NOTÍCIAS DOS JORNAIS
Segundo a Associação Portuguesa para o Controlo das Tiragens (APCT), o jornal Correio da Manhã atingiu os 110 mil exemplares vendidos, consolidando o lugar cimeiro, enquanto o 24 Horas passou de 37 mil exemplares em 2002 para 47 mil em 2003. Já neste mês, as vendas destes matutinos ultrapassaram os seus máximos: o lançamento de uma enciclopédia no primeiro caso e de "notícias" (?) como a colocação de uma bomba na gare do Oriente despertaram o interesse dos leitores. É o tempo dos jornais populares ou de cariz tabloidizante. Para mim, a influência dos formatos leves e sensacionalistas de noticiários televisivos conduzem a este sucesso. Já Jornal de Notícias, Público e Diário de Notícias baixaram respectivamente para 102527, 54306 e 47131 exemplares.
NOTÍCIAS DA TELEVISÃO
Após muitos anos com estúdios e redacção na Av. 5 de Outubro, aqui perto do Campo Pequeno, a RTP passa-se para a Av. Marechal Gomes da Costa. As "más línguas" dizem que ela vai para a zona J de Chelas, o que é depreciativo para um edifício adequado. O certo é que se troca o conforto envolvente das avenidas novas, com restaurantes, lojas, centros comerciais e cafés por uma zona onde nada isso há. É a sina das televisões. A TVI, em Queluz, fica a meio de uma rua a pique e sem saída; a SIC, na Outorela, em Carnaxide, fica numa rua onde só passa o autocarro. Talvez seja por causa da produtividade.
Com alguns jornais, isso também aconteceu. O tempo dos jornais concentrados no Bairro Alto desapareceu. Por sorte, a redacção de Lisboa do Público está num sítio excelente, na rua Viriato, perto da cosmopolita Picoas e do Saldanha. E o Diário de Notícias mantém-se no cimo da Av. da Liberdade, junto ao Marquês. Aparentemente, desapareceu a ideia de se mudar para lá do aeroporto. No Porto, tirando o Jornal de Notícias, que domina do alto da rua Gonçalo Cristóvão, os quase desaparecidos Comércio do Porto e Primeiro de Janeiro há muito que deixaram os magnificentes edifícios da Av. dos Aliados (agora uma instalação bancária) e da Rua de Santa Catarina (edifício substituido pelo centro comercial Via Catarina).
Voltando à televisão pública. Agora que ela se vai instalando em Cabo Ruivo, fala-se de administrações. É que a presidida por Almerindo Marques é a da holding. Faltam as administrações das empresas de televisão e rádio da agora Rádio e Televisão de Portugal. Por certo, não faltarão candidatos, resolvido o passivo da televisão (que passou para a holding).
DIRECTOR DE PROGRAMAS DE TELEVISÃO PRECISA-SE
Recolhi, no caderno de emprego do El Pais de domingo passado, um anúncio curioso.
Uma produtora de televisão pedia director de programas de televisão para uma produtora. Requeria-se ampla experiência no meio televisivo e conhecimento no mercado audiovisual, com incorporação imediata no posto, em Lisboa. A remuneração prevista bruta seria de € 70 mil por ano. Respostas a pilardiazprod@hotmail ou pilardiaz@netcabo.pt.
Qual será a produtora?
Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
quarta-feira, 31 de março de 2004
terça-feira, 30 de março de 2004
DENIS MCQUAIL EM LISBOA
McQuail, conforme já escrevi aqui, está em Portugal, para promover o seu livro Teoria da Comunicação de Massas, editado o ano transacto pela Gulbenkian. Entretanto, cumpre um programa de conferências. Hoje, esteve na Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa, a convite do Centro Media e Democracia, sediado naquela escola.
Amanhã, McQuail desloca-se a Coimbra. Na quinta-feira, falará sobre "The power of mass communication in a global information society: the lessons of media theory", na Gulbenkian. A sua produção literária mais recente inclui o livro Media Accountability and Freedom of Publication, de 2003, e The Media in Europe: The Euromedia Handbook, de 2004, de que são editores, para além de McQuail, Mary Kelly e Gianpietro Mazzoleni (Editor). O capítulo sobre Portugal foi escrito por Manuel Pinto e Helena Sousa, dois professores da Universidade do Minho. Foi com base no primeiro destes livros que McQuail falou hoje de manhã para um auditório de especialistas e interessados.
O que disse McQuail
Referiu a importância da televisão e das notícias, elemento crucial para a formação da opinião pública. Colocou os noticiários dentro da indústria, isto é, da programação. Destacou, sincrónica e diacronicamente, os diferentes componentes das notícias: desde o jornalismo objectivo à interpretação e análise, do peso das entrevistas até à importância da vox populi. E referiu ainda a informação prática, a propaganda e o entretenimento.
Ora, os canais e as redes televisivas têm dado visibilidade às figuras políticas, no sentido de exercer influência sobre a opinião pública. Para McQuail, esta notoriedade é mais identificada a partir dos anos de 1990, com o aparecimento ou expansão dos canais comerciais. Contudo, estes enfrentam dificuldades acrescidas - caso da concorrência, problemas associados de publicidade e finanças. Aparecem alternativas em termos de fontes e notícias, como a internet. O que conduz a audiências mais fragmentadas. E, em simultâneo, ou por causa disso mesmo, há uma "popularização" dos conteúdos (tabloidização, entertainment e notícias leves). Mas, assegura McQuail, não existe uma percepção simples da evidência da perda da qualidade das notícias.
Um dos conceitos mais desenvolvidos pelo autor inglês, antigo professor da Universidade de Amsterdão, foi o de frame (ou framing) [quadro/enquadramento]. Ele questionou o papel do gatekeeper [tema que desenvolvi no meu weblog Teorias da Comunicação], dada a importância da selecção do que é escolhido como notícia. Assim, o enquadramento das notícias torna-se o principal paradigma para compreender os processos de decisão e para compreender o modo correcto ou tendencioso (bias) como são produzidas e emitidas as notícias. O frame não diz respeito a apenas a uma notícia em si mas também aos temas em discussão. Hoje, o frame [que aparece em McQuail muito próximo da agenda] é o terrorismo (e, em Portugal, acrescento eu, o caso da Casa Pia), com critérios específicos como a relevância e a actualidade. Ora, o frame muda de tempos em tempos.
McQuail, conforme já escrevi aqui, está em Portugal, para promover o seu livro Teoria da Comunicação de Massas, editado o ano transacto pela Gulbenkian. Entretanto, cumpre um programa de conferências. Hoje, esteve na Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa, a convite do Centro Media e Democracia, sediado naquela escola.
Amanhã, McQuail desloca-se a Coimbra. Na quinta-feira, falará sobre "The power of mass communication in a global information society: the lessons of media theory", na Gulbenkian. A sua produção literária mais recente inclui o livro Media Accountability and Freedom of Publication, de 2003, e The Media in Europe: The Euromedia Handbook, de 2004, de que são editores, para além de McQuail, Mary Kelly e Gianpietro Mazzoleni (Editor). O capítulo sobre Portugal foi escrito por Manuel Pinto e Helena Sousa, dois professores da Universidade do Minho. Foi com base no primeiro destes livros que McQuail falou hoje de manhã para um auditório de especialistas e interessados.
O que disse McQuail
Referiu a importância da televisão e das notícias, elemento crucial para a formação da opinião pública. Colocou os noticiários dentro da indústria, isto é, da programação. Destacou, sincrónica e diacronicamente, os diferentes componentes das notícias: desde o jornalismo objectivo à interpretação e análise, do peso das entrevistas até à importância da vox populi. E referiu ainda a informação prática, a propaganda e o entretenimento.
Ora, os canais e as redes televisivas têm dado visibilidade às figuras políticas, no sentido de exercer influência sobre a opinião pública. Para McQuail, esta notoriedade é mais identificada a partir dos anos de 1990, com o aparecimento ou expansão dos canais comerciais. Contudo, estes enfrentam dificuldades acrescidas - caso da concorrência, problemas associados de publicidade e finanças. Aparecem alternativas em termos de fontes e notícias, como a internet. O que conduz a audiências mais fragmentadas. E, em simultâneo, ou por causa disso mesmo, há uma "popularização" dos conteúdos (tabloidização, entertainment e notícias leves). Mas, assegura McQuail, não existe uma percepção simples da evidência da perda da qualidade das notícias.
Um dos conceitos mais desenvolvidos pelo autor inglês, antigo professor da Universidade de Amsterdão, foi o de frame (ou framing) [quadro/enquadramento]. Ele questionou o papel do gatekeeper [tema que desenvolvi no meu weblog Teorias da Comunicação], dada a importância da selecção do que é escolhido como notícia. Assim, o enquadramento das notícias torna-se o principal paradigma para compreender os processos de decisão e para compreender o modo correcto ou tendencioso (bias) como são produzidas e emitidas as notícias. O frame não diz respeito a apenas a uma notícia em si mas também aos temas em discussão. Hoje, o frame [que aparece em McQuail muito próximo da agenda] é o terrorismo (e, em Portugal, acrescento eu, o caso da Casa Pia), com critérios específicos como a relevância e a actualidade. Ora, o frame muda de tempos em tempos.
segunda-feira, 29 de março de 2004
DOS JORNAIS DE HOJE
Sondagem da Universidade Católica: "Dois terços dos portugueses pensam que a televisão tem demasiado poder" (Público).
Paulo Branco: "A situação é inquietante" (a propósito da nova lei das Artes Cinematográficas e do Audiovisual) (Diário de Notícias) - a ler com atenção.
Coluna da Provedora: "Três anos" (Diário de Notícias) - Estrela Serrano escreve o seu último texto como provedora do leitor. A minha sincera homenagem a ela.
Sondagem da Universidade Católica: "Dois terços dos portugueses pensam que a televisão tem demasiado poder" (Público).
Paulo Branco: "A situação é inquietante" (a propósito da nova lei das Artes Cinematográficas e do Audiovisual) (Diário de Notícias) - a ler com atenção.
Coluna da Provedora: "Três anos" (Diário de Notícias) - Estrela Serrano escreve o seu último texto como provedora do leitor. A minha sincera homenagem a ela.
DESCIDA NO NÚMERO DE ESPECTADORES DE CINEMA EM 2003
Segundo um comunicado do European Audiovisual Observatory, de 22 de Março último, houve uma baixa nas idas ao cinema na Europa comunitária da ordem dos 5%, em todos os cinco principais mercados (França, Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido). A maior queda verificou-se na Alemanha (9%), enquanto nos países a entrarem em Maio a Polónia registou uma queda de 14%. Mas a Lituânia e a Letónia tiveram mais espectadores de cinema.
Estima-se que nos 15 países da EU tenha havido 890,5 milhões de espectadores (não há um valor para Portugal, estimado sequer; espero que com a recente entrada em funcionamento da automatização das bilheteiras tal óbice desapareça). A França teve 174,2 milhões de espectadores, enquanto o Reino Unido teve 167,3 e a Alemanha 149 milhões. Dos filmes produzidos no espaço comunitário, o filme alemão Goodbye Lenin registou a venda de 6,4 milhões de bilhetes, tornando-se a película de maior sucesso o ano transacto. Por seu lado, as cinematografias espanhola e sueca também tiveram um ano relativamente bom.
Quais as razões para um decréscimo nas idas ao cinema? Com certeza, na minha interpretação, a crise económica e a expansão do cinema em casa.
O FIM DA ANIMAÇÃO TRADICIONAL
Tiro as ideias dos textos produzidos no suplemento Y, do Público, de 26 de Março. A propósito do filme de animação Kenai e Koda, uma das últimas oportunidades de ver um filme feito "à moda antiga" (texto de Sara Gomes) . O uso do computador deita fora o emprego de lápis, canetas, aguarelas e folhas de papel, que foram as matérias-primas de filmes como Branca de Neve, Pinóquio e Cinderela.
Diz o mesmo artigo de Sara Gomes que o argumento de Kenai e Koda (Brother Bear, no original) foi reescrito centenas de vezes, com os realizadores à procura, nas bibliotecas, de ideias a partir de histórias, lendas e mitos (imagem retirada do sítio da AllBestMovie.com). As primeiras versões do filme recuperariam elementos dramáticos da peça de Shakespeare, Rei Lear. O músico Phil Collins assina a banda sonora. Trata-se, pois, de uma história sobre amizade e tolerância, sobre um anti-herói, feita por dois realizadores - Aaron Blaise e Robert Walker -, animadores da Disney desde há 14 anos, incluindo Mulan (1998) e O rei leão (1995).
Da animação em papel à animação em computador
A apresentação do filme à imprensa europeia ocorreu em Janeiro último, com a presença dos dois realizadores. Que, obviamente, lamentaram o fim do desenho de animação tradicional. Nesse momento, fechava o estúdio de animação tradicional da Disney, conforme escrevi neste sítio, onde trabalhavam 280 desenhadores de animação. Muitos foram reintegrados noutras unidades da Disney, outros despedidos.
A razão era o avanço no cinema de animação por computador. A Pixar (que criou o sucesso do Natal chamado À procura de Nemo) e a Dreamcast (com Shrek, em 2001) já tinham enveredado, com muito sucesso, por essa via. E a Pixar anunciara já não continuar a parceria com a Disney, como eu também já escrevi aqui.
Há quem ache que o desenho tradicional vá voltar a brilhar, pois o "computador torna tudo mais artificial e faz com que as personagens sejam muito mecânicas" (realizadora Aaaron Blaise, ainda na peça noticiosa de Sara Gomes), mas também se reconhece que desaparece o "pesadelo da criação e coordenação das cores" com a sua codificação num computador. Ou seja, com a adesão da Disney à digitalização, toda a indústria cultural vai mudar o modo produtivo dos filmes animados. Até porque, também se diz, a computação gráfica abre um novo mundo de oportunidades para a ficção. E os realizadores de Kenai e Koda estão já a desenvolver competências no mundo dos computadores, após a necessária reciclagem de conhecimentos.
Segundo um comunicado do European Audiovisual Observatory, de 22 de Março último, houve uma baixa nas idas ao cinema na Europa comunitária da ordem dos 5%, em todos os cinco principais mercados (França, Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido). A maior queda verificou-se na Alemanha (9%), enquanto nos países a entrarem em Maio a Polónia registou uma queda de 14%. Mas a Lituânia e a Letónia tiveram mais espectadores de cinema.
Estima-se que nos 15 países da EU tenha havido 890,5 milhões de espectadores (não há um valor para Portugal, estimado sequer; espero que com a recente entrada em funcionamento da automatização das bilheteiras tal óbice desapareça). A França teve 174,2 milhões de espectadores, enquanto o Reino Unido teve 167,3 e a Alemanha 149 milhões. Dos filmes produzidos no espaço comunitário, o filme alemão Goodbye Lenin registou a venda de 6,4 milhões de bilhetes, tornando-se a película de maior sucesso o ano transacto. Por seu lado, as cinematografias espanhola e sueca também tiveram um ano relativamente bom.
Quais as razões para um decréscimo nas idas ao cinema? Com certeza, na minha interpretação, a crise económica e a expansão do cinema em casa.
O FIM DA ANIMAÇÃO TRADICIONAL
Tiro as ideias dos textos produzidos no suplemento Y, do Público, de 26 de Março. A propósito do filme de animação Kenai e Koda, uma das últimas oportunidades de ver um filme feito "à moda antiga" (texto de Sara Gomes) . O uso do computador deita fora o emprego de lápis, canetas, aguarelas e folhas de papel, que foram as matérias-primas de filmes como Branca de Neve, Pinóquio e Cinderela.
Diz o mesmo artigo de Sara Gomes que o argumento de Kenai e Koda (Brother Bear, no original) foi reescrito centenas de vezes, com os realizadores à procura, nas bibliotecas, de ideias a partir de histórias, lendas e mitos (imagem retirada do sítio da AllBestMovie.com). As primeiras versões do filme recuperariam elementos dramáticos da peça de Shakespeare, Rei Lear. O músico Phil Collins assina a banda sonora. Trata-se, pois, de uma história sobre amizade e tolerância, sobre um anti-herói, feita por dois realizadores - Aaron Blaise e Robert Walker -, animadores da Disney desde há 14 anos, incluindo Mulan (1998) e O rei leão (1995).
Da animação em papel à animação em computador
A apresentação do filme à imprensa europeia ocorreu em Janeiro último, com a presença dos dois realizadores. Que, obviamente, lamentaram o fim do desenho de animação tradicional. Nesse momento, fechava o estúdio de animação tradicional da Disney, conforme escrevi neste sítio, onde trabalhavam 280 desenhadores de animação. Muitos foram reintegrados noutras unidades da Disney, outros despedidos.
A razão era o avanço no cinema de animação por computador. A Pixar (que criou o sucesso do Natal chamado À procura de Nemo) e a Dreamcast (com Shrek, em 2001) já tinham enveredado, com muito sucesso, por essa via. E a Pixar anunciara já não continuar a parceria com a Disney, como eu também já escrevi aqui.
Há quem ache que o desenho tradicional vá voltar a brilhar, pois o "computador torna tudo mais artificial e faz com que as personagens sejam muito mecânicas" (realizadora Aaaron Blaise, ainda na peça noticiosa de Sara Gomes), mas também se reconhece que desaparece o "pesadelo da criação e coordenação das cores" com a sua codificação num computador. Ou seja, com a adesão da Disney à digitalização, toda a indústria cultural vai mudar o modo produtivo dos filmes animados. Até porque, também se diz, a computação gráfica abre um novo mundo de oportunidades para a ficção. E os realizadores de Kenai e Koda estão já a desenvolver competências no mundo dos computadores, após a necessária reciclagem de conhecimentos.
domingo, 28 de março de 2004
PARA QUE SERVE A BBC, PERGUNTA JOHN HUMPHRYS?
É este o título da última colaboração de John Humphrys para o Sunday Times, ele que escrevia há cinco anos regularmente a coluna, saída exactamente na edição de hoje daquele jornal inglês.
Segundo o sítio da BBC, Humphrys trabalha na BBC desde 1966, quando se tornou repórter sediado em Liverpool. Mais tarde, foi colocado em Londres, sendo chamado a cobrir a guerra entre a Índia e o Paquistão. Tornar-se-ia, aos 28 anos (nasceu em 1943), o primeiro correspondente de televisão a tempo inteiro nos Estados Unidos, cobrindo estórias como a revolução do Chile, o Watergate e a resignação do presidente Nixon. Apresentador do jornal das Nove e, desde Janeiro de 1987, apresentador do programa Today, da Radio 4, foi acusado em Março de 1995 de envenenar o "debate democrático". Contudo, o seu trabalho de mais de quarenta anos ao serviço da estação pública inglesa de rádio e televisão valeram-lhe muitos prémios, descrito como "um dos mais brilhantes jornalistas do país". Em Fevereiro de 2000 foi nomeado jornalista do ano e em 2003 recebeu o "Gold Sony Radio Award" (o equivalente, na rádio, aos óscares).
Mas, então, para que serve a BBC?
Entremos, pois, no artigo hoje publicado no Sunday Times. Humphrys tem como ponto de partida as demissões do presidente e do administrador executivo da BBC - como fruto das ondas de choque provocadas na sequência da morte de David Kelly, o cientista que foi a principal fonte do jornalista Andrew Gilligan, autor de peças noticiosas denunciando o tom "apimentado" das opiniões de Tony Blair sobre as armas de destruição maciça do Iraque. Considera Humphrys que uma empresa que perde duas cabeças de uma só vez está em profunda crise. Isto num momento em que se renegoceia a carta da BBC. A discussão desta é sempre um momento de grandes dificuldades. Porque se questiona sempre para que serve o serviço público e como pode ser regulado.
Ora, escreve Humphrys, vive-se uma época de profundas mudanças na indústria audiovisual. Trata-se do nascimento da idade do digital, com o governo a querer acabar com as ondas analógicas. Surge, contudo, uma outra questão tecnológica, chamada PVR (personal video recorder), aparelho inteligente que grava o perfil de consumo de cada utilizador. Pode cortar a publicidade, efectuando uma "limpeza" nos programas preferidos de cada membro da audiência. Isto é mau para os canais que vivem da publicidade, pondo em causa a sua existência. E será a salvação da BBC, entendia o anterior presidente da BBC, Greg Dyke, que não teve tempo de assistir a tal revolução, levado na onda da morte de Kelly.
Quase em estilo de testamento, e num tom triste, John Humphrys afirma que, em cinco anos da coluna do Times dominical, nunca escreveu sobre a sua casa, a BBC. Mas fá-lo na despedida da coluna. Em que pede, para a BBC, um presidente forte e independente de todos os partidos políticos. Pois, escreve ainda, é fundamental continuar a existir uma estação pública.
LUTAR CONTRA A PIRATARIA
O mesmo Sunday Times de hoje dá conta da luta contra a pirataria nos DVD. Companhias cinematográficas como a Universal e a 20th Century Fox acordaram com os principais distribuidores de DVD, como a Woolworths, a Blockbuster e a HMV, em formar um grupo contra a pirataria nos filmes, a "Industry for IP Awareness".
Coincidências: "O Senhor dos anéis - o regresso do rei", com Liv Tyler e Orlando Bloom, já se encontra pirateado, o que quer dizer que a guerra é muito forte (imagens retiradas do sítio The lord of the rings).
O REGRESSO DOS CONCURSOS NA TELEVISÃO ESPANHOLA
Vem no El Pais de hoje, com o título "A ressurreição de um género", em artigo de Isabel Gallo. Escreve a jornalista que o regresso em cheio dos concursos à televisão espanhola revela o diagnóstico da aposta no horário de maior audiência dos vários canais. São concursos de estratégia, de cultura geral ou de voos intelectuais mais elevados, conforme um relatório da Corporación Multimedia, a base da notícia. Um dos que voltou em força foi o "Um, dois, três". Considera-se que os concursos actualmente em antena são o regresso das formas brancas e de bom senso face a anteriores concursos de tons quase masoquistas.
A HISTÓRIA DA MARIE CLAIRE ESPANHOLA
Desde 1907, a Marie Claire está nas mãos da família Aznar (não sei se tem alguma coisa a ver com a família do ainda primeiro-ministro espanhol). Mas, em 1998, três sociedades de capital de risco compraram 67% da empresa (Dinamia, Espiga e Bridgepoint), que pertencia ao grupo britânico Hartstone. Cinco anos depois, e como conta o El Pais de hoje, os sócios desentendem-se e os gestores nomeados pela família Aznar são destituídos. Uma das razões, diz-se, é que se opuseram à concentração numa só firma das anteriores três empresas.
A Marie Claire tem crescido de forma sustentada, lê-se na notícia que estou a citar: de €67,5 milhões em 1998-1999 passou a €87,9 milhões em 2002-2003. 40% do negócio provém da venda de revistas, ocupando 18% de quota de mercado em Espanha. Mas a Marie Claire também se especializou na oferta de roupa (interior e de banho), que atinge já 35% da facturação. A mudança estratégica da direcção que tomou posse em 1998 aponta para uma maior presença internacional, com filiais na Holanda e no Reino Unido.
ONTEM FOI DIA MUNDIAL DO TEATRO
Aproveitei para ver "De regresso à Broadway, os grandes mestres do musical americano, 2003", no teatro de S. Luís. Com direcção de João Pereira Bastos, director da Antena 2, e tendo como solistas Wanda Stuart, Henrique Feist e Teresa Cardoso de Meneses, entre outros. Confesso que sou fã de Teresa Cardoso de Meneses, que editou já dois discos (Je veux vivre, 2000; Alleluia, 2002). O programa incluía músicas de George Gershwin, Leonard Bernstein, Cole Porter, Irving Berlin, Lloyd Webber e muitos mais.
O teatro não é uma indústria cultural, mas mais uma arte (artesanal, se se pode dizer assim). Mas a envolvência de gente da rádio e dos discos - além de ser uma data a comemorar - merece esta minha nota.
É este o título da última colaboração de John Humphrys para o Sunday Times, ele que escrevia há cinco anos regularmente a coluna, saída exactamente na edição de hoje daquele jornal inglês.
Segundo o sítio da BBC, Humphrys trabalha na BBC desde 1966, quando se tornou repórter sediado em Liverpool. Mais tarde, foi colocado em Londres, sendo chamado a cobrir a guerra entre a Índia e o Paquistão. Tornar-se-ia, aos 28 anos (nasceu em 1943), o primeiro correspondente de televisão a tempo inteiro nos Estados Unidos, cobrindo estórias como a revolução do Chile, o Watergate e a resignação do presidente Nixon. Apresentador do jornal das Nove e, desde Janeiro de 1987, apresentador do programa Today, da Radio 4, foi acusado em Março de 1995 de envenenar o "debate democrático". Contudo, o seu trabalho de mais de quarenta anos ao serviço da estação pública inglesa de rádio e televisão valeram-lhe muitos prémios, descrito como "um dos mais brilhantes jornalistas do país". Em Fevereiro de 2000 foi nomeado jornalista do ano e em 2003 recebeu o "Gold Sony Radio Award" (o equivalente, na rádio, aos óscares).
Mas, então, para que serve a BBC?
Entremos, pois, no artigo hoje publicado no Sunday Times. Humphrys tem como ponto de partida as demissões do presidente e do administrador executivo da BBC - como fruto das ondas de choque provocadas na sequência da morte de David Kelly, o cientista que foi a principal fonte do jornalista Andrew Gilligan, autor de peças noticiosas denunciando o tom "apimentado" das opiniões de Tony Blair sobre as armas de destruição maciça do Iraque. Considera Humphrys que uma empresa que perde duas cabeças de uma só vez está em profunda crise. Isto num momento em que se renegoceia a carta da BBC. A discussão desta é sempre um momento de grandes dificuldades. Porque se questiona sempre para que serve o serviço público e como pode ser regulado.
Ora, escreve Humphrys, vive-se uma época de profundas mudanças na indústria audiovisual. Trata-se do nascimento da idade do digital, com o governo a querer acabar com as ondas analógicas. Surge, contudo, uma outra questão tecnológica, chamada PVR (personal video recorder), aparelho inteligente que grava o perfil de consumo de cada utilizador. Pode cortar a publicidade, efectuando uma "limpeza" nos programas preferidos de cada membro da audiência. Isto é mau para os canais que vivem da publicidade, pondo em causa a sua existência. E será a salvação da BBC, entendia o anterior presidente da BBC, Greg Dyke, que não teve tempo de assistir a tal revolução, levado na onda da morte de Kelly.
Quase em estilo de testamento, e num tom triste, John Humphrys afirma que, em cinco anos da coluna do Times dominical, nunca escreveu sobre a sua casa, a BBC. Mas fá-lo na despedida da coluna. Em que pede, para a BBC, um presidente forte e independente de todos os partidos políticos. Pois, escreve ainda, é fundamental continuar a existir uma estação pública.
LUTAR CONTRA A PIRATARIA
O mesmo Sunday Times de hoje dá conta da luta contra a pirataria nos DVD. Companhias cinematográficas como a Universal e a 20th Century Fox acordaram com os principais distribuidores de DVD, como a Woolworths, a Blockbuster e a HMV, em formar um grupo contra a pirataria nos filmes, a "Industry for IP Awareness".
Coincidências: "O Senhor dos anéis - o regresso do rei", com Liv Tyler e Orlando Bloom, já se encontra pirateado, o que quer dizer que a guerra é muito forte (imagens retiradas do sítio The lord of the rings).
O REGRESSO DOS CONCURSOS NA TELEVISÃO ESPANHOLA
Vem no El Pais de hoje, com o título "A ressurreição de um género", em artigo de Isabel Gallo. Escreve a jornalista que o regresso em cheio dos concursos à televisão espanhola revela o diagnóstico da aposta no horário de maior audiência dos vários canais. São concursos de estratégia, de cultura geral ou de voos intelectuais mais elevados, conforme um relatório da Corporación Multimedia, a base da notícia. Um dos que voltou em força foi o "Um, dois, três". Considera-se que os concursos actualmente em antena são o regresso das formas brancas e de bom senso face a anteriores concursos de tons quase masoquistas.
A HISTÓRIA DA MARIE CLAIRE ESPANHOLA
Desde 1907, a Marie Claire está nas mãos da família Aznar (não sei se tem alguma coisa a ver com a família do ainda primeiro-ministro espanhol). Mas, em 1998, três sociedades de capital de risco compraram 67% da empresa (Dinamia, Espiga e Bridgepoint), que pertencia ao grupo britânico Hartstone. Cinco anos depois, e como conta o El Pais de hoje, os sócios desentendem-se e os gestores nomeados pela família Aznar são destituídos. Uma das razões, diz-se, é que se opuseram à concentração numa só firma das anteriores três empresas.
A Marie Claire tem crescido de forma sustentada, lê-se na notícia que estou a citar: de €67,5 milhões em 1998-1999 passou a €87,9 milhões em 2002-2003. 40% do negócio provém da venda de revistas, ocupando 18% de quota de mercado em Espanha. Mas a Marie Claire também se especializou na oferta de roupa (interior e de banho), que atinge já 35% da facturação. A mudança estratégica da direcção que tomou posse em 1998 aponta para uma maior presença internacional, com filiais na Holanda e no Reino Unido.
ONTEM FOI DIA MUNDIAL DO TEATRO
Aproveitei para ver "De regresso à Broadway, os grandes mestres do musical americano, 2003", no teatro de S. Luís. Com direcção de João Pereira Bastos, director da Antena 2, e tendo como solistas Wanda Stuart, Henrique Feist e Teresa Cardoso de Meneses, entre outros. Confesso que sou fã de Teresa Cardoso de Meneses, que editou já dois discos (Je veux vivre, 2000; Alleluia, 2002). O programa incluía músicas de George Gershwin, Leonard Bernstein, Cole Porter, Irving Berlin, Lloyd Webber e muitos mais.
O teatro não é uma indústria cultural, mas mais uma arte (artesanal, se se pode dizer assim). Mas a envolvência de gente da rádio e dos discos - além de ser uma data a comemorar - merece esta minha nota.
sábado, 27 de março de 2004
MEDIA CAPITAL
Na sua coluna semanal do Expresso, Nicolau Santos escreve sobre a venda no mercado, através de OPV, das acções da Media Capital. A venda não chegou a metade das acções colocadas, o que se traduz num fracasso. Mas, assegura o jornalista e também director-adjunto do semanário, já há movimentações para o controlo da empresa.
CINEMA - OS FILMES MAIS VISTOS NA SEMANA DE 11 A 17 DE MARÇO
Segundo o sítio do ICAM, os três filmes mais vistos naquela semana foram:
1) A paixão de Cristo, de Mel Gibson, com 84501 espectadores, em 22 ecrãs,
2) Alguém tem de ceder, de Nancy Meyers, com 36568 espectadores, em 38 ecrãs,
3) Torque - a lei do mais rápido, de Joseph Kahn, com 21418 espectadores, em 23 ecrãs.
Ainda segundo o ICAM, estrear-se-ão, em Abril e nos cinemas nacionais, seis filmes portugueses: «Lá Fora», de Fernando Lopes, «Tudo Isto é Fado», de Luís Galvão Teles, «Daqui p’rá Alegria», de Jeanne Waltz, «25 de Abril - Uma Aventura para a Democracia», «És a Nossa Fé», de Edgar Pêra, e «Maria e as Outras», de Jorge de Sá Caetano.
DENIS MCQUAIL EM PORTUGAL
O autor de Teoria da comunicação de massas, editado o ano passado pela Gulbenkian, estará na próxima semana em Portugal. Proferirá, nomeadamente, uma conferência na Universidade de Coimbra.
Na sua coluna semanal do Expresso, Nicolau Santos escreve sobre a venda no mercado, através de OPV, das acções da Media Capital. A venda não chegou a metade das acções colocadas, o que se traduz num fracasso. Mas, assegura o jornalista e também director-adjunto do semanário, já há movimentações para o controlo da empresa.
CINEMA - OS FILMES MAIS VISTOS NA SEMANA DE 11 A 17 DE MARÇO
Segundo o sítio do ICAM, os três filmes mais vistos naquela semana foram:
1) A paixão de Cristo, de Mel Gibson, com 84501 espectadores, em 22 ecrãs,
2) Alguém tem de ceder, de Nancy Meyers, com 36568 espectadores, em 38 ecrãs,
3) Torque - a lei do mais rápido, de Joseph Kahn, com 21418 espectadores, em 23 ecrãs.
Ainda segundo o ICAM, estrear-se-ão, em Abril e nos cinemas nacionais, seis filmes portugueses: «Lá Fora», de Fernando Lopes, «Tudo Isto é Fado», de Luís Galvão Teles, «Daqui p’rá Alegria», de Jeanne Waltz, «25 de Abril - Uma Aventura para a Democracia», «És a Nossa Fé», de Edgar Pêra, e «Maria e as Outras», de Jorge de Sá Caetano.
DENIS MCQUAIL EM PORTUGAL
O autor de Teoria da comunicação de massas, editado o ano passado pela Gulbenkian, estará na próxima semana em Portugal. Proferirá, nomeadamente, uma conferência na Universidade de Coimbra.
sexta-feira, 26 de março de 2004
IMAGENS DA IMIGRAÇÃO NA IMPRENSA E NA TELEVISÃO PORTUGUESA
Foi ontem apresentado um estudo com o título acima indicado, uma encomenda do Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME) e do Observatório da Imigração ao Instituto de Estudos Jornalísticos da Universidade de Coimbra. A equipa que fez o trabalho é liderada pela Profª Isabel Ferin e conta ainda com as investigadoras Profª Maria João Silveirinha e drªs Ana Teresa Peixinho e Clara Almeida Santos.
O que nos diz o trabalho Imagens da imigração na imprensa e na televisão portuguesa? Primeiro, o âmbito do trabalho: trata-se de um projecto de análise de conteúdo e de análise crítica do discurso sobre 1538 peças de imprensa em três diários de referência, dois semanários e três jornais populares, e 224 peças televisivas dos noticiários de prime-time nos quatro canais de sinal aberto, recolhidas ao longo do ano de 2003 (a televisão abrangeu apenas o período de Abril a Dezembro). Além disso, a realçar a constituição das variáveis, que as autoras dividiram (na análise de conteúdo) em três grupos: forma, conteúdo e discurso. Além disso ainda, registo o recurso a ferramentas informáticas: o programa usado foi o MAXQDA da Sage.
Depois, algumas ideias que se mostram no texto: o destaque de saliências temáticas, que configuram interacções com as agendas pública, política e mediática, a contextualização do fenómeno imigração e os temas associados (crime, desemprego, profissões não qualificadas, reagrupamento familiar), a imagem de Nós contra Eles (os que vêm de fora, os imigrantes).
Algumas linhas do estudo
Destaco algumas comparações dos resultados obtidos na análise de conteúdo à imprensa e à televisão: 1) o agendamento (ou o máximo de notícias) não é coincidente nos dois media; 2) enquanto o trabalho ocupa o tema principal nas notícias de imprensa, o crime e a prostituição desempenham os lugares primeiros nas peças televisivas; 3) a maioria das peças são breves na imprensa e não ultrapassam 2' 45" na televisão; 4) em termos de situação jurídica do imigrante, imprensa e televisão destacam o tema de "indocumentados e ilegais", seguindo-se a questão de "residência permanente"; 5) o local de acção das peças, em termos da sua maior percentagem, aponta para "Portugal" na imprensa enquanto aponta "Grande Lisboa" nas televisões (a minha interpretação vai no sentido de, na imprensa, se incluir o Jornal de Notícias, do Porto, ao passo que os canais generalistas se situam na Grande Lisboa); 6) o género maioritário retratado nas notícias é o masculino (37,9%) ao passo que o feminino anda perto (36,8%); 7) quanto a fontes, nota-se uma grande diferença entre os dos media - a imprensa procura informação junto das autoridades e a televisão mostra rostos (vox populi); 8) o tom das peças sobre imigrantes é neutro na imprensa e negativo na televisão; 9) a argumentação dominante nos jornais é de ordem social e securitária, ao passo que a televisão trata essencialmente da questão da segurança.
Novas tendências
Foi Isabel Ferin que ilustrou as novas tendências na representação social dos media sobre o fenómeno da imigração, ela que tem já vários estudos dedicados ao assunto (recordo textos publicados nas revistas Observatório e Media & Jornalismo). Assim, ela e a sua equipa consideram que os media estabelecem: 1) reconhecimento da cidadania das segundas gerações (em especial as de origem africana); 2) referências significativas a novas comunidades, como a chinesa, a do norte de África, indiana e paquistanesa; 3) abordagem do terrorismo (dada a actual agenda internacional); 4) referência crescente à integração; 5) crescente acesso de especialistas ao espaço público. Na opinião da professora de Coimbra, estas notas de conclusão são boas notícias. Isto é, embora os media não se substituam à realidade, dada a sua natureza da construção social da realidade, há nos media (em especial a imprensa) a noção de uma "boa" representação dos media. Assim, a tolerância, a aceitação da diferença do Outro que vem trabalhar e viver para o nosso país, significa um bom acolhimento e um passo para a sua integração.
O trabalho de observação dos media quanto à imigração e minorias étnicas, de Isabel Ferin e colegas, vai prolongar-se por este ano, pelo menos.
RÁDIO
Nos últimos três dias, o blog Jornal Rádio tem feito referência à venda da rádio de S. Mamede, de Portalegre, por menos de €250 mil. A S. Mamede é, segundo o blog, "constituída pelas seguintes estações: 88.9 Portalegre que emite a Rádio S. Mamede, 106.2 Alter do Chão que emite a Rádio Álamo do Alter, 90.1 Fronteira que emite a Rádio Nobre Fronteira e 98.5 Gavião que emite a Rádio Gavião. Todas estas frequências fazem parte do distrito de Portalegre e são bem sintonizáveis nesta cidade". O blog admite a possibilidade de vários grupos estarem interessados na aquisição da rádio de S. Mamede e associadas, como a Renascença (para ampliar a Mega FM), a TSF (interessada numa rádio de cobertura nacional), a Media Capital (para retransmitir a Cidade FM) e a igreja IURD.
O mercado de rádio, como outro qualquer, é livre; logo, compras e vendas podem fazer-se sem quaisquer entraves. Contudo, neste caso, os proprietários da S. Mamede e associadas compraram as licenças para fazerem rádios locais. O caminho que parece estar a ser seguido é o do desaparecimento dessa possibilidade, tornando-se este importante meio de comunicação uma mera retransmissão de rádios nacionais irradiando a partir de Lisboa. O que retira a especificidade local, para a qual a lei da rádio foi feita.
Foi ontem apresentado um estudo com o título acima indicado, uma encomenda do Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME) e do Observatório da Imigração ao Instituto de Estudos Jornalísticos da Universidade de Coimbra. A equipa que fez o trabalho é liderada pela Profª Isabel Ferin e conta ainda com as investigadoras Profª Maria João Silveirinha e drªs Ana Teresa Peixinho e Clara Almeida Santos.
O que nos diz o trabalho Imagens da imigração na imprensa e na televisão portuguesa? Primeiro, o âmbito do trabalho: trata-se de um projecto de análise de conteúdo e de análise crítica do discurso sobre 1538 peças de imprensa em três diários de referência, dois semanários e três jornais populares, e 224 peças televisivas dos noticiários de prime-time nos quatro canais de sinal aberto, recolhidas ao longo do ano de 2003 (a televisão abrangeu apenas o período de Abril a Dezembro). Além disso, a realçar a constituição das variáveis, que as autoras dividiram (na análise de conteúdo) em três grupos: forma, conteúdo e discurso. Além disso ainda, registo o recurso a ferramentas informáticas: o programa usado foi o MAXQDA da Sage.
Depois, algumas ideias que se mostram no texto: o destaque de saliências temáticas, que configuram interacções com as agendas pública, política e mediática, a contextualização do fenómeno imigração e os temas associados (crime, desemprego, profissões não qualificadas, reagrupamento familiar), a imagem de Nós contra Eles (os que vêm de fora, os imigrantes).
Algumas linhas do estudo
Destaco algumas comparações dos resultados obtidos na análise de conteúdo à imprensa e à televisão: 1) o agendamento (ou o máximo de notícias) não é coincidente nos dois media; 2) enquanto o trabalho ocupa o tema principal nas notícias de imprensa, o crime e a prostituição desempenham os lugares primeiros nas peças televisivas; 3) a maioria das peças são breves na imprensa e não ultrapassam 2' 45" na televisão; 4) em termos de situação jurídica do imigrante, imprensa e televisão destacam o tema de "indocumentados e ilegais", seguindo-se a questão de "residência permanente"; 5) o local de acção das peças, em termos da sua maior percentagem, aponta para "Portugal" na imprensa enquanto aponta "Grande Lisboa" nas televisões (a minha interpretação vai no sentido de, na imprensa, se incluir o Jornal de Notícias, do Porto, ao passo que os canais generalistas se situam na Grande Lisboa); 6) o género maioritário retratado nas notícias é o masculino (37,9%) ao passo que o feminino anda perto (36,8%); 7) quanto a fontes, nota-se uma grande diferença entre os dos media - a imprensa procura informação junto das autoridades e a televisão mostra rostos (vox populi); 8) o tom das peças sobre imigrantes é neutro na imprensa e negativo na televisão; 9) a argumentação dominante nos jornais é de ordem social e securitária, ao passo que a televisão trata essencialmente da questão da segurança.
Novas tendências
Foi Isabel Ferin que ilustrou as novas tendências na representação social dos media sobre o fenómeno da imigração, ela que tem já vários estudos dedicados ao assunto (recordo textos publicados nas revistas Observatório e Media & Jornalismo). Assim, ela e a sua equipa consideram que os media estabelecem: 1) reconhecimento da cidadania das segundas gerações (em especial as de origem africana); 2) referências significativas a novas comunidades, como a chinesa, a do norte de África, indiana e paquistanesa; 3) abordagem do terrorismo (dada a actual agenda internacional); 4) referência crescente à integração; 5) crescente acesso de especialistas ao espaço público. Na opinião da professora de Coimbra, estas notas de conclusão são boas notícias. Isto é, embora os media não se substituam à realidade, dada a sua natureza da construção social da realidade, há nos media (em especial a imprensa) a noção de uma "boa" representação dos media. Assim, a tolerância, a aceitação da diferença do Outro que vem trabalhar e viver para o nosso país, significa um bom acolhimento e um passo para a sua integração.
O trabalho de observação dos media quanto à imigração e minorias étnicas, de Isabel Ferin e colegas, vai prolongar-se por este ano, pelo menos.
RÁDIO
Nos últimos três dias, o blog Jornal Rádio tem feito referência à venda da rádio de S. Mamede, de Portalegre, por menos de €250 mil. A S. Mamede é, segundo o blog, "constituída pelas seguintes estações: 88.9 Portalegre que emite a Rádio S. Mamede, 106.2 Alter do Chão que emite a Rádio Álamo do Alter, 90.1 Fronteira que emite a Rádio Nobre Fronteira e 98.5 Gavião que emite a Rádio Gavião. Todas estas frequências fazem parte do distrito de Portalegre e são bem sintonizáveis nesta cidade". O blog admite a possibilidade de vários grupos estarem interessados na aquisição da rádio de S. Mamede e associadas, como a Renascença (para ampliar a Mega FM), a TSF (interessada numa rádio de cobertura nacional), a Media Capital (para retransmitir a Cidade FM) e a igreja IURD.
O mercado de rádio, como outro qualquer, é livre; logo, compras e vendas podem fazer-se sem quaisquer entraves. Contudo, neste caso, os proprietários da S. Mamede e associadas compraram as licenças para fazerem rádios locais. O caminho que parece estar a ser seguido é o do desaparecimento dessa possibilidade, tornando-se este importante meio de comunicação uma mera retransmissão de rádios nacionais irradiando a partir de Lisboa. O que retira a especificidade local, para a qual a lei da rádio foi feita.
quinta-feira, 25 de março de 2004
AUDIÊNCIAS E SHARES
De acordo com os dados divulgados pela newsletter da Marktest (24 de Março), a TVI voltou a liderar os shares em televisão. Assim, em Fevereiro, a TVI teve 29,7%, a SIC 29,3% e a RTP1 25,4%. As mulheres e a classe média C1 foram as que mais viram a TVI e as mulheres e a classe C2 (média baixa) a SIC (dados da Marktest Audimetria/Audiopanel).
Segundo o Diário Económico de hoje, o futebol garantiu à RTP1 que fosse a televisão mais vista na passada 3ª fª. O desafio Porto-Lyon fez uma audiência média (rating) de 23,2% e um share de 31,6%.
Para o Jornal de Negócios de hoje, o investimento publicitário subiu em Fevereiro na ordem de 11%, a preços de tabela. O volume de negócios foi de €134,3 milhões para os canais de televisão (a TVI à frente), de €43 milhões para a imprensa, €13,7 simultaneamente para os outdoors e para a rádio (Renascença à frente). A Vodafone é o principal anunciante, seguindo-se a Danone e a Procter & Gamble.
De acordo com os dados divulgados pela newsletter da Marktest (24 de Março), a TVI voltou a liderar os shares em televisão. Assim, em Fevereiro, a TVI teve 29,7%, a SIC 29,3% e a RTP1 25,4%. As mulheres e a classe média C1 foram as que mais viram a TVI e as mulheres e a classe C2 (média baixa) a SIC (dados da Marktest Audimetria/Audiopanel).
Segundo o Diário Económico de hoje, o futebol garantiu à RTP1 que fosse a televisão mais vista na passada 3ª fª. O desafio Porto-Lyon fez uma audiência média (rating) de 23,2% e um share de 31,6%.
Para o Jornal de Negócios de hoje, o investimento publicitário subiu em Fevereiro na ordem de 11%, a preços de tabela. O volume de negócios foi de €134,3 milhões para os canais de televisão (a TVI à frente), de €43 milhões para a imprensa, €13,7 simultaneamente para os outdoors e para a rádio (Renascença à frente). A Vodafone é o principal anunciante, seguindo-se a Danone e a Procter & Gamble.
quarta-feira, 24 de março de 2004
MAIS UMA DEMISSÃO NA BBC
Por causa dos cortes orçamentais, demitiu-se Rosamund Kidman Cox. Ela era a editora de Wildlife, programa muito premiado que pertence à BBC. Ambientalistas, escritores e cineastas acusam a BBC de pôr os lucros à frente da qualidade editorial. A direcção da empresa pretendia reduzir os custos, entregando a produção a uma empresa externa. Rosamund Cox ganhou reputação ao produzir títulos como Cross Stitch Crazy e Your Hair na empresa interna da BBC Origin Publishing. Ler mais no jornal Independent.
Por causa dos cortes orçamentais, demitiu-se Rosamund Kidman Cox. Ela era a editora de Wildlife, programa muito premiado que pertence à BBC. Ambientalistas, escritores e cineastas acusam a BBC de pôr os lucros à frente da qualidade editorial. A direcção da empresa pretendia reduzir os custos, entregando a produção a uma empresa externa. Rosamund Cox ganhou reputação ao produzir títulos como Cross Stitch Crazy e Your Hair na empresa interna da BBC Origin Publishing. Ler mais no jornal Independent.
SOBRE OS WEBLOGS – IV
Recentemente, foi publicado um livro sobre blogs, de autoria de Elisabete Barbosa e António Granado, com o título Weblogs. Diário de bordo, editado pela Porto Editora, na sua nova colecção de Comunicação.
Ora, o que diz o livro? Fala dos blogs (ou weblogs) como "páginas pessoais actualizadas com muita frequência". Para os autores, o weblog combina as principais características da internet: "São utilizados para comunicar, como o correio electrónico; permitem discutir e analisar assuntos, à semelhança dos foruns de discussão; possibilitam o contacto entre pessoas distantes que partilham ideias e objectivos comuns, como os chats; e são facilmente acedidos através da World Wide Web".
Nascidos em 1997, então compostos essencialmente por comentários e ligações a outras páginas, escritos individualmente, a tendência é para se assumirem como projectos colectivos. Os blogs podem ser diários, analíticos ou informativos. Os diários "são os verdadeiros logs da web", escrevem os dois autores do livro que venho seguindo. Os leitores deste tipo de página são amigos e conhecidos do autor. Os blogs analíticos "são compostos por pequenos ensaios versando diferentes temas e acontecimentos". Já os blogs de informação são "mantidos por autores que percorrem os milhares de páginas da internet em busca de informação, que depois disponibilizam aos seus leitores".
Este modelo tripartido parece-me bem aplicado à realidade actual. Pergunto: que tipo de necessidades prévias sentidas pelo seu autor ou autores? Escrevem temas que gostam para ver se encontram na blogosfera outros bloguistas com quem conversar? Tornar público na esfera virtual o que sentem privadamente mas não ousariam formulá-lo num espaço real? Simples glória efémera de dizer: eu também já publiquei? Ou trata-se de projectos que englobam verdadeiros e potenciais jornalistas, escritores, críticos de arte ou outras espécies profissionais - tendo um espaço livre de censura e de espaço limitado?
O weblog, retomando o que escreveram Elizabete Barbosa e António Granado, é um meio nascido digitalmente (logo um novo medium), com dependência de links, imediatez de edição, actualização permanente e conexão com outros blogs (de simpatia territorial ou estética). Não têm possibilidade de existir em papel, utilizar a rádio, o telefone ou a televisão. Mas, assiste-se lentamente à profusão de blogs associados aos media tradicionais, que vêm o blog como um meio supletivo.
Para além de uma breve história dos blogs, o livro tem capítulos sobre como criar e manter weblogs, a criação de comunidades e interacção com os públicos e algumas aplicações mais práticas - a ligação dos blogs ao jornalismo, ao ensino e aos negócios. De fora ficaram outra ligações, como a da discussão estética ou literária.
Livro: Elizabete Barbosa e António Granado (2004). Weblogs. Diário de bordo. Porto: Porto Editora. Preço no editor: €11,00
Os meus blogs de referência na rádio
Apesar das questões da rádio serem muitas vezes descuradas (falta, por exemplo, uma adequada análise sociológica da rádio; a história da rádio em Portugal é escassa e descontinuada no tempo), há já um conjunto de blogs sobre a rádio que merece o seu elencar, ainda que incompleto. Dos meus blogs de referência, escolho: Blogouve-se, Jornal Rádio, A Rádio em Portugal, Telefonia sem Fios, JornalismoPortoRádio, A Minha Rádio e Clássicos da Rádio. São sítios que dão informação, têm estórias interessantes sobre a rádio e fóruns de discussão ou de análise.
Recentemente, foi publicado um livro sobre blogs, de autoria de Elisabete Barbosa e António Granado, com o título Weblogs. Diário de bordo, editado pela Porto Editora, na sua nova colecção de Comunicação.
Ora, o que diz o livro? Fala dos blogs (ou weblogs) como "páginas pessoais actualizadas com muita frequência". Para os autores, o weblog combina as principais características da internet: "São utilizados para comunicar, como o correio electrónico; permitem discutir e analisar assuntos, à semelhança dos foruns de discussão; possibilitam o contacto entre pessoas distantes que partilham ideias e objectivos comuns, como os chats; e são facilmente acedidos através da World Wide Web".
Nascidos em 1997, então compostos essencialmente por comentários e ligações a outras páginas, escritos individualmente, a tendência é para se assumirem como projectos colectivos. Os blogs podem ser diários, analíticos ou informativos. Os diários "são os verdadeiros logs da web", escrevem os dois autores do livro que venho seguindo. Os leitores deste tipo de página são amigos e conhecidos do autor. Os blogs analíticos "são compostos por pequenos ensaios versando diferentes temas e acontecimentos". Já os blogs de informação são "mantidos por autores que percorrem os milhares de páginas da internet em busca de informação, que depois disponibilizam aos seus leitores".
Este modelo tripartido parece-me bem aplicado à realidade actual. Pergunto: que tipo de necessidades prévias sentidas pelo seu autor ou autores? Escrevem temas que gostam para ver se encontram na blogosfera outros bloguistas com quem conversar? Tornar público na esfera virtual o que sentem privadamente mas não ousariam formulá-lo num espaço real? Simples glória efémera de dizer: eu também já publiquei? Ou trata-se de projectos que englobam verdadeiros e potenciais jornalistas, escritores, críticos de arte ou outras espécies profissionais - tendo um espaço livre de censura e de espaço limitado?
O weblog, retomando o que escreveram Elizabete Barbosa e António Granado, é um meio nascido digitalmente (logo um novo medium), com dependência de links, imediatez de edição, actualização permanente e conexão com outros blogs (de simpatia territorial ou estética). Não têm possibilidade de existir em papel, utilizar a rádio, o telefone ou a televisão. Mas, assiste-se lentamente à profusão de blogs associados aos media tradicionais, que vêm o blog como um meio supletivo.
Para além de uma breve história dos blogs, o livro tem capítulos sobre como criar e manter weblogs, a criação de comunidades e interacção com os públicos e algumas aplicações mais práticas - a ligação dos blogs ao jornalismo, ao ensino e aos negócios. De fora ficaram outra ligações, como a da discussão estética ou literária.
Livro: Elizabete Barbosa e António Granado (2004). Weblogs. Diário de bordo. Porto: Porto Editora. Preço no editor: €11,00
Os meus blogs de referência na rádio
Apesar das questões da rádio serem muitas vezes descuradas (falta, por exemplo, uma adequada análise sociológica da rádio; a história da rádio em Portugal é escassa e descontinuada no tempo), há já um conjunto de blogs sobre a rádio que merece o seu elencar, ainda que incompleto. Dos meus blogs de referência, escolho: Blogouve-se, Jornal Rádio, A Rádio em Portugal, Telefonia sem Fios, JornalismoPortoRádio, A Minha Rádio e Clássicos da Rádio. São sítios que dão informação, têm estórias interessantes sobre a rádio e fóruns de discussão ou de análise.
terça-feira, 23 de março de 2004
PRÉMIO DE TELEVISÃO DA APIT
Ontem, durante o seminário de televisão interactiva, promovido pela Ordem dos Engenheiros e pelo Obercom, Susana Gato, secretária-geral da APIT (Associação de Produtores Independentes de Televisão) anunciou o prémio anual de televisão para profissionais e programas, a partir de 2005. A associação vai indicar em breve o modo de selecção e atribuição dos prémios. A mesma responsável disse que a APIT conta já com o apoio do ministério da tutela e dos três operadores de televisão nacionais.
TELEVISÃO INTERACTIVA VERSUS JORNALISTAS
No ambiente de entusiasmo pelas tecnologias interactivas, ontem no seminário a que já fiz referência, ficou-se com a ideia que a televisão deixará de ser um meio que transmite a mensagem de uns para muitos e se transformará num meio de muitos para muitos. O que altera a filosofia de base do meio. Um membro da assistência alertava para o perigo de confusão. Ora, eu acho que a televisão interactiva não traz esta confusão. A mim parece-me que a mudança mais significativa aponta no sentido de troca de mensagens de muitos para muitos, mas controlada por um (o radiodifusor). No caso de concursos ou jogos, os ouvintes ou espectadores funcionam mediante meros estímulos - a (escassa) oferta existente. Não estamos na altura da teoria da agulha hipodérmica, que considerava que os receptores são passivos e aceitam toda a mensagem; mas continuamos na selecção do que se quer que o ouvinte e espectador pense.
Outra ideia que me ficou, e que não desenvolvi ontem, é o crescimento da importância do entretenimento no meio interactivo. Ou melhor: do infotainment, que combina informação e entretenimento. A televisão é já um mar de entretenimento, que rodeia a informação. E isso leva-me ao programa Clube de Jornalistas, transmitido no último domingo na 2:. Aí indicaram que a informação (os noticiários) devia ser retirada da mensuração da audiência, pois ela não transmite apelos ao consumo de produtos. O que quer dizer que a informação está mesmo isolada do entretenimento.
A ser assim, toda a mensagem sobre os jornalistas tem de ser repensada. A importância do jornalista produtor e analista da informação perde-se no conjunto dos programas de televisão. E mais ainda quando os jornais "colam" mercadorias diárias ao jornal. Agora estamos na fase das enciclopédias. Começou no Correio da Manhã, continua no Público e parece ir continuar no Diário de Notícias. Depois dos faqueiros, dos coleccionáveis, de toda uma gama de gadgets mais ou menos interessantes (mas que não passam de gadgets apêndices do jornal). Aos clássicos constrangimentos da actividade do jornalista - tempo, espaço, questões tecnológicas, pressões de fontes de informação e da direcção económica da empresa - junta-se outra dificuldade: a da desidentificação crescente entre o principal que se vende e os elementos que o acompanham. Cada vez parece mais evidente que o jornal é o menos importante.
Parece estranho. Nem a bipolarização proposta por Bourdieu, quando enuncia o seu conceito de campo jornalístico - pólo intelectual dos jornais a perder peso para o pólo comercial - explica esta transferência. À informação mais leve e sensacionalista dos tablóides sucede uma aposta em diversificar o que vem todos os dias no designado jornal de referência (estou a pensar mesmo no jornal Público). O DVD, o livro, a enciclopédia, o coleccionável têm um peso maior que o jornal, pois não são produtos perecíveis diariamente e embelezam a estante da biblioteca e videoteca lá de casa. O leitor nem tem trabalho de procurar o livro na livraria, pois este vem indicado pelo companheiro "jornal". Em que este faz imensa promoção (ia escrever propaganda), em páginas antes e depois do lançamento do produto cultural não perecível. Com recurso a mupies e outros meios de publicidade. Dois em um. Digestivo. Sem esforço.
Estranho? Não, estamos no mundo das indústrias culturais, em que as actividades se cruzam e inovam. Mas em que se perdem as referências e identidades, afinal o essencial da vida.
Ontem, durante o seminário de televisão interactiva, promovido pela Ordem dos Engenheiros e pelo Obercom, Susana Gato, secretária-geral da APIT (Associação de Produtores Independentes de Televisão) anunciou o prémio anual de televisão para profissionais e programas, a partir de 2005. A associação vai indicar em breve o modo de selecção e atribuição dos prémios. A mesma responsável disse que a APIT conta já com o apoio do ministério da tutela e dos três operadores de televisão nacionais.
TELEVISÃO INTERACTIVA VERSUS JORNALISTAS
No ambiente de entusiasmo pelas tecnologias interactivas, ontem no seminário a que já fiz referência, ficou-se com a ideia que a televisão deixará de ser um meio que transmite a mensagem de uns para muitos e se transformará num meio de muitos para muitos. O que altera a filosofia de base do meio. Um membro da assistência alertava para o perigo de confusão. Ora, eu acho que a televisão interactiva não traz esta confusão. A mim parece-me que a mudança mais significativa aponta no sentido de troca de mensagens de muitos para muitos, mas controlada por um (o radiodifusor). No caso de concursos ou jogos, os ouvintes ou espectadores funcionam mediante meros estímulos - a (escassa) oferta existente. Não estamos na altura da teoria da agulha hipodérmica, que considerava que os receptores são passivos e aceitam toda a mensagem; mas continuamos na selecção do que se quer que o ouvinte e espectador pense.
Outra ideia que me ficou, e que não desenvolvi ontem, é o crescimento da importância do entretenimento no meio interactivo. Ou melhor: do infotainment, que combina informação e entretenimento. A televisão é já um mar de entretenimento, que rodeia a informação. E isso leva-me ao programa Clube de Jornalistas, transmitido no último domingo na 2:. Aí indicaram que a informação (os noticiários) devia ser retirada da mensuração da audiência, pois ela não transmite apelos ao consumo de produtos. O que quer dizer que a informação está mesmo isolada do entretenimento.
A ser assim, toda a mensagem sobre os jornalistas tem de ser repensada. A importância do jornalista produtor e analista da informação perde-se no conjunto dos programas de televisão. E mais ainda quando os jornais "colam" mercadorias diárias ao jornal. Agora estamos na fase das enciclopédias. Começou no Correio da Manhã, continua no Público e parece ir continuar no Diário de Notícias. Depois dos faqueiros, dos coleccionáveis, de toda uma gama de gadgets mais ou menos interessantes (mas que não passam de gadgets apêndices do jornal). Aos clássicos constrangimentos da actividade do jornalista - tempo, espaço, questões tecnológicas, pressões de fontes de informação e da direcção económica da empresa - junta-se outra dificuldade: a da desidentificação crescente entre o principal que se vende e os elementos que o acompanham. Cada vez parece mais evidente que o jornal é o menos importante.
Parece estranho. Nem a bipolarização proposta por Bourdieu, quando enuncia o seu conceito de campo jornalístico - pólo intelectual dos jornais a perder peso para o pólo comercial - explica esta transferência. À informação mais leve e sensacionalista dos tablóides sucede uma aposta em diversificar o que vem todos os dias no designado jornal de referência (estou a pensar mesmo no jornal Público). O DVD, o livro, a enciclopédia, o coleccionável têm um peso maior que o jornal, pois não são produtos perecíveis diariamente e embelezam a estante da biblioteca e videoteca lá de casa. O leitor nem tem trabalho de procurar o livro na livraria, pois este vem indicado pelo companheiro "jornal". Em que este faz imensa promoção (ia escrever propaganda), em páginas antes e depois do lançamento do produto cultural não perecível. Com recurso a mupies e outros meios de publicidade. Dois em um. Digestivo. Sem esforço.
Estranho? Não, estamos no mundo das indústrias culturais, em que as actividades se cruzam e inovam. Mas em que se perdem as referências e identidades, afinal o essencial da vida.
segunda-feira, 22 de março de 2004
TELEVISÃO INTERACTIVA EM SEMINÁRIO
Decorreu hoje, nas instalações da Ordem dos Engenheiros, em Lisboa, e organizada por esta associação e o Obercom (Observatório da Comunicação), um seminário internacional intitulado “Televisão interactiva: avanços e impactos”. O seminário teve sessões dedicadas à tecnologia, conteúdos, aplicações e mercados, mas notou-se uma contaminação tecnológica em todo o seminário. Por um lado, os standards ainda não estão totalmente definidos; depois, porque concorrem plataformas distintas com objectivos e resultados distintos.
Tecnologias e marketing
Um dos intervenientes frisou a importância da televisão interactiva em termos sociais, que pode ser tão elevada como teve a televisão há 50 anos, embora houvesse quem manifestasse dúvidas quanto a uma maior interactividade. Daí que se comentasse estarmos já não na era do audiovisual mas na do multimedia interactivo. Em que muda a nossa relação com o ecrã de televisão, a qual se aproxima do modo da ligação ao computador. Advogou-se ainda que a televisão interactiva será mais do domínio do consumo individual e não do consumo familiar.
Curiosamente, a interactividade na televisão ainda está num conjunto pequeno de domínios, conforme confirmou o representante de um operador de televisão: 1) rede móvel, com SMS, MMS e vídeo, 2) teletexto, 3) rede fixa, 4) internet, 5) plataforma digital da PT. A televisão interactiva alargar-se-á, entretanto, para os jogos e os brinquedos, num prolongamento do que me parece ser a evolução lógica de mercado perante os seus públicos-alvo. Quando os indivíduos deixam de ser crianças, desenvolvidas num ambiente de jogos electrónicos, e se tornam adultos, com poder de compra e de decisão sobre o que compram, tendem a procurar produtos semelhantes aos que consumiam, mas agora na televisão. Nasce, assim, uma concorrência directa da televisão interactiva com as Play Stations e as X-Boxes, em termos de jogos, vídeo e áudio, com possibilidades de armazenar mais de duzentas horas gravadas de vídeo. Aponta-se, para o próximo Natal, a convergência entre a televisão interactiva e os brinquedos, com a Mattel e a Warner Brothers a lançar uma série de animação Batman, cuja narrativa se sintoniza com os brinquedos (conteúdos, jogos). Claro que as vendas dependem de: 1) conteúdos e serviços, 2) finanças pessoais, 3) recompensas aos espectadores, 4) necessidade ou impulso do espectador.
Ética e adesão à televisão interactiva
Os serviços interactivos ligam-se também aos telemóveis. Ainda este ano, espera-se a oferta de serviço de videotelefonia nos móveis, com voz e imagem em simultâneo. Isso deve trazer interactividade entre operadores de televisão e móveis, conquanto possa representar uma potencial ameaça à privacidade. Qualquer pessoa, num qualquer local, pode fotografar e enviar imagens, “directos” que atentem à vida privada de um cidadão ou conjunto de cidadãos, não controláveis por qualquer entidade reguladora.
Se o lançamento de facilidades acrescidas nos móveis está para breve, a adesão à televisão digital e interactiva será uma realidade de crescimento lento. Segundo um recente estudo da AT Kearney para a Anacom, em 2007 haverá 474 mil lares a aderir à televisão digital, ou seja, 13,4% do total de lares com televisão.
Apesar de, como escrevi acima, haver uma linguagem excessivamente tecnológica - e um ambiente eufórico, de admiração das tecnologias, propiciada pelo espírito positivista dos engenheiros -, o certo é que a audiência presente no seminário ficou a saber muito melhor como está o mercado. Em que se ouviram os principais agentes empresariais e de produção e circulação das redes e dos conteúdos.
Decorreu hoje, nas instalações da Ordem dos Engenheiros, em Lisboa, e organizada por esta associação e o Obercom (Observatório da Comunicação), um seminário internacional intitulado “Televisão interactiva: avanços e impactos”. O seminário teve sessões dedicadas à tecnologia, conteúdos, aplicações e mercados, mas notou-se uma contaminação tecnológica em todo o seminário. Por um lado, os standards ainda não estão totalmente definidos; depois, porque concorrem plataformas distintas com objectivos e resultados distintos.
Tecnologias e marketing
Um dos intervenientes frisou a importância da televisão interactiva em termos sociais, que pode ser tão elevada como teve a televisão há 50 anos, embora houvesse quem manifestasse dúvidas quanto a uma maior interactividade. Daí que se comentasse estarmos já não na era do audiovisual mas na do multimedia interactivo. Em que muda a nossa relação com o ecrã de televisão, a qual se aproxima do modo da ligação ao computador. Advogou-se ainda que a televisão interactiva será mais do domínio do consumo individual e não do consumo familiar.
Curiosamente, a interactividade na televisão ainda está num conjunto pequeno de domínios, conforme confirmou o representante de um operador de televisão: 1) rede móvel, com SMS, MMS e vídeo, 2) teletexto, 3) rede fixa, 4) internet, 5) plataforma digital da PT. A televisão interactiva alargar-se-á, entretanto, para os jogos e os brinquedos, num prolongamento do que me parece ser a evolução lógica de mercado perante os seus públicos-alvo. Quando os indivíduos deixam de ser crianças, desenvolvidas num ambiente de jogos electrónicos, e se tornam adultos, com poder de compra e de decisão sobre o que compram, tendem a procurar produtos semelhantes aos que consumiam, mas agora na televisão. Nasce, assim, uma concorrência directa da televisão interactiva com as Play Stations e as X-Boxes, em termos de jogos, vídeo e áudio, com possibilidades de armazenar mais de duzentas horas gravadas de vídeo. Aponta-se, para o próximo Natal, a convergência entre a televisão interactiva e os brinquedos, com a Mattel e a Warner Brothers a lançar uma série de animação Batman, cuja narrativa se sintoniza com os brinquedos (conteúdos, jogos). Claro que as vendas dependem de: 1) conteúdos e serviços, 2) finanças pessoais, 3) recompensas aos espectadores, 4) necessidade ou impulso do espectador.
Ética e adesão à televisão interactiva
Os serviços interactivos ligam-se também aos telemóveis. Ainda este ano, espera-se a oferta de serviço de videotelefonia nos móveis, com voz e imagem em simultâneo. Isso deve trazer interactividade entre operadores de televisão e móveis, conquanto possa representar uma potencial ameaça à privacidade. Qualquer pessoa, num qualquer local, pode fotografar e enviar imagens, “directos” que atentem à vida privada de um cidadão ou conjunto de cidadãos, não controláveis por qualquer entidade reguladora.
Se o lançamento de facilidades acrescidas nos móveis está para breve, a adesão à televisão digital e interactiva será uma realidade de crescimento lento. Segundo um recente estudo da AT Kearney para a Anacom, em 2007 haverá 474 mil lares a aderir à televisão digital, ou seja, 13,4% do total de lares com televisão.
Apesar de, como escrevi acima, haver uma linguagem excessivamente tecnológica - e um ambiente eufórico, de admiração das tecnologias, propiciada pelo espírito positivista dos engenheiros -, o certo é que a audiência presente no seminário ficou a saber muito melhor como está o mercado. Em que se ouviram os principais agentes empresariais e de produção e circulação das redes e dos conteúdos.
domingo, 21 de março de 2004
SOBRE A RÁDIO DIGITAL
"Disseram-nos que a radiodifusão digital introduzia uma nova era sonora da qualidade do CD, mas a rádio hertziana nunca esteve tão má" - começa assim um texto de David Hewson no Sunday Times de hoje. O jornalista considera que está a haver, no caso do DAB no Reino Unido, o triunfo da quantidade sobre a qualidade.
No momento em que a regra é "tudo digital" (máquina fotográfica, televisão, telefones e até fotocopiadoras), a promessa foi de uma qualidade sonora cristalina. Os homens da BBC tentam ansiosamente actualizar a recepção para se ter o DAB. Hewson escreve que isso lhe deu a possibilidade de ouvir outras estações como a Virgin, que ele não ouvia em Kent. Contudo, os radiodifusores encheram as ondas de estações, reduzindo a qualidade sonora a um valor inferior ao do mais barato aparelho de MP3. Na rádio digital, o sinal de áudio é comprimido antes de ser emitido; e o problema é que a compressão elevada que está a ser feita implica uma deterioração do som abaixo da qualidade da FM. Segundo o sítio digitalradiotech.co.uk, os ingleses têm o pior som DAB do mundo. As razões técnicas residem no facto da compressão ser feita por um sistema conhecido por MP2, o antecessor menos eficiente do MP3, o standard usado nos aparelhos de audição musical.
Quanto menos comprimida for a música melhor é o som. A um nível de 256 kbps, a qualidade será melhor do que a FM. O problema é que, conforme escreve o jornalista do Sunday Times, não há estações a emitir com essa qualidade. Ao nível de 192 kbps, a qualidade é quase sempre melhor que a da FM, caso da Radio 3; com 160kbps, muitas das vezes a qualidade é inferior à da FM, como as estações Capital, Classic FM, Key 103 e Virgin. Abaixo é sempre de pior qualidade - há mesmo estações a emitirem de 64 a 96 kbps que têm uma qualidade abaixo do padrão do AM mono! Conclui David Hewson que o governo inglês tem estado silencioso quanto ao switch-off analógico na rádio como o faz quanto à televisão. Analistas da indústria calculam que o DAB poderá influir no switch-off dentro de, talvez, uma década, se é que tal vai acontecer.
Alternativas à recepção digital? Há, pelo menos três, explica o Sunday Times. A primeira é ter uma melhor antena ligada ao receptor de FM. A segunda é ouvir rádio através do satélite, caso do Sky; muitas estações têm uma qualidade de 192 kbps, com uma qualidade mais consistente que o DAB. Já a terceira é mais futurista - ou está à nossa porta -, a audição através da internet. No formato Windows Media 9, há já milhares de estações a funcionarem com um padrão de 192 kbps. Procure informação junto de A minha rádio ou Radio-locator. E, em breve, ainda este ano, prevê Hewson, haverá aparelhos ligados à internet sem fios para se ouvir a rádio.
DIA MUNDIAL DA POESIA
Deixo aqui dois poemas. Um é de Manuel Alegre, sem título (do livro Senhora das Tempestades):
Eu pescador que trago em mim as tábuas / da lua e das marés e o último rumor / de um homem que alguém escreve sobre as águas / e nunca se repete. Eu pescador.
O outro é de Jacques Brel, "Ne me quitte pas" [letra para a música] (não o coloco na totalidade):
Ne me quitte pas / Il faut oublier / Tout peut s'oublier / Qui s'enfuit déjà / Oublier les temps / Des malentendus / Et le temps perdu / A savoir comment / Oublier ces heures / Qui tuaient parfois / A coups de pourquoi / Le coeur du bonheur / Ne me quitte pas (4 vezes)
"Disseram-nos que a radiodifusão digital introduzia uma nova era sonora da qualidade do CD, mas a rádio hertziana nunca esteve tão má" - começa assim um texto de David Hewson no Sunday Times de hoje. O jornalista considera que está a haver, no caso do DAB no Reino Unido, o triunfo da quantidade sobre a qualidade.
No momento em que a regra é "tudo digital" (máquina fotográfica, televisão, telefones e até fotocopiadoras), a promessa foi de uma qualidade sonora cristalina. Os homens da BBC tentam ansiosamente actualizar a recepção para se ter o DAB. Hewson escreve que isso lhe deu a possibilidade de ouvir outras estações como a Virgin, que ele não ouvia em Kent. Contudo, os radiodifusores encheram as ondas de estações, reduzindo a qualidade sonora a um valor inferior ao do mais barato aparelho de MP3. Na rádio digital, o sinal de áudio é comprimido antes de ser emitido; e o problema é que a compressão elevada que está a ser feita implica uma deterioração do som abaixo da qualidade da FM. Segundo o sítio digitalradiotech.co.uk, os ingleses têm o pior som DAB do mundo. As razões técnicas residem no facto da compressão ser feita por um sistema conhecido por MP2, o antecessor menos eficiente do MP3, o standard usado nos aparelhos de audição musical.
Quanto menos comprimida for a música melhor é o som. A um nível de 256 kbps, a qualidade será melhor do que a FM. O problema é que, conforme escreve o jornalista do Sunday Times, não há estações a emitir com essa qualidade. Ao nível de 192 kbps, a qualidade é quase sempre melhor que a da FM, caso da Radio 3; com 160kbps, muitas das vezes a qualidade é inferior à da FM, como as estações Capital, Classic FM, Key 103 e Virgin. Abaixo é sempre de pior qualidade - há mesmo estações a emitirem de 64 a 96 kbps que têm uma qualidade abaixo do padrão do AM mono! Conclui David Hewson que o governo inglês tem estado silencioso quanto ao switch-off analógico na rádio como o faz quanto à televisão. Analistas da indústria calculam que o DAB poderá influir no switch-off dentro de, talvez, uma década, se é que tal vai acontecer.
Alternativas à recepção digital? Há, pelo menos três, explica o Sunday Times. A primeira é ter uma melhor antena ligada ao receptor de FM. A segunda é ouvir rádio através do satélite, caso do Sky; muitas estações têm uma qualidade de 192 kbps, com uma qualidade mais consistente que o DAB. Já a terceira é mais futurista - ou está à nossa porta -, a audição através da internet. No formato Windows Media 9, há já milhares de estações a funcionarem com um padrão de 192 kbps. Procure informação junto de A minha rádio ou Radio-locator. E, em breve, ainda este ano, prevê Hewson, haverá aparelhos ligados à internet sem fios para se ouvir a rádio.
DIA MUNDIAL DA POESIA
Deixo aqui dois poemas. Um é de Manuel Alegre, sem título (do livro Senhora das Tempestades):
Eu pescador que trago em mim as tábuas / da lua e das marés e o último rumor / de um homem que alguém escreve sobre as águas / e nunca se repete. Eu pescador.
O outro é de Jacques Brel, "Ne me quitte pas" [letra para a música] (não o coloco na totalidade):
Ne me quitte pas / Il faut oublier / Tout peut s'oublier / Qui s'enfuit déjà / Oublier les temps / Des malentendus / Et le temps perdu / A savoir comment / Oublier ces heures / Qui tuaient parfois / A coups de pourquoi / Le coeur du bonheur / Ne me quitte pas (4 vezes)
sábado, 20 de março de 2004
EFEMÉRIDES
A Antena 3 faz dez anos. Nasceu após a privatização da Rádio Comercial, em 1993, orientada para um público jovem. No dia 23, para assinalar o aniversário, haverá um concerto no Coliseu dos Recreios (Lisboa), com a presença de bandas portuguesas e animação a cargo dos locutores da Antena 3. Haverá transmissão em directo do concerto pela Antena 3. A RTP transmiti-lo-a posteriormente. Dica de A Rádio em Portugal.
Ontem foi a vez do Correio da Manhã fazer 25 anos de edição. O título que acompanhava a notícia do Público era: "O jornal que nasceu para responder às preocupações do «homem da rua»". Segundo um estudo da Marktest, com resultados inseridos na notícia que refiro, mais de metade dos que lêem o Correio da Manhã tem menos de 45 anos. O jornal lidera as vendas em termos de jornais generalistas (mais de 111 mil exemplares diários).
CONTAS
A Cofina, exactamente a proprietária do Correio da Manhã (e de outros títulos de imprensa) apresentou lucros de €9,8 milhões, com um volume de negócios de €218,3 milhões, em 2003. A dívida situa-se em €133,2 milhões (parte da qual devido à compra de 19,09% da Lusomundo, na ordem de €24 milhões). Informação do Expresso de hoje.
Por seu lado, a PT Multimédia teve, em 2003, lucros de €30,7 milhões, o primeiro ano em que ocorre um saldo positivo. A notícia vem veiculada no mesmo Expresso, onde se apontam dados interessantes: os jornais Diário de Notícias e Jornal de Notícias tiveram um decréscimo de vendas, comportamento diferente do 24 Horas; aumento de 10% de assinantes da TV Cabo e de 64% de aderentes da Netcabo. A peça, assinada por Christiana Martins, tem outros motivos de análise do subgrupo da PT.
AGENDA
22 de Março - Seminário Internacional Televisão Interactiva: Avanços e Impactos, em organização conjunta do OBERCOM - Observatório da Comunicação e da Ordem dos Engenheiros. Local: Auditório da Ordem dos Engenheiros, na Av. António Augusto de Aguiar, Lisboa.
11 de Maio - conferência pública de Jean Chalaby, sobre história do jornalismo, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, na Av. de Berna.
A Antena 3 faz dez anos. Nasceu após a privatização da Rádio Comercial, em 1993, orientada para um público jovem. No dia 23, para assinalar o aniversário, haverá um concerto no Coliseu dos Recreios (Lisboa), com a presença de bandas portuguesas e animação a cargo dos locutores da Antena 3. Haverá transmissão em directo do concerto pela Antena 3. A RTP transmiti-lo-a posteriormente. Dica de A Rádio em Portugal.
Ontem foi a vez do Correio da Manhã fazer 25 anos de edição. O título que acompanhava a notícia do Público era: "O jornal que nasceu para responder às preocupações do «homem da rua»". Segundo um estudo da Marktest, com resultados inseridos na notícia que refiro, mais de metade dos que lêem o Correio da Manhã tem menos de 45 anos. O jornal lidera as vendas em termos de jornais generalistas (mais de 111 mil exemplares diários).
CONTAS
A Cofina, exactamente a proprietária do Correio da Manhã (e de outros títulos de imprensa) apresentou lucros de €9,8 milhões, com um volume de negócios de €218,3 milhões, em 2003. A dívida situa-se em €133,2 milhões (parte da qual devido à compra de 19,09% da Lusomundo, na ordem de €24 milhões). Informação do Expresso de hoje.
Por seu lado, a PT Multimédia teve, em 2003, lucros de €30,7 milhões, o primeiro ano em que ocorre um saldo positivo. A notícia vem veiculada no mesmo Expresso, onde se apontam dados interessantes: os jornais Diário de Notícias e Jornal de Notícias tiveram um decréscimo de vendas, comportamento diferente do 24 Horas; aumento de 10% de assinantes da TV Cabo e de 64% de aderentes da Netcabo. A peça, assinada por Christiana Martins, tem outros motivos de análise do subgrupo da PT.
AGENDA
22 de Março - Seminário Internacional Televisão Interactiva: Avanços e Impactos, em organização conjunta do OBERCOM - Observatório da Comunicação e da Ordem dos Engenheiros. Local: Auditório da Ordem dos Engenheiros, na Av. António Augusto de Aguiar, Lisboa.
11 de Maio - conferência pública de Jean Chalaby, sobre história do jornalismo, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, na Av. de Berna.
sexta-feira, 19 de março de 2004
SPIELBERG E CRUISE PREPARAM "A GUERRA DOS MUNDOS"
Veio ontem no Independent a notícia que Steven Spielberg e Tom Cruise planeiam fazer uma versão cinematográfica de "A guerra dos mundos", acerca da invasão da Terra por marcianos. Trata-se da adaptação do clássico de ficção científica de H. G. Wells. A novela foi escrita em 1898, mas conheceu impacto quando Orson Welles e o seu grupo de teatro (Mercury) o adaptaram à rádio. Apesar de ser anunciado previamente como ficção, os ouvintes vieram para a rua amedrontados com o que tinham escutado na rádio. A representação fora feita de um grande realismo, pelo que se julgou tratar mesmo de uma invasão.
Tom Cruise ganhou o estatuto de herói super-activo em Top Gun e Minority Report, pelo que se espera que dê um contributo muito realista à invasão alienígena da Terra, lembra o jornalista Cahal Milmo. A revista Variety anuncia que o filme poderá começar a ser dirigido em 2005.
Refira-se que uma versão em technicolor ganhou um óscar em 1953 pelos efeitos especiais, de onde se tirou este fotograma (http://www.war-ofthe-worlds.co.uk/). Que efeitos especiais terá agora esta versão? Aguardemos.
OS FILMES NOS BLOGS
Nos últimos dias, dois dos meus blogs de referência aludiram a filmes.
Dia de Cólera, de Carl Dreyer (15 de Março) e Paris, Texas, de Wim Wenders (17 de Março), no blog Janela Indiscreta; Morte em Veneza, de Luchino Visconti (18 de Março), no blog Nocturno com Gatos.
Parabéns pela selecção.
Veio ontem no Independent a notícia que Steven Spielberg e Tom Cruise planeiam fazer uma versão cinematográfica de "A guerra dos mundos", acerca da invasão da Terra por marcianos. Trata-se da adaptação do clássico de ficção científica de H. G. Wells. A novela foi escrita em 1898, mas conheceu impacto quando Orson Welles e o seu grupo de teatro (Mercury) o adaptaram à rádio. Apesar de ser anunciado previamente como ficção, os ouvintes vieram para a rua amedrontados com o que tinham escutado na rádio. A representação fora feita de um grande realismo, pelo que se julgou tratar mesmo de uma invasão.
Tom Cruise ganhou o estatuto de herói super-activo em Top Gun e Minority Report, pelo que se espera que dê um contributo muito realista à invasão alienígena da Terra, lembra o jornalista Cahal Milmo. A revista Variety anuncia que o filme poderá começar a ser dirigido em 2005.
Refira-se que uma versão em technicolor ganhou um óscar em 1953 pelos efeitos especiais, de onde se tirou este fotograma (http://www.war-ofthe-worlds.co.uk/). Que efeitos especiais terá agora esta versão? Aguardemos.
OS FILMES NOS BLOGS
Nos últimos dias, dois dos meus blogs de referência aludiram a filmes.
Dia de Cólera, de Carl Dreyer (15 de Março) e Paris, Texas, de Wim Wenders (17 de Março), no blog Janela Indiscreta; Morte em Veneza, de Luchino Visconti (18 de Março), no blog Nocturno com Gatos.
Parabéns pela selecção.
quinta-feira, 18 de março de 2004
TEXTO DE ARMANDO TEIXEIRA CARNEIRO [A CULTURA E OS MEDIA EM PORTUGAL (UMA ANÁLISE INTERPRETATIVA)] NA REVISTA PENSAR IBEROAMÉRICA
No último número da revista electrónica Pensar Iberoamérica (Janeiro/Abril de 2004), Armando Teixeira Carneiro publica um texto pedagógico sobre os media e a cultura em Portugal. Destaco um trecho:
"Uma actividade que é encarada com atenção e rigor por parte dos dois principais diários de referência é a actividade de media literacy em termos de educação pelos meios. O que tem as suas origens nos anos 50 nos espaços a isso dedicados pelos Diário de Notícias, Diário Popular e Diário de Lisboa. Actualmente, o Público desenvolve, desde 1990, um programa muito bem estruturado, denominado Público na Escola, que pretende promover a utilização dos meios de comunicação, sobretudo os jornais enquanto materiais de trabalho escolar, estimulando a inovação pedagógica e a reflexão crítica – outro aspecto do media literacy: a educação para os meios – acompanhando os seus suplementos mensais com outras publicações – textos de apoio, dossiers temáticos e manuais de apoio aos docentes. Além do mais, lança anualmente um concurso entre os jornais escolares e mantém, desde 2002, na cidade do Porto, o CLIP – Laboratório de Imprensa do Público onde os jovens estudantes podem simular toda a actividade de uma redacção de um grande jornal. Por sua parte, o Diário de Notícias, ainda que desde há anos tivesse alguma actividade relacionada com a educação, só em 2002 lançou o seu novo programa de media literacy que se chama Projecto DN Educação. Tem um passatempo educativo mensal intitulado Ler o DN na Escola destinado aos alunos do ensino primário e secundário, incentivando o trabalho colaborativo e as relações entre aluno e professor e tem uma página interactiva de apoio aos alunos, no campo da língua portuguesa e da matemática, com o título Cábulas DN".
Armando Teixeira Carneiro é membro fundador e professor do ISCIA (Instituto Superior de Ciências da Informação e Administração), de Aveiro, e director do IED (Instituto de Educação a Distância), também em Aveiro.
SEGUNDO VOLUME DO LIVRO DE HELENA MATOS: SALAZAR - A PROPAGANDA
Já saiu o segundo volume do livro de Helena Matos, jornalista do Público, sobre Salazar. Este volume tem o título de A propaganda, e é editado pelo Círculo de Leitores. Enquanto o primeiro volume abarcava os anos de 1928 a 1933 - o surgimento e afirmação de Salazar - este volume retrata Salazar no período de concretização (1934-1938).
Ainda não tive a oportunidade de o ler em toda a sua extensão. Mas deixo aqui duas referências:
"Por outro lado, a própria evolução do cinema e das artes gráficas permite montagens e soluções, elas mesmo portadoras de conteúdos. Estreado em Junho deste ano [1937], o filme A revolução de Maio [de António Lopes Ribeiro] combina, habilmente, imagens documentais e cenas filmadas. Exemplar do domínio das artes gráficas e das suas potencialidades, em termos de propaganda, é o álbum Salazar, Revolução Nacional (1926-1937), editado este ano" (p. 213). O álbum seria da responsabilidade de Américo de Faria, Ernesto Antunes e Manuel Ribeiro.
"A própria actividade do SPN privilegia este ano [1938] a criação duma imagem de Portugal passível de ser rapidamente sintetizável: o concurso da Aldeia mais Portuguesa de Portugal, cujo galardão só será entregue em 1939, mobiliza, durante todo este ano, o SPN" (p. 268). Simultaneamente, o SPN (Secretariado da Propaganda Nacional) passaria a realizar "o Jornal Português, um repositório cinematográfico que tanto retratava acontecimentos como paisagens ou costumes". Mais à frente, escreve Helena Matos: "Os documentários articulavam-se agora com as fotografias na linguagem da propaganda e é a linguagem da narrativa cinematográfica que encontramos numa das mais importantes reportagens feitas com Salazar nestes dez anos". Leitão de Barros e Salazar Diniz (fotógrafo) publicariam a reportagem sobre o ditador em 21 de Maio no Século e no Século Ilustrado. O título na primeira página do Século não podia ser mais objectivo: "Como vive e trabalha o sr. dr. Salazar. Quinze horas da vida do cidadão". Numa das fotografias podia ler-se a seguinte legenda: "É o sr. dr. Oliveira Salazar quem, sempre depois das 22 horas, ensina a tabuada à pequena Maria da Conceição, sua protegida".
Conquanto o primeiro volume seja um importante retrato de Salazar, a partir da leitura da imprensa da época, parece-me que este volume agora saido tem muito mais importância para a área que trabalho: as indústrias culturais: o cinema, as publicações (nomeadamente as revistas ilustradas), a rádio. Se, no primeiro volume, Helena Matos trabalhou a elaboração do mito de Salazar, aqui ela destaca o modo como a propaganda construiu o elogio do homem e da sua obra.
No último número da revista electrónica Pensar Iberoamérica (Janeiro/Abril de 2004), Armando Teixeira Carneiro publica um texto pedagógico sobre os media e a cultura em Portugal. Destaco um trecho:
"Uma actividade que é encarada com atenção e rigor por parte dos dois principais diários de referência é a actividade de media literacy em termos de educação pelos meios. O que tem as suas origens nos anos 50 nos espaços a isso dedicados pelos Diário de Notícias, Diário Popular e Diário de Lisboa. Actualmente, o Público desenvolve, desde 1990, um programa muito bem estruturado, denominado Público na Escola, que pretende promover a utilização dos meios de comunicação, sobretudo os jornais enquanto materiais de trabalho escolar, estimulando a inovação pedagógica e a reflexão crítica – outro aspecto do media literacy: a educação para os meios – acompanhando os seus suplementos mensais com outras publicações – textos de apoio, dossiers temáticos e manuais de apoio aos docentes. Além do mais, lança anualmente um concurso entre os jornais escolares e mantém, desde 2002, na cidade do Porto, o CLIP – Laboratório de Imprensa do Público onde os jovens estudantes podem simular toda a actividade de uma redacção de um grande jornal. Por sua parte, o Diário de Notícias, ainda que desde há anos tivesse alguma actividade relacionada com a educação, só em 2002 lançou o seu novo programa de media literacy que se chama Projecto DN Educação. Tem um passatempo educativo mensal intitulado Ler o DN na Escola destinado aos alunos do ensino primário e secundário, incentivando o trabalho colaborativo e as relações entre aluno e professor e tem uma página interactiva de apoio aos alunos, no campo da língua portuguesa e da matemática, com o título Cábulas DN".
Armando Teixeira Carneiro é membro fundador e professor do ISCIA (Instituto Superior de Ciências da Informação e Administração), de Aveiro, e director do IED (Instituto de Educação a Distância), também em Aveiro.
SEGUNDO VOLUME DO LIVRO DE HELENA MATOS: SALAZAR - A PROPAGANDA
Já saiu o segundo volume do livro de Helena Matos, jornalista do Público, sobre Salazar. Este volume tem o título de A propaganda, e é editado pelo Círculo de Leitores. Enquanto o primeiro volume abarcava os anos de 1928 a 1933 - o surgimento e afirmação de Salazar - este volume retrata Salazar no período de concretização (1934-1938).
Ainda não tive a oportunidade de o ler em toda a sua extensão. Mas deixo aqui duas referências:
"Por outro lado, a própria evolução do cinema e das artes gráficas permite montagens e soluções, elas mesmo portadoras de conteúdos. Estreado em Junho deste ano [1937], o filme A revolução de Maio [de António Lopes Ribeiro] combina, habilmente, imagens documentais e cenas filmadas. Exemplar do domínio das artes gráficas e das suas potencialidades, em termos de propaganda, é o álbum Salazar, Revolução Nacional (1926-1937), editado este ano" (p. 213). O álbum seria da responsabilidade de Américo de Faria, Ernesto Antunes e Manuel Ribeiro.
"A própria actividade do SPN privilegia este ano [1938] a criação duma imagem de Portugal passível de ser rapidamente sintetizável: o concurso da Aldeia mais Portuguesa de Portugal, cujo galardão só será entregue em 1939, mobiliza, durante todo este ano, o SPN" (p. 268). Simultaneamente, o SPN (Secretariado da Propaganda Nacional) passaria a realizar "o Jornal Português, um repositório cinematográfico que tanto retratava acontecimentos como paisagens ou costumes". Mais à frente, escreve Helena Matos: "Os documentários articulavam-se agora com as fotografias na linguagem da propaganda e é a linguagem da narrativa cinematográfica que encontramos numa das mais importantes reportagens feitas com Salazar nestes dez anos". Leitão de Barros e Salazar Diniz (fotógrafo) publicariam a reportagem sobre o ditador em 21 de Maio no Século e no Século Ilustrado. O título na primeira página do Século não podia ser mais objectivo: "Como vive e trabalha o sr. dr. Salazar. Quinze horas da vida do cidadão". Numa das fotografias podia ler-se a seguinte legenda: "É o sr. dr. Oliveira Salazar quem, sempre depois das 22 horas, ensina a tabuada à pequena Maria da Conceição, sua protegida".
Conquanto o primeiro volume seja um importante retrato de Salazar, a partir da leitura da imprensa da época, parece-me que este volume agora saido tem muito mais importância para a área que trabalho: as indústrias culturais: o cinema, as publicações (nomeadamente as revistas ilustradas), a rádio. Se, no primeiro volume, Helena Matos trabalhou a elaboração do mito de Salazar, aqui ela destaca o modo como a propaganda construiu o elogio do homem e da sua obra.
quarta-feira, 17 de março de 2004
TELEVISÃO DO NÓS VERSUS TELEVISÃO DO EU - UMA PROPOSTA DE EDUARDO CINTRA TORRES
Tem havido uma diminuição da audiência da televisão desde 1999, o que questiona a actividade dos operadores de televisão, um negócio de 300 milhões de euros anuais. A televisão generalista parece ser a principal atingida pela quebra de audiência.
Em proposta recente, Cintra Torres parte da suspeita que a televisão generalista pode já não satisfazer os espectadores. Isto deve-se a uma maior oferta, em que a internet e a televisão por cabo são dois elementos a considerar. A publicidade – número de contactos dos espectadores com os anúncios – é a forma de investimento na televisão generalista. Nesta, os usos tecnológicos do zapping (telecomando que permite a busca de outros canais) e do zipping (gravar passando por cima da publicidade) reduzem tais contactos, o que conduz a uma tentativa de baixa de preços da publicidade que se repercutem na capacidade produtiva dos operadores de televisão (p. 1020).
No texto, Cintra Torres parte de um trabalho célebre, de Nicholas Abercombrie e Brian Longhurst, Audiences, investigadores que consideram haver três paradigmas fundamentais: 1) efeitos/usos e gratificações, 2) incorporação e resistência, 3) espectáculo/performance (p. 1028). Os autores defendem o terceiro paradigma, em que o consumo da televisão se considera de maneira mais positiva, com o consumidor a fazer uma opção, a construção de uma identidade. Assim, a audiência é activa e as audiências tornam-se consumidores. Ao mesmo tempo, a experiência das audiências é cada vez mais fragmentada. O que quer dizer que o indivíduo já não é membro de uma só audiência simples, mas pertence a múltiplas audiências, as audiências difusas.
Seguindo esta linha, Cintra Torres apresenta duas dicotomias: o eu e o eu múltiplo; televisão generalista e televisão temática, em torno do qual desenvolve o resto do seu texto. Por um lado, ele admite a existência de um eu múltiplo e fragmentado, o qual faz parte integrante de múltiplas audiências, difusas, a corpo inteiro (p. 1031). A interacção tem em conta a multiplicidade do eu, que o leva a consumir parcial ou totalmente, conteúdos diversos ou contraditórios. Por outro lado, refere a televisão generalista como a televisão do nós, em que se vê em conjunto, na família, partilhando programas e discutindo-os, a televisão nacional enquanto comunidade imaginada de Benedict Anderson. Já a televisão do eu é aquela que marca a escolha individual, do eu, da massificação de televisores que permite a cada membro de uma família ver televisão em espaços isolados da casa, ou, quando não há essa possibilidade, o recurso ao zapping é uma possibilidade. Assim, Cintra Torres entende estar-se a caminhar no sentido crescente da televisão temática, constituída como alternativa.
Os conteúdos – ainda para a televisão do nós e para as crescentes televisões do eu – serão a resposta ao novo mundo do espectador múltiplo, que se divide em vários eus e procura na televisão generalista e na televisão temática os programas que lhes agradam (p. 1040). Vive-se, em conclusão, uma sociedade individualista e hedonista.
Texto: Eduardo Cintra Torres (2004). “Televisão do nós e televisão do eu – a encruzilhada da televisão generalista”. Análise social, 169: 1011-1042
COMUNIDADES IMAGINADAS
Benedict Anderson propõe, num espírito antropológico, a seguinte definição de nação: comunidade política imaginada – e imaginada inerentemente quer como limitada quer soberana.
É imaginada porque nem mesmo os membros da mais pequena nação conhecerão a maior parte dos seus concidadãos, encontrá-los-ão ou ouvirão falar deles, mesmo que na mente de cada um deles viva a imagem da sua comunhão. Anderson cita Renan: “a essência de uma nação é que todos os indivíduos tenham muitas coisas em comum e também que todas esqueçam as coisas”. Na realidade, todas as comunidades maiores do que as aldeias primitivas do contacto face a face (e mesmo essas) são imaginadas. As comunidades distinguem-se não pela sua falsidade ou aspectos genuínos mas pelo estilo em que são imaginadas.
A nação é imaginada como limitada porque, mesmo a maior, é finita, com fronteiras com outras nações. É imaginada como soberania, a partir das luzes e da revolução de 1789, porque foi destruída a legitimidade da ordem divina, do domínio dinástico hierárquico. Finalmente, é imaginada como comunidade porque, apesar da presente desigualdade e exploração que possa permanecer nelas, a nação é sempre concebida como uma fraternidade [comradeship] profunda e horizontal. Anderson salienta dois sistemas culturais relevantes – a comunidade religiosa e o domínio dinástico.
Livro: Benedict Anderson (1991). Imagined communities. Londres e Nova Iorque: Verso
ANIVERSÁRIO DO BLOG
Faz hoje um ano que se deu o acto fundador do blog Indústrias Culturais, com a mensagem "Este weblog destina-se a apresentar textos sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, videojogos, publicidade)". Tinha-o pensado como elo de ligação aos alunos do mestrado de Ciências da Comunicação e Indústrias Culturais, da Universidade Católica Portuguesa. A falta de tempo (tinha começado outro blog, Teorias da Comunicação, em 12 de Março, ou seja cinco dias antes, este orientado para alunos de licenciatura) impediu-me a continuidade do presente blog. Só nos últimos meses é que escrevo aqui com regularidade.
O escrever neste formato é uma espécie de catarse. Diário íntimo não é, pois está disponível a qualquer pessoa. Estudos elaborados não são, pois estes fazem-se pagar caro e uma mercadoria vendida gratuitamente não tem grande valor. Mas pode escrever-se a dimensão que se entender, mesmo que não haja ninguém a ler ou a criticar. Pela necessidade de escrever, há um esforço de actualidade, de ver como estão as tendências e quais os movimentos do dia ou da semana. Isto não é um jornal, com secções fixas, editorial, artigo de análise e notícias breves, com algumas fotografias, mas obriga a ser flexível e procurar argumentos.
Antes destes dois blogs, escrevera num blog do CIMJ - Centro de Investigação Media e Jornalismo. Em Setembro último, tomei um contacto mais directo com a comunidade "blogueira", no encontro realizado em Braga, na Universidade do Minho. E constatei que existe uma comunidade imaginada, no sentido dado por Benedict Anderson, muito activa em diversos domínios do saber. Jornalismo, rádio, literatura e arte, política, são algumas das áreas em que tenho detectado essa actividade quase frenética de participação. A grande maioria sem esperar o estatuto de blog de referência ou ganhar dinheiro. Como diria John Fiske num texto sobre fãs que ando a trabalhar, aplicando-se a esta matéria: as pessoas que participam nos blogs gastam dinheiro (ou, pelo menos, tempo). E de acordo com o que já aqui escrevi: há um movimento de pioneiros numa nova arte de comunicar. Os seus resultados e o seu impacto virão dentro de algum tempo.
Para além de produtor de mensagens, sou um leitor compulsivo de blogs. Em média, dedico mais de duas horas diárias a esta actividade, o que se torna quase um "vício". Não sei quanto tempo aguentarei tal ritmo. Mas diz-se: uma coisa de cada vez.
Tem havido uma diminuição da audiência da televisão desde 1999, o que questiona a actividade dos operadores de televisão, um negócio de 300 milhões de euros anuais. A televisão generalista parece ser a principal atingida pela quebra de audiência.
Em proposta recente, Cintra Torres parte da suspeita que a televisão generalista pode já não satisfazer os espectadores. Isto deve-se a uma maior oferta, em que a internet e a televisão por cabo são dois elementos a considerar. A publicidade – número de contactos dos espectadores com os anúncios – é a forma de investimento na televisão generalista. Nesta, os usos tecnológicos do zapping (telecomando que permite a busca de outros canais) e do zipping (gravar passando por cima da publicidade) reduzem tais contactos, o que conduz a uma tentativa de baixa de preços da publicidade que se repercutem na capacidade produtiva dos operadores de televisão (p. 1020).
No texto, Cintra Torres parte de um trabalho célebre, de Nicholas Abercombrie e Brian Longhurst, Audiences, investigadores que consideram haver três paradigmas fundamentais: 1) efeitos/usos e gratificações, 2) incorporação e resistência, 3) espectáculo/performance (p. 1028). Os autores defendem o terceiro paradigma, em que o consumo da televisão se considera de maneira mais positiva, com o consumidor a fazer uma opção, a construção de uma identidade. Assim, a audiência é activa e as audiências tornam-se consumidores. Ao mesmo tempo, a experiência das audiências é cada vez mais fragmentada. O que quer dizer que o indivíduo já não é membro de uma só audiência simples, mas pertence a múltiplas audiências, as audiências difusas.
Seguindo esta linha, Cintra Torres apresenta duas dicotomias: o eu e o eu múltiplo; televisão generalista e televisão temática, em torno do qual desenvolve o resto do seu texto. Por um lado, ele admite a existência de um eu múltiplo e fragmentado, o qual faz parte integrante de múltiplas audiências, difusas, a corpo inteiro (p. 1031). A interacção tem em conta a multiplicidade do eu, que o leva a consumir parcial ou totalmente, conteúdos diversos ou contraditórios. Por outro lado, refere a televisão generalista como a televisão do nós, em que se vê em conjunto, na família, partilhando programas e discutindo-os, a televisão nacional enquanto comunidade imaginada de Benedict Anderson. Já a televisão do eu é aquela que marca a escolha individual, do eu, da massificação de televisores que permite a cada membro de uma família ver televisão em espaços isolados da casa, ou, quando não há essa possibilidade, o recurso ao zapping é uma possibilidade. Assim, Cintra Torres entende estar-se a caminhar no sentido crescente da televisão temática, constituída como alternativa.
Os conteúdos – ainda para a televisão do nós e para as crescentes televisões do eu – serão a resposta ao novo mundo do espectador múltiplo, que se divide em vários eus e procura na televisão generalista e na televisão temática os programas que lhes agradam (p. 1040). Vive-se, em conclusão, uma sociedade individualista e hedonista.
Texto: Eduardo Cintra Torres (2004). “Televisão do nós e televisão do eu – a encruzilhada da televisão generalista”. Análise social, 169: 1011-1042
COMUNIDADES IMAGINADAS
Benedict Anderson propõe, num espírito antropológico, a seguinte definição de nação: comunidade política imaginada – e imaginada inerentemente quer como limitada quer soberana.
É imaginada porque nem mesmo os membros da mais pequena nação conhecerão a maior parte dos seus concidadãos, encontrá-los-ão ou ouvirão falar deles, mesmo que na mente de cada um deles viva a imagem da sua comunhão. Anderson cita Renan: “a essência de uma nação é que todos os indivíduos tenham muitas coisas em comum e também que todas esqueçam as coisas”. Na realidade, todas as comunidades maiores do que as aldeias primitivas do contacto face a face (e mesmo essas) são imaginadas. As comunidades distinguem-se não pela sua falsidade ou aspectos genuínos mas pelo estilo em que são imaginadas.
A nação é imaginada como limitada porque, mesmo a maior, é finita, com fronteiras com outras nações. É imaginada como soberania, a partir das luzes e da revolução de 1789, porque foi destruída a legitimidade da ordem divina, do domínio dinástico hierárquico. Finalmente, é imaginada como comunidade porque, apesar da presente desigualdade e exploração que possa permanecer nelas, a nação é sempre concebida como uma fraternidade [comradeship] profunda e horizontal. Anderson salienta dois sistemas culturais relevantes – a comunidade religiosa e o domínio dinástico.
Livro: Benedict Anderson (1991). Imagined communities. Londres e Nova Iorque: Verso
ANIVERSÁRIO DO BLOG
Faz hoje um ano que se deu o acto fundador do blog Indústrias Culturais, com a mensagem "Este weblog destina-se a apresentar textos sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, videojogos, publicidade)". Tinha-o pensado como elo de ligação aos alunos do mestrado de Ciências da Comunicação e Indústrias Culturais, da Universidade Católica Portuguesa. A falta de tempo (tinha começado outro blog, Teorias da Comunicação, em 12 de Março, ou seja cinco dias antes, este orientado para alunos de licenciatura) impediu-me a continuidade do presente blog. Só nos últimos meses é que escrevo aqui com regularidade.
O escrever neste formato é uma espécie de catarse. Diário íntimo não é, pois está disponível a qualquer pessoa. Estudos elaborados não são, pois estes fazem-se pagar caro e uma mercadoria vendida gratuitamente não tem grande valor. Mas pode escrever-se a dimensão que se entender, mesmo que não haja ninguém a ler ou a criticar. Pela necessidade de escrever, há um esforço de actualidade, de ver como estão as tendências e quais os movimentos do dia ou da semana. Isto não é um jornal, com secções fixas, editorial, artigo de análise e notícias breves, com algumas fotografias, mas obriga a ser flexível e procurar argumentos.
Antes destes dois blogs, escrevera num blog do CIMJ - Centro de Investigação Media e Jornalismo. Em Setembro último, tomei um contacto mais directo com a comunidade "blogueira", no encontro realizado em Braga, na Universidade do Minho. E constatei que existe uma comunidade imaginada, no sentido dado por Benedict Anderson, muito activa em diversos domínios do saber. Jornalismo, rádio, literatura e arte, política, são algumas das áreas em que tenho detectado essa actividade quase frenética de participação. A grande maioria sem esperar o estatuto de blog de referência ou ganhar dinheiro. Como diria John Fiske num texto sobre fãs que ando a trabalhar, aplicando-se a esta matéria: as pessoas que participam nos blogs gastam dinheiro (ou, pelo menos, tempo). E de acordo com o que já aqui escrevi: há um movimento de pioneiros numa nova arte de comunicar. Os seus resultados e o seu impacto virão dentro de algum tempo.
Para além de produtor de mensagens, sou um leitor compulsivo de blogs. Em média, dedico mais de duas horas diárias a esta actividade, o que se torna quase um "vício". Não sei quanto tempo aguentarei tal ritmo. Mas diz-se: uma coisa de cada vez.
terça-feira, 16 de março de 2004
MUTAÇÃO DOS MEDIA
Segundo um estudo divulgado no passado domingo - Project for Excellence in Journalism, editado pela escola de jornalismo da Universidade de Columbia University School of Journalism e patrocinado pela Pew Charitable Trusts -, o jornalismo em 2004 está a passar por uma mudança de era, como quando se inventou o telégrafo e a televisão. As transformações são ainda mais marcantes devido às reduções nos gastos com a produção e à crescente desconfiança do público face aos media. O estudo surge como o primeiro olhar anual sobre o jornalismo electrónico, impresso e em linha.
Como grandes novidades, apresenta-se uma actividade cada vez mais atravessada em simultâneo pela fragmentação e convergência, enquanto se concentram os media em empresas gigantes. Se mais pessoas concorrem para dar estórias, repetidas pelos vários media, há, ao mesmo tempo, quem usurpe o tradicional papel do jornalista como aquele que escolhe as estórias e as transforma em notícias. É o caso dos jornais associados à internet. Ou dos blogs, acrescento eu. O jornalista, diz Tom Rosenstiel, director do projecto, tem agora múltiplos papéis. Os velhos media, como os jornais e a televisão, chegam a audiências mais pequenas, enquanto aumentam os media alternativos, étnicos e em linha. Rosentiel pensa em especial nos jornais de língua castelhana nos Estados Unidos, que triplicaram na última década, ao passo que os de língua inglesa baixam. Além disso, muito do investimento no jornalismo vai para a distribuição do jornalismo e não para a procura de notícias. O estudo apresenta números da realidade americana: há menos 2200 jornalistas nos jornais que em 1990, e as redes de televisão cortaram um terço de correspondentes desde os anos de 1980.
Além disso, tem havido grandes falhas no investimento de novas estratégias para alcançar as suas audiências, no preciso momento em que estas desconfiam crescentemente das notícias. A confiança baixou de 72% em 1985 para 49% em 2002. Segundo a percepção do público, os erros cometidos pelos jornalistas passaram de 13% para 67%. Mas isto são números de sondagens ou inquéritos e a realidade pode estar longe desses números. Pelo menos para Rosenstiel, os jornalistas não estão pessimistas. Ao mesmo tempo, as grandes companhias de media, como a CBS News e o New York Times estão a entrar em novas actividades. Um destes dias, diz Rosenstiel, veremos notícias no metro, a caminho de casa; isto é, quando e onde quisermos.
(esta mensagem seguiu de perto o trabalho de David Bauder, jornalista de televisão da Associated Press, editado ontem, e que se pode ver em newsobserver.com. Também encontrei informação sobre o mesmo estudo no jornal Público, no blog Jornalismo e Comunicação e na newsletter European Journalism Centre, todos com a data de ontem. O texto integral pode ser visto em Jornalism.org).
Segundo um estudo divulgado no passado domingo - Project for Excellence in Journalism, editado pela escola de jornalismo da Universidade de Columbia University School of Journalism e patrocinado pela Pew Charitable Trusts -, o jornalismo em 2004 está a passar por uma mudança de era, como quando se inventou o telégrafo e a televisão. As transformações são ainda mais marcantes devido às reduções nos gastos com a produção e à crescente desconfiança do público face aos media. O estudo surge como o primeiro olhar anual sobre o jornalismo electrónico, impresso e em linha.
Como grandes novidades, apresenta-se uma actividade cada vez mais atravessada em simultâneo pela fragmentação e convergência, enquanto se concentram os media em empresas gigantes. Se mais pessoas concorrem para dar estórias, repetidas pelos vários media, há, ao mesmo tempo, quem usurpe o tradicional papel do jornalista como aquele que escolhe as estórias e as transforma em notícias. É o caso dos jornais associados à internet. Ou dos blogs, acrescento eu. O jornalista, diz Tom Rosenstiel, director do projecto, tem agora múltiplos papéis. Os velhos media, como os jornais e a televisão, chegam a audiências mais pequenas, enquanto aumentam os media alternativos, étnicos e em linha. Rosentiel pensa em especial nos jornais de língua castelhana nos Estados Unidos, que triplicaram na última década, ao passo que os de língua inglesa baixam. Além disso, muito do investimento no jornalismo vai para a distribuição do jornalismo e não para a procura de notícias. O estudo apresenta números da realidade americana: há menos 2200 jornalistas nos jornais que em 1990, e as redes de televisão cortaram um terço de correspondentes desde os anos de 1980.
Além disso, tem havido grandes falhas no investimento de novas estratégias para alcançar as suas audiências, no preciso momento em que estas desconfiam crescentemente das notícias. A confiança baixou de 72% em 1985 para 49% em 2002. Segundo a percepção do público, os erros cometidos pelos jornalistas passaram de 13% para 67%. Mas isto são números de sondagens ou inquéritos e a realidade pode estar longe desses números. Pelo menos para Rosenstiel, os jornalistas não estão pessimistas. Ao mesmo tempo, as grandes companhias de media, como a CBS News e o New York Times estão a entrar em novas actividades. Um destes dias, diz Rosenstiel, veremos notícias no metro, a caminho de casa; isto é, quando e onde quisermos.
(esta mensagem seguiu de perto o trabalho de David Bauder, jornalista de televisão da Associated Press, editado ontem, e que se pode ver em newsobserver.com. Também encontrei informação sobre o mesmo estudo no jornal Público, no blog Jornalismo e Comunicação e na newsletter European Journalism Centre, todos com a data de ontem. O texto integral pode ser visto em Jornalism.org).
segunda-feira, 15 de março de 2004
OS DEZ ANOS DA ENDEMOL
Em entrevista conduzida por Leonor Figueiredo, o Diário de Notícias de hoje conta como a Endemol chegou ao ponto em que está, quando se prepara para comemorar, amanhã, dez anos de actividade. A especialidade da Endemol, mais do que os reality-shows é o horário nobre, assegura Piet Hein, o director da Endemol em Portugal. Neste momento, a Endemol tem cinco programas no ar.
Pela entrevista ficamos a saber que a facturação baixou (de €24 milhões para 14 milhões), acompanhando a descida geral, que a Endemol trabalha com os três operadores de televisão, que o sistema português de avaliação de audiência é parecido com o do resto da Europa, caminhando para uma avaliação ainda mais fina, e que, num pequeno mercado como o nosso, não pode haver mais do que cinco ou seis produtoras independentes de televisão para projectos de horário nobre (prime-time). Criada em 1994 por dois produtores holandeses (John de Mol e Joop van den Ende) e, posteriormente, comprada pela espanhola Telefonica (telecomunicações), a Endemol produziu programas de sucesso como All you need is love, Chuva de estrelas, Perdoa-me, Academia de Estrelas, Médico de família, Acorrentados, Masterplan, Big Brother e Operação Triunfo. Apesar do peso dos reality shows, Piet Hein considera que programas como Chuva de estrelas não se inserem nesta definição.
Para a Endemol, o ideal é ter "toda a audiência" a assistir a um bom programa, aquele que consegue ganhar o público pretendido. E Piet Hein conclui que "Quase todos os nossos projectos são para o horário nobre, quer dizer para todas as idades, regiões e classes sociais". A outra pergunta da jornalista, sobre como ensaiam as ideias para novos programas, o mesmo responsável responde "Na Endemol há um grupo com autonomia e centros de criatividade em cada país. Simultaneamente há uma unidade de criativos na Holanda que fornece ideias e põe essas ideias à disposição de cada empresa". Após falar com os clientes e os anunciantes, a Endemol faz grupos de foco especializados que vêem a gravação da primeira série e dão o feedback de opinião.
Para quem quiser estudar a história, sociologia ou ficção da televisão, nos últimos doze anos e no nosso país, tem de, obrigatoriamente, estudar o fenómeno Endemol!
Em entrevista conduzida por Leonor Figueiredo, o Diário de Notícias de hoje conta como a Endemol chegou ao ponto em que está, quando se prepara para comemorar, amanhã, dez anos de actividade. A especialidade da Endemol, mais do que os reality-shows é o horário nobre, assegura Piet Hein, o director da Endemol em Portugal. Neste momento, a Endemol tem cinco programas no ar.
Pela entrevista ficamos a saber que a facturação baixou (de €24 milhões para 14 milhões), acompanhando a descida geral, que a Endemol trabalha com os três operadores de televisão, que o sistema português de avaliação de audiência é parecido com o do resto da Europa, caminhando para uma avaliação ainda mais fina, e que, num pequeno mercado como o nosso, não pode haver mais do que cinco ou seis produtoras independentes de televisão para projectos de horário nobre (prime-time). Criada em 1994 por dois produtores holandeses (John de Mol e Joop van den Ende) e, posteriormente, comprada pela espanhola Telefonica (telecomunicações), a Endemol produziu programas de sucesso como All you need is love, Chuva de estrelas, Perdoa-me, Academia de Estrelas, Médico de família, Acorrentados, Masterplan, Big Brother e Operação Triunfo. Apesar do peso dos reality shows, Piet Hein considera que programas como Chuva de estrelas não se inserem nesta definição.
Para a Endemol, o ideal é ter "toda a audiência" a assistir a um bom programa, aquele que consegue ganhar o público pretendido. E Piet Hein conclui que "Quase todos os nossos projectos são para o horário nobre, quer dizer para todas as idades, regiões e classes sociais". A outra pergunta da jornalista, sobre como ensaiam as ideias para novos programas, o mesmo responsável responde "Na Endemol há um grupo com autonomia e centros de criatividade em cada país. Simultaneamente há uma unidade de criativos na Holanda que fornece ideias e põe essas ideias à disposição de cada empresa". Após falar com os clientes e os anunciantes, a Endemol faz grupos de foco especializados que vêem a gravação da primeira série e dão o feedback de opinião.
Para quem quiser estudar a história, sociologia ou ficção da televisão, nos últimos doze anos e no nosso país, tem de, obrigatoriamente, estudar o fenómeno Endemol!
domingo, 14 de março de 2004
RÁDIO I
A rádio parece estar na crista da onda em termos de negócios ou projecção deles nos grupos económicos portugueses de media. Depois da compra de três frequências por Nobre Guedes, destinadas a retransmitir estações da Media Capital, o Expresso de ontem tem uma peça intitulada "Impresa estuda rádio", escrita por Pedro Lima. O título puxa um tema que, na peça, é secundário - o que não deixa de ser sintomático do interesse da Impresa.
A notícia informa as contas de 2003 (ainda na forma de previsão) do grupo de Balsemão. Assim, fica-se a saber que os lucros do grupo se situarão entre os 3 e os 4,5 milhões de euros, uma melhoria de 63,5% (presumo que face a contas do ano anterior, embora o texto esteja omisso neste aspecto). Do conjunto de empresas, a SIC foi a estrela (aumento de 11%), seguida das revistas (2,4%) e dos jornais (0,4%). Um número significativo, embora não desagregado, é o das receitas relacionadas com canais temáticos, SMS, produtos editoriais e marketing alternativo (27,6%). O jornalista adianta ainda que o panorama deste ano será também positivo, quase rondando os 10% (acima dos previstos inicialmente de 5%). O Rock in Rio Lisboa e o Euro 2004 serão dois eventos que terão impacto na SIC. Há, ainda, previsão de lançamento de novas revistas, embora nada seja concretizado. E é aqui que aparece a rádio: "A Impresa tem um grupo de trabalho para a rádio, que estuda oportunidades nesta área de negócios".
Depois da investida da Media Capital no território da rádio (via Nobre Guedes) e do interesse demonstrado pelo patrão do mesmo grupo em estender o seu domínio de media à imprensa - tornando-se apetecível a Lusomundo -, será que a Imprensa estuda a aquisição da TSF, da mesma Lusomundo? Pura especulação minha.
Recordo que, na vizinha Espanha, é vulgar haver publicidade, em página inteira nos jornais, das principais cadeias de rádio, como a SER e a DIAL, ou ainda a Kiss FM, estação que também tem um âmbito nacional - demonstração de uma grande concorrência neste medium. Será que a rádio também vai ser um forte negócio no nosso país?
RÁDIO II
Em artigo saído no Público de hoje, Adelino Gomes refere-se ao desaparecimento da estação Luna. Escreve, como eu também já notei neste local, a continuidade da passagem de música clássica nestes últimos dias. Para o jornalista, será que o separador técnico ainda existente serve para "limpar" a casa? E escreve sobre a "apagada, indigente e vil tristeza em que caiu o sonho das rádios locais e regionais". Para ele, uma estação de rádio não é um gira-discos. Curiosamente, nos blogs dedicados à rádio - caso de A Rádio em Portugal -, fazia-se muito recentemente alusão a esta fase menos encantadora da rádio portuguesa.
CINEMA
Duas páginas na secção de cultura do Público de hoje são dedicadas ao cinema. Com o título "O cinema português vai mudar?", o lead fala do cinema ser ou não uma indústria. Curiosamente, um dos intervenientes citados na peça principal fala de "modelo soviético" quando se refere ao fundo de investimento recentemente anunciado (e do qual escrevi neste espaço). A jornalista Joana Gorjão Henriques ouve dois dos principais agentes do cinema: João Mário Grilo, defensor do cinema como arte, e António Pedro Vasconcelos, que tem em mente o cinema como indústria. Exactamente o debate da revista Visão de 12 de Fevereiro último, e que eu destaquei aqui. Novidades nas peças hoje publicadas são a entrevista a André Lange, do Observatório Europeu do Audiovisual, um quadro dos 10 filmes portugueses com maior circulação na Europa entre 1996 e 2002 e a análise da reprodução dos filmes em outros suportes (DVD, vídeo e televisão).
11-M
No suplemento "Domingo" do El Pais de hoje vem um conjunto de imagens dos atentados de 11 de Março em Madrid. Imagens simplesmente aterradoras. Incluindo a fotografia que sofreu retoques quando da sua divulgação, dado o lado macabro - uma mão ou um pé decepado, junto ao carril, numa cena dantesca. E, noutras fotografias, rostos e corpos já sem vida, no meio de escombros. Muito, muito triste.
A rádio parece estar na crista da onda em termos de negócios ou projecção deles nos grupos económicos portugueses de media. Depois da compra de três frequências por Nobre Guedes, destinadas a retransmitir estações da Media Capital, o Expresso de ontem tem uma peça intitulada "Impresa estuda rádio", escrita por Pedro Lima. O título puxa um tema que, na peça, é secundário - o que não deixa de ser sintomático do interesse da Impresa.
A notícia informa as contas de 2003 (ainda na forma de previsão) do grupo de Balsemão. Assim, fica-se a saber que os lucros do grupo se situarão entre os 3 e os 4,5 milhões de euros, uma melhoria de 63,5% (presumo que face a contas do ano anterior, embora o texto esteja omisso neste aspecto). Do conjunto de empresas, a SIC foi a estrela (aumento de 11%), seguida das revistas (2,4%) e dos jornais (0,4%). Um número significativo, embora não desagregado, é o das receitas relacionadas com canais temáticos, SMS, produtos editoriais e marketing alternativo (27,6%). O jornalista adianta ainda que o panorama deste ano será também positivo, quase rondando os 10% (acima dos previstos inicialmente de 5%). O Rock in Rio Lisboa e o Euro 2004 serão dois eventos que terão impacto na SIC. Há, ainda, previsão de lançamento de novas revistas, embora nada seja concretizado. E é aqui que aparece a rádio: "A Impresa tem um grupo de trabalho para a rádio, que estuda oportunidades nesta área de negócios".
Depois da investida da Media Capital no território da rádio (via Nobre Guedes) e do interesse demonstrado pelo patrão do mesmo grupo em estender o seu domínio de media à imprensa - tornando-se apetecível a Lusomundo -, será que a Imprensa estuda a aquisição da TSF, da mesma Lusomundo? Pura especulação minha.
Recordo que, na vizinha Espanha, é vulgar haver publicidade, em página inteira nos jornais, das principais cadeias de rádio, como a SER e a DIAL, ou ainda a Kiss FM, estação que também tem um âmbito nacional - demonstração de uma grande concorrência neste medium. Será que a rádio também vai ser um forte negócio no nosso país?
RÁDIO II
Em artigo saído no Público de hoje, Adelino Gomes refere-se ao desaparecimento da estação Luna. Escreve, como eu também já notei neste local, a continuidade da passagem de música clássica nestes últimos dias. Para o jornalista, será que o separador técnico ainda existente serve para "limpar" a casa? E escreve sobre a "apagada, indigente e vil tristeza em que caiu o sonho das rádios locais e regionais". Para ele, uma estação de rádio não é um gira-discos. Curiosamente, nos blogs dedicados à rádio - caso de A Rádio em Portugal -, fazia-se muito recentemente alusão a esta fase menos encantadora da rádio portuguesa.
CINEMA
Duas páginas na secção de cultura do Público de hoje são dedicadas ao cinema. Com o título "O cinema português vai mudar?", o lead fala do cinema ser ou não uma indústria. Curiosamente, um dos intervenientes citados na peça principal fala de "modelo soviético" quando se refere ao fundo de investimento recentemente anunciado (e do qual escrevi neste espaço). A jornalista Joana Gorjão Henriques ouve dois dos principais agentes do cinema: João Mário Grilo, defensor do cinema como arte, e António Pedro Vasconcelos, que tem em mente o cinema como indústria. Exactamente o debate da revista Visão de 12 de Fevereiro último, e que eu destaquei aqui. Novidades nas peças hoje publicadas são a entrevista a André Lange, do Observatório Europeu do Audiovisual, um quadro dos 10 filmes portugueses com maior circulação na Europa entre 1996 e 2002 e a análise da reprodução dos filmes em outros suportes (DVD, vídeo e televisão).
11-M
No suplemento "Domingo" do El Pais de hoje vem um conjunto de imagens dos atentados de 11 de Março em Madrid. Imagens simplesmente aterradoras. Incluindo a fotografia que sofreu retoques quando da sua divulgação, dado o lado macabro - uma mão ou um pé decepado, junto ao carril, numa cena dantesca. E, noutras fotografias, rostos e corpos já sem vida, no meio de escombros. Muito, muito triste.
sábado, 13 de março de 2004
ROCK IN RIO LISBOA
Já existe publicidade sobre este mega-evento em mupies espalhados pela cidade de Lisboa (na rua e no metro). Quando se acede ao portal Sapo - pelo menos - também surge informação sobre a mesma actividade, com possibilidade de compra de bilhetes pela internet. Hoje, o Expresso traz uma página inteira com o anúncio do festival de música, que decorrerá de 28 de Maio a 6 de Junho (confesso que não sei se, em edições anteriores, o jornal publicitara a mesma ocorrência). Como cabeças de cartaz, anunciam-se Paul McCartney, Peter Gabriel, Guns n' Roses, Metallica, Britney Spears e Sting. Mas outros provocam grande ansiedade junto dos fãs, como os Evanescence, Incubus ou Alejandro Sanz, ou até os DJ Tó Ricciardi e DJ Vibe, por exemplo.
Este será, certamente, um período memorável. Organizado pela Câmara de Lisboa, no Parque da Bela Vista, tem entre os patrocinadores a Sumol, a Sagres e a Vodafone, marcas identificadas com bebidas e telemóveis, produtos muito consumidos pelos jovens - o principal público-alvo (embora os cabeças de cartaz sejam maioritariamente para um público-alvo mais velho). Os espectáculos decorrerão em três espaços em pontos distintos do parque, um deles albergando os DJ. Espaços de alimentação e actividades desportivas radicais (skate, slide e escalada) completam a oferta. Das entidades que apoiam os concertos encontra-se a Plan Childreach, organização de apoio a crianças e para quem reverterão os lucros.
Sobre os fãs
O Rock in Rio Lisboa é um acontecimento muito orientado para os fãs da música rock (e outras expressões musicais, estas a ver e ouvir na tenda Raízes). Os fãs constituem, nesta mensagem, o meu principal objectivo.
O que é ser fã? Extraio algumas ideias de dois textos que estou a trabalhar com objectivos académicos. A literatura sobre o tema associa o fã a imagens do desviante. O fã é interpretado como um potencial fanático. Joli Jenson - em "Fandom as pathology: the consequences of characterization", texto publicado em 1992 no livro editado por Lisa A. Lewis, Adoring audience. Fan culture and popular media - vai além desta definição simplória e mergulha numa explicação social e psicológica do fã na modernidade. Por regra, os fãs são vistos como "eles", os "outros", perigosos e irracionais, em oposição a "nós" ou "pessoas como nós" (os estudantes, os professores, os críticos).
O fã é apresentado como resultado da celebridade. Madonna, há dez anos, ou Britney Spears, hoje, despertam nos fãs uma atenção que atinge a disfunção psicológica - vestir ou usar o tipo de penteado da estrela de rock, consumir a sua bebida preferida ou manifestar gostos semelhantes à vedeta constitui uma espécie de comportamento de imitação. Ser fã é agregar pessoas solitárias, as quais estabelecem uma relação de fantasia com a vedeta que idolatram. O fã é, assim, alguém passivo, que vive a coleccionar os discos, os concertos, as entrevistas, as revistas, ou que adere ao clube de fãs, que sabe tudo sobre a vedeta.
Contudo, diz John Fiske ("The cultural economy of fandom", no mesmo livro), não se pode ver o fã como um indivíduo meramente passivo. Fiske coloca, no centro do seu texto, as ideias de cultura popular e produtividade. Por um lado, a cultura popular distingue-se da cultura industrial (a produzida pelas indústrias culturais), com elaboração de significados de identidade e experiência social. Por outro lado, Fiske considera que, para além da produção e da recepção, o indivíduo (o fã) operacionaliza uma produtividade, interface que medeia entre: 1) o bem cultural produzido industrialmente (narrativa, música, vedeta), e 2) a vida diária do fã. Trata-se de um produtividade semiótica (interna ao indivíduo), diferente da que corresponde a uma partilha face a face dos significados, a produtividade enunciativa. Há, pois, um uso verbal empregue num contexto social e temporal.
John Fiske vai mais longe, ao admitir a existência de uma terceira produtividade, a textual. Nesta, o fã torna-se alguém activo, que produz e faz circular textos (em revistas, por exemplo), alimentado não numa perspectiva do lucro (como o fazem as indústrias culturais) mas como afirmação de uma comunidade. São pessoas com uma devoção específica, com um consumo e afeição que os distingue dos "outros". A cultura dos fãs também se relaciona com os interesses comerciais das indústrias culturais, conclui Fiske. Para as indústrias, os fãs são compradores de estrelas e de movimentos; mas os fãs fornecem tendências e preferências de gosto, que (re)orientam a actividade do mercado.
Assim, os concertos do Rock in Rio vão atrair muitos fãs. Logo no dia inicial de venda de bilhetes os canais de televisão registaram as motivações dos fãs. O que mais me impressionou foi quando uma jovem dizia estar mesmo à espera da vinda daquela banda - como se todo o seu mundo se organizasse em torno do seu concerto de eleição.
Claro que tenho de reconhecer, como faz Joli Jenson no seu texto, que todos nós - mesmo os mais racionais ou "cinzentos" - somos fãs de alguma coisa. Do futebol (e leva-se um cachecol, uma camisola ou outro adereço qualquer), da ciência e literatura (compramos tudo que diga respeito a um autor: os seus livros, as biografias sobre ele, as suas entrevistas, ou a sua assinatura no lançamento de um livro) ou do coleccionismo (selos, borboletas ou outro hóbi qualquer). E "nós", por oposição a "eles", não nos sentimos desviantes, fanáticos ou desequilibrados psicologicamente. Temos gostos normais, gostamos simplesmente do que gostamos.
Já existe publicidade sobre este mega-evento em mupies espalhados pela cidade de Lisboa (na rua e no metro). Quando se acede ao portal Sapo - pelo menos - também surge informação sobre a mesma actividade, com possibilidade de compra de bilhetes pela internet. Hoje, o Expresso traz uma página inteira com o anúncio do festival de música, que decorrerá de 28 de Maio a 6 de Junho (confesso que não sei se, em edições anteriores, o jornal publicitara a mesma ocorrência). Como cabeças de cartaz, anunciam-se Paul McCartney, Peter Gabriel, Guns n' Roses, Metallica, Britney Spears e Sting. Mas outros provocam grande ansiedade junto dos fãs, como os Evanescence, Incubus ou Alejandro Sanz, ou até os DJ Tó Ricciardi e DJ Vibe, por exemplo.
Este será, certamente, um período memorável. Organizado pela Câmara de Lisboa, no Parque da Bela Vista, tem entre os patrocinadores a Sumol, a Sagres e a Vodafone, marcas identificadas com bebidas e telemóveis, produtos muito consumidos pelos jovens - o principal público-alvo (embora os cabeças de cartaz sejam maioritariamente para um público-alvo mais velho). Os espectáculos decorrerão em três espaços em pontos distintos do parque, um deles albergando os DJ. Espaços de alimentação e actividades desportivas radicais (skate, slide e escalada) completam a oferta. Das entidades que apoiam os concertos encontra-se a Plan Childreach, organização de apoio a crianças e para quem reverterão os lucros.
Sobre os fãs
O Rock in Rio Lisboa é um acontecimento muito orientado para os fãs da música rock (e outras expressões musicais, estas a ver e ouvir na tenda Raízes). Os fãs constituem, nesta mensagem, o meu principal objectivo.
O que é ser fã? Extraio algumas ideias de dois textos que estou a trabalhar com objectivos académicos. A literatura sobre o tema associa o fã a imagens do desviante. O fã é interpretado como um potencial fanático. Joli Jenson - em "Fandom as pathology: the consequences of characterization", texto publicado em 1992 no livro editado por Lisa A. Lewis, Adoring audience. Fan culture and popular media - vai além desta definição simplória e mergulha numa explicação social e psicológica do fã na modernidade. Por regra, os fãs são vistos como "eles", os "outros", perigosos e irracionais, em oposição a "nós" ou "pessoas como nós" (os estudantes, os professores, os críticos).
O fã é apresentado como resultado da celebridade. Madonna, há dez anos, ou Britney Spears, hoje, despertam nos fãs uma atenção que atinge a disfunção psicológica - vestir ou usar o tipo de penteado da estrela de rock, consumir a sua bebida preferida ou manifestar gostos semelhantes à vedeta constitui uma espécie de comportamento de imitação. Ser fã é agregar pessoas solitárias, as quais estabelecem uma relação de fantasia com a vedeta que idolatram. O fã é, assim, alguém passivo, que vive a coleccionar os discos, os concertos, as entrevistas, as revistas, ou que adere ao clube de fãs, que sabe tudo sobre a vedeta.
Contudo, diz John Fiske ("The cultural economy of fandom", no mesmo livro), não se pode ver o fã como um indivíduo meramente passivo. Fiske coloca, no centro do seu texto, as ideias de cultura popular e produtividade. Por um lado, a cultura popular distingue-se da cultura industrial (a produzida pelas indústrias culturais), com elaboração de significados de identidade e experiência social. Por outro lado, Fiske considera que, para além da produção e da recepção, o indivíduo (o fã) operacionaliza uma produtividade, interface que medeia entre: 1) o bem cultural produzido industrialmente (narrativa, música, vedeta), e 2) a vida diária do fã. Trata-se de um produtividade semiótica (interna ao indivíduo), diferente da que corresponde a uma partilha face a face dos significados, a produtividade enunciativa. Há, pois, um uso verbal empregue num contexto social e temporal.
John Fiske vai mais longe, ao admitir a existência de uma terceira produtividade, a textual. Nesta, o fã torna-se alguém activo, que produz e faz circular textos (em revistas, por exemplo), alimentado não numa perspectiva do lucro (como o fazem as indústrias culturais) mas como afirmação de uma comunidade. São pessoas com uma devoção específica, com um consumo e afeição que os distingue dos "outros". A cultura dos fãs também se relaciona com os interesses comerciais das indústrias culturais, conclui Fiske. Para as indústrias, os fãs são compradores de estrelas e de movimentos; mas os fãs fornecem tendências e preferências de gosto, que (re)orientam a actividade do mercado.
Assim, os concertos do Rock in Rio vão atrair muitos fãs. Logo no dia inicial de venda de bilhetes os canais de televisão registaram as motivações dos fãs. O que mais me impressionou foi quando uma jovem dizia estar mesmo à espera da vinda daquela banda - como se todo o seu mundo se organizasse em torno do seu concerto de eleição.
Claro que tenho de reconhecer, como faz Joli Jenson no seu texto, que todos nós - mesmo os mais racionais ou "cinzentos" - somos fãs de alguma coisa. Do futebol (e leva-se um cachecol, uma camisola ou outro adereço qualquer), da ciência e literatura (compramos tudo que diga respeito a um autor: os seus livros, as biografias sobre ele, as suas entrevistas, ou a sua assinatura no lançamento de um livro) ou do coleccionismo (selos, borboletas ou outro hóbi qualquer). E "nós", por oposição a "eles", não nos sentimos desviantes, fanáticos ou desequilibrados psicologicamente. Temos gostos normais, gostamos simplesmente do que gostamos.
sexta-feira, 12 de março de 2004
JORNALISMO DE BOAS NOTÍCIAS
"Todas as notícias são boas para imprimir", eis a legenda - numa tradução muito livre - do New York Times. Assim começava um artigo do Independent, de 2 de Março último, que recupero agora. Num momento de profunda tristeza pelo que ocorreu ontem em Madrid.
Dizia a notícia que um editor inglês só publicaria notícias positivas. O seu nome é John Mappin, de 39 anos, que possui três jornais em Londres: "Estamos interessados em notícias positivas e que ajudem". Chama-se a isto um olhar excêntrico, dado os jornalistas - e se calhar as audiências, pelo menos as voyeuristas - estarem acostumados(as) a associar notícias com desastres, coisas mal feitas e traições.
Premonitória [no caso da tragédia de ontem em Madrid] é a sua afirmação: "Se alguém tem uma dieta de [notícias] negativas, de horror, com bombas e mortes, é preciso fazer alguma coisa [com essa pessoa]. Não tenho a certeza do que se pode fazer, mas tem de se fazer". Por isso, Mappin ignora julgamentos, estórias de crimes e outras que tragam medo e isolamento social. Em vez disso, Mappin prefere, como enunciou ele próprio: "contos do triunfo sobre a adversidade". Suponho que isso se traduza em publicitar casamentos de pessoas conhecidas ou menos conhecidas, as festas, a inauguração da fonte ou do estádio local, a criação de novos empregos, a vitória individual sobre um cancro ou outra doença temível. Ou seja, um mundo com uma tonalidade mais cor-de-rosa, que não aterrorize mais quem já ande cheio de medo. Mas está a concorrer com as revistas românticas (ou cor-de-rosa) e as telenovelas, o que pode inviabilizar o seu nicho de mercado.
Mappin é proprietário, desde há cinco anos do Independent London Local Newspapers (o Independent que eu cito apressou-se a dizer não haver qualquer relação entre ambos). Em Dezembro, Mappin publicou um editorial na primeira página intitulado "Caros amigos". A ideia, diz o petulante jornalista do Independent, não é nova. Já Martyn News, que trabalhara na BBC, queixava-se do número insuficiente de boas notícias. E Mappin associa boas notícias com publicidade. Esta sente-se melhor se, ao lado, houver uma boa notícia. Que me lembre, a publicidade é sempre do domínio da informação positiva. Como o é a informação produzida pelas empresas sobre elas mesmas.
O mesmo sarcástico jornalista dá conta das tendências religiosas de John Mappin: ele pertence à Igreja da Cientologia, a mesma de Tom Cruise, Nicole Kidman e John Travolta, mas não é um seu porta-voz. Aliás, ele frisa que se casou com uma muçulmana do Casaquistão, no dia 11 de Setembro de 2001, duas horas antes da destruição das torres de Nova Iorque.
Coincidências!
ESPECTADORES DE CINEMA
Alguém tem de ceder foi o filme mais visto na semana de 26 de Fevereiro a 3 de Março último, segundo o sítio do ICAM, como resultado da informatização das bilheteiras dos cinemas, processo pensado em 1999 e agora em fase de conclusão.
O Diário de Notícias, na sua edição de hoje, destaca o investimento de cem mil euros na informatização das bilheteiras. A apresentação do sistema foi feita ontem na Cinemateca, com a presença de responsáveis governamentais e dos distribuidores e exibidores. Ainda segundo a notícia, assinada por Eurico de Barros, o sistema está já a funcionar em 409 salas, num total de perto de 500 em todo o país. A tabela dos "20 mais vistos" inclui informação do número de espectadores e das receitas acumuladas pelos filmes desde o dia da estreia. Com esta medida, é possível haver fiabilidade nos números de espectadores, filmes e resultados de bilheteira.
"Todas as notícias são boas para imprimir", eis a legenda - numa tradução muito livre - do New York Times. Assim começava um artigo do Independent, de 2 de Março último, que recupero agora. Num momento de profunda tristeza pelo que ocorreu ontem em Madrid.
Dizia a notícia que um editor inglês só publicaria notícias positivas. O seu nome é John Mappin, de 39 anos, que possui três jornais em Londres: "Estamos interessados em notícias positivas e que ajudem". Chama-se a isto um olhar excêntrico, dado os jornalistas - e se calhar as audiências, pelo menos as voyeuristas - estarem acostumados(as) a associar notícias com desastres, coisas mal feitas e traições.
Premonitória [no caso da tragédia de ontem em Madrid] é a sua afirmação: "Se alguém tem uma dieta de [notícias] negativas, de horror, com bombas e mortes, é preciso fazer alguma coisa [com essa pessoa]. Não tenho a certeza do que se pode fazer, mas tem de se fazer". Por isso, Mappin ignora julgamentos, estórias de crimes e outras que tragam medo e isolamento social. Em vez disso, Mappin prefere, como enunciou ele próprio: "contos do triunfo sobre a adversidade". Suponho que isso se traduza em publicitar casamentos de pessoas conhecidas ou menos conhecidas, as festas, a inauguração da fonte ou do estádio local, a criação de novos empregos, a vitória individual sobre um cancro ou outra doença temível. Ou seja, um mundo com uma tonalidade mais cor-de-rosa, que não aterrorize mais quem já ande cheio de medo. Mas está a concorrer com as revistas românticas (ou cor-de-rosa) e as telenovelas, o que pode inviabilizar o seu nicho de mercado.
Mappin é proprietário, desde há cinco anos do Independent London Local Newspapers (o Independent que eu cito apressou-se a dizer não haver qualquer relação entre ambos). Em Dezembro, Mappin publicou um editorial na primeira página intitulado "Caros amigos". A ideia, diz o petulante jornalista do Independent, não é nova. Já Martyn News, que trabalhara na BBC, queixava-se do número insuficiente de boas notícias. E Mappin associa boas notícias com publicidade. Esta sente-se melhor se, ao lado, houver uma boa notícia. Que me lembre, a publicidade é sempre do domínio da informação positiva. Como o é a informação produzida pelas empresas sobre elas mesmas.
O mesmo sarcástico jornalista dá conta das tendências religiosas de John Mappin: ele pertence à Igreja da Cientologia, a mesma de Tom Cruise, Nicole Kidman e John Travolta, mas não é um seu porta-voz. Aliás, ele frisa que se casou com uma muçulmana do Casaquistão, no dia 11 de Setembro de 2001, duas horas antes da destruição das torres de Nova Iorque.
Coincidências!
ESPECTADORES DE CINEMA
Alguém tem de ceder foi o filme mais visto na semana de 26 de Fevereiro a 3 de Março último, segundo o sítio do ICAM, como resultado da informatização das bilheteiras dos cinemas, processo pensado em 1999 e agora em fase de conclusão.
O Diário de Notícias, na sua edição de hoje, destaca o investimento de cem mil euros na informatização das bilheteiras. A apresentação do sistema foi feita ontem na Cinemateca, com a presença de responsáveis governamentais e dos distribuidores e exibidores. Ainda segundo a notícia, assinada por Eurico de Barros, o sistema está já a funcionar em 409 salas, num total de perto de 500 em todo o país. A tabela dos "20 mais vistos" inclui informação do número de espectadores e das receitas acumuladas pelos filmes desde o dia da estreia. Com esta medida, é possível haver fiabilidade nos números de espectadores, filmes e resultados de bilheteira.
quinta-feira, 11 de março de 2004
INTOLERÂNCIA
O que se passou hoje em Madrid, a setecentos quilómetros de Lisboa, é da maior intolerância. Nenhuma causa do mundo é ganha com crimes hediondos como o praticado esta manhã bem cedo. O 11-M ocorre exactamente dois anos e meio depois do 11-S, com a guerra do Iraque pelo meio. Recordo-me de, numa muito curta passagem por Nova Iorque, mês e meio depois dos atentados no World Trade Center, eu ter passado perto das torres destruídas de Manhattan. Ainda cheirava a queimado e saía fumo do solo esventrado. Centenas de pessoas passavam, junto dos gradeamentos que demarcavam a zona arrasada, em silêncio ou depositando flores. Por todo o lado, viam-se bandeiras americanas: nas casas, nos automóveis, nas lapelas dos casacos das pessoas. Senti uma enorme emoção, nesse momento.
A RETOMA DOS MEDIA
O Diário Económico dedica, na sua edição de hoje, três páginas aos media. O jornal considera que "a retoma do mercado publicitário e as melhores condições da economia justificam as novas operações de dispersão de capital". Paula Alexandra Cordeiro, nos seus artigos, aponta a próxima admissão da Media Capital à bolsa de valores Euronext Lisboa (Abril), o possível regresso da Investec (de Paulo Fernandes, empresa que detém as publicações Record, Correio da Manhã, Jornal de Negócios, Máxima e TV Guia, entre outras) e os ganhos da Impresa (de Pinto Balsemão, que já ganhou 15% este ano).
Interessante é a entrevista dada por Paes do Amaral, da Media Capital (depois da importante entrevista ao Expresso, no sábado). Por ela, fica-se a saber que o grupo poderá regressar ao mundo da imprensa. Talvez a Lusomundo, encara o homem forte da Media Capital. E destaca a questão da concentração, considerando que a Impresa e a Cofina já têm uma posição muito forte na imprensa. Uma das soluções passaria por a Lusomundo "vender os seus activos, e vários grupos comprarem. É uma hipótese que resolvia o problema da concentração". Sobre a rádio, refere apenas o desenvolvimento da rádio desporto. Também importante é a projecção que faz relativamente às receitas da empresa em 2004 - se entidades que estudam a evolução do mercado, como a Zenith Media e o Obercom, apontam para um crescimento de 6%, Paes do Amaral prevê um estímulo maior, devido ao Euro 2004 e à maior força da economia face a 2003.
Também de publicidade fala o dossier do Diário Económico. O crescimento previsto será num intervalo entre 5 e 8%. A retoma e o Euro 2004 são as duas forças motrizes desta evolução, segundo o presidente da agência Tempo OMD, Luís Mergulhão. Já em 2003, o mercado publicitário cresceu 3,6%. A televisão por cabo e os três canais generalistas foram os meios de maior aceleração.
O que se passou hoje em Madrid, a setecentos quilómetros de Lisboa, é da maior intolerância. Nenhuma causa do mundo é ganha com crimes hediondos como o praticado esta manhã bem cedo. O 11-M ocorre exactamente dois anos e meio depois do 11-S, com a guerra do Iraque pelo meio. Recordo-me de, numa muito curta passagem por Nova Iorque, mês e meio depois dos atentados no World Trade Center, eu ter passado perto das torres destruídas de Manhattan. Ainda cheirava a queimado e saía fumo do solo esventrado. Centenas de pessoas passavam, junto dos gradeamentos que demarcavam a zona arrasada, em silêncio ou depositando flores. Por todo o lado, viam-se bandeiras americanas: nas casas, nos automóveis, nas lapelas dos casacos das pessoas. Senti uma enorme emoção, nesse momento.
A RETOMA DOS MEDIA
O Diário Económico dedica, na sua edição de hoje, três páginas aos media. O jornal considera que "a retoma do mercado publicitário e as melhores condições da economia justificam as novas operações de dispersão de capital". Paula Alexandra Cordeiro, nos seus artigos, aponta a próxima admissão da Media Capital à bolsa de valores Euronext Lisboa (Abril), o possível regresso da Investec (de Paulo Fernandes, empresa que detém as publicações Record, Correio da Manhã, Jornal de Negócios, Máxima e TV Guia, entre outras) e os ganhos da Impresa (de Pinto Balsemão, que já ganhou 15% este ano).
Interessante é a entrevista dada por Paes do Amaral, da Media Capital (depois da importante entrevista ao Expresso, no sábado). Por ela, fica-se a saber que o grupo poderá regressar ao mundo da imprensa. Talvez a Lusomundo, encara o homem forte da Media Capital. E destaca a questão da concentração, considerando que a Impresa e a Cofina já têm uma posição muito forte na imprensa. Uma das soluções passaria por a Lusomundo "vender os seus activos, e vários grupos comprarem. É uma hipótese que resolvia o problema da concentração". Sobre a rádio, refere apenas o desenvolvimento da rádio desporto. Também importante é a projecção que faz relativamente às receitas da empresa em 2004 - se entidades que estudam a evolução do mercado, como a Zenith Media e o Obercom, apontam para um crescimento de 6%, Paes do Amaral prevê um estímulo maior, devido ao Euro 2004 e à maior força da economia face a 2003.
Também de publicidade fala o dossier do Diário Económico. O crescimento previsto será num intervalo entre 5 e 8%. A retoma e o Euro 2004 são as duas forças motrizes desta evolução, segundo o presidente da agência Tempo OMD, Luís Mergulhão. Já em 2003, o mercado publicitário cresceu 3,6%. A televisão por cabo e os três canais generalistas foram os meios de maior aceleração.
quarta-feira, 10 de março de 2004
NOVAS MEDIDAS DE INCENTIVOS AOS MEDIA REGIONAIS
[Nota prévia: trata-se de informação veiculada pela MediaXXI, de que sou director editorial, pelo que não posso promover a mesma revista. Para evitar esconder interesses, declaro a minha ligação]
Estão previstas novas medidas de incentivos aos media regionais. Assim, para os jornais prevê-se o apoio de marketing em termos de distribuição, discriminação positiva de incentivos para órgãos de comunicação sediados em regiões mais desfavorecidas, apoios aos jornais on-line, aumento da expedição paga (de 15% para 20%) e aumento do período de renovação das assinaturas na imprensa das comunidades portuguesas (de 9 para 12 meses).
No tocante à rádio, será facilitada a transmissão de alvarás, o fomento de grupos municipais de rádio (temáticos e em concelhos limítrofes), a contratação de jornalistas e outros profissionais parcialmente pagos pelo Estado e a redução da obrigatoriedade de emissão das actuais 24 horas para 16 horas.
CLÁSSICA FM
A rádio Luna acabou os seus serviços no fim-de-semana. Contudo, a emitir na mesma frequência e também a partir do Montijo [o que significa o mesmo estúdio e material de emissão], está a funcionar a Clássica FM, com música clássica. Será para continuar?
[Nota prévia: trata-se de informação veiculada pela MediaXXI, de que sou director editorial, pelo que não posso promover a mesma revista. Para evitar esconder interesses, declaro a minha ligação]
Estão previstas novas medidas de incentivos aos media regionais. Assim, para os jornais prevê-se o apoio de marketing em termos de distribuição, discriminação positiva de incentivos para órgãos de comunicação sediados em regiões mais desfavorecidas, apoios aos jornais on-line, aumento da expedição paga (de 15% para 20%) e aumento do período de renovação das assinaturas na imprensa das comunidades portuguesas (de 9 para 12 meses).
No tocante à rádio, será facilitada a transmissão de alvarás, o fomento de grupos municipais de rádio (temáticos e em concelhos limítrofes), a contratação de jornalistas e outros profissionais parcialmente pagos pelo Estado e a redução da obrigatoriedade de emissão das actuais 24 horas para 16 horas.
CLÁSSICA FM
A rádio Luna acabou os seus serviços no fim-de-semana. Contudo, a emitir na mesma frequência e também a partir do Montijo [o que significa o mesmo estúdio e material de emissão], está a funcionar a Clássica FM, com música clássica. Será para continuar?
terça-feira, 9 de março de 2004
EFEMÉRIDE
CEM ANOS DA CONFERÊNCIA DE ALBERTO BESSA SOBRE A HISTÓRIA DO JORNALISMO
Faz hoje cem anos que o jornalista Alberto Bessa proferiu uma comunicação sobre a história do jornalismo, passada ainda em 1904 a livro. Na realidade, foi a 9 de Março de 1904, que Alberto Bessa apresentou uma comunicação por altura da inauguração da Sociedade Literária Almeida Garrett, em Lisboa, grémio de escritores, literatos e artistas.
Do acontecimento, encontra-se eco no Diário de Notícias, de 10 de Março de 1904, na segunda página: “[O] curioso trabalho de Alberto Bessa manifesta não só grande investigação de notas e de factos notáveis no jornalismo de quase todo o mundo, como também um grande estudo sobre a especialidade, como se pode verificar do extracto que publicamos”. O Diário de Notícias era o jornal onde Bessa trabalhava.
Mais à frente na mesma notícia: “A imprensa, sendo, como é, a palavra organizada em instituição, tornada eco da multidão anónima, obscura, desvalida, paciente, irresoluta e murmurante, servindo, com a sua voz, de válvula de segurança providencial, e um grande bem, apesar de todos os defeitos que queiram encontrar-lhe e de todas as manchas que lhe possam ser notadas. […] O jornalista é o factor subjectivo e pessoal, moral e responsável do exercício da imprensa. De coragem, independência e civismo deve ser formado o seu carácter: de penetração, lucidez e imparcialidade feito o seu critério; de talento, entusiasmo e amor formada a sua alma, votada a todas as concepções mais elevadas da arte e da beleza, na justiça, na verdade e no bem”.
Alberto Bessa, para além do Diário de Notícias, trabalhou nos jornais O Século e O Diário, antes de ingressar em O Jornal do Comércio e das Colónias, no ano da implantação da República. Neste último jornal chegou a director. Bessa foi também um grande dinamizador do movimento associativo dos jornalistas, sendo um dos fundadores da Associação da Imprensa Portuguesa. Num outro local, desenvolverei este tema.
Livro: Alberto Bessa (1904). O jornalismo. Esboço histórico da sua origem e desenvolvimento até aos nossos dias. Lisboa: Viúva Tavares Cardoso
CEM ANOS DA CONFERÊNCIA DE ALBERTO BESSA SOBRE A HISTÓRIA DO JORNALISMO
Faz hoje cem anos que o jornalista Alberto Bessa proferiu uma comunicação sobre a história do jornalismo, passada ainda em 1904 a livro. Na realidade, foi a 9 de Março de 1904, que Alberto Bessa apresentou uma comunicação por altura da inauguração da Sociedade Literária Almeida Garrett, em Lisboa, grémio de escritores, literatos e artistas.
Do acontecimento, encontra-se eco no Diário de Notícias, de 10 de Março de 1904, na segunda página: “[O] curioso trabalho de Alberto Bessa manifesta não só grande investigação de notas e de factos notáveis no jornalismo de quase todo o mundo, como também um grande estudo sobre a especialidade, como se pode verificar do extracto que publicamos”. O Diário de Notícias era o jornal onde Bessa trabalhava.
Mais à frente na mesma notícia: “A imprensa, sendo, como é, a palavra organizada em instituição, tornada eco da multidão anónima, obscura, desvalida, paciente, irresoluta e murmurante, servindo, com a sua voz, de válvula de segurança providencial, e um grande bem, apesar de todos os defeitos que queiram encontrar-lhe e de todas as manchas que lhe possam ser notadas. […] O jornalista é o factor subjectivo e pessoal, moral e responsável do exercício da imprensa. De coragem, independência e civismo deve ser formado o seu carácter: de penetração, lucidez e imparcialidade feito o seu critério; de talento, entusiasmo e amor formada a sua alma, votada a todas as concepções mais elevadas da arte e da beleza, na justiça, na verdade e no bem”.
Alberto Bessa, para além do Diário de Notícias, trabalhou nos jornais O Século e O Diário, antes de ingressar em O Jornal do Comércio e das Colónias, no ano da implantação da República. Neste último jornal chegou a director. Bessa foi também um grande dinamizador do movimento associativo dos jornalistas, sendo um dos fundadores da Associação da Imprensa Portuguesa. Num outro local, desenvolverei este tema.
Livro: Alberto Bessa (1904). O jornalismo. Esboço histórico da sua origem e desenvolvimento até aos nossos dias. Lisboa: Viúva Tavares Cardoso
segunda-feira, 8 de março de 2004
Defendida tese de mestrado sobre ficção nacional (telenovelas)
Catarina Burnay, professora da Universidade Católica Portuguesa, defendeu hoje de manhã uma tese de mestrado sobre televisão, naquela universidade, intitulada "Ficção nacional: a emergência de um «novo» paradigma televisivo". O período de estudo foi o ano televisivo de 2000-1 e a telenovela investigada foi "A indomada". Para ela, o género telenovela produziu profundas alterações quer a nível da produção de televisão quer em termos de recepção.
A novel mestre (passou com a nota de Muito Bom) analisou a mudança de paradigma na audiência em termos de conteúdos ficcionais, quando as(os) telespectadoras(es) passaram a apreciar mais as telenovelas de produção nacional em detrimento das de origem brasileira. Antes de detalhar o seu estudo empírico, a autora analisou o fenómeno telenovela, desde Gabriela, cravo e canela (1977), na RTP - em que todo o país paralisou, obrigando mesmo ao adiamento de sessões parlamentares -, ao acordo escrito, em 1995, entre a SIC e a TV Globo para passagem em exclusivo no novo canal privado português desse formato, até à viragem entabulada pela TVI, que, na passagem da década, apostou na produção de telenovelas originais portuguesas. Tudo isto com o crescente clima de concorrência, com contra-programação e auto-promoção. Para Catarina Burnay, o novo paradigma televisivo, na TVI, deveu-se a uma associação de informação (de infotainment, com informação e entretenimento juntos), entretenimento e ficção nacional. Aqui o destaque iria para o trabalho da produtora NBP (de Nicolau Breyner).
Qual a base teórica da tese hoje defendida? Os estudos da escola de Frankfurt (indústria cultural), os cultural studies de Stuart Hall (com o seu texto fundador de 1973 de codificação/decodificação, agora disponível em português), bem como estudos da América Latina (Martín-Barbero e Maria Imacolata Lopes). Para além de uma análise quantitativa (1999-2002), a autora fez uma análise qualitativa, com entrevistas semi-directivas, em termos de produção (entrevistou responsáveis da TVI e da NBP) e em termos de recepção (21 entrevistas a consumidores de televisão). Quanto a conceitos de recepção operou quatro: quotidiano familiar/contexto de recepção, subjectividade/objectividade, género ficcional, produção e técnica.
Entre outras conclusões, o trabalho de Catarina Burnay aponta os seguintes sobre a produção ficcional portuguesa: boa representação da realidade nacional, técnica mais evoluida (se comparada com uma vintena de anos anteriores ao período estudado, em argumentos, actores e condução destes, e elementos técnicos empregues), representação de uma realidade menos violenta que a retratada nas telenovelas brasileiras, a ficção como agente socializante (no sentido de comunidades interpretativas ou imaginárias) e reconciliação do público português com o género.
Em suma, trata-se de um trabalho pioneiro em estudos de recepção de programas de ficção nacional televisiva, o que é de elogiar, estudar e continuar, no tocante à área das culturas do quotidiano, desenvolvida pela professora Isabel Ferin (Un. de Coimbra), aliás orientadora da tese de Catarina Burnay.
A novel mestre (passou com a nota de Muito Bom) analisou a mudança de paradigma na audiência em termos de conteúdos ficcionais, quando as(os) telespectadoras(es) passaram a apreciar mais as telenovelas de produção nacional em detrimento das de origem brasileira. Antes de detalhar o seu estudo empírico, a autora analisou o fenómeno telenovela, desde Gabriela, cravo e canela (1977), na RTP - em que todo o país paralisou, obrigando mesmo ao adiamento de sessões parlamentares -, ao acordo escrito, em 1995, entre a SIC e a TV Globo para passagem em exclusivo no novo canal privado português desse formato, até à viragem entabulada pela TVI, que, na passagem da década, apostou na produção de telenovelas originais portuguesas. Tudo isto com o crescente clima de concorrência, com contra-programação e auto-promoção. Para Catarina Burnay, o novo paradigma televisivo, na TVI, deveu-se a uma associação de informação (de infotainment, com informação e entretenimento juntos), entretenimento e ficção nacional. Aqui o destaque iria para o trabalho da produtora NBP (de Nicolau Breyner).
Qual a base teórica da tese hoje defendida? Os estudos da escola de Frankfurt (indústria cultural), os cultural studies de Stuart Hall (com o seu texto fundador de 1973 de codificação/decodificação, agora disponível em português), bem como estudos da América Latina (Martín-Barbero e Maria Imacolata Lopes). Para além de uma análise quantitativa (1999-2002), a autora fez uma análise qualitativa, com entrevistas semi-directivas, em termos de produção (entrevistou responsáveis da TVI e da NBP) e em termos de recepção (21 entrevistas a consumidores de televisão). Quanto a conceitos de recepção operou quatro: quotidiano familiar/contexto de recepção, subjectividade/objectividade, género ficcional, produção e técnica.
Entre outras conclusões, o trabalho de Catarina Burnay aponta os seguintes sobre a produção ficcional portuguesa: boa representação da realidade nacional, técnica mais evoluida (se comparada com uma vintena de anos anteriores ao período estudado, em argumentos, actores e condução destes, e elementos técnicos empregues), representação de uma realidade menos violenta que a retratada nas telenovelas brasileiras, a ficção como agente socializante (no sentido de comunidades interpretativas ou imaginárias) e reconciliação do público português com o género.
Em suma, trata-se de um trabalho pioneiro em estudos de recepção de programas de ficção nacional televisiva, o que é de elogiar, estudar e continuar, no tocante à área das culturas do quotidiano, desenvolvida pela professora Isabel Ferin (Un. de Coimbra), aliás orientadora da tese de Catarina Burnay.
domingo, 7 de março de 2004
PROGRAMAÇÃO TELEVISIVA NA RTP
A notícia já veio nos jornais durante a semana passada. Retenho algumas ideias do que li do Público, sobre as apostas de programação futura da RTP.
Nos campos da ficção e do documentário, incentivar-se-á a produção de originais portugueses. Anuncia-se o início das filmagens da série de ficção histórica "A Ferreirinha" (casa de vinhos do Douro), a adaptação para ficção de textos literários de autores nacionais de nomeada, uma série longa de 60 episódios, "O segredo" (vida de emigrantes portugueses no Brasil), e uma série de ficção juvenil de temática actual. No capítulo de documentários, passarão séries sobre a história recente de Portugal, retratos da sociedade contemporânea e biografias. Há ainda a aposta em magazines de saúde, língua portuguesa, defesa do ambiente e artes e espectáculos, nomeadamente.
Mais horas em directo e maior diversidade em antena são outras ideias-chave na nova programação da RTP, que muda a sua imagem gráfica (televisão e rádio) e transfere as suas instalações para Cabo Ruivo até final do mês. No Telejornal desaparece a faixa de rodapé onde passam as notícias, que distrai a atenção dos espectadores, e passa a haver um alinhamento sequencial. Finalmente, espera-se para breve a conclusão de negociações para o canal Memória na plataforma por cabo.
CATALÀ-ROCA: BARCELONA/MADRID - AÑOS CINCUENTA
Inaugurou anteontem a exposição com este nome na Galeria Municipal da Mitra. Do catálogo que a acompanha, lê-se que se encontram "fotografias suas numa infinidade de livros, lugares e publicações de todo o género, que cedo o tornaram uma garantia de prestígio e um plhar perdurável sobre a realidade. Depressa travou amizade com os pintores Salvador Dalí ou Joan Miró", que vemos, aliás, no conjunto inicial das fotografias da exposição. Català-Roca ganhou, desde os anos de 1940, uma aura literária, vanguardista e artística. Seria o caso de dois livros que publicou em 1954, dedicados a Madrid e a Barcelona.
Na exposição vêem-se rostos de gente conhecida (como os citados Dalí e Miró) ou anónima, na rua, em locais urbanos ou nos arrabaldes das duas cidades, arquitectura, as sombras, os contra-luzes e os claros-escuros com motivos da cidade (o metro, as bolhas de sabão, a venda de pequenos objectos, a neve nos automóveis, a ermida coberta de lápides de mármore, o carrossel, o gato no alfarrabista, os carros eléctricos de Barcelona - mais parecidos com os do Porto que os de Lisboa). Ou a publicidade com o polícia a cavalo, como na imagem que acompanha este post. Em mais de cem imagens.
Català-Roca nasceu em Tarragona (1922) e faleceu em Barcelona (1998, exactamente a 5 de Março). A sua exposição é unicamente com fotografias a preto e branco, que abandonaria definitivamente em 1973. Sete anos depois, realiza o filme Femme/woman. A tapestry by Joan Miró, recebendo um prémio (The Golden Eagle). Em 1995, publica o livro Foto-grafias A-cromáticas. Dois anos depois, tem lugar uma exposição sobre toda a sua obra [elementos retirados do catálogo. Uma iniciativa do Instituto Cervantes de Lisboa e da Câmara Municipal de Lisboa].
A notícia já veio nos jornais durante a semana passada. Retenho algumas ideias do que li do Público, sobre as apostas de programação futura da RTP.
Nos campos da ficção e do documentário, incentivar-se-á a produção de originais portugueses. Anuncia-se o início das filmagens da série de ficção histórica "A Ferreirinha" (casa de vinhos do Douro), a adaptação para ficção de textos literários de autores nacionais de nomeada, uma série longa de 60 episódios, "O segredo" (vida de emigrantes portugueses no Brasil), e uma série de ficção juvenil de temática actual. No capítulo de documentários, passarão séries sobre a história recente de Portugal, retratos da sociedade contemporânea e biografias. Há ainda a aposta em magazines de saúde, língua portuguesa, defesa do ambiente e artes e espectáculos, nomeadamente.
Mais horas em directo e maior diversidade em antena são outras ideias-chave na nova programação da RTP, que muda a sua imagem gráfica (televisão e rádio) e transfere as suas instalações para Cabo Ruivo até final do mês. No Telejornal desaparece a faixa de rodapé onde passam as notícias, que distrai a atenção dos espectadores, e passa a haver um alinhamento sequencial. Finalmente, espera-se para breve a conclusão de negociações para o canal Memória na plataforma por cabo.
CATALÀ-ROCA: BARCELONA/MADRID - AÑOS CINCUENTA
Inaugurou anteontem a exposição com este nome na Galeria Municipal da Mitra. Do catálogo que a acompanha, lê-se que se encontram "fotografias suas numa infinidade de livros, lugares e publicações de todo o género, que cedo o tornaram uma garantia de prestígio e um plhar perdurável sobre a realidade. Depressa travou amizade com os pintores Salvador Dalí ou Joan Miró", que vemos, aliás, no conjunto inicial das fotografias da exposição. Català-Roca ganhou, desde os anos de 1940, uma aura literária, vanguardista e artística. Seria o caso de dois livros que publicou em 1954, dedicados a Madrid e a Barcelona.
Na exposição vêem-se rostos de gente conhecida (como os citados Dalí e Miró) ou anónima, na rua, em locais urbanos ou nos arrabaldes das duas cidades, arquitectura, as sombras, os contra-luzes e os claros-escuros com motivos da cidade (o metro, as bolhas de sabão, a venda de pequenos objectos, a neve nos automóveis, a ermida coberta de lápides de mármore, o carrossel, o gato no alfarrabista, os carros eléctricos de Barcelona - mais parecidos com os do Porto que os de Lisboa). Ou a publicidade com o polícia a cavalo, como na imagem que acompanha este post. Em mais de cem imagens.
Català-Roca nasceu em Tarragona (1922) e faleceu em Barcelona (1998, exactamente a 5 de Março). A sua exposição é unicamente com fotografias a preto e branco, que abandonaria definitivamente em 1973. Sete anos depois, realiza o filme Femme/woman. A tapestry by Joan Miró, recebendo um prémio (The Golden Eagle). Em 1995, publica o livro Foto-grafias A-cromáticas. Dois anos depois, tem lugar uma exposição sobre toda a sua obra [elementos retirados do catálogo. Uma iniciativa do Instituto Cervantes de Lisboa e da Câmara Municipal de Lisboa].
sábado, 6 de março de 2004
MEDIA CAPITAL NA BOLSA DE VALORES - ENTREVISTA DE MIGUEL PAES DO AMARARAL AO EXPRESSO
A entrar dentro de um mês na Bolsa de Valores, Paes do Amaral concedeu uma entrevista ao Expresso (conduzida por Ana Serzedelo e Pedro Lima). O encaixe previsto é da ordem dos €250 milhões. Desaparecerá a quase totalidade dos 37% do fundo Hicks Muse Tate & Furst (entrado em Setembro de 1999, momento fundamental para o controlo da TVI), enquanto se manterão os 40% da Media Capital e os 23% dos columbianos da Bavaria. Em 2003, o grupo teve receitas de €200 milhões e um EBITDA de €36 milhões. A dispersão de capital na Bolsa será uma oportunidade de expansão e trará a dimininuição da dívida de €170 milhões para 120 milhões.
A Media Capital - como já escrevi neste sítio - é um grupo de media diversificado, actuando nas actividades de televisão e produção televisiva, rádio, outdoors e internet. Começou na imprensa, nomeadamente a económica, mas acabou por vendê-la à Recolectos, ao passo que o semanário Independente foi comprado pela actual directora.
A entrevista é importante no que toca à análise da concorrência. E o presidente da Media Capital aponta dois alvos. O primeiro é a rádio. Para Paes do Amaral, a actual lei serve apenas os interesses da Renascença. Desde há muito que Paes do Amaral acha que o limite de cinco frequências (lei da concentração) é escasso para quem pretenda investir nos media. A Media Capital já atingira esse limite [Rádio Comercial, Rádio Clube Português, Cidade FM, Best Rock e Romântica FM]. Curiosamente, estas afirmações são publicadas no momento em que mais duas frequências [Luna e Voxx] são compradas pela Media Capital (através de Nobre Guedes). O que quer dizer que a lei está morta, ou a Autoridade da Concorrência e a Alta Autoridade para a Comunicação Social estão desatentas. Aliás, em livro publicado já este ano, sobre propriedade dos media, Elsa Costa e Silva (Os donos da notícia), escreveu sobre a benevolência da aplicação da legislação nacional. Ela estava a pensar exactamente na Media Capital.
O segundo alvo é a PT, líder do mercado de internet de banda larga. A suspensão do serviço por parte da Media Capital tem a ver com a dificuldade de concorrência. Paes do Amaral diz que "existe uma pressão do mercado e das autoridades para não afectar muito o negócio da PT". Eu compreendo esta segunda parte, mas tenho dificuldades quanto à primeira. Sendo o mercado livre, como se pode falar da pressão do mesmo em favor de uma só empresa? Aliás, no mesmo caderno do jornal, surge uma notícia informando a próxima campanha da Novis e da Clix, destinada a combater, pelo preço e pelo serviço, a PT.
Sobre a audiência no mercado de televisão - a TVI representa dois terços da facturação do grupo -, Paes do Amaral considera como objectivo a permanência na zona dos 30 a 35%. No prime-time, onde se concentra a parte mais substancial do investimento publicitário, ele quer manter a TVI nos 35 a 40% de mercado. Claro que um valor muito elevado no day-time não acarretaria aumentos de publicidade. Quanto à internacionalização, confirma o que se tem lido: a venda de formatos produzidos pela NBP para a América do Sul e países de leste, enquanto se desenvolve a estratégia de alargar para o Brasil e Espanha.
A entrar dentro de um mês na Bolsa de Valores, Paes do Amaral concedeu uma entrevista ao Expresso (conduzida por Ana Serzedelo e Pedro Lima). O encaixe previsto é da ordem dos €250 milhões. Desaparecerá a quase totalidade dos 37% do fundo Hicks Muse Tate & Furst (entrado em Setembro de 1999, momento fundamental para o controlo da TVI), enquanto se manterão os 40% da Media Capital e os 23% dos columbianos da Bavaria. Em 2003, o grupo teve receitas de €200 milhões e um EBITDA de €36 milhões. A dispersão de capital na Bolsa será uma oportunidade de expansão e trará a dimininuição da dívida de €170 milhões para 120 milhões.
A Media Capital - como já escrevi neste sítio - é um grupo de media diversificado, actuando nas actividades de televisão e produção televisiva, rádio, outdoors e internet. Começou na imprensa, nomeadamente a económica, mas acabou por vendê-la à Recolectos, ao passo que o semanário Independente foi comprado pela actual directora.
A entrevista é importante no que toca à análise da concorrência. E o presidente da Media Capital aponta dois alvos. O primeiro é a rádio. Para Paes do Amaral, a actual lei serve apenas os interesses da Renascença. Desde há muito que Paes do Amaral acha que o limite de cinco frequências (lei da concentração) é escasso para quem pretenda investir nos media. A Media Capital já atingira esse limite [Rádio Comercial, Rádio Clube Português, Cidade FM, Best Rock e Romântica FM]. Curiosamente, estas afirmações são publicadas no momento em que mais duas frequências [Luna e Voxx] são compradas pela Media Capital (através de Nobre Guedes). O que quer dizer que a lei está morta, ou a Autoridade da Concorrência e a Alta Autoridade para a Comunicação Social estão desatentas. Aliás, em livro publicado já este ano, sobre propriedade dos media, Elsa Costa e Silva (Os donos da notícia), escreveu sobre a benevolência da aplicação da legislação nacional. Ela estava a pensar exactamente na Media Capital.
O segundo alvo é a PT, líder do mercado de internet de banda larga. A suspensão do serviço por parte da Media Capital tem a ver com a dificuldade de concorrência. Paes do Amaral diz que "existe uma pressão do mercado e das autoridades para não afectar muito o negócio da PT". Eu compreendo esta segunda parte, mas tenho dificuldades quanto à primeira. Sendo o mercado livre, como se pode falar da pressão do mesmo em favor de uma só empresa? Aliás, no mesmo caderno do jornal, surge uma notícia informando a próxima campanha da Novis e da Clix, destinada a combater, pelo preço e pelo serviço, a PT.
Sobre a audiência no mercado de televisão - a TVI representa dois terços da facturação do grupo -, Paes do Amaral considera como objectivo a permanência na zona dos 30 a 35%. No prime-time, onde se concentra a parte mais substancial do investimento publicitário, ele quer manter a TVI nos 35 a 40% de mercado. Claro que um valor muito elevado no day-time não acarretaria aumentos de publicidade. Quanto à internacionalização, confirma o que se tem lido: a venda de formatos produzidos pela NBP para a América do Sul e países de leste, enquanto se desenvolve a estratégia de alargar para o Brasil e Espanha.
sexta-feira, 5 de março de 2004
LUNA - 106,2: A MELHOR MÚSICA DE JAZZ
ENTRE A HOMENAGEM À RÁDIO LUNA E A MEMÓRIA DO TEMPO
No momento em que desaparece injustamente a Rádio Luna (e a Voxx) não posso deixar de homenagear a estação que ainda consigo ouvir hoje. Apesar de sintonizar intermitentemente as duas estações, da Voxx recordo a voz grave e de sotaque nortenho em fantásticos spots e da Luna a música clássica e também o jazz (que decerto influenciou a Antena Dois, que já deu direito de cidadania a esta música).
2004 fica a oitenta anos das primeiras emissões regulares de rádio em Portugal (considero 1924, lá para o Outono, e não 1925, como diz habitualmente a bibliografia da matéria, como o começo das emissões no país). Aproveito, por isso, para recordar duas estações, a primeira de Abílio Nunes dos Santos Júnior, o CT1AA, que começou as primeiras “chamadas” em 1924, numa mistura de grafia, fonia e radiodifusão. Ainda nesse ano, passava a transmitir concertos às quintas e aos sábados, estendendo depois ao domingo. Um dos locutores era o santomense Herculano Levy (1889-1969), poeta, intelectual e depois grande proprietário de imobiliário. Santos Júnior era comerciante (foi dono dos Armazéns do Chiado, onde fica hoje, entre outras lojas, a FNAC) e tinha duas paixões: os automóveis (com um Bugatti ficou em segundo lugar no circuito do Campo Grande, por esses anos) e a rádio (comprava microfones nos Estados Unidos, num tempo em que o Atlântico se atravessava por navio). Então, as estações fechavam em Agosto e Setembro para férias.
O outro emissor que quero lembrar é o de José Joaquim de Sousa Dias Melo (1898-1982), o CT1AB. Em 1924, era gerente de um hotel que ainda hoje existe na esquina da rua da Betesga com a rua Augusta, em Lisboa (quando passo por ali, imagino ver uma antena no topo do telhado e a modesta mesa de emissão com um microfone junto a um pick-up que ele próprio confeccionou, conhecimentos que adquiriu numa permanência em França).
A aventura radiofónica de Dias Melo foi muito mais curta que a vida da Luna. Mas tinham semelhanças: eram artesanais, não buscavam o lucro e tinham o prazer da música clássica (embora há oitenta anos os discos fossem uma novidade e por algumas estações passavam músicos que tocavam ao vivo nos programas). Dias Melo, que passaria a gerente de uma ourivesaria na mesma zona da baixa lisboeta, deixou a radiodifusão mas manteve-se ligado à fonia até morrer, pagando os recibos referentes à sua licença de fonia, como indica um ofício da Rede de Emissores Portugueses aos Serviços de Radiocomunicações (27 de Agosto de 1982).
Num dos seus mais bonitos livros, o historiador José Augusto França (Os anos vinte em Portugal, 1992: 86) identifica a estação de José Dias Melo, a qual tinha “uma revistinha lançada a copiógrafo em 1924”. Como era a radiodifusão deste amador? Ele iniciara “os seus trabalhos como amador emissor em meados de 1924, com os melhores resultados, merecendo eles várias referências nas revistas da época. No princípio de 1925, já era ouvido no Porto, Tavira e outros pontos em fonia [alternava fonia com radiodifusão, embora fosse mais forte naquela] com grande intensidade e os receptores melhores naquele tempo eram o Bourne, Schnel e Reinartz, de duas ou três válvulas. […] além dos registos dos primeiros trabalhos, mencionados atrás, ainda possuo algumas dezenas de cartões e de entre eles destaco um relativo ao meu primeiro QSO a distância com o célebre F8BF”. A técnica, e não a programação, dominava o esforço dos amadores de rádio em 1924.
Apesar da grande mágoa pelo desaparecimento das estações, a paixão continua. A rádio é, com toda a certeza, o medium mais fantástico que o homem inventou.
ENTRE A HOMENAGEM À RÁDIO LUNA E A MEMÓRIA DO TEMPO
No momento em que desaparece injustamente a Rádio Luna (e a Voxx) não posso deixar de homenagear a estação que ainda consigo ouvir hoje. Apesar de sintonizar intermitentemente as duas estações, da Voxx recordo a voz grave e de sotaque nortenho em fantásticos spots e da Luna a música clássica e também o jazz (que decerto influenciou a Antena Dois, que já deu direito de cidadania a esta música).
2004 fica a oitenta anos das primeiras emissões regulares de rádio em Portugal (considero 1924, lá para o Outono, e não 1925, como diz habitualmente a bibliografia da matéria, como o começo das emissões no país). Aproveito, por isso, para recordar duas estações, a primeira de Abílio Nunes dos Santos Júnior, o CT1AA, que começou as primeiras “chamadas” em 1924, numa mistura de grafia, fonia e radiodifusão. Ainda nesse ano, passava a transmitir concertos às quintas e aos sábados, estendendo depois ao domingo. Um dos locutores era o santomense Herculano Levy (1889-1969), poeta, intelectual e depois grande proprietário de imobiliário. Santos Júnior era comerciante (foi dono dos Armazéns do Chiado, onde fica hoje, entre outras lojas, a FNAC) e tinha duas paixões: os automóveis (com um Bugatti ficou em segundo lugar no circuito do Campo Grande, por esses anos) e a rádio (comprava microfones nos Estados Unidos, num tempo em que o Atlântico se atravessava por navio). Então, as estações fechavam em Agosto e Setembro para férias.
O outro emissor que quero lembrar é o de José Joaquim de Sousa Dias Melo (1898-1982), o CT1AB. Em 1924, era gerente de um hotel que ainda hoje existe na esquina da rua da Betesga com a rua Augusta, em Lisboa (quando passo por ali, imagino ver uma antena no topo do telhado e a modesta mesa de emissão com um microfone junto a um pick-up que ele próprio confeccionou, conhecimentos que adquiriu numa permanência em França).
A aventura radiofónica de Dias Melo foi muito mais curta que a vida da Luna. Mas tinham semelhanças: eram artesanais, não buscavam o lucro e tinham o prazer da música clássica (embora há oitenta anos os discos fossem uma novidade e por algumas estações passavam músicos que tocavam ao vivo nos programas). Dias Melo, que passaria a gerente de uma ourivesaria na mesma zona da baixa lisboeta, deixou a radiodifusão mas manteve-se ligado à fonia até morrer, pagando os recibos referentes à sua licença de fonia, como indica um ofício da Rede de Emissores Portugueses aos Serviços de Radiocomunicações (27 de Agosto de 1982).
Num dos seus mais bonitos livros, o historiador José Augusto França (Os anos vinte em Portugal, 1992: 86) identifica a estação de José Dias Melo, a qual tinha “uma revistinha lançada a copiógrafo em 1924”. Como era a radiodifusão deste amador? Ele iniciara “os seus trabalhos como amador emissor em meados de 1924, com os melhores resultados, merecendo eles várias referências nas revistas da época. No princípio de 1925, já era ouvido no Porto, Tavira e outros pontos em fonia [alternava fonia com radiodifusão, embora fosse mais forte naquela] com grande intensidade e os receptores melhores naquele tempo eram o Bourne, Schnel e Reinartz, de duas ou três válvulas. […] além dos registos dos primeiros trabalhos, mencionados atrás, ainda possuo algumas dezenas de cartões e de entre eles destaco um relativo ao meu primeiro QSO a distância com o célebre F8BF”. A técnica, e não a programação, dominava o esforço dos amadores de rádio em 1924.
Apesar da grande mágoa pelo desaparecimento das estações, a paixão continua. A rádio é, com toda a certeza, o medium mais fantástico que o homem inventou.
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