quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

ANO DE 2006 BOM PARA A CULTURA

Isto diz respeito ao Reino Unido, segundo o Guardian de hoje.

Em termos de filmes, os aplausos vão, segundo o crítico Peter Bradshaw, para Borat, James Bond em Casino Royal e A raínha (com um papel exemplar desempenhado por Dame Helen Mirren). Mas outros merecem citação (retiro títulos em inglês): The wind that shakes the Barley, de Ken Loach, London to Brighton, de Paul Andrew Williams, Red Road, de Andrea Arnold, United 93, de Paul Greengrass. De artes visuais, o crítico Adrian Searle, enuncia como realizações mais importantes as bienal de Liverpool e de Berlim e a trienal da Tate.

Televisão, dança, arquitectura, teatro, música são outras áreas classificadas na edição de hoje do jornal londrino no respeitante a actividades do ano agora a concluir.

A SOCIEDADE MCDONALDIZADA (5)


[conclusão das mensagens de 9, 17 e 25 de Novembro e 5 de Dezembro]

Quanto ao comentário feito por Gary Genosko na obra McLuhan and Baudrillard. The masters of implosion (1999: 79), leva aquele a salientar a escrita da troca simbólica como um dos expoentes do trabalho de Baudrillard, adoptado pelos teóricos e práticos do cyberpunk com o mesmo espírito que elevou McLuhan ao estatuto de padroeiro da revista Wired. Há mesmo quem considere Baudrillard como o filósofo do cyberpunk e o prático do cybercriticismo, estilística e substantivamente. O conceito de troca simbólica adquire múltiplas formas na escrita de Baudrillard. Em geral, é incomensurável com qualquer sistema de valor. É anti-produtivista e envolve a destruição sumptuária de signos. Numa linguagem repleta de aforismos, fala em semiurgia – produção de signos, sociedade de simulações liderada pela hiper-realidade, domínio e fascínio de imagens, espectáculos e simulações (Santos, 2000: 39). Pela semiurgia, eliminam-se críticas e esgotam-se os significados. A implosão não irradia mas absorve e anuncia a catástrofe do colapso dos novos meios para com a forma de massa.


Ou na linguagem revista por Genosko (1999: 88): os signos monetários são frios para Baudrillard: sem afectos, comutáveis, ligados a redes do sistema estrutural, e desligados dos referentes reais para-sistémicos.

Acabo em Naomi Klein (2002: 167), que, em criança, gostava de desaparecer no interior de objectos perfeitos, irreais, brilhantes, seduzida pelo simulado. É que o mundo parecia muito pobre se comparado com a televisão e os centros comerciais. Para Klein, os desenhos animados e os restaurantes fast-food falam às crianças com uma voz muito sedutora. Todas as crianças querem ter um pedaço do mundo dos desenhos animados nas suas mãos [recordo o já não tão recente Quem tramou Roger Rabbit?, de que toda a gente terá gostado]. Daí que os contratos de licenciamento de personagens de televisão e cinema para brinquedos, cereais e lanches se transformaram numa indústria de muito dinheiro. Depois, a acrescentar a isto, há exposições de marcas nas lojas, lojas de alta tecnologia, parques temáticos.

Klein (2002: 182) junta a ideia dos produtos de substituição, a que corresponde a destruição das coisas reais: nos centros das cidades, nos negócios independentes, na arte por oposição aos produtos culturais que resultam da combinação de esforços entre empresas do mesmo grupo (filme, parque temático, brinquedos, festas, livros, CDs, DVDs). A autora fala do padrão comercial da superloja. Hoje, espera-se que a livraria desempenhe o papel de biblioteca universitária, de parque temático, de parque infantil, de ponto de encontro, de salão literário e de sala de café. São os casos da Barnes & Noble e da FNAC. Contudo, as livrarias, no seu conceito tradicional, são anomalias no universo das superlojas: são lojas multimarca, com livros de centenas de editores, são negócios primários e não extensões. As superlojas de marca são as da Virgin, Sony e Nike.

Leituras
Baudrillard, Jean (1979). De la seduction. Paris: Denoël
Baudrillard, Jean (1981). A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70
Baudrillard, Jean (1991). Simulacros e simulação. Lisboa: Relógio d’Água
Debord, Guy (1990). Comments on the society of the spectacle. Londres e Nova Iorque: Verso
Genosko, Gary (1999). McLuhan and Baudrillard. The masters of implosion. Londres e Nova Iorque: Routledge
Klein, Naomi (2002). No logo. Lisboa: Relógio D’Água
Lipovetsky, Gilles (1989). O império do efémero. Lisboa: D. Quixote
Ritzer, George (2004a). The McDonaldization of society. Thousand Oaks, CA, Londres e Nova Deli:Pine Forge. Ritzer, George (2004b). Enchanting a disenchanting world: revolutionizing the means of consumption. Thousand Oaks, CA, Londres e Nova Deli:Pine Forge

Santos, Rogério (2000). "Indústria cultural, tecnologias e consumos". In Carlos Leone (org.), Rui Bebiano, Hermínio Martins, Rogério Santos e Carlos Vidal Rumo ao cibermundo? Oeiras: Celta

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

LIVROS APOIADOS PELO ICS

O ICS (Instituto de Comunicação Social) já aprovou os apoios para livros de comunicação social correspondentes ao segundo semestre deste ano , num total de € 30 mil.

Das dez obras apoiadas, cada uma com € 3 mil, destaco as seguintes: 1) Paula Miranda (MinervaCoimbra), O jornalismo em Portugal. Elementos para a arqueologia de uma profissão (1865-1925); 2) Maria Augusta Seixas (MinervaCoimbra), Virgínia Quaresma (1882-1973). A primeira jornalista portuguesa; 3) Ana Cabo (Livros Horizonte), Os novos movimentos sociais e os media: os movimentos antiglobalização nas páginas do Público.

CRESCEM AUDIÊNCIAS DOS JORNAIS EM ESPANHA

De acordo com o Diário de Notícias de hoje (texto de Paula Brito), os jornais espanhóis registaram um aumento, em termos de audiências, no terceiro trimestre deste ano quando comparado com período homólogo do ano anterior.

Assim, o El Pais tem diariamente 2,1 milhões de leitores, mostrando uma tendência positiva de 0,5% face ao terceiro trimestre de 2005 (e mais 4,5% face ao trimestre anterior). Por seu lado, o El Mundo, apesar de ter descido quando comparado com 2005, registou um aumento face ao segundo trimestre de 2006, na ordem de 5,4%. Isto são boas notícias para os media impressos de qualidade e pagos no país vizinho, enquanto os jornais gratuitos registaram uma baixa acentuada.

Em termos de outros consumos, citando o Estudio General de Medios (EGM) referido na notícia do Diário de Notícias, as audiências de cinema aumentaram 12,5%, ao passo que a internet cresceu mais 10,3%, as revistas mais 4,1%, a televisão mais 0,6% e a rádio mais 1,3%.

O estudo da EGM resulta de entrevistas face-a-face a 45590 pessoas e telefónicas (38147 para a rádio e 32174 para a imprensa).

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

APRESENTAÇÃO DE LIVROS

Como referi abaixo, foram hoje apresentados na Universidade Católica, vários livros da colecção Comunicação da Porto Editora. Na fotografia, vê-se (embora com não muita qualidade), da esquerda para a direita Joaquim Fidalgo, docente da Universidade do Minho e um dos coordenadores da colecção, bem como Gonçalo Pereira e Luís Oliveira Martins, dois jovens autores e que fizeram o mestrado na Universidade Católica (o blogueiro cá de casa teve o grande prazer de orientar as teses de ambos).


LANÇAMENTO DE LIVROS DA PORTO EDITORA

É hoje, dia 12, pelas 18:30, na Universidade Católica Portuguesa, que são lançados os mais recentes títulos da colecção Comunicação da Porto Editora. A saber: Mercados televisivos europeus, de Luís Oliveira Martins, A Quercus nas notícias, de Gonçalo Pereira, Comunicação, economia e poder, volume organizado por Helena Sousa, Introdução aos Cultural Studies, de Armand Matellart e Érik Neveu, e Sociologia dos públicos, de Jean-Pierre Esquenazi. Estarão presentes os autores dos dois primeiros livros e os coordenadores da colecção.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

ERC

A leitura das declarações de voto de dois dos membros do conselho regulador da ERC, editadas no Público, o texto de Eduardo Cintra Torres de ontem e o comunicado à imprensa de hoje por parte da ERC levam-me a fazer um pequeno comentário, reforçando as ideias que aqui escrevi há dias. Logo: o que é que eu penso sobre a questão Cintra Torres?

Primeiro, o articulista Cintra Torres deveria ter sido mais cauteloso no uso das palavras. Isso não implica auto-censura. Segundo, a ERC deveria ter mais prudência nas suas deliberações, até porque o conselho votou dividido e a declaração de voto de Rui Assis Ferreira está muito bem argumentada. Terceiro, a discussão (e eventual perda de razão) desenvolve-se e vai por caminhos de crispação desnecessários: a) com artigos como o escrito por Cintra Torres ontem (trazendo à discussão a influência governamental em Espanha sobre a televisão pública em livro recentíssimo, et pour cause...), 2) não se apaga com um comunicado à imprensa da ERC, hoje emitido, decretando o fim da discussão. Havendo duas partes, uma não pode declarar o fim do assunto sem a outra o aceitar. Quarto, e na sequência do anterior ponto, se o editorial de José Manuel Fernandes foi violento, a resposta de hoje da ERC usa a mesma estratégia, ao escrever sobre espírito de "coragem" e "lutador" da liberdade do mesmo director. Aprendi que as instituições públicas (de Estado ou a ele ligadas) precisam de temperar a linguagem.

Em meu entender, as duas partes, se assim poderemos falar, excederam-se. Foram longe de mais nas apreciações. Ora, o crítico de televisão é imprescindível no seu exercício livre e a ERC é uma instituição igualmente importante na regulação dos media. Podemos não gostar dos dois ou de um numa situação concreta mas eles não se podem eliminar. Ou decretar a morte de um ou outro. A ERC é uma instituição de equilíbrios com uma estabilidade muito precária, até pela sua organização, que emana do poder político com representação parlamentar. Havendo novas eleições, a ERC poderá ter uma outra ponderação. Pena que ela não esteja mais abrigada desta conflitualidade de proporções partidárias, como eu li aquando da sua construção.

Entendo que o tema - controlo sobre o serviço público, a haver - precisa de continuar a ser discutido no espaço público. Mas também a concentração dos media, o peso das fontes institucionais ou grupos de pressão, os assuntos relacionados com a violência ou programas para grupos sociais e etários mais sensíveis. Os media são uma área, ou poder, ou o que quer que lhe chamemos, cada vez mais penetrante na sociedade. Os problemas ou conflitos precisam de ser geridos, mas com argumentos e raciocínios frios, sem respostas à flor da pele. É que se um jornal e uma entidade reguladora - ambos sendo das entidades mais respeitáveis no país - se envolvem em querelas, quem equilibra ou chama a atenção para o serenar e discutir seriamente os problemas? Certamente que não será o blogueiro cá de casa.

LITERACIA DOS MEDIA


Decorre até ao fim da presente semana (15 de Dezembro) a consulta pública sobre literacia dos media levada a cabo pela Comissão Europeia. O questionário sobre o assunto encontra-se aqui.

Vítor Reia-Baptista, director do curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Algarve, é o representante português no comité de especialistas em literacia dos media que está a promover o inquérito.

A literacia dos media significa a capacidade de aceder, analisar e avaliar o poder das imagens, sons e mensagens que nos chegam diariamente. Representa ainda a competência pessoal de comunicação com os media. A literacia dos media engloba todos os media - televisão, cinema, rádio e música gravada, media impressos, internet e outras tecnologias digitais de comunicação (definição retirada do sítio
Audiovisual and Media Policies).

OS BLOGUES DOS BLOGUES EM 2006


O blogue Geração Rasca anunciou a classificação dos melhores blogues temáticos, em que o Indústrias ficou em décimo lugar, ao lado de outros blogues. O primeiro seria o Foram-se os Anéis, de José Nunes, o arquitecto que desenhou o Indústrias, e a quem endereço os meus parabéns.

A classificação do
Geração Rasca em termos de blogues temáticos é: 1) Foram-se os Anéis, 2) E Deus Criou a Mulher e Margens de Erro, 3) Webcedário, 4) A Cidade Surpreendente e Da Literatura, 5) Ponto Media e Rua da Judiaria, 6) Conta Natura, 7) Tó Colante, 8) Mania dos Quadradinhos, 9) Africanidades, A Arte de Blogar, Dias com Árvores, FotoBen, ivogomes.com e O Jumento, e 10) A Barriga de um Arquitecto, Bloguitica, Duelo ao Sol, Indústrias Culturais, Blogzira, Peopleware, Pura Economia e Raim's Blog.

O melhor blogueiro do ano foi atribuído a Francisco José Viegas (
A Origem das Espécies), ao passo que o lugar de melhor blogue pertence ao Blasfémias, que igualmente ganhou o lugar cimeiro de blogue colectivo. Já ontem fizera aqui referência ao melhor blogue masculino (Estado Civil, de Pedro Mexia) e melhor blogue feminino (Miss Pearls, de Isabel Goulão).

Parabéns aos vencedores e ao blogue que realizou o concurso (
Geração Rasca).

domingo, 10 de dezembro de 2006

OS MELHORES BLOGUES DE 2006

O blogue Geração Rasca, de André Carvalho e colegas, está a anunciar os melhores blogues do ano, segundo uma votação de 127 respondentes que aceitaram o desafio lançado por aquele blogue.

Neste momento, já foram anunciados: 1) melhor blogue individual masculino: Estado Civil (Pedro Mexia), 2) melhor blogue individual feminino: Miss Pearls (Isabel Goulão).

COLECÇÃO MANUEL DE BRITO

Maria Arlete Alves da Silva fala da colecção Manuel de Brito, em exposição no Palácio Anjos, em Algés. As obras mais significativas ficarão até Março, e a partir de Abril haverá uma apresentação com carácter mais temporal e de estilos, lê-se no número mais recente da revista 30 Dias, roteiro cultural da câmara municipal de Oeiras.

A colecção possui, entre outros, mais de vinte quadros de Paula Rego e quase quarenta de Júlio Pomar. Em Abril de 2007, serão mostrados Amadeo (duas obras), Dacosta, Menez e muitos mais artistas.

CONGRESSO DE EDITORES (13 E 14 DE NOVEMBRO)

João Morales, director de Os Meus Livros, destaca o 2º congresso de editores, no qual se reafirmou a necessidade do maior apoio ao livro por parte do Estado e novas medidas de promoção do livro e da leitura. A lei do preço fixo, a exclusividade da atribuição do ISBN pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, a necessidade de incentivo à leitura e a grande quantidade de títulos editados foram outros assuntos tratados nos dois dias do congresso.

Os melhores livros do ano, conselhos para compras de Natal e pré-publicação de um livro de Rui Reininho, esgotado há vinte anos, são outras propostas da edição de Dezembro da mesma revista.

PORTO, QUINTA-FEIRA PASSADA ÀS 8:30 DA MANHÃ, COM CHUVA E FRIO, ENTRE A SÉ E A ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE S. BENTO

A COLUNA DE EDUARDO PRADO COELHO


Em três dias consecutivos (de 6 a 8 de Dezembro), o tema da coluna diária de Eduardo Prado Coelho no jornal Público foi a análise do peso económico da cultura (com base em texto editado no Público de 16 de Novembro e que eu aqui ainda não trabalhei).

Trata-se de um assunto importante para quem estuda as indústrias culturais e criativas. Segundo o estudo da União Europeia sobre a economia da cultura, o produto interno bruto (PIB) da cultura em Portugal é de 1,4% (não importa aqui reflectir sobre o valor indicado por baixo).

Prado Coelho dedica, assim, o primeiro texto à relação entre economia e cultura, enquanto o segundo procura saber como se passa nos Estados Unidos e o terceiro aborda a questão dos intermitentes (os que trabalham nas indústrias criativas e têm contratos precários e à peça).

Retiro uma reflexão do primeiro texto: "muitos trabalhadores da cultura [em Portugal] nem mesmo fizeram o secundário. Isto é sintomático porque mostra uma universidade que até há poucos anos vivia enclausurada na sua torre de marfim e considerava que os professores empenhados em actividades culturais eram sobretudo diletantes. Até que se deram conta de que, como ensinavam matérias poeirentas, de uma erudição dificilmente partilhável, estavam em muitos casos em vertiginosos processos de perda de alunos. Para lutar a favor da sobrevivência, alteraram programas e estilos". E, se salienta o peso dos media de mero entretenimento, ligados ao cinema e à televisão, assim como às tecnologias de informação, conclui o primeiro texto afirmando a importância da afirmação da imagem exterior da cultura das cidades, em especial as de mais pequena dimensão.

Aqui, há a destacar, o que o articulista o não fez possivelmente por falta de espaço, a importância da produção interna das cidades em termos de cultura, que incluem festivais, exposições e encontros de cultura, associados a uma rede de comunicação e alojamentos digna, como forma de trazer emprego e receitas.

No segundo texto, Eduardo Prado Coelho começa com um ponto forte: "A ideia que se tem é a de que a cultura nos Estados Unidos está inteiramente entregue aos mecanismos do mercado, que cada um sobrevive como pode e nada interfere". Além do número de artistas (o articulista não explica a que artes estão ligados) ser de 180 mil, o dobro do existente na Europa, nos Estados Unidos há uma concepção menos elitista da arte, o que possibilita uma carreira sem necessidade do rótulo de génio. Depois, continua, a diversidade cultural é algo que existe por via legal, assim como a boa relação entre a vida cultural e as universidades, no que é um retomar de um subtema do texto anterior. Nas universidades, há boas bibliotecas, editoras, salas de dança, música e teatro, salas de concerto e rádios livres. Um quarto ponto do seu texto realça a importância do sector que não busca o negócio, pois organizações sem fins lucrativos estabelecem redes entre si. Dois últimos pontos deste texto bem construído são a preocupação com os públicos e a sua formação e a actuação do Estado. Este simultaneamente está ausente, com descentralização e autonomia, e presente, através da regulação das indústrias culturais.

Se os textos iniciais falam do peso da cultura no PIB e incluem dados sociológicos no campo da produção e recepção, o terceiro texto de Prado Coelho reflecte sobre a vida dos produtores, escrevendo sobre a intermitência, ou seja, dos que trabalham nestas áreas, que conseguem fazê-lo de "forma intensa, sem horários nem limitações, em determinadas ocasiões, mas durante certos períodos ficam sem trabalho". O autor fala de um rendimento mínimo de subsistência, conceito que entrou na agenda pública há poucos anos atrás em França, e agora retomada em Portugal através de uma carta enviada ao Presidente da República. A pretensão é que a lei inclua o estatuto de intermitência, com reflexos nomeadamente nas finanças e na segurança social.


Eduardo Prado Coelho espera que haja provimento a esta carta; eu também.

sábado, 9 de dezembro de 2006

ENTREVISTA


Luís Carmelo, do blogue Miniscente, publicou hoje uma mini-entrevista que me efectuou recentemente. Obrigado, Luís!

PRODUÇÃO MUSICAL E INDÚSTRIA FONOGRÁFICA EM PORTUGAL


No passado dia 5, integrado no Seminário de cultura de massas em Portugal no século XX, em funcionamento na Universidade Nova de Lisboa, António Tilly dos Santos falou de A produção musical e a indústria fonográfica em Portugal (1960-1980).

António Tilly dos Santos falou da relação entre música e indústrias do espectáculo. Nestas envolveu a música tradicional, o folclore, o fado e o pop-rock, ao lado do cinema, teatro musical, rádio, televisão e fonogramas. Assim, para o conferencista, o estudo dos sistemas de produção musical envolve as indústrias do espectáculo, a recepção, os agentes mediadores, a indústria fonográfica, os eventos públicos (cultura, happenings) e as indústrias culturais (rádio e televisão), sem esquecer os sistemas tecnológicos.

Tilly, com quem já conversara quando eu próprio falei no seminário a propósito da rádio, tem uma ideia precisa da indústria fonográfica nacional. Para ele, o primeiro grande produtor de fonogramas [creio que directa ou indirectamente, aqui enquanto cliente] foi a estação pública de rádio, a Emissora Nacional. Dos anos de 1930 a 1950, tudo terá girado à volta da Emissora. A televisão aparece como um segundo grande cliente a seguir à rádio. Entretanto, surgiam as primeiras empresas de discos, nomeadamente a Valentim de Carvalho (em Lisboa) e a Arnaldo Trindade (no Porto), enquanto outras editoras discográficas, de dimensão reduzida, entram também no negócio de gravar e distribuir discos.

Arnaldo Trindade - que vinha de negócio ligado a electrodomésticos - passou a aglutinar também a música. Começou por fazer impressão de discos ingleses, acabando com alguma dificuldade em obter discos de rock e pop, constituindo-se como promotor e apoiando autores portugueses, caso de José Afonso. Mas também foi na Arnaldo Trindade que Adriano Correia de Oliveira iniciou a actividade gravar discos, no que sucedeu ser uma editora de cantores não queridos pelo regime político. Também José Cid, com disco anunciado na televisão, o que terá acontecido pela primeira vez, esteve ligado à mesma editora, representando outro gosto musical. Arnaldo Trindade, por via disto e da sua capacidade promotora, tornar-se-ia rival da editora Valentim de Carvalho.

A produção musical implica processos inerentes às mudanças, emergência de novos géneros e estilos musicais, influência de políticas editoriais na música popular, relação com a música de outros países e integração nos mercados globais. Estas ideias têm concretização, por exemplo, na nova consciência dos agentes musicais, que reconhecem a necessidade de terem os seus próprios artistas. Até então, como o produtor vinha da rádio, o que se gravava era o que se conhecia, caso das canções do teatro. Agora, passava a incorporar-se a ideia do descobridor de talentos, do produtor. Cada editora lançava artistas novos e fazia contratos exclusivos. Nasciam agentes musicais que faziam carreira na indústria discográfica, caso de Tozé Brito, que se iniciara nos Pop Five Music Incorporated, do Porto. Isto enquanto nascia a ideia do conjunto eléctrico, como Vítor Gomes.

António Tilly fala dessa nova periodização, que acaba em 1974, quando, devido a alterações políticas do regime, os músicos se lançam em formas de cooperativismo, que existe até cerca de 1978. Era uma altura em que os músicos entendem combater o imperialismo das grandes editoras e os partidos políticos pretendem criar editoras discográficas. A Festa do Avante, organizada pelo Partido Comunista, é um exemplo paradigmático. Música de contestação, directa e acompanhada à viola. Era o tempo dos baladeiros, conceito que começara com o programa de televisão Zip-Zip, e onde se deram a conhecer músicos como Manuel Freire e Carlos Alberto Moniz. A validade musical dependia também da relação com a música tradicional (via recolha de Giacometti). Havia uma sonoridade de inspiração rural e contra as sonoridades do folclore, do fado e da música ligeira, estilos apoiadas pelo anterior regime político. Dava-se favorecimento à canção de autor, que interpreta o que diz, como selo de autenticidade. O expoente deste tipo de música popular seria Fausto.

António Tilly chama ainda a atenção para o peso dos arranjadores e da sua ligação a músicos. Ele cita os exemplos de José Nisa (que fez músicas para Adriano Correia de Oliveira), José Calvário (que traz Thilo Krassman para Portugal), Pedro Osório (que se iniciara num grupo musical). Mas também destaca o peso de jovens cantores e compositores, como Paulo de Carvalho (que seria uma tentativa de internacionalização da música portuguesa, cantando em inglês) e Fernando Tordo. José Mário Branco, já a trabalhar em França, procura trazer essa experiência internacional e adaptar o cooperativismo no nosso país. É com Branco, no seu primeiro disco, que Sérgio Godinho se revela.

O novo tipo de música produz a assimilação de música tradicional imaginada na cabeça de alguns desses músicos. A Banda do Casaco - agora em reedição - protagonizaria esse estilo. Ao mesmo tempo, iniciava-se um estilo de música folk, entre a tradicional e a pop, assim como surgia uma música de massa, boa para dançar dentro do próprio espectáculo. Assim, na década seguinte, dá-se um boom discográfico, com grupos de rock.

O conferencista chamou a atenção para a importância dos agentes produtores. Inicialmente, eles estavam dentro da Emissora Nacional. O que as editoras fizeram quando surgiram foi lançarem artistas próprios, caso de Marco Paulo em 1966, que substituiria António Calvário, que saira da Valentim de Carvalho para outra editora.


Etnomusicólogo, nomeado recentemente para fazer parte da comissão criadora do Arquivo Sonoro Nacional, António Tilly é um dos organizadores da Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX (a editar pelo Círculo de Leitores). Retiro do sítio do INET - Instituto de Etnomusicologia a seguinte informação: "A Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX aborda todos os domínios da música em Portugal no século XX. É constituída por mais de 1200 entradas, organizadas por ordem alfabética - seguidas de bibliografias, discografias e listas de obras - uma bibliografia e uma discografia gerais, uma cronologia e um índice remissivo, num total de ca. de 3000 páginas. Esta obra de referência conta com 20 consultores e 130 redactores portugueses e estrangeiros. Trata-se de um espaço de representação actual do conjunto do pensamento e das práticas musicais em Portugal no contexto das correntes culturais, sociais e políticas mais significativas. Previlegia-se a abordagem multidisciplinar, integrando perspectivas teóricas e metodológicas da etnomusicologia, da musicologia histórica, da antropologia, da sociologia e da história". A direcção científica e coordenação da obra pertence à professora catedrática Salwa El-Shawan Castelo-Branco e tem coordenação adjunta de António Tilly dos Santos, Pedro Félix Rodrigues e Rui Cidra.

Devo dizer que foi uma das mais importantes comunicações que ouvi sobre o tema, dada a qualidade do orador. As notas que coloquei aqui respeitam ao que apreendi; se houver algum erro, ele deve-se ao transcritor, que chegou atrasado e todo molhado, pois o dia esteve diluviano, ocupando um lugar menos central na sala.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

AINDA A DELIBERAÇÃO DA ERC

Os jornais de hoje dão muito destaque à deliberação da ERC, de que eu falei aqui ontem. O Diário de Notícias (texto de Ana Pago) indica os principais pontos da decisão da ERC e tem pequenos depoimentos dos principais visados no problema: o deputado do PSD Agostinho Branquinho, o crítico de televisão Eduardo Cintra Torres e o director de programas da RTP Luís Marinho (este na posição de alvo de críticas daqueles).

Já o Público, jornal onde escreve Cintra Torres e alvo da deliberação da ERC, toma uma posição muito dura. Primeiro pela deslocação da informação da presumível página da secção "Media", onde deveria constar pelo tema, para a secção "Nacional", relevando o maior destaque ao assunto. Assinado por Maria José Oliveira, tem um estatuto jornalístico de isenção e distanciamento, seguindo as linhas principais do texto da ERC e comentando alguns desses pontos. Essa importância associa-se à assunção do editorial, área nobre do jornal, e assinada pelo próprio director, José Manuel Fernandes, sobre igual objecto. Só o título e pós-título possuem um valor intrínseco de grande violência: "A infâmia da censura" e "A ERC quer que o Público censure opiniões. Para o conseguir, terá de passar por cima de mim".

Todo o editorial segue esta linha. Embora José Manuel Fernandes tenha discordado do modo como Cintra Torres escreveu - "Disse-lho" -, toda a argumentação vai no sentido de considerar a ERC como uma espécie de antecâmara do "exame prévio" do Estado Novo.

Confesso que este editorial me deixa ficar muito preocupado quanto ao evoluir das posições, em especial quando o director do jornal chama a atenção para a posição assumida por um dos conselheiros da ERC, que votou contra a deliberação, por entender não ser a ERC um "tribunal de jornalistas". Eu sei que a ERC tem pessoas de muito bom senso e de grande ponderação perante situações políticas complexas, pelo que se espera a perduração de serenidade e boa argumentação. Tomar decisões difíceis implica também muita qualidade nessa tomada, mas acusações de censura acabam por ser muito perturbadoras.

NATAL NO PORTO


Das iluminações natalícias no Porto, mostro os seguintes pequenos vídeos (feitos no dia 6):



UM BLOGUE SOBRE CAMINHOS DE FERRO


Começou a 10 de Novembro último o blogue Caminhos de Ferro Vale da Fumaça, de Jorge Rego, professor de Fotografia na Escola Secundária Soares dos Reis (Porto).

Do acto fundador, retiro a seguinte mensagem: "Quero com o meu blog convidar os leitores a reverem o caminho de ferro mas também espevitar o apetite para o coleccionismo numa base de realismo e de perfeição - não estou a falar dos combóios (brinquedo) de corda mas sim, daqueles que existem há quase um século saídos de fábricas como a Rivarossi, Fleischmann, Roco, Marklin, Trix e tantas outras que não deixam também de ser um outro "brinquedo" mas com requintes de perfeccionismo. Estes são sempre réplicas à escala e não tão somente uma folha de chapa litografada que não representa nenhum modelo real. De um modo ou de outro sou fã desses brinquedos todos que representam o combóio mas a paixão acima referida recai essencialmente na melhor representação possível do real".

Eu, que também gosto muito de comboios, felicito Jorge Rego por esta sua paixão e aconselho, a todos os meus leitores, uma visita ao seu sítio.

CONSUMOS DE CULTURA EM 2005 - DADOS ESTATÍSTICOS

Sigo o texto publicado anteontem no Público, assinado por Isabel Salema e Sérgio C. Andrade, sobre os dados do INE quanto a estatísticas da cultura de 2005.

Há um pouco acima de nove milhões de pessoas que assistiram a espectáculos ao vivo em 2005 (mais dois milhões que no ano anterior), repartidos entre concertos de música clássica, ligeira e variedade, bem como produções de teatro, ópera, dança e circo, gastando € 52,4 milhões (contra € 29 milhões no ano de 2004). Afinando melhor este consumo, a notícia informa-nos que a música ligeira valeu 48% do total e o teatro 19% (baixando de 25%). A ópera é o espectáculo mais caro, custando a média de € 25.

Quanto ao cinema, houve 17 milhões de espectadores (perda de 1,635 milhões face a 2004), com uma receita de € 70,4 milhões (em 2004, atingira € 76 milhões). Curiosamente, aumentou o número de recintos e ecrãs, alcançando respectivamente os números de 255 e 624, o que quer dizer que algo está errado. Se aumentam as salas de cinema e se há menos espectadores, não se vislumbram vantagens significativas. Contudo, a peça recorda dados muito recentes do ICAM, em que se mostra uma recuperação dos números de espectadores de salas de cinema.

Em termos de museus, o seu número subiu de 258 para 285, conforme os dados do INE, acompanhando o aumento de visitantes de 8,9 milhões para 9,7 milhões. Os museus do IPM (Instituto Português de Museus) e os 26 museus do Ministério da Cultura somaram mais de 927 mil visitantes, indo ultrapassar o milhão este ano [observação: em mensagem colocada no dia 27 de Novembro, eu levantara a questão de números de visitantes; esta notícia esclarece, aparentemente, a dúvida que eu tinha nessa ocasião].

Finalmente, em relação a galerias de arte e outros espaços de exposição, contabilizados 773 espaços, houve 6449 exposições, 64% das quais individuais, com a presença de mais de 223 mil peças, com a pintura a ser a mais representativa (29%). Na peça jornalística, não li dados económicos e número de visitantes.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

DELIBERAÇÃO DA ERC SOBRE ARTIGO DE EDUARDO CINTRA TORRES

O Conselho Regulador da ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social) já apreciou e deliberou sobre o artigo de Eduardo Cintra Torres, "Como se faz censura em Portugal" e sobre as acusações de ingerência do Governo proferidas pelo deputado do PSD Agostinho Branquinho (em página do semanário Expresso).

Aquele Conselho entende que se tratam de duas acusações "que atribuem ao Governo a intenção (e a acção) de «governamentalizar» a RTP, assim pondo em causa a sua obrigação fundamental de independência perante este poder político". A mesma entidade "considerou não poder deixar de aprofundar a questão da independência da RTP e da seriedade dos seus profissionais, porquanto, independentemente das acusações acima referidas, estavam em causa pessoas, a sua reputação profissional, o seu nome e o respeito na praça pública".

Na mensagem, cinjo-me apenas ao "caso" Cintra Torres. Recorde-se que, a 12 de Agosto, Eduardo Cintra Torres escrevera que o Governo teria pressionado a RTP a não dar relevo aos incêndios florestais desse dia, na sua coluna semanal Olho Vivo, postura apoiada posteriormente pelo director do jornal. O Conselho Regulador entende ser indefensável a distinção entre "estatuto de colunista para exprimir opiniões e do de jornalista para divulgar informações obtidas sob anonimato da fonte, que configuram acusações de grande gravidade contra a RTP e contra o Governo". O autor quebraria, deste modo, "não apenas o contrato que o liga ao jornal, mas, principalmente, o contrato de lealdade e transparência com os leitores, perante os quais a sua coluna surge como um espaço de opinião".

Assim, o mesmo Conselho decidiu "iniciar procedimento de averiguações relativo ao artigo de Eduardo Cintra Torres" e deliberou "que o jornal Público, pela publicação das acusações contidas no artigo Como se faz censura em Portugal, violou de forma manifesta e grave obrigações elementares do jornalismo", recomendando que este jornal, "doravante, assegure o cumprimento das suas obrigações legais básicas".

A leitura deste texto deliberativo da ERC tem um manifesto interesse. Pelas posições assumidas - um artigo de opinião tem o peso de uma notícia, pois ao seu "redactor" exige-se que tenha cuidados éticos e deontológicos - e pela votação - na deliberação, um elemento identificado com o PSD fez declaração de voto e um outro identificado com o PS votou contra, o que ilustra a dificuldade de consenso na matéria.

Nesta decisão há, a meu ver, um ponto forte e um ponto fraco. O ponto forte tem a ver com a condenação do estilo de escrita de Cintra Torres no citado artigo, achando eu que ele deveria ter usado mais prudência no modo como redigiu o texto (eu destaquei isso aqui no blogue, em devido tempo). Mas daí ao ponto de iniciar procedimento de averiguações parece-me excessivo. Porque os membros da RTP que se sentiram atacados pelo artigo já terão levado o assunto para tribunal e porque pressionar o modo de escrever - mesmo que em estilo menos polido - pode significar o início do exercício de auto-censura. E os media parecem estar sujeitos a uma crescente auto-censura, imposta pela precariedade de trabalho e pela pressão económica, como acentuava Carrilho na segunda-feira aquando da apresentação do livro de Rui Cádima bem assim como estudos recentes publicados.

O ponto fraco é o equívoco da ERC ao considerar um artigo de opinião semelhante à estrutura da notícia, com necessidade do exercício do contraditório e indicação de fontes de informação. Os géneros estão bem identificados e a coluna Olho Vivo é, sabe-se, uma mistura de opinião do autor (julgar programas, aferindo da qualidade ou não deles, é um exercício de estética e de ética, podendo não representar uma posição de maioria da população, ou assumir uma postura heterogénea e marginal; frequentemente, um colunista é um polemista) com pequenos estudos (como o articulista tem feito nas últimas semanas).

[o texto integral e anexo deste documento pode ser consultado em www.erc.pt]

APRESENTAÇÃO DO LIVRO DE FRANCISCO RUI CÁDIMA


Na segunda-feira, foi lançado o livro de Francisco Rui Cádima intitulado A televisão "light" rumo ao digital, da editora MediaXXI.

A apresentação coube a Manuel Maria Carrilho, docente da Universidade Nova de Lisboa (e político, tendo sido já ministro da Cultura). Carrilho destacou três pontos essenciais do livro do seu colega de Universidade: serviço público de televisão, regulação e democracia. Na mesma intervenção, Carrilho referiu mesmo o papel da ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social). [na mesa, nos vídeos, da esquerda para a direita: Francisco Rui Cádima, Manuel Maria Carrilho e José Carlos Abrantes, organizador de Um dia a falar de televisão, onde a apresentação se inseriu; os três primeiros vídeos mostram Carrilho a apresentar o livro, enquanto o quarto mostra o autor].

Da contracapa do livro, retira-se o seguinte:

Os temas da televisão "light" e do "telelixo" são assim inevitavelmente aduzidos, na tentativa de pensar a importância social e cultural da televisão sobretudo num momento estratégico em que se estrutura a migração da televisão analógica para as novas possibilidades de oferta que o digital traz.



LIVRO


O blogueiro, ontem ao fim da tarde, após o lançamento do livro A fonte não quis revelar, na FNAC Santa Catarina, no Porto. Agradecimentos sinceros a quem se deslocou lá.

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

LANÇAMENTO DO MEU LIVRO

A fonte não quis revelar – um estudo sobre a produção das notícias (Campo das Letras). No Porto (livraria FNAC de Santa Catarina), amanhã dia 6 de Dezembro, pelas 18:30. Apresentado pelo professor Eugénio dos Santos (Faculdade de Letras da Universidade do Porto).

PARABÉNS

Ao José Nunes, pelo seu centésimo dedo no blogue Foram-se os anéis. Igualmente parabéns pela sua colaboração na revista Atlântico. Esperamos continuar a ler por muito tempo os seus dedos.

[dedo retirado do blogue de José Nunes, sem autorização do autor. José Nunes foi o autor do actual template do Indústrias]

A SOCIEDADE MCDONALDIZADA (4)


[continuação das mensagens de 9, 17 e 25 de Novembro]

Em De la seduction, Jean Baudrillard (1979: 84) escreve sobre a simulação encantada: o trompe-l’oeil [trömploe:j; pintura que dá a ilusão da realidade, aparência enganosa] – mais falso que o falso – é o segredo da aparência. Não há narrativa, composição ou fábula, cenário, teatro, acção, mas apenas signos brancos, vazios, que são anti-solenidade ou representação social. A sedução não é do domínio da estética, da pintura e da semelhança, mas da metafísica e da abolição do real. Neste livro, Baudrillard fala de seduzir e de ser seduzido. Claro que não se trata de um novo Diário de um sedutor à Kierkegaard nem de uma teoria da sedução mas de uma produção teórica em si, onde a sedução é um jogo (Baudrillard, 1979: 155) E destaca a ética – a simplicidade, a naturalidade e a espontaneidade – face à estética – ao jogo dos signos e do artificial. Mas toda a ética deve resolver-se numa estética. A passagem à estética é o movimento mais elevado da humanidade.


Já na obra Simulacros e simulação, Jean Baudrillard (1991: 13) olha a simulação como parte da negação radical do signo como valor. E descreve o supra-sumo do hiper-real e do imaginário, a Disneylandia, modelo perfeito de todos os tipos de simulacros confundidos. É antes de tudo um jogo de ilusões e de fantasmas: os piratas, a fronteira, o mundo do futuro. A Disneylandia é colocada como imaginário a fim de fazer crer que o resto é real, quando Los Angeles e a América que a rodeia já não são reais mas do domínio do hiper-real e da simulação. Nesse rumo, faz sentido falar em hiper-mercado e hipermercadoria [dimensão] (Baudrillard, 1991: 96). E em simulacros de simulação, baseados na informação, no modelo, no jogo cibernético – operacionalidade total, hiper-realidade, objectivo de controlo total (Baudrillard, 1991: 151).

Gilles Lipovetsky, em O império do efémero (1989), tece críticas a Jean Baudrillard. Para Lipovetsky (1989: 230), na base das análises de Baudrillard, existe um esforço para desmistificar a ideologia do consumo enquanto comportamento utilitarista de um sujeito individual que tem por objectivo o gozo e a satisfação dos seus desejos. A teoria de Veblen, analisa Lipovestsky, olha o consumo ostentatório como instituição social encarregada de significar a categoria social. Ou seja, não se consome o objecto por si próprio mas em virtude do seu valor de troca ou signo, "em virtude do prestígio, do estatuto, da categoria social das diferenças e dos valores estatutários" (citando Baudrillard, em Para uma crítica da economia política do signo). Visa-se, pois, o standing, a categoria, a conformidade, a diferença social.

Ora, Lipovetsky contraria Baudrillard. Embora sem pretender criticar que os objectos possam ser significantes sociais e signos de aspiração, ele contesta a ideia que o consumo de massa seja dirigido pelo processo de distinção e de diferenciação estatutária, identificável a uma produção de valores honoríficos e de emblemas sociais. O que se pretende através dos objectos, continua, é menos uma legitimidade e uma diferença social do que uma satisfação privada indiferente aos juízos dos outros. Os novos bens que aparecem impõem-se pelo standing e são absorvidos pela procura colectiva, interessada não na diferenciação social mas na autonomia em novidades, estímulos e informações. Consome-se cada vez menos para deslumbrar o outro ou ganhar consideração social e cada vez mais por si próprio. O consumo de prestígio não se pode considerar o modelo do consumo de massa mas assenta mais nos valores privados do conforto, do prazer, da utilidade funcional.

E conclui Lipovestky, na sua crítica a Baudrillard, que houve uma ilusão por parte da economia política, pois o fetichismo do objecto/signo pertence ao passado, pois hoje estamos no domínio da fiabilidade, das garantias de uso, dos testes, das relações qualidade/preço.

[continua]

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

PRODUÇÃO MUSICAL E INDÚSTRIA FONOGRÁFICA EM PORTUGAL


Amanhã, terça-feira, dia 5, realiza-se uma nova sessão do II Seminário de cultura de massas em Portugal no século XX.

Agora, cabe a vez a António Tilly falar de A produção musical e a indústria fonográfica em Portugal (1960-1980), às 18:00, na Sala de Reuniões do 7º piso da Torre B da FCSH (Universidade Nova de Lisboa, à avenida de Berna).

A sessão seguinte será a 9 de Janeiro de 2007. Luís Trindade apresentará a comunicação intitulada Primeiras Impressões. Entrar no mundo através das primeiras páginas dos jornais, a partir do seu livro recentemente editado.

PÚBLICOS VERSUS AUDIÊNCIAS

Em livro que, a esta hora, está a ser lançado, Daniel Dayan escreve que público é indissociável da esfera pública. Um público remete para um outro público que o observa. Os públicos constituem-se, diferenciando-se de outros públicos. Ao contrário, audiências são fantasmas em representações gráficas que expressam partes de mercado. Pergunta o autor: não são os públicos das audiências artefactos inventados por sociólogos e institutos de sondagens, ficções forjadas independentemente da vontade dos interessados?

Dayan [imagem retirada do blogue Mestiçagens, de José Carlos Abrantes, co-organizador do livro Televisão: das audiências aos públicos, em fotografia de Kyle Cassidy] parte das definições de Sorlin, para quem público é: 1) constituído por um meio, que supõe um tipo de sociabilidade e mínimo de estabilidade, 2) tem capacidade de deliberação interna, 3) dispõe de uma capacidade de performance, apresentando-se perante outros públicos, 4) o que implica os seus autores, dispostos a defender valores, 5) traduz os seus gostos em exigências, e 6) podendo existir apenas sob a forma reflexiva. Por seu lado, uma audiência não tem imperativo de sociabilidade e estabilidade, nem por uma obrigação de performance, nem por referência a um bem comum.

Mas a realidade das audiências é, como a dos públicos, uma realidade imaginada. Diz Dayan que a construção de um sujeito colectivo passa por uma ficção. No caso dos públicos, o sujeito colectivo é imaginado na primeira pessoa, por um Nós. No caso das audiências, o sujeito é pensado na terceira pessoa.

Dayan, que, com Elihu Katz, escreveu sobre televisão cerimonial, fala de duas espécies de espectadores: 1) expressivos, que vão ao encontro dos grandes acontecimentos, a fim de aclamar ou patear na rua os actores, 2) domésticos, cujo visionamento reúne os espectadores em pequenas comunidades de celebração e reflexivas. A televisão cerimonial transforma as audiências de televisão em públicos: 1) sentimento de pertença, como pequenas comunidades de celebração, 2) activação de redes específicas de sociabilidade, como casa aberta e intensa actividade telefónica, 3) propensão a emitir pedidos ligados à existência de acontecimentos, 4) vontade de defender os valores do acontecimento face a outros públicos.

Isto conduz Daniel Dayan a traçar o perfil de quatro tipos de públicos: 1) público de fãs, reflexivo e estável, dotado de sociabilidade incontestável, que pertence a uma comunidade imaginada, 2) público da televisão cerimonial, não estável mas passageiro, público de um dia ou de alguns dias, emblemático das emissões em directo, 3) público das elites dos media europeus, o dos políticos e dirigentes económicos europeus que lêem os media de qualidade, e 4) público dos media de imigração, das diásporas, que lêem os media dos seus países de origem ou editam novos media nos locais e países onde vivem.

Para Dayan, não há um público de televisão mas um quase-público.

domingo, 3 de dezembro de 2006

FONTES DE INFORMAÇÃO


Na passada quinta-feira, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Fernando Vasco Ribeiro apresentou e defendeu dissertação de mestrado intitulada Fontes sofisticadas de informação. Análise do produto jornalístico da imprensa nacional diária de 1990 a 2005.

O estudo teórico englobou o relacionamento entre políticos, relações públicas e media na produção das notícias, e estratégias e rotinas de fontes de informação. O objectivo empírico incidiu nos anos de 1990, 1995, 2000 e 2005, em quatro jornais nacionais: Correio da Manhã, Diário de Notícias, Jornal de Notícias e Público. Analisou - com recurso à metodologia de análise de conteúdo - a secção de política/nacional, os géneros jornalísticos de notícia e reportagem e o tipo de hard news. Do total de 208 semanas e 832 edições, o seu trabalho incidiu sobre 5054 notícias, com 7841 fontes de informação.

O novo mestre verificou que o Correio da Manhã privilegia as fontes do poder, o Diário de Notícias ouve mais as fontes da oposição, o Jornal de Notícias é o que possui mais fontes nas suas peças e o Público dá voz aos políticos. Do total, há 90% de fontes oficiais (governantes e principais dirigentes políticos), o que significa ainda o crescente peso profissional da assessoria de imprensa.

sábado, 2 de dezembro de 2006