quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

TELEVISÃO MANUAL

Nos anos mais recentes, quando os visitávamos, tomávamos chá e comíamos bolachas saborosas que indagávamos onde eram compradas. Por vezes, ele perguntava-me quantos litros de gasolina gastava o automóvel aos cem quilómetros, algo que nunca soube responder. E como ia o emprego, que eu procurava descrever o melhor possível. Depois, falava do seu tempo na tropa, por volta dos anos da II Guerra Mundial, em Cabo Verde. Ao mesmo tempo, havia mágoa e saudade. Para ele, o serviço militar, apesar das dificuldades todas, fora um rito de passagem fundamental, social e até mesmo económico. As conversas foram-se espaçando, eu sei que por minha falta. Havia a desculpa de ir ao cinema, de preparar uma aula, de não se que mais. Um domingo de manhã, cruzámo-nos na rua e fomos tomar um café. Foi um dos últimos momentos – e a mulher dele gostava tanto de café, que podia bebericar a todo o momento com uma grande satisfação. O tempo e a velhice e doença dele afastou-nos até ao irremediável. Mas havia sempre um telefonema de sua casa para a nossa, uma gentileza que ele e a mulher mantiveram até ao fim da vida.

A minha memória vai mais longe. Lembro-me do Verão e do Outono de 1960, tão longínquo que vão. As tardes em Santo Amaro de Oeiras, praia que me parecia sem fim, com uma bola de Berlim e uma Fanta de laranja em garrafa bojuda, tanto açúcar que hoje me parece um escândalo. Ao fim da tarde, ou de manhã, ia à Baixa de metro, apanhando-o na estação da Avenida de Roma. As estações e os combóios eram novos. Fotografias recentes lembraram-me de como brancos e limpos eram os prédios da avenida, agora avassalados por graffitis selvagens. Das fotografias retenho também os raros automóveis a circularem, das senhoras bem vestidas a passearem e a entrarem nas lojas. O centro de Lisboa deslocara-se, por um período, para as avenidas novas. A avenida da Igreja é, ainda hoje, um espelho do movimento de há 40 anos atrás, mas as lojas envelheceram ou fecharam, tornando-se algumas delas manhosas e provincianas, que as luzes de Natal não ajudam, com uma concorrência feroz dos grandes centros comerciais (embora a zona do Chiado ilustre uma transformação notável, como estes últimos dias testemunham).

A televisão emitia há poucos anos. Foi por essa altura que vi os primeiros programas. Mostrando o meu interesse, ele fez-me uma televisão manual. Explico melhor: no interior de uma caixa de sapatos – ou uma caixa de cartão de maior dimensão – construiu uma estrutura em madeira, onde colocou dois pequenos carretos de aço, que funcionariam como bobinas. Na tampa da caixa, abriu uma ranhura como se fosse um ecrã e cobriu-o com uma mica. Após a entrega do brinquedo, o que tinha eu que fazer? Recortar histórias de banda desenhada dos jornais, colar os episódios na vertical e rodar lentamente um manípulo ligado a uma das bobinas. O único espectador era eu, e eu era igualmente autor, realizador e montador. Por vezes, eu escrevia histórias, que prolonguei por quatro ou cinco anos, até atingir a adolescência e ocupar-me com outras preocupações.

Mas ficou a memória de um artesão e de um criativo de grande sensibilidade, que fez o brinquedo que mais pena me faz por ter desaparecido. Assim como tenho pena de não ter fotografado o seu armário de ferramentas de mecânico, tão organizadas, arrumadas e identificadas estavam. Nas conversas dos últimos anos, chegámos a falar da televisão manual e da importância que trouxe para a minha imaginação, numa altura de muito menos recursos. Estávamos ainda longe da máquina fotográfica digital, do computador e dos blogues. Se fosse possível, quantos filmes eu montaria e colocaria aqui no blogue?

Morreu em 2005. A ele dediquei o meu livro As vozes da rádio (2005). Um dos seus nomes também faz parte do meu.

Durante 1960, a RTP emitiu durante 1285 horas, com 614 empregados no seu quadro. Havia 47372 televisores registados e a pagarem taxa. A facturação publicitária ultrapassou, pela primeira vez, as 100 horas e os 10 mil contos (cerca de 50 mil euros na actual moeda). As visitas dos presidentes Eisenhower (americano) e Kubitschek de Oliveira (brasileiro) foram tema de amplas coberturas em directo (RTP 50 anos de história). Mas teve importância primordial a primeira transmissão directa do estrangeiro: a reportagem do encontro de hóquei em patins Espanha-Portugal, campeonato ganho pelo nosso país (RTP 50 anos de história).

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

SILÊNCIOS



Nuestros Silencios são dez esculturas em bronze de Rivelino, escultor mexicano, sendo Lisboa a primeira cidade europeia a acolher tais trabalhos. Depois de Lisboa, as esculturas vão passar por Madrid, Bordéus, Bruxelas, Roma, Berlim e Londres.

COMPARAÇÕES

comparing é um blogue que procura comparar, em dois pratos de uma balança, a realidade existente (cuja temática está muito perto da humorística). Coube, no dia 5 de Dezembro, usar um pequeno texto que publiquei aqui sobre uma conferência a realizar em Telavive no próximo ano e cujo assunto é a relação entre comunicação impressa e internet. Ficou delicioso. Atrevo-me a copiar outra comparação incluída no mesmo blogue.



terça-feira, 29 de dezembro de 2009

PROVA DE DOUTORAMENTO DE MARISA TORRES DA SILVA

As cartas dos leitores na imprensa portuguesa: uma forma de comunicação e debate do público é o título da prova de doutoramento de Marisa Torres da Silva, a defender no próximo dia 10 de Fevereiro de 2010, pelas 14:30, no auditório 1 da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, à avenida de Berna, 26, Lisboa. O orientador da tese é o professor João Pissarra Esteves.

HOMENAGEM A HORÁCIO ARAÚJO

Horácio Araújo, que recordamos com saudade, vai ser homenageado no dia 12 de Janeiro, às 15:30, na Universidade Católica, onde foi docente. A ocasião será aproveitada para o lançamento de um livro em sua Homenagem.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

REVISTA DO CLUBE DE JORNALISTAS


Já está disponível o nº 40 da revista Jornalismo & Jornalistas (Outubro/Dezembro 2009), do Clube de Jornalistas. Temas de capa: reportagem na rádio e prémios Gazeta 2008.

Observação: Entristece a notícia inserida no sítio do Clube de Jornalistas (17 de Dezembro de 2009) sobre o desaparecimento do programa Clube de Jornalistas, por decisão da RTP: em "seis anos de trabalho apaixonado e totalmente gratuito fizemos 197 programas, por onde passaram mais de 500 convidados e divulgámos outros tantos depoimentos" (da informação disponível na notícia acima identificada).

MODA E DESLOCALIZAÇÃO DE FÁBRICAS


No El Pais (Madrid) de ontem, Amanda Mars escreveu sobre as grandes marcas de roupa que vêm deslocalizando as suas fábricas para a Ásia e, também, África. Armani, Hugo Boss ou Prada são algumas dessas marcas que têm os seus produtos feitos na China, dado o menor custo com a mão de obra, mas indicam que o que conta não é o fabrico em si mas a marca, o seu design, as matérias primas e o controlo de qualidade. As 10 principais marcas de luxo controlam 75% do mercado mundial.

Além da China, surgem outros países como locais de fabrico de roupa, casos da ilha Maurício (ilhas Mascarenhas), com camisas e camisolas, Turquia (cidade de Imir) e Marrocos (Tânger).

Claro que há um problema de imagem no fabrico de marcas de luxo na Ásia, embora um bom controlo de produção signifique que a qualidade seja semelhante à produzida na Europa ou nos Estados Unidos. O que leva a Europa a responder de modo assertivo. Assim, na Itália as etiquetas colocadas na sua roupa dizem 100% made in Italy ou All italian, podendo haver sanções até € 250 mil caso não seja cumprida com escrúpulo essa informação, embora tal possa representar, por outro lado, um efeito proteccionista.

A ÚLTIMA COLUNA DO PROVEDOR DO PÚBLICO


Ontem, foi a última coluna do provedor do Público, Joaquim Vieira, com dois anos de mandato. Foi um provedor claro, incisivo, objectivo. Vou ficar com saudades das suas colunas.

Joaquim Vieira deixou cinco recomendações - aos jornalistas do Público. Respigo rapidamente as suas ideias: 1) pensar nos leitores antes de decidir a publicação de cada matéria, 2) dosear a agenda entre temas de interesse público e de interesse do público, 3) cumprir as regras da produção jornalística, atender ao rigor dos factos e respeitar a língua, 4) considerar também a fotografia como elemento de informação, 5) entender o Público como uma marca de informação englobando os diversos suportes existentes, o que significa que o papel é um deles e que a empresa do jornal deve apostar ainda mais no online, "pois aí reside o futuro. E não só: também noutros suportes digitais, já criados ou a criar".

A crónica tem, para além dos jornalistas, como destinatária a administração do projecto.

LISBOA

Cabelleireiro? Ou cabeleireiro (apenas com um l)? A barbearia Campos, no Chiado, é um espaço de tradição ao pé de lojas modernas e com marcas internacionais. O confronto entre o antigo e o moderno satisfaz a quem gosta de cidades e da sua história.





Publicidade de O Cabelleireiro na revista brasileira (Rio de Janeiro) Careta, de 10 de Setembro de 1938.

[Cabelleireiro, m. Aquelle que trabalha em cabelleiras. Aquelle que por offício corta ou penteia o cabello dos outros. (De cabelleira). De Cândido de Figueiredo, 1913, obtido em Wikisource]

CREATIVE BOOM

O blogue Creative Boom é uma publicação inglesa online que procura celebrar, inspirar e apoiar as indústrias criativas no Reino Unido e no mundo, incluindo tudo que diga respeito à música, design, moda, filme, fotografia e escrita. Quase como o Indústrias Culturais.

INDÚSTRIAS CULTURAIS NA ROMÉNIA

Liberties and constraints during the transition process of the Romanian Cultural Industries é um texto de Octavian Stireanu, fundador do Clube de Imprensa Romeno, sobre direitos de autor e indústrias culturais e publicado pelo Instituto de Economia Nacional na sua revista Romanian Journal of Economics (volume 29, 2(38) (Dezembro), páginas 55-84. Diz o abstract o seguinte:
  • The study analyses main economic, social and political problems concerning the transformation process of the editing, printing and publishing sector in Romania, as an important part of CORE copyright-based industries during the transition to market mechanisms. A series of economic, financial, institutional, social and political aspects of this sector are presented from the viewpoint of its well-functioning in a democratic society, in accordance with EU standards and sustainable development needs. It points out the way of optimal combination between economic contribution of the sector and its sound educational role for the whole society, trying to answer the question if free market does generate genuine free publishing activities.

INDÚSTRIAS CULTURAIS E RESILIÊNCIA URBANA

Analysis of cultural industries and urban resilience é um texto (PowerPoint) de Robert Kloosterman, da Universidade de Amsterdão UVA. Resulta da investigação entre universidades e centros de investigação da Suécia, Bulgária, Turquia, Israel e França. A ler com atenção.

domingo, 27 de dezembro de 2009

POPULAR FICTIONS: SELLING CULTURE?

Call for papers Popular Fictions: Selling Culture? (Association for Research in Popular Fictions, Liverpool John Moores University), Saturday 20th and Sunday 21st November 2010.

We welcome papers considering popular narratives or cultural practices across any media (film, television, graphic novel, radio, print, cartoons and other narrative art, online), historical period and genre. Topics for this conference might include, but are not limited to: Book clubs and reading groups, Online discussions and communities, Fandom and cult media, Interactive fictions, Cultural industries and the production of culture, Cultural policy, cultural texts, Nineteenth-century serialisation, The bestseller, Interactive audiences, Syndication, Lending / renting commodities (e.g. the iPlayer and other IPTV), Consumption and lifestyle, Merchandising and collecting, Product placement in popular narrative, Popular fictions as multi-platform brands, Long format TV, 3D and other immersive media, Children’s fictions, Online and multiplayer gaming, Copyright and format, 360-degree commissioning, Christmas books and specials, Content not conduit, Advertising and narrative, Selling science fiction and fantasy, Promotion and the author.

Please contact: Nickianne Moody, convenor for ARPF, Liverpool John Moores University, Dean Walters Building, St James Road, Liverpool L1 7BR, U.K. Email: arpfmail@yahoo.co.uk; Fax: +44 (0)151 643 1980. Calls for specific panels will be announced via the Association for Research in Popular Fictions website. Labels: CFP, Conferences, popular culture.

[from Teach Me Tonight weblog]

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

NATAL



Alegrem-se os Céus e a Terra é o tema da exposição do Museu da Presidência da República (Palácio de Belém, Lisboa, até 10 de Janeiro de 2010) dedicado ao Natal (imagem retirada do desdobrável da exposição). Expõem-se obras do património nacional em madeira, prata, marfim, terracota, gesso e tela, entre outros materiais, de artistas portugueses como Francisco Henriques, Josefa de Óbidos e André Reinoso e de artistas europeus como Laurent de la Hyre, Perugino, Francesco Trevisoni. Representam cenas bíblicas da anunciação, natividade, adoração, apresentação no templo e fuga para o Egipto.

Com este post, o blogueiro vai descansar uns dias, voltando a escrever após a presente quadra do ano. Desejo a todos(as) leitores(as) um bom Natal.

REVISTA BURN CELEBRA HOJE O PRIMEIRO ANIVERSÁRIO


Hoje, colaboradores, amigos e leitores da burn associam-se no sítio burn.ians, criado para homenagear o projecto, com a publicação de fotografias-tributo de encontros e festas.

A burn, revista online criada pelo fotógrafo norte-americano (David Alan Harvey), membro da Magnum Photos e colaborador da revista National Geographic, desenvolveu-se a partir do seu blogue Road Trip, iniciado em Dezembro de 2006 e concluído dois anos depois.

Na burn, publicam-se ensaios fotográficos (photographic essays), fotografias (selected photographs) e promove-se o diálogo (dialogue), em fórum participado entre fotógrafos e amadores da fotografia. Das iniciativas desenvolvidas pela burn, destacam-se o Emerging Photographer Grant, que premiou Sean Gallagher, por um trabalho de fundo sobre a desertificação na China (2008), e Alejandro Chaskielburg, pelo portfolio sobre o delta do rio Paraná (2009).

[obrigado a Carlos Filipe Maia por me dar a conhecer o projecto]

DIRECÇÃO DO MUSEU DE ARTE POPULAR

A imprensa de hoje anuncia que Andreia Galvão será a nova directora do Museu de Arte Popular. Esta, que disse querer reabrir o museu até final de 2010, é arquitecta e docente universitária, com uma tese de doutoramento sobre Jorge Segurado, o arquitecto que em 1940 fez a adaptação do pavilhão integrado na Exposição do Mundo Português para museu. Inovação e criatividade são dois lemas da nova direcção.

Assim, parece-me que o Museu de Arte Popular está no bom caminho, após o desvario dos anos mais recentes.

ENTRADA DE CAPITAIS ANGOLANOS NA ZON

A ZON, a segunda mais importante empresa portuguesa de telecomunicações e multimedia, abriu 10% do seu capital a Isabel dos Santos, filha do presidente de Angola. Os accionistas mais relevantes apoiaram a entrada da empresa angolana Kento, dada o próximo arranque da televisão paga naquele país, tendo pago 163 milhões de euros. A Kento comprou 2,5% do capital detido pela Caixa Geral de Depósitos, banco estatal português, 2,97% da Cinveste e acima de 4% da própria ZON (que recebeu 74 milhões de euros para reforço de capitais próprios).

RELATÓRIO FINAL DO PROJECTO EU KIDS ONLINE


EU Kids online: final report, por Sonia Livingstone e Leslie Haddon, é o texto que indica os resultados obtidos na investigação produzida entre 2006 e 2009 sobre os usos da internet pelas crianças e adolescentes em 21 Estados europeus, comparando comportamentos e avaliando influências sociais e culturais, ao mesmo tempo que as oportunidades e os riscos do seu consumo (ver mais em EU Kids online).

Com o projecto, existem cerca de 400 estudos conduzidos nesses países, desenvolvidos por universidades, centros de investigação, departamentos governamentais e indústria, informando o uso crescente da internet e o modo como ela forma a geração europeia mais jovem. O EU Kids online definiu quatro C - comparatibilidade, contextualização, centramento nas crianças e crítica - para obter melhores resultados.

Revisão da literatura e um guia das boas práticas são dois resultados do projecto. O estudo agora editado inventaria ainda recomendações políticas de maximização de oportunidades (edução e literacia digital, participação cívica, criatividade, identidade e ligação social) e de minização de riscos (comercialização, agressividade, questões sexuais, perda de valores), bem como recomendações. Neste último ponto, saliento o interesse e as preocupações com a reprodução ilegal de conteúdos em simultâneo com a vantagem de produzir novos conteúdos e a avaliação e interpretação desses conteúdos de forma crítica, e as respostas que os pais devem dar aos seus filhos.

A secção portuguesa do EU Kids online foi liderada por Cristina Ponte, docente da Universidade Nova de Lisboa.

INDÚSTRIAS CULTURAIS EM PIERRE MOEGLIN

Pierre Moeglin publicou o texto Indústrias culturais e midiáticas: breve história da pesquisa na França. A ler na totalidade aqui, em LÍBERO, Revista do Programa de Pós-Graduação da Faculdade Cásper Líbero, vol. 12, nº 24 (2009).

Do resumo, lê-se:

  • A abordagem comunicacional das indústrias culturais e midiáticas atualmente pode fazer uso da acumulação. No entanto, há poucos trabalhos referindo-se às condições nas quais essa abordagem nasceu. Esta contribuição privilegia três episódios que estiveram na origem dessa abordagem: a invenção do sistema das indústrias culturais e midiáticas, o aperfeiçoamento da noção de modelo sócio-econômico e o desenvolvimento de uma proposta tipológica, sendo ela mesma chamada, num futuro próximo, a ser completada por uma proposta matricial.

GRAFFITI NA CALÇADA DA GLÓRIA (LISBOA)



Arte de rua, graffiti, reocupação de paredes de sítios em ruína. Artistas: Sphiza, Fábio Santos, José Fictício, Smile, Rui Ventura, Van/ Klit (em co-autoria) e Skran (via Time Out).

domingo, 20 de dezembro de 2009

MARCA INTERNA


Em Maio de 2008, José Manuel Seruya defendeu tese de doutoramento em Gestão na universidade Jean-Moulin Lyon III, em Lyon (França), com o título La marque interne: éPT! au service du management de l’identité organisationelle du Groupe Portugal Telecom. Agora, em edição Principia, saiu a adaptação éPT! a marca interna da Portugal Telecom.

Trata-se, como diz um dos prefaciadores da obra, Albino Lopes (ISCTE), de uma visita guiada ao processo de criação de uma marca interna como “veículo identitário da pluralidade de experiências empresariais” (p. 11). Ou, como escreve outro prefaciador e elemento do júri de doutoramento do autor, Philippe Monin (EM LYON Business School), de um texto que “deixou rapidamente o marketing [para explorar] o campo da gestão das identidades – muito explorado em teoria das organizações – e o campo das identificações múltiplas e das transições entre identificações – muito explorado em comportamento organizacional” (tradução livre minha a partir do francês) (p. 14).

Um salto rápido para as conclusões, permite-nos entender o objecto do trabalho: o conceito de marca interna, até agora inexistente na literatura das marcas, e que tem quatro elementos principais: 1) ferramenta da gestão da identidade organizacional de grupo, 2) marca que endossa a marca corporativa de grupo, 3) com um único público-alvo, os colaboradores da organização, e 4) com existência num único território, o espaço organizacional do grupo (p. 199). Endossamento quer dizer empréstimo de credibilidade da marca de grupo (PT) à marca (interna éPT!) que a recebe (p. 171).

José Manuel Seruya trabalha as ideias de estratégia e identidade organizacional de grupo, criação de identidade organizacional de grupo como metaidentidade, conceptualização de grupo em termos de atractiva e influente e partilhada ou sustentada, assim como construção do sentido do grupo e análise da arena identitária interna, caso de declarações, expressões e práticas, incluindo os critérios de centralidade, durabilidade e distintitividade.

Se o primeiro capítulo serve para apresentar o Grupo PT e a visão e concretização da marca interna éPT! (2002-2008) e o quarto capítulo analisa a biografia da marca interna estudada, os segundo e terceiro capítulos têm fôlego teórico (identidade organizacional, marca interna e gestão da identidade e da marca interna), com o quinto capítulo a associar a marca interna e a identidade organizacional, com uma aplicação prática do estudo da marca interna, exercício útil se quisermos extrapolar para outros exemplos de organizações e empresas. A pergunta de partida – por que pode e como pode a gestão da identidade organizacional de grupo apoiar-se numa marca interna (p. 53), articulando identidade organizacional e marca corporativa – encontra-se adequadamente respondida ao longo das páginas da obra. Uma das ideias que me chamou mais a atenção na leitura do livro é a dinâmica identitárias das organizações, modelo que o autor retirou de outros investigadores: professada (definida e formulada oficialmente, e que inclui documentos internos, sítio na internet, discursos de dirigentes ou entrevistas), vivida e manifestada (pp. 81-82).

O autor coloca muita ênfase na criação da identidade comum do grupo que analisa. A PT resultou da fusão de várias empresas públicas em 1994 e passou por várias fases de privatização e uma oferta pública de venda considerada hostil na altura da sua ocorrência, o que levou a que diversas culturas empresariais coexistissem, naquilo a que José Manuel Seruya identifica como traços de identidade de grupo (p. 50). Para uma melhor compreensão desses fenómenos, o autor descreve e analisa os conceitos de identidade passada, real ou presente e desejada (pp. 89-90), apresenta os argumentistas e actores principais da criação da marca interna e observa o impacto de algumas actividades principais relacionadas com a evolução da marca interna: workshop de comunicação interna, congressos de quadros, newsletters, sítio da intranet, cartão de fidelização, revista bimestral e torneio de futebol, entre outros.

No livro há, pois, o estudo de uma época precisa, a que decorre entre 2002 e 2008, em que os actores principais são, na perspectiva do autor, Miguel Horta e Costa e Abílio Martins, respectivamente presidente e director de comunicação do grupo. Sem ir muito mais longe, seria profícuo ver o que fizeram os anteriores responsáveis desses cargos a partir de 1994: Luís Todo Bom e Jorge Pêgo (1994-1996) e Francisco Murteira Nabo e Celestino Leston Bandeira (1996-2002). A criação de uma marca interna também estava na génese desses responsáveis, mas as prioridades seriam outras (cruzamento de culturas internas, massificação de bens como telemóveis e televisão por cabo, internacionalização). O livro já não cobre o desmembramento da PT, que viu sair a actividade incluída na PT Multimedia, agora ZON (com televisão por cabo e cinemas e catálogo de filmes), nem o começo da actividade do Meo (televisão por cabo na actual PT) e da tentativa de compra do canal de televisão TVI. O estudo das marcas é uma história dinâmica sem fim e sempre em mudança.

José Manuel Seruya é docente da Universidade Católica Portuguesa e coordenador da Escola de Pós-Graduação e Fornação Avançada da mesma universidade.

HANNAH E MARTIN


Durante os julgamentos de Nuremberga, Hannah Arendt (1905-1975) fez o relato para a publicação New Yorker. Visitou a família de Karl Jaspers e, especialmente, Martin Heidegger (1889-1976). Este, que fora seu professor e amante, estava em apuros. Apoiara indiscutivelmente o partido nazi, o que lhe trouxe menosprezo por parte dos políticos e intelectuais no pós-guerra e o afastamento da universidade. Arendt (representada por Ana Padrão) juntara-se ao grupo dos que o vilipendiara, mas arrependeu-se ao compreender as razões de Heidegger (representado por Rui Mendes), ele que a "ensinara a pensar". Acabou por escrever a favor dele e traduzir ensaios do filósofo. Para ela, quem perdia com o silêncio e o desprezo por Heidegger eram a Alemanha e os estudantes.

A peça de Kate Fodor, representada a primeira vez em 2004, e a partir de ontem no Teatro Aberto (Lisboa), conduz-nos, nomeadamente na primeira parte, a um vaivém no tempo, começando num hotel de Nuremberga em 1946, onde Hannah escreve a carta a perdoar Heidegger. Alice (representada por Cátia Ribeiro), jovem assistente e admiradora da filósofa, estava contra a mudança de opinião de Arendt. A peça de mais de duas horas acaba com a confrontação directa entre Heidegger e Arendt como se fosse uma luta wagneriana, em torno do heróico, do povo, da herança clássica grega, da cultura, do poder e da política. Pelo meio, a conversa entre Arendt e Jaspers (Karl representado por Luís Alberto e a mulher Gertrud por Maria Ana Bernauer) indica-nos como Heidegger havia desprezado aquele (por causa da sua mulher, judia), não permitindo sequer entrar na biblioteca da universidade. Heidegger desculpar-se-ia a Arendt, dizendo que não tinha poder, pois o partido nazi estava já descontrolado. A peça também nos mostra a mulher de Heidegger, Elfride (representada por Irene Cruz), possuída pelo ideário nazi e possível influenciadora da adesão do marido ao partido de Hitler.

Dada a complexidade da primeira parte, com o uso do que chamo dispositivo tecnológico (encenação) -, projecção de vídeos históricos e reconstituição do julgamento de Nuremberga, uso de câmaras de filmar que mostram em ecrãs o que se vê no palco, portas que abrem e fecham para dar nota dos saltos no tempo narrativo, som com microfone enquanto decorrem cena na cabana, palco dentro do palco como se fosse um peep-show que permite olhares indiscretos (voyeuristas) sobre uma relação íntima - é difícil a compreensão. Na minha leitura, na representação de ontem, os próprios actores sentiam-se desconfortados - com pequenas falhas no texto, dramatismo nas cenas da cabana (com o som a não ajudar), marcações de luz por vezes desfasadas. A segunda parte correu melhor, caso do longo diálogo entre Arendt e Heidegger, em que os actores estavam mais libertos e mostraram o seu valor.

A duração da peça significa um grande esforço para os actores, com destaque para Ana Padrão, quase sempre em palco e a dirigir-se ora para a audiência ora a pôr-se em acção com os outros actores, e cuja voz quase se perdeu mesmo no final quando Arendt e Alice discordam do teor da carta de reabilitação de Heidegger. Por seu lado, Rui Mendes aparece com a camisa suada, prova desse esforço em palco. O público não foi tão generoso nas palmas como os artistas mereciam, em especial Ana Padrão (ver entrevista antiga dada à Máxima) e Rui Mendes.

A peça tem dramaturgia de Vera San Payo de Lemos e encenação e realização vídeo de João Lourenço. A autora, Kate Fodor, é docente e autora teatral na Universidade da Pennsylvania, vivendo em Bucks County com o marido e a sua filha Lucy.

sábado, 19 de dezembro de 2009

MANIFESTAÇÃO "NÃO LEIA ESTE LIVRO"



Participação cívica no Chiado (Lisboa), a meio da tarde de hoje.

INDÚSTRIAS CULTURAIS EM GUIMARÃES

  • Guimarães, 18 Dez (Lusa) - A programação da Capital Europeia da Cultura (CEC) 2012 de Guimarães vai tentar aproximar a arte à economia, numa óptica de diversificação de actividades económicas, disse hoje a presidente da Fundação Cidade de Guimarães.

    "Tentaremos com a programação contribuir para a diversificação económica, o que, numa região como esta, causa grande expectativa", adiantou Cristina de Azevedo, referindo-se à possibilidade de criação das chamadas "indústrias culturais"".
Fonte: Expresso

CIDADE DE MILÃO VISTA POR EDUARDO CINTRA TORRES






Legendas: 1) Montra de Giorgetti em trompe l'oeil, 2) Pelo Duomo acima, 3) Leonardo do Louvre no Pallazo Marino Piazza della Scala, 4) Exposição de Edward Hopper no Pallazo Reale, 5) Montra de Borsalino, 6) Montra de Armani Casa, 7) Montra de loja de doces em trompe l'oeil.

Agradeço ao Eduardo a permissão de reproduzir aqui as suas imagens.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

COFINA NA TELEVISÃO

  • "No ano de 2010 vamos continuar a fazer uma aposta muito, muito forte no digital". A garantia é de Paulo Fernandes, presidente do grupo Cofina, em declarações ao Jornal de Negócios. A aposta no digital poderá passar pela web TV corporizando uma antiga ambição do grupo: a televisão. "As tecnologias permitem hoje, através da Web TV e dos novos pacotes de difusão de informação, ter transmissão por internet com alta qualidade. Isso vai ser uma realidade a curto prazo".
Fonte: Meios e Publicidade

TEATRO ABERTO


Estreia no dia 19 de Dezembro, na Sala Vermelha do Teatro Aberto, a peça Hannah e Martin, de Kate Fodor, com encenação de João Lourenço.

Hannah Arendt (interpretada por Ana Padrão) e Martin Heidegger (representado por Rui Mendes) foram dois importantes filósofos do século XX. O texto reflecte a evolução da relação entre os dois, que se reencontram na Alemanha do Pós-Guerra quando Hannah escreve sobre os julgamentos de Nuremberga e Martin se encontra descredibilizado por se ter associado ao regime nazi (informação da companhia). Os outros actores da peça são Cátia Ribeiro, Cristóvão Campos, Diogo Mesquita, Francisco Pestana, Irene Cruz, Luís Alberto e Maria Ana Bernauer.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

TELEVISÃO NOS PAÍSES IBERO-AMERICANOS EM ANUÁRIO


Foi publicado recentemente o Anuário 2009 do Obitel (Observatório Ibero-Americano da Ficção Televisiva), A ficção televisiva em países ibero-americanos: narrativas, formatos e publicidade, com coordenação de Maria Immacolata Vassalo de Lopes e Guillermo Orozco Gómez, em edição da GloboUniversidade, e com dados respeitantes a 2008.

Objecto de análise constituem oito países, a saber: Argentina, Brasil, Chile, Espanha, Estados Unidos, México, Portugal e Uruguai. De entre os propósitos metodológicos, o Obitel faz a monitorização dos programas de ficção de estreia em sinal aberto, a geração de dados comparativos, a identificação de fluxos plurais e bilaterais de géneros e formatos e a análise de tendências nas narrativas e conteúdos temáticos, trabalho produzido por investigadores ligados a universidades dos países que constituem o observatório, correspondendo a 44 estações de televisão de sinal aberto, públicas e privadas.

O formato mais produzido nos países do Obitel foi a telenovela, com um total de 80 títulos (nomeadamente Argentina, Espanha, Estados Unidos e México), ficando a série a seguir, com 71 títulos (nomeadamente Argentina, Chile, México e Portugal). Portugal teve a maior redução de estreias de telenovelas. A produção de ficção televisiva nos oito países analisados pelo Obitel é formada por capítulos e episódios de média duração, entre 30 e 60 minutos. Quanto a produção de longa duração, a produção nos Estados Unidos passou de 37 em 2006 para 761 em 2008 (em língua castelhana e nas cadeias de televisão Univision, Telefutura, Telemundo, Azteca América). A Globo, editora do livro, é a que tem mais concentração de títulos em termos de índice de audiência: sete telenovelas, dois quadros e uma série.

O relatório de Portugal é assinado por Isabel Ferin (Universidade de Coimbra) e Catarina Burnay (Universidade Católica) e reflecte 2008 como ano em que a ficção portuguesa dominou em todos os canais de sinal aberto, com especial incidência para a TVI (Televisão Independente) e que sucede à anterior hegemonia da Rede Globo. Os títulos mais vistos em 2008 foram Feitiço de amor, Flor do mar, A outra, Olhos nos olhos e Deixa-me amar, todos exibidos na TVI. As autoras do relatório sobre Portugal destacam ainda a visibilidade dada a actores e humoristas nacionais em espectáculos de entretenimento, como a gala do 15º aniversário da TVI e a gala da ficção nacional, no mesmo canal. Ferin e Burnay evidenciam ainda dois temas: a publicidade na ficção televisiva (product placement a produtos de beleza, bebidas, roupas e acessórios) e o merchandising social (inserção de pessoas portadoras de deficiências e discriminação racial e sexual).

CALL FOR PAPERS - ISSEI CONFERENCE

Ankara - August 2-6, 2010

Maps of Dialogue - Spaces and Dimensions for the Integration of Regional Cultures

This workshop aims at discussing the emergence of regional identities and cultures - either in subnational or supranational scales - and the roles they assume in the dynamics involving global, national and local instances. Although not restricted to such focus, it particularly intends to examine the dimensions that favour the interaction of regional spheres: from ways or landscapes as convergence of diversity - routes to roots, the shortest distance between myriads of distinct traditions, a collective of regional identities - to vectors like media, science, language, literature, music, cinema, and many others. And finally, it also has the objective of reflecting on the real or imagined boundaries that shape regional cultures and identities in a world of increasing mobility of people and ideas.

Abstracts must be submitted to Fernando Kuhn (swocean@hotmail.com) until April 15, 2010.
(For other sessions, please visit the conference website - http://issei2010.haifa.ac.il/).

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

SOBRE LUCHINO VISCONTI


No filme O Leopardo (Il Gattopardo, 1963), de Luchino Visconti (1906-1976), há três sequências memoráveis: a reza do terço e os cortinados brancos das janelas e portas baloiçando, deixando adivinhar um fim de tarde muito quente, a mudança de casa de D. Fabricio (Burt Lencaster) para o interior da ilha (Sicília), quando se aproximam as tropas de Garibaldi (1860) contrárias ao poder dominante, com a recepção respeitosa da população rural ao aristocrata, e o longo baile, em que o sobrinho do aristocrata, Tancredi (Alain Delon), que deixara o grupo de Garibaldi e integrara o exército regular, dança com Angélica (Cláudia Cardinale), filha de um grande proprietário de terras na mesma ilha. As personagens principais são dois homens: o aristocrata e o sobrinho, ligado ao novo poder da burguesia, com aquele a conduzir o processo de transição por dentro, afirmando que tudo se altera sem se mudar nada, o que equivale a dizer que um poder rende outro poder sem grande esforço e perda. Há um terceiro homem, o padre, que funciona como voz de consciência do aristocrata, mas sem ter qualquer poder material. As mulheres funcionam noutro nível: a mulher de D. Fabricio, uma beata, mantém a unidade da família, Angélica representa, através da beleza da juventude, uma nova geração e um novo domínio. A segunda significa, se quiséssemos pôr nela as palavras de D. Fabricio, a mudança sem haver mudança.


Aristocrata, marxista e homossexual, apaixonado pela ópera e pelo teatro, Visconti faria outros filmes antes de O Leopardo, de que deixo aqui alguns apontamentos. O primeiro que quero falar é A Terra Treme (La Terra Trema, 1948). Os pescadores da aldeia de Aci Trezza, na Sicília, são o centro da história, na sua luta contra os grossistas, os compradores de peixe. António, filho de uma família de pescadores, quer melhores condições de trabalho e de salário e revolta-se, acabando por comprar um barco e distinguir-se economicamente do resto das famílias de pescadores. Quando este naufraga, a condição daquela família regride e António e os irmãos não encontram emprego. Filme encomendado pelo Partido Comunista Italiano, são visíveis os signos e os traços da ideologia marxista, desde a foice e o martelo impresso em paredes da aldeia, mal apagados por forças opostas, e a palavra Mussolini, quando ele aceita emprego mas humilhado pelos grossistas de peixe no escritório destes. Os dois irmãos mais velhos da família são figuras centrais, pois enquanto António procura sobreviver na ilha onde nasceu e a que pertenciam as gerações anteriores, o mais novo sai da ilha em busca de melhores condições. O filme não explica tudo, mas a leitura do filme Rocco e seus irmãos deixa perceber o que Visconti tinha em mente. O papel das mulheres é mais relevante que em O Leopardo e de igual importância em Rocco e seus irmãos: uma representa o fiel da balança, que prefere não casar para manter a aparência, a honra da família. A outra envereda pela prostituição, não podendo casar segundo os costumes, embora o traço principal seja a desagregação da família, o núcleo central nos três filmes aqui comentados.


Se, no filme A Terra Treme, a partida de alguém para o continente é vista com constrangimento, as imagens iniciais de Rocco e seus irmãos (Rocco i Suoi Fratelli, 1960), retoma a questão do filme de 1948: uma família grande, com a mãe em papel de destaque, chega à estação ferroviária de Milão. O pai morrera e a família deixava a Sicília em busca de melhor emprego e sustento. O irmão mais velho era suposto estar à espera deles, o que não aconteceu, tornado o primeiro choque para os recém-chegados. Estes encontram o rapaz em casa da namorada, numa festa. Se o contexto do anterior filme eram os pescadores, aqui são antigos trabalhadores rurais que se empregam no sector secundário (construção civil, indústria automóvel), a passagem do sector primário para o proletariado da grande cidade. A Milão de 1960 é uma cidade em que crescem os aglomerados urbanos e as fábricas, em que a produção e consumo de bens é evidente. Se a irmã de António se prostitui por um lenço ou um colar, a prostituta que anda com Rocco e o seu irmão mais velho tem outras pretensões materiais. A família mantém-se unida até que Simone, um dos irmãos mais velhos, abandona o boxe, uma actividade ligada às classes populares (e que vimos mais recentemente retratada no filme de Clint Eastwood, Million Dollar Baby, 2004), que lhe garantia um certo rendimento e a estabilidade emocional. A mãe (Katina Paxinou) é o centro da história, pelo que controla e pelo que motiva, mas perde força no clã com a queda do filho. É Rocco (Alain Delon), uma personagem mais apagada, que sobe lentamente à liderança do grupo familiar até ser o que persuade, remedeia, apazigua. A ligação com Nadia, uma prostituta (Annie Girardot), que vivera anteriormente com Simone, acaba por estragar a relação entre os irmãos e a família desagrega-se ainda mais.

Numa das sequências do filme, a mãe queixa-se que a família abandonara o dialecto siciliano, que se ouvia em todo o filme A Terra Treme. Mas, se neste, há um forte esquematismo ideológico (classe contra classe), em Rocco e Seus Irmãos e em O Leopardo há histórias mais bem construídas. Embora se mantenham esquemas: a família unida versus desunida, o que representa a força contra a fraqueza, a luta pela habitação, com o lado masculino da família a dormir comunitariamente num mesmo quarto, a força das mulheres, esteio da honra (no filme de 1948, há uma mulher fraca, dentro da família, no filme de 1960, a mulher fraca entra na família mas é rejeitada e assassinada quase no final), a decomposição e recomposição social (mais profunda e harmoniosa no filme de 1963), a Sicília como lugar presente (ou ausente presente no filme de 1960). O filme de 1963 é a cores, o filme de 1948 tem apontamentos de etnografia, de filme documentário. Os primeiros dois filmes aqui comentados mostram a família e as suas lutas a partir de dentro, o filme mais recente mostra a família e as suas relações com o exterior, onde se vê o poder e as diferentes classes sociais. A igreja na praça principal de Aci Trezza permanece sempre fechada e o padre que aparece na cerimónia da benção de novos barcos é velho e entra e sai de campo sem qualquer outra referência, no filme O Leopardo a igreja é um dos locais de protagonismo, mesmo que seja de conflito, como a sequência da invasão das tropas de Garibaldi e a morte de soldados opostos.

Visconti faria filmes igualmente importantes como Obsessão (Ossessione, 1943), Belíssima (Belissima, 1951), Senso (1954), Morte em Veneza (Morte a Venezia, 1971), Ludwig (1973) e Violência e Paixão (Gruppo di Famiglia in un Interno, 1974).

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

MEDIA LITERACY LEVELS IN EUROPE

The European Commission has just published the final report of a Study on Assessment Criteria for Media Literacy Levels - A comprehensive view of the concept of media literacy and an understanding of how media literacy level in Europe should be assessed (2009). The full report and annexes can be downloaded here.

EXPOSIÇÃO GRAPHIAS - DO PAPEL AO PIXEL


Graphias - do Papel ao Pixel é uma exposição que abre no próximo dia 17 na Marta Traba, em S. Paulo (Brasil), sendo Saulo Di Tarso o seu curador. Este "viajou pela América do Sul, Europa e África e constatou que a produção gráfica contemporânea dos países visitados têm mais afinidades do que discrepâncias em relação às manifestações da arte no Brasil. É a globalização da produção simbólica perpassada pelos media e vazada na mais alta tecnologia" (informação do sítio do Memorial).
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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

RELATÓRIO ESCOCÊS SOBRE INDÚSTRIAS CRIATIVAS

Creative Industries, Creative Workers and the Creative Economy: A Review of Selected Recent Literature é um relatório do governo da Escócia que passa em revista os temas das indústrias criativas a partir da literatura mais recente.

GUTA MOURA GUEDES COMISSARIA NÚCLEO DE PROGRAMAÇÃO DE LA GAITÉ

Guta Moura Guedes vai comissariar o primeiro núcleo de programação de La Gaité, o novo equipamento cultural de Paris.

Com abertura ao público marcada para Dezembro de 2010, La Gaité é o novo equipamento cultural de Paris dedicado à cultura contemporânea com especial foco nas áreas da criação digital e das novas tecnologias, cruzando música, vídeo, design, cinema, arquitectura e arte. A programação deste novo espaço parisiense dedicado à cultura, tranversal e dinâmico, inicia-se em 2011 com três grandes blocos temáticos, cada um deles com um comissariado especifico.

[informação da entidade promotora]

NATUREZA DA CRIATIVIDADE


Como escrevi aqui, organizado pelo Centro Nacional de Cultura e pela Universidade Católica Portuguesa (estudantes dos Mestrados em Estudos de Cultura e Ciências da Comunicação, variante de Gestão Cultural), dentro das actividades do Ano Europeu da Criatividade e Inovação (AECI), foi desenvolvido o projecto Metamorfoses da Criatividade. São três conferências, duas já realizadas (Os Novos Híbridos – De Ovídio ao Vídeo; A Arte Comunicante).

A terceira e última sessão, a 14 de Janeiro de 2010, para além da conferência A Natureza da Criatividade, vai ter a instalação de Patrícia Portela, audio menus. Esta consiste "numa série de peças radiofónicas para ouvir com auscultadores. São histórias para a auto-estima, histórias contra o patrão, cartas de amor exclusivas, uma novela de «faca e alguidar», um conto erótico, a descrição de uma paisagem impressionista, histórias para dois, histórias a três com direito a momentos de grande acção, paixão ou traição" (informação da organização).

FILME DE MIGUEL GOMES SEGUIDO DE CONVERSA

Organizado pela Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, decorre o ciclo de cinema O Filme sobre o Filme. Inserido nesse ciclo, será exibido o filme Aquele Querido Mês de Agosto, seguido de conversa com o realizador Miguel Gomes e o crítico de cinema Luís Miguel Oliveira, no dia 16 de Dezembro (Auditório 3, Torre B, 5º piso) daquela faculdade.

IMAGEM DO EURO 2012

Hoje e em Kiev, foi apresentada a imagem do Euro 2012 (Polónia e Ucrânia), ganha pela agência portuguesa Brandia Central.

PRODUÇÃO CINEMATOGRÁFICA EM SEMINÁRIO

Organizado pelo CIAC - Centro de Investigação da Universidade do Algarve, vai decorrer no próximo dia 17 um seminário sobre a jovem produção cinematográfica europeia, independente e vanguardista, mas envolvida social e culturalmente que caracteriza o colectivo de produção cinematográfica KULTUROPA. O evento conta com a presença da realizadora Mia Degner, que apresentará algumas das suas obras mais recentes.

domingo, 13 de dezembro de 2009

INDÚSTRIAS CRIATIVAS

Slideshow de Gerd Leonhard sobre Creative Industries in the Digital Economy, conferência que deu em Bruxelas a 1 de Dezembro último.

ALICE VIEIRA


Sessão de homenagem a Alice Vieira no dia 16 de Dezembro pelas 17:00 no Jardim de Inverno do Teatro S. Luiz (Lisboa).

Alice Vieira nasceu em 1943 em Lisboa e é licenciada em Germânicas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Em 1958, iniciou colaboração no suplemento "Juvenil" do Diário de Lisboa; em 1969, passou a dedicar-se ao jornalismo profissional. Desde 1979, tem vindo a publicar regularmente livros. Tem programado para 2010 um curso de escrita criativa.

sábado, 12 de dezembro de 2009

APPEL À ARTICLES SOCIOLOGIE DE L'IMAGE, SOCIOLOGIE PAR L'IMAGE

Ce CinémAction, ouvrage collectif, dirigé par Réjane Vallée, se propose de questionner la façon dont la sociologie aujourd’hui s’intéresse à l’image, de l’objet à analyser, à l’objet-analyse de la sociologie visuelle. Les textes exploreront en particulier les deux axes éponymes : la sociologie de l’image, la sociologie par l’image. Comment le sociologue analyse-t-il les images? Quelle sociologie des images, dans ce qui peut participer à la fois d’une sociologie des oeuvres, mais aussi d’une sociologie des industries culturelles?


Date limite de remise des propositions (1500 signes) : 15 janvier 2010 par mail : rejane.vallee@univ-evry.fr. Date de retour des propositions retenues : 1er février 2010. Date limite de remise des textes (15 000 à 18 000 signes) : 30 juin 2010.

SESSENTA ANOS DE TELEJORNAL EM FRANÇA

Foi ontem que, em mais um encontro Ina - Sorbonne (rue de la Sorbonne, 17, Paris Vème), se falou dos Soixante ans du journal télévisé em França.

Fica aqui o conjunto dos temas abordados (e os seus autores):
Journal télévisé : le moment expérimental, table ronde, sous la présidence de Michèle Cotta, journaliste
Christian Delporte (Université Saint-Quentin en Yvelines ): Le JT de la chaîne unique, 1949-1964
Pierre Sorlin : Réflexion sur le caractère “national” ou non des JT européens.
Diffusion d’extraits de journaux télévisés européens
Isabelle Gaillard (Université Pierre Mendès France, Grenoble) : Le JT : un "moteur" dans la conquête commerciale.
Diffusion du journal télévisé de CBS de Walter Cronkite du 22 novembre 1963
Divina Frau-Meigs (Université Paris 3) : Walter Cronkite : l'idéal type de l'anchorman
La figure du présentateur et les fondamentaux du JT, table ronde sous la présidence d’ Hervé Brusini
Jérôme Bourdon (Université de Tel-Aviv) : Une histoire du JT de 1964 à l’ouverture au privé : le voyage d’études
Yves Le Bras directeur du département Etudes et ingénierie du pôle France 3
Grand Témoin : Philippe Gildas
Diffusion du premier JT de Joseph Pasteur avec le télé prompteur en octobre 1971
La grande messe : déviances et subversions : table ronde sous la présidence de Francis James
Katharina Niemeyer (Université de Genève) : Le dispositif du JT autour du 11 septembre 2001
Julie Sedel (Ehess) : Les logiques de production de l'information en banlieue
Claire Secail (Laboratoire Communication et Politique Cnrs) : l’essor du fait divers au JT
Entretien avec Philippe Gavi (Médias) : le JT pour rire
Diffusion d’extraits d’émissions prenant le JT pour cible
Le JT en devenir, table ronde sous la présidence de Pierre Haski, cofondateur et collaborateur du site Rue 89
Andreas Semprini ( Université Lumière Lyon 2 ) : L'information non stop : les racines socioculturelles d'un nouveau format médiatique
Norine Nabili ( ESJ Lille ) : Le Bondy blog, une autre formation ?
Vincent N’Guyen (journaliste) : Reportage et polyvalence
Grand témoin : Roger Gicquel, entretien avec Robert Ménard (Médias)
Discussion générale et conclusions par Francis James et Hervé Brusini

ARTE URBANA

"Sphiza, Fábio Santos, José Fictício, Smile, Rui Ventura, Van/ Klit (em co-autoria) e Skran são os autores dos trabalhos de arte urbana que agora dão cor ao topo da Calçada da Glória e ao Largo da Oliveirinha" (a partir da revista Time Out).

O blogueiro vai procurar mais informação.

FESTIVAL CINE CULTURA VIVA (BRASIL)

O I Festival Cine Cultura Viva incentiva a produção de curta-metragem de ficção e premeia oito categorias em mostra competitiva. Entre 16 e 20 de Dezembro, o Museu Nacional do Complexo Cultural da República (Brasília) vai ser palco do I Festival Cine Cultura Viva, mostra de curtas-metragens de ficção realizadas por cineastas que tenham produzidos os seus filmes desde 2007.



O objectivo do festival é valorizar e discutir a actividade da curta-metragem no mercado cinematográfico, integrar realizadores idos de vários estados brasileiros (Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, Paraíba, Rio Grande do Sul, Minas Gerais) e actualizar o público com debates e palestras por especialistas na área. Para a Mostra Competitiva, serão seleccionadas 20 curtas, ficções, de 5 a 26 minutos.

Mais informações: Canal Aberto.

ARTE PORTUGUESA NA CATALUNHA


O projecto LusoinCAT é um evento portu­guês baseado na exposição colectiva a ter lugar em Gracia Arts Project, no centro de Barcelona (Carrer Sant Honorat, 11), de 11 a 30 de Janeiro de 2010.

A comunidade portuguesa em Barcelona e toda a Catalunha está a crescer, fixando-se na região para estudar ou trabalhar. Muitos deles pertencentes à área criativa e artística.

O objectivo do evento é a divulgação de jovens artistas portu­gueses residentes na Catalunha, que vão dar a conhecer, através da expressão artística, a sua vivência, experiência e perspectiva de vida cultural e artística em Espanha. Cada um dá forma à arte segundo a sua área, como escultura, fotografia, pintura ou ilustração.

CATARINA BOTELHO


LISBOA - ROSSIO E PRAÇA DA FIGUEIRA COM CASTELO NO TOPO

INDÚSTRIAS CULTURAIS NA GALIZA

Uma notícia do jornal El Pais, do dia 2 deste mês, indica que a Axencia Galega das Industrias Culturais (Agadic) chegou a ter dívidas da ordem de € 2,6 milhões. O seu responsável, Juan Carlos Fernández Fasero, nomeado em Julho passado, estima que as contas fiquem saneadas durante o próximo ano. Houve uma redução de fundos destinados ao Centro Coreográfico Galego (34% face a 2008) e ao Centro Dramático Galego (15%). No total, as reduções representaram um milhão de euros, como consequência do plano de austeridade da Xunta (Governo Regional da Galiza).

Com as últimas eleições legislativas, o poder na Galiza passou do BNG (Bloque Nacionalista Galego) para o PP (Partido Popular), reflectindo-se na liderança da agência galega de indústrias culturais.

PRÉMIO PESSOA ATRIBUÍDO A D. MANUEL CLEMENTE

Promovido pelo jornal Expresso, e com o patrocínio da Caixa Geral de Depósitos, foi atribuído o Prémio Pessoa 2009 a D. Manuel Clemente, bispo do Porto, pela sua "postura humanística de defesa do diálogo e da tolerância", a sua voz no "combate à exlusão" e o seu empenho na "intervenção social da Igreja". O prémio, anunciado ontem e com o valor de € 60 mil, pretende "reconhecer a actividade de pessoas portuguesas com papel significativo na vida cultural e científica do país”, inspirando-se no nome do português com "maior irradiação cultural neste século, Fernando Pessoa".

D. Manuel Clemente,61 anos de idade, anterior bispo auxiliar de Lisboa, é bispo do Porto desde 2007. Licenciado em História e Teologia e doutorado em Teologia Histórica, é presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais. Para além da sua missão pastoral, desenvolve uma forte actividade cultural de estudo e debate público. É professor de História da Igreja na Universidade Católica Portuguesa (UCP) e director do Centro de Estudos de História Religiosa da UCP. Autor de obra historiográfica, destacam-se Portugal e os Portugueses e Um só propósito (ambas de 2009), Igreja e Sociedade Portuguesa, do Liberalismo à República e Nas Origens do Apostolado Contemporâneo em Portugal - A Sociedade Católica (1843-1853).

Já distinguidos pelo prémio contam-se o historiador José Mattoso (1987), a pianista Maria João Pires (1989), o escritor José Cardoso Pires (1997), os arquitectos Souto Moura (1998) e Carrilho da Graça (2008), o investigador Sobrinho Simões (2002) e o constitucionalista Gomes Canotilho (2003) [a partir de notícias do Expresso e do Público].

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

MONSTRA

Data final para apresentação de filmes na MONSTRA, Festival de Cinema Animado de Lisboa: 15 de Dezembro. O festival vai decorrer de 11 a 21 de Março de 2010.

Deadline: accepting entries until 15 December 2009 (post stamp). MONSTRA | Lisbon Animated Film Festival will take place between 11 to 21 March 2010.


quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

JORNALISTAS E AGÊNCIAS DE COMUNICAÇÃO - O ESTUDO DO CIDOT

A agência de comunicação Cidot apresentou recentemente um estudo intitulado Jornalistas e empresas. Pistas para uma relação necessária. Era o tema proposto para o programa do Clube de Jornalistas que ontem foi emitido pela RTP2, mas não se chegou a falar do estudo.

I. No estudo, a Cidot, uma das 144 agências de comunicação que contabilizei no anuário de Meios & Publicidade, propôs-se fazer a radiografia dos jornalistas portugueses, tendo entrevistado 238 jornalistas com os cargos de chefe de redacção e editores ligados a imprensa escrita (166 profissionais), rádio (24), televisão (22), agências de notícias (10), meios digitais (8) e correspondentes (8).

O trabalho agora apresentado pode ser comparado com o organizado por José Luís Garcia e publicado este ano com o título Estudos sobre os Jornalistas Portugueses. Metamorfoses e Encruzilhadas no Limiar do Século XXI. Aqui, a equipa de investigadores inquiriu 251 jornalistas num total de 4247 profissionais (II inquérito aos jornalistas portugueses, a partir de dados do Sindicato dos Jornalistas e da Comissão da Carteira Profissional dos Jornalistas, 1997). Apesar de não se dirigir ao universo de editores e chefes de redacção como no estudo do Cidot, em qualquer nível de jornalista há uma percepção igual no que diz respeito ao contacto com as fontes de informação, pelo que não há discrepâncias a ressaltar. No trabalho de Garcia a margem de erro é de 6%, no do Cidot a margem é de 5%.

Mas há diferenças. O trabalho do Cidot é mais institucional, pois não inclui freelancers, número não despiciendo (no estudo de Garcia, aproxima-se dos 6%; hoje, deve ter ultrapassado os 10%), o que pode distorcer os resultados. O estudo de Garcia aponta para 60% de jornalistas da imprensa escrita (dados de 1997), ao passo que o trabalho do Cidot indica 70% (além deste número, inclui agência, media digitais e correspondentes), pelo que pode haver variações de novo.

II. O estudo indica a importância do email, do telefone e do fax como canais privilegiados, a que se segue a conversa pessoal. Um trabalho recente de mestrado sobre a secção de agenda de um canal televisivo - porta por onde entra a informação - confirmou o email mas não o fax. No estudo do Cidot, mais à frente, há um grande relevo ao contacto pessoal (telefónico, ida ao local) (tabela 4 do estudo).

É elevado o volume de informação recebida por cada jornalista - 38 informações diárias em média. Este dado é pertinente por duas razões: 1) não há probabilidade de publicar toda a informação recebida, 2) um chefe de redacção pode receber mais informação que um jornalista generalista. O estudo parece querer destacar o que está a acontecer nos media electrónicos face aos media clássicos: naqueles, praticamente tudo é publicado, como um trabalho de mestrado sobre revistas de moda indica. Tal contraria a elevada percentagem de textos não publicados, segundo o estudo (80%). Há que fazer essa distinção. Jornais como o i e os canais de televisão podem estar a seguir tendências não previstas no estudo.

III. Há uma grande crítica aos comunicados de imprensa - e que foi um dos assuntos do programa do Clube de Jornalistas de ontem -, nomeadamente porque são muitos publicitários e porque não incluem informação suficiente. Estudos etnográficos concluem pela boa qualidade dos comunicados. Nomeadamente desde a década de 1980, as empresas e outras instituições dotaram-se de gabinetes de comunicação e de imagem ou têm consultores de comunicação, com antigos jornalistas como principais recrutados e que escrevem segundo padrões do jornalista. Conheço casos pessoais que vão nesse sentido.

Contudo, a crítica do estudo é muito útil, o que significa que há muito a fazer no território das agências de comunicação, caso da crítica da informação pouco rigorosa, o que me parece um elemento importante. A tabela 3 do estudo do Cidot (principais defeitos dos comunicados) realça que estes "não estão redigidos com mentalidade jornalística". É curiosa a expressão, o que pode constituir dois significados: 1) o jornalista está à espera dessa mentalidade para escrever de acordo, 2) o jornalista é um profissional com certa preguiça porque quer fazer "corta e cola". Do que mais valoriza, o jornalista realça a rapidez, não se sabe aqui se é a rapidez na resposta a questões colocadas pelo jornalista ou no anúncio de uma fonte de um acontecimento próprio.

A tabela 4 do estudo dá uma informação prestimosa: o jornalista acredita mais nos contactos pessoais e pouco nas páginas de internet das instituições, o que põe por terra as aspirações das instituições na informação online. Claro que há casos onde a página de internet é a principal fonte de informação. Estou a pensar na ERC, na FCT e noutros organismos públicos, caso da colocação de documentos na íntegra e abertura de concursos.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

LANÇADO LIVRO DO OBERCOM

Conforme escrevera, foi hoje lançado o livro coordenado por Gustavo Cardoso, Francisco Rui Cádima e Luís Landerset Cardoso, Media, redes e comunicação. Futuros presentes, em edição da Quimera. A apresentação do livro coube a Teresa Ribeiro, anterior directora do Instituto de Comunicação Social e do organismo que lhe sucedeu, o Gabinete de Meios de Comunicação Social.



O livro, comemorativo dos dez anos do Obercom (Observatório de Comunicação), conta com textos de João Caraça, Gustavo Cardoso, Rita Espanha, Sandro Mendonça, Augusto Santos Silva, Eduardo Cintra Torres, Francisco Rui Cádima, Manuel José Damásio, André Sendin, Luís Landerset Cardoso, Carla Ganito, João Aguiar Campos, António Fidalgo, Felisbela Lopes, Miguel Loureiro, João Paulo Meneses, Cristina Ponte, José Manuel Ribeiro, Nuno Cintra Torres, Francisco Costa Pereira, Jorge Veríssimo e Pedro Pereira Neto.