domingo, 15 de outubro de 2006



HABITAR PORTUGAL 2003/2005

A exposição decorre no CCB até 10 de Dezembro e vale a pena ver. São 77 obras de arquitectura, cuja qualidade "é regulada pelos efeitos de oscilação do dúplice mercado que lhes está associado - o dos projectos e o da construção" (da folha volante que acompanha a exposição).

Aprecio duas obras e extraio comentários. Do arquitecto Eduardo Souto Moura, que desenhou o estádio de futebol de Braga: "Hoje, o futebol é um espectáculo, tal como o cinema, o teatro e a televisão, daí a opção de fazer apenas duas bancadas".

E do arquitecto João Álvaro Rocha, do conjunto habitacional em Matosinhos: ""Resultado das transformações sucessivas que tendem a apagar a sua suburbanidade, aí se cruzam as sobrevivências de um mundo rural em regressão com a insipiência de uma malha urbana com dificuldades de articulação evidentes".

Para além da evidente linguagem poética destas expressões, relembro mais duas obras: o Centro Cultural do Cartaxo, de Cristina Veríssimo e Diogo Burnay, e a remodelação do museu Grão Vasco, em Viseu, obra de Eduardo Souto Moura.
APRESENTAÇÃO DO JORNAL PREC (PENSA ROSNA ESTICA CORTA) E DO GLOSSÁRIO DA ABRANGÊNCIA AO ZUNZUM

É no sábado 21 de Outubro pelas 18:00, na OUVÊ, à Rua do Século, 78, aqui em Lisboa.

Dizem os organizadores em comunicado que recebi: "Acaba de sair o nº1 do PREC - Pensa Rosna Estica Corta, publicado na sequência do PREC – Põe Rapa Empurra Cai (número zero). [...] A sessão conta com leituras críticas feitas por leitores atentos mas não veneradores (entre os quais Acácio Barradas, Cristina Ponte e Pedro Caldeira Rodrigues) e com uma leitura encenada do "glossário de ideias fortes e fracas" Da Abrangência ao Zunzum que nasceu do ciclo Em Novembro é de Abril e Maio que me lembro, organizado pelo PREC – Põe Rapa Empurra Cai, em Novembro e Dezembro de 2005. (Ver capa e nota explicativa em www.jornalprec.com )".
SEMINÁRIOS E CURSOS

O de filosofia, com Pedro Calafate, inicia a 21 de Outubro, no edifício da Livraria Municipal de Cascais. O de cinema começou esta semana, no dia 12, e decorre na rua Rodrigo da Fonseca, 31,2º, em Lisboa. O terceiro, sobre português e imprensa de hoje, vai decorrer na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, a 16 de Novembro, onde directores de jornais e jornalistas/escritores irão reflectir sobre este tema de actualidade.



AGENDA AO VIVO
GAIA COM VIDA


Trata-se da agenda de Outubro, que inclui informações sobre o mês mundial de música em Gaia (noites acústicas, festival de bandas, coros e muito mais), teatro (TEP) e pintura modernista na colecção de Diogo de Macedo. Como director aparece na ficha técnica o presidente da Câmara, mas a alma será, certamente, o director-adjunto Mário Dorminsky, o homem do Fantasporto.

E a agenda de Vila Nova de Gaia é mais bem feita que a do Porto. Será que os presidentes das autarquias também têm influência directa na estética das agendas?

sábado, 14 de outubro de 2006

3º ENCONTRO NACIONAL DE BLOGUES (PORTO)

Como fiz referência em mensagens anteriores, realizou-se entre ontem e hoje o 3º Encontro Nacional de Blogues, desta feita a cargo da Universidade do Porto.

Assim, se o 1º encontro (Braga, 2003) deu conta do fenómeno blogosfera, entendendo-se que o jornalismo (nas suas formas clássicas) estava fortemente ameaçado, no 2º encontro (Covilhã, 2005) a visão recuava para uma complementaridade entre blogosfera e jornalismo. Curiosamente, estava a escapar-nos o crescimento dos jornais gratuitos e o fenómeno do que se apelidou de jornalismo-cidadão. Nestes dois dias no Porto, houve uma espécie de rescaldo dessas posições (de que a comunicação de Manuel Pinto, da Universidade do Minho, em forma de posts, foi o ponto alto), enfocando mais a atenção para os blogues como ferramenta educativa, já anunciado no encontro anterior. Mas voltou a pôr-se a tónica na tecnologização e nas facilidades das ferramentas da web 2.0, exercitada na excelente comunicação de José Luis Orihuela (Universidade de Navarra, aliás complementada no workshop dado hoje de manhã) (segundo e terceiro vídeos) [o quarto vídeo mostra Enrique Dans, do Instituto de Empresa espanhol].

A comunicação de Manuel Pinto (primeiro vídeo) tocou diversos aspectos, tais como a interrogação da blogosfera passar de laboratório para a sociedade, a questão do jornalismo versus jornalismo-cidadão, com a possível passagem da enunciação jornalística de cima para baixo, com poder de atribuir agenda, para um jornalismo em que o cidadão participa, o discurso messiânico dos que acreditam na tecnologia como transformadora do mundo de per si, o surgimento das TIC e a democratização que elas representaram, e a transferência do poder da informação dos proprietários para os cidadãos (ou melhor para as audiências), o que leva a pensar no factor tecnológico. Reflexão que mostra um aggiornamiento relativamente ao enunciado eufórico de 2003, em que a blogosfera era uma promessa de conhecimento distribuído a toda a gente (e então sentido assim por todos nós), as palavras de Manuel Pinto ilustram também pragmatismo, pois certamente a blogosfera continuará a ser um espaço público reservado a uns poucos.



Contudo, não deixou uma mensagem pessimista, longe disso. O que ficou das suas palavras foi a consciência que o jornalismo de hoje precisa de mudar, seguindo as pistas lançadas pela blogosfera. Isto porque muitas das críticas mais corajosas e pertinentes se situam na blogosfera, no esforço individual de muitos indivíduos. A crítica recentíssima ao alinhamento dos noticiários televisivos da RTP1 ilustra tal posição.



Por seu lado, de Orihuela ficaram-me as ideias de blogue como memória extensiva, conceito muito rico, e a importância dos agregadores sociais e dos organizadores de agenda. Para o professor de Pamplona, a web 2.0, e logo os blogues, permite três coisas igualmente importantes: publicar, partilhar (através dos tags) e reutilizar (optimizar a nossa matéria com a dos outros, como se fôssemos dj's da informação).

Sobre a importância dos blogues na educação, retive algumas expressões significativas, oriundas de professoras dos vários níveis de ensino - desenvolvimento de hábitos de auto-estudo e de portfólio de recursos (Paula Peres) e experimentação favorável do uso de podcasting (e blogues) na partilha de conhecimentos (Adelina Moura), numa época em que as crianças e os adolescentes usam muito a linguagem alfakapa do SMS (Gina Souto).

No final do dia de hoje, ficou decidido avançar-se para o 4º encontro, a realizar no próximo ano por uma outra instituição universitária e a confirmar em breve.

quinta-feira, 12 de outubro de 2006

FICÇÃO, NOTÍCIAS E ENTRETENIMENTO: AS IDADES DA TV EM PORTUGAL

Gustavo Cardoso está imparável. O presidente do OberCom - para além de funções docentes no ISCTE e de administração na LUSA - fez publicar, conjuntamente com Sandra Amaral, o working report nº 4 do OberCom, intitulado Ficção, notícias e entretenimento: as idades da TV em Portugal.

São 38 páginas de sumarenta informação. Escrito numa linguagem elegante, o texto parte de uma análise geracional, em que se entrecruzam as biografias dos media e a memória dos media. Aqui, recordam os autores o romance de Umberto Eco, A misteriosa chama da rainha Loana, que eu comentei neste blogue: as experiências históricas testemunhadas na juventude, devido aos consumos culturais, como livros, cinema, televisão, música, banda desenhada.

Assim, Gustavo Cardoso e Sandra Amaral traçam, primeiro, as gerações: 1) a nascida entre 1950 e 1966, do tempo do Estado Novo e do surgimento da televisão (paleotelevisão), a minha geração, 2) a geração de transição, nascida entre a revolução de 1974 e a normalização da democracia no final dos anos 1980, com passagem lenta para a neotelevisão, a geração de Gustavo Cardoso, e 3) a geração multimedia, com dualidade de ecrãs, da televisão comercial dos anos 1990, das consolas de jogos e de filmes em DVD, a geração dos nossos alunos.

Depois, o estudo dos programas e a sua repartição por idades. Dos programas, os autores analisam: novelas, séries, documentários, noticiários, desporto, concursos, talk-shows, etc. Por exemplo, quanto às telenovelas, os autores dividem-nas em três tipos: 1) de época, 2) de estilos de vida contemporâneos, e 3) cómicas.


Como grande concusão, Gustavo Cardoso e Sandra Amaral encontram programas mais identificados com os mais velhos, com a geração de transição e com a geração multimedia. A relação entre consumos culturais e género aponta novelas, séries, concursos e talk-shows para as mulheres, enquanto os homens consomem mais humor, documentários, reportagens, noticiários e desporto.

LANÇAMENTO DE LIVRO DE MÁRIO MATOS E LEMOS

O livro de Mário Matos e Lemos, Jornais diários portugueses do século XX - um dicionário, vai ser lançado em Coimbra, no dia 24 de Outubro, pelas 17h, no TAGV (Teatro Académico Gil Vicente), naquela cidade. Mário Mesquita fará a apresentação.

O trabalho agora divulgado insere-se no âmbito do projecto de investigação História do jornalismo em Portugal no século XX, dirigido por Isabel Vargues, professora do Instituto de Estudos Jornalísticos da Universidade de Coimbra.

Licenciado em História, Mário Matos e Lemos foi jornalista em vários meios de comunicação e desempenhou funções de conselheiro cultural e de imprensa em diversas embaixadas portuguesas (ver informação mais detalhada em Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX). Matos e Lemos é investigador neste centro e autor de várias obras.

Observação registada no dia 14, pelas 22:23: durante dois dias, mantive informações erradas sobre o livro. As minhas desculpas ao autor e restantes intervenientes na obra e no seu lançamento. Agradeço aos amigos que me chamaram a atenção para esses erros.

3º ENCONTRO NACIONAL DE BLOGUES

Vai decorrer amanhã e sábado o 3º Encontro nacional sobre blogues, organizado pela Universidade do Porto. O encontro realiza-se no antigo auditório da Reitoria da Universidade do Porto, à rua D. Manuel II, naquela cidade.

LANÇAMENTO DO LIVRO DE ANA CABRERA "MARCELLO CAETANO - PODER E IMPRENSA", AMANHÃ ÀS 18:30, NO CONVENTO DA TRINDADE

LIVRO DE JOAQUIM CARDOSO SOBRE CENSURA

Vai ser lançado no próximo dia 23, uma segunda-feira, pelas 19:00, na Associação 25 de Abril, na rua da Misericórdia, 95, em Lisboa, o livro de Joaquim Cardoso Gomes, Os militares e a censura. A censura à imprensa na Ditadura Militar e Estado Novo (1926-1945, uma edição da Livros Horizonte na colecção "Media e Jornalismo" que tem em parceria com o CIMJ (Centro de Investigação Media e Jornalismo).



Dividido em dois capítulos (sete partes), o livro faz um levantamento exaustivo dos censores do regime que existiu em Portugal de 1926 a 1974, com base nas biografias desses censores. Para o período 1926-1939, que trabalhou mais apuradamente, identificou 125 oficiais das forças armadas e tratou os processos individuais de 116 (p. 100). E, assim, conclui que a maioria dos censores pertenceu à geração nascida na década de 1890, entrou para a Escola de Guerra no período da Primeira Guerra Mundial, quando cresciam os valores do militarismo e do colonialismo. Isto quer dizer que a maioria dos censores do regime de Salazar veio dos militares, que, por seu lado, eram filhos de militares (50,8%), a que se seguiam filhos de funcionários públicos e de proprietários (16,9% para as duas categorias) (p. 103). Resumindo melhor, os censores provinham da arma de artilharia/engenharia, oriundos em especial do distrito de Lisboa (p. 108). 3/4 dos censores participaram, aliás, em acções de combate durante a Primeira Guerra Mundial, nomeadamente em África. No pós-Guerra, muitos dos futuros censores fizeram comissões de serviço nas colónias africanas de Portugal.

A esta marca, central do livro de Joaquim Gomes, junta-se uma outra, que mostra a conflitualidade entre o Secretariado de Propaganda Nacional e os Serviços de Censura, presididos respectivamente por António Ferro e Álvaro Salvação Barreto. Salvação Barreto seria o reorganizador dos serviços de censura (em 1932), António Ferro o responsável pela propaganda (em 1933). Cada organismo e os seus líderes procuravam obter mais poder. O autor do livro mostra a acção de dois outros homens, Santos Costa (que reorganizara o exército em 1937) e Oliveira Salazar (primeiro-ministro). E conclui o livro ao indicar que a colocação dos serviços de censura e da propaganda sob a tutela directa de Salazar serviu para retirar poderes de António Ferro, enquanto Salvação Barreto abandonava a chefia da censura em 1944.

No ano em que se completam 80 anos da instauração da censura à imprensa, o autor recorda um tempo em que se pedia contenção no relato de "crimes passionais, de sadismo, suicídios" e outros que pusessem em causa a "sadia moral" (no ano de 1929), além de proibir expressamente "casos de vadiagem, mendicidade, libertinagem e crimes cometidos por menores de 18 anos" (decreto de 1931) (pp. 42-43).

Para a sua investigação, o autor utilizou arquivos militares (três) bem como o arquivo da Torre do Tombo (em especial o arquivo de Oliveira Salazar) e o arquivo não classificado da Direcção dos Serviços de Censura.

Joaquim Cardoso Gomes, professor do ensino secundário (Almada), de 57 anos, publica este texto que, originariamente, foi uma dissertação de mestrado defendida há nove anos e, ainda bem, recuperada para livro. O autor recorda o presidente do júri dessa prova, César Oliveira, historiador precocemente desaparecido. O orientador do trabalho foi António Costa Pinto.

O COMEÇO DO FIM DOS BLOGUES GRATUITOS

Desde o início de adesão ao mundo dos blogues que eu esperei o dia em que iria acabar o acesso gratuito, dúvidas que cresceram quando passei a incluir imagens fixas (fotografia), sons e, em especial, imagens em movimento (vídeo).

O caso mais paradigmático de mundo de blogues é a Blogger, que começou como uma pequena empresa em Agosto de 1999, localizada em S. Francisco, chamada Pyra Labs. Em 2002, foi comprada pela Google e, desde então, não tem deixado de surpreender por manter os serviços gratuitos. Agora, no começo desta semana, a Google comprou a You Tube, onde se alojam vídeos até dez minutos, serviço que eu tenho usado desde o princípio deste ano. Tenho-me mantido mais ou menos informado sobre as movimentações da Google, mas não acredito na eternidade da gratuitidade dos serviços. Certamente que pagarei para continuar a usufruir desta liberdade criativa do blogue, quando a empresa americana me pedir para tal.

Já a Filelodge, onde alojei registos sonoros, retirou-os, sem qualquer informação adicional, quando foi comprada pela Bolt. Mais recentemente, a Flickr pôs termo ao alojamento gratuito de imagens a partir de um dado número de imagens colocadas. A estratégia foi diferente: não se acede a mais do que 200 imagens; se houver mais, elas ficam inacessíveis (mas não são apagadas), voltando à visibilidade quando se efectuar um pagamento determinado. Como não monitorizo todo o blogue, dada a sua extensão, não sei quantas imagens estão inacessíveis. Eu, que me habituara a trabalhar com a Flickr, sabendo as dimensões certas para colocar as imagens, ainda ponderei durante dias aderir ao serviço pago. O problema que se coloca é o número de entidades a pagar os serviços.

Anteriormente, eu usava os serviços do Sapo, mas deixei de recorrer a esta empresa quando houve mudança de plataforma. Mesmo antes, eu recebera a indicação que as imagens que ali alojava num blogue seriam apagadas, caso não continuasse a alimentar o blogue com nova informação. Cheguei a trocar emails com responsáveis pelo Sapo, indicando que estava disponível a pagar o serviço, mas recebi a mensagem que o serviço era apenas gratuito.

A razão principal desta mensagem é que outra empresa fornecedora de blogues gratuitos mudou de estratégia. Estou a falar da Eponym, onde alojei um blogue chamado EUMedia, fazendo alusão a um livro sobre o impacto do alargamento da União Europeia nos media, coordenado por Paulo Faustino (MediaXXI). Com data de ontem, a Eponym anuncia que vai acabar com os seus serviços de blogues gratuitos.

Por duas razões, como o texto em inglês diz: "First, we did not like having to put advertisements on people's blogs. We know that our users would put up with the ads to have a free blog, but we don't want you to have to "put up" with anything, especially an invasive and annoying ad on your blog that you can't control. Second, the advertising revenue from the free blogs that we did receive was not nearly enough to cover the costs of providing the free blogs". Isto é, a fornecedora do serviço não punha anúncios nos blogues, mas os blogueiros que não gastavam dinheiro pela construção do blogue punham publicidade nos seus blogues, além de que a publicidade recebida pela Eponym não dava para cobrir os custos de fornecimento do serviço.

Mais cristalino e compreensível que isto não é possível. Um serviço não pode ser gratuito, pois alguém o paga para ter essa vantagem. Como escreve um articulista do Diário de Notícias, não há almoços grátis. Por isso, se um blogueiro quer manter o seu espaço de contacto, ele precisa de ajustar contrato com uma empresa, por um valor adequado, para colocar imagens fixas e em movimento, sons e textos, mudando sempre que quiser o seu layout, de modo a tornar dinâmico aquele espaço.

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

MODERNIDADE E CRUZAMENTO DE SABERES














Modernidade e cruzamento de saberes. Figuras da modernidade, eis o título inicial das conferências multidisciplinares da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica, a lançar no dia 19 - e não amanhã, como cheguei a anunciar.

Com coordenação científica de Isabel Gil e Roberto Carneiro, tem textos de Carlos Morujão, Jorge Fazenda Lourenço, Rita Figueiras, Ana Paula Rias, Isabel Vieira, José Miguel Sardica, Maria Alexandra Lopes, Fernando Ilharco e Manuel Cândido Pimentel.

Retiro uma parcela do texto de Fernando Ilharco, que escreve sobre McLuhan: "qual o media, a tecnologia, da nossa época? Para McLuhan, a resposta era óbvia: a televisão. Hoje, cremos, essa resposta mantém-se, embora o fenómeno televisão deva passar a ser estendido à internet, transformando-se no fenómeno mais vasto e profundo dos ecrãs - de televisão, da internet, dos telemóveis" (pp. 115-116).
ROBERT PICARD NO CICLO DE CONFERÊNCIAS DO OBERCOM

Anuncia o
OberCom que estará no dia 23 deste mês, no ISCTE, o investigador Robert Picard (http://www.ihh.hj.se/mmt/faculty.html), primeiro convidado de um ciclo de conferências de ligação OberCom-Universidades. Fará uma comunicação sobre a estrutura económica do mercado dos media, indústrias e empresas de media, procura de produtos e serviços de media, modelos de negócio e estratégias de operações nos media, produtividade das empresas de media, desempenhos financeiros e efeitos das acções politicas nos aspectos económicos dos media. Robert Picard é director do MMT e Professor no Department of Economics da JIBS.

O objectivo do ciclo de conferências é trazer investigadores da área dos media e da comunicação para falarem da sua experiência e apresentarem o trabalho que têm vindo a desenvolver ao longo dos anos. Já a 20 de Novembro, e ainda segundo o
OberCom, Esther Hamburger falará em conferência inserida no Programa Doutoral do ISCTE. Esther Império Hamburger é professora na Universidade de São Paulo (USP), Escola de Comunicações e Artes, Departamento de Cinema Rádio e Televisão, e publicou uma análise do papel da novela na sociedade brasileira intitulada O Brasil antenado. A sociedade das Novelas.

Para saber mais destes eventos, contactar com patricia.lopes@obercom.pt.

terça-feira, 10 de outubro de 2006

COM TODAS AS LETRAS - LIVROS, AUTORES E EDITORES EM DEBATE

Começou ontem a série de debates com aquele título, organizada pela SPA (Sociedade Portuguesa de Autores) e a revista mensal Os Meus Livros. O tema da sessão de ontem era Novos autores: escrever, publicar e vencer. Moderados por João Morales, director de Os Meus Livros, estiveram na mesa José Luís Peixoto, Filipa Melo, Rui Herbon e Sofia Monteiro, todos nascidos na década de 1970, sendo os três primeiros autores e a última editora.

Tirei algumas notas. Assim, José Luís Peixoto, para quem escrever é um prazer de partilhar, contou o modo como escreveu e publicou o seu primeiro livro, Morreste-me. Narrativa acerca da morte do seu próprio pai, a primeira edição foi de autor, tendo sido depois publicado por uma editora. Já Filipa Melo, dedicada à área de cultura há mais de 15 anos, tendo passado nomeadamente como editora do Público, centrou-se na aventura da escrita do seu primeiro livro, após contrato com a sua editora. A jornalista e escritora, que enfatizou muito a questão do contrato, a relação entre autor e editor, destacou ainda aquilo que mudou nas últimas duas décadas em Portugal: a feira do livro de Frankfurt, que permitiu visibilidade para as editoras nacionais; a atribuição do prémio Nobel a Saramago; a aproximação do mercado português aos padrões europeus; a mediação entre editor e autor estar a crescer como facto da democratização da leitura. Um ponto em que Portugal precisa ainda de avançar é o dos agentes literários, ponte entre autores e editores que trabalha o livro e o promove.

Por seu lafo, Rui Herbon falou da sua experiência como autor editado pela primeira vez, após ter ganho o Prémio Eixo Atlântico da Narrativa Galega, e Sofia Monteiro da sua actividade como editora da Esfera dos Livros.

[nos vídeos, pela seguinte ordem: Filipa Melo, Sofia Monteiro, José Luís Peixoto e Rui Herbon]


segunda-feira, 9 de outubro de 2006

ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS BRASILEIROS NO EXTERIOR DO SEU PAÍS

Conforme indica o Boletín Digital (128-129, de 26 de Agosto a 22 de Setembro) do IESALC (Instituto Internacional para la Educación Superior en América y el Caribe), agora distribuído, o número de universitários brasileiros que estudam no exterior passou de 11 mil para 20 mil nos últimos anos, segundo relatório divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

O total representa 0,8% dos 2,7 milhões de jovens do mundo todo que estudam fora de seus países. E 0,5% da quantidade de alunos de graduação e pós-graduação no Brasil, que chegam a 4 milhões.
NODDY

Aluna do mestrado de Ciências da Comunicação (UCP), Susana Lopes Deusdado fez, para um dos módulos que leccionei no ano lectivo transacto, um trabalho reflectindo sobre a televisão no quotidiano do público infantil. Ao escolher como case-study a série Abram Alas para o Noddy, ela pretendeu aprofundar conhecimentos quanto à relação existente entre criança e televisão. Como questões de partida, Susana Deusdado vê que alguns dos desenhos animados que se inserem nestes programas infantis, além de incitarem ao consumismo, apresentam por vezes um conteúdo violento, transformando a violência em diversão.

Para o trabalho, foi feito um inquérito a 25 crianças de duas escolas na área da Grande Lisboa, no Centro Paroquial do Feijó e na EB1 Nº 66 da Charneca do Lumiar. Foram abrangidos ambos os sexos, com 8 anos (13 inquiridos, 52%), 7 anos (8 respondentes, 32%) e 6 anos (4 inquiridos, 16%). Em termos de sexo, 15 eram meninas (60%) e 10 rapazes (40%).

O Noddy é uma personagem criada por Enid Blyton, em 1949. Surgido inicialmente em livros, tornou-se depois "vedeta" de desenhos animados na televisão, programa dirigido essencialmente a crianças em idade pré-escolar. Produzido pela BBC Worldwide e Chorian, em Portugal, passa nos canais 2: e Panda. O Noddy baseia-se em personagens infantis clássicas. Assim, o Noddy surge no País dos Brinquedos, como uma personagem encantadora, amiga e simpática, com tendência para se envolver em mal-entendidos ou pequenas partidas. A ele, juntam-se as personagens Senhor Lei, Sonso, Mafarrico, Orelhas, Macaca Marta, Ursa Teresa, Turbulento, Boneca Dina, Gata Rosa, Senhor Sempre-em-pé, Senhor Faísca, Urso Rechonchudo, Xadrezinhos, Senhor Volumoso e o Rato-de-Corda. A disposição de actividades dissemelhantes nos livros, adequadas a todos os gostos, como o "Descobre as diferenças", "Labirinto", "Verdadeiro ou Falso" e "Forma pares", assim como outros jogos educativos, "fazem acrescer as probabilidades de revelarem mais tarde um grande gosto pela leitura, desenvolvendo também a sua aprendizagem a nível do vocabulário, atenção e apreensão da criança", escreveu Susana Deusdado.

No que respeita ao merchandising, foram desenvolvidos produtos infantis associados à marca Noddy: jogos, bonecos, peluches, mochilas, material escolar.


Quando questionados no que concerne à personagem preferida no programa Abram Alas para o Noddy, foi inteligível verificar que a personagem com maior impacto junto do público infantil, diz respeito ao Noddy, com 22 inquiridos (17%), imediatamente seguido pelo Orelhas, com 19 (15%) e a Ursa Teresa com 16 inquiridos, correspondente a (13%). Nas personagens consideradas menos importantes pelos respondentes, sobressaem o Sonso com 7 (5%) e o Mafarrico com 8 (6%).


A existência de um programa infantil deste género vem revolucionar por completo, a panorâmica da televisão portuguesa, denotando-se algumas melhorias, quer em termos de programação como de conteúdo, escreve Susana Deusdado. Ao proceder à realização do inquérito por questionário com vista à obtenção de respostas para a investigação, ela pôde constatar que a imagem transmitida pelo programa impulsiona a compra de produtos relativos ao Noddy, fortalecendo a ligação entre o público e a televisão. Ao adquirirem produtos Noddy, as crianças procuram estabelecer uma relação de identificação com as personagens do programa, através da aquisição de uma imagem alegre e divertida, onde reine a fantasia.

domingo, 8 de outubro de 2006

LIVROS A LANÇAR

Monique Sicard, A fábrica do olhar, Edições 70 (a inaugurar nova colecção)
Vários, A TV das mulheres, BonD (nova editora)
João Mário Grilo, O homem imaginado - cinema, acção, pensamento, Livros Horizonte
CONTINUA A SER INDISPENSÁVEL

Ler o blogue
sound + vision.

É, se quisermos, o prolongamento dos trabalhos de Nuno Galopim e João Lopes nas páginas da "6" (Diário de Notícias) ou da rádio Radar (no caso de Galopim). Com mais liberdade, até.

EVENTOS PARA A SEMANA QUE COMEÇA

Amanhã, pelas 18:30, no auditório da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), em organização conjunta com a revista Os Meus Livros, arrancam os debates Com todas as letras. Livros, autores e editores em debate. Na sessão de amanhã, dia 9, o tema é Novos autores: escrever, publicar e vencer, com um painel constituído por Rui Herbon (escritor), José Luís Peixoto (escritor), Sofia Monteiro (esfera dos livros) e Filipa Melo (jornalista e escritora). Para o debate, foram convidadas outras pessoas que, na plateia, analisarão fenómenos recentes. Por exemplo, o nascimento de novos autores no domínio dos blogues, passando, depois, os seus textos para livro.

De 11 a 15, decorre o 1º Encontro sobre o Livro e o Imaginário Infantil, na Biblioteca Municipal de Cascais, em São Domingos de Rana (Farol de Sonhos). E no dia 14, realiza-se a conferência sobre os 450 anos da fortificação de São Julião da Barra e 400 anos do naufrágio da nau Nossa Srª dos Mártires, na cisterna do Forte de São Julião da Barra (Oeiras).

Quanto a livros, há dois lançamentos organizados para o dia 12. O primeiro é editado pela Editora da Universidade Católica, volume coordenado por Isabel Gil e Roberto Carneiro, num conjunto de conferências realizadas naquela universidade, e que tem o título Modernidade e cruzamento de saberes. Figuras da modernidade. As figuras da modernidade são Napoleão Bonaparte, Samuel Beckett, Marshall McLuhan, Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir, e o papel de "narradores-biógrafos" competiu a professores da própria universidade: José Miguel Sardica, Alexandra Lopes, Fernando Ilharco e Manuel Cândido Pimentel.

O segundo livro, integrado nas comemorações do cinquentenário da Fundação Calouste Gulbenkian, tem o título o estado do mundo, integrado no Fórum Cultural, e conta com diversas participações: Carlos Pacheco, Colin Richards, Ghassan Zaqtan, João Barrento, John Frow, Moira Simpson, Paul Gilroy, Peter Sloterdijk, Rosângela Rennó, Santiago Kovadloff, Surendra Munshi e Wang Hui.

Ainda não acabei de ler o livro o estado do mundo (agradeço a António Pinto Ribeiro, programador geral do evento, a amabilidade da oferta de um exemplar), mas marcou-me a proposta de Moira Simpson sobre museus. A maior parte deles começou por ser resultado da prática de recolha de objectos na época colonial, como se se pudesse coleccionar o mundo. Após o embate e contraste de culturas dos colectores perante os colectados, o século XX, com as descolonizações dolorosas, trouxe perspectivas diferentes aos museus, repensando-se o seu uso. Da universalidade passou-se à revitalização e ao repatriamento da propriedade cultural, originando reinterpretações e trocas biunívocas entre culturas, no sentido da relativização do valor e da estética de uns perante os outros.

sábado, 7 de outubro de 2006

ESTÓRIAS DE JORNAIS

Creio que foi (ante)ontem que li uma notícia dando conta de Maria João Pires tocar num concerto em Espanha e preparar outro em Portugal, aparentemente reconciliada com o país (e a Europa). O desconcertante da notícia era o apoio dado pela pianista a um dos candidatos à presidência do Brasil, ela que procurou ali refúgio após o seu amuo com Portugal. Achei sem qualquer interesse a notícia, em especial esse apoio. Primeiro, saiu num jornal de cá e a eleição é do lado de lá do Atlântico. Depois, esse tipo de apoios parece-me uma forma gasta de artistas manifestarem opiniões pessoais sobre a "coisa política" mas sem efeitos na parte nobre da política, que é o compromisso (e envolvência) social e político em causas.

Já hoje, o folhetim do director do Sol sobre a sua saída do Expresso parece-me digno de uma conversa da treta (e bem a propósito, pois se anuncia um filme com esse título). A história do almoço, onde ele propôs para seu sucessor Mário Ramires, enquanto Balsemão e outros comensais alvitravam Henrique Monteiro (ou Cândida Pinto), é um delírio inconcebível. Duas páginas com esta história? A meu ver, mais valia colocarem publicidade, no que seria uma estratégia mais inteligente.
ESTÓRIAS DE FILMES

Nos últimos vinte dias vi seis filmes (Voltar, de Pedro Almodóvar, 2006, com Penélope Cruz, Carmen Maura, Lola Dueñas e Blanca Portillo; Paraíso agora, de Hany Abu-Assad, 2005, com Lubna Azaabal, Kais Nashif e Ali Suliman; Sinais de fogo, de Luís Filipe Rocha, 1995, com Diogo Infante, Ruth Gabriel, Rogério Samora, Caroline Berg e Glicínia Quartin; World Trade Center, de Oliver Stone, 2006, com Nicolas Cage, Maria Bello e Armando Riesco; 98 octanas, de Fernando Lopes, 2006, com Rogério Samora, Carla Chambel e Márcia Breia; A dália negra, de Brian de Palma, 2006, com Josh Hartnett, Scarlett Johansonn, Hilary Swank e Mia Kirshner).

Antes que a memória se desvaneça relativamente às estórias dos filmes e às suas personagens, deixo aqui umas pequenas notas. A primeira para realçar o papel das mulheres (todas no filme de Almodóvar, Lubna Azaabal no filme de Abu-Assad, Márcia Breia no filme de Lopes), com personagens decididas, centrais, num jogo de emancipação e de sabedoria. Em segundo lugar, reparo para a reconstituição histórica, em Sinais de fogo e em A dália negra, este último com outro gabarito dado o maior volume financeiro na produção (da Figueira da Foz à Los Angeles, ambas nos anos de 1940) , descrevendo situações explosivas e com enredos complexos. Depois, a oposição entre ideais variados - a morte por suicídio dos palestinianos confinados a um pedaço de terra vigiado em Paraíso agora, em busca da felicidade eterna ou para limpar o nome da família, versus o crescer de uma cidade como Los Angeles em que todos ambicionavam poder, mas apenas existia corrupção, violência e demência colectiva. Em ambos, a cidade é o centro de tudo, da paixão como da entrega.

Em quarto lugar, a fotografia, destacando-se 98 octanas, por acaso a estória mais lenta, apesar de mostrar planos consequentes de velocidade na estrada: a árvore do plano final, o "baptizado" da rapariga no meio de um lago, o interior da casa da avó. Mas também as sequências iniciais do filme de Almodóvar (as mulheres limpando as campas do cemitério, enquanto um poderoso vento de leste se levanta). Do filme de Stone ficou a marca da oposição da estória principal (os dois feridos no derrube de uma das torres de Nova Iorque, que tentam estimular-se um ao outro no sofrimento) face à estória dos familiares em busca daqueles (cujos laços de solidariedade eram necessariamente outros).

Quanto a espectadores (e descontando o filme de Luís Filipe Rocha, que passou durante o simpósio sobre a guerra civil de Espanha), A dália negra e Paraíso agora foram aqueles em que vi a sala mais cheia, passando o primeiro numa sala mais popular (Londres) e o outro numa sala mais "intelectual" (King). Claro que a estrela (Scarlett Johansonn) e o tema (Palestina) atrairam mais os espectadores.

Agora, vou deixar "marinar" os filmes (dissolvendo-se na memória, que me parece cada vez mais pequena). O que lembrarei daqui a algum tempo, quando mais filmes ocuparem a minha atenção? Talvez uma frase, um olhar, um plano, um título. Ou nem isso. Penso que, por se tratar de ficção e ainda por cima composta de imagens brilhantes que passam num ecrã, o desvanecimento é mais rápido. A cintilação é momentânea, pois basta uma brisa à saída da sala de cinema ou um buzina de automóvel para regressarmos à realidade e esquecermos as tramas e as obsessões dos autores dos filmes.
ANÁLISE E TRATAMENTO DE DADOS DE TRABALHOS ACADÉMICOS E CIENTIFICOS COM RECURSO AO PROGRAMA SPSS

[observação prévia: a informação que coloco nesta mensagem não tem valor comercial para o blogueiro, pois nem sequer conhece as pessoas que estão por detrás dos formadores de SPSS nem sabe o valor científico dos mesmos; contudo, considero a informação útil para quem esteja a planear escrever uma dissertação de mestrado ou doutoramento e não tenha competências específicas neste domínio]

Os proponentes indicam que são "uma equipa de Formadores de SPSS com larga experiência na área, realizando trabalhos de análise de dados resultantes de publicações estatísticas ou de aplicações de questionários. Adicionalmente, damos apoio para a construção de questionários em áreas como: educação, enfermagem, fisioterapia, gestão, medicina, motricidade humana, professores, psicologia, sociologia. [...] O trabalho será efectuado de acordo com as necessidades do cliente e vai desde a construção da base de dados, introdução dos questionários, análise dos dados para resposta às hipóteses e fornecimentos dos resultados com explicação".

O contacto de e-mail é apoiospss@gmail.com.

UTILIZAÇÃO DA AUDIMETRIA

O texto de Michel Souchon, intitulado Pour une utilisation complexe de l’audimétrie, data de 2003. Nele, é feita uma retrospectiva da medição de audiências, além de se apontarem as principais linhas de força da actividade (aplicadas à realidade francesa).

Primeiro - escreve o antigo responsável pela medição de audiências do primeiro canal público francês, antes da sua privatização -, eram as cartas do leitor e do telespectador. Depois, foram as amostras representativas para recolha de informações sobre o número e a satisfação dos públicos face às emissões de televisão. Com os anos 1980 – e devido à concorrência entre canais de televisão –, surgiu a audimetria. A partir daí, os críticos falam da ditadura da audimetria e da oposição entre audiência e qualidade. É a ideia de double bind - uma espécie de dupla perspectiva ou visão - , segundo a escola de Palo Alto. Faça o que fizer, é sempre errado, entende Souchon. Se a audiência é fraca, é mau, porque, apesar dos bons programas, é-se incapaz de associar as massas às celebrações da cultura. Se a audiência é forte, é mau, porque o público não distingue a programação do serviço público face à programação comercial.

O grande objectivo de Souchon é demonstrar a importância do uso inteligente e fecundo do instrumento audimétrico, incluindo o serviço público. Diz a velha sabedoria dos pedagogos: para ensinar matemática a João, é preciso conhecer-se a matemática e João. Para fazer uma boa política de programas, é preciso conhecer-se o público na sua diversidade de expectativas e comportamentos. Ora, a audimetria ajuda, do mesmo modo que os trabalhos económicos e sociológicos, assim como os trabalhos de prospectiva. Os programadores recorrem ainda a focus groups, entrevistas não dirigidas e testes-piloto.

Nos anos iniciais, a audimetria analisava os lares e não os indivíduos. Só em 1988-1989, e respeitante a França, foi possível adicionar aparelhos tipo telecomando para medir comportamentos individuais, o que permite a construção de indicadores mais precisos. Souchon acha que a audiência não deveria exprimir-se em número de pessoas mas em número de horas-espectadores. A audiência de televisão significa pessoas que consomem tempo diante da televisão. Os únicos casos em que se pode falar de números são os de audiência instantânea (num dado momento, um canal ou emissão tinha tantos espectadores) e de audiência acumulada (durante a difusão de uma emissão ou durante um determinado período, tantas pessoas viram, pelo menos, uma parte da emissão ou do horário).

Há ainda a audiência total, conjunto de pessoas que viram todo o período estudado (emissão ou período de tempo), a audiência média (rating), que é o número de pessoas presentes, em média, durante a emissão ou período de tempo (é a média de todas as audiências instantâneas), parte da emissão ou parte do mercado (share), que é a relação da audiência média de uma emissão ou de um horário face à audiência média da televisão durante o mesmo período de tempo, e volume de escuta, que é o tempo passado diante da televisão (ou de um canal) durante um dado período de tempo pelo conjunto de indivíduos de uma população.

Tudo isto quer dizer que a audiência de uma emissão não é medida por um só número. Muitas vezes, reduz-se a noção de audiência a um só indicador, a audiência média. Quase sempre, o número dos que vêem um fragmento de uma dada emissão é maior que o expresso pela audiência média, pois muitos espectadores entram e saem da emissão. A audiência média é menos importante se se comparar com os espectadores de cinema, os quais vêm o filme completo. Pelo que a audiência de uma emissão de televisão não pode ser comparada com a audiência da sala de espectáculo (público).

Os utilizadores da audimetria têm modos distintos de olhar o indicador audiência. Os publicitários usam o GRP (soma de percentagens da audiência média obtidas por uma mensagem publicitária nas suas diferentes passagens na antena), a cobertura (número total de pessoas que viram uma mensagem publicitária pelo menos uma vez ao longo das diferentes passagens no canal) e a taxa de repetição (número médio de exposições às mensagens publicitárias pelas pessoas representativas na cobertura). Os programas de media planning, que procuram a optimização do orçamento de um anunciante, fazem-se em termos de GRP, taxas de repetição ou cobertura, em função dos públicos-alvo das mensagens.

Para sair da ficção simplificadora do telespectador médio, aconselha Souchon, é indispensável estudar a estrutura do volume de escuta por género de programa nos grupos da população segundo a idade, género, tipo de actividade socioprofissional e categoria de habitat. O emprego de variáveis (género, idade, nível de instrução) traduz-se numa variável mais complexa. Souchon construiu uma grelha com dois níveis de instrução (mais baixa, mais elevada), três níveis etários (jovens, meia idade, idosos) e dois géneros, obtendo 12 grupos.

Souchon emprega também um tipo de indicador de qualidade. Por exemplo: qual o número de horas difundidas de documentários, a natureza das emissões apresentadas no prime time, a parcela do orçamento destinada a criações ou domínio da ficção e de programas, que caracterizam o serviço público.

Notas finais: (1) os valores de audiência acumulada numa semana indicam que muitos espectadores vêem o canal pela sua "utilidade", (2) na estrutura do volume de escuta do canal, as emissões de lazer, informação e formação têm um lugar importante, com os espectadores a demonstrar a necessidade do canal por um certo tipo de programa, (3) a parcela mais instruída do canal pode ser negligenciada pela televisão comercial, embora esse grupo precise da televisão para informação, cultura e distracção, (4) em emissões características da televisão pública (documentários, programas de informação, reportagens), a parcela de audiência do canal é superior à parcela da audiência média, comprovando a diferença das suas produções e da sua política de programação.

Leitura (ficha de leitura): Michel Souchon (2003). "Pour une utilisation complexe de l’audimétrie". In Dominique Wolton (dir.) L'audience. Presse, radio, télévision, internet. Paris: CNRS Éditions, pp. 157-165

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

ARQUIVOS DIGITAIS

O jornal The Times tem planos para abrir parte do seu arquivo de 200 anos, segundo foi revelado numa recente conferência dada em Londres, segundo a edição de ontem do sítio journalism.co.uk.

Em Portugal, a recente reorganização do Público na versão on-line também permite o acesso aos seus arquivos, embora a pagar e abarcando um tempo bem menor, dada a juventude do jornal. Também sei, embora não tenha ainda explorado, que o Diário de Notícias digitalizou o seu arquivo, bem mais antigo do que o concorrente português, o que permite procuras científicas muito acessíveis do que até há pouco tempo.
DUAS COISAS EXCELENTES

São dois livros. Um pertence a Homero Serpa, nascido em 1927, na freguesia de Belém (Lisboa). Escreveu em publicações como O Mosquito e A Bola (ver outras colaborações
aqui) e vai lançar o seu livro no dia 16 deste mês nos Pastéis de Belém, à rua de Belém, 84-88, aqui em Lisboa. É o sítio ideal para se comer um pastel de nata.

O outro é o Anuário de Vinhos 2007, de João Afonso, "o resultado distanciado e objectivo da prova cega de mais de 2500 vinhos de mesa portugueses, incluindo ainda a classificação de Vinho do Porto, Moscatéis, Vinho da Madeira e Colheitas Tardias". Uma ideia da editora Livros Cotovia.

Pastéis de nata e vinho não combinam bem. Mas tomados um em sua vez é aconselhável, desde que seja moderadamente. E os livros parecem prometer.

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

AUTO-PROMOÇÕES

No passado dia 1, tinha escrito uma mensagem com o título
AS PÁGINAS 12 E 13 DO PÚBLICO DE HOJE, onde eu entendia que José Manuel Fernandes não deveria, no editorial desse dia, falar de um livro que o jornal ia vender no dia seguinte.

Um amigo e grande especialista dos media escreveu-me a dizer o seguinte: "Se forem importantes, porque não? Pode escrever sobre um romance ou outro livro qualquer e não pode sobre aqueles livros? São eles importantes? Trazem matéria nova? Porque não criticar os canais nas promoções dos produtos culturais dos seus grupos nos próprios noticiários (acontece nos 3 grupos: RTP, SIC, TVI)? Sinceramente não acho mal, se for feito com bom senso. Ainda por cima, no caso, tratava-se de um editorial assinado. Também poderia ser sobre uma reportagem que viesse no próprio jornal, também serviria para «vender» o jornal".

Agora, em nova mensagem, acrescenta: "o programa «Sociedade das Nações», da SICN, faz promoção da revista Courrier International, editada pela mesma empresa; e o «Expresso da Meia-noite» só mostra as manchetes do Expresso".

As observações contidas nestes comentários têm pertinência, pelo que agradeço. Tal obriga-me a moderar a crítica contida na mensagem de há quatro dias atrás, dada a generalização de ocorrências. Embora me pareça dever haver mais prudência e recato dos media relativamente a projectos comerciais lançados pelos próprios media. A actual separata "Clube Morangos" do Diário de Notícias insere-se neste capítulo, embora eu compreenda a razão comercial do jornal - atingir um público-alvo (jovens) que vê o programa de televisão e se vai sentir impelido a criar uma nova rotina, a de comprar o jornal que fala dos seus heróis.
AGENDAS CULTURAIS

São, respectivamente, de Lisboa e Oeiras e respeitam ao presente mês.

Da agenda de Lisboa, destaco a capa, de Sofia Dias, sobre quem escrevi aqui há dias, a edição de DocLisboa2006, a decorrer entre 20 e 29 de Outubro na Culturgest, a exposição de Graça Morais, a abrir ao público a 27 de Outubro na Cordoaria Nacional e o II congresso do Tejo, promovido pela Associação dos Amigos do Tejo, reunião a realizar de 24 a 26 de Outubro na Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos. E ainda a lista de restaurantes e bares (pp.116-123).


Da agenda de Oeiras, saliento a entrevista dada por Carla Sacramento, que é a capa da mesma publicação, a semana cultural, com teatro (Ionesco, Tchekov e outros autores) e música ((Rui Veloso, Fernando Tordo, coro da Academia de Amadores de Música e outros), de 9 a 15 de Outubro, no auditório Lourdes Norberto, em Linda-a-Velha, e conferência sobre os 450 anos da fortificação de São Julião da Barra e os 400 anos do naufráfio da nau Nossa Senhora dos Mártires, na Cisterna do Forte de São Julião da Barra, em Oeiras, no dia 14 de Outubro.
HÁBITOS CULTURAIS DE JOVENS UNIVERSITÁRIOS

Cinco alunos que, no ano lectivo transacto, frequentaram a cadeira de Métodos de Investigação do curso de Comunicação Social da Universidade do Minho, fizeram uma investigação centrada nos hábitos culturais dos estudantes daquele curso (Ana Catarina M. Silva, Ana Catarina S. Silva, Ana Patrícia Silva, Hugo Ricardo Araújo e Nídia Ferreira). Assim, procuraram responder à seguinte pergunta de partida: "A progressão no curso de Comunicação Social pode estar relacionada com os hábitos e consumos culturais dos alunos que o frequentam"?

Escreveram os cinco alunos: "Determinámos que os indicadores das práticas culturais do inquirido seriam não só a frequência com que este executa actividades culturais, mas também o tipo de actividades praticadas e a avaliação que faz relativamente aos seus preços. Da licenciatura, seleccionámos o 1º e 4º anos com o objectivo de, comparando os extremos, compreender se existe alguma progressão" (p. 11). Para trabalhar, o grupo construiu um questionário aplicado a uma amostra de 100 elementos (50 estudantes do 1º ano e 50 do 4º), num total de 28 homens e 72 mulheres (p. 21).

Assim, e conforme o estudo, "no 1º ano da licenciatura privilegiam-se actividades passivas como ouvir música (84% dos inquiridos afirma ouvir música muito frequentemente), ler livros, ler jornais, ler revistas, ver televisão (64% muito frequentemente), aceder à Internet (60% muito frequentemente) e ouvir rádio, em detrimento de práticas mais activas, como são exemplo, a ida a concertos de música popular/moderna, a concertos de música erudita (36% nunca) e a assistência a peças de teatro". Já no 4º ano da licenciatura, "observa-se também algum distanciamento face a actividades de saída de cultural, tais como concertos de música popular/ moderna, concertos de música erudita (40% nunca) e peças de teatro. O cinema apresenta-se também aqui como única excepção, visto que 38% dos inquiridos vão frequentemente. Pelo contrário, verifica-se uma predilecção por práticas passivas, como são exemplo: ver filmes, ouvir música (82% muito frequentemente), ler livros, ler jornais, ler revistas, ver televisão, aceder à Internet (94% muito frequentemente) e ouvir rádio" (p. 16).

Sensivelmente 2/3 (66%) dos estudantes do 1º ano respondeu que, por mês, dispunha de até €200 para todos os seus encargos económicos, sendo que dentro deste grupo apenas 6% se encontram na categoria menos de €50. Deste montante mensal afirmam despender em média entre €25 e €50 em produtos e actividades culturais. Somente 16% dos inquiridos declara ultrapassar os €50 (p. 19). Quanto aos alunos do 4º ano dispunham de recursos económicos mensais mais elevados. "Enquanto que no 1º ano, apenas aproximadamente 1/3 (34%) dos alunos dizia possuir mais de €200 para gastos mensais, no caso dos alunos do 4º ano a percentagem sobe para 52%, ou seja, mais de metade. Em práticas e consumos culturais, tal como no 1º ano, afirmam despender em média de €25 a €50 mensais, sendo que os indivíduos que dizem ultrapassar este montante representam 20% dos elementos do 4º ano".



Na avaliação comparativa, verificou-se a ocorrência de evolução positiva do 1º para o 4º ano relativamente a hábitos e práticas culturais, com aumentos significativos no acesso à internet, audição de rádio e audição de música. Quanto à compra de produtos culturais, constataram que o único acréscimo relevante no 4º ano foi a compra de jornais. As preferências culturais entre ambos os anos são maioritariamente homogéneas.

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

O QUE É FEITO DE SI?

Este é o título do texto de Pedro Rolo Duarte na última página do Diário de Notícias. Jornalista que eu elogiei aqui quando ele era o responsável do "DNa" (antigo caderno da sexta-feira daquele jornal), e que tem agora uma coluna semanal, questiona hoje sobre o desaparecimento de temas que surgiram nos media como sendo muito importantes e desapareceram quase sem dar rasto: gripe das aves, vacas loucas, nitrofuranos, escândalo dos selos Afinsa.

Estou de acordo com a perspectiva do jornalista. Porém, pergunto: quem constrói a agenda dos media? As notícias não são veiculadas pelos jornalistas? Não são eles que veiculam teses e temas e dão uma dada importância, medida pela espectacularidade dos títulos, manchetes e "gordas"?

Logo - procurando responder às minhas perguntas -, há uma grande responsabilidade dos profissionais dos media na ampliação dos acontecimentos e no seu silenciamento posterior. A agenda (ou pauta) é isso mesmo - estar em dia com os acontecimentos e puxar para título o que parece mais espectacular e sensacionalista. Estamos, como escreveram os cientistas políticos e sociólogos Thomas Patterson e Michael Schudson, no domínio das notícias leves e de um olhar cínico sobre as causas que originam dadas ocorrências e seus agentes, com crítica feroz frequente e em espiral do que esses agentes sociais fazem ou opções que tomam. Por outro lado, a concorrência entre títulos dos media conduz a uma maior encenação de manchetes, no sentido de vender mais.

Tudo isto parecem coisas que o próprio jornalista torna implícito para quem lê os dois primeiros parágrafos do texto, mas é preciso clarificar. Os jornalistas acabam por ser, afinal, vítimas do que escrevem: as histórias nunca têm final, ficam paradas algures sem resposta ou solução.

ECOSFERA

Gonçalo Pereira editou um livro o mês passado (A Quercus nas notícias, Porto Editora) e é director da edição portuguesa da National Geographic. Tem ainda um blogue, ecosfera, onde escreve sobre ambiente e desenvolvimento sustentável em Portugal.

Numa das últimas mensagens, Gonçalo Pereira escreveu: "durante o mês de Setembro de 2006, analisei cuidadosamente o jornal Público. Pela leitura ao longo dos meses anteriores, tinha a percepção de que o jornal vinha acumulando erros de conteúdo". O resultado lê-se em
ecosfera, podendo ser um instrumento útil de análise do provedor do leitor do Público.