henry Purcell Dido e Eneias (1688) como príncipe Eneias. O curso do conservatório foi concluído este ano. Em 2010, foi convidado por Carlos Barreto Xavier, seu antigo professor, para fundar os Radiophone. Durante três anos compôs e gravou com a banda no BBS estúdio de Pedro Almeida, o guitarrista do projecto. Em 2014, lançará o álbum, intitulado Wonder Woman, com singles a passar actualmente nas novelas da TVI. João Mendonza é aluno da Universidade Católica Portuguesa, onde frequenta a licenciatura de Comunicação Social e Cultural.



[imagens de concertos retiradas de http://www.youtube.com/watch?v=glKz0oLfGnU e http://www.youtube.com/watch?v=yEoh3mJd_Ec]

O Porto em 1958, segundo a revista Flama

Na capa, à esquerda, deteta-se um anúncio luminoso Rádio Porto, logo a seguir aos Armazéns do Porto. Era uma estação de rádio e uma loja de electrodomésticos. A rainha inglesa passara por aí uns meses antes, num cortejo de muitos automóveis e muita assistência popular a ver esse cortejo, conforme outro número da revista mostrara em imagens.

O maior tráfego na rua dos Clérigos era constituído por carros eléctricos. A bitola da linha é mais larga do que a dos eléctricos de Lisboa, por exemplo, o que tornava os veículos menos elegantes. A tecnologia fora aplicada primeiro naquela cidade. Vê-se uma carroça à frente do eléctrico que desce para a Praça da Liberdade. E um transeunte passa tranquilo, aparentemente alheio ao movimento de veículos. O eléctrico mais próximo da máquina do fotógrafo - que estava na escadaria da Torre dos Clérigos - publicita Zenith, uma marca de relógios então muito conhecida.

No interior da revista, há um texto de Pinto Garcia, então um jovem jornalista. Muito mais tarde, conheci-o como jornalista do Jornal de Notícias e um dos responsáveis da Escola Superior de Jornalismo.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Um sítio da rádio

Uma história do Rádio no Rio Grande do Sul, "na contagem regressiva para os 90 anos do rádio gaúcho", por Luiz Artur Ferraretto (https://www.facebook.com/#!/radionors) é um sítio alojado no Facebook que merece ser acompanhado.

 

domingo, 15 de dezembro de 2013

Morte de cinemas

Aqui, ainda não tinha comentado o desaparecimento do cinema King, junto ao cruzamento das avenidas de Roma e Frei Miguel Contreiras. Eram três salas onde se via com frequência cinema não mainstream - cinematografias europeia, americana independente, correntes de cinema asiático.

O desaparecimento do complexo de cinemas King, com uma justificação heterodoxa (aumento exagerado do aluguer do espaço), sucede ao recente desaparecimento das duas salas do Londres, na avenida de Roma, não muito longe do King, e onde passava um cinema mais mainstream mas juntando o popular e a qualidade. A explicação por detrás do seu encerramento também foi bizarra: o não pagamento de electricidade obrigava o cinema a encerrar. Alguns anos antes, as quatro salas do Quarteto, também perto da esquina das avenidas de Roma e dos Estados Unidos, tinham fechado. O Quarteto passava filmes de qualidade de cinematografias minoritárias.

O encerramento destas salas sucessivas no eixo da avenida de Roma pode explicar-se por mudanças de hábitos de consumo e por novas centralidades na cidade. Um dos elementos que justificam esta minha ideia é o aparecimento de cinemas na praça do Campo Pequeno, posterior ao desaparecimento da sala Apolo 70 (que estava num dos centros comerciais mais antigos da cidade, do lado ocidental do campo Pequeno). O complexo de cinemas no edifício El Corte Inglés (UCI), do outro lado das avenidas novas, tornou-se também outro polo novo de atracção.

O envelhecimento e a baixa de poder de compra da população do eixo à volta da avenida de Roma, agora com mais de oitenta anos, antes avenida 19, enobrecida com a linha de metropolitano inaugurado cerca de 1960, pode ser outro elemento. Ainda um outro elemento relaciona-se com o final de ciclo de vida activa de proprietários dos cinemas ou de perda de espectadores e correspondentes perdas financeiras que inviabiliaram a continuidade das empresas (a razão mais plausível para o encerramento sucessivo das salas). O cinema em casa, através dos canais de televisão por cabo, negócio em franca ascensão, é outro elemento justificativo.

Recordo a importância da avenida de Roma, com o comércio, caso das sapatarias, cujo número vem descendo muito, e das pastelarias, como Luanda, Sul-América, Suprema e Vá-Vá, algumas delas tendo sido locais de tertúlias de intelectuais, políticos e homens de cinema. Lembro ainda a importância do teatro Maria Matos. Será que a avenida de Roma está a perder a ideia de um espaço para morar e viver (lojas, lazer, espaços públicos) e ganhar a noção de rodovia de entrada e saída do centro para as periferias a norte da cidade? O fecho das salas de cinema parece indiciar isso.

Selfie

É a palavra do ano, já incluída na versão digital do dicionário Oxford. Selfie é o auto-retrato que um indivíduo tira a si próprio através de uma máquina fotográfica digital ou de um telemóvel com câmara fotográfica.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Rádio Graça em 1954

A estação começou a emitir em 27 de Março de 1932, a partir da rua Machado de Castro, 3, no bairro da Graça, em Lisboa. Modesta de início, Américo Santos manteve o seu emprego como guarda-livros. O filho adolescente Alberto Santos ligava o emissor e a esposa tornou-se a primeira locutora portuguesa. Depois, com o desenvolvimento da estação, Américo Santos dedicou-se totalmente e abandonou a profissão anterior. A Rádio Graça passou a emitir da rua da Verónica, também no bairro da Graça, com um auditório para 300 pessoas e vivendo dos programas rádio-publicitários e da cotização de 1800 associados. A partir de Outubro de 1951 pertencia aos Emissores Associados de Lisboa. Com a nacionalização de Dezembro de 1975, ia desaparecer uma marca radiofónica cuja glória foi a transmissão do folhetim A Força do Destino, mais conhecido pelo folhetim da coxinha do Tide [Flama, 16 de Julho de 1954].


sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Roupa em segunda mão

Observação prévia: não tenho qualquer interesse (comercial ou afectivo) na actividade de roupa em segunda mão.

Com o título Lojas de roupa em segunda mão (Ottawa e Porto), em 9 de Maio de 2011 (http://industrias-culturais.hypotheses.org/13890) comecei a escrever: "As peças que estão nestas montras foram usadas por pessoas que delas se desfizeram e estão prontas a ser vestidas e calçadas por outras pessoas. A troca de venda e compra de roupa e outros acessórios de vestir impõe uma história, uma antropologia e uma sociologia da moda e dos afectos. O que leva alguém a vender um vestido ou umas calças ou um par de sapatos? Porque já não gosta, porque mudou de casa e não tem espaço, porque cresceu, porque precisou de fazer algum dinheiro? E quem compra? Para adereços de um filme ou novela, por nostalgia de uma moda de anos antes, por preços mais baratos, porque as peças já estão ajustadas aos corpos depois de algum uso"?


[Absolutribut, rua Formosa, 194, Porto]

O texto trazia duas fotografias, uma retirada na capital federal do Canadá e outra no Porto. Não fazia qualquer afirmação de intermediário de compra e venda de roupa. Mas alguém julgou ser eu empresário e até agora recebi 121 mensagens, perguntando-me onde vender e comprar vestidos de noiva, roupa de criança, carteiras e peças de couro, como abaixo se pode ler. A partir da análise das mensagens a seguir identificadas, pode fazer-se um estudo antropológico de um mercado em evolução: a roupa em segunda mão.


Beckett no Porto

Duas salas de teatro ofereciam Beckett: Ah, os Dias Felizes, no Teatro Nacional de S. João, e Machina Beckett, do Teatro Plástico no Teatro Helena Sá e Costa [imagem a partir do blogue http://teatroplastico.blogspot.pt/].

Claro que eram duas perspectivas diferentes mas igualmente ricas. A primeira contava com a interpretação de Emília Silvestre, num papel bem desempenhado, e de João Cardoso, dirigidos por Nuno Carinhas. Diz ela sobre um comentário que ouviu: "Que está aquela ali a fazer? diz ele - que sentido é que aquilo tem? diz ele - enterrada até às maminhas - no meio da erva - que personagem mais tosca - o que é isto? diz ele - é suposto ser o quê"?

O texto é sobre o movimento, ou da sua ausência, primeiro da parte inferior do corpo, depois de todo o corpo. O trabalho é ainda sobre o falar consigo mesmo (ou para o público). Recordações, adereços pessoais, diálogo (?) com o marido, que aparece e desaparece logo depois, descrição de quem passa e de como é a vida nesses dias felizes.

Beckett (1906-1989), o último dos modernistas ou o primeiro pós-modernista, ou ainda o autor do teatro do absurdo, com obras minimalistas à medida que evoluia na sua arte, em que À Espera de Godot é a marca principal, tem outra interpretação pelo Teatro Plástico. Aqui, com Andrea Moisés e Viriato Morais e alunos, dirigidos por Francisco Alves, há uma articulação audiovisual e multimedia, em que voz e imagem, palavra e corpo, música e silêncio actuam, como indica a folha volante distribuída no espectáculo. O nascimento (o ovo, o corpo nu), a máscara, o coro grego ou as figuras pós-maquínicas, uma ocupação harmoniosa do espaço.

Na primeira representação, a sala estava cheia mas com público desatento, rindo aqui e acolá, na segunda representação, um público muito jovem, possivelmente oriundo da escola de teatro onde está a sala de teatro. No primeiro, apoiado pela Secretaria de Estado da Cultura, no segundo, espectáculo não financiado pela SEC/DGArtes.

Beckett no Porto em Novembro.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Felizmente, o rock não vai vir para Portugal

Uma das páginas da revista Flama de 16 de Novembro de 1956 trazia o título O "rock" loucura e crise de 1956.

Se, na altura, houvesse palavras do ano, a de 1956 poderia ser rock'n'roll. O movimento, visto de Portugal, era fortemente criticado como o texto da revista indica. Barulheira, excesso, escândalo, desvario, delírio, frenesim e intervenção da autoridade e personalidades famosas (Juliette Greco e Eddie Constantine) eram as palavras chave. Na Flama, lia-se: "O rock continua a sua aparição pelas capitais do mundo. Felizmente, as autoridades intervêm com severidade, reprimindo os desmandos que provocam em quase todas as sessões".

Alguns anos depois, contudo, e apesar de todo o tipo de repressão, a música popular e urbana entrava em Portugal. Houve até um festival de música rock organizado pelo Movimento Nacional Feminino, ia a década de 1960 desenvolvida.


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Novo número da revista Trajectos

TrajectosA revista Trajectos, dirigida por José Rebelo e Muniz Sodré, propriedade do ISCTE, dedicou o número agora saído ao tema "Centralidade/Periferia". Após dois anos de interrupção, a publicação volta ao convívio dos seus leitores. Francisco Pinto Balsemão (sobre o jornalismo do nosso tempo), José Jorge Letria (sobre os direitos de autor) e Pedro Marques Gomes (sobre o Diário de Notícias em 1975) são os três textos de abertura, na secção "Em Análise".

Já na segunda parte do volume, com a designação "Discursividades", há textos sobre a mensagem do presidente da República no Ano Novo, os cartoons e memórias e murais em Tróia. O longo dossier, sobre a estética do "mix" (ou crioulagem ou hibridação ou arte periférica), abarcando investigadores portugueses e brasileiros, inclui textos sobre música (funk, funk gospel, punk e superpop). Alguns textos adiantam propostas radicais, a ler com interesse crítico, onde a cultura da favela do Rio de Janeiro e a cultura burguesa do bairro de Ipanema e Leblon se misturam e se apropriam e expropriam.

Número da revista Jornalismo & Jornalistas

JJChegou hoje às minhas mãos o número mais recente da revista Jornalismo & Jornalistas (55), referente a Julho/Setembro de 2013. O tema de capa aborda o estudo "As Novas Gerações de Jornalistas em Portugal", investigação realizada pelo ISCTE e pelo Instituto de Ciências Sociais e com apoio da Fundação Gulbenkian. Mercantilização, tecnologização e precariedade de emprego nos jornalistas são algumas palavras-chave que ressaltam do estudo, pelo que leio do trabalho agora publicado.

A revista revela quem são os Prémios Gazeta do Jornalismo 2012 na imprensa, rádio, televisão, fotografia, multimedia, imprensa regional, mérito e revelação. Jornalismo das rádios locais, apresentação do CIMJ (Centro de Investigação Media e Jornalismo), texto da jornalista Francesca Borri, que tem coberto a guerra na Síria, recensões de livros agora saídos e curtas análises a sítios da internet relacionados com os media são outros tópicos da revista.

Deixo para o fim dois textos de história da imprensa, o de Gonçalo Pereira sobre o aviador Charles Lindbergh e uma sua passagem pelo Minho, com jornalistas portugueses no seu encalço para obterem um exclusivo, e o de Francisco Pinheiro sobre Carlos Callixto, jornalista, professor e pioneiro do desporto em Portugal.