Ontem, aprendi muito. Quando cheguei à sala, estava a falar o segundo orador, apanhando o essencial da sua comunicação. O arquitecto Camilo Rebelo falava da aproximação da cidade do Porto ao rio Douro no espaço entre as pontes D. Luís I e Arrábida (na foto no final do texto, um aspecto da construção da mesma, durante o período entre 1957 e 1963, numa exposição patente na antiga Cadeia da Relação, no Porto).
O conferencista seguinte, Carlos Martins da Silva, presidente da ADDICT [ver aqui], foi claro e pedagógico. Primeiro, apresentou os conceitos - em torno de três pontos (território, economia, cultura) -, depois as actividades. Ele alertou para o conceito e o discurso político internacional de indústrias criativas, pois percebe-se o modelo político inglês mas não a aplicação retórica noutros países. E reteve - pelo menos assim o entendi - a necessidade de possuir massa crítica para construir dimensão para as indústrias criativas. O seu discurso sobre indústrias criativas envolveu as necessidades de promover novas atividades, estimular as economias locais, rejuvenescer o sistema empresarial e mudar a imagem de uma região, aqui apontando o Porto. Para além dos programas anteriores (CCDR, 2007; ADDICT 2008; Guimarães 2012), identificou o programa Portugal 2020, inserido no programa Creative Europe, que traça as políticas públicas para o período 2014-2020, onde se juntam a cultura e os media.
À tarde, ouvi Paulo Cunha e Silva, crítico de arte, curador e médico português, membro da equipa de Porto 2001 Capital Europeia da Cultura e agora vereador da cultura da câmara municipal do Porto. Seguindo a terminologia de Zygmunt Bauman, ele falou de uma cidade líquida, distinguindo uma política sólida, a cidade dos bairros e dos equipamentos como os cineteatros, de uma política líquida, a dos conteúdos. Daí, uma tipologia: 1) espaços, 2) conteúdos, 3) relação disfuncional entre espaços e conteúdos. A aposta do vereador da cultura, como deu bem a entender, vai no sentido de criar percursos, trajectos e destinos - os mapas. Pegando na metáfora de Jorge Luis Borges sobre o mapa, o vereador da cultura do Porto nomeou percursos (circuitos de autocarro), microlugares e metalugares (como as pontes, numa retoma do que Camilo Rebelo falara de manhã).
Para o final, Paula Guerra, do departamento de Sociologia da Universidade do Porto, apresentou uma comunicação sobre culturas urbanas e juvenis criadas nos festivais de música do nordeste do país, em especial o festival de Paredes de Coura. O estudo que vem efectuando na última década visa avaliar e compreender a importância desses festivais, nomeadamente dinâmicas, desenvolvimento do conceito de cena musical, criação de identidade, matéria ritual e de interacção, tribal e de congregação. A investigadora apresentou diversos números, que mostraram impressivamente a importância do tema estudado. Eu, que já falara dela quando em Junho de 2013 apresentou um projecto sobre punk (ler aqui), tive oportunidade de conhecer melhor os seus projectos, esperando num futuro breve aprofundar melhor a informação sobre eles.
As comunicações acima identificadas ocorreram no III Encontro Cidades, Espaços e Identidades, na Universidade Lusófona do Porto. Pela saída do vereador da cultura da câmara municipal do Porto após a sua intervenção, eu não pude fazer um pedido pessoal, a propósito do que ele disse sobre cidade líquida e activação dos conteúdos. É de considerar salvaguardar a memória do programa radiofónico A Voz dos Ridículos, terminado em Julho de 2013. Ao que julgo saber, há fitas magnéticas, cassetes e outro material com os programas emitidos. A câmara municipal do Porto faria um favor à cultura da cidade se conseguisse negociar com o director do programa, João Manuel Antão, a sua cedência ou aquisição. Eu gostaria de trabalhar e escrever sobre o programa.