quinta-feira, 31 de maio de 2007

PIAZZOLLEX - TANGO MANIA


O Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida (Montijo) apresenta - de 15 a 17 de Junho - a estreia nacional de Piazzollex, festival de música e dança, workshops e exposição, em homenagem ao 15º aniversário da morte do músico e compositor argentino Astor Piazzolla.

Mais informações: 1) fax - 212327880; 2) sítio - www.mun-montijo.pt/ctja.


CAVERNÍCOLA


A linguagem usada na peça do final da página 12 da edição do Diário de Notícias de ontem é cavernícola. A propósito do acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 3 de Maio sobre o caso de uma violação.

O jornalista - envergonhado atrás de iniciais F.C. (será Fernanda Câncio?) - reproduz parágrafos dessa decisão. Poderá argumentar que cita um documento oficial, logo está ilibado de qualquer chamada de atenção.

Eu não sou representante de qualquer comissão de ordem pública e bons costumes, mas a haver uma argumentação do jornalista de que escreveu de modo livre, directo e objectivo, eu socorro-me de Gaye Tuchman, quando ela reflecte sobre a objectividade como ritual estratégico. O uso das aspas (o uso judicioso das aspas, define ela), a par da apresentação de possibilidades conflituais num acontecimento (por exemplo: Sócrates contra Marques Mendes; ou vice-versa), é um dos procedimentos estratégicos da "objectividade" do jornalista. Dito de modo mais simples: é a defesa do jornalista.

No papel mais simples, o jornalista é um tradutor - se há um relatório científico com jargão próprio e conceitos difíceis (ou impossíveis de compreender para o senso comum), o jornalista esforça-se a apresentar em linguagem acessível essa informação. Se puser partes não perceptíveis para o conhecimento médio dos leitores, estes não lêem a notícia.

A descrição que surge no texto poderia ter sido omitida - ou mitigada. Não seria sequer auto-censura, mas afastamento face a linguagem tão crua expressa num acórdão de juízes. É que, lendo a notícia, não se percebe o caminho para onde o jornalista quer ir. É uma peça muito triste (uso esta palavra suave), com o mensageiro a confundir-se com a mensagem e a ter o ônus dessa linguagem cavernícola.

Parece-me haver uma deriva muito grande no Diário de Notícias. Não sei para que abismo caminha. E o jornal tem excelentes profissionais que, certamente, não se revêem neste tipo de posições.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

ALBERTO PENA LANÇA LIVRO AMANHÃ

Pelas 18:30, na FNAC-Chiado, Alberto Pena, docente em Vigo, lança o livro Salazar, a imprensa e a guerra civil de Espanha. Apresentação feita por Fernando Rosas.

DOC'S KINGDOM 2007


Na sua quinta edição internacional do seminário, o Doc’s Kingdom 2007 realiza-se de 19 a 24 de Junho. Tem presença confirmada dos cineastas David MacDougall, Peter Nestler, Vladimir Léon e Pierre Creton.

O Doc’s Kingdom é, segundo a organização, um encontro de reflexão sobre o cinema documental contemporâneo que "inclui a projecção de obras relevantes produzidas nos últimos anos e faculta a oportunidade de contacto directo com os seus autores. Visa uma melhor compreensão dos caminhos do cinema contemporâneo, proporcionando debates colectivos que partem sempre de obras concretas. Favorece o conhecimento de realizadores consagrados e a descoberta de jovens autores em início de carreira".

Inscrições até 8 de Junho,
aqui.

INSTALAÇÃO


Flávia Vieira, licenciada em Artes Plásticas–Pintura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, expõe braço a torcer no Espaço Ilimitado - Núcleo de Difusão Cultural (Rua de Cedofeita, 187, 1º, Porto), a partir de 1 de Junho, às 22:00, até 30 de Junho 2007. Flávia Vieira expõe desde 2003.



Considera a artista que


  • o trabalho apresentado centra-se, sobretudo, na acção dos discursos de autoridade na construção da identidade e na definição de dinâmicas culturais, bem como nos consequentes possíveis processos de agressão e de vitimização social traduzidos, aqui, sob a forma de ligaduras de gesso que, simbolicamente, reparam e reabilitam feridas sociais. Sobre estas ligaduras foi aplicada a técnica do bordado remetendo, por um lado, para o conforto e o apoio doméstico desejado pela vítima, e, por outro lado, para a imagética associada às noções de tradição, origem e de univocidade da experiência pessoal.

ELECTRONIQUE DESIRES


No Centro de Artes do Espectáculo, em Portalegre, sempre com início às 23:00.

Dia 1 de Junho –Mira Cálix, que nasceu na África do Sul mas vive em Londres desde 1991, trabalhou em lojas de discos, organizou festas de dança e começou a sua carreira como DJ, o que a levou a produzir a sua própria música.

Dia 2 de Junho – Chris Clark conseguiu com Body Riddle, o seu último álbum, fundir intensidade rítmica ao vivo e liberdade sónica dos programas electrónicos de computador.

Dia 3 de Junho– Large Number, projecto composto por Ann Shenton (vozes e sintetizadores), Mick Bund (guitarra baixo) e Marc Hunter. Em 2003, lançaram o seu álbum de estreia, Spray on Sound.

[informação fornecida pela organização dos eventos]

AMÉRICA: DO SONHO AO PESADELO


Este foi o título da última aula de Laura Pires na licenciatura de Comunicação Social e Cultural da Universidade Católica Portuguesa.

Professora Catedrática de Estudos Ingleses e Americanos naquela universidade, a sua carreira passou também pela Universidade Nova de Lisboa e pela Universidade Aberta. Com doutoramento em Estudos Anglo-Portugueses (Cultura Inglesa), as suas principais áreas de trabalho têm sido: literatura infantil, estudos de cultura americana e estudos da mulher. Destaco as suas obras - Sociedade e cultura norte-americanas (1996), Ensaios: notas e reflexões (2000) e Teorias da cultura (2004).



A sua lição (uma conversa em torno de um conhecimento) começou com a ideia de América prometida. A conferencista referiu viagens à América antes de Colombo (1492), partindo de mapas quer de vikings quer de chineses. Na representação mental desde essa época, a América apresenta-se como o continente de liberdade, onde cada um se entrega à sua cultura e religião.

A chegada de europeus, em especial dissidentes religiosos ingleses - que tinham uma "missão no mundo", convertendo todo o mundo às suas regras (o contrato com Deus no navio Mayflower) -, alterou esse estado inicial de liberdade. O qual foi mais questionado com o que foi designado por middle passage, ou viagem de pesadelo, a ligação entre o Ocidente e a África, com os navios transportando mercadorias para o continente negro e daqui partirem os barcos de negreiros, carregados de escravos para a América e Caraíbas. Eram viagens cruéis, de duração entre dois e cinco meses ou mesmo mais tempo, chegando a "carga" ao destino reduzida a metade.

Mas a América é também um melting pot, como afirmou a professora Laura Pires. Este continente de imigrantes tornou-se um cadinho de culturas que se fundiram, resultando na construção de um novo homem. Laura Pires encontraria uma melhor imagem, a da salada de frutas, em que cada cultura contribui com um sabor distinto.

Foi ainda salientado o mito da frontier (que não traduziu por fronteira), pois aponta o conceito de terra ideal. Em que destacou o papel das mulheres (mães, professoras, médicas ou curandeiras) na ida para o oeste do continente. Ainda sobre as mulheres, referiu o sufrágio e a luta pelo voto (1913, em Washington), assim como o impulso das mulheres afro-americanas na luta feminista. As mulheres retirar-se-iam, disse a conferencista, nos anos de 1960, para darem o lugar aos homens na defesa dos direitos cívicos. Do movimento feminista, lembrou Toni Morrison. Da nova geração de mulheres activas, falou de Nancy Pelosi, actual speaker do Congresso.

Na lição houve ainda espaço para o pesadelo, o 11 de Setembro de 2001, com a queda do World Trade Center, em Nova Iorque. O pesadelo está ainda patente em cenas de violência como Columbine (1999) e Virginia Tech (2007).

Mas os americanos têm outro ideal: a reconstrução. Em que se devem aliar a educação e a solidariedade.

TRANSGÉNICOS EM TESE DE DOUTORAMENTO

O título da tese de doutoramento hoje defendida por Celsina Favorito foi Retratos dos transgénicos na perspectiva dos jornais Público e Folha de São Paulo. A defesa do trabalho decorreu na Universidade Nova de Lisboa.

Como objectivo, a nova doutora propôs-se analisar o tratamento jornalístico do tema saúde em Portugal e no Brasil, e as diferenças decorrentes da realidade dos dois países. Nos dois jornais, estudou 586 notícias (análise de conteúdo), cobrindo um período indo de 1998 a 2005. Das questões desenvolvidas nos jornais, Celsina Favorito destacou a esperança e a preocupação, conceitos polarizadores em torno de um tema novo na realidade e nos media. Procurou ainda saber as vozes que se "ouviam" nos jornais, os espaços ocupados, os destaques e as imagens.

Como conclusões, inventariou a cobertura ampla nos dois jornais (níveis ambiental, médico e alimentar), o reflexo na economia, política e sociedade, a regulamentação do assunto (transgénicos), as decisões políticas na bio-segurança no consumidor, as fontes identificadas nas notícias (líderes políticos, cientistas, professores, agências reguladoras, movimentos sociais).

AUTISMO

Ouvi, de manhã, na rádio, falarem de autismo a propósito de algo que já esqueci.

A palavra voltou à minha memória quando comecei a ler a newsletter do European Journalism Centre, em que uma notícia remete para o Guardian de hoje, a propósito de mais um canal de televisão venezuelano correr o risco de fechar por imposição do presidente daquele país, Hugo Chávez.

Diz o jornal londrino que Hugo Chávez criticou o canal por cabo Globovisión por distorcer a reacção ao encerramento do canal RCTV, no começo desta semana. Para Chávez, que diz que os inimigos estão dentro do país mas se escondem atrás de cortinas, o melhor para os donos da Globovisión é tomarem um tranquilizante e reduzirem a velocidade porque senão é o presidente que o faz.

Vê-se que é um regime de paranóia crescente. E de encerramento total, a lembrar a Birmânia. A sorte é o país ter muito petróleo.

O TALHO DO DIÁRIO DE NOTÍCIAS

À ATENÇÃO DO DIRECTOR DO DIÁRIO DE NOTÍCIAS, DO PROVEDOR DO LEITOR DO MESMO JORNAL, DA ERC E DE TODAS AS PESSOAS DE BOM SENSO

Reparei há cerca de duas semanas, mas não sei quando começou.

O caderno "Classificados" do Diário de Notícias é antigo, tem prestígio pelas informações ali aparecidas (pedidos de emprego, venda e compra de habitações, automóveis) e é uma fonte de rendimento para o jornal. Nos anos mais próximos, a concorrência aumentou muito, em especial com o crescimento de vendas do Correio da Manhã e os "Classificados" deste último jornal.

Muito recentemente, reparei na página "Relax". Além das mensagens eróticas, aparecem fotografias com partes de corpo humano, em especial seios e rabos. Uma exposição a rivalizar com o talho da esquina da minha rua, em que partes de porco ou vaca aparecem na montra da loja.

Numa altura em que se fala tanto de pedofilia e pornografia, não se pode ignorar a existência da prostituição. Ela existe mesmo que ilegalizada. Sei que, na internet, é tudo mais liberal, há muito mais informação explícita. Mas um jornal de referência - ou popular de referência, como parece ser o timbre actual do jornal - dar relevo a estas actividades de modo tão gráfico parece-me fora de senso.

Assim, chamo a atenção dos responsáveis do jornal para reverem esta posição (visual).

Nem sequer falo dos textos. Ontem, lia-se de uma profissional daquela profissão que tinha um "corpo violão". De outra, havia a seguinte informação: "Beleza - Requinte. Charme - Clamour". Assim mesmo, clamour, com C inicial, e não com G, como seria suposto estar. Em inglês, clamour significa grito, alarido, queixa. É isso que eu pretendo: fazer clamour.

terça-feira, 29 de maio de 2007

ALENTO, TEMPO


Não sou um homem desalentado. Não há razões para isso.

Sou optimista, embora seja frequentemente pessimista.

Na minha caixa do correio (e-mail e snail-mail) recebo muita informação sobre indústrias e artes criativas que gostaria de partilhar aqui no blogue. De vários sítios: Portalegre, Serpa, Beja, Lisboa, Porto, Viana do Castelo, Covilhã. Do Brasil, de França. E entrevistas e inquéritos.

Mas sou amador e o tempo não chega para colar imagens e textos ou simplesmente dialogar.

Aos que eu não publico ou não respondo, não pensem que sou elitista ou gatekeeper. Não tenho tempo para tudo.

LIVROS APOIADOS PELO ICS


Encontra-se já divulgada a lista das obras apoiadas - 1.º semestre de 2007 pelo Instituto de Comunicação Social (ICS). São dez obras, totalizando um apoio de € 30 mil.

O blogueiro está contente com a atribuição destes apoios. Primeiro, porque apoia duas obras de investigadoras que fizeram teses de mestrado por si orientadas (Helena Cordeiro, O papel principal - contributo para uma análise do que vêem as mulheres nas revistas femininas, pela FormalPress/MediaXXI; Sofia Santos, Imprensa regional - temas, problemas e estratégias da informação local, Livros Horizonte). Segundo, porque também vai ser editada uma tese defendida na Universidade do Porto e da qual fui arguente duro (Vasco Ribeiro, Fontes sofisticadas de informação). Terceiro, porque textos importantes serão (ou já foram) publicados, nomeadamente Fernando Correia e Carla Baptista (Jornalistas. Do ofício à profissão, que a Caminho já pôs no mercado), Luísa Ribeiro (A televisão por cabo em Portugal, Quatrocês), Jacinto Godinho (Genealogias da reportagem na imprensa, Livros Horizonte) e ainda textos de docentes e investigadores de grande prestígio como Francisco Cádima e João Pissarra Esteves (organizador).

SELVAGENS. HOMEM DE OLHOS TRISTES


Foi das peças mais duras que vi nos últimos anos.

O teatro da Cornucópia habituou-nos a fortes densidades psicológicas, a dramas familiares e sociais de elevada complexidade, em que o destino humano segue por caminhos incompreensíveis. O Teatro Aberto conduz-nos frequentemente a histórias com fundo sociológico onde se descobrem indivíduos cuja filosofia de vida nos acaba por contagiar.


Dito de modo mais simples: se na Cornucópia a humanidade é condenada às evidências físicas e morais de um patamar superior e não evidente - onde se não descortinam evidências para lutas tão ferozes - no Aberto saímos igualmente preocupados mas não sufocados.

A peça em cena no Teatro Aberto, Selvagens. Homem de olhos tristes, de Händl Klaus, foge, de acordo com a minha leitura, do cânone habitual daquele teatro. Primeiro, a história torna-se densa e confusa. Se, no começo, nos parece tratar-se do assédio perigoso de dois jovens junto de um velho - o roubo como móbil -, a narrativa acaba por nos mostrar o desnudamento. Eis o segundo elemento a distinguir: desnudamento psicológico (em referências, nas vontades adiadas pelas circunstâncias) e físico (perder a roupa, mostrar o corpo, tornar-se indefeso). O desnudamento é ainda físico de outro modo: o envelhecimento do corpo, a magreza do corpo, os olhos avermelhados, o rosto distorcido pela doença.



Aquilo que o catálogo da peça indica - as deixas de uma personagem continuadas por outra, ilustrando a função do diálogo, com conversas nunca encerradas e resolvidas definitivamente - marca um terceiro elemento da peça. O retomar da conversa transporta-se para os espaços psicológicos e físicos das personagens. Cada personagem articula-se às outras, simultaneamente em cumplicidade e na busca social do entendimento.

João Perry (o Hugo de Belamonte) e Gracinda Nave (em Ema Flick) desempenham papéis muito difíceis. Eles estão mesmo à nossa frente, mostrando a fragilidade de seres humanos, quase perdidos na teia de acontecimentos, quase desprovidos de raciocínio, com medos ancestrais em cima de si, quase autómatos a quem se retirou a pele da cultura, encerrados dentro de um espaço claustrofóbico mas de uma brancura asséptica.

Talvez por isso - e pela história não linear - o público foi parco em aplausos. A mostrar desconforto.

O cenário, de João Mendes Ribeiro, é admirável. Volumes pesados, que ampliam os receios de cada personagem, através de sombras e de linhas oblíquas, de caixas onde as personagens se escondem ou sobem e saltam.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

NOTAS - 2


No Fórum do País, programa da RTPN, do passado dia 16 de Maio, falou-se sobre blogues. Estavam presentes quatro blogueiros, como as imagens seguintes mostram [publicadas no blogue Mas certamente que sim!, de Paulo Querido: 1) Luis Santos e Paulo Querido, 2) Gabriel Silva e Rogério Santos, 3) os quatro intervenientes com a jornalista Magda Rocha].


Da passagem pela televisão, nos estúdios de Vila Nova de Gaia, tomei algumas notas que agora edito.

Blogue como meio popular

A internet tornar-se-á mais popular que a televisão. À medida que mais utilizadores aderirem à internet, esta torna-se um mercado mais completo - informação e entretenimento. E onde as fantasias e as obsessões terão mais dimensão, em contrapartida.

O popular corre a par de uma recepção mais activa que a televisão (nós reconstruímos socialmente as narrativas da televisão, caso das telenovelas, como indica um livro recente de Verónica Policarpo). Mais do que recepção activa, a internet é um meio de produção. Criar um blogue é muito mais simples que uma página pessoal. Esta tem uma construção mais institucional, com janelas mais fixas e linhas para outras janelas ou documentos. O blogue tem uma estrutura pós-moderna, flexível, efémera (onde mensagens novas arrastam para fora do campo visual do ecrã as mensagens antigas), experimental e provisória (os pensamentos, os postais enquanto anotações diárias que não reflectidas). Se quisermos, a página pessoal/institucional reflecte uma filosofia de estar; o blogue a espuma dos dias, o tema de entre um café e uma leitura de jornal.

Blogue como meio da "realidade"

Os meus alunos e eu trabalhámos recentemente um texto sobre reality tv, televisão da realidade. Os reality shows, os programas que mostram a casa dos concorrentes e alguns talk shows incluem-se na televisão da realidade. Onde as histórias das pessoas comuns, anónimas, são mostradas, os pequenos segredos pessoais revelados.

Ora, o blogue, especialmente com o YouTube desde o ano passado, com os pequenos vídeos domésticos, aproxima-se deste conceito de meio real. Num vídeo, conta-se a história de um indivíduo, ingénua até, se quisermos. Mas em que os pequenos gostos e obsessões são identificados. Claro que, quantos mais vídeos na internet, menos audiências. Mas há a cauda longa, como Chris Anderson fala no seu livro recente. Uma boa etiqueta (tag) pode trazer alguma fama a um vídeo, a uma mensagem de blogue. Este transmite, pelas opiniões, sugestões, a ideia de reality internet, mercado mais completo embora virtual (não escrevi: esfera pública).

O acesso ou o esquecimento ou a fama efémera associam-se nele.

JORNALISTAS PORTUGUESES


Amanhã, pelas 18:00, na Livraria Bulhosa de Entrecampos (Campo Grande, 10B), em Lisboa, Sara Meireles Graça lança o seu livro Os jornalistas portugueses. Dos problemas de inserção aos novos dilemas profissionais (da editora MinervaCoimbra).

A apresentação será feita por Adelino Gomes (jornalista) e Cristina Ponte e José Luís Garcia (docentes universitários.

Sara, eu não estarei presente, pois tenho aulas a essa hora. Desejo-lhe muitas felicidades e, claro, muitas vendas.

SALAZAR, A IMPRENSA E A GUERRA CIVIL DE ESPANHA

Trata-se do título do livro de Alberto Pena (não possuo capa do livro para ilustrar a mensagem).

Lançamento: 31 de Maio, pelas 18:30, na FNAC-Chiado (Lisboa). Apresentação feita pelo Professor Fernando Rosas.

Do comunicado da editora - MinervaCoimbra, retiro o seguinte:
  • A Guerra Civil de Espanha (1936-1939) foi um dos acontecimentos que maior influência teve na História Contemporânea de Espanha, mas também de Portugal. O conflito foi interpretado por Oliveira Salazar como um assunto de carácter nacional que poderia condicionar decisivamente a sobrevivência e o futuro do Estado Novo. Desde os primeiros momentos da planificação da revolta contra o governo democrático da II República espanhola, a ditadura portuguesa apoiou o chamado Movimento Nacional, que pretendia estabelecer um regime autoritário no país vizinho. O Secretariado de Propaganda Nacional, dirigido por António Ferro, a diplomacia salazarista, muitos intelectuais e, nomeadamente, a imprensa portuguesa, controlada pelos Serviços de Censura, fizeram uma grande campanha internacional na defesa dos interesses de Franco.
Alberto Pena é Doutor Europeu em Ciências da Comunicação pela Universidade Complutense de Madrid e Presidente do Conselho Directivo da Faculdade de Ciências Sociais e da Comunicação da Universidade de Vigo, função que já desempenhou entre 2000 e 2003. É autor de vários livros no âmbito das relações peninsulares, como El Gran Aliado de Franco (A Coruña, 1998), Galicia, Franco y Salazar (Vigo, 1999), La propaganda franquista en Portugal y la Guerra Civil española (Santiago de Compostela, 2000), além de artigos en diversas revistas científicas e co-autor do livro coordenado pelo professor A. Pizarroso, Historia de la Prensa (Madrid, 1994; Lisboa, 1996).

CRIAR E DISCUTIR OS MEDIA EUROPEUS


270 jovens jornalistas de toda a União Europeia vão estar no Parlamento Europeu (Bruxelas), de 27 a 30 de Junho.

Se tem menos de 30 anos, se se interessa por jornalismo e comunicação e se quer saber mais sobre os media europeus, candidate-se - até 5 de Junho - em
www.youthmediadays.eu. Para os candidatos seleccionados, o Parlamento Europeu pagará as despesas de viagens e alojamento.
Segundo a organização, serão três dias de discussão, encontros e workshops: "Em conjunto com políticos, especialistas e jornalistas profissionais, muitos deles correspondentes em Bruxelas, terás a oportunidade de fazer reportagens televisivas, radiofónicas, escritas, fotográficas etc. sobre os mais diversos e relevantes temas da actualidade europeia".
O contacto português é o jornalista António Ferrari e o seu email é antonio.ferrari@youhmediadays.eu.

TERTÚLIA SOBRE JORNALISMO DESPORTIVO MOTORIZADO


No próximo dia 2 de Junho, entre as 10:30 e as 13:00, nas instalações do Sportclasse (Rua Maria Pia 626-A, em Lisboa), a 6ª tertúlia homenageia os jornalistas do desporto automóvel em Portugal.

Dos profissionais que escreveram ou falaram sobre corridas entre os anos 1960 e 1980, estarão presentes Vasco Callixto - a cumprir 50 anos de carreira -, Ricardo Santos Carvalho, Helder de Sousa, José Miguel Barros, Fernando Petronilho, Avelãs Coelho, João Carlos Costa e Rui Pelejão, o mentor da ideia.

Para saber mais, contactar o sítio do
Sportclasse ou ricardogrilo@yahoo.com.

domingo, 27 de maio de 2007

ANDY C. PRATT NA GULBENKIAN

Andy C. Pratt é director do Centro de Investigação de Urbanismo Contemporâneo na London School of Economics e conferencista em geografia humana no departamento de Geografia e Ambiente da mesma escola.

Hoje, no final da tarde, esteve na Gulbenkian, integrado no ciclo "A urgência da Teoria" ("O estado do mundo"). O título da sua comunicação de mais de cerca de uma hora foi O estado da economia cultural: ascensão da economia cultural e desafios do desenvolvimento de políticas culturais.

Partindo das tensões entre cultura e economia (economia cultural, cultura económica), Pratt operacionalizou um triângulo: 1) cultura, 2) fazer a cultura, e 3) governar (governance) a cultura. Ao longo do seu discurso foi patente a vontade de superar conceitos nascidos na escola de Frankfurt (sem nomear Benjamin ou Adorno), como indústria cultural e aura (perda da aura na arte), dada a ideia moderna da economia ocupar as actividades da arte e da cultura em termos de valor. O fazer a cultura (making of culture) resulta, assim, de uma formação estética, sensibilidade, disciplina, individualismo e genialidade (genius). Abandona-se a perspectiva romântica do artista fora do mundo, fora das necessidades do mundo, e considera-se a arte e a cultura também no domínio da produção.

Outro tema trabalhado pelo orador foi a da posição do Governo (ou Estado). A visão de protecção estatal às artes está posta em causa, a partir do momento em que baixam os orçamentos governamentais na generalidade dos ministérios. A arte e a cultura adquirem uma matriz onde a economia está presente, atendendo a custos e proveitos.


A quebra da importância da manufactura face ao peso dos serviços, embora relevando o valor do design - a que se junta o maior consumo -, o redireccionamento para a juventude (a cultura dos teenagers), a identidade e a cultura, a economia do conhecimento (serviços, etiqueta intelectual) e da classe criativa - eis algumas linhas da nova economia, a qual favorece as indústrias criativas e culturais. Falou também na globalização, com concorrência nacional e regional, investimento estrangeiro directo e inovação. Em que a vantagem competitiva é a cultura, afirmou enfaticamente, para o que aproveitou alguns quadros. Por exemplo, o do emprego. Assim, na Europa, e segundo dados de 2002, havia cerca de dois milhões de postos de trabalho ligados à indústria automóvel, 1,9 milhões dentro da indústria química e 6,4 milhões nas indústrias criativas. Já no tocante ao PIB, o sector contribuiu com 2,6% em 2003, crescendo mais depressa do que qualquer outra indústria.

Mudar a cultura, eis outro motivo da conferência de Andy C. Pratt. Aí, ele falou de democratização, de "marketização" da cultura, do crescimento maciço do consumo e da necessidade de alterar os modelos de despesas com a cultura e a arte. O Reino Unido gasta cerca de 7% do PIB em cultura e arte, valor que baixa para cerca de 4% em Portugal. Momento para o que aproveitou para alertar para a redução dos gastos do Governo com a cultura e a arte: 1% do PIB em Portugal, abaixo do meio ponto em países como o Japão e os Estados Unidos. Outro tópico foi o da necessidade de renovar os conceitos de alta e baixa cultura, numa nova chamada de atenção para os conceitos herdados da escola de Frankfurt (aura, indústria cultural). Por isso, salientou as tensões entre cultura e criativo, comercial e não comercial, formal e informal, produção e consumo.

O que pressupõe reconceptualizar a cultura, nos resultados e nos processos, na profundidade e alargamento, nos pólos social e económico, na produção de cadeias de valor e na formação de feixes de actividades (clusters). A nova cadeia de valor inclui os seguintes passos: 1) criação, 2) produção (making), 3) disseminação, 4) exibição/recepção, e 5) consumo. A que se juntam duas outras etapas, no domínio vertical: arquivo/preservação; educação.

Andy C. Pratt falou ainda dos desafios do futuro, das novas competências, das convergências tecnológicas e de saberes, da justificação de financiamentos, do estatuto do trabalho (freelancer, precariedade). E do aviso (para reflectir): nem todos podem ser vencedores. Julgo que essa chamada de atenção se prende com a necessidade de interiorizar que nem todos os projectos, por melhores que sejam, têm sucesso, nem que a aplicação vitoriosa num local tenha o mesmo resultado noutro local.

NOTAS - 1


No programa de Marcos Pinto, Toda a Tarde, no Rádio Clube Português, de ontem, Rui Castelar e Luís Filipe Costa participaram como velhas glórias da estação, recordando histórias do seu tempo. Também Lara Santos (actual programa Posto de Escuta) e eu estivémos no Toda a Tarde, indo das 4 às 6 da tarde.

A honra maior foi, inevitavelmente, para Rui Castelar e Luís Filipe Costa, memórias vivas de um tempo fabuloso da rádio. E, a partir da audição de antigos anúncios publicitários, avivaram-se as recordações. Num dos anúncios, que publicitavam o vinho Messias, a voz de Elvira Velez aparecia identificada como "aquela santa". A personagem fazia parte de um sketch humorístico do programa Companheiros da alegria, de Igrejas Caeiro. A popularidade da personagem interpretada por Elvira Velez, reputada actriz, era suficiente para passar à publicidade.

Rui Castelar que, quando jovem, queria ser actor ou advogado - duas profissões próximas, afiançou -, ganhou alguns quinhentos escudos com o programa Companheiros da alegria. Igrejas Caeiro tinha uma rubrica no programa que premiava populares que dissessem poesia ou cantassem. Então, Rui Castelar, animador frequente de espectáculos, quer apresentando-os quer lendo poesia, repetia o êxito nos programas de Caeiro, sempre que eles fossem em zonas não muito longe de Lisboa. O que levou o autor dos Companheiros da alegria a não querer mais a presença de Castelar nas redondezas do programa.

Luís Filipe Costa contaria a história dos passarinhos. Nas vésperas de um Natal, no auditório onde a nossa conversa decorreu, chegaram 50 ou 60 gaiolas com passarinhos. Foram fechadas as janelas com flanelas pretas e apagadas as luzes, apenas entrecortadas pela entrada de um homem a colocar água e alpista para alimentação dos pássaros. Por volta das onze da noite da véspera de Natal, arrancaram-se as flanelas e ligaram-se todas as luzes - e os microfones também. Os passarinhos começaram a cantar. Era o concerto de Natal do Rádio Clube.

A comparação entre a rádio dos anos 1960 e 1970 e de hoje foi outro mote para a conversa, em especial Rui Castelar e Luís Filipe Costa. Rui Castelar, realizador de muitos programas, tinha sempre convidados. Quando chegavam cedo, ou após o programa, passavam pelo bar, O Coice, onde o uísque custava 12$50. Para disfarçar, havia quem o bebesse por uma chávena de chá. Rui Castelar, puxando das memórias, considerava esse tempo como sendo de grande convívio e até de grande solidariedade. A produção na rádio tinha um lado muito artesanal, caso de pôr discos de vinil e fazê-los rodar manualmente para trás e para a frente, como um disc-jockey hoje faz. Os realizadores tinham liberdade total para fazer programas, apenas tinham de cumprir o horário. Agora, muitas rádios cumprem uma playlist e os realizadores chamam-se animadores.

A distinção entre jornalista e locutor foi outro assunto recordado. Até um dado momento, o jornalista escrevia e o locutor lia (o chamado papagaio). O Rádio Clube, que teria, por essa altura, 10 a 11 jornalistas, procurou juntar a competência de ambos os lugares para reduzir o número de colaboradores. Para isso, procuravam-se as melhores vozes. De voz fanhosa, Luís Filipe Costa conta que, um dia, se cruzou com Maria Leonor, então uma figura de proa da Emissora Nacional, que lhe disse: "ó menino, você precisa de ter cuidado. Portugal é um país pequeno. Não aguenta dois fanhosos. Já basta o Fernando Pessa".

A procura de vozes era uma tarefa que Rui Castelar se propunha fazer. Levava-as para o seu programa. Contudo, as suas chefias, apercebendo-se da sua qualidade, convidavam os profissionais para a leitura dos noticiários, obrigando o realizador a fazer novas pesquisas. "Eu pagava-lhes poucochicho", comentaria Rui Castelar.


O assalto ao Banco de Portugal da Figueira da Foz pela LUAR, grupo que se opunha ao regime político de Salazar,foi também tema de conversa no programa. Luís Filipe Costa lembrou que tal notícia não podia ser lida no noticiário, devido à censura. Mas toda a gente em Lisboa já sabia do acontecido - o que prova que as informações chegam mesmo sem ser pelos media. O jornalista, de serviço na redacção, aproveitou a leitura do boletim metereológico para concluir a sua apresentação: "Felizmente, há luar".

Claro que, ouvindo os anúncios e as frases mais famosas sobre a rádio nas várias décadas deste meio de comunicação, veio à baila o filme de Arthur Duarte, A menina da rádio, mais a interpretação de António Silva no mesmo filme. E recordou-se igualmente Fernando Curado Ribeiro, o galã do filme e, igualmente, uma voz do Rádio Clube Português.

sábado, 26 de maio de 2007

DISCOS E INDÚSTRIA FONOGRÁFICA EM PORTUGAL


A 9 de Dezembro de 2006 escrevi aqui sobre uma conferência de António Tilly, onde ele falou da indústria fonográfica nacional. Deixei no blogue a seguinte impressão, entre outras:
  • Para ele [Tilly], o primeiro grande produtor de fonogramas [creio que directa ou indirectamente, aqui enquanto cliente] foi a estação pública de rádio, a Emissora Nacional. Dos anos de 1930 a 1950, tudo terá girado à volta da Emissora. A televisão aparece como um segundo grande cliente a seguir à rádio. Entretanto, surgiam as primeiras empresas de discos, nomeadamente a Valentim de Carvalho (em Lisboa) e a Arnaldo Trindade (no Porto), enquanto outras editoras discográficas, de dimensão reduzida, entram também no negócio de gravar e distribuir discos.
Agora, surge possibilidades de rever o que se disse então, olhando a exposição que António Tilly e João Carlos Callixto organizaram no Museu da Música, com o título No tempo do gira-discos. Fui desperto para esta exposição pelo magnífico texto que Joana Amaral Cardoso escreveu no "Ípsilon" (Público) de 18 de Maio último.


A exposição consiste em painéis explicativos da produção industrial da música (ligeira, de intervenção, pós-1974), alguns dos seus intérpretes e empresas, bem como poetas, orquestradores e técnicos, com um fundo de compreensão histórica e social. Em vitrinas, observam-se capas de discos, dos EPs aos álbuns, onde é possível ver temas, grafismos e adivinhar as correntes estéticas contidas nessas músicas.

Mais precisamente, o que se vê são duas épocas bem definidas: antes e depois de 1974, com as suas estéticas específicas. Fora do país fervilhavam outras ideias: ié-ié, movimento hippie, punk; dentro do país, empregavam-se os sintetizadores, a gravação multipistas, o Festival da Canção.

Passava-se de António Calvário e Tonicha para os Sheiks, José Cid e os 1111, a Filarmónica Fraude, poemas de Ary dos Santos e Joaquim Pessoa. Ao lado de arranjos e orquestrações, como as versões dos Thilo's Combo, retiro do texto da jornalista. Depois, revelavam-se Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, Luís Cília, José Mário Branco. No final dos anos 1970, a música ligeira reaparecia com Manuela Bravo e Marco Paulo, suplantando as guitarras eléctricas, socorro-me de novo do texto da jornalista. Já nos anos 1980, dava-se o boom da música moderna, caso de Rui Veloso.

Da exposição fica um amargo. Não há sons no ar, apenas os painéis e as capas dos discos. Nem se vê um só vinil. É certo que ver um disco não é muito importante, mas dá ideia aos visitantes mais novos perceber como era a música de então, como se deve ser pedagógico ao mostrar um frango vivo e não apenas fiambre de frango. As formas e as experiências contam.

Do mesmo modo, não há um papel, um desdobrável, uma memória para trazer. Uma exposição assim não deixa rasto, apaga-se após a visualização de outra. E este é um tema que merece ser estudado e discutido. Do mesmo modo que a Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX, há muito tempo a editar pelo Círculo de Leitores. Portugal não merece a sua rápida publicação?

sexta-feira, 25 de maio de 2007

TODA A TARDE NO RÁDIO CLUBE PORTUGUÊS

Retiro do blogue Rádio Clube o texto hoje publicado por Marcos Pinto e anunciando o programa de amanhã, a partir das 4 da tarde:

  • A Rádio que gosta falar de rádio!

    Este sábado, não pode perder o Toda a Tarde, entre as 16 e as 21 horas. É verdade, mais uma hora, porque a festa da rádio já fez um mês de emissões e está na hora de recordar os melhores momentos!

    Entre as 16 e as 18 horas, Luis Filipe Costa e Rui Castelar (dois homens da rádio) Rogério Santos (estudioso da rádio em Portugal) e Lara Santos ( Posto de Escuta, Rádio Clube) são meus convidados para falar de rádio e de que forma, duas gerações diferentes de comunicadores recordam os clássicos da rádio que ficaram gravados nas vidas dos portugueses.

    Esta conversa vai ter quatro intervalos para ouvirmos quatro temas de Paula Teixeira, cantora que introduziu um novo sentido à música portuguesa ao adaptá-la para linguagem gestual.
  • Ao vivo, como sempre no auditório do Rádio Clube!

O blogueiro vai falar menos do que Luís Filipe Costa e Rui Castelar, profissionais do velho Rádio Clube Português. As histórias portentosas que eles têm para contar! De repente, deu-me vontade de continuar a escrever a história da rádio em Portugal (e tempo para isso?) [imagem de Paula Teixeira e músicos que a acompanham na emissão de amanhã, e que retirei do blogue Rádio Clube].

Vale mesmo a pena ouvir aqui ou na rádio em 96,4 MHz (Leiria), 104,3 MHz (Lisboa e Setúbal), 107,5 MHz (Santiago do Cacém), 106,7 MHz (Portalegre), 106,4 MHz (Beja e Évora), 107,1 (Portimão) e 106,1 MHz (Faro).

NOVO NÚMERO DE COMUNICAÇÃO & CULTURA


O número 3 da revista Comunicação & Cultura da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica vai ser lançado no próximo dia 5, pelas 19:00, na feira do livro em Lisboa. O tema de capa é Comunidade Mobilidade.

PROGRAMAÇÃO DO TRANSNATURA VIDEOLAB 2007

Com sessões no Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, pelas 21:30.

25 de Maio (hoje) - IMAGEM-PENSAMENTO - The Gospel According to Philip K. Dick de Mark Steensland - apresentação por Jorge Rosa. Jorge Rosa é doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa, exactamente com tese intitulada Imagens da Técnica na Ficção Científica: A Obra de Philip K. Dick no Contexto Sociotécnico. É autor do prefácio da colectânea de ensaios de Philip K. Dick O Andróide e o Humano.

(28 de Maio) (segunda-feira) - CICLO DE VIDA NO CINEMA – Centro de Psicopedagogia da UC "Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera" de Kim Ki Duk - apresentação por José Ferreira-Alves (Universidade de Psicologia do Minho). José Ferreira-Alves é doutorado em Psicologia pela Universidade do Minho onde exerce funções de docência no departamento de Psicologia do Instituto de Educação e Psicologia.

Mais informações em
Projecto Videolab.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

PIRATARIA DE SOFTWARE


No Público on-line (notícia editada às 19:31; certamente não acessível quando o leitor a quiser ler), indica-se que a taxa de pirataria de software rondou os 53% em 2006 no nosso país, em termos de empresas, a que corresponde uma perda de receita de € 112 milhões, e 90-95% entre os particulares (base: Manuel Cerqueira, presidente da Assoft-Associação Portuguesa de Software).

Outros números: em 102 países abrangidos num estudo, Portugal tem uma taxa de pirataria de 43% (equipamentos de marcas internacionais), acima da média da União Europeia (36%) mas abaixo da Grécia (61%), Islândia (53%), Itália (51%), Espanha (46%) e França (45%).

MEDIATIZAÇÕES


Embora com o estilo próprio, o da notícia de jornal, o Diário de Notícias traz hoje um assunto para reflexão, tomando como princípio a criança inglesa desaparecida há três semanas no Algarve. O assunto é a possibilidade de replicação (imitação) de desaparecimentos, a partir da cobertura excessiva, podendo ser efectuada por indivíduos com patologias.


Esta peça, de Sónia Correia dos Santos, com base em despacho da Lusa, lembra-me o colóquio que a Universidade Católica promoveu na última segunda-feira, onde o tema foi televisão e crianças. Nesse encontro, detectei duas posições diferentes: 1) a televisão só influencia se se criarem símbolos a partir do que se vê (uma criança pequena não dá atenção ao que vê na televisão se não houver um mediador adulto e que mereça a confiança dessa criança, 2) a passagem de ocorrências e narrativas, e em especial a repetição de valores, influencia directamente o espectador, incluindo as crianças; a televisão é ela própria uma mediadora.

A peça jornalística acompanha a segunda posição. Embora eu não seja um estudioso do tema - isto é, nunca fiz trabalho científico sobre o tema -, parece-me que, embora a primeira posição tenha uma boa base argumentativa, a segunda posição parece-me aproximar-se mais da realidade. Acontecimentos nos Estados Unidos como Columbine ou a ocorrência mais recente de um jovem identificado com um país asiático ter entrado numa escola a matar quem lhe aparecia à frente, começando por uma rapariga por quem ele se apaixonara mas que não lhe correspondia em sentimentos, são estruturas de acontecimentos repetidos, que se ouviu falar ou viu na televisão ou no cinema.

Num texto clássico, Elizabeth Bird e Robert Dardenne (Mito, registo e estórias: explorando as qualidades narrativas das notícias) falam das notícias como narrativas culturalmente construídas. As notícias, escrevem, são uma forma de criar ordem na desordem das ocorrências diárias. Quando se escreve sobre um crime, por exemplo, não se escreve apenas sobre um crime em particular mas sobre um quadro mental prévio em que o crime desperta um conjunto de sentimentos já definidos culturalmente. Do mesmo modo, acrescento eu, organizamos o que vimos e procuramos seguir ou rejeitar segundo quadros culturais operados na sociedade. A imitação é um elemento dentro desses quadros conceptuais e sociais.

Os fenómenos mediatizados contribuem para um efeito mimético, eis a conclusão desse artigo de jornal. Parece-me uma explicação plausível, pois muitos dos nossos actos são efeito de imitação, de pertença a um grupo aceitando as regras introduzidas nesse grupo. A televisão, como meio de comunicação prevalecente nos lares, é esse mediador sempre próximo do indivíduo. Veicular valores ou conhecimentos e servir de propaganda ou publicidade são elementos principais presentes na televisão desde o seu começo.

ÚLTIMOS DIAS DA EXPOSIÇÃO DE COLUMBANO


Hoje, dia 24, pelas 18:30, visita guiada por Carlos Vidal. A visita e discussão é à volta do quadro Convite à valsa (1880). Artista e professor na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, Carlos Vidal (Lisboa, 1964) participa em exposições desde 1991. Publicou oito livros sobre arte e colabora regularmente com as revistas Lapiz e Exit, Madrid; recentemente, colaborou em Over Here (New Museum / The MIT Press). Foi, nomeadamente, co-autor no livro organizado por Carlos Leone Rumo ao cibermundo? (Celta, Oeiras, 2000), de que eu fui igualmente co-autor. Carlos Vidal realizou várias conferências : Universidade Paris I / Sorbonne, Museo Nacional Reina Sofia ; ARCO, Madrid ; Museu de Arte Contemporânea / Serralves, Porto ; Fundació Pilar i Joan Miró, Barcelona.

Amanhã, sexta-feira, a exposição estará aberta até às 22:00. Domingo, último dia da exposição, a entrada é gratuita até às 14:00.

Itinerância: no final de Junho, a exposição estará patente na Câmara Municipal de Bruxelas, com o título Columbano, Un Réaliste Portugais (1880-1900).

quarta-feira, 23 de maio de 2007

ECONOMIA DA CULTURA E INDÚSTRIAS CULTURAIS EM SÉRGIO SÁ LEITÃO


Sérgio Sá Leitão foi jornalista na Folha de São Paulo, no Jornal do Brasil e no Jornal dos Sports, chefe de gabinete do Ministro da Cultura e Secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, entre 2003 e 2006, onde coordenou programas como Música do Brasil e CulturaPrev e programas de Economia da Cultura. Hoje, é assessor da Presidência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social), onde foi um dos responsáveis pela criação do Departamento de Economia da Cultura e do Programa de Apoio à Cadeia Produtiva do Audiovisual.

Ao sítio
Cultura e Mercado (S. Paulo, Brasil), editado hoje, Sérgio Sá Leitão falou da economia da cultura e das indústrias culturais (entrevista realizada por Guilherme Jeronymo). Ficam aqui algumas ideias (grafia original):

  • Do ponto de vista da economia, a expressão economia da cultura identifica o conjunto de atividades econômicas relacionadas à cultura, incluindo a criação e o fazer cultural. Do ponto de vista da cultura, o conjunto das atividades culturais que têm algum impacto econômico. Pode-se incluir neste conjunto qualquer prática direta ou indiretamente cultural que gere valor econômico, além do valor cultural. A economia é, portanto, uma das dimensões da cultura. E a economia da cultura constitui um campo da economia. As atividades geradoras de valor econômico deste setor cultural e criativo são as que constituem o campo da economia da cultura e influenciam outros setores, como os de ciência e tecnologia e de eletro-eletrônicos.

    [...] Pesquisas recentes indicam que a economia da cultura é, atualmente, o setor que mais cresce, gera renda, exporta e emprega, e o que melhor remunera. É ainda o que mais impacta outros setores igualmente vitais. E produz maior valor adicionado. Está baseado no uso de recursos inesgotáveis (como a criatividade) e consome cada vez menos recursos naturais esgotáveis. Apresenta um uso intenso de inovações e impacta o desenvolvimento de novas tecnologias. Finalmente, seus produtos geram bem-estar, estimulam a formação do capital humano e reforçam os vínculos sociais e a identidade.

    [...] As indústrias culturais e seus serviços derivados são a vitrine deste campo. Refiro-me à indústria editorial, à indústria do audiovisual e à indústria da música, entre outras. Tais setores estruturam-se como cadeias produtivas. Basicamente, dizem respeito à criação, produção, distribuição e consumo de conteúdos e experiências culturais. Mas há também as atividades econômicas relacionadas à cultura que se estruturam como arranjos ou sistemas produtivos locais. E as de caráter individual, associativo e institucional. Além do setor industrial da cultura, que inclui os segmentos do audiovisual, da música e da publicação de livros, entre outros, o estudo inclui, no campo da economia da cultura, a indústria da mídia (imprensa, rádio e TV), o campo criativo (moda, arquitetura, publicidade, design gráfico, design de produtos e design de interiores), o turismo cultural e as expressões artísticas e instituições culturais (artes cênicas, artes visuais, cultura popular, patrimônio material, museus, arquivos, bibliotecas, eventos, festas e exposições).

MÚSICA FILARMÓNICA EM COIMBRA


No próximo sábado, continuam os Concertos Museu da Água de Coimbra – 2007, no âmbito de protocolo de colaboração assinado com o Museu da Água de Coimbra e a Orquestra Clássica do Centro, informam os promotores. A iniciativa envolve dez bandas filarmónicas do distrito de Coimbra.

Assim, aos sábados e até 21 de Julho, das 16:00 às 18:00, há concertos no Coreto do Parque da Cidade Dr. Manuel Braga. Anotem, por favor:

Associação Educativa e Recreativa de Góis (26 de Maio),
Sociedade Filarmónica Penelense (2 de Junho),
Filarmónica 15 de Agosto Alfarelense (9 de Junho),
Sociedade Filarmónica de Miranda do Corvo (16 de Junho),
Associação Musical e Recreativa de Ceira (23 de Junho),
Associação Filarmónica União Verridense (30 de Junho),
Sociedade Filarmónica Recreativa e Beneficente Vilanovense (7 de Junho),
Associação Musical da Pocariça (14 de Julho)
Filarmónica da Associação Sociedade Alhadense (21 de Julho).

terça-feira, 22 de maio de 2007

RITTORNELLO


Escrevi aqui, nos dias 3 de Janeiro e 4 de Fevereiro de 2007, sobre a situação do programa Rittornello, de Jorge Rodrigues. A direcção de Rui Pêgo e João Almeida reduzira o programa a uma hora. Agora, saiu da grelha, substituido por um programa do próprio João de Almeida.

Eu lera a notícia num blogue a semana passada, confirmei ontem ouvindo a Antena 2 e verificando hoje a grelha publicada na internet. Jorge Rodrigues foi irradiado!

É UMA GRANDE PENA. DAVA MUITO GOSTO OUVIR OS PROGRAMAS DE JORGE RODRIGUES.

ESTOU MUITO, MAS MUITO,
DESAPONTADO COM A DIRECÇÃO DA ANTENA 2. POR QUE FOI FEITO ESTE DESPEDIMENTO?

DVD

Com o título Nova geração de DVD ou o suicídio de um formato?, o sítio Edit on Web, na sua edição de hoje, questiona os novos formatos prontos a sair para o mercado. Lê-se:

  • Actualmente, a guerra faz-se entre dois formatos: o Blu-ray (50GB) da Sony e o HD-DVD (30 GB) da Toshiba. De semelhante têm o facto de ambos usarem um laser azul que opera num curto comprimento de onda, o que aumenta a sua capacidade de armazenamento. Ambos oferecem também mais opções interactivas do que o formato actual. Até aqui poderia pensar-se porque é que as duas empresas não se juntaram para fazer um formato único e universal. Mas, essencialmente por razões comerciais, Sony e Toshiba argumentaram que os dois formatos apresentam designs incompatíveis.
Aconselhamos a leitura integral do texto (aqui).

TELEVISÃO E CRIANÇAS


Ontem, na Universidade Católica, realizou-se um colóquio sobre televisão e crianças, dentro do espírito do 41º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Foram cinco os conferencistas.

A primeira, Teresa Paixão, directora de programas infantis da RTP, falou dos factores educativo, de entreteinmento (com humor) e da formação que esses programas inserem. A responsável pelo actual programa Ilha das cores falou centrou-se bastante na sua experiência enquanto produtora (de ideias, de projectos), tarefa diferente de Sara Pereira, docente da Universidade do Minho, e investigadora na área da recepção televisiva em públicos infantis e juvenis.

Para a docente, os educadores são a família e os pedagogos (escola, professores), não devendo competir esse papel à televisão. Sara Pereira apresentou duas abordagens diferentes de investigação: centrada nos media, centrada nas crianças. Ela ilustrou algumas conclusões da sua investigação: no período de 1992 a 2002, dos quinze principais programas mais vistos por crianças dos 4 aos 14 anos, só um programa infantil apareceria (Uma aventura) e este apenas no ano derradeiro de observação.

Sara Pereira falou da relação de influências, como a acção do telespectador, os estilos e condições de vida, os tipos de família e estilos educativos e os ritmos familiares. A influência da televisão, diria ela, não é necessariamente negativa (pena não ter tido tempo para desenvolver as conclusões do seu estudo sobre a série infanto-juvenil Morangos com açúcar).

Quintino Aires apresentou uma perspectiva diversa da de Sara Pereira. Psicólogo, Aires defende que nada na telvisão influencia uma criança se o que ela vê não se relaciona com um adulto (o mediador, como Sara Pereira se referiu). Quintino Aires argumenta que, para se formar uma opinião ou ter uma reacção, é preciso construir um símbolo do que se vê. Para ele, vive-se no século XXI com demasiados medos quando se fala da construção da criança. Os media são fundamentais à nossa sociedade, porque libertam muita informação. A influência dessa informação está na discussão posterior das questões dentro dessa informação.

Carlos Liz, , o comunicador seguinte, seguiu de certo modo a mesma pista, ao considerar que as crianças operam valores que nascem da interacção entre elas. A explicação que dá para esta afirmação baseia-se num inquérito que vem fazendo a crianças nas escolas e onde constata que estas são (tendem a ser) consumidores exigentes. Uma história que eu lhe ouvira contar dias atrás tratava do presente insucesso dos vendedores de automóveis nos stands. As crianças, quando acompanham os pais na decisão de compra de uma viatura, fazem muitas perguntas, algumas delas de grande pertinência. A fonte de informação das crianças é a rede (a internet).

O último orador, o padre João Lavrador, realçou o destaque dos católicos aos media ao longo do século passado, passando de meios de comunicação social à comunicação social - abandonando a ênfase no processo de transmissão e olhando para o todo complexo - e à indústria da comunicação social - alargando mais o âmbito, na perspectiva de produtos e mercado. Para João Lavrador, a comunicação social opera num duplo sentido: retrata a realidade, controi uma (nova) realidade.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

OBRIGADO, MÁRCIO ALVES CANDOSO

Pelo texto Os gloriosos pioneiros da lista telefónica, publicado no Diário de Notícias de hoje, pelas referências ao meu livro História das telecomunicações em Portugal. Na sua reportagem, escreve sobre as listas telefónicas em Portugal, em especial a primeira, e sobre as telefonistas.

CLIMAS (IKLIMLER) - FILME DE NURI BILGE CEYLAN


Climas (2006) é o filme mais recente do realizador turco Nuri Bilge Ceylan (título original: Iklimler), que conta no leque de actores com o próprio Nuri Bilge Ceylan (como Isa), Ebru Ceylan (como Bahar) e Nazan Kirilmis (como Serap). Isa é docente universitário; Bahar, a sua mulher, é produtora de televisão; Serap é uma antiga paixão de Isa e para quem ele volta numa altura de separação com Serap, no decurso de um Verão e um Inverno.

Clima, o nome do filme, ilustra simultaneamente a mudança de estações durante o ano e a ruptura de relações num casal, com renovação de temperaturas e sentimentos quando o ciclo volta ao começo. Prémio da Crítica Internacional em Cannes em 2006, mostra-nos essa parte da Turquia moderna que partilha os códigos sociais e morais do Ocidente [e que merece entrar na União Europeia, como salientava um magnífico texto de José Pacheco Pereira no jornal Público]. Registo a beleza da fotografia e a qualidade estética do som. Alguns planos são muito belos, como os primeiros (Nuri Ceylan explora o olhar belo e sereno da sua mulher na vida real). Com frequência, os sons anunciam os planos seguintes, numa simbiose rara de perfeição entre som e imagem. Admirando Michelangelo Antonioni, Ingmar Bergman, Andrey Tarkovsky e Robert Bresson, o realizador segue, neste filme, a tradição dos dois primeiros cineastas.

Retiro do sítio
Livra.pt (página de Cátia Santos) o seguinte: "Climas é um filme feito das subtilezas próprias da amargura. Não existe aqui propriamente uma felicidade, uma satisfação perante a vida, existem palavras que ficam por dizer, sentimentos que ficam por explicar. Há momentos que não voltam e há tempos que passam, de repente é tarde de mais. Mesmo que nos pareça que o tempo se prolonga até à eternidade nos grandes planos de Bahar, belíssimos, longos e extremamente significativos. [...] Climas vive destes desencontros na vida das pessoas, alimentado por uma bela fotografia e por momentos de suspensão temporal baseados em grandes planos, em tempos longos, como se não existisse tempo. E ficamos com essa sensação de angústia sem tempo, que pode durar toda um vida. É um filme amargo, sem grandes esperanças, que aceita as evidências".



Imagens retiradas do sítio do filme
Iklimler (Climas). Consultar o sítio de fotografia de Nuri Bilge Ceylan, pois, para além de escritor e realizador, ele é ainda um fotógrafo conceituado.

domingo, 20 de maio de 2007

INDÚSTRIA LIVREIRA


Após a saída do capital da Media Capital (detentora da TVI, entre outros media nacionais), Paes do Amaral virou-se para a indústria livreira. Após ter comprado, mais o seu sócio Nicolas Berggruen, a Texto Editora e parte substancial da Asa (Público de hoje), há conversações sérias com a Caminho (Diário de Notícias de ontem). A ocorrer este tipo de aquisição, verifica-se uma nova concentração de propriedade nas editoras, podendo significar um aspecto positivo (músculo financeiro das editoras portuguesas) ou negativo (pela concentração, as áreas de publicação em temas podem reduzir).

Fonte dos recortes: os jornais referenciados acima

CINEMATECA JÚNIOR


Agora, no Palácio Foz, à Praça dos Restauradores, em Lisboa. Há muitas sessões em Maio e em Junho.



CURSOS INTERNACIONAIS DE CASCAIS


De 11 a 23 de Junho, em Cascais, promovido pelo Instituto de Cultura e Estudos Culturais, sob a direcção de José Tengarrinha, realizam-se os XIV Cursos Internacionais de Verão de Cascais. Este ano, os temas são Estado Democrático e ética política e social (11 a 16 de Junho) e Alterações climáticas, impactes, medidas de adaptação e mitigação em Portugal (18 a 23 de Junho).

Há ainda serões literários e musicais, de que destaco a História da ópera, conferência de Vanda de Sá, da Universidade de Évora, no dia 12 de Junho, pelas 21:30.


JORNADAS DE MÚSICA


Com o objectivo de divulgar o espólio da Escola de Música da Sé de Évora, realizam-se de 4 a 7 de Outubro deste ano as X Jornadas Internacionais, no Convento dos Remédios, em Évora.


sábado, 19 de maio de 2007

NATUREZA MORTA, UM FILME DE JIA ZHANG-KE


A barragem das Três Gargantas, que deverá controlar as enchentes do rio chinês Yangtsem, e que tem conclusão prevista para 2009, é o cenário natural de Still life - Natureza morta (2006), filme de Jia Zhang-ke (nascido em 1970 e pertencendo à chamada 6ª geração), que já realizara filmes importantes como Pickpocket (1997) e O mundo (2004), que eu apreciei muito. No período inicial da carreira, as autoridades chinesas não tinham aprovado os temas dos seus filmes.

Em Still life - Natureza morta, o realizador conta a história da lenta submersão da velha cidade de Fengjie pelas águas da barragem. O mineiro Han Saming viaja de Shaanxi para Fengjie, onde procura a mulher que o abandonara 16 anos atrás e, especialmente, a filha de ambos. Outra história cruza-se no filme: uma enfermeira procura o marido, que ficara a trabalhar nas obras associadas à barragem e enriquecera. Se, no primeiro caso, o mineiro reata relações com a mulher, no segundo caso, o casamento acaba em divórcio.

Os filmes de Jia Zhang-ke falam do confronto de valores materiais e colectivos da China moderna face ao país de poder maoista. Dois mundos em choque, com o desaparecimento rápido do antigo, embora os indivíduos mantenham referências dele. Um sinal de modernidade, que atravessa os filmes do realizador chinês, é o telemóvel, patente em O mundo e em Natureza morta.


Enquanto naquele, se observa o mundo moderno no centro da história (um parque temático em Beijing, jovens em empregos precários, a sedução da ocidentalização, ecos laterais do mundo antigo), no filme agora presente nas salas de cinema o mundo moderno (a barragem) esmaga no próprio local o mundo de tradições (a cidade milenar, as relações sociais de vizinhança que morrem, a luta dos indivíduos contra um partido político que não é mais do que um emaranhado de contradições burocráticas, os novos valores como os cabelos pintados de um rapaz que usa a mota como meio de transporte de clientes, como se fosse um táxi mais leve).

Se em O mundo, há a presença de uma classe média baixa (de serviços), em Pickpocket o jovem ladrão retrata um proletariado que perdeu as referências e cresce na pequena criminalidade como pano de fundo de um mundo em rápida erosão. Já Natureza morta explora as relações entre a nova classe média baixa (o construtor civil cuja mulher, enfermeira, procura o divórcio) e os trabalhadores braçais (o mineiro, os trabalhadores que participam nas obras de destruição dos prédios de Fengjie).

O olhar para a China e as suas transformações é dado sempre por essas personagens do fundo da tabela social, revelando (real ou implicitamente) a gigantesca marcha de mão de obra dos locais do interior do país (zonas pobres ou esquecidas do poder central) para as cidades (onde, supostamente, há riqueza e sua distribuição mais equilibrada) e que Pickpocket se encarrega de anunciar ser uma ilusão não factível. As personagens não evidenciam sinais de ressentimento (para usar a palavra da minha mensagem de ontem), encaram a vida não direi com resignação mas como se elas estivessem nos parâmetros da existência social desde sempre. Isto é, não há revolta ou ela está muito controlada. O partido (comunista) parece estar por detrás deste alheamento social.


Ou a revolta está bem controlada e restringe-se à discussão de velhos familiares, como quando o mineiro fala com o antigo cunhado. Aí evidenciam-se as mudanças sociais, culturais, económicas e políticas da China - nas relações dentro da família e nos grupos sociais. Essas relações são frágeis: voltamos à história do mineiro - a filha que este pretende rever não está na cidade onde a mãe vive mas procurou estabilidade de emprego numa cidade mais a sul, o marido da enfermeira mostra o seu status através do automóvel que conduz. Mas ainda se observa solidariedade - quando um grupo decide espancar um jovem que fizera mal a um elemento daquele grupo; o brinde com licor quando o mineiro abandona o grupo de trabalhadores da construção civil.

Um outro sinal que este filme me chamou a atenção é o da identificação dos lugares. Há lugares mais importantes que outros. No dinheiro em papel há representações de algumas cidades. Os operários, nas suas narrativas, valorizam tais representações como se fossem fotografias ou vídeos de um lugar. Possivelmente, e para aquelas camadas sociais, não há abundância de livros ou de imagens fixas. O signo estampado na nota adquire a mesma configuração como quando nós quando interpretamos o mapa das linhas de metro numa cidade que visitamos pela primeira vez. O referente torna-se realidade, o significante traduz o sinal real.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

O RESSENTIMENTO EM MARC FERRO


Durante a licenciatura, há muitos anos atrás, eu aprendi a saber o valor de Marc Ferro, em especial devido à revista Les Annales (Économies, Sociétés, Civilisations), de que foi co-director. Os meus professores seguiam muito a escola francesa e ensinavam Marc Ferro e Fernand Braudel, por exemplo.

Nascido em 1924, Marc Ferro interessou-se desde cedo pela História. Ensinou na École Polytechnique, foi director de estudos no IMSECO (Institut du Monde Soviétique et de l’Europe Central e Oriental) e esteve na Argélia, onde apoiou os movimentos de solidariedade para com aquele país quando ainda estava sob a colonização francesa. Eis duas áreas de grande reflexão do historiador: a revolução russa e o colonialismo. A que juntaria a paixão pelo cinema.

Além de historiador, Ferro é um grande contador de histórias. Hoje, no final de uma tarde muito quente, prendeu a audiência da Gulbenkian durante mais de uma hora, falando de improviso (consultou notas de um papel somente duas vezes, e já quase no final, para se certificar que esgotara o repertório). O tema: ressentimento na história. O qual foi exposto com muito brilhantismo e graça, despertando frequentes risos entre os ouvintes quando usava metáforas ou trocadilhos.

Para ele, há dois tipos de ressentimento: o do indivíduo e o da sociedade. Misturando-se os dois, podem surgir movimentos poderosos. O ressentimento é uma memória que atravessa gerações e não possui ideologia. Por um lado, é uma cólera, uma humilhação - a do que perde. Por outro lado, pode representar uma renovação, uma recuperação de valores - a exaltação que conduz a uma guerra. Mas também existe uma representação benigna.

Um dos ressentimentos históricos a que concedeu a primazia foi o do islamismo. E, se começou por recordar os atentados de Madrid em 2004, lembrou também a relação difícil entre Espanha e Marrocos, que dura há séculos, ou mais especialmente desde 1492, quando os árabes (mouros) foram expulsos de Espanha. Os islamitas radicais dizem que islamizar é modernizar. Não é o movimento da modernidade a entrar no islão, mas este a penetrar no mundo contemporâneo. Para alguns islamistas, o passado é mais presente do que o próprio presente. Daí referir o mundo esquizofrénico da cultura do islão, metido entre duas vontades: o ressentimento (contra os americanos, contra os espanhóis, por exemplo) e a sharia. Além da posição que tem a ver com o passado: não podem ser escravos daqueles que foram seus escravos (na Península Ibérica).

Outro ressentimento a que deu primazia foi o que originou a União Soviética. O irmão de Lenine fora assassinado, o que levou este a assumir uma vontade transformada em doutrina. E Marc Ferro estabeleceu longas homologias com a França da revolução de 1789 e as posições de Robespierre e Marat.

O orador falaria de duas fases de uma revolução, a primeira das quais a luta contra a humilhação, onde se despertam valores, esperança, solidariedade. É a luta dos humilhados individuais (por causa dos impostos, da terra agrícola que não se tem, das diferenças de riqueza). A que se sucede a segunda fase, quando os indivíduos concluem que a esperança depositada nos momentos iniciais não é concretizável. Nasce uma terrível cólera, com uma violência de massa. A dimensão é, por conseguinte, ampliada e os resultados aumentados, com destruição de valores e pessoas de outras classes sociais.

Frequentemente, os ressentimentos estão escondidos, larvam no interior das sociedades. Diria eu, tratam-se de demónios adormecidos, células adormecidas como se definiram os grupos de islamistas que perpetraram atentados com bombas nos anos mais recentes. Quase a concluir, Ferro enunciou outros agentes conservadores dos ressentimentos: os historiadores e a escola, que perpetuam determinados sentimentos.