Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
segunda-feira, 28 de agosto de 2006
Em trânsito entre dois sítios geográficos, o blogueiro decidiu colocar duas mensagens, uma com o cartaz do workshop de 2 de Setembro sobre Cultura de Massas ou Indústria da Cultura?, e outra dando informação do Fórum Imigração, organizado pela Gulbenkian, e do programa de artes de de cultura artística (que corre a par de seminários, workshops e conferências).
Agora, volto ao sossego das férias. E obrigado a todos(as), pois já ultrapassei os 300 mil leitores do blogue.
Conforme publicitara aqui, realiza-se no próximo dia 2 o workshop internacional Cultura de Massas ou Indústria da Cultura? Para ver melhor o cartaz, clicar em cima dele.
A Fundação Calouste Gulbenkian, através do seu Serviço de Saúde e Desenvolvimento Humano, decidiu organizar o Fórum Imigração. A par de seminários, workshops e conferências, juntou um programa de artes de de cultura artística. O objectivo do programa é, demonstrar, "através dos temas e dos reportórios das programações artísticas, dos catálogos das editoras, da maior ou menor presença de estrangeiros na vida cultural, sejam eles artistas pertencentes a companhias ou equipas de produção ou trabalhadores - aos vários níveis - integrados nas organizações culturais".
O programa, começado em Junho, estende-se até ao próximo mês de Março. Há duas exposições (fotografia, cinema) e, em Setembro, artistas imigrantes apresentam as suas obras: músicos, actores e costureiros. O primeiro espectáculo decorrerá no dia 8, pelas 21:30, o grupo Contra-Banzo [em kimbundu, ku banza significa pensar, raciocinar].
sexta-feira, 18 de agosto de 2006
CULTURA DE MASSAS OU INDÚSTRIA DA CULTURA?
WORKSHOP INTERNACIONAL
No dia 2 do próximo mês, vai decorrer o workshop internacional Cultura de Massas ou Indústria da Cultura?, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (Av. de Berna, 26, na sala de reuniões do 7º piso, em Lisboa). Trata-se de uma organização conjunta do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa e do Centro de Estudos Interdisciplinares do século XX da Universidade de Coimbra.
O programa é o seguinte:
Apresentação – 9:30
Cultura de Massas ou Indústria da Cultura?
Luís Trindade,
1ª Sessão – 10:00
A Galáxia de Gutenberg
Dominique Kalifa e Christophe Prochasson (investigadores franceses) e Luís Augusto Costa Dias,
2ª Sessão – 14:00
A Sociedade do Espectáculo
Manuel Deniz Silva, Tiago Baptista e Frederico Ágoas,
3ª Sessão – 16:30
Apocalípticos e Integrados
António Pedro Pita, Nuno Domingos e Madalena Soares dos Reis.
Trata-se, na minha opinião, de um grande acontecimento cultural, dada a qualidade dos presentes.
Na edição de hoje da "6ª", revista do Diário de Notícias, Carlos Leone é entrevistado por Pedro Mexia, a propósito da sua tese de doutoramento e publicação em livro. Confesso que, por estar a trabalhar noutras áreas, não acompanhei esta produção de Leone. A entrevista vem-me chamar a atenção para a saída do segundo volume de Portugal Extemporâneo. História das ideias do discurso crítico português no século XX (edição da Imprensa Nacional-Casa da Moeda).
Da entrevista, respigo duas ideias. Uma sobre a relação entre discurso crítico e jornalismo. Carlos Leone acha que a crítica, apesar de não ter morrido, perdeu relevância na sociedade. Até porque foi absorvida pelo marketing, que ocupou a função social da mediação no conhecimento das obras de arte e ideias. A segunda ideia liga-se aos blogues, que ele criticou numa dada altura, em especial devido aos comentários anónimos colocados nos textos de um blogue. Agora moderou a sua postura e considera que os blogues são um espaço de criação de liberdade em termos de crítica e de edição.
Recordo sempre o jovem organizador de textos quando, em 1999, bateu à minha porta e me convidou a escrever um capítulo de um livro por ele organizado. O livro saíu no ano seguinte com o título Rumo ao cibermundo? (edição da Celta) e colocou-me ao lado de autores importantes: Rui Bebiano, Hermínio Martins e Carlos Vidal. Foi a primeira vez que publiquei um texto sobre indústrias culturais.
Lê-se no Diário de Notícias de hoje que, a partir de 18 de Setembro, a Antena 2 terá uma nova grelha de programas.
O que vem à cabeça da notícia é a presença da dupla Gabriela Canavilhas e Paulo Alves Guerra, nas manhãs (7-10 horas), misturando música e informação. Noutras grelhas de programas, Canavilhas já foi animadora das manhãs da rádio - e eu gostava de a ouvir. Entretanto, com os compromissos na Orquestra Metropolitana de Lisboa, foi-se separando da rádio. Mas juntar música com informação, de modo ao estúdio ter agora um terminal de notícias, será bom? Não basta a Antena 1 com notícias repetidas de meia em meia hora, e com informação continuada e redundante de trânsito ("resistência" na ponte 25 de Abril, "sinal vermelho" no acesso à Segunda Circular) e das temperaturas máximas para o dia?
Registo com agrado o reaparecimento de programas de jazz (José Duarte e Manuel Jorge Veloso) e os programas de António Cartaxo (do que mais gosto de ouvir na Antena 2). E Rafael Correia (Lugar ao sul).
A notícia do Diário de Notícias (peça de Marina Almeida) ainda refere a audiência da Antena 2: 0,6% de audiência acumulada de véspera. Na realidade, a estação precisa de subir um pouco; daí o título da notícia: Antena 2 procura novos públicos.
O youtube nasceu o ano passado, quando Chen [não sei o nome de família] e Chad Hurley, até aí empregados no serviço de internet paga PayPal, quiseram colocar vídeos de uma festa. Rapidamente, formou-se um movimento popular de boca a orelha - e em 2006 é um fenómeno. Ainda esta semana, um homem de 79 anos, chamado Peter ou "geriátrico de 1927", tornou-se uma nova estrela do portal e servidor, em que ele partilha as suas ideias sobre a vida moderna (em seis vídeos). Cem milhões de visitas diárias é o número que a youtube apresenta para toda a produção de vídeos e partilha ao longo do mundo.
Agora, e como foi anunciado ontem, os seus responsáveis anunciaram que iriam colocar uma cópia de todos os singles musicais em vídeo. Há quem veja uma ameaça (mais uma) à indústria musical. Neste caso, inclui-se o iTunes. Mas há quem veja uma nova revolução na música.
[recortes de imprensa do Público, Diário de Notícias e The Guardian]
Indica a newsletter de hoje da Meios e Publicidade que, no mês de Julho, "os quatro canais generalistas nacionais emitiram 64805 anúncios publicitários, excluindo auto-promoções, o que representa uma média diária de 523 inserções por estação" (dados da MediaMonitor). Porém, este valor apresenta uma quebra de 6,4% face ao mesmo período de 2005.
Quanto à duração dos spots houve um crescimento, em 2006, de 9% em relação ao mesmo mês do ano transacto, para um total de 523 horas, o que significa uma média de 4 horas e 13 minutos diários por estação, ainda segundo a Meios e Publicidade. Cada peça publicitária dura em média 27 segundos; o destaque foi para a RTP1 (média de anúncio: 34 segundos), seguindo-se a TVI (26 segundos), a SIC (23 segundos) e a 2: (18 segundos).
Medindo a relação da publicidade com o tempo de emissão, podemos concluir que 17,5% do tempo é passado com publicidade, pelo que esta rubrica tem de ser considerada um programa. Aos dados divulgados agora falta-nos conhecer o investimento publicitário, para aquilatarmos a importância da publicidade na economia da televisão.
Na mais recente newsletter da Marktest, somos informados que, "no segundo trimestre de 2006, 4 622 mil indivíduos ouviram rádio (referência: véspera), o que representa 55,6% do universo composto pelos residentes no Continente com 15 e mais anos" (Bareme Rádio).
A análise aos públicos-alvo "mostra como os homens ouvem mais rádio do que as mulheres (respectivamente, 63,2% e 48,7% de audiência acumulada de véspera) e os jovens mais do que os idosos (com o grupo dos 25 aos 34 anos a liderar as audiências, com 73,2% de audiência acumulada de véspera)". Por ocupação, são os quadros médios e superiores "os maiores consumidores do meio, com 70,7% de audiência acumulada de véspera, logo seguidos dos empregados dos serviços, comércio e administrativos, com 69,5%, e dos trabalhadores especializados e pequenos proprietários, com 69,2%". Já nas classes sociais, são os indivíduos da classe média alta que se destacam, com 65,4% de audiência acumulada de véspera.
Uma das notícias do portal Star.pt em edição de hoje é sobre a novela juvenil da SIC, Floribella. Lê-se no portal: "As gravações da novela da SIC deverão terminar no final de Outubro, mas o derradeiro episódio só irá para o ar nos últimos dias do ano, já depois do Natal. A tvmais descobriu como vai terminar Floribella em Portugal e, ao contrário do que aconteceu na novela na Argentina e no Brasil, por cá o nosso herói não vai desaparecer". Casamento, gravidez, ligações entre outras personagens e situações (motoristas, manicómios) - eis o menú da notícia. Com claro sabor a publi-informação.
A segunda temporada começará logo no começo de 2007, segundo a direcção do canal.
quinta-feira, 17 de agosto de 2006
Em notícia do Diário Digital (em serviço da Lusa) chega a informação de repórteres de televisão indianos, em busca de um furo jornalístico, terem ajudado "um homem que protestava por causa de salários em atraso a imolar-se pelo fogo frente às câmaras, dando-lhe fósforos e gasolina".
Foi ontem, dia do aniversário da independência da Índia, "quando Manoj Mishra protestava frente à leitaria onde trabalha, no distrito de Gaya, Estado de Bihar (leste da Índia), exigindo 200.000 rupias (3.382 euros) de salários em atraso. Os jornalistas de televisão terão, então, encorajado Mishra a imolar-se pelo fogo, fornecendo-lhe os fósforos e a gasolina, antes de filmarem tudo, explicou o chefe da polícia local, Amit Jain, citado pelo diário The Indian Express".
Estranho e terrível!
(obrigado a Rita Matos Oliveira, por me ter chamado a atenção para esta notícia)
José Carlos Abrantes resolveu abrigar os seus vários blogues num só, a que deu o nome Mestiçagens. Justifica: "Em geral, não sei reconhecer a pureza das coisas. Gosto pouco de compartimentos, mesmo dos que são fruto da organização do saber. Sei que parte dos progressos se devem à especialização, mas considero que os saberes também evoluem sempre que se misturam".
Mantém o mesmo layout (o blogue anterior "rejuvescera" recentemente) e elabora curtas mensagens em torno "da relação com as imagens, com os media, com o jornalismo". Bom trabalho para o blogue de José Carlos Abrantes, homem de múltiplas e ousadas facetas.
EDIFÍCIO AO CAMPO PEQUENO
SOFT NEWS, DE NOVO
A história veio na edição de anteontem do jornal. A jornalista procurou no sábado passado saber informações da mulher e da criança, indo aos subúrbios de Beirute, a um sítio chamado Shiyyah, para reconstruir os passos da família vitimada, passando pelo hospital Mount Lebanon. O local da destruição era um bloco de apartamentos de cinco andares, deitado abaixo por dois mísseis israelitas. A mulher morta chamava-se Selwa Wehbe, tinha 28 anos, o marido chamava-se Ali, e os filhos eram Hassan, de nove anos, Hussein, de sete anos, e Waad, de apenas 13 dias (a criança que estava junto à mãe na fotografia). Selwa nascera ao norte do rio Litani, a fronteira natural reclamada para segurança dos israelitas.
Segundo os relatos da família sobrevivente (tios, cunhados), Selwa era uma mulher simpática e cheia de humor, que adorava nadar e ver as telenovelas árabes. O marido Ali era taxista. Quando os bombardeamentos começaram, Selwa estava muito grávida (a criança nasceu na segunda semana da guerra); além disso, estavam à espera de se mudar para uma casa nova. Daí o terem adiado a saída do bairro onde moravam, e que foi muito fustigado pela aviação israelita. A menina recém-nascida fora chamada Waad, que significa "promessa" (a partir do nome "promessa da verdade" dado pelo Hezobollah a uma operação militar) [muitas raparigas nascidas nesta ocasião estão a receber esse nome, enquanto os rapazes são chamados Hassan, primeiro nome do principal responsável do movimento libanês].
A peça que agora segui representa um trabalho de investigação. A partir de uma fotografia - um indício - a jornalista parte para o terreno e procura saber mais além do observado. No caso presente, não teve possibilidades de falar com os agentes fotografados, mas procurou em vários sítios, reconheceu o edifício, investigou familiares próximos, foi até junto deles. E, para além da história que acima sintetizo, descreve o ambiente, os familiares das vítimas, o chá que bebeu, uma criança que brincava e se juntou ao grupo. Tudo numa atmosfera calma mas de evidente revolta e tristeza.
Um trabalho deste tipo - a que se pode chamar feature, em inglês - representa um passo além da notícia factual, da ocorrência. A fotografia fora a ocorrência brutal da morte de mãe e filha. A notícia soft (que, por vezes, traduzo por notícia de investigação) revela aquilo que a fotografia era incapaz de dar. Para além do acontecimento, há razões, há pessoas e gestos. O trabalho jornalístico parece reordenar essa desarrumação do acontecimento e dar-lhe enquadramento e racionalidade. Ou, pelo menos, compreensão para quem lê. Por isso, o trabalho jornalístico é frequentemente um relato literário, com narrativa. Não é ficção mas reconstrução. Apesar de não voltar a dar vida a Selwa e Waad, quem leu teve compaixão e compreendeu, uma vez mais, que as guerras não têm sentido e que atingem aqueles que têm sonhos e fazem uma vida normal: cuidar dos filhos, procurar uma casa nova, trabalhar no taxi. As notícias hard (que falam de política, de economia, das coisas importantes da sociedade) não têm esta aproximação à vida das pessoas.
quarta-feira, 16 de agosto de 2006
O Foram-se os anéis é um blogue divertido, animado por José Nunes. Não é uma banda desenhada, pois cada desenho é uma unidade: cinco dedos de uma mão podem ser cinco personagens distintos. A visitar.
CÉU DE LISBOA
[continuação da mensagem de ontem]
Gripsurd propôs distinções dentro do terreno do jornalismo popular. Muitas formas e conteúdos não tablóides são populares no sentido que têm grande popularidade, quer na imprensa quer no audiovisual. A aproximação "tablóide" e "popular" pode distorcer a realidade. Por isso, não se pode ver a tabloidização apenas como processo que altera o equilíbrio entre jornalismo de "qualidade" e "popular", para usar a dicotomia inglesa.
Muitos dos media populares são, simultaneamente, sérios e educativos. O muito referido programa da BBC, Nationwide, não era "popular" oposto a "qualidade" - era jornalismo popular de qualidade [como dizemos do Jornal de Notícias e do Correio da Manhã e, por vezes, do Diário de Notícias]. O mesmo é válido para a maioria do jornalismo apresentado pelos canais televisivos europeus com obrigação de serviço público. Na televisão escandinava, há a tradição de conjugar entretenimento com material informativo mais ou menos relevante em programas de variedades orientados para a família - tradição mais antiga que o termo infotainment. Os tablóides populares escandinavos contêm uma cobertura séria de temas importantes. O termo cultura média significa a existência, nos jornais populares não tablóides, de uma audiência ou leitores de elementos mistos.
Claro que convém distinguir tablóide e lixo. O significado de "tv tablóide" é diferente de "tv lixo"; esta inclui programas de luta romana, reality tv, strip-tease e outros géneros pornográficos, que têm em comum o grau de choque estético e de sensacionalismo e que provocam, na audiência, pontapés, gargalhadas e tudo o que aumente os níveis de adrenalina. O tablóide pode ser jornalismo popular útil e relevante, o lixo é entretenimento brutal com ausência de ética.
David Paletz (The media in American politics, 1998) descreve quatro tipos de "fornecedores" de notícias: elite, prestígio, popular e tablóide, como se fossem um continuum de formas e conteúdos jornalísticos. A imprensa de elite destaca o governo e a política e as notícias incluem background e explicações. É o caso de jornais como o New York Times e o Washington Post. A Newsweek e a Time fariam parte dos media de prestígio, apesar do autor não fazer grande distinção entre media de elite e de prestígio, a não ser a dimensão dos assuntos e o uso de imagens. Na categoria popular, os "fornecedores" realçam o drama, acção, entretenimento, simplicidade, brevidade, imediatez, personalização. Há gráficos, cor abundante, histórias breves e atenção excessiva às celebridades. O tablóide enfatiza o crime sexual, as celebridades e o escândalo.
É evidente que o uso de gráficos, imagens, cor e layout apelativo não indicam, por si só, que o medium é tablóide como a dimensão da peça na imprensa, rádio ou televisão garante qualidade. Os estudos sobre jornalismo "tablóide" ou popular destacam a repetição ou redundância de histórias e relatos dentro do campo do jornalismo. Tomam como certo que as histórias são curtas, básicas e de um certo estilo.
Gripsurd acha que sensacionalismo e personalização são duas características definidoras do jornalismo popular. Por vezes, o jornalismo popular transporta um certo desrespeito pelas autoridades, o que pode produzir desafios consideráveis para os que têm posições poderosas, em contraste com as formas respeitosas dos media de serviço público.
Os media jornalísticos contribuem, em princípio, para o envolvimento social e político de todos os cidadãos. As diferentes variedades do jornalismo popular, com a excepção das formas de lixo, podem contribuir para isso. Se a simplificação e exemplificação cuidada é parte central de qualquer tipo de jornalismo competente, as formas sensacionalistas e personalizadas associadas aos tablóides e o jornalismo melodramático não se adequam a um bom contexto político, social e cultural. Contudo, um grau de "tabloidização" nem sempre é uma coisa má.
Leitura: Gripsurd, Jostein (2000). "Tabloidization, popular journalism, and democracy". In Colin Sparks e John Tulloch (eds.) Tabloid tales. Global debates over media standards. Lanham, Boulder, Nova Iorque e Oxford: Rowman & Littlefield, pp. 285-299
terça-feira, 15 de agosto de 2006
Escolhi três edições de hoje: La Vanguardia (Barcelona), The Guardian (Londres) e Público (Lisboa). As manchetes incluem o recente cessar-fogo na guerra entre Israel e o Hezbollah. Se o título do jornal inglês indica que os libaneses que regressam a casa (às casas destruídas) reclamam vitória, para o jornal catalão Israel e Hezbollah consideram ambos ter ganho. O jornal português é o mais discreto, indicando que o cessar-fogo foi respeitado pelos dois, no primeiro dia.
Já as imagens estão de acordo com os títulos. O jornal La Vanguardia mostra imagens dos dois lados: soldados israelitas festejando com o v de vitória e felicidade nos rostos; o mesmo sinal de vitória de libaneses regressando de automóvel, numa fila de veículos. Vê-se ainda uma mulher sorridente com uma pequena bandeira, possivelmente do movimento armado do Líbano. The Guardian mostra uma criança em grande plano, de sorriso comedido e mostrando também uma pequena bandeira, esta claramente identificada com o movimento armado. De novo, o jornal português é o mais discreto, sem imagens. A grande fotografia da capa vai para uma ocorrência próxima, a festa do partido comunista, sob o título As férias dos partidos.
Se quisermos ser mais profundos, o jornal inglês, apesar da reclamada e aceite objectividade do seu projecto editorial, é o mais parcial, ao mostrar uma imagem de um dos lados do conflito. O Reino Unido tem um problema sério por estes dias. Enquanto o governo toma uma posição pró-israelita, a grande comunidade muçulmana daquele país tem sido acusada de ligações aos movimentos armados e terroristas (como o provou o caso da conspiração desta semana). Líderes dessa comunidade estão a fazer-se ouvir, e o Guardian traz, na edição de hoje, um texto de um jovem muçulmano inglês, Kamran Siddique, em defesa da comunidade e de um amigo que foi preso esta semana na leva de detenções. E, no caderno G2, uma história arrepiante de uma mulher morta nos bombardeamentos num subúrbio de Beirute (e a que gostaria de voltar um destes dias). A opinião pública inglesa está dividida, a meu ver.
A EUX.TV é o novo canal internacional europeu de televisão a ser lançado oficialmente em Setembro, noticia a newsletter do European Journalism Center. Gratuito, com noticiários generalistas e sobre política, numa perspectiva pan-Europeia, é uma combinação entre o canal de televisão aberto 24 horas por dia e ao longo de toda a semana com um sítio de internet que inclui informação actual sobre a União Europeia. O canal terá ainda programação noticiosa a partir das instituições europeias e das capitais nacionais.
Para a cobertura noticiosa, a EUX.TV vai contar com experientes jornalistas vindos da imprensa e do audiovisual, a partir de Bruxelas e de outras cidades europeias, dirigidos por Raymond Frenken, anterior responsável europeu do canal de economia da CNBC Europe e fundador do novo canal. O canal pode ser visto através do sítio EUX.TV.
Um dos textos mais significativos do volume organizado por Colin Sparks e John Tulloch, de 2000, é o de Jostein Gripsurd, intitulado Tabloidization, popular journalism, and democracy.
Gripsurd fornece diversas perspectivas da palavra tablóide, conotada com decadência e quebra de padrões jornalísticos, repercutidos nas funções ideais dos media nas democracias ocidentais. Se há quem avalie o tablóide crítica ou positivamente, o autor traça uma terceira perspectiva. Gripsurd entende que dicotomias como jornalismo "popular" e "de qualidade" não explicam as complexidades da prática jornalística actual, pois ambos são importantes formas de jornalismo.
John Fiske (de que se conhece uma obra de muito sucesso em tradução, Introdução ao estudo da comunicação) tem uma visão muito positiva do jornalismo tablóide. Para este autor, se os tablóides são populares é porque agradam às pessoas sem poder mas mostram desejo de mudar essa situação, desencadeando prazer na sua leitura. Eu estou a pensar no jornal 24 Horas, por exemplo.
A esta visão optimista do tablóide, opõe-se outra, representando pânico moral e receios éticos e políticos. As narrativas são simplistas, afastadas do ideal da idade de ouro do jornalismo. Bourdieu, na sua sociologia do gosto, falara da crítica das hierarquias culturais. O capital cultural não é conhecimento útil e o gosto puro não é competência analítica. O pequeno livro de Bourdieu, Sobre a televisão [panfleto para Gripsurd], é um ataque à comercialização e mostra a decadência do jornalismo televisivo. Segundo Bourdieu, o campo do jornalismo tem sido privado da sua autonomia relativa devido à invasão de forças económicas. O crescimento da pesquisa de mercado na imprensa e da medição de audiências na televisão são pressões acrescidas sobre os ideais clássicos do jornalismo. Agora, imperam o sensacionalismo, a personalização e o curto, o tratamento superficial em qualquer tópico e a ausência de profundidade na cobertura de questões sérias. Há uma orientação crescente em direcção às "estrelas". Dá-se ênfase ao que os franceses chamam fait-divers. O ideal seria, segundo Bourdieu, a televisão adaptar uma estilo análogo ao Le Monde, através de programas de sólidas análises e apresentados com tempo suficiente por pensadores "lentos" (reflexivos).
Tablóide, derivado da palavra tablete, designava inicialmente um formato particular de jornal (igual a metade de um broadsheet). Mas o primeiro tablóide, o inglês Daily Mirror, de 1903, combinava este formato com o destaque a histórias breves, grandes imagens e títulos sensacionalistas. A ligação conotativa entre um dado formato e um dado perfil jornalístico foi estabelecida desde então. O Le Monde e outros tablóides de "qualidade" não alteraram isto. O termo "televisão tablóide" revela o quanto o significado denotativo original de tablóide como jornal de determinado formato foi substituido por conotações de forma e conteúdo - pois não se pode dizer que há uma televisão com metade do tamanho do ecrã.
O significado de jornalismo "tablóide" usa-se hoje para se distinguir do jornalismo "popular". Isto pode levar à distinção, como fizera John Langer (Tabloid television, 1998), entre tablóide, popular e "outro". As "outras" notícias são as que não se relacionam directamente com política, questões sociais e economia. Tremores de terra, acidentes de viação, fogos são "outras" notícias, ao mesmo tempo que as estórias de interesse humano. As notícias sobre crimes são também "outras". Esta categoria contém quer notícias hard quer soft, ambas de informação social.
[continua]
segunda-feira, 14 de agosto de 2006
A EUROPA E OS MEDIA
São 424 páginas de texto, divididas em sete capítulos: a Europa dos 15 aos 25 países, os media como pilar de integração social, perspectivas nacionais e internacionais, estruturas e desenvolvimentos dos media em Portugal, alargamento da UE em termos de impacto económico, inquérito sobre o impacto do alargamento nos media portugueses e conclusões.
Em termos de síntese conclusiva (pp. 366-369), o estudo confirma que os media contribuiram para a criação de uma identidade europeia e configura a oportunidade para os media nacionais do alargamento. Como ponto de destaque, frisa-se que "É importante dar um novo alento ao discurso dos media sobre a Europa para que a visão «simbólica identitária" seja aprofundada, em que a realidade europeia - desde as suas estruturas às singularidades - tenha visibilidade". Será importante que a informação possibilite mais aprofundamento da perspectiva europeia quanto a empresários, profissionais e especialistas dos media.
Os autores dos capítulos são Alan Albarran, Arons de Carvalho, Carla Martins, Fernando Cascais, Helena Sousa, Hugo Marques, João Palmeiro, Juan Roca, Luís Tomé, Paula Cravina, Paul Murchetz, Francisco Rui Cádima e Vanda Ferreira. O livro contou ainda com a colaboração de Rogério Santos, Vera Lança e Joana Simões Piedade.
Recordo que o tema esteve em discussão pública durante o passado mês de Maio no blogue EUMedia.
OBITUÁRIO COMO GÉNERO JORNALÍSTICO
- Não tem propriamente tradição nem seguidores na nossa imprensa, mas o obituário é um dos géneros jornalísticos mais ricos. Em parte por "culpa" da seriedade que a morte inevitavelmente motiva, espera-se de um obituário um registo sério e descritivo. Não tem forçosamente de ser assim. O humor, o sarcasmo e a ironia cabem perfeitamente no domínio deste género, assim sejam utilizados com bom senso.
Na semana passada, li dois registos desta ordem no Público e em A Bola a propósito do falecimento do empresário Jorge de Brito. [...] Em A Bola, optou-se por um registo comovido, feito de adjectivos elogiosos, quase íntimos. Nem sombra de pecado, nem sobra de crítica. Os erros de percurso evaporaram-se da biografia do defunto. O jornalista optou por publicar numerosos depoimentos, metafóricos da generosidade do empresário. Da biografia do visado, ficaram meia dúzia de linhas. O resultado desilude.
No Público, o relato foi mais seco, polvilhado de episódios dispersos ao longo do tempo, aparentemente seleccionados para ajudar o leitor a construir uma imagem complexa da vida de Jorge de Brito. Alguns pormenores íntimos foram tristemente adicionados (não creio que eles tenham de ser escondidos por qualquer biógrafo, mas parecem gratuitos quando nada acrescentam à história). Depoimentos secos, sem pinga de interesse humano, amontoam-se no texto, quase como se o repórter e o jornal os publicassem por obrigação. Depois de ler o texto, áspero e seco, é legítimo perguntar de facto: porque dedicou o jornal um obituário ao empresário se não foi capaz depois de demonstrar o papel decisivo do defunto ao longo da sua vida?
[...] Puxando a brasa à minha sardinha, remeto o leitor para a edição de Agosto da edição da National Geographic (em Portugal, será publicado em Setembro) [Gonçalo Pereira é o seu director]. Ali, um obituário dedicado ao fotógrafo Tom Abercrombie constitui excelente exemplo do género jornalístico. Emotivo, claro está, mas não lamechas. Descritivo, mas não monótono. Os episódios de vida seleccionados pelo autor ajudam a compor um retrato para nós, os leitores, que não conhecemos a personalidade. É um retrato global de Abercrombie, enriquecido pelas pequenas falhas humanas, pequenos defeitos, pequenas manias e vaidades, que todos temos. Quando assim é, o obituário cumpre a sua função mais nobre: humaniza a morte.
A João Pedro Pereira, do blogue Engrenagem: "Em Português, leio também o Indústrias Culturais, do Rogério Santos, sobretudo pelo olhar crítico ao funcionamento da comunicação social".
Ele classifica o seu blogue Engrenagem como sendo "temático. Com a particularidade de abranger dois campos que, embora por vezes se toquem, são distintos. Penso que isto acabou por da origem a dois grupos de audiência. Tenho consciência que os posts sobre as particularidades de um novo software são do interesse apenas de alguns leitores, enquanto outros que preferem ler algo sobre, por exemplo, as questões éticas levantadas pelo fenómeno do citizen journalism".
O post de ontem de Paulo Querido no blogue Mas certamente que sim. É um comentário a uma mensagem minha sobre um artigo dele: "Num texto sobre diferenças e preferências entre hard news, soft news e light news, e a propósito da minha peça para o caderno de Economia do Expresso sobre a efeméride da WWW, Rogério Santos saudou-me nestes moldes: «saíu do castelo que é a revista “Única”, espaço de light news do semanário, para respirar, a semana passada em ensaio, esta semana em artigo factual»".
Vale a pena ler.
domingo, 13 de agosto de 2006
Ontem, os jornais referiam-se aos vinte e cinco anos do computador pessoal da IBM (casos do Expresso e do Público). Hoje, o El Pais, a partir de um estudo, reflecte sobre a relação entre televisão, telefone celular, videojogos e internet nos públicos mais jovens, nomeadamente com idades compreendidas entre 4 e 14 anos.
A televisão, em confronto com as outras tecnologias de comunicação e lazer, perde. Assim, apenas a população acima dos 25 anos é que passou a ver mais televisão. Até aos 24 anos, a televisão está a deixar de ser o principal meio electrónico de comunicação e lazer. Por exemplo, dos jovens espanhóis dos 10 aos 14 anos, 72% usam frequentemente o computador, 66% navegam na internet, 54% têm celular, mas vêem menos 20 minutos diários de televisão se comparados com resultados de há dez anos atrás.
Uma explicação para isto pode residir em menos interactividade da televisão com os jovens e porque há menos programas orientados para públicos juvenis. A dieta televisiva é semelhante entre adultos e jovens, porque os canais de televisão não tem sido capazes de produzir programas adequados aos menos crescidos [o que acontece também em Portugal e motivou a crítica da ERC à SIC, nomeadamente, com reacção recente desta].
Por outro lado, o desconhecimento, por parte dos adultos, de tecnologias como as consolas de videojogos, leva a que estes não acompanhem as crianças e jovens. E o texto que aqui sigo (de Rosario G. Gomez) alerta para o seguinte: em Espanha [e creio que também em Portugal], ainda não se deu nenhum caso de hikikimoris (palavra japonesa que significa "isolamento" "encerrar-se em si mesmo"), que afecta 10% dos jovens nipónicos. De tão ultratecnologizados que estão, preferem viver no mundo virtual das tecnologias de comunicação e lazer e evitam sair de casa.
A FOTOGRAFIA EM JOSÉ AFONSO FURTADO
Agora, há a oportunidade de olhar a obra fotográfica do autor, disposta em diversos catálogos e livros de muito boa qualidade gráfica e estética. Canada do inferno (2005), No vale de Massarelos, os caminhos do romântico (2001), No vale do Ave (2002) e A ocupação do espaço 1998-2000 (2004) mostram trabalhos a preto e branco de José Afonso Furtado, compostos por paisagens, espaços industriais abandonados, ligação entre a indústria e a natureza perpetuada por paisagens degradadas e poluídas, raros momentos de silêncio e abandono da actividade humana a possibilitar a auto-regeneração da natureza. Por vezes, e apesar da aparente ausência de referências e citações, o nosso olhar evoca paisagens naturalistas (Jean-François Millet) ou estudos construtivistas (László Moholy-Nagy). Ocupação do espaço, como sugere o título de um dos álbuns aqui presentes, e dilatação do tempo (as paisagens lembram cenas perpetuamente reproduzidas, com ciclos de conquista e abandono, como a manutenção de dispositivos da não edificada bairragem do Côa, em Canada do Inferno).
Também há a memória do tempo, lembrando a actividade ao longo do rio Ave - com as suas fábricas quase escondidas na paisagem rural - e os caminhos românticos de Massarelos - ruas estreitas de laje, cobertas por muros altos, as entrequintas, levando a um rio dourado e perfumado onde, outrora, caminhavam barcos poderosos de velame e vapor que traficavam bens como pão, vinho e artefactos.
Certamente o maior fotógrafo de paisagens que o país tem [além de director da Biblioteca Geral de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian], o trabalho de José Afonso Furtado está igualmente presente em obras colectivas como Paisagem fim de século (com Alberto Picco), Tejo, doze objectivos fotográficos e outros contributos. Alguns dos textos que acompanham estas edições pertencem a Maria do Carmo Serén, do Centro Português de Fotografia.
sábado, 12 de agosto de 2006
A ler o texto de Manuela Goucha Soares sobre Marcello Caetano ("Actual", Expresso de hoje). A ler (será na próxima semana, antes de partir para férias?) o livro de Ana Cabrera, Marcello Caetano: poder e imprensa. É que a história contemporânea portuguesa precisa de ser mais bem estudada.
Elas estão aí à porta (vá lá, falta ainda uma semana). Para ensaiar, um passeio de barco até perto de Cascais [pormenor nos vídeos: o ouvido selecciona os ruídos, pois o blogueiro não sentiu a força do vento mas sim o riso e os gritos de alegria das crianças tomando banho na praia, que ficava ainda bem distante do barco] [legenda da terceira imagem: o blogueiro sabe nadar, mas, por precaução, não se afastou da bóia; a profundidade naquele sítio deveria ser maior do que a altura do andar em que me encontro a escrever].
Muito obrigado à Maria João e ao Luís, pelo convite e hospitalidade.
sexta-feira, 11 de agosto de 2006
IMAGENS DE TELEVISÃO
O primeiro prende-se com a hipótese de conspiração de destruição de aviões, a partir de Londres. Entrevistados passageiros, os presentes no aeroporto de Heathrow mostraram-se pragmáticos, mesmo proactivos. Respondiam: "sim, é aborrecido, estamos aqui à espera, mas é para nossa segurança". E elencavam o tipo de obrigações ou constrangimentos que estavam a ocorrer, dignificando sempre a importância da segurança. Ao invés, uma passageira portuguesa em aeroporto nacional a embarcar para Londres respondia do seguinte modo: "não sei, estou à espera, disseram-me que comunicariam alguma coisa à uma da tarde, ainda não sei se vou, não sei, tenho medo, não sei se vou". E com esta indistinção na sua decisão havia uma mistura de receio e de alegria por estar a ser entrevistada pela televisão. Só faltava o "emplastro" (indivíduo que costuma colocar-se atrás do entrevistado e sorri de modo alarve). Não se poderiam seleccionar melhor imagens e entrevistados?
O outro conjunto de imagens que chamaram a minha atenção foi o da vitória de ontem de Francis Obikwelo nos europeus de atletismo de Gotemburgo. Eu vi claramente a vitória, mas, de repente, a câmara e uma legião de fotógrafos focaram um outro atleta, presumo que o segundo classificado, com uma enorme bandeira do seu país. Obikwelo receberia uma pequena bandeira portuguesa e depois uma outra pequena bandeira, mas a televisão quase não o acompanhava. Por momentos, fiquei confuso, tipo: "será que ele não ganhou e eu não vi bem a corrida"? A televisão preferia o outro concorrente, o do país organizador. Não haveria um dirigente nacional de atletismo que, num momento de patriotismo, corresse para Obikwelo e lhe desse uma igualmente grande bandeira? Caramba, era a segunda medalha de ouro ganha por ele e não há muita gente que se gabe desse feito.
A ausência de imagem de Obikwelo - ou o atleta na solidão da vitória - fez-me lembrar outra situação, a de Tiago Monteiro, quando este fica em décimo lugar numa corrida automobilística e os media nacionais falam do seu bom desempenho e quase ignoram o segundo, o terceiro e o quarto classificado e por aí adiante. A isto poderia chamar-se jornalismo bacoco, pseudo-nacionalista.
quinta-feira, 10 de agosto de 2006
SETE MILHÕES DE PESSOAS CONTACTAM A IMPRENSA
Face a período homólogo do ano passado, "este número representa um pequeno decréscimo de 1,8%, quando o indicador apresentava um valor de 86,5%", mas os dados existentes sobre os últimos dez anos mostram "uma tendência de relativa estabilidade na evolução deste indicador", aponta a Marktest.
Os mais idosos e os indivíduos da classe social baixa (maioritariamente idosos) são os públicos com maiores desvios face ao valor médio. Ainda segundo a Marktest, a ocupação profissional é outra variável a considerar no consumo de imprensa, e com menor influência o género e a região. Assim, os "quadros médios e superiores são os que observam maior audiência de imprensa, pois 99,2% deles leu ou folheou um título de imprensa analisado neste estudo durante o segundo trimestre de 2006". Também os "homens, os jovens entre os 18 e os 24 anos, os indivíduos das classes sociais alta e média alta, os empregados dos serviços, comércio e administrativos e os residentes nas regiões da Grande Lisboa e do Grande Porto apresentam [...] valores acima da média".
ESTUDOS DE AUDIÊNCIA
De algumas intervenções a que assisti, por parte de responsáveis da Marktest, eles próprios sabem das limitações da forma como fazem a medição de audiências. Há um ponto fundamental: as empresas de radiodifusão não têm dinheiro para pagar um modo mais moderno de medir audiências, alargando a amostra e fazendo a medição diária. Na realidade, e como Maria Fernanda Lima destaca, o universo de ouvintes com telemóvel não é analisado nessa amostra. E, segundo ainda a empresa de audiências, para além da possível alteração de ranking das estações, poderia surgir outra surpresa: ouve-se mais rádio e vê-se menos televisão, o que reorientaria os investimentos publicitários.
Críticas semelhantes (ou outras) são colocadas pelos canais de televisão, incluindo os de cabo. Estes afirmam estar subavaliados na amostra. Mas, como não há outra ferramenta de análise, a colocação de programas nos variados horários faz-se seguindo os resultados dados pela Marktest. E esta é auditada regularmente por uma entidade independente escolhida pela CAEM (Comissão de Análise de Estudos dos Media), entidade que congrega estações de televisão e anunciantes.
Editado pelo Institute of Politics, John F. Kennedy School of Government e Harvard University, o livro reune um conjunto de mesas redondas, onde directores de campanha, conselheiros, analistas políticos e jornalistas discutiram a campanha presidencial americana de 2004 (que resultou na reeleição do actual presidente americano George W. Bush).
Para os organizadores deste encontro (15 e 16 de Dezembro de 2004), que juntou 81 participantes, a campanha de 2004 trouxe uma renovada perspectiva no velho estilo de fazer política (como o trabalho voluntário e militante), em que o telefone, o estar em contacto com as populações e a internet permitiram aos envolvidos nas campanhas identificarem os potenciais apoiantes e levá-los a votar. A internet foi uma revelação no uso da campanha, na recolha de fundos, na captação de voluntários, na distribuição de mensagens e no combate às críticas veiculadas pelos media.
Pelo livro, que é a recolha directa das intervenções nessas mesas redondas, fiquei a saber que havia inicialmente 12 candidatos pelo Partido Democrata (nas primárias, ganharia Kerry), enquanto Bush era o candidato do Partido Republicano. Fiquei a saber ainda que o candidato Howard Dean, então governador do pequeno estado de Vermont (lá no cimo do país), conseguira recolher grandes financiamentos para a sua campanha através da internet (pequenas contribuições mas em muito larga escala). No livro, e pelas intervenções curtas - tipo pergunta e resposta -, também se conhecem as tricas próprias de uma campanha política (posição face à guerra do Iraque, então a começar, face ao corte de impostos e a seguros de saúde, direitos civis, etc.).
Campaign for President está dividido em cinco capítulos - a decisão de candidatura à presidência, as primárias e convenção democráticas, a estratégia da "primária" republicana (primária entre aspas, porque não havia competição interna), eleição e influências exteriores (grupos de pressão e intervenção política). O livro fica completo com um calendário dos acontecimentos ao longo do ano de 2004.
Não se trata de um livro teórico, pois nele apenas se encontra o registo escrito do que foi dito nesses dois dias de Dezembro de 2004, mas fica uma ideia: e por que não pegar no princípio e aplicá-lo a Portugal? Este ano, no seu começo, houve eleições presidenciais e, certamente, ainda há muito para saber de como se organizaram as diversas campanhas, quais as estratégias, que equipas e como reagiram no dia das eleições e prepararam os discursos da noite eleitoral.
quarta-feira, 9 de agosto de 2006
CONSUMOS DE CINEMA
Assim, no período de Abril de 2005 a Março de 2006, 2,4 milhões de residentes no país, com 15 e mais anos, afirmam ter o hábito de ir ao cinema (Bareme Cinema). Tal número, considera a newsletter, "representa 29% do universo em estudo, mas sobe para os 67,7% entre os jovens dos 18 aos 24 anos e para 70,8% entre os estudantes". Por exemplo, nos indivíduos acima de 54 anos, o valor não ultrapassa 5,4%.
Para além dos estudantes (70,8%), seguem-se quadros médios e superiores (54,9%), técnicos especializados e pequenos proprietários (37,4%) e os empregados dos serviços, comércio e administrativos os outros grupos ocupacionais (43,3%). Entre as classes sociais, são os indivíduos da classe alta (56,9%) e média alta (44,7%) que mais vão ao cinema. Por regiões, o hábito de ir ao cinema concentra-se na Grande Lisboa (37,6%) e no Grande Porto (36,2%), valores muito próximos e que somados dão 73,8% do total, o que ilustra o cinema como uma prática cultural de saída das grandes metrópoles - a que não é estranho a juventude estudantil, as classes profissionais e as infra-estruturas de lazer (24024 entrevistas realizadas em quatro vagas de inquéritos ao longo do período).
terça-feira, 8 de agosto de 2006
ESPECTÁCULOS
Garrincha, o índio de Pau Grande e estrela do Botafogo, terror dos guarda-redes, morreria "roído pelo álcool, cigarros e acidentes da vida", agora em peça de Serge Valletti, a estrear este mês no teatro municipal Maria Matos (Lisboa). Ainda me lembro das suas façanhas enquanto jogador de futebol.
Por outro lado, no Castelo de S. Jorge e no Museu das Marionetas, de Agosto a Setembro, decorrerá mais um festival de máscaras e comediantes.
SIC ACUSA ENTIDADE REGULADORA DE INTERFERIR NA SUA PROGRAMAÇÃO (PÚBLICO)
SIC ACUSA ERC DE ABUSO DE PODER (MEIOS & PUBLICIDADE)
Eis alguns títulos da resposta da SIC a "reparos feitos a certos aspectos da sua programação pela Entidade Reguladora para a Comunicação (ERC), em Junho passado, no contexto da renovação das licenças de emissão" (Público) . Na altura (28 de Junho), eu comentei, aqui, algumas das ideias veiculadas na deliberação da ERC, dizendo ser "um importante instrumento de análise sobre televisão comercial em Portugal".
Agora, surge a resposta da SIC, após uma outra resposta da TVI - menos destacada nos media. Infelizmente, como não tenho acesso directo ao documento do canal, tomo como totalmente fiáveis as notícias sobre o mesmo. Assim, e segundo o Diário de Notícias, no documento lê-se: "A propósito da apreciação do pedido de renovação da licença (...), aproveitou [a ERC] para criar um verdadeiro caderno de encargos, abusando claramente dos poderes que nesta matéria a lei lhe atribui". À frente, continuando a seguir o mesmo jornal: ao considerar falhas na programação, a ERC "ou não renovava a licença com esses fundamentos ou, tendo-a renovado, como sucedeu, é porque considerou justificados os alegados incumprimentos". E, no Público, lê-se: "A ERC quis aproveitar o ensejo de uma mera renovação de licença para fazer doutrina geral sobre a programação" (continua o texto com comparações com a programação da RTP).
Esta resposta da SIC merece ser analisada (pelo que dela nos é mostrado). Primeiro, devemos falar de partes interessadas. A SIC concorreu, no final dos anos 1980 ou começos da década seguinte, a uma de duas frequências para emitir televisão comercial. Havia um caderno de encargos. Na sua apreciação, a ERC disse que o canal cumpriu parcialmente, embora notando a falta de um noticiário e programação infantil. A que a SIC responde ter os programas Floribella e New Wave, apontados para públicos infanto-juvenis.
A ERC é, como a sua designação indica, uma entidade que regula interesses públicos, no caso, aplicados aos media. É uma autoridade como a que zela pelo cumprimento de regras de trânsito (velocidade máxima e adequada forma física e psicológica do condutor, bom estado da viatura através de vistorias periódicas). Não se pode andar aos tiros na rua ou praticar actos que ponham a moral pública em xeque. Há um conjunto de restrições que se inscrevem no bem estar geral. É o que me parece o ponto essencial da ERC: zelar pelo cumprimento de normas previamente estabelecidas. A SIC é a contraparte, o que faz cumprir a regra do jogo (acção e reacção). Ou seja, o documento da SIC deve ser visto como uma normal tomada de posição numa sociedade democrática, embora não exceda esse estatuto. Se o lóbingue tivesse em Portugal um estatuto sério, a posição da SIC seria vista como um ponto de vista de expressão da sua posição (pressão) e mais nada além do que isso.
A meu ver, o documento da SIC tem um ponto de exagero. Diz que, se a ERC encontrou tantos defeitos na programação da SIC, por que é que não a cancelou? Isto soa a radicalismo. Cancelar uma licença - até porque já tinha passado o prazo legal para tal - seria algo desastrado, e que ninguém de bom senso no país admitiria. Há investimentos, há contratos, há programas, há postos de trabalho. Em vez de uma atitude incompreensível, a ERC tomou a única posição admissível - a da renovação da licença. E, quanto a mim, marcou uma posição - agora, a entidade reguladora pretende que seja cumprido cabalmente o caderno de encargos inicial (ou aquele que resultou de alterações que canal de televisão e Estado ou seu representante acordaram). A anterior entidade (AACS) tinha contradições, e a nova entidade parece-me não as ter (ou pelo menos do mesmo tipo).
Há um terceiro ponto, e que retiro do texto do Público. Segundo a SIC, a ERC esqueceu-se de apontar os aspectos positivos do canal. Eu concordo, pois não me parece haver no texto da entidade reguladora nada a esse respeito. Mas a pergunta que se faz é: e não foi para isso que se concedeu a licença?
Um quarto ponto, e já fora da apreciação do documento da SIC, é o da posição do jornalismo perante um documento. Os textos que li são descritivos, factuais, dependem de uma fonte, não desconstroem o que essa fonte diz. Uma fonte de informação quando convoca uma conferência de imprensa ou emite um documento e o envia para os media tem um interesse específico em o fazer. O leitor fica desarmado se lê apenas esta notícia e não surge qualquer sinal sobre o interesse de quem faz as afirmações. Talvez amanhã ou no final do mês surja uma reacção da ERC, mas ela já não tem o peso da primeira afirmação (ou definição). Além de que nós simpatizamos mais com uma empresa privada do que com um organismo público, de quem nem conhecemos os seus responsáveis e o que fazem. O jornalismo também pode contribuir para esta (re)construção.
segunda-feira, 7 de agosto de 2006
É o que propõe o encontro bienal Interacció'06, organizado pelo "Centro de Estudios Y Recursos Culturales" de Barcelona, na Casa de la Caritat daquela cidade, entre 24 e 27 de Outubro deste ano.
As políticas culturais acentuam cada vez mais o desejo de aproximação ao público, quer em termos de infra-estruturas quer quanto a programas em que a cidade ou a área metropolitana é o espaço de referência. As instituições culturais em si procuram alargar os seus contributos, formando programas para minorias e elevando a ideia de diversidade e intervenção cultural.
O programa principal da Interacció'06 resulta de comunicações e mesas redondas com especialistas mundiais e apresentação de estudos de caso e experiências. Dos temas do encontro, destaco aqueles em redor de ideias como proximidade, tecnologias, interculturalidade e espaço público. E nomes como Alain Touraine (École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris), John Hawkes (Commnity Music Victoria, Austrália) e Teixeira Coelho (Observatório de Políticas Culturais, Universidade de São Paulo) e especialistas falando sobre comunicação em causas públicas, valores e cidades, conflitualidade, diversidade e cultura, sustentabilidade e cultura e políticas comunitárias e locais.
Procurar no sítio Interaccio2006 para saber mais.
HÁBITOS DE CONSUMO DE TELEVISÃO
Carina Rocha debruçou-se sobre os dados estatísticos de um estudo acerca dos hábitos de consumo de televisão do público de telespectadores da RTP-Madeira, em 2004. Foram inquiridos 604 indivíduos (universo de 300 mil habitantes). Em termos de idade, 20,4% tinha entre 15 e 24 anos, 19,5% entre 25 e 34, 18,4% entre 35 e 44, 14,2% entre 45 e 54, 11,3% entre 55 e 64 e 16,2% acima dos 64 anos. Relativamente à instrução escolar, 398 dos telespectadores tinham até ao 9º ano de escolaridade, 159 entre 9º e 12º ano e 77 possuíam cursos superiores. Quanto a status social, 11,3% pertenciam à classe A-B, 24,2% à classe C1 e 64,6% à classe C2-D.
Grande parte da amostra (76%) vê televisão todos os dias, vindo a grande distância os que consomem televisão quase todos os dias (17%). Os canais mais vistos na altura do inquérito (2004) eram a SIC e a TVI, com iguais valores, seguindo-se a RTP1. Por cabo, o canal Odisseia liderava isoladamente, seguindo-se a SIC Notícias e a MTV em igualdade de pontos.
Se, na RTP-Madeira, os programas mais vistos eram os indicados no gráfico, já na RTP 1 o Telejornal surgia à frente. Seguiam-se os concursos Quem quer ser milionário e O preço certo em euros, o primeiro com um nível de preferência superior à média junto das mulheres. Em patamar inferior, vinham os programas de entretenimento. Na SIC, e após o Noticiário das 20 horas (maior destaque junto dos homens com idades entre 15 e 34 anos, com instrução escolar superior e classes alta e média alta), seguiam-se as novelas Senhora do Destino e Cabocla (maior expressão junto da população feminina). Finalmente, no canal aberto TVI, o Jornal Nacional e o programa de entretenimento Quinta das Celebridades eram os programas mais vistos na grelha da TVI; num segundo nível, apareciam as novelas da tarde e da noite com valores muito similares.
Concluindo, e no geral, os programas de informação tinham uma audiência maior, seguindo-se os programas de humor, desporto, filmes, séries nacionais, concursos, telenovelas, séries estrangeiras e reality-shows. O horário de maior consumo é das 20:00 às 22:00. Enquanto o horário das 18:00 às 20:00 regista um consumo maior junto de mulheres, mais jovens e mais velhos, o horário das 20:00 às 23:00 tem maior sucesso junto da população activa (25-34 anos e 45-54 anos).
Claro que, desde 2004 até hoje, a realidade deve ter mudado bastante. Basta ver o sucesso das novelas juvenis Morangos com açúcar e Floribella, já não apenas no horário fim-de-tarde mas polvilhando vários horários ao longo da emissão.
domingo, 6 de agosto de 2006
BLOGUES, A PAIXÃO FRANCESA
É o que conta o El Pais de hoje: dos internautas franceses, 60% têm blogue, número que desce para 38% no Reino Unido e 32% nos Estados Unidos (texto de Octavi Martí).
Uma das explicações encontradas articula-se com o Minitel, o antecessor da internet, em que os franceses mantinham diálogo uns com os outros, compravam bilhetes de avião sem sair de casa, sabiam os horários dos cinemas e encomendavam as compras. O sucesso do Minitel foi grande; contudo, faltaram-lhe a economia e a língua mais universal, o inglês, pelo que a sua importância foi desaparecendo.
[imagem retirada do meu livro História das telecomunicações em Portugal, 1877-1990. Contributos para a sua compreensão, editado em 1992. O equipamento do minitel, chamado videotex em Portugal, era um computador interligado a uma rede. Recordo-me de, no final dos anos 1980, a Sonae ter um seviço de algum êxito, Mordomo, em que os clientes encomendavam as suas compras ao hipermercado, o que hoje também se faz através da internet]
O artigo aponta alguns blogues com interesse. Assim, se quiser conhecer a vida quotidiana dos artistas e das estrelas, procure em Alerte People!, enquanto se interessar por cozinha clique em C'est moi que l'a fait. Para um fã desta ferramenta de comunicação, o blogue é uma espécie de contrapoder num país hierarquizado e centralizado, enquanto outro relaciona o sucesso dos blogues com as rádios piratas ou livres, nos anos 1980, face ao carácter oficial, culto e sério da oferta da rádio pública.