terça-feira, 30 de junho de 2009

MOSTRA DOCUMENTAL DE MONTEMOR-O-NOVO


A 1ª Mostra Documental de Montemor-o-Novo vai decorrer de 6 a 19 de Julho. Segundo os organizadores, "pretende afirmar-se como uma plataforma de projecção e debate consciencioso feito a partir do documento Cinematográfico. Nesta primeira mostra convergem diferentes pontos de vista sobre o mundo, a partir de um leque diversificado de filmes que atravessam um período situado entre os anos 60 e a actualidade".

Além da Mostra, haverá um workshop de Documentário, de 6 a 16 de Julho, com os formadores Frederico Lobo e Tiago Afonso, nas Oficinas do Convento – Montemor-o-Novo.

Mais informações em
http://www.montemordoc.com/.

1º FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE HUMOR



Em Albufeira, de 4 a 11 de Julho.

APRESENTAÇÃO DE LIVRO DE JOSÉ LUÍS GARCIA (ORG.)


Dia 7 de Julho, pelas 18:30, na FNAC do Colombo (Lisboa), vai ser lançado o livro organizado por José Luís Garcia, Estudos sobre os Jornalistas Portugueses. Metamorfoses e Encruzilhadas no Limiar do Século XXI. A apresentação do volume é feita por José Pacheco Pereira e Adelino Gomes.

ARTISTAS E PROFISSIONAIS DA CULTURA

Amanhã, dia 1 de Julho, às 17:30, no auditório Afonso de Barros, no ISCTE (Lisboa), David Throsby, segunda conferência do ciclo Artistas e profissionais da Cultura. Organização: Vera Borges (ICS) e Pedro Costa (ISCTE).

INVESTIGAR A HISTÓRIA DOS MEDIA (II)

[continuação da mensagem de 22 de Junho]

Para Robert K. Avery (Quantitative methods in broadcast history), há, dentro do domínio das medidas científicas, quatro tipos de dados: nominais, ordinais, intervalo e relação. Os dados nominais são, por exemplo, informação demográfica como género, idade, etnia, educação, nível de rendimento. Usam-se números arbitrários (1=mulher, 2=homem). Os dados ordinais são frequentemente encontrados na informação nominal e expressam uma relação entre dois ou mais valores. Por exemplo, quando se quer saber a frequência do uso da televisão – "Quantas horas vê por dia: menos de uma hora, de 1 a 3 horas, mais de 5 horas" – aos respondentes é permitido utilizar dados ordinais ou elementos de qualificação entre "mais que" ou "menos que". Os dados de intervalo permitem ao investigador expressar relações entre pontos mas também indicar que as distâncias entre os pontos são iguais em posição, género "De 1 a 5 dê a sua resposta: 1 – concordo plenamente, 2 – concordo, 3 – estou indeciso, 4 – não estou em desacordo, 5 – estou em total desacordo". Cada resposta, de 1 a 5, tem um espaço igual. Esta forma de instrumento de escala tem sido muito usada em comunicação de massa e designa-se por escala tipo Likert, do seu criador Rensis Likert.

O quarto tipo de medida, a relação, inclui intervalos mas também o zero absoluto. Muitas sondagens são conduzidas anualmente, de modo a fornecer dados longitudinais, com amostras sistemáticas de uma população específica em intervalos regulares usando os mesmos processos de inquérito. Tais inquéritos permitem conhecer o nível das percepções das audiências, preferências de programas, número de receptores, níveis de educação dos ouvintes ou qualquer outra variável. Outro método de grande importância na comunidade de investigadores é a análise de conteúdo, que avalia as mensagens verbais, não verbais, áudio, vídeo e fotográficas. Dito de outro modo, as mensagens podem ser sujeitas a avaliações governadas por regras específicas exigidas por metodologias analíticas quantitativas.

Já para Dale Cressman (Exploring biography), a essência da biografia não mudou ao longo dos séculos. Mas a biografia desenvolveu-se apenas no século XVIII. A palavra "biografia", que provém das raízes gregas de bios (vida) e graphein (escrever), apareceu em 1660. Os biógrafos puseram um grande realce na exactidão, mas as novelas e o teatro influenciaram a sua escrita, injectando um sentido de drama e detalhe artístico. No começo do século XX, a restrição vitoriana e a interpretação romântica deram lugar à objectividade científica, levando os autores a procurar verdades históricas mais abrangentes. Por volta de 1940, surgiu um novo contributo, a que Catherine Drinker Bowen chamou de método de biografia "narrativa", em que os factos históricos se constróem em torno de um núcleo dramático. Os valores universitários tradicionais combinavam-se com as técnicas de escrita artística popular nos escritores e leitores das décadas de 1920 e 1930. Uma biografia é escrita na forma narrativa e na ordem cronológica. A cronologia é importante porque recria no leitor o sentido de uma vida vivida. Os objectos biográficos precisam de ser colocados no contexto do tempo em que ocorreram.

Finalmente, segundo Donald G. Godfrey (Researching electronic media history), há desconfiança quanto ao uso dos jornais como elemento de pesquisa bibliográfica. Os media são acusados de sensacionalistas e com uma orientação comercial. Godfrey, apesar das críticas, entende que programas, internet e outras fontes dos media não podem ser ignorados.

Leitura: Donald G. Godfrey (ed.) (2006). Methods of historical analysis in electronic media. Mahwak, NJ, e Londres: Lawrence Erlbaum

segunda-feira, 29 de junho de 2009

IMAGEM, MEDIA E PRÁTICAS SOCIAIS

A Revista Estudos da Comunicação do curso de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) faz a chamada de trabalhos para as edições do segundo semestre de 2009. Os textos devem ser enviados até 27 de Julho de 2009 para o email teresa.f@pucpr.br. As colaborações podem ser em forma de artigos, resenhas, entrevistas, comunicações científicas, ensaios e reportagens científicas e devem seguir a linha editorial Imagem, Mídia e Práticas Sociais. Editores: Maria Teresa Marins Freire e Gil Nuno Vaz.

A revista está disponível on-line
aqui.

APRESENTAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS PARA A CULTURA EM LISBOA


Hoje, ao fim da tarde, foi apresentado o trabalho Estratégias para a Cultura em Lisboa, coordenado por Pedro Costa e por uma equipa da Dinâmia/ISCTE, em encomenda da Câmara Municipal de Lisboa.

Do sumário executivo, retiro algumas ideias: "Lisboa tem uma oferta cultural variada e significativa, em termos quantitativos, e que tem crescido substancial e sustentadamente ao longo dos últimos anos, embora haja situações muito diferenciadas nas várias áreas culturais, exprimindo no entanto, e nalguns casos, um dinamismo que aparenta ser mais quantitativo que qualitativo".

Quatro eixos principais propõe o texto Estratégias para a Cultura em Lisboa (p. 17): 1) promoção das competências cosmopolitas e da vocação internacional da cidade, 2) desenvolvimento das condições facilitadoras da criação e da produção cultural, 3) reforço da vivência da cidade e da sua memória e promoção do conhecimento, 4) revisão do modelo de governança cultural da cidade.

O resultado do trabalho agora tornado público é composto por 30 medidas e 14 projectos, como Pedro Costa salienta no pequeno vídeo em baixo. Das medidas (p. 126), destaco as duas primeiras: reestruturar a orgânica da Direcção Municipal de Cultura e reequacionar a missão e a estruturação orgânica da EGEAC - Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural. Ou seja: o trabalho recomenda que se comece por alterar a orgânica interna da autarquia, a sua governança. Na sequência, outras medidas sugeridas são igualmente importantes: instituição de concurso público para a nomeação de directores artísticos e programadores, definição de um quadro regulamentar de apoio financeiro municipal aos agentes culturais e mobilização dos agentes privados para o desenvolvimento das indústrias criativas na cidade. Dos projectos (p. 127), relevo a ideia de um canal de internet para a cidade (Lx Web TV), de um Centro de Arte Contemporânea de Lisboa, do Estudar Lisboa (programa de fomento à colaboração com instituições de ensino superior e centros de investigação da cidade) e Lisbon Summer of Arts (programa internacional de formação de jovens artistas).

De uma leitura rápida e em diagonal, saliento o que o texto diz sobre públicos da cultura: falta de estudos de públicos (p. 73), reconhecimento dos baixos níveis de rendimento económico dos cidadãos e da falta de hábitos culturais (p. 71), associados a uma baixo capital escolar. Apesar de tudo, o volume Estratégias para a Cultura em Lisboa indica a existência de uma procura significativa de eventos e equipamentos culturais, quer em termos de faixas etárias, públicos variados e poder económico. Depois, a enumeração dos territórios culturais, tais como a baixa pombalina, Chiado e Bairro Alto, Parque Mayer (a recuperar), o eixo da avenida Almirante Reis a partir do Martim Moniz, Santos, Parque das Nações, alguns bairros históricos.


[observação: em 23 de Novembro de 2008, escrevi sobre o tema e entrevistei o coordenador do projecto; ver aqui]

TOP DAS LIVRARIAS BULHOSA/LEITURA DE NÃO-FICÇÃO (22 A 28 DE JUNHO)

1. Vasco Pulido Valente, Portugal – Ensaios de História, Aletheia
2. Filipa Vacondeus, Receitas Low-cost, Academia do Livro
3. Bibá Pitta e Inês de Barros, O Cromossoma do Amor, Difel
4. Germano Silva, Porto: Nos Atalhos da História, Casa das Letras
5. Paulo Neves da Silva, Citações e Pensamentos de Fernando Pessoa, Casa das Letras
6. Marsilio Cassotti, Carlota Joaquina – O Pecado Espanhol, A Esfera dos Livros
7. Jan Morris, Veneza, Tinta-da-China
8. Mia Couto, E se Obama Fosse Africano? E outras Intervenções, Caminho
9. Fernando Rosas e Maria Fernanda Rollo, História da Primeira República Portuguesa, Tinta-da-China
10. José António Rodrigues Pereira, Grandes Batalhas Navais Portuguesas, A Esfera dos Livros

DESCIDA NAS VENDAS DE JORNAIS

"Todos os diários de informação geral diminuíram as suas vendas nos primeiros quatro meses deste ano relativamente ao mesmo período do ano passado, com os meses de Março e Abril a reforçar a tendência, segundo dados hoje divulgados" (notícia da Lusa, editada no Público Última Hora às 14:49).

OS PIRATAS SUECOS

De acordo com a BBC News, de 26 de Junho, quatro suecos foram condenados por um tribunal a pagar pesadas multas por infringirem direitos de autor em Abril passado. O tribunal sueco considerou-os culpados por continuarem a operar o serviço mesmo quando os utilizadores já sabiam estar na posse de material pirateado, numa clara derrota dos advogados do Partido Pirata sueco. € 2,7 milhões a pagar a empresas como Warner Bros e Sony Music Entertainment e um ano de prisão foram as condenações.

OS PIRATAS PORTUGUESES

André Rosa, de 20 anos e estudante de Engenharia Informática, é um dos líderes do movimento português que quer criar o Partido Pirata, na senda do movimento sueco que elegeu recentemente um deputado para o parlamento europeu. Diz ele que "as indústrias culturais estão desfasadas no tempo e não se adaptaram à era da Internet" (Público de ontem). Ainda segundo a mesma notícia,

  • "Qualquer modelo de negócio tem de se adaptar à realidade do mercado em que se encontra e essa é a responsabilidade das empresas. As regras do mercado livre ditam o que deve ou não sobreviver. Não é, nem pode ser, responsabilidade do Estado garantir que determinada indústria ou modelo de negócio sobreviva numa nova realidade. Rosa nota que não cabe ao movimento sugerir alternativas de negócio, mas aponta possibilidades de receitas para vários sectores afectados pela partilha de ficheiros on-line: a ida ao cinema no caso da indústria cinematográfica, a venda de merchandising para os músicos e a venda de serviços de apoio técnico no caso do software".

domingo, 28 de junho de 2009

INTACTA: TEATRO, PERFORMANCE, MÚSICA, DANÇA


Direcção, Texto e Música de Teixeira Moita; Interpretação, Coreografia e Figurinos de Fabíola Fernandes, voz-off de William Gavião e com assistência e produção de Carlos Pinto Vinagre. Work in progress, o espectáculo é "revisto e aumentado", após apresentação no auditório da Sociedade Portuguesa de Autores (Lisboa), com novas ideias e propostas que foram surgindo. "Junta-se sem misturar, num mesmo espaço cénico, diferentes expressões e linguagens artísticas, tendo como base um corpus dramático fixado em texto" (texto da organização). Dia 1 de Julho, pelas 21:35, nas Galerias de Paris (Rua das Galerias de Paris, Porto).

VERTIGENS

Vertigens 2.9, texto de Sergi Belbel, é a peça em apresentação no Palco Oriental e "promove um jogo duplo, onde os personagens procuram manipular uns aos outros, ao mesmo tempo que deixam cair a máscara social, revelando vertiginosamente aquilo que são".

Sergi Belbel é um dos mais conceituados autores do teatro espanhol contemporâneo, nascido em 1963. A peça Vertigens (Depois da Chuva no original) retrata paixões, desencontros, tristezas e alegrias. Estas expressam-se num espaço próprio, o terraço de um edifício de quase cinquenta andares, local para fumar um cigarro proibido e em que as oito personagens podem sentir vertigens olhando para a rua: o chefe em processo de divórcio, a sua secretária loira e burra, o informático que perde a mulher mas ganha a atenção das suas colegas, a chefe implacável, a secretária lunática, o expedidor apaixonado pela secretária que tem teorias para explicar todos os acontecimentos do mundo.

O conjunto de três actores e cinco actrizes (Ana Domingos, Daniela Oliveira, Madalena Vaz Pinto, Marta Amado, Pedro Caseiro, Ricardo Sá e Rui Dionísio) envolve-se com muito empenho e emoção ao longo da peça, com dramaturgia e encenação de Pedro Barão, numa sala com algum desconforto a nível das cadeiras. Criação de In Impetus, "instituição que tem como objectivo intervir culturalmente no espaço urbano, de forma a criar novos públicos para o teatro, tanto ao nível dos espectadores como dos próprios intervenientes na criação de espectáculos".

O Palco Oriental funciona há cerca de trinta anos na antiga fábrica de velas do Beato. Pode perder em breve a sua função actual ao regressar à Igreja Católica, proprietária do edifício.



Ver uma interpretação da peça pela Compagnie du Jour, encenada por Henri Thomas, aqui.

sábado, 27 de junho de 2009

BEATO, LISBOA

ESTRELAS E FÃS

Desde o começo do século XX que a mediatização das estrelas (teatro, cinema, rádio, música) se tornou evidente, logo alargado para as do desporto e da televisão. As publicações regulares, como revistas, passaram a trazer muitas informações sobre acontecimentos (espectáculos, encontros, sinopses de peças e filmes), a par da crescente publicitação da vida privada das estrelas, como amores, casas, viagens, projectos, sonhos.

O fenómeno das estrelas tem a contrapartida do surgimento de fãs, indivíduos que procuram saber tudo sobre as suas estrelas: gostos, hábitos, projectos. O fã - cuja origem vem de fanático, ser irracional que se deixa prender pelo objecto de paixão - é uma realidade do tempo dos media, de meios que intermedeiam a relação entre os conhecidos e os anónimos. Os media (cinema, rádio, televisão e internet) ampliam essa procura do conhecimento das estrelas por parte dos fãs, com estes a coleccionarem objectos produzidos por aqueles. Estrelas e fãs fazem parte do mercado e da troca, da economia capitalista na sua essência, onde uns vendem e outros compram.

Ao mesmo tempo que se desenvolve o culto pelas estrelas, cuja fama é cada vez mais alta mas de duração mais pequena, surgem variações como as vedetas e as celebridades. As vedetas ambicionam ter um estatuto de estrela, considerado o topo, aquele que produz mais reconhecimento pelo papel na área de actividade em que se tornou conhecido. Já a celebridade é a personagem (não personalidade) que é conhecida não por um feito qualquer mas porque participa em acções (uma festa por exemplo) e se notabilizou pelo vestuário ou penteado, por ter aparecido junto de estrelas, por surgir nas revistas. Por vezes, o aparecimento nestas revistas é pago pelo próprio, num esforço de auto-comprazimento.

As revistas ou programas de televisão especializam-se em reportagens e artigos sobre estrelas, vedetas e celebridades. A escrita dessas peças noticiosas tem um enquadramento leve e sensacionalista, pois não mostra o que cada estrela contribui para o conhecimento comum mas promove apenas os desejos individuais e egoístas das personagens que retratam.

As estrelas e as vedetas e as celebridades têm cada vez mais seguidores, os fãs. Em caso de morte ou encerramento (de uma série de televisão), os fãs organizam-se em espectáculos (com espectacularidade de imagens e de propostas visuais e sonoras) e demonstrações de fé e de dor. Parece uma nova forma de culto religioso, sem o estabelecimento de crenças fortes e duradouras mas apenas a expressão de sentimentos ligeiros (como as notícias que dão conta desses acontecimentos).

O culto a Michael Jackson entrou neste estádio.



[fronstipício da página inicial do Público na internet, hoje de manhã]

sexta-feira, 26 de junho de 2009

JACKO

Parece que as mortes das celebridades ocorrem quase em simultâneo num mesmo dia: as mortes por cancro da voz que anunciava Johnny Carson no Tonight Show (Ed McMahon) e da actriz de Os Anjos de Charlie (Farrah Fawcett) provocaram um choque, mas foi a morte de Michael Jackson (50 anos) a que mais impressionou, ontem. Um texto do Reuters Blogs Fan Fare diz que o impacto mundial da morte de Jackson se compara ao da morte da princesa Diana, num acidente de automóvel em 1997.



[capas de jornais retiradas do jornal Público, 26.6.2009]

A HISTÓRIA DA COMPRA DAS TELEVISÕES CONTINUA

Segundo o Público Última Hora (notícia da Lusa), fracassada a compra de 30% da TVI pela PT, vetada pelo governo (que detém 500 acções fundamentais, golden share), a Cofina mostra-se interessada. Da notícia, salta a seguinte perspectiva: a Cofina pode querer a maioria ou a totalidade das acções.

A mesma notícia insere o discurso directo do primeiro-ministro: "Compreendemos o interesse empresarial da PT mas esperamos que possa prosseguir esse interesse de outra forma, porque o Governo não quer que haja a mínima suspeita de que esta compra de parte da TVI se destina a qualquer alteração na sua linha editorial".

A decisão de anular a compra da PT e o aparecimento de um outro comprador torna ainda mais excitante esta história. Tudo leva a crer que os media televisivos vão sofrer alterações substanciais neste período. Deixo uma pergunta: se a PT precisa de conteúdos de televisão, por que não conversa com a Impresa, dona da SIC? Pode ser um negócio igualmente interessante e sem tanto ruído político e eleitoral.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

NOVA RÁDIO

A partir de hoje, há uma nova estação de rádio nas frequências inglesas de DAB e no online com uma playlist de artistas que não têm contrato com produtoras musicais, a Amazing Radio (ainda não consegui ouvir, mas sigo as indicações de Andy Sennitt, do blogue Media Network). A estação transmite música independente, urbana, rock, jazz e pop durante uma fase piloto de seis meses e substitui a música de pássaros que emitia em loop durante 24 horas por dia. Para o fundador, Paul Campbell, músico e antigo produtor da BBC, trata-se de uma rádio interactiva e produzida pelos utilizadores. A selecção musical resulta de um algoritmo retirado de descargas de MP3 do Amazingtunes.com, sítio lançado em 2006 e com 15 mil registos, de onde os músicos retiram 70% de vendas. O sítio tem 35 milhões de utilizadores.

NOTÍCIAS INDIVIDUALIZADAS

Com tecnologias ligadas à internet, os consumidores podem fazer um jornal próprio com notícias escolhidas por si, chegando este jornal através de computador, impressora ou palmtop e com publicidade de lojas locais oferecendo promoções e descontos. É o futuro dos jornais, garante Peter Vandevanter, vice-presidente de um grupo de media com sede em Denver, nos Estados Unidos e que detém a propriedade de 54 jornais diários em 11 estados, lê-se na versão digital do Washington Times de hoje (texto de ).

Vandevanter chama a esta forma de fazer jornais as notícias individualizadas e resulta da reflexão sobre o que pode acontecer à indústria dos jornais. Os exemplos vêm de outras indústrias, com o sítio Pandora a oferecer selecções de músicas aos seus clientes, adequadas aos gostos destes, e a Amazon a fazer o mesmo no campo dos livros. Já para John Solomon, editor executivo do Washington Times, o grande desafio está em desenvolver plataformas de distribuição das notícias que os consumidores querem, quando querem e onde querem.


O Washington Times organiza hoje e amanhã um encontro sobre ideias inovadoras para os media tradicionais, com a presença de 70 responsáveis dos media, entre os quais o New York Times, Washington Post, Los Angeles Times, Associated Press, Politico e Gannett.

TELEVISÃO, POLÍTICA, FUTEBOL E CONCORRÊNCIA

Seria de prever que a possibilidade da compra da TVI pela Portugal Telecom chegaria ao combate político-partidário. Pelas boas e pelas más razões.

Pelas boas, porque este é um tipo de negócios que tem de ser transparente. O controlo de um canal de televisão é importante, e há fortes interesses económicos em jogo, para não iludir os desejos políticos. A linha editorial, a produção de conteúdos, a colocação de publicidade e direitos (de desporto, como o futebol ou a fórmula 1; de séries e programas) são elementos nada despiciendos. O Parlamento e os partidos da oposição têm de desenvolver livre e criticamente a sua actividade. Logo, parece-me que a discussão é importante (recordo o episódio de Marcelo Rebelo de Sousa, que saiu da mesma TVI, por os seus comentários não serem favoráveis ao governo do PSD de então; agora, é nítida a oposição do governo do PS ao noticiário de sexta-feira da estação).

Pelas más, porque a PT tem uma golden share (500 acções) nas mãos do Governo, o que permite um controlo na nomeação da administração. Este exercício foi feito já por governos do PS e do PSD, pelo que a acusação de um a outro é mero fogo partidário e, no caso actual, eleitoral (o mesmo é aplicável à televisão pública). A liberalização das telecomunicações imposta na adesão portuguesa à UE implicou a privatização da actividade, até então na posse do Estado. Portugal optou por uma golden share, outros países depositaram nas mãos das empresas privadas todo o capital, governos de outros países da UE mantiveram percentagens ainda elevadas nas suas mãos. Não tem havido queixas, excepto dos burocratas de Bruxelas, por questões que se prendem com a harmonização de procedimentos.

O quadro de possível venda da TVI tem, portanto, muitos actores. Creio que já apareceram todos: candidaturas em clube desportivo (móbil: direitos televisivos de transmissão de futebol?), partidos, empresas, canais concorrentes (a subida de acções da SIC).

Para mim, se 2000 marcou a compra da Lusomundo pela PT e 2005 a saída daquela por esta, 2009 parece ilustrar o reaparecimento do interesse das telecomunicações pelos conteúdos de media. Isto lembra os ciclos económicos de Clément Juglar (9 a 11 anos), entre entrar e reentrar. Na sequência de Juglar, Joseph Schumpeter reformulou o ciclo de quatro fases: expansão (aumento da produção e preços), crise (queda das bolsas e falências de empresas), recessão (queda dos preços e produção), recuperação (recuperação de stocks com queda de preços e rendimentos). Aqui, as variáveis são outras, mas há curiosidade em verificar as similitudes. Prometo continuar o exercício.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

PEDRAS D'ÁGUA


Para saber mais, clicar aqui.

O QUE QUER A COLIGAÇÃO ESPANHOLA DE CRIADORES E INDÚSTRIAS DE CONTEÚDOS

A questão da pirataria de conteúdos na internet conheceu um novo passo. Aldo Olcese, presidente da Coligação espanhola de Criadores e Indústrias de Conteúdos, considera que os utilizadores constituem "a actual e futura clientela", pelo que "não pretende criminalizar os internautas que fazem downloads ilegais". O principal "inimigo" é constituido pelos sites e trackers de BitTorrent, que contabilizam cerca de 200 sites, responsáveis por 80 por cento dos downloads.

[Fontes:
p2pnet news e The Music Void, de ontem, e Remixtures, de hoje]

TEMPORADA 2009-2010 DO TEATRO MARIA MATOS


Para a próxima temporada, o Teatro Maria Matos (Lisboa) assume-se como pólo dinamizador da criação independente em Lisboa (teatro, dança e música), "tornando-se um interlocutor activo dos muitos criadores e companhias lisboetas/portuguesas sem teatro próprio ou sem estrutura fixa" (informação do próprio teatro). Isto significa o afastamento do perfil de produção teatral própria e o interesse na co-produção teatral.

Co-produções anunciadas para a temporada 2009-2010: Martim Pedroso, Mala Voadora, Patrícia Portela, Cão Solteiro, Lúcia Sigalho, João Garcia Miguel, os Primeiros Sintomas, a Truta, Ana Mira & Margarida Bettencourt, o Projecto Teatral, Luís Guerra e Mónica Calle.

Co-produções internacionais: 1) Nova Criação 2010 de Nacera Belaza (Argélia/França) em co-produção com Jazz-âme (Paris), MAS Lab (Milão) e Ramallah Dance Festival, e em colaboração com Ismas (Argélia) e Maqamat (Líbano), 2) What I heard about the world da Mala Voadora (Portugal) e Third Angel (Grã-Bretanha) em co-produção com Sheffield Theatres e o Festival de Oldenburg, 3) The fertile crescent de Frank Vercruyssen e artistas convidados de Bagdad, Beirute e Palestina, em co-produção com Teatergarasjen (Bergen), Black Box (Oslo), Festival D’Automne (Paris) e Ashkal Alwan (Beirute).


Mais informações: www.teatromariamatos.egeac.pt.

MEDIA HOLANDESES

O Nis News Bulletin, em notícia de hoje, indica que o ministro holandês dos Media, Ronald Plasterk, não recebeu de modo entusiasta a proposta da Comissão para o Futuro da Imprensa de taxar os subscritores de serviços de internet, de modo a que esta verba fosse usada para apoiar a imprensa. A comissão, presidida por Elco Brinkman, ligado ao partido democrata cristão CDA, teme pelo declínio da diversidade dos media.

A medida atingiria seis milhões de lares, com uma taxa de dois euros cada. Além disso, a comissão indicou que deve haver uma só empresa distribuidora dos jornais e defendeu alterações à lei de concentração dos media, facilitando a fusão de títulos de jornais. A actual lei holandesa considera que um grupo de jornais não pode controlar mais de 35% do mercado.

terça-feira, 23 de junho de 2009

PRÉMIO PARA ESTUDO SOBRE SONDAGENS DE OPINIÃO

A Fundação Vox Populi, fundada por Luis Queirós, presidente do grupo Marktest, e esposa, Paula Queirós, instituiu o Prémio Vox Populi sob o tema "Sondagens de Opinião: Como Melhorar Metodologias" (informação recolhida no sítio da Marktest, onde se pode encontrar mais informação).

O candidato que apresentar o projecto seleccionado pelo júri receberá um subsídio de € 10000 para o desenvolver, mediante a assinatura de um contrato com a Fundação Vox Populi. A investigação deverá estar terminada até Junho de 2010.

ESTRATÉGIAS PARA A CULTURA EM LISBOA


Estratégias para a Cultura em Lisboa, Palácio Galveias, dia 29 de Junho, 18:00.

JORNADAS DE ACTUALIZACIÓN BIBLIOTECARIA 2009


Las "Jornadas de actualización bibliotecaria 2009" tendrán lugar el lunes día 29 de junio en el I.E.S. Albarregas de Mérida (Camino Viejo Mirandilla, s/n. 06800). Su propósito es proporcionar un primer acercamiento a los variados recursos de animación a la lectura en bibliotecas que se pueden desarrollar a partir de técnicas de escenificación y relato oral, ilustración y recursos de narratividad y difusión textual literaria. Para ello, una serie de formadores en diversas técnicas de uso de la voz, expresión corporal, recursos de ilustración narrativa, narratividad activa y elementos de difusión literaria impartirán diversos talleres al respecto. Queremos con ello que sean unas jornadas intensas y de carácter eminentemente práctico, que ofrezcan a los asistentes actividades, recursos y técnicas específicos con los que poder implementar, en el futuro, la dinámica bibliotecaria en lo que hace al fomento de la lectura y la literatura.

Email:
lecturaextremadura@lecturaextremadura.com

PRÉMIO DE JORNALISMO

Mais informações aqui.

O FUTURO DA TVI

Os media fervilham de notícias sobre a TVI. Se, na semana passada, o tema era a possível candidatura do director-geral José Eduardo Moniz a presidente do Benfica, agora o centro da notícia é a eventual venda de acções da TVI a empresas de telecomunicações.

Assim, segundo o Diário Económico, como se lê no Público Última Hora, "A operadora de telecomunicações espanhola, Telefónica, poderá vir a ter influência de gestão na TVI. Isto porque a dona da TVI, a Prisa está a negociar uma parceria com a MediaPro, uma empresa audiovisual que controla os direitos de transmissão do futebol espanhol, e também com a própria Telefónica, visando reforçar a sua estrutura de capitais". Segue-se outra frase que diz: "fonte oficial da Telefónica admitiu um acordo com a Prisa significará que o grupo terá influência sobre a Media Capital e sobre a TVI, mas assegurou que não pretende servir-se disso para fazer pressão sobre a PT, empresa na qual controla 10 por cento do capital".

Já o jornal i, que dedica duas páginas ao tema, indica que a PT lidera investidores na compra de 30% da dona da TVI, com a corrida aberta a outros grupos como Controlinveste e Ongoing. Numa das peças, onde indica que, devido à sua separação da Zon (antiga PT Multimedia), a PT ficou fora da área dos media, lê-se que a empresa de telecomunicações pretende regressar, agora que tem televisão por cabo e investimentos em fibra óptica e na televisão digital terrestre. O jornal i, que informa que a PT tem dinheiro para compras, pois fez uma emissão obrigacionista, conclui no sentido do do Diário Económico: a entrada da espanhola Telefonica no negócio da TVI, através da Prisa, preocupa a PT, desejosa de garantir o acesso a mais conteúdos audiovisuais.

Agora, vêm-se com mais clareza a movimentação de Moniz para o Benfica e o aumento das acções da Impresa (SIC) na Bolsa de Valores, ocorrências da semana passada. Os players mais poderosos estão a movimentar-se, o que significa, nos próximos dias, mais acontecimentos importantes para o redesenho das indústrias culturais e audiovisuais em Espanha e em Portugal.

A RÁDIO EM TESE DE DOUTORAMENTO DE LUÍS BONIXE

Como escrevi aqui, na Universidade Nova de Lisboa, Luís Bonixe defendeu ontem em provas públicas a tese A informação radiofónica: rotinas e valores-notícia da reprodução da realidade na rádio portuguesa. A internet como cenário emergente.

A dissertação tinha como centro avaliar as notícias da rádio como construção social da realidade, no caso da rádio a construção sonora da realidade. Foi também objectivo identificar momentos importantes da história recente do jornalismo radiofónico, bem como analisar os noticiários das nove horas nas três principais estações de informação: Antena 1, Renascença e TSF. Finalmente, o trabalho de Bonixe fez a comparação entre notícias da rádio hertziana e da internet. Na prova, Luís Bonixe obteve a nota máxima.



Na minha arguência, fiz referência a estudos da rádio, conforme abaixo escrevo:

O nosso conhecimento médio sobre a reflexão da rádio não ultrapassa os textos de Brecht, Lazarsfeld e Arnheim. Contudo, se seguirmos a síntese de Michael C. Keith, em "Writing about radio: a survey of cultural studies in radio" (2008, livro Radio cultures. The sound medium in American Life), ficamos com uma perspectiva muito ampla sobre estudos da história da rádio feitos por académicos e jornalistas. Se, no começo, os académicos e os críticos viam a rádio como um meio experimental, popular e frívolo, após as conversas à lareira do presidente americano Roosevelt, no começo da década de 1930, os académicos viram o meio como uma força cultural e um instrumento de mudança. Depois, um programa radiodifundido no Halloween de 1938, representando uma invasão de marcianos, por Orson Welles, provou o poder do meio.

De entre os trabalhos iniciais, relacionando audiências e radiodifusão, surgem os de Hadley Cantril (1982, Invasion from Mars) e Hugh Malcom Beville (1939, Social ramifications of the radio audience). Censura e liberdade aparecem em Harrison Summers (1939, Radio censorship). Estudos fundamentais seriam os de Hadley Cantril (1982, Invasion from Mars) e Mathew Chappel e Claude Hooper (1944, Radio audience measurement). O livro de Lazarsfeld e Patricia Kendall (1948, Radio listening in America: the people look at radio – again) é uma pedra de toque, enquanto Charles Siepmann (1950, Radio, television, and society) fornece um enquadramento valioso do meio num contexto sociocultural.

Os artigos não focam tanto o papel cultural da rádio e centram-se mais na indústria, na actividade comercial, na sua concretização e nos aspectos de produção. Os livros de Erik Barnouw (1966, 1968, 1970, A history of broadcasting in the United States) discutem tópicos como género, raça, religião. A primeira publicação académica é o Journal of Radio Studies. A história da rádio por Michele Hilmes (1997, Radio voices: American broadcasting, 1922-1952) e algumas monografias de Michael C. Keith (1995, Signals in the air: native broadcasting in America; 1997, Voices in the purple haze: underground radio and the sixties; 2000, Talking radio: an oral history of radio in the television age; 2001, Sounds in the dark: all night radio in American life) são elementos fundamentais para a compreensão da rádio. O livro de Susan Douglas (2000, Listening in: radio and the American imagination) oferece uma compreensão sobre a influência cultural da rádio. E David Hendy (2000, Radio in the global age) associa a influência cultural do meio num contexto global. O capítulo de Keith segue a linha de Michele Hilmes (2001, Only connect: a cultural history of broadcasting) quando ela questiona: qual o contexto do desenvolvimento da rádio? Que mistura de forças sociais, culturais e tecnológicas emergem da rádio?

Depois, Keith analisa os textos publicados sobre história da rádio, a partir dos seguintes elementos: género, raça, religião, família. Se trabalhássemos sobre Portugal, um aspecto como raça seria redefinido por causa do Império colonial, acrescentando-se um outro elemento forte: a censura.

Em termos de política, Keith entende que a explosão do talk radio nos anos 1990 foi responsável pela mudança da paisagem política americana no começo dessa década. Gini Graham Scott (1996, Can we talk? The power and influence of talk shows) emprega uma sondagem de audiência para determinar a influência dos animadores dos talk radios na opinião pública. Richard Hofstetter e Christopher Gianos (1997, “Political talk radio: actions speak louder than words”) examinam a hierarquia social dos ouvintes dos fóruns da rádio. Alan Rubin e Mary Step (2000, “Impact of motivation, attraction, and parasocial interaction on talk radio listening”) examinam o efeito de atracção, motivação e interacção nos ouvintes dos talk radio.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

AUDIOLIVROS E PEÇAS RADIOFÓNICAS

Um seminário de Criação e produção de audiolivros e peças radiofónicas vai decorrer no Goethe-Institut Portugal, no próximo dia 25 de Junho, às 18:00. Segundo o Instituto Alemão, "visa uma abordagem aos processos e metodologias de criação e produção do audiolivro. Desde a criação do projecto, à escolha das vozes, passando pelos métodos de gravação e sonoplastia, serão debatidas as questões que tornam o audiolivro um produto com um enorme futuro no actual panorama das indústrias culturais".

O Goethe-Institut Portugal fica no Campo dos Mártires da Pátria, 37, Lisboa.

CONFERÊNCIA SOBRE A RÁDIO

Conferência de Jean Lebrun, A Rádio, o Acesso Doméstico e a Revolução digital, amanhã, dia 23 pelas 19:00, no Auditório do Instituto Franco-Português (Avenida Luís Bivar, 91, Lisboa). Lebrun é jornalista e produtor na rádio pública France Culture (Culture Matin, Pot-au-feu e Travaux Publics; actualmente É coordenador da emissão documental Sur les Docks e A voix nue.

INVESTIGAR A HISTÓRIA DOS MEDIA (I)

Um livro fundamental para quem queira estudar a história dos media é o editado por Donald G. Godfrey, Methods of historical analysis in electronic media (2006), com diversos contributos.

Um deles pertence a Louise M. Benjamin, em "Historical evidence: facts, proof and probability". A investigadora parte do princípio que as fontes primárias tradicionais incluem evidência original não filtrada – registos escritos, materiais impressos e escritos, registos pessoais publicados e não publicados, documentos oficiais, fontes orais intervenientes no acontecimento, fotografias, registos de rádio e televisão, registos de televisão por cabo, fontes dos novos media, histórias orais e elementos físicos (como os aparelhos de rádio ou de televisão).

Louise Benjamin chama a atenção para o modo como cada escola de historiadores recria o passado. Pode ler-se este como uma evolução da sociedade e uma explicação e avaliação positiva de contributos individuais e colectivos para o desenvolvimento (escola desenvolvimentista). Mas pode haver igualmente uma interpretação de progresso, através de noções de tensões ideológicas, em que o passado foi palco de lutas pela mudança social, progresso e democracia. A premissa fundamental da história cultural é que os eventos acontecem e os actores operam nos acontecimentos em interrelação com o seu ambiente ou cultura. A escola da nova esquerda adoptou a teoria marxista a uma história cultural e social progressiva. [A escola do determinismo tecnológico atribui um peso enorme ao desenvolvimento tecnológico].

A história não é simplesmente a descrição de narrativas de histórias individuais, mas uma declaração de assunções e métodos consciente e articulados totalmente, com recurso a generalizações, conceitos e teorias (plural), que carecem de experimentação por métodos empíricos, com um sujeito complexo mas definível e sempre em busca de novas fontes e meios de as explorar.

Os historiadores preferem o uso de materiais originais e não publicados. Colecções de manuscritos podem conter todos os tipos de documentos pessoais, desde correspondência pessoal, memorandos e relatórios até diários pessoais, registos familiares e álbuns ou livros de recortes. Estes materiais são bons para os historiadores. Bibliotecas, arquivos e repositórios como ficheiros de sociedades históricas e famílias privadas abrigam e preservam materiais de fontes originais.

Outro dos textos pertence a Michael D. Murray, onde escreve sobre registos de história oral, sobre a memória humana. As histórias orais consistem em entrevistas conduzidas com pessoas que têm ou tiveram conhecimento e experiência directa ou indirecta com uma área específica. A história oral tem um longo passado na história universitária, que podemos remontar ao uso do gravador de som desde o final da II Guerra Mundial. Com a introdução do gravador de som, a história oral foi adicionada às metodologias – uma forma de pesquisar informação até aí limitada pela tecnologia. As entrevistas de história oral fornecem uma nova dimensão como parte do registo histórico. Elas são planeadas, transcritas para publicação e preservadas como parte da evidência histórica para historiadores e investigadores no futuro.

A maior crítica que se possa estabelecer ao valor da evidência de uma entrevista de história oral, continua Michael D. Murray, relaciona-se com as falhas de memória, por aproximação ao objecto, ou tentativas de distorção a realidade histórica para elevar a própria reputação, e influência do tempo e espaço na memória. Assim, alguns relatos são melhores do que outros em termos de história oral. A segunda crítica principal tem a ver com a proximidade do entrevistado face ao objecto de investigação. A memória fornecida pelos entrevistados transporta naturalmente uma perspectiva pessoal. A percepção é a sua realidade e não necessariamente a verdade histórica. Entrevistar alguém por próximo de um acontecimento é uma experiência única devido aos contributos específicos. O necessário é distinguir pontos de vista e verificá-los posteriormente em termos de investigação complementar. Se se provar que a história é verdadeira, a história oral fornece colorido na narrativa manuscrita e na documentação primária.

[continua]

domingo, 21 de junho de 2009

TEMAS QUE O BLOGUEIRO DEIXA PASSAR

Não é que o blogueiro ande distraído, mas a verdade é que há temas de momento e de muito interesse em que não produzo uma linha de reflexão. Eles seduzem-me mas acho que toda a gente fala deles e algumas pessoas melhor do que eu. Assim, do caso Maddie McCann escrevi raramente e depois de sair da agenda (13 de Abril de 2008, 12 de Março e 2 de Maio de 2009), de Susan Boyle é a primeira vez que aqui escrevo o nome, das eleições europeias recentes apenas coloquei cartazes partidários e da gravíssima situação actual do Irão também não dei nota.

Mas esta semana ocorreu um tema interessante para análise em termos de media e das indústrias culturais, o caso José Eduardo Moniz, director-geral da TVI e que apareceu como putativo candidato a presidente do Benfica, um dos mais importantes clubes de Portugal e, possivelmente, a melhor marca desportiva do país.

O clube de futebol, com falta de sucessos nos anos mais recentes, resolveu nas últimas semanas ser campo de notícia. Assim, foi despedido o treinador e contratado um novo, e o presidente do clube decidiu marcar eleições antecipadas. Formou-se uma oposição, liderada por um antigo director do departamento de futebol, o qual não se podia candidatar visto não ter anos suficientes de sócio do clube, o que acontecerá mais para o final do ano. Este opositor terá convidado José Eduardo Moniz a ser o seu candidato. A televisão mostrou Moniz a sair de uma reunião e a prometer falar mais tarde. O dia dessas imagens foi quinta-feira. No dia seguinte, Moniz marca uma conferência de imprensa onde diz que não se candidata pois não tem tempo para trabalhar um programa adequado. O Expresso de ontem indica que a administração deste último canal, pertença da Prisa, gostaria de ver Moniz sair do canal, pelo preço que ele custa em termos de remuneração e porque a sua mulher, Manuela Moura Guedes, lidera o noticiário das sextas-feiras onde critica regularmente o governo. O próprio governo gostaria de afastar o casal, exactamente pelas posições que têm tomado.

Não conheço mais pormenores do que o que vi e li, mas o desenrolar de episódios origina interpretações várias e ricas de pormenor. Moniz está há dez anos na TVI, tendo ganho tudo o que poderia ter ganho, suponho. A TVI era um canal com fraca audiência e tornou-se o maior, desde meados da década, além de ter uma máquina de produção de ficção como o país nunca teve. Por isso, com objectivos mais que alcançados, é admissível que ele queira experimentar outro desafio. O Benfica pode ser um desafio ainda maior. Além de que ele tira vantagens desta exposição. Prova internamente que pode sair da TVI para abraçar um novo projecto, com mensagem para os patrões espanhóis que teriam dificuldade em arranjar um gestor tão capaz, e eleva a autoconfiança dos benfiquistas, descrentes do passado recente e do actual presidente, mas sem alternativa na oposição.

Segundo as notícias recentes, a Prisa está com maus resultados nos seus media, com prejuízos nos jornais e nas rádios em Espanha. Em Portugal, as rádios da Media Capital (Comercial, M80, Rádio Clube) têm sido noticiadas estar à venda, surgindo potenciais compradores como Luís Montez (Radar, Oxigénio), mas não passando a informações mais concretas. Vender a TVI, a actual geradora de muita riqueza, a acontecer, é uma vantagem para amortecer os prejuízos mas um erro pois se perde a fonte de receita.

A notícia mais bombástica é a que saiu no Expresso, do grupo da SIC, canal privado concorrente da TVI, o que tem um significado específico. Se Moniz sair da TVI certamente que os resultados deste canal baixam. Para a SIC isso seria uma muito boa notícia, carente de aumentar audiências. Aliás, esta semana, a Impresa, grupo da SIC e do Expresso, teve uma significativa (e estranha) recuperação na bolsa.

Do mesmo modo que a recandidatura do presidente do Benfica e a contratação de novo treinador trouxeram ânimo aos adeptos do clube, a revalorização das acções da Impresa e a possibilidade do principal gestor do canal concorrente sair foram boas notícias para a Impresa. Esperemos os próximos dias, que podem incluir uma impugnação judicial à antecipação de eleições no clube desportivo, e que leve Moniz a repensar a situação ou surgir um novo quadro no Benfica.

Uma coisa me parece certa: com a atitude de Moniz, reafirma-se uma relação muito próxima entre televisão e futebol. Não sei se isto é bom para a televisão. Sem esquecer as ligações sempre complexas com a política.

FILA PARA GELADO

O solstício de Verão veio muito quente. Nada melhor do que comer um bom gelado para apaziguar o calor. Por isso, justifica-se a fila à porta da loja dos gelados (Av. da Igreja, Lisboa, hoje ao fim da tarde).

TESE DE DOUTORAMENTO EM RÁDIO

Amanhã, pelas 11:00, na Universidade Nova de Lisboa, Luís Bonixe defende em provas públicas a tese A informação radiofónica: rotinas e valores-notícia da reprodução da realidade na rádio portuguesa. A internet como cenário emergente. Luís Bonixe é professor coordenador na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Portalegre.

BLOGUE SOBRE CINEMA

Filmmaker Magazine

SOBRE O PÚBLICO

  • Já não sabemos se a nossa redacção fecha amanhã e ainda temos que ler Helena Matos (Alexandra Lucas Coelho, Público de hoje, p. 3 P2).

A segunda parte da frase é compreensível de imediato, pois representa um juízo de apreciação. A jornalista escreve sobre a colunista Helena Matos e ilustra os erros do último texto desta. A ser verdade o que está impresso, é uma machadada na reputação de Helena Matos.

Já a primeira parte da frase de Alexandra Lucas Coelho é mais complexa. Ao escrever "Já não sabemos se a nossa redacção fecha amanhã", o seu significado é doloroso. Pode querer dizer que a confiança na continuação do jornal é incerta, sentida mesmo entre os seus mais categorizados jornalistas.

O Público é um dos meus jornais diários (comprados), desde o seu início: 1990. O seu actual director, José Manuel Fernandes, assumiu o cargo em 1 de Setembro de 1998, quase a festejar 11 desses 19 anos de existência do jornal. O jornal, como qualquer outro produto cultural, mudou bastante ao longo dos anos. Reconheço que está mais bonito (tem ganhos prémios de design), mas não consegue ter superavit e perdeu muitos dos jornalistas de referência (Vicente Jorge Silva, Jorge Wemans, Joaquim Fidalgo, Adelino Gomes, Ana Sá Lopes, para dar conta de alguns nomes), o que significa uma perda da memória colectiva cultural de um jornal. As notícias recentes de perda de valores salariais ou rescisão por parte dos colaboradores (colunistas) e igual tentativa nos redactores, a par da concorrência recente de um novo diário (i, embora os oito mil exemplares vendidos diariamente por este novo jornal, segundo me disseram, não sejam muito "concorrenciais") e quebra de vendas generalizadas dos media impressos, não deixa muito espaço para esperanças. A nota de Alexandra Lucas Coelho pode ser um grito, um apelo.

TEATRO PLAYBACK


O espaço SOU (Lisboa) recebe um workshop de iniciação ao Teatro Playback nos dias 20 e 21 de Junho, das 14h às 18:30. É um trabalho interessante para actores e estudantes de teatro, psicologia e animação social. O workshop é ministrado por José Marques, fundador e orientador do Teatro Imediato, o primeiro grupo português que pratica este tipo de teatro interactivo, baseado no psicodrama, e que procura aproximar as pessoas e criar um espírito de comunidade entre elas.

Para além da formação propriamente, os participantes do workshop poderão tomar parte nos ensaios do Teatro Imediato dos dias 17 e 25 de Junho. Estes ensaios decorrem na Oficina da Pessoa, também em Lisboa, a partir das 20:30. A Oficina da Pessoa fica na Avenida 5 de Outubro, 122, 3º dto (junto ao Oculista das Avenidas), em Lisboa.

sábado, 20 de junho de 2009

SOBRE A FOTOGRAFIA

Quando voltei a olhar para uma das fotografias da pequena colecção que Eduardo Cintra Torres me enviou e que abaixo coloquei, dei-me conta do seu valor sociológico e estético.

Em primeiro lugar, o olhar do fotógrafo sobre a composição principal: os quadros de Claude Monet (série: passeio de senhora com chapéu de sol), uma senhora numa cadeira de rodas e um homem a fotografar a senhora e os quadros. A fotografia de Cintra Torres é basicamente uma imagem sobre a imagem, uma recomposição, um olhar cultural prévio, uma conotação. Talvez seja contrário ao espírito da semiótica, mas a denotação aparece depois da conotação. O fotógrafo da fotografia que coloquei debruçou-se sobre o olhar do outro fotógrafo.

Em segundo lugar, imagina-se uma fotografia capturada pelo fotógrafo que aparece à direita na imagem. Trata-se de uma imagem feita para recordar depois. No início das fotografias com anónimos populares, eles olhavam hirtos para a câmara. Esta era lenta na fixação da imagem e exigia contenção de movimentos. Depois, com a massificação da fotografia, surgiam imagens de amigos em confraternização e em festas, desorganizadas em termos de enquadramento, ou de famílias, com posicionamento bem vincado em termos de hierarquia ou grupo etário (as crianças à frente, o pai ou a mãe em lugar bem destacado no enquadramento da imagem). Por vezes, os fotografados aparecem à frente, ou enquadrados por, (de) um monumento importante de uma cidade visitada, marca do cosmopolitismo. Eram fotografias que se reproduziam em papel e se colocavam em molduras (aprendi a usar o termo francês passepartout), marcas de um tempo ou acontecimento, em que as pessoas eram o elemento principal. A fotografia tirada no museu de Orsay é de uma variante deste tipo: o monumento é substituído por pinturas, possibilidade permitida pela massificação das máquinas digitais, com melhor adaptação a condições de luz e a permissão em museus para fotografar os objectos. A senhora de idade fotografada fica com uma recordação para mostrar a amigos e familiares: a visita ao museu, com uma forte identificação.

Em terceiro lugar, e decorrente da segunda ideia, o acesso à obra de arte, a pluralidade de reproduções nas diversas indústrias culturais, a facilidade de fazer uma imagem com uma máquina digital ou telemóvel (que me parece o caso), terminam de uma vez por todas com a ideia de aura, conceito de Walter Benjamin, a dificuldade de conhecer e aceder a uma pintura ou a uma qualquer imagem que não estivesse dentro do nosso espaço geográfico. Benjamin referia-se à democratização da imagem trazida pelo cinema e, claro, pela fotografia, mas ainda produzida por artistas, técnicos, especialistas. Agora, todas as pessoas podem fazer imagens, acumulam-se dezenas ou centenas ou milhares de imagens sobre um assunto ou acontecimento, há uma maior circulação dos indivíduos pelas cidades do mundo. Ao invés da aura, que dava um cunho de único (e por isso venerável), nasce uma bulimia, provocada pela multiplicação de imagens, sem selecção ou hierarquia das imagens (qualidade, envolvência, oportunidade, significado). O objecto fotográfico não tem valor universal mas apenas individual.

A quarta ideia decorre igualmente das segunda e terceira ideias: o uso social da imagem. Como se guardam imagens no Flickr, no Picasa, no Sapo, no Facebook ou noutro sítio qualquer, ficamos com um grande acervo que permite o estudo das classes sociais, etárias e geográficas. A fotografia está para além do aparelho que fotografa; ela reside muito no olhar que fotografa. Pela fotografia, conhecemos modas, rituais e costumes, valores, relações sociais. Quase que conseguimos fazer história e sociologia de um ano ou de uma região, olhando e estudando essas múltiplas imagens.

Este é um aperitivo para a leitura de O Visual e o Quotidiano, livro organizado por José Machado Pais, Clara Carvalho e Neusa Mendes de Gusmão.

CONSTANÇA LUCAS


O mais recente postal ilustrado recebido de São Paulo. Obrigado.

Para memória futura.

O ARTISTA COMO TRABALHADOR

No Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-ISCTE), encontra-se disponível para download o texto de Idalina Conde, Artists as Vulnerable Workers. Nele, indica-se que os artistas são trabalhadores vulneráveis quanto a contingências profissionais (subemprego, trabalho intermitente e múltiplo, contratos precários, baixos salários em certas categorias) mas também em termos de identidade dependente exposta a formas específicas de poder simbólico, desigualdade e processos de reconhecimento.

O texto pode ser lido integralmente aqui.

PARIS SEGUNDO O OLHAR DE EDUARDO CINTRA TORRES

Agradeço ao Eduardo a permissão da edição destas imagens no meu blogue. Elas, que reflectem um curioso "Olhar Vivo" (título da coluna que ele mantém aos sábados no jornal Público) sobre Paris, mostram imagens de rua e dos museus D'Orsay (vanguardas artísticas de passagem do século XIX para o XX) e Quai Branly (arte africana).

sexta-feira, 19 de junho de 2009

VAGA TGI 2009

A Marktest vai lançar este mês a vaga de 2009 do estudo Target Group Index (TGI), a qual permite o "desenvolvimento de análises evolutivas, identificação de tendências a par de análises centradas nos consumos de média de um determinado target com base nos dados TGI Fusão" (informação da empresa promotora). Assim, esta informação traça o perfil do consumidor, além da penetração de produtos, serviços e marcas para 17 áreas de actividade, 240 categorias de produtos e 3000 marcas.

CREDIBILIDADE DAS NOTÍCIAS NA INTERNET

A mais recente sondagem da Zogby International indica que a maioria dos americanos vê a internet como a melhor fonte de informação. A investigação indica que, quando há apenas uma fonte de informação para as notícias, 56% de adultos indicam a internet. Ler mais em editorsweblog.org (texto de ontem).

CRUZADA CONTRA A PIRATARIA DA INTERNET

Na sequência de propostas legislativas que querem penalizar o descarregamento ilegal de ficheiros (e/ou sua comercialização), que o parlamento francês tem estado a discutir nos últimos meses, o parlamento holandês quer discutir a mesma questão. Uma comissão pluripartidária concluiu que são os mais jovens os que fazem mais descarregamentos sem pagamento de direitos de autor (ler mais em EUobserver, de ontem).

Curiosamente, a Suécia, nas recentes eleições europeias, elegeu um deputado ligado ao movimento Partido Pirata que preconiza a liberalização total no acesso e descarregamento de ficheiros da internet.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

NOVOS LIVROS

A ler e a comentar posteriormente. Para já, felicito os autores pela edição dos seus trabalhos.

LANÇAMENTO DO ROMANCE DE MARTA AMADO


Marta Amado lançou hoje o seu primeiro romance intitulado Vidas Desencontradas, com chancela da Papiro, na livraria Barata (Lisboa).

Além da literatura, está ligada ao teatro (peça Vertigens 2.9, a estrear depois de amanhã; ver aqui). Marta Amado começou a perceber que queria ser escritora quando teve aulas de Escrita Criativa na licenciatura.

Foi bom revê-la, assim como à sua colega Sofia Palma e outras antigas alunas da licenciatura de comunicação da Universidade Católica.

A DERIVA DA ZON

A Zon é a empresa que fornece o serviço de televisão por cabo e internet cá em casa. Este mês, incluiu um valor de telefone. Ao inquirir a empresa, foi-me dito que havia uma campanha de adesão gratuita que termina esta semana. Não fiz qualquer contrato de adesão mas a empresa decidiu previamente activar a "minha" linha e fazer-se pagar por isso. Tal postura não é muito digna de uma empresa com responsabilidade social. Há meses, foi um corte de serviço de internet durante quase duas semanas, nunca explicado nem com apresentação de desculpas; agora é a conta de um serviço que não requisitei.

A Zon está em deriva perigosa.

RELATÓRIO INGLÊS SOBRE A MUTAÇÃO DOS MEDIA

O relatório Digital Britain, publicado ontem à tarde no Reino Unido, dá conta das observações governamentais face à rápida alteração tecnológica na indústria dos media, reconhecendo simultaneamente a necessidade de apoiar a "função civil vital do jornalismo" tendo em conta a pressão económica.

O relatório refere modelos financeiros: além do modelo comercial, o crescente uso das tecnologias por parte dos editores não tem repercussão económica directa. Há o reconhecimento de modelos alternativos, como os de organizações sem fins lucrativos, propriedade da comunidade e de media de comunidade. Além disso, a emergência de sítios comunitários de notícias, em projectos de grandes empresas como 4ip e Screen West Midlands, são vistos como bons para o "pluralismo e expressão local à medida que o financiamento comercial diminui nos media tradicionais". Mas, ao mesmo tempo, reconhece-se que as estruturas existentes se desintegram mais depressa que as emergentes se consolidam, de modo a que as notícias tenham credibilidade e os projectos viabilidade. O governo inglês afirma o seu compromisso com uma imprensa livre e independente e espera a continuação da auto-regulação que assegure imparcialidade e objectividade.

[a partir de texto agora publicado pela editorsweblog.org]

TEATRO RADIOFÓNICO


No sábado passado, Eduardo Cintra Torres publicou, no jornal Público, mais um "folhetim na rádio" (em episódios). Do texto, retiro duas parcelas:

Em Portugal, o teatro radiofónico surgiu nos anos 1930 na Emissora Nacional, do Estado, mas o primeiro folhetim só surgiu após a Segunda Guerra. Nem por acaso foi As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Dinis. [...] Depois das Pupilas fizeram-se folhetins na rádio de 1954 a 1974. A maioria baseou-se em argumentos originais de Alice Ogando, Odette de Saint-Maurice e outros, mas as adaptações realizadas revelam a relação forte com o folhetim jornalístico: Camilo, Dumas, Walter Scott, Dickens e Júlio Dinis.

OBERCOM

Faz agora onze anos que foi publicitada a criação da comissão instaladora do Obercom (Observatório da Comunicação), conforme se pode ler no artigo do jornal Público de 18 de Junho de 1998.


O Obercom nasceria no ano seguinte (26 de Abril de 1999), tendo como seu director executivo o professor Francisco Rui Cádima (Universidade Nova de Lisboa). Os seguintes directores seriam Luís Landerset Cardoso e Gustavo Cardoso, o actual responsável.

terça-feira, 16 de junho de 2009

METODOLOGIAS NOS MEDIA


Em texto hoje publicado no jornal Público, Estrela Serrano (membro da ERC) escreve sobre metodologia para supervisão do pluralismo nos media realizada por académicos de universidades europeias. Os indicadores, segundo o texto, baseiam-se num conjunto de seis "domínios de risco": condições básicas (liberdade de expressão, regulação independente, literacia para os media), propriedade dos media, tipos e géneros dos media, pluralismo cultural, pluralismo político e pluralismo geográfico. Estrela Serrano indica ainda a existência de três tipos de indicadores: económicos, jurídicos e sociodemográficos.

ECONOMIA DA CULTURA

Uma investigação recente do National Endowment for Science, Technology and the Arts (NESTA) (Reino Unido) indica que o sector cultural poderá crescer 4% entre 2009 e 2013, o dobro do estimado para o resto da economia. Ler mais em Razias Arthouse (o blogue de Razia Iqbal sobre arte e cultura) e One Cold Hand NYC.

ARTE DE RUA EM STAHL


No século XX, dois movimentos artísticos foram da rua para o museu, a Pop Art (caso de Warhol) e o Fluxus (caso de Marchetti, imagem retirada do sítio do museu Vostell Malpartida), hoje vistas como épocas clássicas da arte moderna. A diferença entre as duas é fundamentalmente de marketing, com a primeira a ter uma audiência mais vasta e a segunda a permanecer relativamente obscura.

O mesmo pode acontecer com a arte de rua, após a comercialização dos "artistas" do graffti - os grafiteiros como gosto de chamar -, segundo a conclusão de Johannes Stahl [imagem em baixo] em livro recentemente editado pela h.f.ullmann e chamado Street Art (2009, p. 145). Claro que os grafiteiros mudam, ao passarem da parede da rua para a tela do museu, com a posição de ilegalidade e espécie de sociedade secreta compensada pela visibilidade artística, o sujo face ao limpo. Stahl chama de arrogante a posição assumida pelos grafiteiros quando se autonomeiam como Alta Arte Popular Urbana ou Arte de Metropolitano ou Arte Pós-Graffiti (p. 151). O spray perde a mensagem política, se a tinha, e adquire o estatuto de bonita imagem.



No meu entendimento, têm de se fazer mais investigações sobre esta matéria. Ao pós-moderno e virtual (a cultura digital) opõem-se as novas corporeidades como os graffiti e as tatuagens (a híbrida cultura analógica e moderna).

Johannes Stahl estudou história de arte, literatura alemã, filosofia e urbanismo nas Universidades de Bona e Marburg (1978-1985). Até 1991, foi crítico de arte. Mais tarde, trabalhou na Bonner Kunstverein e na Escola de Artes Visuais de Leipzig, sendo actualmente pesquisador no College of Art and Design da universidade Burg Giebichenstein (Halle, Alemanha).