NOVOS LIVROS SOBRE OS MEDIA E O JORNALISMO (saída prevista: Fevereiro)
- Nelson Traquina, A tribo jornalística, da Editorial Notícias
- Elsa Costa e Silva, Os Donos da Notícia – Concentração da Propriedade dos Media em Portugal, da Porto Editora
NOVA IMAGEM DA RTP
Está para breve a apresentação da nova imagem da RTP.
Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
sábado, 31 de janeiro de 2004
sexta-feira, 30 de janeiro de 2004
TELEVISÃO
A partir do blog Ver TV, retiro a seguinte informação:
Melhor minuto de 28 de Janeiro: o do Jornal Nacional, da TVI (às 21:43). Registaram-se 22,2% de audiência, significando 2.099.898 telespectadores.
Comentário meu: Espantosa precisão do número de espectadores! Quantos audímetros em Portugal? 1000? Curiosas as dimensões de amostras noutros países: na Alemanha, 5640; em Espanha, 3105; nos Estados Unidos, 5094; no Reino Unido, 4500 [valores apresentados em congresso sobre televisão na Universidade de Navarra (Novembro de 2003)]. O número baixo de audímetros é uma das principais fragilidades da mensuração das audiências. No congresso referido, o autor da comunicação, Carlos Lamas, da Associación para la investigación en Medios de Comunicación, entende haver necessidade de segmentação da audiência, de se possuir uma taxa de resposta pouco acima de 10% e disciplina dos painelistas (audiência não coberta, duplicada, consumos excessivos, ausência de consumo, cortes na corrente do audímetro).
Outros dados que encontrei no blog Ver TV:
Top 5 - 28 de Janeiro de 2004: 1) Jornal Nacional (TVI) Rat%16,8 - Shr%38,4; 2) Morangos Com Açúcar (SIC) Rat%15,4 - Shr%37,5; 3) Queridas Feras (SIC) Rat%13,5 - Shr%40,5; 4) Os Malucos do Riso – repetição (SIC) Rat%12,4 - Shr%29,1; 5) Jornal da Noite (SIC) Rat%12,3 - Shr%28,2.
Audiência e share - 28 de Janeiro: RTP1 - Rat%3,3 / Shr%22,5; Dois - Rat%0,5 / Shr%3,1; SIC - Rat%4,3 / Shr%29,0; TVI - Rat%5,0 / Shr%33,9; Vídeo/outros - Rat%1,7 / Shr%11,5.
A partir do blog Ver TV, retiro a seguinte informação:
Melhor minuto de 28 de Janeiro: o do Jornal Nacional, da TVI (às 21:43). Registaram-se 22,2% de audiência, significando 2.099.898 telespectadores.
Comentário meu: Espantosa precisão do número de espectadores! Quantos audímetros em Portugal? 1000? Curiosas as dimensões de amostras noutros países: na Alemanha, 5640; em Espanha, 3105; nos Estados Unidos, 5094; no Reino Unido, 4500 [valores apresentados em congresso sobre televisão na Universidade de Navarra (Novembro de 2003)]. O número baixo de audímetros é uma das principais fragilidades da mensuração das audiências. No congresso referido, o autor da comunicação, Carlos Lamas, da Associación para la investigación en Medios de Comunicación, entende haver necessidade de segmentação da audiência, de se possuir uma taxa de resposta pouco acima de 10% e disciplina dos painelistas (audiência não coberta, duplicada, consumos excessivos, ausência de consumo, cortes na corrente do audímetro).
Outros dados que encontrei no blog Ver TV:
Top 5 - 28 de Janeiro de 2004: 1) Jornal Nacional (TVI) Rat%16,8 - Shr%38,4; 2) Morangos Com Açúcar (SIC) Rat%15,4 - Shr%37,5; 3) Queridas Feras (SIC) Rat%13,5 - Shr%40,5; 4) Os Malucos do Riso – repetição (SIC) Rat%12,4 - Shr%29,1; 5) Jornal da Noite (SIC) Rat%12,3 - Shr%28,2.
Audiência e share - 28 de Janeiro: RTP1 - Rat%3,3 / Shr%22,5; Dois - Rat%0,5 / Shr%3,1; SIC - Rat%4,3 / Shr%29,0; TVI - Rat%5,0 / Shr%33,9; Vídeo/outros - Rat%1,7 / Shr%11,5.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2004
ACTUALIZAÇÕES
Segundo a newsletter da Marktest.com, de ontem, o investimento na rádio atingiu 170 milhões de euros em todo o ano de 2003. Na minha mensagem de 23 de Janeiro, eu estimara, a partir dos dados de Novembro, este valor como o nível mais elevado. Resta dizer que o universo da Marktest abrange apenas a TSF, a Rádio Renascença e a Media Capital. Conforme já chamara a atenção na referida mensagem, o universo das rádios do país (regionais e locais) deve valer 30% deste valor, atirando o volume para cima dos 200 milhões de euros.
Ainda de acordo com a Marktest, o meio rádio representou 7% do total do investimento publicitário, número inferior ao do ano anterior. Isto significa que o investimento publicitário se deslocou para outros meios.
Segundo a newsletter da Marktest.com, de ontem, o investimento na rádio atingiu 170 milhões de euros em todo o ano de 2003. Na minha mensagem de 23 de Janeiro, eu estimara, a partir dos dados de Novembro, este valor como o nível mais elevado. Resta dizer que o universo da Marktest abrange apenas a TSF, a Rádio Renascença e a Media Capital. Conforme já chamara a atenção na referida mensagem, o universo das rádios do país (regionais e locais) deve valer 30% deste valor, atirando o volume para cima dos 200 milhões de euros.
Ainda de acordo com a Marktest, o meio rádio representou 7% do total do investimento publicitário, número inferior ao do ano anterior. Isto significa que o investimento publicitário se deslocou para outros meios.
domingo, 25 de janeiro de 2004
ACTUALIZAÇÕES
Máquinas fotográficas da Kodak - o fim dos rolos de 35 mm (post de 18 de Janeiro)
No El Pais de hoje vem a notícia da redução de 15 mil postos de trabalho em resultado da alteração estratégica da Kodak. A supressão dos empregos reside nas unidades ligadas à produção dos rolos. A inovação tecnológica, plena de vantagens inerentes a ela, significa também alterações dolorosas no tecido social.
Quarteto (post de 13 de Janeiro)
A distribuidora Castello Lopes, a que as salas Quarteto estão ligadas, tem 93 salas e 14700 lugares. A grande aposta da Castello Lopes é nos cinemas localizados em centros comerciais (Viana do Castelo, Guimarães, Póvoa do Varzim, Porto, Gondomar, Coimbra, Fátima, Oeiras, Cascais, Mem Martins, Barreiro, Setúbal, Guia, Portimão, Funchal e Ponta Delgada), para além de salas localizadas fora de centros comerciais, em Leiria, Batalha e Lisboa (Quarteto e Londres). Há uma aproximação à perspectiva comercial da Lusomundo. Um dos filmes actualmente em exibição nas salas da Castello Lopes é Lost in translation, de Sofia Coppola, de cujo pequeno catálogo extraí esta informação.
Sena Santos deixa RDP (post de 7 de Janeiro)
Algumas notícias têm vindo a público sobre esta situação. O Expresso de ontem fez uma síntese. O jornalista teria formulado convites para futuros programas de rádio e televisão, recebendo dinheiro adiantado. A ser assim é muita pena.
Máquinas fotográficas da Kodak - o fim dos rolos de 35 mm (post de 18 de Janeiro)
No El Pais de hoje vem a notícia da redução de 15 mil postos de trabalho em resultado da alteração estratégica da Kodak. A supressão dos empregos reside nas unidades ligadas à produção dos rolos. A inovação tecnológica, plena de vantagens inerentes a ela, significa também alterações dolorosas no tecido social.
Quarteto (post de 13 de Janeiro)
A distribuidora Castello Lopes, a que as salas Quarteto estão ligadas, tem 93 salas e 14700 lugares. A grande aposta da Castello Lopes é nos cinemas localizados em centros comerciais (Viana do Castelo, Guimarães, Póvoa do Varzim, Porto, Gondomar, Coimbra, Fátima, Oeiras, Cascais, Mem Martins, Barreiro, Setúbal, Guia, Portimão, Funchal e Ponta Delgada), para além de salas localizadas fora de centros comerciais, em Leiria, Batalha e Lisboa (Quarteto e Londres). Há uma aproximação à perspectiva comercial da Lusomundo. Um dos filmes actualmente em exibição nas salas da Castello Lopes é Lost in translation, de Sofia Coppola, de cujo pequeno catálogo extraí esta informação.
Sena Santos deixa RDP (post de 7 de Janeiro)
Algumas notícias têm vindo a público sobre esta situação. O Expresso de ontem fez uma síntese. O jornalista teria formulado convites para futuros programas de rádio e televisão, recebendo dinheiro adiantado. A ser assim é muita pena.
sábado, 24 de janeiro de 2004
SOBRE OS WEBLOGS - III
A um dos meus blogues de culto, Janela Indiscreta, fiz uma espécie de inquérito, procurando saber como apareceram e como funcionam. Eis as respostas:
"É verdade, a Janela começou no dia 2 de Fevereiro [de 2003] (dia em que João César Monteiro fazia anos) e no seguinte ele morreu e nós demos a notícia, mas daí a ele ser o profeta... bom agrada-me a ideia mas não é verdade, ele seria profeta de coisas melhores... Quanto ao acto fundador não existe, surgimos sem saber bem para quê, isto é uma espécie de ocupação de tempos livres. Agradeço os elogios mas não sei bem o que responder. É verdade, distribuímo-nos pelo Porto e por Lisboa, gostamos de demasiadas coisas, literatura e cinema entre elas… E passo já a batata quente a outro indiscreto" (Cristina Fernandes).
Já para Ana Alves, "os gostos aqui oscilam entre demasiadas coisas. Não temos acto fundador, mas temos a fundadora Cristina [Fernandes]. O 1º post não foi aquele artigo do Público sobre o livro «English as she is spoke»"? Outro dos bloguistas da Janela reconhece: "deambulamos entre o Porto e Lisboa; acto fundador, é como diz a Cristina; e quanto a gostos, acho que, tomando a liberdade de falar por todos, a gente gosta do que nos faz feliz, ou como li noutro blog de que gosto muito (o 1bsk do Alexandre Andrade), faz tudo parte do "combate diário pela felicidade", com a ressalva de que combate é talvez uma palavra demasiado forte, é mais uma ocupação de tempos livres mesmo, e quanto mais tempo livre houver para a felicidade melhor (e já estou a divagar, mas como diz o sempre oportuno ditado, divagar se vai ao longe)" (António Rebelo, Tó).
Anteontem, entre outros posts, na Janela Indiscreta escrevia-se: “Robert Walser (Para todos). Robert Walser (1878-1956) nasceu em Biel, na Suíça. Abandonou os estudos aos catorze anos e trabalhou num Banco como escriturário, como mordomo num castelo e como assistente de um inventor antes de descobrir o que William Gass chama "a sua verdadeira profissão" – a loucura. Desde os vinte e um anos de idade, altura em que lhe foi (mal) diagnosticada uma esquizofrenia, até decidir internar-se em 1933, escreveu nove romances, de que restam quatro, entre eles Jakob Von Gunten (1908) e mais de mil contos e textos curtos. Em 1933 desistiu de escrever e internou-se num asilo psiquiátrico – onde ficou até morrer. "Não estou cá para escrever – disse – mas para ser louco". Kafka, Musil, Hermann Hesse e Walter Benjamin foram os poucos contemporâneos que o reconheceram e admiraram. Hoje é considerado um dos grandes escritores de língua alemã deste século. O Jantar (Das Diner), publicado em 1923, foi tirado do VII volume das suas Obras Completas (Das Gesamtwerke - Prosa aus des Bieler und Berner Zeit, 1921-1925), ed. Helmud Kossodo, 1966” (texto retirado da revista Ficções).
E hoje – dia de grande produção do grupo, e que inclui uma imagem referente a um dos planos finais do filme Lost in translation - comentava-se a propósito do filme, "sobre o qual pouco se pode dizer, pois trata-se de uma sequência de pequenos nadas e de histórias mil vezes vistas e contadas embutidas numa cidade onde tudo é estranho e invulgar e em que boa parte da acção decorre num «não-lugar» como são todos os hotéis. E é este cenário estranho e alienante que ilumina todos os relevos e angulosidades desta "não-história" – isto, para além de Bill Murray e Scarlett Johansson em duas interpretações maravilhosas, e da música, e quem escolheu esta nefelibata banda sonora sabia bem o que estava a fazer. Pouco se pode dizer, sim, mas hoje quando abri o Público e vi a capa do suplemento Y, o filme passou à desfilada na minha cabeça, juntamente com as canções" (António Rebelo, Tó).
Resumindo, neste weblog - onde os seus autores "indiscretos" escrevem sobre literatura e cinema, entre outros gostos -, não há uma só geografia, mas duas (Lisboa, ao "pé" do Tejo, e Porto, à "beira" do Douro), nasceram sob o signo de João César Monteiro (entre o dia de aniversário e a data da sua morte), embora sem acto fundador (isto é, as razões porque apareceram), aproveitam os tempos livres e procuram a felicidade (o combate diário pela felicidade).
Em texto com já nove anos, publicado no Journal of Computer-Mediated Communication, John Newhagen e Sheizaf Rafaeli definiram cinco qualidades específicas da rede electrónica: 1) multimedia, 2) hipertextualidade, 3) comutação em pacote [percurso em rota e velocidade alternativas quando a linha mais curta de contacto está impedida], 4) sincronia e 5) interactividade. Eles pensaram especialmente na componente técnica, dentro da clássica linha da teoria matemática da informação, mas ignoraram ou menosprezaram o impacto estético e a fruição. Apesar dos bloguistas da Janela Indiscreta fazerem uma auto-análise assente na busca da felicidade e na ocupação dos tempos livres - isto é, fundamentalmente na interactividade e hipertextualidade de Newhagen e Rafaeli -, a mim parece-me que, na realidade, este e muitos outros blogs entram num domínio não imaginado no começo da expansão da internet mas que começa a emergir. Este domínio envolve a fragmentaridade, a não-linearidade (não se sabe como começou e porque tomou este ou aquele caminho), a criatividade, a ausência de liderança ou da autoridade (esta já prevista desde os anos 1990, mas que a apropriação dos sítios da internet pelas empresas comerciais reduziu fortemente), as novas culturas underground. Mas também a disponibilidade de edição, como David Hesmondhalgh (2002, Cultural industries) acentuou. A página do weblog surge logo impressa, sem necessidade de intermediários e onde cada um dos utilizadores da internet é o artista criador ou produtor. Como no sampling da música rap, cada bloguista pode retirar um ou mais elementos de posts - ou posts completos - e citá-los, numa grande circularidade de ideias, conceitos ou projectos. Afinal, não é esta a nossa forma de construir a cultura, falando e voltando a falar, ou a escrever, ou a desenhar, ou a ensinar, numa contínua circulação?
A um dos meus blogues de culto, Janela Indiscreta, fiz uma espécie de inquérito, procurando saber como apareceram e como funcionam. Eis as respostas:
"É verdade, a Janela começou no dia 2 de Fevereiro [de 2003] (dia em que João César Monteiro fazia anos) e no seguinte ele morreu e nós demos a notícia, mas daí a ele ser o profeta... bom agrada-me a ideia mas não é verdade, ele seria profeta de coisas melhores... Quanto ao acto fundador não existe, surgimos sem saber bem para quê, isto é uma espécie de ocupação de tempos livres. Agradeço os elogios mas não sei bem o que responder. É verdade, distribuímo-nos pelo Porto e por Lisboa, gostamos de demasiadas coisas, literatura e cinema entre elas… E passo já a batata quente a outro indiscreto" (Cristina Fernandes).
Já para Ana Alves, "os gostos aqui oscilam entre demasiadas coisas. Não temos acto fundador, mas temos a fundadora Cristina [Fernandes]. O 1º post não foi aquele artigo do Público sobre o livro «English as she is spoke»"? Outro dos bloguistas da Janela reconhece: "deambulamos entre o Porto e Lisboa; acto fundador, é como diz a Cristina; e quanto a gostos, acho que, tomando a liberdade de falar por todos, a gente gosta do que nos faz feliz, ou como li noutro blog de que gosto muito (o 1bsk do Alexandre Andrade), faz tudo parte do "combate diário pela felicidade", com a ressalva de que combate é talvez uma palavra demasiado forte, é mais uma ocupação de tempos livres mesmo, e quanto mais tempo livre houver para a felicidade melhor (e já estou a divagar, mas como diz o sempre oportuno ditado, divagar se vai ao longe)" (António Rebelo, Tó).
Anteontem, entre outros posts, na Janela Indiscreta escrevia-se: “Robert Walser (Para todos). Robert Walser (1878-1956) nasceu em Biel, na Suíça. Abandonou os estudos aos catorze anos e trabalhou num Banco como escriturário, como mordomo num castelo e como assistente de um inventor antes de descobrir o que William Gass chama "a sua verdadeira profissão" – a loucura. Desde os vinte e um anos de idade, altura em que lhe foi (mal) diagnosticada uma esquizofrenia, até decidir internar-se em 1933, escreveu nove romances, de que restam quatro, entre eles Jakob Von Gunten (1908) e mais de mil contos e textos curtos. Em 1933 desistiu de escrever e internou-se num asilo psiquiátrico – onde ficou até morrer. "Não estou cá para escrever – disse – mas para ser louco". Kafka, Musil, Hermann Hesse e Walter Benjamin foram os poucos contemporâneos que o reconheceram e admiraram. Hoje é considerado um dos grandes escritores de língua alemã deste século. O Jantar (Das Diner), publicado em 1923, foi tirado do VII volume das suas Obras Completas (Das Gesamtwerke - Prosa aus des Bieler und Berner Zeit, 1921-1925), ed. Helmud Kossodo, 1966” (texto retirado da revista Ficções).
E hoje – dia de grande produção do grupo, e que inclui uma imagem referente a um dos planos finais do filme Lost in translation - comentava-se a propósito do filme, "sobre o qual pouco se pode dizer, pois trata-se de uma sequência de pequenos nadas e de histórias mil vezes vistas e contadas embutidas numa cidade onde tudo é estranho e invulgar e em que boa parte da acção decorre num «não-lugar» como são todos os hotéis. E é este cenário estranho e alienante que ilumina todos os relevos e angulosidades desta "não-história" – isto, para além de Bill Murray e Scarlett Johansson em duas interpretações maravilhosas, e da música, e quem escolheu esta nefelibata banda sonora sabia bem o que estava a fazer. Pouco se pode dizer, sim, mas hoje quando abri o Público e vi a capa do suplemento Y, o filme passou à desfilada na minha cabeça, juntamente com as canções" (António Rebelo, Tó).
Resumindo, neste weblog - onde os seus autores "indiscretos" escrevem sobre literatura e cinema, entre outros gostos -, não há uma só geografia, mas duas (Lisboa, ao "pé" do Tejo, e Porto, à "beira" do Douro), nasceram sob o signo de João César Monteiro (entre o dia de aniversário e a data da sua morte), embora sem acto fundador (isto é, as razões porque apareceram), aproveitam os tempos livres e procuram a felicidade (o combate diário pela felicidade).
Em texto com já nove anos, publicado no Journal of Computer-Mediated Communication, John Newhagen e Sheizaf Rafaeli definiram cinco qualidades específicas da rede electrónica: 1) multimedia, 2) hipertextualidade, 3) comutação em pacote [percurso em rota e velocidade alternativas quando a linha mais curta de contacto está impedida], 4) sincronia e 5) interactividade. Eles pensaram especialmente na componente técnica, dentro da clássica linha da teoria matemática da informação, mas ignoraram ou menosprezaram o impacto estético e a fruição. Apesar dos bloguistas da Janela Indiscreta fazerem uma auto-análise assente na busca da felicidade e na ocupação dos tempos livres - isto é, fundamentalmente na interactividade e hipertextualidade de Newhagen e Rafaeli -, a mim parece-me que, na realidade, este e muitos outros blogs entram num domínio não imaginado no começo da expansão da internet mas que começa a emergir. Este domínio envolve a fragmentaridade, a não-linearidade (não se sabe como começou e porque tomou este ou aquele caminho), a criatividade, a ausência de liderança ou da autoridade (esta já prevista desde os anos 1990, mas que a apropriação dos sítios da internet pelas empresas comerciais reduziu fortemente), as novas culturas underground. Mas também a disponibilidade de edição, como David Hesmondhalgh (2002, Cultural industries) acentuou. A página do weblog surge logo impressa, sem necessidade de intermediários e onde cada um dos utilizadores da internet é o artista criador ou produtor. Como no sampling da música rap, cada bloguista pode retirar um ou mais elementos de posts - ou posts completos - e citá-los, numa grande circularidade de ideias, conceitos ou projectos. Afinal, não é esta a nossa forma de construir a cultura, falando e voltando a falar, ou a escrever, ou a desenhar, ou a ensinar, numa contínua circulação?
sexta-feira, 23 de janeiro de 2004
PUBLICIDADE NA RÁDIO
Segundo a newsletter da Marktest.com (de 21 de Janeiro), o investimento publicitário na rádio somou mais de 150 milhões de euros nos onze primeiros meses de 2003, nos três principais grupos de rádio (PT Multimedia, Renascença, Media Capital). Se o máximo de investimento ocorreu em Outubro com mais de 18,7 milhões de euros, Novembro atingiu 10,5% do total. Praticamente exceptuando Agosto, a curva foi sempre ascendente. Prevendo-se que Dezembro acompanhe o trimestre - até porque é um período de campanhas especiais para prendas de Natal - é de estimar que o ano tenha fechado entre os 165 e 170 milhões de euros.
A estação de rádio com maior volume de investimentos no último mês em análise (Novembro) foi a TSF (€ 4,9 milhões), seguida da RFM (€ 4,3 milhões), totalizando as duas mais de metade do investimento total. Seguiram-se a Rádio Comercial (19% do total) e a Rádio Renascença (15%). A análise envolveu também a Mega FM, do grupo Renascença.
No último relatório do Obercom, o volume de investimentos em publicidade, num conjunto aproximado de estações (representando os mesmos três principais grupos de rádio), foi de 127 milhões de euros em 2002 e de 142 milhões de euros em 2001. O valor aqui estimado para 2003 significa que houve uma recuperação face a 2002. Resta dizer que, ainda segundo o mesmo relatório do Obercom, o mercado da rádio representou 12,2% do total de receitas líquidas dos media clássicos (televisão, imprensa e rádio).
De fora da análise estão as quase 300 estações de rádio locais e regionais. Estas praticam tabelas de preços inferiores à média nacional, atendendo a que alcançam audiências mais baixas, situadas nas localidades para onde emitem. Especialistas do sector admitem que o total do investimento publicitário possa atingir 30% do conjunto dos principais grupos de rádio, o que daria quase 50 milhões de euros para as pequenas estações espalhadas no país. Contudo, a crise financeira que se vive não me permite acreditar neste número, que é meramente indicativo.
Temos, pois, de esperar por números das associações de rádio e dos proprietários das estações. Mas tal poderá não acontecer, dada a falta de transparência nas contas das emissoras. Esta questão, apresentada como benéfica pelas próprias estações ("o segredo é a alma do negócio"), voltar-se-á inevitavelmente contra as mesmas. A publicação de resultados e de relatórios de contas e das actividades é um dever ético do ponto de vista do mercado.
Segundo a newsletter da Marktest.com (de 21 de Janeiro), o investimento publicitário na rádio somou mais de 150 milhões de euros nos onze primeiros meses de 2003, nos três principais grupos de rádio (PT Multimedia, Renascença, Media Capital). Se o máximo de investimento ocorreu em Outubro com mais de 18,7 milhões de euros, Novembro atingiu 10,5% do total. Praticamente exceptuando Agosto, a curva foi sempre ascendente. Prevendo-se que Dezembro acompanhe o trimestre - até porque é um período de campanhas especiais para prendas de Natal - é de estimar que o ano tenha fechado entre os 165 e 170 milhões de euros.
A estação de rádio com maior volume de investimentos no último mês em análise (Novembro) foi a TSF (€ 4,9 milhões), seguida da RFM (€ 4,3 milhões), totalizando as duas mais de metade do investimento total. Seguiram-se a Rádio Comercial (19% do total) e a Rádio Renascença (15%). A análise envolveu também a Mega FM, do grupo Renascença.
No último relatório do Obercom, o volume de investimentos em publicidade, num conjunto aproximado de estações (representando os mesmos três principais grupos de rádio), foi de 127 milhões de euros em 2002 e de 142 milhões de euros em 2001. O valor aqui estimado para 2003 significa que houve uma recuperação face a 2002. Resta dizer que, ainda segundo o mesmo relatório do Obercom, o mercado da rádio representou 12,2% do total de receitas líquidas dos media clássicos (televisão, imprensa e rádio).
De fora da análise estão as quase 300 estações de rádio locais e regionais. Estas praticam tabelas de preços inferiores à média nacional, atendendo a que alcançam audiências mais baixas, situadas nas localidades para onde emitem. Especialistas do sector admitem que o total do investimento publicitário possa atingir 30% do conjunto dos principais grupos de rádio, o que daria quase 50 milhões de euros para as pequenas estações espalhadas no país. Contudo, a crise financeira que se vive não me permite acreditar neste número, que é meramente indicativo.
Temos, pois, de esperar por números das associações de rádio e dos proprietários das estações. Mas tal poderá não acontecer, dada a falta de transparência nas contas das emissoras. Esta questão, apresentada como benéfica pelas próprias estações ("o segredo é a alma do negócio"), voltar-se-á inevitavelmente contra as mesmas. A publicação de resultados e de relatórios de contas e das actividades é um dever ético do ponto de vista do mercado.
terça-feira, 20 de janeiro de 2004
CULTURAL STUDIES
[a partir de: Armand Mattelart e Érik Neveu (1996). Les cultural studies. Réseaux, nº 80]
Em finais do séc. XIX, preconizava-se o ensino da literatura inglesa nas escolas do Estado, de forma a transmitir valores morais e cívicos para pacificar e integrar as classes trabalhadoras. O ensino de estudos ingleses nas universidades operou-se entre as duas guerras mundiais, fruto da iniciativa de professores saídos da pequena burguesia. Um dos elementos mais notáveis foi Frank Raymond Leavis, que fundou em 1932 a revista Scrutiny, tornada centro de uma cruzada moral e cultural contra o “embrutecimento” praticado pelos media e pela publicidade. A revista preparou os cultural studies. Tornava-se clara uma posição face ao meio ambiente industrial da cultura.
Os estudos culturais conheceram a sua verdadeira institucionalização em 1964, com a criação do Centre of Contemporary Cultural Studies, de Birmingham (CCCS), com o objectivo de estudar “as formas, práticas e instituições culturais e as suas relações com a sociedade e a mudança social”. Em 1957, Richard Hoggart fazia sair um livro fundador do seu campo de estudos: The uses of literacy (em português: As utilizações da cultura, editado pela Presença), em que se estuda a influência da cultura difundida nas classes trabalhadoras pelos meios modernos de comunicação. Dois outros autores fundadores dos cultural studies, Raymond Williams e Edward P. Thompson, possuíam em comum a experiência da educação de adultos. O quarto fundador foi Stuart Hall, jamaicano nascido em 1932. No seu artigo mais famoso sobre a codificação e descodificação dos programas televisivos, formula a pluralidade dos modos de recepção dos programas. Valoriza-se ainda a dimensão da oralidade, das culturas não escritas no trabalho do historiador.
Hoggart foi o primeiro director do CCCS de Birmingham. O CCCS tornou-se um extraordinário espaço de animação científica, funcionando como placa giratória do trabalho de importação e adaptação de teorias, indo do marxismo do continente, da semiologia e do estruturalismo a alguns aspectos da escola de Frankfurt e à herança da escola de Chicago em torno do desvio e das subculturas. Depois, em segundo lugar, o CCCS contribuiu para desenvolver pesquisas em torno das culturas populares, dos media e das questões ligadas às identidades étnicas e de género. Em terceiro lugar, o CCCS distinguiu-se pelo carácter heterogéneo de trabalhos. O Centro partiu de uma base económica muito frágil, a ponto de Hoggart solicitar o mecenato da editora Penguin para dotar o centro com alguns meios e permitir a integração de Stuart Hall.
Um primeiro processo de expansão desenvolveu-se em torno do estudo das culturas populares. Logo depois, a saída de working papers sobre subculturas jovens das classes populares imigradas ou da pequena burguesia – skins, mods, rockers, rastas, hippies – alargou o reconhecimento do CCCS. Deu-se atenção aos universos sociais dos jovens e aos significados dos conflitos geracionais. A questão do desvio e a análise da música pop e rock tornaram-se outros temas fundamentais do CCCS. Acrescente-se as ligações pessoais e as redes científicas (e políticas) assegurando uma circulação e uma fecundação mútua de trabalhos.
Leitura suplementar: Isabel Ferin (2002). Comunicação e culturas do quotidiano. Lisboa: Quimera
[a partir de: Armand Mattelart e Érik Neveu (1996). Les cultural studies. Réseaux, nº 80]
Em finais do séc. XIX, preconizava-se o ensino da literatura inglesa nas escolas do Estado, de forma a transmitir valores morais e cívicos para pacificar e integrar as classes trabalhadoras. O ensino de estudos ingleses nas universidades operou-se entre as duas guerras mundiais, fruto da iniciativa de professores saídos da pequena burguesia. Um dos elementos mais notáveis foi Frank Raymond Leavis, que fundou em 1932 a revista Scrutiny, tornada centro de uma cruzada moral e cultural contra o “embrutecimento” praticado pelos media e pela publicidade. A revista preparou os cultural studies. Tornava-se clara uma posição face ao meio ambiente industrial da cultura.
Os estudos culturais conheceram a sua verdadeira institucionalização em 1964, com a criação do Centre of Contemporary Cultural Studies, de Birmingham (CCCS), com o objectivo de estudar “as formas, práticas e instituições culturais e as suas relações com a sociedade e a mudança social”. Em 1957, Richard Hoggart fazia sair um livro fundador do seu campo de estudos: The uses of literacy (em português: As utilizações da cultura, editado pela Presença), em que se estuda a influência da cultura difundida nas classes trabalhadoras pelos meios modernos de comunicação. Dois outros autores fundadores dos cultural studies, Raymond Williams e Edward P. Thompson, possuíam em comum a experiência da educação de adultos. O quarto fundador foi Stuart Hall, jamaicano nascido em 1932. No seu artigo mais famoso sobre a codificação e descodificação dos programas televisivos, formula a pluralidade dos modos de recepção dos programas. Valoriza-se ainda a dimensão da oralidade, das culturas não escritas no trabalho do historiador.
Hoggart foi o primeiro director do CCCS de Birmingham. O CCCS tornou-se um extraordinário espaço de animação científica, funcionando como placa giratória do trabalho de importação e adaptação de teorias, indo do marxismo do continente, da semiologia e do estruturalismo a alguns aspectos da escola de Frankfurt e à herança da escola de Chicago em torno do desvio e das subculturas. Depois, em segundo lugar, o CCCS contribuiu para desenvolver pesquisas em torno das culturas populares, dos media e das questões ligadas às identidades étnicas e de género. Em terceiro lugar, o CCCS distinguiu-se pelo carácter heterogéneo de trabalhos. O Centro partiu de uma base económica muito frágil, a ponto de Hoggart solicitar o mecenato da editora Penguin para dotar o centro com alguns meios e permitir a integração de Stuart Hall.
Um primeiro processo de expansão desenvolveu-se em torno do estudo das culturas populares. Logo depois, a saída de working papers sobre subculturas jovens das classes populares imigradas ou da pequena burguesia – skins, mods, rockers, rastas, hippies – alargou o reconhecimento do CCCS. Deu-se atenção aos universos sociais dos jovens e aos significados dos conflitos geracionais. A questão do desvio e a análise da música pop e rock tornaram-se outros temas fundamentais do CCCS. Acrescente-se as ligações pessoais e as redes científicas (e políticas) assegurando uma circulação e uma fecundação mútua de trabalhos.
Leitura suplementar: Isabel Ferin (2002). Comunicação e culturas do quotidiano. Lisboa: Quimera
segunda-feira, 19 de janeiro de 2004
SOBRE OS WEBLOGS - II
No encontro de weblogs de Setembro de 2003, assinalado em texto anterior, uma nota predominante foi a da consideração do novo meio como auxiliar do jornalismo. Parte dos oradores e da audiência do encontro encontra-se ligada ao jornalismo; daí essa tendência.
Mas, no espaço público, apareceriam necessariamente mais tipos de weblogs. A discussão gerada e a contínua informação sobre a facilidade de construção de páginas do novo meio possibilitou a emergência desses novos tipos de weblogs. Os últimos meses provaram que, quer esteticamente quer a nível das especializações, o novo meio se traduz na constituição de uma rede de sistemas múltiplos que dá relevo ao fragmento. Ou seja: há um todo mas onde as parcelas têm igualmente muita importância. De certo modo, podemos dizer que se assiste a um retorno de uma ideia fulcral do romantismo, no começo do séc. XX: o fragmento, género literário por excelência. Como escreveu Simón Marchán Fiz (La estética en la cultura moderna, Barcelona, Gustavo Gili, 1982, p. 115): "cada fragmento é um resumo [...], uma pincelada rápida, fechada segundo a sua forma, ainda que não nos seus temas". Cada fragmento combina-se com outros, anteriores e posteriores, formando um sistema e quebrando o discurso linear.
Não quero falar dos weblogs que não gosto ou não conheço, mas apenas daqueles onde encontro afinidades ou onde aprendo alguma coisa. Um deles é Nocturno com gatos, uma mistura equilibrada entre poemas próprios da autora do weblog, Soledade Santos, fragmentos de poemas escolhidos de autores que ela gosta e imagens. Seleccionei um dos poemas de Soledade Santos, intitulado "A chuva voltou": "a chuva voltou esta noite/no lamento do vento nos vidros/nos meus olhos a chuva voltou/é tudo quanto soa/e sabe bem ouvi-la/ter um pretexto/para o silêncio dizer apenas/ouve como canta nas telhas/e desagua/no pó".
A ternura do weblog - no sentido positivo do termo - é o modo como reagem os leitores (ou admiradores) de Soledade Santos, através de comentários, a que a autora costuma responder. De certo modo, este círculo de apresentação de poemas ou imagens lembra as cartas do séc. XVIII e o salão de Mme. d'Épinay, como Jürgen Habermas nos descreve no seu conhecidíssimo texto Mudança estrutural da esfera pública. A carta era tida como informação para os jornais, mas também como correspondência culta e de cortesia familiar. Mme. de Staël, cultivando uma intensa vida social, pedia aos seus convivas que, após as refeições que servia, se retirassem para escrever cartas uns aos outros sobre o que tinham observado ou comentado. No salão da acima referida Mme. d'Épinay, onde se celebravam a arte e a literatura, eram frequentes as primeiras audições musicais e as primeiras leituras de novos poemas. Ao mesmo tempo, fomentava-se a profissão de crítico ou "árbitro das artes" (Habermas, p. 57).
Porém, estamos numa época onde este processo já não é presencial, mas virtual. Pode aqui aplicar-se o conceito de comunidade imaginada, elaborado por Benedict Anderson (Imagined communities, Londres e Nova Iorque, Verso, edição consultada de 1991). A propósito da nação, escreveria o autor que aquela é imaginada porque "mesmo os membros de uma pequena nação não conhecerão a maior parte dos seus concidadãos, encontrá-los-ão ou ouvirão falar deles" (p. 5). Na realidade, mesmo comunidades maiores que uma aldeia terão essa dificuldade dos seus membros se conhecerem todos em termos de comunicação interpessoal. Assim, conclui Anderson, as comunidades distinguem-se não pela sua falsidade ou aspectos genuínos mas pelo estilo com que são imaginadas. Uma comunidade, mesmo que os seus agentes não tenham conhecimento da sua totalidade, mostra um lado de fraternidade - ou de identidade e aproximação, acrescento eu.
Um weblog como o de Soledade Santos tem tal particularidade. Talvez nunca chegue a conhecer Soledade Santos, e se o seu nome é verdadeiro ou um pseudónimo. Também não sei se o auditório que a acompanha a conhece ou não. Mas todos - para além da interactividade presente nestas comunidades imaginadas - partilham gostos, objectivos ou simples formas de estar na vida. São comunidades virtuais, mas mais além do chat onde cada um coloca a sua mensagem e interage com outros comunicadores sem que a falta de identificação constitua qualquer problema para o contacto. Aqui, as pessoas dão o nome e a autora reage, com respostas, quase sempre de agradecimento. Como se Mme. de Staël ressuscitasse e mandasse alguém escrever para os outros comentarem.
Outro weblog de referência é A montanha mágica, uma bela combinação de artes visuais e literárias. Nas mensagens de sábado, dia 17, inclui, por exemplo, reproduções da pintora surrealista menos bem conhecida Remedios Varo, nascida em Espanha e falecida no México. Para além de um pressentido lado narcisista (apesar da timidez de quem se esconde por detrás do nome de Luís), há neste weblog uma grande preocupação estética e pedagógica, uma fruição e um enorme elogio à produção artística humana. Acompanha-se o weblog como se folheássemos um álbum que admiramos - ou amamos.
Aqui, levanta-se a questão da edição. Será difícil editar um livro com as imagens surgidas no weblog - pelo preço, pelo tempo de impressão e pela colocação no mercado (da concepção à produção, distribuição e consumo, isto é, toda a cadeia de valor). Além disso, haveria direitos de autor a pagar. Pela tradição da Internet, o link funciona como indicação da fonte, o que isenta de qualquer pagamento por parte do autor da página ou do weblog. E A montanha mágica faz isso com sabedoria. Quanto à Janela indiscreta, outro blog de culto, prometo escrever sobre ele, um dia destes.
No encontro de weblogs de Setembro de 2003, assinalado em texto anterior, uma nota predominante foi a da consideração do novo meio como auxiliar do jornalismo. Parte dos oradores e da audiência do encontro encontra-se ligada ao jornalismo; daí essa tendência.
Mas, no espaço público, apareceriam necessariamente mais tipos de weblogs. A discussão gerada e a contínua informação sobre a facilidade de construção de páginas do novo meio possibilitou a emergência desses novos tipos de weblogs. Os últimos meses provaram que, quer esteticamente quer a nível das especializações, o novo meio se traduz na constituição de uma rede de sistemas múltiplos que dá relevo ao fragmento. Ou seja: há um todo mas onde as parcelas têm igualmente muita importância. De certo modo, podemos dizer que se assiste a um retorno de uma ideia fulcral do romantismo, no começo do séc. XX: o fragmento, género literário por excelência. Como escreveu Simón Marchán Fiz (La estética en la cultura moderna, Barcelona, Gustavo Gili, 1982, p. 115): "cada fragmento é um resumo [...], uma pincelada rápida, fechada segundo a sua forma, ainda que não nos seus temas". Cada fragmento combina-se com outros, anteriores e posteriores, formando um sistema e quebrando o discurso linear.
Não quero falar dos weblogs que não gosto ou não conheço, mas apenas daqueles onde encontro afinidades ou onde aprendo alguma coisa. Um deles é Nocturno com gatos, uma mistura equilibrada entre poemas próprios da autora do weblog, Soledade Santos, fragmentos de poemas escolhidos de autores que ela gosta e imagens. Seleccionei um dos poemas de Soledade Santos, intitulado "A chuva voltou": "a chuva voltou esta noite/no lamento do vento nos vidros/nos meus olhos a chuva voltou/é tudo quanto soa/e sabe bem ouvi-la/ter um pretexto/para o silêncio dizer apenas/ouve como canta nas telhas/e desagua/no pó".
A ternura do weblog - no sentido positivo do termo - é o modo como reagem os leitores (ou admiradores) de Soledade Santos, através de comentários, a que a autora costuma responder. De certo modo, este círculo de apresentação de poemas ou imagens lembra as cartas do séc. XVIII e o salão de Mme. d'Épinay, como Jürgen Habermas nos descreve no seu conhecidíssimo texto Mudança estrutural da esfera pública. A carta era tida como informação para os jornais, mas também como correspondência culta e de cortesia familiar. Mme. de Staël, cultivando uma intensa vida social, pedia aos seus convivas que, após as refeições que servia, se retirassem para escrever cartas uns aos outros sobre o que tinham observado ou comentado. No salão da acima referida Mme. d'Épinay, onde se celebravam a arte e a literatura, eram frequentes as primeiras audições musicais e as primeiras leituras de novos poemas. Ao mesmo tempo, fomentava-se a profissão de crítico ou "árbitro das artes" (Habermas, p. 57).
Porém, estamos numa época onde este processo já não é presencial, mas virtual. Pode aqui aplicar-se o conceito de comunidade imaginada, elaborado por Benedict Anderson (Imagined communities, Londres e Nova Iorque, Verso, edição consultada de 1991). A propósito da nação, escreveria o autor que aquela é imaginada porque "mesmo os membros de uma pequena nação não conhecerão a maior parte dos seus concidadãos, encontrá-los-ão ou ouvirão falar deles" (p. 5). Na realidade, mesmo comunidades maiores que uma aldeia terão essa dificuldade dos seus membros se conhecerem todos em termos de comunicação interpessoal. Assim, conclui Anderson, as comunidades distinguem-se não pela sua falsidade ou aspectos genuínos mas pelo estilo com que são imaginadas. Uma comunidade, mesmo que os seus agentes não tenham conhecimento da sua totalidade, mostra um lado de fraternidade - ou de identidade e aproximação, acrescento eu.
Um weblog como o de Soledade Santos tem tal particularidade. Talvez nunca chegue a conhecer Soledade Santos, e se o seu nome é verdadeiro ou um pseudónimo. Também não sei se o auditório que a acompanha a conhece ou não. Mas todos - para além da interactividade presente nestas comunidades imaginadas - partilham gostos, objectivos ou simples formas de estar na vida. São comunidades virtuais, mas mais além do chat onde cada um coloca a sua mensagem e interage com outros comunicadores sem que a falta de identificação constitua qualquer problema para o contacto. Aqui, as pessoas dão o nome e a autora reage, com respostas, quase sempre de agradecimento. Como se Mme. de Staël ressuscitasse e mandasse alguém escrever para os outros comentarem.
Outro weblog de referência é A montanha mágica, uma bela combinação de artes visuais e literárias. Nas mensagens de sábado, dia 17, inclui, por exemplo, reproduções da pintora surrealista menos bem conhecida Remedios Varo, nascida em Espanha e falecida no México. Para além de um pressentido lado narcisista (apesar da timidez de quem se esconde por detrás do nome de Luís), há neste weblog uma grande preocupação estética e pedagógica, uma fruição e um enorme elogio à produção artística humana. Acompanha-se o weblog como se folheássemos um álbum que admiramos - ou amamos.
Aqui, levanta-se a questão da edição. Será difícil editar um livro com as imagens surgidas no weblog - pelo preço, pelo tempo de impressão e pela colocação no mercado (da concepção à produção, distribuição e consumo, isto é, toda a cadeia de valor). Além disso, haveria direitos de autor a pagar. Pela tradição da Internet, o link funciona como indicação da fonte, o que isenta de qualquer pagamento por parte do autor da página ou do weblog. E A montanha mágica faz isso com sabedoria. Quanto à Janela indiscreta, outro blog de culto, prometo escrever sobre ele, um dia destes.
domingo, 18 de janeiro de 2004
MÁQUINAS FOTOGRÁFICAS DA KODAK - O FIM DOS ROLOS DE 35 MM
A Eastan Kodak Co, a maior companhia de fotografia do mundo, vai deixar de vender máquinas fotográficas com películas de 35 mm, nos Estados Unidos, Canadá e Europa Ocidental (onde as vendas baixaram 30% no ano passado), concentrando-se nos mercados emergentes, como a China, Índia e Europa de leste (com um crescimento de 10%). Esta divisão do mundo significa que a Kodak produzirá produtos digitais para os países mais desenvolvidos mas manterá os equipamentos clássicos nos países em vias de desenvolvimento.
Há poucos meses atrás, a Kodak sofrera uma queda acentuada nos mercados bolsistas ao anunciar a aposta apenas em tecnologias digitais, chegando mesmo a deixar de ser cotada, o que aconteceu pela primeira vez em mais de cinquenta anos. Alguns analistas aconselham inclusive que os accionistas da companhia se desfaçam dos seus investimentos na Kodak, o que será certamente um mau passo, pelo menos no presente momento.
Este é um mercado constituído por diversas indústrias como a óptica, os filmes (de película e imagens digitais), câmaras fotográficas e de vídeo e laboratórios, formando cadeias de valor horizontais e verticais, disputado por companhias multinacionais como a Agfa, Sony e Canon. Trata-se de uma área com uma forte incidência no segmento doméstico e profissional, em migração para o digital, o que também ocorre na indústria do cinema. Recorde-se ainda que os fabricantes da Formosa se preparam para liderar o mercado no segmento de aparelhos digitais de baixo preço.
A história da Kodak começou quando George Eastman lançou, em 1888, uma máquina fotográfica com o slogan "Carregue no botão que nós fazemos o resto". Então, as imagens eram obtidas em vidro a partir de uma emulsão em prata. Eastman começara a interessar-se pela fotografia em 1878, quando tinha 24 anos, através da leitura de revistas inglesas que falavam das emulsões de gelatina. Algum tempo depois, Eastman registava uma patente, criava uma empresa e lançava a Kodak, câmara fotográfica com incorporação de um rolo para 100 exposições, a 25 dólares. O consumidor só tinha de fotografar e enviar a máquina com o rolo para a fábrica de Eastman; após a revelação, o consumidor recebia as imagens e um novo rolo incorporado na máquina, por mais 10 dólares.
A Eastan Kodak Co, a maior companhia de fotografia do mundo, vai deixar de vender máquinas fotográficas com películas de 35 mm, nos Estados Unidos, Canadá e Europa Ocidental (onde as vendas baixaram 30% no ano passado), concentrando-se nos mercados emergentes, como a China, Índia e Europa de leste (com um crescimento de 10%). Esta divisão do mundo significa que a Kodak produzirá produtos digitais para os países mais desenvolvidos mas manterá os equipamentos clássicos nos países em vias de desenvolvimento.
Há poucos meses atrás, a Kodak sofrera uma queda acentuada nos mercados bolsistas ao anunciar a aposta apenas em tecnologias digitais, chegando mesmo a deixar de ser cotada, o que aconteceu pela primeira vez em mais de cinquenta anos. Alguns analistas aconselham inclusive que os accionistas da companhia se desfaçam dos seus investimentos na Kodak, o que será certamente um mau passo, pelo menos no presente momento.
Este é um mercado constituído por diversas indústrias como a óptica, os filmes (de película e imagens digitais), câmaras fotográficas e de vídeo e laboratórios, formando cadeias de valor horizontais e verticais, disputado por companhias multinacionais como a Agfa, Sony e Canon. Trata-se de uma área com uma forte incidência no segmento doméstico e profissional, em migração para o digital, o que também ocorre na indústria do cinema. Recorde-se ainda que os fabricantes da Formosa se preparam para liderar o mercado no segmento de aparelhos digitais de baixo preço.
A história da Kodak começou quando George Eastman lançou, em 1888, uma máquina fotográfica com o slogan "Carregue no botão que nós fazemos o resto". Então, as imagens eram obtidas em vidro a partir de uma emulsão em prata. Eastman começara a interessar-se pela fotografia em 1878, quando tinha 24 anos, através da leitura de revistas inglesas que falavam das emulsões de gelatina. Algum tempo depois, Eastman registava uma patente, criava uma empresa e lançava a Kodak, câmara fotográfica com incorporação de um rolo para 100 exposições, a 25 dólares. O consumidor só tinha de fotografar e enviar a máquina com o rolo para a fábrica de Eastman; após a revelação, o consumidor recebia as imagens e um novo rolo incorporado na máquina, por mais 10 dólares.
sábado, 17 de janeiro de 2004
SOBRE OS WEBLOGS - I
A 18 e 19 de Setembro do último ano, decorreu um inesquecível encontro de weblogs, em Braga. Do que me ficou como mais importante foi o reconhecimento deste novo meio de informação como elemento interventor do jornalismo. O que não passa nos jornais ou nas televisões pode passar pelos weblogs, estruturas infinitamente mais leves e que funcionam em redes (tipo passa a palavra). Leia-se: o que não entra politicamente nos media clássicos. Aliás, houve quem lamentasse a ausência dos autores de dois conhecidos blogs políticos, que dariam uma maior animação - e, eventualmente, visibilidade - ao encontro. Porém, creio que as expectativas dos organizadores do encontro seriam atingidas: uma primeira página do Jornal de Notícias e um directo no telejornal da RTP nesse dia 18 de Setembro.
Do que escrevi na altura, retenho o seguinte: "Para José Luis Orihuela, da Universidade de Navarra, a Internet foi o momento mais importante na história da comunicação desde Gutenberg e, na história deste meio, o weblog foi o ponto alto. Para alicerçar tal posição, argumentou com as características activas do weblog - criatividade na e-comunicação (comunicação electrónica), conhecimento partilhado e conversação -, diferente da recepção passiva dos media tradicionais. Orihuela (blog ecuaderno.com) chamou a ainda a atenção para o facto da comunidade dos weblogs ser autoreferencial, com sistemas de rankings e hierarquias, numa prefiguração de fechamento ao exterior" (MediaXXI, Setembro-Outubro de 2003, p. 68).
Jornalistas, antigos jornalistas e professores defenderam a ligação dos weblogs com o jornalismo. Penso em Paulo Querido e Pedro Fonseca. Mas essa também foi a posição de Manuel Pinto e de António Granado. Eu, então, preferi destacar o lado pioneiro da actividade. Comparei os actuais bloggers com os amadores da rádio na década de 1920. Isto é, parece-me haver semelhanças com um movimento ligado aos meios electrónicos de comunicação de há oitenta anos.
Defendi então que "O desenvolvimento das ondas curtas [rádio] ocorreu no período a seguir à I Guerra Mundial, quando os soldados americanos regressaram da frente europeia, onde tinham praticado a transmissão de rádio. Passados à vida activa, construíram aparelhos com materiais baratos, usando gamas de frequências rejeitadas pelo Estado e pelas forças económicas. Num movimento livre, descobriram que a voz chegava facilmente ao outro extremo do mundo. Experimentação e inovação constantes detectam-se também no movimento dos weblogs. Memórias, análises ou críticas são características destes diários. Como na rádio, também as mensagens do weblog chegam a qualquer parte do mundo. A que se junta a liberdade estética, cultural, social e política, como alternativa à internet. De igual modo que a rádio experimental, o weblog é um meio electrónico de comunicação que poderia chegar à massificação mas – na minha leitura – permanecerá como movimento de especialistas e cultores de um género. Primeiro, porque é uma ferramenta de início de actividade, com rápidas transformações tecnológicas e ajustamento do objecto de trabalho. Depois, porque se especializa – um diário de literatura tende a não se misturar com o de análise política, de jornalismo ou de outro género. Com isso, instauram-se áreas independentes, de círculos".
Nessa comunicação, mostrei que também há "diferenças. Dada a escassez de meios (poucas frequências disponíveis) e o facto de as emissões se concentrarem à noite, a sobreposição de vozes na rádio gerou interferências. As associações de radioamadores criadas restabeleceram os protocolos de qualidade no acesso. Nos weblogs – como em toda a arquitectura da internet – não há essa carência. O acesso faz-se assincronamente, quando e onde se quiser. Já não há um tempo/espaço preciso para o contacto. A virtualidade na difusão e acesso criou um elemento específico e aparentemente oposto à ausência do espaço/tempo: a existência do arquivo para preservação da memória. Por outro lado, o aleatório na sequência de vozes na rádio tem a sua correspondência nas hiperligações que se estabelecem em cada weblog. Isto é: não há uma previsão de quem fala a seguir num canal de radioamadores. Do mesmo modo, um texto de weblog pode conduzir para um ou vários outros textos, criando a circularidade do conhecimento. Uma outra distinção existente nos dois movimentos é o emprego dos sentidos sensoriais. A rádio de ondas curtas tem apenas sons. Mas o teatro radiofónico criou a captação de sons ambientais, que nos dão a “ver” a realidade. Estamos na passagem para a galáxia Marconi, como preconizou McLuhan, numa retoma da multiplicidade sensorial. Ao sentido sonoro juntar-se-á o visual na televisão. A internet vai mais longe ao incluir a interactividade. O weblog contém essa característica, com a escrita de comentários no próprio post ou troca de mensagens para o e-mail do responsável do weblog. A interactividade é um elemento imprescindível na comunicação e na pedagogia".
E concluia que, "Ao comparar dois meios de comunicação, procurei demonstrar que, em tempos históricos variados, há movimentos que repetem estruturas, embora apoiados por tecnologias ou visões culturais e políticas diferentes".
A 18 e 19 de Setembro do último ano, decorreu um inesquecível encontro de weblogs, em Braga. Do que me ficou como mais importante foi o reconhecimento deste novo meio de informação como elemento interventor do jornalismo. O que não passa nos jornais ou nas televisões pode passar pelos weblogs, estruturas infinitamente mais leves e que funcionam em redes (tipo passa a palavra). Leia-se: o que não entra politicamente nos media clássicos. Aliás, houve quem lamentasse a ausência dos autores de dois conhecidos blogs políticos, que dariam uma maior animação - e, eventualmente, visibilidade - ao encontro. Porém, creio que as expectativas dos organizadores do encontro seriam atingidas: uma primeira página do Jornal de Notícias e um directo no telejornal da RTP nesse dia 18 de Setembro.
Do que escrevi na altura, retenho o seguinte: "Para José Luis Orihuela, da Universidade de Navarra, a Internet foi o momento mais importante na história da comunicação desde Gutenberg e, na história deste meio, o weblog foi o ponto alto. Para alicerçar tal posição, argumentou com as características activas do weblog - criatividade na e-comunicação (comunicação electrónica), conhecimento partilhado e conversação -, diferente da recepção passiva dos media tradicionais. Orihuela (blog ecuaderno.com) chamou a ainda a atenção para o facto da comunidade dos weblogs ser autoreferencial, com sistemas de rankings e hierarquias, numa prefiguração de fechamento ao exterior" (MediaXXI, Setembro-Outubro de 2003, p. 68).
Jornalistas, antigos jornalistas e professores defenderam a ligação dos weblogs com o jornalismo. Penso em Paulo Querido e Pedro Fonseca. Mas essa também foi a posição de Manuel Pinto e de António Granado. Eu, então, preferi destacar o lado pioneiro da actividade. Comparei os actuais bloggers com os amadores da rádio na década de 1920. Isto é, parece-me haver semelhanças com um movimento ligado aos meios electrónicos de comunicação de há oitenta anos.
Defendi então que "O desenvolvimento das ondas curtas [rádio] ocorreu no período a seguir à I Guerra Mundial, quando os soldados americanos regressaram da frente europeia, onde tinham praticado a transmissão de rádio. Passados à vida activa, construíram aparelhos com materiais baratos, usando gamas de frequências rejeitadas pelo Estado e pelas forças económicas. Num movimento livre, descobriram que a voz chegava facilmente ao outro extremo do mundo. Experimentação e inovação constantes detectam-se também no movimento dos weblogs. Memórias, análises ou críticas são características destes diários. Como na rádio, também as mensagens do weblog chegam a qualquer parte do mundo. A que se junta a liberdade estética, cultural, social e política, como alternativa à internet. De igual modo que a rádio experimental, o weblog é um meio electrónico de comunicação que poderia chegar à massificação mas – na minha leitura – permanecerá como movimento de especialistas e cultores de um género. Primeiro, porque é uma ferramenta de início de actividade, com rápidas transformações tecnológicas e ajustamento do objecto de trabalho. Depois, porque se especializa – um diário de literatura tende a não se misturar com o de análise política, de jornalismo ou de outro género. Com isso, instauram-se áreas independentes, de círculos".
Nessa comunicação, mostrei que também há "diferenças. Dada a escassez de meios (poucas frequências disponíveis) e o facto de as emissões se concentrarem à noite, a sobreposição de vozes na rádio gerou interferências. As associações de radioamadores criadas restabeleceram os protocolos de qualidade no acesso. Nos weblogs – como em toda a arquitectura da internet – não há essa carência. O acesso faz-se assincronamente, quando e onde se quiser. Já não há um tempo/espaço preciso para o contacto. A virtualidade na difusão e acesso criou um elemento específico e aparentemente oposto à ausência do espaço/tempo: a existência do arquivo para preservação da memória. Por outro lado, o aleatório na sequência de vozes na rádio tem a sua correspondência nas hiperligações que se estabelecem em cada weblog. Isto é: não há uma previsão de quem fala a seguir num canal de radioamadores. Do mesmo modo, um texto de weblog pode conduzir para um ou vários outros textos, criando a circularidade do conhecimento. Uma outra distinção existente nos dois movimentos é o emprego dos sentidos sensoriais. A rádio de ondas curtas tem apenas sons. Mas o teatro radiofónico criou a captação de sons ambientais, que nos dão a “ver” a realidade. Estamos na passagem para a galáxia Marconi, como preconizou McLuhan, numa retoma da multiplicidade sensorial. Ao sentido sonoro juntar-se-á o visual na televisão. A internet vai mais longe ao incluir a interactividade. O weblog contém essa característica, com a escrita de comentários no próprio post ou troca de mensagens para o e-mail do responsável do weblog. A interactividade é um elemento imprescindível na comunicação e na pedagogia".
E concluia que, "Ao comparar dois meios de comunicação, procurei demonstrar que, em tempos históricos variados, há movimentos que repetem estruturas, embora apoiados por tecnologias ou visões culturais e políticas diferentes".
terça-feira, 13 de janeiro de 2004
QUARTETO
Há dias, na sua coluna do jornal Público, Eduardo Prado Coelho escrevia sobre o café Vává, ali na esquina da Avenida de Roma com a Avenida Estados Unidos da América. O Vává tinha sido um espaço de reunião de intelectuais e de artistas, prontos a discutir as últimas vanguardas. O café transformou-se em restaurante e perdeu o élan antigo. Nessa altura, eu não vivia aqui. Mas lembro-me de, há já muitos anos, ter usado nesse restaurante, enquanto jantava, pela primeira vez, um primeiro telefone portátil (telefone fixo sem fios) para falar com a família.
Eduardo Prado Coelho refere um outro local da zona, intimamente ligado - as salas de cinema Quarteto. Como o café, escreveu ele, o Quarteto passou de moda. Na realidade, parece ter passado o seu tempo áureo. As salas não são muito confortáveis, têm uns degraus temerosos. Mas possui uma bela entrada, com uma pequena cafetaria antiga e mesas e cadeiras. Há alguns meses, a cafetaria esteve fechada. Não percebi bem qual a razão, mas parece-me que o proprietário do espaço tinha argumentação. Fica por saber se o negócio dá lucro. Agora, nos dias que correm, os cinemas apetrecham-se com outras parcerias. Ainda na Avenida de Roma, ou próximo dela - no King, funciona uma livraria da Assírio & Alvim e uma pequena cafetaria; no Londres, entrou ao serviço, recentemente, uma cafetaria e restaurante da cadeia Magnólia, com chocolates e doçaria de chamar a atenção, para além de livros e jornais para ler.
A assistência aos filmes do Quarteto não é muita, o que faz pena. O Quarteto mantém, desde há 28 anos, uma newsletter, a Quarteto Notícias, lembrando os cineclubes de há trinta anos (pelo menos na minha memória e experiência). Não são textos críticos, mas textos editados no Público, Blitz, Télérama, San Francisco Chronicle, Rolling Stone, etc., que, se não formam, pelo menos informam (é desagradável irmos ver um filme sem referências, não é?). No seu número inicial de 2004, de quatro páginas A4, com imagens referentes às películas em exibição, a capa traz o Urso de Prata do Festival de Berlim 2003, a obra de Patrice Chéreau, O seu irmão, filme melancólico sobre a lenta morte de um homem, com o seu irmão, reencontrado, a acompanhar esses momentos finais. Trata-se de um filme sobre corpos e o vazio deles, como fôra o filme anterior de Chéreau, Intimidade. Este passado em Londres, entre um teatrinho e uma loja de produtos sexuais, aquele passado entre um hospital de Paris e uma casa na Bretanha. Com uma casa mais pessoal e íntima pelo meio. Mas no Quarteto passam, neste momento, outros filmes como Na América, retrato de uma família irlandesa que entra ilegalmente na América e procura emprego em Nova Iorque. A distribuição dos filmes, da Link Filmes e da Castello Lopes Multimedia, não nos mostra cinematografias de países marginais às grandes produções, mas obras em torno de temas estranhos e, até, comoventes.
Há dias, na sua coluna do jornal Público, Eduardo Prado Coelho escrevia sobre o café Vává, ali na esquina da Avenida de Roma com a Avenida Estados Unidos da América. O Vává tinha sido um espaço de reunião de intelectuais e de artistas, prontos a discutir as últimas vanguardas. O café transformou-se em restaurante e perdeu o élan antigo. Nessa altura, eu não vivia aqui. Mas lembro-me de, há já muitos anos, ter usado nesse restaurante, enquanto jantava, pela primeira vez, um primeiro telefone portátil (telefone fixo sem fios) para falar com a família.
Eduardo Prado Coelho refere um outro local da zona, intimamente ligado - as salas de cinema Quarteto. Como o café, escreveu ele, o Quarteto passou de moda. Na realidade, parece ter passado o seu tempo áureo. As salas não são muito confortáveis, têm uns degraus temerosos. Mas possui uma bela entrada, com uma pequena cafetaria antiga e mesas e cadeiras. Há alguns meses, a cafetaria esteve fechada. Não percebi bem qual a razão, mas parece-me que o proprietário do espaço tinha argumentação. Fica por saber se o negócio dá lucro. Agora, nos dias que correm, os cinemas apetrecham-se com outras parcerias. Ainda na Avenida de Roma, ou próximo dela - no King, funciona uma livraria da Assírio & Alvim e uma pequena cafetaria; no Londres, entrou ao serviço, recentemente, uma cafetaria e restaurante da cadeia Magnólia, com chocolates e doçaria de chamar a atenção, para além de livros e jornais para ler.
A assistência aos filmes do Quarteto não é muita, o que faz pena. O Quarteto mantém, desde há 28 anos, uma newsletter, a Quarteto Notícias, lembrando os cineclubes de há trinta anos (pelo menos na minha memória e experiência). Não são textos críticos, mas textos editados no Público, Blitz, Télérama, San Francisco Chronicle, Rolling Stone, etc., que, se não formam, pelo menos informam (é desagradável irmos ver um filme sem referências, não é?). No seu número inicial de 2004, de quatro páginas A4, com imagens referentes às películas em exibição, a capa traz o Urso de Prata do Festival de Berlim 2003, a obra de Patrice Chéreau, O seu irmão, filme melancólico sobre a lenta morte de um homem, com o seu irmão, reencontrado, a acompanhar esses momentos finais. Trata-se de um filme sobre corpos e o vazio deles, como fôra o filme anterior de Chéreau, Intimidade. Este passado em Londres, entre um teatrinho e uma loja de produtos sexuais, aquele passado entre um hospital de Paris e uma casa na Bretanha. Com uma casa mais pessoal e íntima pelo meio. Mas no Quarteto passam, neste momento, outros filmes como Na América, retrato de uma família irlandesa que entra ilegalmente na América e procura emprego em Nova Iorque. A distribuição dos filmes, da Link Filmes e da Castello Lopes Multimedia, não nos mostra cinematografias de países marginais às grandes produções, mas obras em torno de temas estranhos e, até, comoventes.
domingo, 11 de janeiro de 2004
BRITNEY PERDE A INOCÊNCIA
É este o título do artigo sobre Britney Spears, saido hoje na revista dominical de El Pais. O actual momento está a ser importante para ela: um casamento quase secreto e logo anulado e o lançamento do disco In the zone. Tudo bem embalado, pois o importante é amplificar acontecimentos para chamar a atenção. E vender.
No artigo do El Pais, assinado por John Aizlewood, da Q Magazine, fica a saber-se que ela votou em Scwarzenegger (que não lhe pôs a mão, quando se conheceram), que gosta de fumar (o que provocou as delícias da imprensa sensacionalista) e que aceitou a passagem de testemunho de Madona (após o beijo na cerimónia de entrega dos prémios da MTV enquanto cantavam Like a virgin e do convite a Madona para cantar no seu disco, na música Me against the music, consolidando a amizade entre ambas).
De 21 anos, o novo ícone mundial vendeu 50 milhões de cópias do seu disco anterior, suturando os insucessos do filme Croassroads e do restaurante Nyla, em Nova Iorque, que fechou com dívidas no montante de 400 mil dólares (o pai dela, construtor e dono de um ginásio, queria ser cozinheiro). A carreira de Britney começou em 1999, com Baby one more time.
Funciona a promoção - ou a publicidade, ou o escândalo. As fotografias, de Ellen von Unwerth, que acompanham o artigo fazem parte da campanha - Britney com piercing no umbigo, fazendo de pin-up, rainha do drama (sonha fazer um filme musical), mais sensual. Falta a Britney ser um pouco mais alta, como ela própria gostaria.
Sobre a produção na indústria cultural da música, nada diz. Vem isto a propósito do tema central do número de Outono de 2003 do JMM - The International Journal on Media Management, "Culture and the media industry". Em texto escrito por Jerald Hughes e Karl Reiner Lang, com o título "If I had a song: the culture of digital community networks and its impact on the music industry", os autores destacam o peso da inovação tecnológica na produção musical e sua reprodução. Hoje, a internet desenvolve uma audiência interactiva e mais vasta mas dispersa e atenta a um mercado mais fragmentado em nichos. O efeito da transformação da música analógica em digital trouxe consequências ainda difíceis de avaliar numa indústria estabelecida desde há muito segundo determinados padrões de produção e distribuição. Com as redes virtuais e digitais surgem comunidades de utilizadores tecnológicos - quer artistas quer consumidores -, envolvidos em entidades dinâmicas e organizadas por si mesmas, baseadas na troca de informação electrónica. Com a redistribuição do poder manifestam-se as mudanças nos valores culturais: mudanças comportamentais, mudanças de atitude e mudança nos juízos éticos.
Isto é, passou-se, ao longo do tempo, da concepção da música como experiência (o concerto público) para a ideia de artefacto (registo em disco ou outro suporte) e para a actual ideia de música como informação, com o MP3, por exemplo, que engloba e retrabalha as concepções anteriores. Assim, a música como experiência pode ser a transmissão ao vivo através da internet e o streaming, enquanto a música como artefacto engloba a subscrição de um CD. A música como informação permite a partilha de ficheiros, a sua remistura e o sampling. Passa-se de uma indústria baseada no artefacto para uma indústria baseada na informação, de uma distribuição em massa para uma baseada na P2P (de utilizador para utilizador), de uma produção com recursos escassos para uma de recursos de baixo custo de produção, de direitos fixos de propriedade para uma informação musical aberta (que permite a remistura e o sampling) e da dicotomia criador/consumidor para a convergência criador/consumidor (Hughes e Lang, 2003: 187).
Com certeza, isto vai abalar toda a cadeia de valor na indústria musical. De onde algumas interrogações: qual o papel das Britney Spears de amanhã?, será apenas o de motor da novidade e do efémero?, ou de alguém que salta de indústria cultural em indústria cultural, fazendo sinergia numa nova corrente, recombinando também as indústrias culturais em eixos horizontais?
É este o título do artigo sobre Britney Spears, saido hoje na revista dominical de El Pais. O actual momento está a ser importante para ela: um casamento quase secreto e logo anulado e o lançamento do disco In the zone. Tudo bem embalado, pois o importante é amplificar acontecimentos para chamar a atenção. E vender.
No artigo do El Pais, assinado por John Aizlewood, da Q Magazine, fica a saber-se que ela votou em Scwarzenegger (que não lhe pôs a mão, quando se conheceram), que gosta de fumar (o que provocou as delícias da imprensa sensacionalista) e que aceitou a passagem de testemunho de Madona (após o beijo na cerimónia de entrega dos prémios da MTV enquanto cantavam Like a virgin e do convite a Madona para cantar no seu disco, na música Me against the music, consolidando a amizade entre ambas).
De 21 anos, o novo ícone mundial vendeu 50 milhões de cópias do seu disco anterior, suturando os insucessos do filme Croassroads e do restaurante Nyla, em Nova Iorque, que fechou com dívidas no montante de 400 mil dólares (o pai dela, construtor e dono de um ginásio, queria ser cozinheiro). A carreira de Britney começou em 1999, com Baby one more time.
Funciona a promoção - ou a publicidade, ou o escândalo. As fotografias, de Ellen von Unwerth, que acompanham o artigo fazem parte da campanha - Britney com piercing no umbigo, fazendo de pin-up, rainha do drama (sonha fazer um filme musical), mais sensual. Falta a Britney ser um pouco mais alta, como ela própria gostaria.
Sobre a produção na indústria cultural da música, nada diz. Vem isto a propósito do tema central do número de Outono de 2003 do JMM - The International Journal on Media Management, "Culture and the media industry". Em texto escrito por Jerald Hughes e Karl Reiner Lang, com o título "If I had a song: the culture of digital community networks and its impact on the music industry", os autores destacam o peso da inovação tecnológica na produção musical e sua reprodução. Hoje, a internet desenvolve uma audiência interactiva e mais vasta mas dispersa e atenta a um mercado mais fragmentado em nichos. O efeito da transformação da música analógica em digital trouxe consequências ainda difíceis de avaliar numa indústria estabelecida desde há muito segundo determinados padrões de produção e distribuição. Com as redes virtuais e digitais surgem comunidades de utilizadores tecnológicos - quer artistas quer consumidores -, envolvidos em entidades dinâmicas e organizadas por si mesmas, baseadas na troca de informação electrónica. Com a redistribuição do poder manifestam-se as mudanças nos valores culturais: mudanças comportamentais, mudanças de atitude e mudança nos juízos éticos.
Isto é, passou-se, ao longo do tempo, da concepção da música como experiência (o concerto público) para a ideia de artefacto (registo em disco ou outro suporte) e para a actual ideia de música como informação, com o MP3, por exemplo, que engloba e retrabalha as concepções anteriores. Assim, a música como experiência pode ser a transmissão ao vivo através da internet e o streaming, enquanto a música como artefacto engloba a subscrição de um CD. A música como informação permite a partilha de ficheiros, a sua remistura e o sampling. Passa-se de uma indústria baseada no artefacto para uma indústria baseada na informação, de uma distribuição em massa para uma baseada na P2P (de utilizador para utilizador), de uma produção com recursos escassos para uma de recursos de baixo custo de produção, de direitos fixos de propriedade para uma informação musical aberta (que permite a remistura e o sampling) e da dicotomia criador/consumidor para a convergência criador/consumidor (Hughes e Lang, 2003: 187).
Com certeza, isto vai abalar toda a cadeia de valor na indústria musical. De onde algumas interrogações: qual o papel das Britney Spears de amanhã?, será apenas o de motor da novidade e do efémero?, ou de alguém que salta de indústria cultural em indústria cultural, fazendo sinergia numa nova corrente, recombinando também as indústrias culturais em eixos horizontais?
sábado, 10 de janeiro de 2004
AINDA A VALENTIM DE CARVALHO - REFAZER OS FIOS À MEADA
Dois dos posts que coloquei neste weblog diziam respeito à Valentim de Carvalho e à Editorial Notícias. Hoje, uma notícia do Expresso, assinada por Pedro Lima, no renovado caderno de Economia & Internacional, junta as duas marcas.
A Valentim de Carvalho encontra-se numa fase de diversificação e de recentramento do seu negócio. É um conjunto de lojas que vende discos, mas também filmes de DVD, jogos de consola e livros, além de espaços de restauração associados às lojas. Responsável por esta alteração foi a JRP, empresa que comprou 60% da Valentim de Carvalho Lojas.
O último parágrafo da notícia é esclarecedor quanto ao âmbito de trabalho da JRP. Trata-se de um grupo com interesses na área do cinema, distribuição de filmes e vídeo, centros de diversão, áreas industrial e imobiliário e edição e distribuição de livros. É que a JRP, ainda segundo a notícia, comprou a Editorial Notícias e a Oficina do Livro, que pertenciam à Lusomundo. A JRP adquiriu também as sete lojas da Editorial Notícias.
Perguntas: será que a linha editorial se vai manter? A marca desaparece? Há o assumir nítido no cruzamento de interesses estéticos e financeiros das distintas actividades do audiovisual e do livro? Será uma alternativa à FNAC ou é uma proposta concorrente, admitindo o sucesso da fórmula [a qual esvaziou o conceito de negócio da Valentim de Carvalho no Chiado]?
Suplementar a esta notícia é o facto da revitalização da área do Saldanha, em Lisboa, como área de lazer, entretenimento e cultura. Após o desaparecimento do mítico teatro Monumental, toda a zona, num dos lados das avenidas novas, passou por uma crise de identidade. Agora, e após o lançamento e consolidação das salas de cinema existentes em dois dos centros comerciais da Praça do Saldanha, surgiu uma livraria Almedina - um espaço que considero muito elegante, esperando que possa surgir alguma animação cultural, embora sem uma área própria para tal. Perto, num centro comercial menos moderno, uma companhia de teatro tem feito um trabalho notável, com uma tendência para aquilo a que poderíamos chamar teatro de revista. A nova loja da Valentim de Carvalho, também na zona, vai certamente "puxar" para cima as indústrias culturais.
Dois dos posts que coloquei neste weblog diziam respeito à Valentim de Carvalho e à Editorial Notícias. Hoje, uma notícia do Expresso, assinada por Pedro Lima, no renovado caderno de Economia & Internacional, junta as duas marcas.
A Valentim de Carvalho encontra-se numa fase de diversificação e de recentramento do seu negócio. É um conjunto de lojas que vende discos, mas também filmes de DVD, jogos de consola e livros, além de espaços de restauração associados às lojas. Responsável por esta alteração foi a JRP, empresa que comprou 60% da Valentim de Carvalho Lojas.
O último parágrafo da notícia é esclarecedor quanto ao âmbito de trabalho da JRP. Trata-se de um grupo com interesses na área do cinema, distribuição de filmes e vídeo, centros de diversão, áreas industrial e imobiliário e edição e distribuição de livros. É que a JRP, ainda segundo a notícia, comprou a Editorial Notícias e a Oficina do Livro, que pertenciam à Lusomundo. A JRP adquiriu também as sete lojas da Editorial Notícias.
Perguntas: será que a linha editorial se vai manter? A marca desaparece? Há o assumir nítido no cruzamento de interesses estéticos e financeiros das distintas actividades do audiovisual e do livro? Será uma alternativa à FNAC ou é uma proposta concorrente, admitindo o sucesso da fórmula [a qual esvaziou o conceito de negócio da Valentim de Carvalho no Chiado]?
Suplementar a esta notícia é o facto da revitalização da área do Saldanha, em Lisboa, como área de lazer, entretenimento e cultura. Após o desaparecimento do mítico teatro Monumental, toda a zona, num dos lados das avenidas novas, passou por uma crise de identidade. Agora, e após o lançamento e consolidação das salas de cinema existentes em dois dos centros comerciais da Praça do Saldanha, surgiu uma livraria Almedina - um espaço que considero muito elegante, esperando que possa surgir alguma animação cultural, embora sem uma área própria para tal. Perto, num centro comercial menos moderno, uma companhia de teatro tem feito um trabalho notável, com uma tendência para aquilo a que poderíamos chamar teatro de revista. A nova loja da Valentim de Carvalho, também na zona, vai certamente "puxar" para cima as indústrias culturais.
quarta-feira, 7 de janeiro de 2004
SENA SANTOS DEIXA A RDP
[nota: por razões que há muito impus a mim próprio, não gosto de especular sobre situações do quotidiano. Mas a notícia da saída de Sena Santos da RDP obriga-me a proceder de modo diferente. Afinal este é um espaço meu]
Eu já andava desconfiado. As manhãs da Antena 1 estavam diferentes (com isto não quero tirar o mérito a quem está na estação). Sena Santos tem um estilo inconfundível - faz perguntas, anima, "obrigou", vezes sem conta, o estúdio da estação a andar pelo país. De há cerca de dois anos a esta parte senti que ele estava cansado. De quê? Da nova realidade do audiovisual do Estado?
O certo é que a sua voz e o seu estilo desapareceram. E o novo espaço informativo da manhã da Antena 1 parece, perdoem-me, indigente. O animador António Macedo, a repetição das notícias duas vezes e meia entre as 8 e as 8:35 (ou 8:40), mais uma coisa chamada Palmilha Dentada (para mim desdentada) e um diálogo estranhíssimo de um psicólogo e de uma jornalista sobre horóscopos, como tratar uma criança ou coisas próximas, além do encurtamento do sinal horário, património e marca distintiva de décadas atirado fora - vão-me obrigar a demandar para outra onda, eu que sou radiodependente. Antes ouvir, sem qualquer esforço pedagógico ou crítico, umas canções em língua portuguesa. Ou saltar para a (Antena) Dois, que tem uma programação diversificada (com diferentes animadores) nas suas manhãs - Acordar a Dois [por exemplo, amanhã, com Luís Caetano e Gabriela Canavilhas] - ou à hora do almoço e logo depois - Jardim da Música, com Judite Lima. Ou redescobrir a TSF com a sua inevitável publicidade. Ou passar pela emissora (dita alternativa) Radar e ouvir Sofia Morais. Gostos ecléticos?
[nota: por razões que há muito impus a mim próprio, não gosto de especular sobre situações do quotidiano. Mas a notícia da saída de Sena Santos da RDP obriga-me a proceder de modo diferente. Afinal este é um espaço meu]
Eu já andava desconfiado. As manhãs da Antena 1 estavam diferentes (com isto não quero tirar o mérito a quem está na estação). Sena Santos tem um estilo inconfundível - faz perguntas, anima, "obrigou", vezes sem conta, o estúdio da estação a andar pelo país. De há cerca de dois anos a esta parte senti que ele estava cansado. De quê? Da nova realidade do audiovisual do Estado?
O certo é que a sua voz e o seu estilo desapareceram. E o novo espaço informativo da manhã da Antena 1 parece, perdoem-me, indigente. O animador António Macedo, a repetição das notícias duas vezes e meia entre as 8 e as 8:35 (ou 8:40), mais uma coisa chamada Palmilha Dentada (para mim desdentada) e um diálogo estranhíssimo de um psicólogo e de uma jornalista sobre horóscopos, como tratar uma criança ou coisas próximas, além do encurtamento do sinal horário, património e marca distintiva de décadas atirado fora - vão-me obrigar a demandar para outra onda, eu que sou radiodependente. Antes ouvir, sem qualquer esforço pedagógico ou crítico, umas canções em língua portuguesa. Ou saltar para a (Antena) Dois, que tem uma programação diversificada (com diferentes animadores) nas suas manhãs - Acordar a Dois [por exemplo, amanhã, com Luís Caetano e Gabriela Canavilhas] - ou à hora do almoço e logo depois - Jardim da Música, com Judite Lima. Ou redescobrir a TSF com a sua inevitável publicidade. Ou passar pela emissora (dita alternativa) Radar e ouvir Sofia Morais. Gostos ecléticos?
segunda-feira, 5 de janeiro de 2004
BOAS NOTÍCIAS NOS MEDIA
Nos provedores do leitor - depois da anunciada ida de Joaquim Furtado para provedor do leitor do Público, hoje a notícia é a do desempenho em igual função de Manuel Pinto no Jornal de Notícias.
Na televisão - o arranque da Dois. Depois da forte discussão pública em 2002, toda a gente espera que a alteração seja positiva.
Nos jornais - um jornal alemão, Berliner Morgenpost, anuncia ir dar relevo às boas notícias. Isto é, as más notícias não desaparecem mas são remetidas para pequenas caixas. Os jornalistas do diário berlinense acham que há muitos acontecimentos positivos a decorrer na cidade (informação recolhida na newsletter de hoje do European Journalism Centre ). Seria bom os jornais portugueses aplicarem este princípio.
Nos provedores do leitor - depois da anunciada ida de Joaquim Furtado para provedor do leitor do Público, hoje a notícia é a do desempenho em igual função de Manuel Pinto no Jornal de Notícias.
Na televisão - o arranque da Dois. Depois da forte discussão pública em 2002, toda a gente espera que a alteração seja positiva.
Nos jornais - um jornal alemão, Berliner Morgenpost, anuncia ir dar relevo às boas notícias. Isto é, as más notícias não desaparecem mas são remetidas para pequenas caixas. Os jornalistas do diário berlinense acham que há muitos acontecimentos positivos a decorrer na cidade (informação recolhida na newsletter de hoje do European Journalism Centre ). Seria bom os jornais portugueses aplicarem este princípio.
domingo, 4 de janeiro de 2004
O CINEMA SEGUNDO JOSÉ FONSECA E COSTA
No caderno dominical do Público de hoje vem uma entrevista concedida pelo realizador Fonseca e Costa ao jornalista Adelino Gomes. Como pano de fundo, a recente estreia do seu filme O fascínio. Algumas ideias surgidas na entrevista são importantes para a análise no sector. Primeiro, a faixa etária principal do público que assiste a filmes ronda os 15 a 25 anos. Depois, para o caso dos Estados Unidos, 35% das receitas de um filme são feitas em sala; o restante vem de outros campos: DVD, televisão, canais por cabo.
Sobre o mercado português, o realizador destaca as alterações profundas no mercado, que levaram a que as salas fossem sendo compradas pelas multinacionais, que exploram fundamentalmente o cinema americano e não financiam outras cinematografias. Um distribuidor funciona com pacotes de filmes. Fonseca e Costa lembra a distribuição de um seu filme anterior, Cinco dias, cinco noites, o qual não teve acesso ao circuito das salas da Lusomundo, grupo que representava então 70% dos cinemas do país. Contra isto, está a funcionar a iniciativa comunitária Media, conjunto de cinemas dos vários países e cidades da União Europeia que "passam" o cinema europeu. O realizador acha que se deve alterar a regulação do mercado. E lembra a lei americana, de 1947 (lei Paramount, anti-trust), que impede os distribuidores de serem detentores de salas acima de um determinado número, assegurando, assim, a existência de exibidores independentes.
À pergunta sobre se o cinema é uma arte ou um negócio, Fonseca e Costa entende que se trata de arte feita com meios tecnológicos caros e produzida por uma indústria poderosa. O cinema é uma indústria e o filme uma obra de arte.
O filme O fascínio é uma adaptação do romance do escritor brasileiro Tabajara Ruas, mas com acção transposta para o Portugal actual. Um dia, Lino Paes Rodrigues chega ao seu escritório de empresário imobiliário e abre uma carta pessoal. A sua vida mudaria: um tio-avô, de quem estava afastado por zanga antiga, deixara-lhe uma grande herdade perto de Elvas, como herança.
José Fonseca e Costa, nascido em 1933, em Angola, começou por estudar Direito, que abandonou ao enveredar pela actividade cinematográfica após frequentar o ambiente cineclubista, como sócio do Cine-Clube Imagem. Estreou-se com a longa-metragem O Recado (1971), a partir de argumento seu, repleto de referências ao ambiente fechado (e policial) vivido no Portugal do início dos anos 70. A presença da actriz Maria Cabral contribuíu para a obtenção de algum sucesso comercial. Mais tarde, aposta num modelo narrativo tradicional, com Kilas, o mau da fita, em 1980, um dos maiores êxitos comerciais do cinema português. Em 1982, filma Sem sombra de pecado, a partir de uma novela de David Mourão-Ferreira. Era a adesão ao modelo europeu da co-produção e internacionalização de elencos e equipas técnicas. Em 1986, adapta ao cinema o romance de José Cardoso Pires, A balada da praia dos cães. Após outras obras, regressaria em 1996, com Cinco dias, cinco noites, co-produção luso-francesa com base numa obra de Álvaro Cunhal, filme que não passaria nos cinemas da Lusomundo, como se escreveu acima, mas que teve um bom sucesso na época (os elementos da cinematografia de Fonseca e Costa foram recolhidos no site do Centro de Língua Portuguesa/ Instituto Camões).
No caderno dominical do Público de hoje vem uma entrevista concedida pelo realizador Fonseca e Costa ao jornalista Adelino Gomes. Como pano de fundo, a recente estreia do seu filme O fascínio. Algumas ideias surgidas na entrevista são importantes para a análise no sector. Primeiro, a faixa etária principal do público que assiste a filmes ronda os 15 a 25 anos. Depois, para o caso dos Estados Unidos, 35% das receitas de um filme são feitas em sala; o restante vem de outros campos: DVD, televisão, canais por cabo.
Sobre o mercado português, o realizador destaca as alterações profundas no mercado, que levaram a que as salas fossem sendo compradas pelas multinacionais, que exploram fundamentalmente o cinema americano e não financiam outras cinematografias. Um distribuidor funciona com pacotes de filmes. Fonseca e Costa lembra a distribuição de um seu filme anterior, Cinco dias, cinco noites, o qual não teve acesso ao circuito das salas da Lusomundo, grupo que representava então 70% dos cinemas do país. Contra isto, está a funcionar a iniciativa comunitária Media, conjunto de cinemas dos vários países e cidades da União Europeia que "passam" o cinema europeu. O realizador acha que se deve alterar a regulação do mercado. E lembra a lei americana, de 1947 (lei Paramount, anti-trust), que impede os distribuidores de serem detentores de salas acima de um determinado número, assegurando, assim, a existência de exibidores independentes.
À pergunta sobre se o cinema é uma arte ou um negócio, Fonseca e Costa entende que se trata de arte feita com meios tecnológicos caros e produzida por uma indústria poderosa. O cinema é uma indústria e o filme uma obra de arte.
O filme O fascínio é uma adaptação do romance do escritor brasileiro Tabajara Ruas, mas com acção transposta para o Portugal actual. Um dia, Lino Paes Rodrigues chega ao seu escritório de empresário imobiliário e abre uma carta pessoal. A sua vida mudaria: um tio-avô, de quem estava afastado por zanga antiga, deixara-lhe uma grande herdade perto de Elvas, como herança.
José Fonseca e Costa, nascido em 1933, em Angola, começou por estudar Direito, que abandonou ao enveredar pela actividade cinematográfica após frequentar o ambiente cineclubista, como sócio do Cine-Clube Imagem. Estreou-se com a longa-metragem O Recado (1971), a partir de argumento seu, repleto de referências ao ambiente fechado (e policial) vivido no Portugal do início dos anos 70. A presença da actriz Maria Cabral contribuíu para a obtenção de algum sucesso comercial. Mais tarde, aposta num modelo narrativo tradicional, com Kilas, o mau da fita, em 1980, um dos maiores êxitos comerciais do cinema português. Em 1982, filma Sem sombra de pecado, a partir de uma novela de David Mourão-Ferreira. Era a adesão ao modelo europeu da co-produção e internacionalização de elencos e equipas técnicas. Em 1986, adapta ao cinema o romance de José Cardoso Pires, A balada da praia dos cães. Após outras obras, regressaria em 1996, com Cinco dias, cinco noites, co-produção luso-francesa com base numa obra de Álvaro Cunhal, filme que não passaria nos cinemas da Lusomundo, como se escreveu acima, mas que teve um bom sucesso na época (os elementos da cinematografia de Fonseca e Costa foram recolhidos no site do Centro de Língua Portuguesa/ Instituto Camões).
sábado, 3 de janeiro de 2004
LUSOMUNDO ABANDONA O SECTOR DO LIVRO
A notícia vinha na edição do jornal Público de ontem. A Editorial Notícias, pertença da Lusomundo, tinha-se destacado nos anos mais recentes no mercado do livro, caso dos romances. Mas também com uma importante colecção dos media, chamada Media&Sociedade. O último título que tenho conhecimento que saiu desta colecção é o texto de Daniel Ricardo, jornalista da Visão, e que tem o título Ainda bem que me pergunta. Manual de escrita jornalística. Segundo as minhas contas, a colecção dos media teve 18 títulos distintos de vários autores, de que destaco, por gosto pessoal, Nelson Traquina, José Rebelo, Luís Paixão Martins, Diogo Pires Aurélio e Nuno Brandão. A Editorial Notícias também tem publicado a revista Trajectos, dedicada aos media, e pertença do ISCTE.
Esta alteração estratégica da Lusomundo poderá explicar a recente edição do livro de João Paulo Meneses sobre a TSF (Tudo o que se passa na TSF) não na Editorial Notícias, mas acompanhando uma das edições do Jornal de Notícias, pertença do mesmo grupo, o que me parecera estranho então.
Segundo a mesma notícia, a Lusomundo, para além da Editorial Notícias, abandona ainda o negócio das livrarias. Em contrapartida, adquiriu o jornal Ocasião, publicação gratuita de anúncios classificados, num recentramento nítido do negócio. Já há algum tempo que se vinha a especular acerca desta mudança de rumo - meses atrás, alguém que conheço submeteu um original para publicação na Editorial Notícias. A resposta foi pronta: "Lamentamos [...] informar que o nosso programa editorial não comporta, de momento, a inclusão de mais títulos". Segundo uma informação recente que recolhi de uma responsável do sector, o mercado do livro teve um abrandamento de 20% nas vendas em 2003, prova de que o mercado se encontra numa grave crise. A Editorial Notícias tinha toda a cadeia de valor do sector: produção, distribuição e venda (livrarias próprias). Se, nalguns casos, há vantagens em controlar o sector todo, noutros casos, quando a crise financeira é forte, o risco eleva-se.
Recorde-se que os negócios principais da Lusomundo são o cinema (exibição de filmes em salas e distribuição de filmes e vídeos) e os media (jornais como o Jornal de Notícias, Diário de Notícias, 24 Horas, Tal & Qual; revistas; rádio TSF).
A notícia vinha na edição do jornal Público de ontem. A Editorial Notícias, pertença da Lusomundo, tinha-se destacado nos anos mais recentes no mercado do livro, caso dos romances. Mas também com uma importante colecção dos media, chamada Media&Sociedade. O último título que tenho conhecimento que saiu desta colecção é o texto de Daniel Ricardo, jornalista da Visão, e que tem o título Ainda bem que me pergunta. Manual de escrita jornalística. Segundo as minhas contas, a colecção dos media teve 18 títulos distintos de vários autores, de que destaco, por gosto pessoal, Nelson Traquina, José Rebelo, Luís Paixão Martins, Diogo Pires Aurélio e Nuno Brandão. A Editorial Notícias também tem publicado a revista Trajectos, dedicada aos media, e pertença do ISCTE.
Esta alteração estratégica da Lusomundo poderá explicar a recente edição do livro de João Paulo Meneses sobre a TSF (Tudo o que se passa na TSF) não na Editorial Notícias, mas acompanhando uma das edições do Jornal de Notícias, pertença do mesmo grupo, o que me parecera estranho então.
Segundo a mesma notícia, a Lusomundo, para além da Editorial Notícias, abandona ainda o negócio das livrarias. Em contrapartida, adquiriu o jornal Ocasião, publicação gratuita de anúncios classificados, num recentramento nítido do negócio. Já há algum tempo que se vinha a especular acerca desta mudança de rumo - meses atrás, alguém que conheço submeteu um original para publicação na Editorial Notícias. A resposta foi pronta: "Lamentamos [...] informar que o nosso programa editorial não comporta, de momento, a inclusão de mais títulos". Segundo uma informação recente que recolhi de uma responsável do sector, o mercado do livro teve um abrandamento de 20% nas vendas em 2003, prova de que o mercado se encontra numa grave crise. A Editorial Notícias tinha toda a cadeia de valor do sector: produção, distribuição e venda (livrarias próprias). Se, nalguns casos, há vantagens em controlar o sector todo, noutros casos, quando a crise financeira é forte, o risco eleva-se.
Recorde-se que os negócios principais da Lusomundo são o cinema (exibição de filmes em salas e distribuição de filmes e vídeos) e os media (jornais como o Jornal de Notícias, Diário de Notícias, 24 Horas, Tal & Qual; revistas; rádio TSF).
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