sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Cidades, espaços e identidades em discussão

Ontem, aprendi muito. Quando cheguei à sala, estava a falar o segundo orador, apanhando o essencial da sua comunicação. O arquitecto Camilo Rebelo falava da aproximação da cidade do Porto ao rio Douro no espaço entre as pontes D. Luís I e Arrábida (na foto no final do texto, um aspecto da construção da mesma, durante o período entre 1957 e 1963, numa exposição patente na antiga Cadeia da Relação, no Porto).

 
O conferencista seguinte, Carlos Martins da Silva, presidente da ADDICT [ver aqui], foi claro e pedagógico. Primeiro, apresentou os conceitos - em torno de três pontos (território, economia, cultura) -, depois as actividades. Ele alertou para o conceito e o discurso político internacional de indústrias criativas, pois percebe-se o modelo político inglês mas não a aplicação retórica noutros países. E reteve - pelo menos assim o entendi - a necessidade de possuir massa crítica para construir dimensão para as indústrias criativas. O seu discurso sobre indústrias criativas envolveu as necessidades de promover novas atividades, estimular as economias locais, rejuvenescer o sistema empresarial e mudar a imagem de uma região, aqui apontando o Porto. Para além dos programas anteriores (CCDR, 2007; ADDICT 2008; Guimarães 2012), identificou o programa Portugal 2020, inserido no programa Creative Europe, que traça as políticas públicas para o período 2014-2020, onde se juntam a cultura e os media.
 
À tarde, ouvi Paulo Cunha e Silva, crítico de arte, curador e médico português, membro da equipa de Porto 2001 Capital Europeia da Cultura e agora vereador da cultura da câmara municipal do Porto. Seguindo a terminologia de Zygmunt Bauman, ele falou de uma cidade líquida, distinguindo uma política sólida, a cidade dos bairros e dos equipamentos como os cineteatros, de uma política líquida, a dos conteúdos. Daí, uma tipologia: 1) espaços, 2) conteúdos, 3) relação disfuncional entre espaços e conteúdos. A aposta do vereador da cultura, como deu bem a entender, vai no sentido de criar percursos, trajectos e destinos - os mapas. Pegando na metáfora de Jorge Luis Borges sobre o mapa, o vereador da cultura do Porto nomeou percursos (circuitos de autocarro), microlugares e metalugares (como as pontes, numa retoma do que Camilo Rebelo falara de manhã).
 
Para o final, Paula Guerra, do departamento de Sociologia da Universidade do Porto, apresentou uma comunicação sobre culturas urbanas e juvenis criadas nos festivais de música do nordeste do país, em especial o festival de Paredes de Coura. O estudo que vem efectuando na última década visa avaliar e compreender a importância desses festivais, nomeadamente dinâmicas, desenvolvimento do conceito de cena musical, criação de identidade, matéria ritual e de interacção, tribal e de congregação. A investigadora apresentou diversos números, que mostraram impressivamente a importância do tema estudado. Eu, que já falara dela quando em Junho de 2013 apresentou um projecto sobre punk (ler aqui), tive oportunidade de conhecer melhor os seus projectos, esperando num futuro breve aprofundar melhor a informação sobre eles.
 
As comunicações acima identificadas ocorreram no III Encontro Cidades, Espaços e Identidades, na Universidade Lusófona do Porto. Pela saída do vereador da cultura da câmara municipal do Porto após a sua intervenção, eu não pude fazer um pedido pessoal, a propósito do que ele disse sobre cidade líquida e activação dos conteúdos. É de considerar salvaguardar a memória do programa radiofónico A Voz dos Ridículos, terminado em Julho de 2013. Ao que julgo saber, há fitas magnéticas, cassetes e outro material com os programas emitidos. A câmara municipal do Porto faria um favor à cultura da cidade se conseguisse negociar com o director do programa, João Manuel Antão, a sua cedência ou aquisição. Eu gostaria de trabalhar e escrever sobre o programa.

 

Núcleo Museológico António Pedro Vicente

O Núcleo Museológico António Pedro Vicente é uma colecção que "integra um conjunto de câmaras de especial interesse para a História da Fotografia, desde as câmaras daguerreotípicas às actuais, compreendendo exemplares únicos no mundo, bem como uma colecção exaustiva de câmaras miniatura, «non-cameras» e outros items afins. A biblioteca contém exemplares raríssimos de compêndios do século XIX, bem como as mais prestigiadas publicações ilustradas até aos anos 30" (http://digitarq.cpf.dgarq.gov.pt/details?id=5185). Pertence ao Centro Português de Fotografia, na antiga Cadeia da Relação, no Porto, famosa porque esteve ali preso o escritor Camilo Castelo Branco.



terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Rainhas da rádio

Se ontem falei de relatadores de futebol em Coimbra, hoje falei de rainhas e reis da rádio aqui em Lisboa. E, claro, recordei Júlia Barroso, a primeira rainha da rádio no já longínquo ano de 1951. Mais tarde, por exemplo em 1964, as premiadas (rádio e televisão) seriam Simone de Oliveira e Madalena Iglésias. A revista Flama seria a entidade promotora do concurso.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

III Jornadas de Comunicação e Desporto

Hoje, 24 de Fevereiro, realizou-se a terceira edição das Jornadas de Comunicação e Desporto na Universidade de Coimbra. Retive algumas das comunicações, como as de Alcino Pedroso (narrativas do jogo na televisão), Hilario Romero (narrativas na rádio, em especial nas tertúlias e reportagens desportivas), Mariana de Carvalho (relação entre jogo na televisão e assistência de espectadores e adeptos no estádio), Jesús Calderón (séries de ficção com personagens do futebol), Fábio Ribeiro (desporto e rádios informativas) e José Carlos Marques (o desporto no Brasil e os media).

 

Na fotografia, Daniel Rodrigues, fotógrafo português que venceu o World Press Photo 2013 na categoria "Vida Quotidiana", João Figueira, docente da Universidade de Coimbra, e Vítor Serpa, director do jornal A Bola.
 
Eu nunca tinha falado de futebol em público e num espaço académico. Recordei nomes de relatores (ou relatadores) de futebol como Alfredo Quádrio Raposo, Artur Agostinho e Nuno Brás. Gostei muito de estar naquele espaço de discussão. Obrigado ao Francisco Pinheiro, um grande entusiasta da história do desporto, e do futebol em particular.


Alfredo Quádrio Raposo, entrado na Emissora Nacional em 1935,  fora um dos relatadores de futebol mais conceituados no seu tempo - ele que fora desportista de hóquei em patins. Aqui, vemo-lo a transmitir uma segunda parte de um jogo de futebol em 1943, pois então as estações de rádio não podiam transmitir a primeira parte dos encontros por se temer a perda de assistência, medo que depois se repetiu com a televisão, de microfone mas sem auscultador (fotografia do semanário Rádio Nacional). O técnico de som está mais atrás, com auscultadores. O relatador estava mesmo junto à assistência. E se as coisas corressem mal para a equipa da casa?

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Censura discográfica (7)

"21.2.1974. Inconveniente adquirir ou transmitir Trio Rio Azul (Os Calções de Suzete e Umbigo à Vela)". Os responsáveis da Emissora Nacional entendiam proibir as canções daquele trio popular devido à lírica. Da letra de Suzete, o cantor esperava que ela subisse um pouco mais os calções e ambicionava vê-la "vestida à pai Adão" (ouvir aqui).


[anteriores edições em 9, 23 e 30 de Janeiro e 1, 6 e 14 de Fevereiro; próxima edição a 4 de março]

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Kiev

Há algum tempo, o Público colocou em direto imagens do Cairo, quando estava em marcha uma sublevação egípcia. As forças militares acabaram por ganhar. Por semanas, o Egito deixou de estar no centro das notícias internacionais. Agora, é a Ucrânia. O Público, prestando serviço público aos seus leitores online, tem em direto um canal televisivo daquele país. Oradores e habitantes de Kiev estão no centro da cidade. Fotografei três momentos dos últimos minutos, um dos quais se vê um orador num palco. Atrás dele, além de símbolos religiosos, parece-me haver mapas da Europa. Depois vi elementos do clero ortodoxo. Em imagens dos últimos minutos, vi homens com capacetes (obras, motocicleta, da primeira guerra mundial) e proteções avançarem e serem baleados, outros correndo em seu apoio e também baleados. Fiquei chocado.




terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Cónquerants des ondes!

O livro Conquérants des Ondes!, do jornalista Sylvain Athiel, vai ser lançado no dia 18 de Março de 2014, às 18:00, no Auditório e Museu da RTP, à Av. Marechal Gomes da Costa, 37, em Lisboa, promovido pela Embaixada do Principado de Andorra em Portugal, em colaboração com a RTP – Rádio e Televisão de Portugal. Para a organização do evento:

"O livro Cónquerants des ondes! faz um retrato da incrível aventura da Rádio Toulouse e da Rádio Andorra. Muito mais do que meros marcos históricos no mundo agitado da comunicação, a Rádio Toulouse (1925) e a Rádio Andorra (1939) tornaram-se verdadeiros mitos. O autor, Sylvain Athiel, convida o leitor a seguir esta aventura através da história. A acção irá conduzi-lo da Praça do Capitólio (em Toulouse) aos picos dos Pirenéus, dos estúdios da BBC de Londres aos da CBS de Nova Iorque, do Parque Prairie des Filtres (em Toulouse) ao Palácio do Luxemburgo. Do escritório de Pierre Laval, à tribuna da Assembleia Nacional com François Mitterrand, então Ministro da Informação. Ao lado dos ciclistas Anquetil e Poulidor na sua conquista pelas descidas vertiginosas, ou a bordo da viatura presidencial de Charles de Gaulle. Em 2008, Sylvain Athiel publicou o livro Conquérants des Ondes! (Edições Privat) e, em 2009, Aqui Rádio Andorra! (Editorial Andorra), publicado em catalão e apresentado em Barcelona em Maio de 2010. Em forma de um emocionante romance de aventura, esta obra transporta o leitor ao quotidiano dos anos 20, onde os homens sensíveis ao «espírito do tempo» decidem tentar a sua sorte na mais recente tecnologia, e conseguiram antever, talvez melhor e mais rapidamente do que qualquer outra pessoa, o futuro promissor: a TSF (telefonia sem fios). O livro envolve o leitor no convívio com estes pioneiros que, com base no seu grande talento e, por vezes, em métodos questionáveis, fundaram um dos mais importantes impérios de media do século. Mas a Segunda Guerra Mundial viria a ser também uma guerra de rádios, e estes heróis, que se encontravam numa região fronteiriça e de contrastes, tornaram-se rapidamente actores e reféns desse período dramático. O leitor depara-se, assim, com terríveis líderes nazis, preocupados em capturar as poderosas máquinas de propaganda, que são os emissores, mas também os agentes duplos, generosos e corajosos, cuja perigosa missão nas montanhas de Ariège é dada a seguir ao leitor. Este livro constitui uma oportunidade para perceber e descobrir o Principado de Andorra dos anos 40 e 50, muitas vezes desconhecido. É também a história do nascimento das estações periféricas, é um ambicioso percurso idealizado pelos aventureiros para contornar o monopólio estatal do governo francês e, por fim, é a história da liberdade das ondas".

Biblioteca particular de Ciências de Comunicação - Acervo de Nelson Traquina

Segundo um texto hoje divulgado pelo CIMJ (Centro de Investigação Media e Jornalismo), com sede em Lisboa, está disponível naquele centro a biblioteca de Nelson Traquina, professor catedrático de jornalismo na Universidade Nova de Lisboa.

Para a presidente do CIMJ, Estrela Serrano, "A relevância desta Biblioteca resulta do facto de incluir obras de difícil acesso fora de Portugal, uma vez que a maioria, em língua inglesa, não é conhecida dos jovens investigadores portugueses ou está esgotada. A Biblioteca é particularmente útil para investigadores e docentes que desejam aprofundar os estudos sobre os média e o jornalismo nas suas diversas vertentes, permitindo-lhes familiarizarem-se com os grandes clássicos da história e das teorias do jornalismo, em particular do jornalismo norte-americano, berço de correntes como o jornalismo cívico e de conceitos que influenciaram de maneira indelével o jornalismo português e europeu. Foi a partir do acervo da Biblioteca de Nelson Traquina e da tradução de alguns artigos de revistas científicas nela incluídas, na altura pouco conhecidas em Portugal, que se fundamentou teoricamente entre nós o ensino do jornalismo, na primeira licenciatura em Ciências da Comunicação, na FCSH/UNL".

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Ciclo de Conversas sobre o Futuro da História da Arte em Portugal

No dia 19 de Fevereiro (quarta-feira), das 10:00 às 12:00, vai decorrer o primeiro encontro do Ciclo de Conversas sobre o Futuro da História da Arte em Portugal, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, organizado pelo Instituto de História da Arte da mesma faculdade. Vítor Serrão (Professor Catedrático), Anísio Franco (conservador do MNAA), Cláudia Camacho (curadora e directora da AntiFrame) e Miguel Cabral Moncada (responsável pela Cabral Moncada Leilões) estarão à conversa no painel Tenho uma licenciatura em História da Arte, e agora?


Ranking mediático dos Festivais de Verão

Segundo a empresa de pesquisa, monitorização e análise de media Cision, que está a elaborar um estudo sobre o ranking mediático dos festivais de música no Verão, no mês de Janeiro de 2014, o Rock in Rio foi o festival com melhor desempenho de retorno mediático nos meios de comunicação social. O estudo tem como objecto de análise "as notícias referentes aos diferentes festivais, veiculadas no espaço editorial português, em mais de 2000 meios de comunicação social (televisão, rádio, online e imprensa)". A Cision não explica totalmente os critérios de avaliação, mas pondera o peso das notícias de imprensa e de televisão. Por exemplo, indica que, "apesar do Festival Optimus Alive ter registado um maior volume de informação (traduzido no maior números de notícias apuradas), foi, no entanto, apenas 4º do ranking de retorno mediático. Esta posição é explicada, em parte, pelo maior tempo de antena em meio televisivo registado por parte dos festivais Rock in Rio, Meo Marés Vivas e Meo Sudoeste que foram, respetivamente, 1º, 2º e 3º lugares do ranking no mês de Janeiro".

2ª Festa da Rádio em 1944, com discurso de António Ferro

A 16 de Fevereiro de 1944, na 2ª Festa da Rádio, em Lisboa, António Ferro fez um discurso. A ideia era transmitir o discurso a partir de uma gravação, projecto inédito. Mas, por dificuldades técnicas, o presidente da Direcção da Emissora Nacional, teve de ir ao palco e ler o seu texto. Como a gravação em disco já era usual, e sem informação adicional na minha investigação, presumo que fosse uma gravação magnética. Então, a Alemanha fornecera à Emissora Nacional os primeiros gravadores de fita magnética. A tecnologia estava no início; por exemplo, os americanos desenvolviam gravadores de fio de aço, depois mais vulgarizados, mas com enormes dificuldades de reparação quando o fio partia. A tecnologia alemã era mais sofisticada e acabou por triunfar depois do final da Guerra Mundial, com as patentes na posse dos americanos.

A literatura sobre a vinda dos magnetofones (nome que tinha o aparelho) para a Emissora Nacional dizia que Portugal fora o único país a ter esse equipamento fornecido pela Alemanha, prova da ligação muito forte com o governo de Salazar. Mas duvido disso. Nos países escandinavos também havia equipamentos semelhantes e na mesma altura.

Junto a notícia de Francine Benoit publicada no Diário de Lisboa, de 17 de Fevereiro de 1944, onde não há qualquer alusão à falha ténica.


Ora, o meu ponto de partida revelou-se falso. A leitura de Rádio Nacional (27 de Fevereiro de 1944) permitir-me-ia encontrar a solução. Na Festa da Rádio, ao começo da segunda parte, António Ferro aparecia no palco do S. Luís. Ele "queria assistir aquela festa como espectador", "tinha resolvido esconder-se num camarote para ouvir a sua própria voz" e fez "a experiência de gravar o discurso em «disco» mas viu depois que não tinha ficado bem". Poderia ter alegado doença e faltar mas ele gostava muito de assistir (e falar).

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Graffiti na Travessa dos Brunos, Lisboa



Casas antigas a lembrar um bairro operário ou de classe média baixa, outrora a trabalhar nas indústrias de Santos ou a deslocar-se um pouco para poente para Alcântara. Algumas das habitações têm um ou dois degraus de acesso à porta. As lojas são antigas ou fecharam. Na rua do presidente Arriaga, apenas vi circularem automóveis.

Um dos edifícios fotografado, o nº 12, é muito estreito, pouco mais largo que a porta de entrada. Como será a escada para os três andares? Um risco? Por isso, o grafito mostra o cavalo à beira do precipício. Ele está aflito, sem saber o que fazer, tanto mais que o seu dono está prestes a cair, abatido com quatro setas. No fundo do grafito, o exército medieval, imponente nas suas armaduras, lanças e capacetes, marcha no sentido da travessa dos Brunos para a rua do Presidente Arriaga. Na esquina, o jovem de gorro avança apressado com a sua viola pela mão.

Tarde de domingo com sol em Lisboa


sábado, 15 de fevereiro de 2014

Mercado de Campo de Ourique

Há "novos espaços de comida do renovado Mercado de Campo de Ourique: das ostras com champanhe aos hambúrgueres e petiscos, passando por pratos mais elaborados em versão mercado", escreveu Alexandra Prado Coelho (Público) em 29 de novembro de 2013. E há muita gente ali. Dá para almoçar, tomar café, comprar legumes, peixe e doces, sentir diversos aromas - e ver o Miguel Sousa Tavares, ele mesmo ao vivo, com aquele ar de aborrecido permanente que ostenta. O mercado renovado lembrou-me o mercado perto do Callao em Madrid, mas melhor, de fusão, como me disseram, onde o clássico mercado de produtos se junta ao gourmet e à cozinha pós-moderna. E muito diferente do mercado do Bom Sucesso (Porto), que me parece mal desenhado para ter êxito.

O meu desejo é que o mercado do Bolhão (Porto) siga o exemplo de Campo de Ourique. Só assim é que eu considero justo que o Porto mereça ter sido escolhido como melhor destino europeu, como classificou o European Best Destination promovido pela European Consumers Choice para 2014. E o mesmo desejo também para o Mercado 31 de Janeiro, ali ao Saldanha (Lisboa), um sítio tão central e cosmopolita - mas tão feio e inóspito. O ideal seria montar um mercado gourmet junto às bancas dos legumes e da fruta e das escassas lojas laterais e trazer as bancas de peixe para o rés-do-chão, dentro da ideia de fusão de conceitos como o de Campo de Ourique. E, no andar de cima, ter uma biblioteca com wi-fi e uma cafetaria e criar um espaço para espetáculos, performances e outras atividades culturais.

Rubens, Brueghel e Lorrain no Museu Nacional de Arte Antiga

A festa, o trabalho, a paisagem, o paraíso e a arca de Noé, a beleza da pintura do Museu do Prado, em nove núcleos, até 30 de março de 2014. Um verdadeiro alimento espiritual de 57 pinturas com paisagens flamengas e holandesas, com muita gente a absorver o que os guias explicam diante de cada quadro.


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Censura discográfica (6)

"14.2.1974. Inconveniente adquirir ou transmitir Duarte e Ciríaco, com Este Parte, Aquele Parte, e João Perry, com textos literários de poesia de Eugénio de Andrade".


O EP (duas canções) tinha Este Parte, Aquele Parte (Rosalia de Castro/José Niza) e Selva-Mundo (José Niza), com arranjos e direção de orquestra de Thilo Krasmann, supervisão de Rui Ressurreição e som de Moreno Pinto (do blogue Ié-Ié, de Luís Pinheiro de Almeida). Traduzido por José Niza, o poema de Rosalia de Castro dizia: Este parte, aquele parte / e todos, todos se vão. / Galiza, ficas sem homens / que possam cortar teu pão / Tens em troca orfãos e orfãs / e campos de solidão / e mães que não têm filhos / filhos que não têm pais. / Corações que tens e sofrem / longas horas mortais / viúvas de vivos-mortos / que ninguém consolará".
 
Retiro ainda do blogue Ié-Ié: "O duo Duarte & Ciríaco, de música folk, formou-se em Coimbra em finais de 1968 com Duarte Braz e Ciríaco Martins. Natural dos Açores e antigo viola-ritmo dos Álamos, uma das bandas yé-yé de Coimbra, Duarte Braz tinha 23 anos em 1967 e frequentava o 4º ano da Faculdade de Direito. Um ano mais tarde, juntou-se a Ciríaco Martins, 21 anos, igualmente estudante em Coimbra, do 3º ano de Química, e ambos formaram os Folkers, onde cantavam música folk, nomeadamente de Peter, Paul and Mary, Joan Baez, Bob Dylan, Donovan e Simon and Garfunkel. Em finais de 1968, decidiram iniciar um novo projecto no âmbito da música portuguesa e começaram então a cantar em português temas de sua autoria e outros, com inspiração e adaptação do cancioneiro popular, nomeadamente do folclore açoreano e alentejano, com poemas de poetas portugueses. Assim nasceu o duo Duarte e Ciríaco, fazendo transição para outro estilo musical que surgiu numa nova fase da música portuguesa, com o denominado movimento dos baladeiros, herdeiro de José Afonso e Adriano Correia de Oliveira, com nomes como Luís Cília, Manuel Freire, padre Fanhais, José Jorge Letria, José Barata Moura, entre outros".

[anteriores edições em 9, 23 e 30 de Janeiro e 1 e 6 de Fevereiro; próxima edição a 21 de Fevereiro]

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Dia Mundial da Rádio

Sou historiador e, como tal, a minha participação no Dia Mundial da Rádio é sobre a história do meio eletrónico. A fotografia mostra Fernando Curado Ribeiro, locutor, produtor, cantor, ator e homem de mil ofícios, a entrevistar a atriz Milú, num momento em que ela anunciava ir trabalhar no cinema em Espanha (Rádio Nacional, 18 de julho de 1943).


No mesmo ano e na mesma revista, outro locutor e homem das letras e da publicidade, Olavo d’Eça Leal, publicava um texto sobre literatura e o ato radiofónico Ele e as Sombras, que seriam os últimos textos de Olavo na revista (Rádio Nacional, 17 de janeiro de 1943). No texto intitulado "A literatura de hoje", Olavo começaria assim: "Sob a inquietação e sob os escombros começa a surgir nos homens a necessidade de encontrar os alicerces para a vida social, depois da catástrofe. É esta a primeira crónica literária do ano de 1943, e suponho do meu dever dedicá-la ao estudo da função da literatura nestes momentos em que começa a dealbar um novo período da história humana".

No ato radiofónico, o autor escreveu sobre um louco com uma carta de recomendação para visitar um sanatório: "Há vinte anos que este sanatório começou a funcionar e é o senhor a primeira pessoa estranha aos serviços que o visita… Peço-lhe ao menos que não cite o nome da minha clínica nas crónicas que publicar no seu jornal. E, quanto aos personagens, represente-os por iniciais, falsas iniciais (pausa). Outra recomendação que desejo fazer-lhe, importantíssima. Enquanto estiver aqui dentro, não pronuncie uma única palavra. Contente-se em ver e ouvir. Não fale com ninguém, nem comigo mesmo. As suas palavras, quaisquer que fossem, seriam perigosas para os meus doentes… e, para mim, inúteis. Estou de tal maneira habituado a auscultar o complexo pensamento dos loucos que o pensamento duma das tais criaturas a que é costume chamar ajuizadas torna-se-me tão claro como um livro aberto, impresso em letras grandes… Estamos entendidos, não é verdade? Bem. O senhor é um velho jornalista… a sua idade e a sua profissão devem-lhe ter dado grande experiência. Já viu muita cousa e dificilmente se espantará com o que vou mostrar-lhe".

Nesse ato, falado a uma voz, a do diretor do sanatório, Olavo refere Ghandi, um louco que gosta que o chamem pelo nome do chefe indiano. Mas também quis apresentar ao jornalista uma rapariga lindíssima que estava ali há uns quinze anos, a quem tinham morto o noivo, levaram-na para casa mas ela voltou para o hospital, e do Dr. Jorge Sequeira, que Gandhi achava muito parecido com o diretor do sanatório, que costumava sentar-se no chão. O diretor expõe ao jornalista o ficheiro B, pois o A não tinha interesse. Ele tinha informações sobre os doentes, fornecidas pelos próprios doentes. Escreve Olavo: "O passado do louco é letra morta. Uma pessoa que enlouquece cria vida nova e, portanto, só ela pode apresentar elementos informativos sobre essa vida nova, e só esses elementos me vale a pena orientar". Mas Jorge Sequeira era alguém que tinha saído do sanatório antes deste diretor tomar posse, logo não o conheceu. Mas a ficha de Jorge Sequeira diz uma coisa diferente: mal viu o novo diretor, adotou imediatamente a sua personalidade: "Está absolutamente convencido de que sou eu. Ficou doido porque tinha uma grande paixão por uma linda rapariga que não gostava dele. Infelizmente o seu primeiro sintoma grave de loucura consistiu em assassinar a tiro o noivo da rapariga. É considerado incurável. Tem várias ideias fixas e é inofensivo. Todos o tratam por sr. diretor. Que mal faz? Eu não me importo com isso… não me prejudica. Eu também o chamo sr. diretor". O louco autointitulado Ghandi, com nome de Jorge Sequeira, alter-ego do diretor, afirmava chamar-se Dr. Delfim Soares, nascido em1895.

O louco podia ser Hitler, que levara a destruição à Europa. Mas a sua vez de desaparecer de cena aproximava-se do fim. O não falar nem ouvir podia ser uma parábola à situação do regime de Salazar. Este, em 1943, dirigia-se à Assembleia Nacional a identificar acordos com os americanos por causa da base das Lajes nos Açores. A relação não assumida com a Alemanha começava a desfazer-se. Depois, desde 1941, os portugueses ouviam à noite a BBC. Em 1945, sairiam à rua a festejar a vitória dos Aliados e a pensar em democracia, que afinal não veio.

Olavo d'Eça Leal entraria em rotura com a Emissora Nacional, saindo em 1944. Ele, Igrejas Caeiro, Fernando Curado Ribeiro e Jorge Alves (este por razões diferentes) afastavam-se da estação pública. Era a hora para Alberto Represas (Emissões do Atlântico, nome provisório da Rádio Voz de Lisboa) e Artur Agostinho (Clube Radiofónico de Portugal) entrarem na Emissora Nacional.

Se os locutores tiveram (e têm) um papel essencial na rádio, também as mulheres foram sempre requisitadas como locutoras. O som, emitido hoje pelo grupo de estações integradas na ARIC, é a minha reflexão sobre algumas das locutoras mais importantes da rádio. Não tive tempo de falar de todas, por exemplo: Maria Leonor Magro e Clarisse Guerra.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A morte de Stuart Hall

Eu não conhecia pessoalmente Stuart Hall nem nunca falei com ele, mas foi dos autores que mais me acompanhou nesta última década. Todos os anos eu falava aos meus alunos da escola dos estudos culturais (cultural studies) e da importância daquele jamaicano que foi estudar e ficou no Reino Unido. Vezes sem conta li textos dele e de colegas que com ele trabalharam.

Agora, chega-me a notícia da sua morte. Num dos obituários surgidos na minha caixa do correio, leio que ele era um gigante da teoria cultural e da sociologia, fora diretor do Centre for Contemporary Cultural Studies ligado à Universidade de Birmingham (a que pertenceu entre 1964 e 1979) e professor de sociologia na Open University. Foi também presidente da British Sociological Association (1995-7). Autor de muitos trabalhos influentes, todos nós que trabalhamos nos estudos dos media, cultura e comunicação reconhecemo-lo como figura fundamental.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Exploring the cultural and creative industries debate

 [This article is taken from Exploring the cultural and creative industries debate]

“The idea of ‘creativity’ that till recently artists had the principal claim on has been vastly expanded over the last decade. Today, it is applied to a very broad range of activities and professions, many of which are far removed from artistic creation. "But where do we locate ourselves in this ‘creative industries’ agenda?”

Read the view of our ex-president Raj Isar on “why it is important to understand the cultural economy and to reflect on the impacts it has on non-market forms of cultural activity”. 

Lying at the crossroads between the arts, business and technology, the creative industries can be defined as “those industries that have their origin in individual creativity, skill and talent and which have a potential for wealth and job creation through the generation and exploitation of intellectual property” (UK Creative Industries Task Force, 1997). The sector comprises a large variety of creative fields, from those heavily industrialised such as advertising and marketing, broadcasting, film industries, Internet and mobile content industry, music industries, print and electronic publishing, video and computer games to those less industrialised like the traditional fields of visual arts (painting, sculpture), performing arts (theatre, opera, concerts, and dance), museums and library services. Other creative activities include the crafts, fashion, design industry and household objects. They might also include architecture, cultural tourism, and even sport. They are knowledge-based and labour-intensive, creating employment and wealth. By nurturing creativity and fostering innovation, societies hope both to maintain cultural diversity and to enhance economic performance.

For international organisations such as the UNESCO and GATT, cultural industries (sometimes also known as "creative industries") combine the creation, production, and distribution of goods and services that are cultural in nature and usually protected by intellectual property rights.

The creative industries represent already a leading sector of the economy in the OECD countries, with an annual growth rates between 5 and 20 percent. The sector is increasingly important for the knowledge-based economy as it is knowledge and labour intensive and fosters innovation; it has a huge potential for generation of employment and export expansion.

The Lisbon Strategy of the EU

For the EU and in the context of its ‘Lisbon Strategy for growth and jobs’ in particular, the economy of culture/cultural industries debate has also raised considerably in the last years. This interest materialised in the KEA European Affairs’ study on the Economy of Culture in Europe commissioned by the European Commission and published by the end of 2006. This broad ranging piece of research looks at ‘quantifiable’ and ‘non-quantifiable’ impact of the cultural sector on the objectives of the Lisbon agenda and makes a series of recommendations towards a ‘strategy for a creative Europe’. 

The study works with what it calls the “cultural and creative” sector, trying to reconcile the two. The “cultural sector” covers for the study visual arts, performing arts and heritage, but also “cultural industries” (film and video, video-games broadcasting, music, book and press publishing). The “creative sector”, is defined as using cultural input for the production of non-cultural goods and covers design, architecture, and advertising). Related industries, which are dependent on the two above-mentioned, are also considered. The study’s aim is to show the impact of the cultural and creative sector on the fulfillment of the objectives of the ‘Lisbon agenda’ and to make recommendations for improvement of the same agenda. 

The quantifiable socio-economic impact of the sector is translated into figures of the following type: the sector had a total turn-over of 654 billion € in 2003; its value added to the European Union’s GDP was thus of 2,6%; a sectoral growth of 12,3% is higher than the growth of the EU economy; the sector gives work to 3,1% (or 5,8 million) of the total number of employed persons in the EU. The increase of the sector between 2002-2004 was 1,85%, and thus higher than the increase of the EU economy as a whole.

Non-quantifiable contribution to the Lisbon objectives would include the impact on ICT, with a broadband boom parallel to and depending on the growth of creative content; culture as a “soft location factor” in boosting local & regional attractiveness for business settlements; and culture being a major driving force for tourism. The study also regards the role of culture as a tool for social integration and cohesion through social and socio-economic empowerment (through socio-cultural centres etc) or through top-down projects (e.g. rehabilitation of post-industrial areas) as a considerable contribution made to the social objectives of the ‘Lisbon agenda’. 

The study also makes a number of recommendations to achieve the Lisbon objectives. The Lisbon agenda should include increasing and improved investment in creativity, as well as “improving creation, production, distribution, promotion of, and access to, cultural activities and content”. The study recommends concrete actions to be undertaken by the EU: Making better use of existing programmes (FP7, structural funds, support to SMEs); focusing the EU budget equally on creation and on innovation; reinforcing the Internal Market for creative people, products and services (e.g. artists’ mobility); promoting creativity and business education, linking creators and technology (clustering of competences in so-called ‘creativity platforms’); establishing a creative industries bank based on investment in intangible assets; and integrating the cultural dimension in cooperation and trade agreements.

The study also proposes steps towards structural reforms in the Commission. It calls for reinforced coordination of activities and policies impacting on the cultural and creative sector within the European Commission; for better interaction between European institutions and the cultural and creative sector to ensure proper representation and consultation; and for a comprehensive and coherent implementation of article 151.4. 

Following the publication of this study, the European Commission published in May 2007 its Communication on a European agenda for culture in a globalising world with one of its three stated objectives being ‘Culture as a catalyst for creativity in the framework of the Lisbon Strategy for growth and jobs’. Almost simultaneously, the Council of Ministers adopted conclusions on the ‘Contribution of the cultural and creative sectors to the achievement of the Lisbon objectives’ and in November 2007 the European Council adopted the ‘European Agenda for Culture’, endorsing the EC’s proposed priority on the economy of culture. 

Since then, the European activity around the topic intensified. The European Parliament’s plenary adopted on the 10th of April 2008 a report on the ‘Cultural Industries in Europe’, a Member States experts working group met for the first time on the 31st of March 2008 to discuss the issue in the framework of the Open Method of Coordination and a ‘civil society platform on cultural and creative industries’ was set up to insure the sector’s input in the debate. 

Links

References

  • Amin, A. and Thrift, N. (eds.) (2004) The Blackwell Cultural Economy Reader. Oxford: Blackwell.
  • Anheier, Helmut K. and Isar, Y. Raj (2008) The Cultural Economy. The Cultures and Globalization Series 2. London: SAGE Publications.
  • Caves, Richard (2000) Creative Industries: Contracts between art and commerce. Harvard University Press: Harvard.
  • Cunningham, Stuart (2001) ‘From Cultural to Creative Industries. Theory, Industry, and Policy Implications’ in Colin Mercer (ed) Convergence, Creative Industries and Civil Society. The New Cultural Policy. Special issue of CULTURELINK, Zagreb: Institute for International Relations.
  • Garnham, Nicholas (2005), ‘From Cultural to Creative Industries: An analysis of the implications of the creative industries approach to arts and media policy making in the United Kingdom’, International Journal of Cultural Policy, 11, 15-29.
  • Greffe, Xavier (2007) Artistes et marchés. Paris: La documentation française.
  • Hesmondhalgh, David (2007) The Cultural Industries (Second Edition). London: SAGE Publications.
  • Jeffcutt, Paul (2001) ‘Creativity and Convergence in the Knowledge Economy: Reviewing Key themes and Issues’ in Culturelink, Special Issue on Convergence, Creative Industries and Civil Society: The New Cultural Policy, (Guest Editor Colin Mercer). Zagreb: IRMO.
  • Pratt, Andy C. (2007) ‘The State of the Cultural Economy: The Rise of the Cultural Economy and the Challenges to Cultural Policy Making’ in The Urgency of Theory, Antonio Pinto Ribeiro, ed. London: Carcanet and Fundaçao Calouste Gulbenkian.
  • Scott, Allen J. (2000) The Cultural Economy of Cities. London, Thousand Oaks and New Delhi: SAGE Publications.
  • UNCTAD and UNDP (2008) Creative Economy Report 2008. Geneva and New York.

[This article is taken from Exploring the cultural and creative industries debate]

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Archives and Cultural Industries, Girona, 11th - 15th october 2014

"Girona City Council, through its Municipal Archive, is hosting and organizing the 2nd Annual Conference of the International Council on Archives, which will be held in October 2014, as approved by the General Assembly of the International Council on Archives, which met on the 24th of August 2012 in the Australian city of Brisbane. This event will coincide with the celebration of the 9th European Conference on Archives (ECA), organized every four years by the European Branch of the International Council on Archives (EURBICA). Also taking place at the same time is the 13th Image and Research Seminar, organized biennially by the Centre for Image Research and Diffusion (CRDI) of Girona City Council in conjunction with the Archivists Association of Catalonia (AAC), which will mainly focus on photographic and audiovisual documents. All three events are grouped under a common title: Archives and Cultural Industries, in order to foster debate on a key issue for archives: the potential for the documentation that has been conserved in them to be a resource provider for the creation and consumption of culture among the population".

The deadline for paper proposals is 28 February. Click here to see the official Annual Conference 2014 website.

Plano Lisboa art project

Plano Lisboa art project, um jovem projecto, está a organizar dois eventos. Um é a 1ª festa, ao Cais do Sodré. O outro é um workshop, com o nome Estás Aqui? o teu corpo, a tua voz, a cidade, inserido no âmbito de experimentação teatral para jovens (12 aos 17 anos). Para orientação deste workshop, a actriz e performer Marta Abreu Barahona. Inscrições até dia 14 de Fevereiro de 2014 (sexta-feira).
 

Saber mais: https://www.facebook.com/planolisboa?ref=br_tf.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Censura discográfica (5)

"6.2.1974. Inconveniente transmitir Fernando Tordo, O Café". Letra de José Carlos Ary dos Santos (1973), que começava assim:

"Chegam uns meninos de mota, / Com a china na bota e o papá na algibeira / São pescada marmota que não vende na lota / Que apodrece no tempo e não cheira / Porque o tempo / É a derrota / Chegam criaturas fatais / Muito intelectuais tal como a fava-rica / Sabem sempre de mais, / Escrevem para os jornais com canetas molhadas na bica / E a inveja (sim, a inveja!) /É quanto fica" [procurar no sítio oficial do cantor e clicar no disco Clássicos 1985].


Tordo já vira proibída a transmissão pela Emissora Nacional de outras canções como Virgens que Passais e Sangue das Palavras, em Março de 1973. Ary dos Santos vira proibídas letras que fez para outras canções, mesmo a de um cantor muito ligado ao movimento do nacional-cançonetismo, António Mourão, Meu Limão de Amargura (Meu amor meu amor / meu corpo em movimento / minha voz à procura / do seu próprio lamento. / Meu limão de amargura meu punhal a escrever / nós parámos o tempo não sabemos morrer / e nascemos nascemos / do nosso entristecer".

[anteriores edições em 9, 23 e 30 de Janeiro e 1 de Fevereiro; próxima edição a 14 de Fevereiro]

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

História da rádio em Portugal segundo José Nascimento

José Nascimento foi locutor e produtor de rádio. A sua atividade mais antiga está relacionada com a Rádio Luso, emissor que desapareceria logo após a II Guerra Mundial. Depois, esteve muito tempo ligado ao Rádio Clube Português, sendo um dos pioneiros da programação de frequência modulada daquela rádio em 1963. O seu nome aparece ligado à ideia de museu da rádio. Ele teve a intenção de escrever um livro sobre a história da rádio em Portugal, de que a cópia anexa seria essa tentativa.


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

José-Augusto França

Na "Revista" do Expresso de sábado passado, um dos destaques dados foi a José-Augusto França, apresentado como crítico, historiador de arte e um dos vultos mais importantes da cultura nacional do século XX.

Nascido em Tomar, cidade a quem doou o seu património de mais de cem obras [como aqui escrevi], já no longínquo ano de 1922, tem mais de 90 obras publicadas, entre as quais romances, livros e artigos de especialidade. Em 1976, criou o Departamento de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa. No final de 2013, lançou o seu segundo livro de memórias.

O seu interesse pela arte começou quando ia aos domingos de manhã com o pai ver o Museu de Arte Antiga. Na entrevista, diz que o pai gostava de Columbano mas não de Malhoa, "o que era bom sinal". O pai de José-Augusto França queria ser intelectual, tendo chegado a ser jornalista em Tomar e a escrever uma peça de teatro, mas acabaria por se instalar em Lisboa como contabilista. Depois, em 1938, o jovem França viu as primeiras obras de Almada Negreiros. O seu primeiro contacto com o modernismo foi a Exposição do Mundo Português. Via e namorava ao mesmo tempo. Em 1945, partiu para África, para Luanda, onde permaneceu um ano e escreveu um romance (Natureza Morta) sobre a escravidão negra.

Regressado a Lisboa, assinou as listas do MUD (Movimento de Unidade Democrática) e casou-se. Conheceria Castro Soromenho, a quem mostrou o texto do romance escrito em Angola, e ainda Casais Monteiro, António Pedro e os surrealistas. Em Paris, conheceu Picasso. Também visitou a exposição de Cândido Portinari. Isso virou a vida de José-Augusto França, que desenvolveu a sua visualidade.

Após escrever um livro sobre Amadeu Souza-Cardoso, ofereceu um exemplar a Pierre Francastel, sociólogo de arte que leccionava na École des Hautes Études. Com uma bolsa do governo francês, França fez a licenciatura e o doutoramento naquela escola, ele que deixara arquitectura a meio, com a morte do pai. Nascia a tese sobre o marquês de Pombal, a partir dos estudos das plantas de Lisboa. Depois do doutoramento, ainda ficou em Paris, a escrever nos Cahiers du Cinéma, quando Francastel o convidou para seu assistente, que não aceitaria. Em contrapartida, estudou a arte em Portugal no século XX.

Ele teve pena de não ter conhecido António Ferro, quando Salazar o mandou embora para a Suíça. José-Augusto França esteve em Berna, até tinha um cartão para Ferro, mas não o visitou. Ferro representava o SNI e ele estava do outro lado. "Estupidez. Teria gostado de o conhecer. Mais tarde, escrevi sobre ele e entendi-o", diz na entrevista a Ana Soromenho para o Expresso, que segui linearmente.

Barreto Xavier e a colecção Miró

A leiloeira Christie's cancelou a venda dos quadros de Joan Miró devido a "incertezas legais" criadas pelo processo judicial que autorizou a venda das obras pertença do BPN, um banco nacionalizado - foi a notícia conhecida ao fim da tarde. O secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, que diz que manter a colecção no nosso país não é uma prioridade, parece um actor secundário e sem poder. Já ouvi aliás dizer que, não tendo poder, o melhor a fazer é demitir-se. Na realidade, o imbróglio criado pela novela da semana - vende, não vende, é legal, é ilegal - corrompeu toda a confiança que se podia depositar no responsável da cultura. A meu ver, ele tornou-se um dos piores dirigentes políticos com funções na Cultura nas últimas décadas. O mais incrível é que a colecção nunca esteve em exposição pública, o que faz lembrar séculos distantes em que as obras permaneciam secretas ou propriedade de indivíduos poderosos e com mentalidade medieval.

British pop icon (Kim Wilde), German investigative reporting (Adrian Feuerbacher) and French top level NRJ exec (Maryam Salehi)


Radiodays Europe kicks off on Sunday 23rd with three specialized workshops and four themed Dublin Tours. The workshops will be held at the conference venue CCD at 13:30 – 16:30 pm. It will be possible to participate in both workshops and Dublin tours, as some of the tours start at 11:00 am. The main conference and exhibition will start Monday 24th at 9 a.m. and will end Tuesday 25th at 4 p.m. On Monday night there will be a Radio Night event out of the ordinary for all participants.

Radiodays Europe is the largest international radio conference of its kind and had 1200 participants from 50 countries in Berlin 2013. The conference itself will cover a vast range of topics, from the latest digital challenges to new programme formats and inspiring innovations in radio. Radiodays is also an opportunity to meet all the leading figures in radio from across Europe and the world. Register on www.radiodayseurope.com.

[dica de Paula Cordeiro]

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Madalena Iglésias

O folheto de Madalena Iglésias deve ter sido impresso em finais de 1962. Da sua biografia, indica-se que em 1950 entrou para o Centro de Preparação de Artistas da Rádio (Emissora Nacional), sob a direção de Mota Pereira. Em 1957, estreou-se na RTP. Ao longo da sua carreira, recebeu os títulos de rainha da rádio e da televisão. Compositores e poetas portugueses e espanhóis fizeram canções para o seu repertório. Editou na etiqueta Alvorada (Rádio Triunfo).

domingo, 2 de fevereiro de 2014

3.º Seminário de Trabalho sobre Cinema Português

21 de Fevereiro de 2014, Universidade de Aveiro.

"Nos últimos anos têm-se multiplicado as investigações universitárias sobre o cinema português. Dada a inexistência de departamentos especializados em história do cinema, estes investigadores não têm muitas oportunidades para discutir o seu trabalho com outros colegas trabalhando sobre os mesmos temas. Depois do sucesso das duas edições do Seminário (organizados pelo Instituto de História Contemporânea e pelo Centro de Estudos Interdisciplinares do Séc. XX) apresentamos agora a terceira edição, co-organizada com o Programa Doutoral em Estudos Culturais (UA/UM). Este Seminário junta vários doutorandos com investigações em curso sobre cinema português, proporcionando-lhes uma oportunidade para testar argumentos e debater as suas ideias. Todos os painéis terão comentadores. Organização: Programa Doutoral em Estudos Culturais (UA/UM), GT “História do Cinema Português” da AIM, CEIS20-UC (linha “Correntes Artísticas e Movimentos Intelectuais”), IHC-UNL (linha “Cultura, Identidades e Poder”). Daniel Ribas, Paulo Cunha, Tiago Baptista, Maria Manuel Baptista, Jorge Palinhos e Sara Vidal Maia" (https://www.facebook.com/events/281275212023514/).

Public Service Broadcasters and Press Freedom

"A brief update on the state of public service media in Greece: the Hellenic Public Service Broadcaster ERT continues to broadcast under a self-governing system, run by around 700 former employees, after its forced shut down on June 11, 2013. It provides programmes around the clock accessible mainly through http://www.ertopen.com but also short waves, satellite, and in Western Greece through the analogue signal. It continues to attract significant numbers of viewers and listeners, exceeding any expectation in terms of internet access and usage to access ERT programmes and in terms of longevity. Please note, the former ERT employees are unpaid. The interim 'Public Television' run by the Ministry of Finance operates two channels. The media landscape in Greece is at this moment one of near-complete privatisation, since the public service broadcasting system has been hit. Last Thursday, January 30, the ORF, the Austrian Public Service Broadcaster together with the University of Vienna and the representation of the European Parliament in Austria hosted a public screening of the Documentary The Lost Signal of Democracy, which records the politics and interests around the ERT shut down. (More information on the documentary and how to order it here: http://www.smallplanet.gr/en/documentaries/chronologically/2013-2014/337-the-lost-signal-of-democracy). The panel discussion that followed featured the Regisseur, Yiorgos Avgeropoulos, MEP Dimitrios Droutsas, Christa Hofman ORF and myself. The discussion took place in German and English (but not translated), and you can watch it here: http://stream.univie.ac.at/media/lvs/2014S/220023.8/33768_09bf976a660b3a7a2679c24e1c2308f3/angle0. ERT prepared a 5 minutes reportage for those of you with Greek language skills, and you can watch it here: http://www.youtube.com/watch?v=1mupdj3u4A0&app=desktop. If you are interested in this case and even for teaching purposes I include several analytical pieces in my blog: www.katharinesarikakis.wordpress.com).

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Novo estudo sobre indústrias criativas e culturais

"A taxa de crescimento média anual das exportações culturais e criativas excedeu os 10% na última década. Daí que as sinergias entre cultura, turismo e indústria estejam entre as recomendações de um documento apresentado esta sexta-feira que foi apadrinhado pelo Ministério da Economia e pela Secretaria de Estado da Cultura" (Vítor Belanciano, hoje no jornal Público).

No documento chamado A Cultura e a Criatividade na Internacionalização da Economia Portuguesa, de autoria da Sociedade de Consultores Augusto Mateus & Associados, lê-se que o "futuro das economias europeias, bem como da economia portuguesa, depende decisivamente da respetiva capacidade em colocar a cultura, a criatividade e o conhecimento no centro das atividades económicas. A aceleração da internacionalização da economia portuguesa constitui uma condição necessária para a superação da crise estrutural de competitividade da economia portuguesa. A internacionalização do próprio setor cultural e criativo é obviamente decisiva nesta viragem para o exterior da economia portuguesa. No plano interno, e mesmo sem incluir o crescente dinamismo da revolução digital, o setor cultural e criativo é um dos mais dinâmicos da economia portuguesa, comparando bem na geração de riqueza com outras fileiras emblemáticas do tecido produtivo nacional, como o setor têxtil e do vestuário, o setor da alimentação e bebidas ou o setor automóvel" (p. 10).

A frase mais emblemática do estudo é: "A economia é cada vez menos um caminho entre matérias-primas e produtos acabados, mas uma mistura cada vez mais explosiva de inovação e de diferenciação. Neste sentido, todas as indústrias serão culturais e criativas ou simplesmente não persistirão" (p. 11). O estudo tem seis partes (Abordagem metodólogica; Posicionamento internacional no comércio e na produção de índole criativa; Sinergia cultural; Sinergia turística; Sinergia industrial; Conclusões e recomendações).

Ressalto:“as exportações do conjunto das indústrias criativas (incluindo artigos de design, artesanato, artes visuais, edição, novos media e audiovisuais e serviços relacionados com publicidade, arquitetura, investigação e desenvolvimento, audiovisuais e outros serviços culturais e recreativos) como as exportações do conjunto das indústrias relacionadas (incluindo as matérias-primas e os equipamentos de suporte que asseguram a criação, produção, distribuição e consumo dos produtos das indústrias criativas) apresentam um dinamismo e uma resiliência superior à média nacional. Estas exportações recuperam do colapso do comércio internacional, desde 2009, a um ritmo que equivale ou que supera o de grandes fileiras exportadoras nacionais como química, automóvel, alimentar ou equipamento elétrico. As maiores exportações ©riativas nacionais envolvem produtos relacionados audiovisuais (empoladas pelo dinamismo de equipamentos de suporte à fruição cultural como os aparelhos recetores de radiodifusão para veículos automóveis, vulgo autorrádios), produtos relacionados de design (empoladas pela venda ao exterior de materiais de suporte como o ouro) e produtos de design, desde mobiliário, têxtil lar, papel de parede, porcelana, joias, iluminação, acessórios de moda a brinquedos (p. 145).

Depois: “A primeira sinergia é a sinergia cultural, que propõe um novo dinamismo de projeção internacional das atividades culturais e criativas, partilhando riscos e custos. A segunda sinergia é a sinergia turística, que propõe um novo relacionamento onde o setor cultural e criativo assume um papel relevante na renovação dos fatores chave de competitividade turística e beneficia dos novos públicos e de novos mercados abertos pelo desenvolvimento turístico. A terceira sinergia é a sinergia industrial, que propõe um avanço em direção a uma nova especialização e a um novo paradigma competitivo onde a cultura e a criatividade se juntam ao conhecimento para oferecer às empresas portuguesas uma combinação original de inovação e diferenciação suscetível de reforçar a sua competitividade internacional e alargar a exportação de valor acrescentado” (p. 148).

Quanto à sinergia cultural, esta “vem demonstrar a relevância que o reforço da cooperação dentro do setor cultural e criativo e o esforço simultâneo e coletivo dos diversos agentes e entidades culturais podem assumir na efetiva internacionalização das indústrias culturais e das atividades criativas. Formas de cooperação e de eficiência coletiva devem ser incentivadas para: i) capacitar o setor cultural e criativo, sensibilizando e informando sobre os desafios e os instrumentos disponíveis à sua internacionalização; ii) promover o setor cultural e criativo, integrando-o nas estratégias de desenvolvimento de ofensivas internacionais, de redes e de clusters, de regeneração urbana e das estratégias de investigação e inovação para especialização inteligente (RIS3); iii) conectar o setor cultural criativo, desenvolvendo parcerias tecnológicas para a transição digital, de modo a tirar pleno partido da plataforma de internacionalização que é a internet” (p. 148).

Da sinergia turística, para o estudo é preciso: “i) diferenciar os destinos turísticos, oferecendo experiências únicas a nichos de mercado com maior poder aquisitivo; ii) segmentar, aprofundando a compreensão das caraterísticas e das motivações dos turistas, de modo a maximizar as potencialidades do destino turístico; iii) interagir, através da maior coordenação dos intervenientes turísticos e da utilização das tecnologias de informação e comunicação, de modo a potenciar a inovação nos produtos turísticos” (p. 149).

Sobre a sinergia industrial, remeto para a sua leitura ainda na p. 149. Igualmente sobre a estratégia, ponto importante do documento, recomendo a leitura do texto original (pp. 150-155).

O documento traça o mapa mundial da produção criativa, onde se “avalia a relevância assumida a nível nacional pelos ativos intangíveis (como marcas), pelos bens e serviços criativos (como filmes) e pela criatividade online (como sites). A pontuação geral resulta de um total de 13 parâmetros de avaliação, sempre relativizados pelo contexto demográfico ou económico de cada país. No ranking global da produção ©riativa de 201314, Portugal surge na 16.ª posição dentro da União Europeia e na 27.ª posição a nível mundial, entre a Irlanda e os Emirados Árabes Unidos. É no Luxemburgo, na Suíça, na Islândia, nos Países Baixos, em Hong Kong, em Malta, na Noruega, na Dinamarca, no Reino Unido e na Estónia que a produção ©riativa assume maior relevância. Seguem-se Canadá, Suécia, Nova Zelândia, Alemanha e Finlândia” (p. 53).

Chamo ainda a atenção para a bibliografia incluída no final do texto. 

Censura discográfica (4)

"1.2.1974. Inconvenientes adquirir ou transmitir José Afonso (Venham Mais Cinco), Petrus Castrus (Mestre), Carlos Mendes (E Alegre se Fez Triste; O Regresso) e Leonel Sena (Rolf Knôfel)".

De uma só vez, a Emissora Nacional proibia quatro discos. Curiosamente, a rádio pública hoje de manhã anunciava o concerto dos 50 anos de carreira de Carlos Mendes. Será que o artista vai cantar aquelas canções há 40 anos censuradas?

A banda Petrus Castrus, de rock progressivo, nasceu em 1971 com os irmãos Pedro Castro e José Castro e tinha uma formação inicial composta por Pedro Castro (vocais, guitarra e baixo), José Castro (teclado, sintetizador e vocais), Júlio Pereira (guitarra), Rui Reis (órgão) e João Seixas (bateria). A letra de Mestre começava assim: "Mestre / Nada de novo debaixo do Sol / Nada de justo debaixo dos Céus / Apensas teus servos suados / Arando lentamente / Na tarde quente / Mestre / Dos que partiram nem a sombra voltou / Os que ficaram já a guerra levou / Só restam os servos suados / Cavando lentamente / Na tarde quente". Ouvir a canção aqui.

 
[anteriores edições em 9, 23 e 30 de Janeiro; próxima edição a 6 de Fevereiro]