LEITURAS DE HOJE
Embora não concorde com toda a revisão da história de Portugal dos últimos quarenta anos, feita por João Oliveira Rendeiro, presidente do Banco Privado Português, no Expresso, acho muito importante a sua leitura.
Intitulado Crónica de uma sociedade bloqueada, retiro a seguinte afirmação do artigo: "Dir-se-ia que passados trinta anos os portugueses estão de novo confrontados com os riscos de uma sociedade bloqueada e tudo o que isso representa em sede de frustração de expectativas e do acumular de tensões sociais latentes num ciclo de importante divergência real com a União Europeia".
Música
Para Nuno Galopim, do DN: música [fundamental a separação deste caderno do DNA, dada a sua qualidade]: "Além das questões relacionadas com a pirataria, a indústria discográfica portuguesa enfrentou uma rádio autista e não conseguiu ver uma muito desejada redução do escalão do IVA com vista a equiparar os discos aos livros". Galopim realça, no ano agora findo, a "chegada até nós de lojas virtuais de venda de música por download, abrindo-nos portas a um mercado que respirará certamente boa saúde no futuro".
Chamo, contudo, a atenção para o texto de Tiago Pereira, no mesmo caderno do Diário de Notícias, intitulado Novo ano digital. A sua leitura é preciosa para a compreensão das tendências da música na internet, caso da atribuição de tops de vendas por download, lojas iTunes e máquinas iPod, além das novidades tecnológicas que se avizinham (telemóveis que poderão descarregar ficheiros mp3, por exemplo).
Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2004
ENCONTRO DE TAIZÉ EM LISBOA
Os media têm dado muita cobertura ao encontro religioso de Taizé, este Natal em Lisboa. Ficam aqui duas imagens (uma dentro do espaço de oração na FIL, Lisboa; outra, após um dos momentos de oração, entre o edifício da FIL e o Pavilhão Atlântico).
Muitos dos jovens provêm de vários países da Europa, mas também de pontos distintos do país, ficando alojados(as) em casas de famílias de Lisboa e de outros concelhos. Na nossa, temos duas meninas de Rio Maior. Por causa disso, o escritório passou a desempenhar uma outra função, a de quarto de dormir.
[crédito da primeira fotografia: Patrícia Santos]
Os media têm dado muita cobertura ao encontro religioso de Taizé, este Natal em Lisboa. Ficam aqui duas imagens (uma dentro do espaço de oração na FIL, Lisboa; outra, após um dos momentos de oração, entre o edifício da FIL e o Pavilhão Atlântico).
Muitos dos jovens provêm de vários países da Europa, mas também de pontos distintos do país, ficando alojados(as) em casas de famílias de Lisboa e de outros concelhos. Na nossa, temos duas meninas de Rio Maior. Por causa disso, o escritório passou a desempenhar uma outra função, a de quarto de dormir.
[crédito da primeira fotografia: Patrícia Santos]
MODOS LEVEMENTE DIFERENTES DE LER AS ESTATÍSTICAS DE TIRAGENS DE JORNAIS
Público de ontem, p. 37: "A evolução de vendas no conjunto dos primeiros nove meses do ano foi no entanto mais favorável ao 24 Horas, com uma subida de 2,83%, enquanto as do Público baixaram 6,15%. Este resultado é, porém, bastante melhor que o do seu principal concorrente, o Diário de Notícias, que sofreu uma quebra de 17,31% nas vendas face aos primeiros nove meses de 2003, para 40567 exemplares".
Diário de Notícias de hoje, p. 36: "O Diário de Notícias teve, durante o mesmo período, uma circulação média diária de 40500 exemplares, o que representa uma quebra de cerca de 8500 exemplares, comparativamente ao período homólogo de 2003. Em relação ao pior mês deste ano, Junho, o Diário de Notícias recuperou 3%. O jornal 24 Horas quase igualou o Público, devido à quebra deste último matutino, cuja circulação ronda os 51 mil exemplares. Em relação ao período homólogo o Público perdeu 6,1% deste ano".
Descontextualizei a peça, ao não escrever o total das peças publicadas. Mas, pelas citações, vê-se o modo como cada um dos jornais vê a concorrência. Eu tenho uma opinião diferente do que escrevem ambos. Para mim, os jornais de referência estão a perder leitores, e isso não é uma boa notícia para cada um dos jornais.
Público de ontem, p. 37: "A evolução de vendas no conjunto dos primeiros nove meses do ano foi no entanto mais favorável ao 24 Horas, com uma subida de 2,83%, enquanto as do Público baixaram 6,15%. Este resultado é, porém, bastante melhor que o do seu principal concorrente, o Diário de Notícias, que sofreu uma quebra de 17,31% nas vendas face aos primeiros nove meses de 2003, para 40567 exemplares".
Diário de Notícias de hoje, p. 36: "O Diário de Notícias teve, durante o mesmo período, uma circulação média diária de 40500 exemplares, o que representa uma quebra de cerca de 8500 exemplares, comparativamente ao período homólogo de 2003. Em relação ao pior mês deste ano, Junho, o Diário de Notícias recuperou 3%. O jornal 24 Horas quase igualou o Público, devido à quebra deste último matutino, cuja circulação ronda os 51 mil exemplares. Em relação ao período homólogo o Público perdeu 6,1% deste ano".
Descontextualizei a peça, ao não escrever o total das peças publicadas. Mas, pelas citações, vê-se o modo como cada um dos jornais vê a concorrência. Eu tenho uma opinião diferente do que escrevem ambos. Para mim, os jornais de referência estão a perder leitores, e isso não é uma boa notícia para cada um dos jornais.
O QUE MAIS GOSTEI EM 2004
Lendo os jornais de hoje de manhã, fiquei na obrigação de dizer o que mais gostei no ano que hoje acaba:
1) filmes - Wanda, de Barbara Loden (EUA); Lost in translation, de Sofia Coppola (EUA); Noite escura, de João Canijo (Portugal); Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera, de Kim Ki-duk (Coreia do Sul).
2) livros - Paco Underhill, The call of the mall. How to shop (EUA); Afonso Schmidt, São Paulo de meus amores (Brasil); Dominic Power e Allen J. Scott (eds.) Cultural industries and the production of culture (Reino Unido) [ainda estou a lê-lo].
3) blogues - o de Manuel Pinto e colegas, Jornalismo e Comunicação, e o de Cristina M. Fernandes e colegas, Janela Indiscreta (até ao seu desaparecimento em Novembro último).
4) trabalho - o que fiz para este espaço, o I. C.
Lendo os jornais de hoje de manhã, fiquei na obrigação de dizer o que mais gostei no ano que hoje acaba:
1) filmes - Wanda, de Barbara Loden (EUA); Lost in translation, de Sofia Coppola (EUA); Noite escura, de João Canijo (Portugal); Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera, de Kim Ki-duk (Coreia do Sul).
2) livros - Paco Underhill, The call of the mall. How to shop (EUA); Afonso Schmidt, São Paulo de meus amores (Brasil); Dominic Power e Allen J. Scott (eds.) Cultural industries and the production of culture (Reino Unido) [ainda estou a lê-lo].
3) blogues - o de Manuel Pinto e colegas, Jornalismo e Comunicação, e o de Cristina M. Fernandes e colegas, Janela Indiscreta (até ao seu desaparecimento em Novembro último).
4) trabalho - o que fiz para este espaço, o I. C.
UM NOVO BLOGUE DE RÁDIO
Gosto muito da rádio enquanto medium e indústria cultural (como ressalta da mensagem anterior).
Agora, descobri o blogue NetFM, de Paula Cordeiro. Da mensagem fundadora do blogue iniciado anteontem, retiro o seguinte: "Reflexões Radiofónicas na Rede - A actividade deste blogue coincide com o balanço do ano que fez a TSF. Eis o comentário que inaugura os posts de um espaço de reflexões radiofónicas na rede. Sem pretensões de qualquer natureza, tendências ou dependências, este é um espaço de divulgação e reflexão dos aspectos directa ou indirectamente ligados ao universo da rádio em Portugal, no mundo e, em especial, na Internet".
Desejo um forte êxito profissional à nova blogueira.
Gosto muito da rádio enquanto medium e indústria cultural (como ressalta da mensagem anterior).
Agora, descobri o blogue NetFM, de Paula Cordeiro. Da mensagem fundadora do blogue iniciado anteontem, retiro o seguinte: "Reflexões Radiofónicas na Rede - A actividade deste blogue coincide com o balanço do ano que fez a TSF. Eis o comentário que inaugura os posts de um espaço de reflexões radiofónicas na rede. Sem pretensões de qualquer natureza, tendências ou dependências, este é um espaço de divulgação e reflexão dos aspectos directa ou indirectamente ligados ao universo da rádio em Portugal, no mundo e, em especial, na Internet".
Desejo um forte êxito profissional à nova blogueira.
quinta-feira, 30 de dezembro de 2004
E PORQUE NÃO RUI CÁDIMA PARA PROVEDOR DA TELEVISÃO PÚBLICA?
"Vem aí o Provedor da RTP1 (esta não é uma manchete do Expresso). Não se sabe exactamente quando… mas um dia virá... até pode ser numa manhã de nevoeiro, mas um dia virá. [...] basta copiar o que a TVE já anunciou que vai fazer ou o que a TV Cultura já está a fazer".
Quem o sugere é Francisco Rui Cádima (FRC), no seu blogue irreal tv.
A 3 deste mês, eu colocara um post a anunciar o blogue do professor Cádima, indicando o endereço de BLOG_TV. Entretanto, ele mudou de nome e de endereço, pelo que perdi, por dias, o seu contacto. Neste período, FRC colocou um conjunto de posts com muito interesse e também links como história e teoria da televisão, televisão digital, televisão interactiva, bibliotecas online, revistas científicas, revistas online, centros de estudos, estudos de mercado e consultoras, observatórios, media watch, criticismos, ombudsmen, portais, reguladores, associações, formação superior, formação profissional, Europa, arquivos, museus, blogues, do futuro. Aconselho vivamente uma navegação no blogue irreal tv - pelos conteúdos e pelos links.
E, já agora, porque não se cria mesmo o lugar de provedor do telespectador do serviço público em Portugal e não se escolhe Francisco Rui Cádima para desempenhar a função?
"Vem aí o Provedor da RTP1 (esta não é uma manchete do Expresso). Não se sabe exactamente quando… mas um dia virá... até pode ser numa manhã de nevoeiro, mas um dia virá. [...] basta copiar o que a TVE já anunciou que vai fazer ou o que a TV Cultura já está a fazer".
Quem o sugere é Francisco Rui Cádima (FRC), no seu blogue irreal tv.
A 3 deste mês, eu colocara um post a anunciar o blogue do professor Cádima, indicando o endereço de BLOG_TV. Entretanto, ele mudou de nome e de endereço, pelo que perdi, por dias, o seu contacto. Neste período, FRC colocou um conjunto de posts com muito interesse e também links como história e teoria da televisão, televisão digital, televisão interactiva, bibliotecas online, revistas científicas, revistas online, centros de estudos, estudos de mercado e consultoras, observatórios, media watch, criticismos, ombudsmen, portais, reguladores, associações, formação superior, formação profissional, Europa, arquivos, museus, blogues, do futuro. Aconselho vivamente uma navegação no blogue irreal tv - pelos conteúdos e pelos links.
E, já agora, porque não se cria mesmo o lugar de provedor do telespectador do serviço público em Portugal e não se escolhe Francisco Rui Cádima para desempenhar a função?
AGENDA CULTURAL JANEIRO 2005
Já saíu a agenda cultural de Lisboa referente a Janeiro de 2005, de igual qualidade que a dos meses mais recentes.
Destaco, de entre uma grande quantidade de acontecimentos e sítios para visitar, comer ou descansar, os seguintes:
1) filme de Manoel de Oliveira, O Quinto Império, a estrear no dia 27,
2) mostra de cinema chinês, no ISCSP (Ajuda), dias 19 a 23,
3) filme Um eléctrico chamado desejo, de Elia Kazan e com Marlon Brando, dia 5, na Biblioteca/Museu República e Resistência,
4) ciclo de grandes orquestras mundiais (Radio-France a 18 e de S. Petersburgo, a 23), no Coliseu dos Recreios,
5) concerto de Ano Novo, na igreja de São Roque, dia 8
6) fado amador, no Museu do Fado, dias 6, 13, 20 e 27,
7) prémio BESPhoto, no CCB, a partir do dia 20,
8) exposição de surrealismo (colecção de Cruzeiro Seixas), na Sociedade Nacional de Belas Artes, a partir do dia 11,
9) exposição de Milly Possoz, na Gulbenkian (CAM), a partir do dia 9,
10) exposição de Mário Cesariny, no Museu da Cidade,
11) exposição de Isabel Botelho, no Museu da Água, a partir do dia 13,
12) peça Um poder chamado palavra pelo Teatro Azul no auditório do Clube Portugal Telecom,
13) peça Morte de Romeu e Julieta, no Teatro do Bairro Alto, a partir do dia 18,
14) leitura de textos sobre viagens, com Carla Bolito, Gracinda Nave e Patrícia Galiano, no CCB, no dia 17,
15) curso de construção de máquinas fotográficas de cartão, para pessoas mais velhas, no espaço municipal da Flamenga.
E na agenda há ainda espaço para restaurantes e bares, museus, livros e muito mais. Também se anuncia, para Fevereiro, a produção de Chico Buarque, Ópera do Malandro (CCB).
Já saíu a agenda cultural de Lisboa referente a Janeiro de 2005, de igual qualidade que a dos meses mais recentes.
Destaco, de entre uma grande quantidade de acontecimentos e sítios para visitar, comer ou descansar, os seguintes:
1) filme de Manoel de Oliveira, O Quinto Império, a estrear no dia 27,
2) mostra de cinema chinês, no ISCSP (Ajuda), dias 19 a 23,
3) filme Um eléctrico chamado desejo, de Elia Kazan e com Marlon Brando, dia 5, na Biblioteca/Museu República e Resistência,
4) ciclo de grandes orquestras mundiais (Radio-France a 18 e de S. Petersburgo, a 23), no Coliseu dos Recreios,
5) concerto de Ano Novo, na igreja de São Roque, dia 8
6) fado amador, no Museu do Fado, dias 6, 13, 20 e 27,
7) prémio BESPhoto, no CCB, a partir do dia 20,
8) exposição de surrealismo (colecção de Cruzeiro Seixas), na Sociedade Nacional de Belas Artes, a partir do dia 11,
9) exposição de Milly Possoz, na Gulbenkian (CAM), a partir do dia 9,
10) exposição de Mário Cesariny, no Museu da Cidade,
11) exposição de Isabel Botelho, no Museu da Água, a partir do dia 13,
12) peça Um poder chamado palavra pelo Teatro Azul no auditório do Clube Portugal Telecom,
13) peça Morte de Romeu e Julieta, no Teatro do Bairro Alto, a partir do dia 18,
14) leitura de textos sobre viagens, com Carla Bolito, Gracinda Nave e Patrícia Galiano, no CCB, no dia 17,
15) curso de construção de máquinas fotográficas de cartão, para pessoas mais velhas, no espaço municipal da Flamenga.
E na agenda há ainda espaço para restaurantes e bares, museus, livros e muito mais. Também se anuncia, para Fevereiro, a produção de Chico Buarque, Ópera do Malandro (CCB).
DOIS LIVROS A LER
Retiro duas citações:
"Poder-se-á educar o olhar e muito desse treino consistirá nas pragmáticas virtudes da tentativa e do erro. Poder-se-ão aprender os meandros da perspectiva, os segredos da composição, os mistérios da cor, os códigos do preto e do branco, as subtilezas da luz: são disciplinas comuns ao fotógrafo e ao pintor e, de certo modo, também ao escultor e ao arquitecto" [Gérard Castello-Lopes (2004). Reflexões sobre fotografia. Eu, a fotografia, os outros. Lisboa: Assírio & Alvim, p. 131].
"Portugal está presente no Novo Cinema português como uma das suas principais figuras, relacionada tanto com a origem como com a decadência. E se é uma geofilosofia dolorosa, é porque essa figura remete ao mesmo tempo para a ideia e sentimento de decadência e para uma matriz original da identidade, cujo declínio, evidentemente, muito aumenta essa dor". [Paulo Filipe Monteiro (2004). "O fardo de uma nação". In Nuno Figueiredo e Dinis Guarda (eds.) Portugal: um retrato cinematográfico. Lisboa: Número - Arte e Cultura, p. 59]
Retiro duas citações:
"Poder-se-á educar o olhar e muito desse treino consistirá nas pragmáticas virtudes da tentativa e do erro. Poder-se-ão aprender os meandros da perspectiva, os segredos da composição, os mistérios da cor, os códigos do preto e do branco, as subtilezas da luz: são disciplinas comuns ao fotógrafo e ao pintor e, de certo modo, também ao escultor e ao arquitecto" [Gérard Castello-Lopes (2004). Reflexões sobre fotografia. Eu, a fotografia, os outros. Lisboa: Assírio & Alvim, p. 131].
"Portugal está presente no Novo Cinema português como uma das suas principais figuras, relacionada tanto com a origem como com a decadência. E se é uma geofilosofia dolorosa, é porque essa figura remete ao mesmo tempo para a ideia e sentimento de decadência e para uma matriz original da identidade, cujo declínio, evidentemente, muito aumenta essa dor". [Paulo Filipe Monteiro (2004). "O fardo de uma nação". In Nuno Figueiredo e Dinis Guarda (eds.) Portugal: um retrato cinematográfico. Lisboa: Número - Arte e Cultura, p. 59]
SOBRE A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO
O texto que se segue foi publicado como meu editorial na revista MediaXXI, nº 77, de Setembro/Outubro de 2004:
Em estimulante texto publicado há dois anos, Gustavo Cardoso, com base em reflexões elaboradas por outros investigadores, definia os novos media como aqueles em que existe convergência digital, comunicação de muitos para muitos, interactividade, globalização e virtualidade. Por detrás destas ideias, o jovem professor do ISCTE procurava englobar tecnologias tão diversas como o telemóvel, a televisão digital, as consolas de jogos e a internet. E partia para uma distinção muito útil, a dos media migrados para o digital, como os jornais e rádios on-line e os telemóveis de terceira geração, e os media nascidos no digital, como as consolas de jogos e a comunicação interpessoal da internet (e-mail, chats, newsgroups e as redes surgidas já em 2004 como o Orkut.com e o Multiply.com).
Esta perspectiva tecnologista tem cientistas sociais muito respeitados, caso de Manuel Castells, com uma adequação aos aspectos sociais e económicos. A linhagem tecnológica moderna costuma iniciar-se com Marshall McLuhan, considerado, aliás, o patrono da internet. Tal posição teórica postula a existência de um novo tipo de sociedade, a da informação. Em que as redes electrónicas, especialmente a internet, assumem o papel principal.
É muito estimulante a ideia da sociedade de informação, em que o saber e a comunicação fluem sem barreiras e a uma velocidade nunca vista. Um movimento comercial ou financeiro no Japão pode ter um efeito imediato nos antípodas, uma mensagem do meu blogue tem possibilidades de ser lida simultaneamente em qualquer parte do mundo ou num outro planeta, se aí houvesse um ser inteligente ligado à rede e que compreendesse o português.
No momento em que o uso do Multibanco se banalizou e o endereço de correio electrónico caminha nesse sentido, em que se observa a digitalização e desmaterialização, como as encontradas em publicações electrónicas, com ficheiros PDF e linguagem HTML, e, num futuro próximo, se anuncia a projecção digital do filme na sala de cinema, com o filme analógico substituído por uma mensagem do satélite enviada para uma antena colocada nesse cinema, chega a altura de escrever que estamos no limiar da sociedade da informação. Apesar dos desenvolvimentos desiguais em termos sociais, económicos ou culturais em parcelas grandes do mundo, fala-se com propriedade dessa sociedade da informação.
A revista MediaXXI, ao dar espaço no dossier deste número ao tema sociedade da informação, está a reconhecer o peso da designação. Para além de se referenciar como uma publicação para o ensino e a indústria da comunicação, a sua orientação faz-se também, a partir de agora, para o domínio da sociedade da informação. Mas queremos dar um passo qualitativo. A informação sempre existiu; prova disso é o alfabeto grego, que deu origem à filosofia e à dialéctica da argumentação. Uma tecnologia – seja a rádio, a televisão ou a internet, meios de comunicação que se sucederam no tempo – é um instrumento no armazenamento e distribuição da informação. Mas temos de juntar o conhecimento, o conteúdo da cultura e da cidadania que se transporta nas redes. Assim, talvez seja mais justo referir que vivemos numa sociedade da informação e do conhecimento.
O texto que se segue foi publicado como meu editorial na revista MediaXXI, nº 77, de Setembro/Outubro de 2004:
Em estimulante texto publicado há dois anos, Gustavo Cardoso, com base em reflexões elaboradas por outros investigadores, definia os novos media como aqueles em que existe convergência digital, comunicação de muitos para muitos, interactividade, globalização e virtualidade. Por detrás destas ideias, o jovem professor do ISCTE procurava englobar tecnologias tão diversas como o telemóvel, a televisão digital, as consolas de jogos e a internet. E partia para uma distinção muito útil, a dos media migrados para o digital, como os jornais e rádios on-line e os telemóveis de terceira geração, e os media nascidos no digital, como as consolas de jogos e a comunicação interpessoal da internet (e-mail, chats, newsgroups e as redes surgidas já em 2004 como o Orkut.com e o Multiply.com).
Esta perspectiva tecnologista tem cientistas sociais muito respeitados, caso de Manuel Castells, com uma adequação aos aspectos sociais e económicos. A linhagem tecnológica moderna costuma iniciar-se com Marshall McLuhan, considerado, aliás, o patrono da internet. Tal posição teórica postula a existência de um novo tipo de sociedade, a da informação. Em que as redes electrónicas, especialmente a internet, assumem o papel principal.
É muito estimulante a ideia da sociedade de informação, em que o saber e a comunicação fluem sem barreiras e a uma velocidade nunca vista. Um movimento comercial ou financeiro no Japão pode ter um efeito imediato nos antípodas, uma mensagem do meu blogue tem possibilidades de ser lida simultaneamente em qualquer parte do mundo ou num outro planeta, se aí houvesse um ser inteligente ligado à rede e que compreendesse o português.
No momento em que o uso do Multibanco se banalizou e o endereço de correio electrónico caminha nesse sentido, em que se observa a digitalização e desmaterialização, como as encontradas em publicações electrónicas, com ficheiros PDF e linguagem HTML, e, num futuro próximo, se anuncia a projecção digital do filme na sala de cinema, com o filme analógico substituído por uma mensagem do satélite enviada para uma antena colocada nesse cinema, chega a altura de escrever que estamos no limiar da sociedade da informação. Apesar dos desenvolvimentos desiguais em termos sociais, económicos ou culturais em parcelas grandes do mundo, fala-se com propriedade dessa sociedade da informação.
A revista MediaXXI, ao dar espaço no dossier deste número ao tema sociedade da informação, está a reconhecer o peso da designação. Para além de se referenciar como uma publicação para o ensino e a indústria da comunicação, a sua orientação faz-se também, a partir de agora, para o domínio da sociedade da informação. Mas queremos dar um passo qualitativo. A informação sempre existiu; prova disso é o alfabeto grego, que deu origem à filosofia e à dialéctica da argumentação. Uma tecnologia – seja a rádio, a televisão ou a internet, meios de comunicação que se sucederam no tempo – é um instrumento no armazenamento e distribuição da informação. Mas temos de juntar o conhecimento, o conteúdo da cultura e da cidadania que se transporta nas redes. Assim, talvez seja mais justo referir que vivemos numa sociedade da informação e do conhecimento.
quarta-feira, 29 de dezembro de 2004
NA MORTE DE SUSAN SONTAG (1933-2004)
Recordo o seu texto A doença como metáfora e A sida e as suas metáforas (Quetzal Editores, 1998).
Escreve na página 132: "As doenças mais temíveis são as consideradas não apenas letais, mas também literalmente desumanizantes. O que se exprimia através da fobia da raiva na França do século XIX, com os inumeráveis falsos casos de contaminação por animais repentinamente regressados ao estado «selvagem» e mesmo de raiva «espontânea» (os verdadeiros casos de raiva, la rage, eram extremamente raros), era o fantasma de que esta infecção transformava as pessoas em animais enlouquecidos - desencadeando um irreprimível impulso sexual e para a blasfémia".
E escreve na página 66: "As concepções punitivas da doença têm uma longa história e são particularmente activas no caso do cancro. Trava-se um «combate» ou uma «cruzada» contra o cancro; o cancro é uma doença «assassina»; as pessoas que sofrem de cancro são «vítimas do cancro». Ostensivamente, aponta-se a doença como um culpado. Mas é também o doente que se torna culpado".
Recordo o seu texto A doença como metáfora e A sida e as suas metáforas (Quetzal Editores, 1998).
Escreve na página 132: "As doenças mais temíveis são as consideradas não apenas letais, mas também literalmente desumanizantes. O que se exprimia através da fobia da raiva na França do século XIX, com os inumeráveis falsos casos de contaminação por animais repentinamente regressados ao estado «selvagem» e mesmo de raiva «espontânea» (os verdadeiros casos de raiva, la rage, eram extremamente raros), era o fantasma de que esta infecção transformava as pessoas em animais enlouquecidos - desencadeando um irreprimível impulso sexual e para a blasfémia".
E escreve na página 66: "As concepções punitivas da doença têm uma longa história e são particularmente activas no caso do cancro. Trava-se um «combate» ou uma «cruzada» contra o cancro; o cancro é uma doença «assassina»; as pessoas que sofrem de cancro são «vítimas do cancro». Ostensivamente, aponta-se a doença como um culpado. Mas é também o doente que se torna culpado".
CADEIA DE VALOR NA INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA
Na investigação sobre cinema tem havido uma grande preocupação sobre os processos de produção do filme mas não sobre as funções do financiamento, distribuição e exibição. Isso elide o peso da análise quanto ao poder e estrutura de governação [governance] que molda a natureza da indústria.
Especialização flexível
Veja-se a reestruturação pós-guerra na indústria cinematográfica americana a partir do conceito de especialização flexível. Nos anos 1970, o sistema de estúdios de Hollywood integrado verticalmente - com a maior parte das funções de produção residentes internamente - começava a ser substituído por um sistema de produção desintegrado verticalmente, através de uma massa flexível de entidades mais pequenas de produção e serviços. Isto é, o papel das grandes empresas diminuía na produção directa e passava para empresas mais diversificadas. Contudo, manteve-se a hierarquia de controlo, com os grandes estúdios a dominarem o financiamento e a distribuição.
O conceito de especialização flexível também se aplicaria à indústria da televisão no Reino Unido, com a desintegração de grandes organizações na indústria televisiva e uma crescente diferenciação de pequenos e especializados fornecedores de serviços. A indústria televisiva do Reino Unido surgia como uma forma de "rede dinâmica", flexível e especializada.
As redes flexíveis assentam na criação de grupos de agentes flexíveis: freelancers especializados, artistas, empresas de serviços, grupos que formam nós em torno do centro produtivo, internos ou externos na sua natureza empresarial. Cada nó tem uma especialização particular e, dado que as organizações múltiplas se tornam envolvidas numa rede, atenuam-se as fronteiras entre estas empresas individuais.
[imagem retirada do sítio Dogville Photo Gallery. O filme Dogville, realizado por Lars von Trier e com Nicole Kidman como actriz principal foi financiado pelo saudita Yeslam Bin Laden, accionista principal da Almaz Film]
Territorialidade e governação
No sistema de produção flexível, as produções de cinema e televisão são ligações de curto prazo em termos de directores, actores, equipas e serviços de subcontratação. Cada profissional tem um contrato negociado entre si, um sindicato ou empresa e a empresa produtora. No sistema de produção flexível, as majors constituem, em última instância, o empregador [contractor], em que se associam vários elementos de pré-produção, produção e pós-produção, num conjunto de pequenas empresas e empregados sindicalizados contratados por uma entidade de produção temporária. A natureza flexível do sistema de produção oferece oportunidades às cidades fora de um centro industrial mediático como Los Angeles, Nova Iorque ou Londres - atraindo um volume considerável de actividade de produção.
Este processo está a mudar a territorialidade do sistema de produção para um modelo de maior dispersão. As fases de produção mais dispendiosas tendem a deslocar-se desses centros nevrálgicos dos negócios dos media para locais de custos mais baixos.
Assim, algumas actividades na pré-produção, todas ou algumas fases da produção e algumas da pós-produção (como passar a filmagem diária para gravação) são realizadas nessas localidades. Mas centros como Los Angeles mantêm o controlo de direitos de autor, financiamento da produção, controlo das redes de distribuição e exibição dos filmes. A governação do sistema de produção está ainda ligada a um pequeno grupo de cidades.
Leitura: Neil Coe e Jennifer Johns (2004). "Beyond production clusters". In Dominic Power e Allen J. Scott (eds.) Cultural industries and the production of culture. Londres e Nova Iorque: Routledge, pp. 189-202
Na investigação sobre cinema tem havido uma grande preocupação sobre os processos de produção do filme mas não sobre as funções do financiamento, distribuição e exibição. Isso elide o peso da análise quanto ao poder e estrutura de governação [governance] que molda a natureza da indústria.
Especialização flexível
Veja-se a reestruturação pós-guerra na indústria cinematográfica americana a partir do conceito de especialização flexível. Nos anos 1970, o sistema de estúdios de Hollywood integrado verticalmente - com a maior parte das funções de produção residentes internamente - começava a ser substituído por um sistema de produção desintegrado verticalmente, através de uma massa flexível de entidades mais pequenas de produção e serviços. Isto é, o papel das grandes empresas diminuía na produção directa e passava para empresas mais diversificadas. Contudo, manteve-se a hierarquia de controlo, com os grandes estúdios a dominarem o financiamento e a distribuição.
O conceito de especialização flexível também se aplicaria à indústria da televisão no Reino Unido, com a desintegração de grandes organizações na indústria televisiva e uma crescente diferenciação de pequenos e especializados fornecedores de serviços. A indústria televisiva do Reino Unido surgia como uma forma de "rede dinâmica", flexível e especializada.
As redes flexíveis assentam na criação de grupos de agentes flexíveis: freelancers especializados, artistas, empresas de serviços, grupos que formam nós em torno do centro produtivo, internos ou externos na sua natureza empresarial. Cada nó tem uma especialização particular e, dado que as organizações múltiplas se tornam envolvidas numa rede, atenuam-se as fronteiras entre estas empresas individuais.
[imagem retirada do sítio Dogville Photo Gallery. O filme Dogville, realizado por Lars von Trier e com Nicole Kidman como actriz principal foi financiado pelo saudita Yeslam Bin Laden, accionista principal da Almaz Film]
Territorialidade e governação
No sistema de produção flexível, as produções de cinema e televisão são ligações de curto prazo em termos de directores, actores, equipas e serviços de subcontratação. Cada profissional tem um contrato negociado entre si, um sindicato ou empresa e a empresa produtora. No sistema de produção flexível, as majors constituem, em última instância, o empregador [contractor], em que se associam vários elementos de pré-produção, produção e pós-produção, num conjunto de pequenas empresas e empregados sindicalizados contratados por uma entidade de produção temporária. A natureza flexível do sistema de produção oferece oportunidades às cidades fora de um centro industrial mediático como Los Angeles, Nova Iorque ou Londres - atraindo um volume considerável de actividade de produção.
Este processo está a mudar a territorialidade do sistema de produção para um modelo de maior dispersão. As fases de produção mais dispendiosas tendem a deslocar-se desses centros nevrálgicos dos negócios dos media para locais de custos mais baixos.
Assim, algumas actividades na pré-produção, todas ou algumas fases da produção e algumas da pós-produção (como passar a filmagem diária para gravação) são realizadas nessas localidades. Mas centros como Los Angeles mantêm o controlo de direitos de autor, financiamento da produção, controlo das redes de distribuição e exibição dos filmes. A governação do sistema de produção está ainda ligada a um pequeno grupo de cidades.
Leitura: Neil Coe e Jennifer Johns (2004). "Beyond production clusters". In Dominic Power e Allen J. Scott (eds.) Cultural industries and the production of culture. Londres e Nova Iorque: Routledge, pp. 189-202
terça-feira, 28 de dezembro de 2004
RELATO DESPORTIVO - ACTO JORNALÍSTICO OU NÃO?
No seu excelente blogue Blogouve-se, João Paulo Meneses (JPM) tem discutido o tema: o relato de futebol é ou não um acto jornalístico? Hoje, o Público relança o assunto, dado a Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas estar a estudar a questão.
JPM defende que o relato desportivo não é jornalismo. Eu penso de modo diferente, como expressei em comentário no seu blogue, no passado dia 15 (ler aqui ou ver a reprodução parcial nas linhas seguintes).
O que penso sobre o tema
"Um dos nomes mais evidentes na história do jornalismo, Fernando Pessa, notabilizou-se por fazer a primeira reportagem de um festival de Acrobacia Aérea. Conta Pessa: «Frente a um aviador estrangeiro, como não consegui perceber o que este dizia, improvisei de imediato, introduzindo uma nota de humor» (Luís Freitas Costa, 1996, Peça por Pessa. Português, repórter, oitenta e catorze anos de idade. Lisboa: TV Guia Editora, p. 24). Outro nome conhecido no mundo radiofónico, Artur Agostinho, narra o que se passou a seguir a um jogo: «No comentário final, como era meu dever, não deixei de sublinhar a razão que assistira ao árbitro e verberei a atitude mais exaltada de alguns jogadores da equipa da casa» (Artur Agostinho, 2002, Ficheiros indiscretos, Lisboa, Oficina do Livro, p. 389).
"O relato do festival aéreo - a primeira transmissão em directo da rádio portuguesa - ou os comentários a seguir a um relato de futebol não são jornalismo? É apenas relatar? Relatar significa fazer o relato, narrar; reportar significa atribuir, fazer reportagem - que é uma notícia nos media. Podemos, assim, considerar que relatar é, incluindo a apreciação de um ambiente (alegria, hostilidade, tensão e o conjunto de comportamentos da assistência a um encontro desportivo), a entrevista (durante ou no final) e o comentário, uma actividade jornalística. Sem esquecer que o trabalho não é feito por uma só pessoa mas por uma equipa.
"Finalmente, o «bias», o ser tendencioso, que parece magnânimo no relato desportivo, não se encontra também no jornalista político mesmo que este disfarce isenção e acurácia? Um exemplo: Timor- Leste. Os jornalistas não foram tendenciosos quando relataram os acontecimentos daquele país, veiculando uma só perspectiva? Foram acusados por isso? E não mobilizaram Portugal? E no Euro 2004 não andámos de bandeirinhas por todo o sítio? Qual o peso da celeuma levantada contra ao jornalistas que vestiram um cachecol com as cores nacionais?"
O que se escreve no Público de hoje
Depois de ler o Público, reconheço que a realidade é mais complexa do que aquilo que julgava. A Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas (CCPJ) anda a estudar, desde o Euro 2004, a questão de se os relatores são ou não jornalistas. No terreno, há vários agentes, caso de colaboradores que exercem outras actividades não compatíveis com o jornalismo. Se se der a aprovação do jornalista-relator (ou relatador como o JPM prefere), esses colaboradores cessam funções. Se calhar, são os que trabalham mais a emoção no relato.
O objectivo da CCPJ é dotar os relatores com um título profissional, vinculado ao código deontológico e ao estatuto do jornalista. A questão reside exactamente aqui: pode um relator ser isento como se espera de um jornalista? Quando o relator grita durante muitos segundos "golo de Portugal" e fala quase imperceptível quando é golo da outra equipa - como destacou JPM no seu Blogouve-se - está ele a ser isento?
Um dos jornalistas citados numa peça do jornal Público, Ribeiro Cristóvão, defende um enquadramento especial para estes colaboradores. Já a Associação Portuguesa de Radiodifusão, pela voz do seu presidente, discorda. Mas a discordância é porque os relatores têm profissões incompatíveis com o estatuto de jornalista, o que provocará grandes alterações nos quadros das emissoras.
No seu excelente blogue Blogouve-se, João Paulo Meneses (JPM) tem discutido o tema: o relato de futebol é ou não um acto jornalístico? Hoje, o Público relança o assunto, dado a Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas estar a estudar a questão.
JPM defende que o relato desportivo não é jornalismo. Eu penso de modo diferente, como expressei em comentário no seu blogue, no passado dia 15 (ler aqui ou ver a reprodução parcial nas linhas seguintes).
O que penso sobre o tema
"Um dos nomes mais evidentes na história do jornalismo, Fernando Pessa, notabilizou-se por fazer a primeira reportagem de um festival de Acrobacia Aérea. Conta Pessa: «Frente a um aviador estrangeiro, como não consegui perceber o que este dizia, improvisei de imediato, introduzindo uma nota de humor» (Luís Freitas Costa, 1996, Peça por Pessa. Português, repórter, oitenta e catorze anos de idade. Lisboa: TV Guia Editora, p. 24). Outro nome conhecido no mundo radiofónico, Artur Agostinho, narra o que se passou a seguir a um jogo: «No comentário final, como era meu dever, não deixei de sublinhar a razão que assistira ao árbitro e verberei a atitude mais exaltada de alguns jogadores da equipa da casa» (Artur Agostinho, 2002, Ficheiros indiscretos, Lisboa, Oficina do Livro, p. 389).
"O relato do festival aéreo - a primeira transmissão em directo da rádio portuguesa - ou os comentários a seguir a um relato de futebol não são jornalismo? É apenas relatar? Relatar significa fazer o relato, narrar; reportar significa atribuir, fazer reportagem - que é uma notícia nos media. Podemos, assim, considerar que relatar é, incluindo a apreciação de um ambiente (alegria, hostilidade, tensão e o conjunto de comportamentos da assistência a um encontro desportivo), a entrevista (durante ou no final) e o comentário, uma actividade jornalística. Sem esquecer que o trabalho não é feito por uma só pessoa mas por uma equipa.
"Finalmente, o «bias», o ser tendencioso, que parece magnânimo no relato desportivo, não se encontra também no jornalista político mesmo que este disfarce isenção e acurácia? Um exemplo: Timor- Leste. Os jornalistas não foram tendenciosos quando relataram os acontecimentos daquele país, veiculando uma só perspectiva? Foram acusados por isso? E não mobilizaram Portugal? E no Euro 2004 não andámos de bandeirinhas por todo o sítio? Qual o peso da celeuma levantada contra ao jornalistas que vestiram um cachecol com as cores nacionais?"
O que se escreve no Público de hoje
Depois de ler o Público, reconheço que a realidade é mais complexa do que aquilo que julgava. A Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas (CCPJ) anda a estudar, desde o Euro 2004, a questão de se os relatores são ou não jornalistas. No terreno, há vários agentes, caso de colaboradores que exercem outras actividades não compatíveis com o jornalismo. Se se der a aprovação do jornalista-relator (ou relatador como o JPM prefere), esses colaboradores cessam funções. Se calhar, são os que trabalham mais a emoção no relato.
O objectivo da CCPJ é dotar os relatores com um título profissional, vinculado ao código deontológico e ao estatuto do jornalista. A questão reside exactamente aqui: pode um relator ser isento como se espera de um jornalista? Quando o relator grita durante muitos segundos "golo de Portugal" e fala quase imperceptível quando é golo da outra equipa - como destacou JPM no seu Blogouve-se - está ele a ser isento?
Um dos jornalistas citados numa peça do jornal Público, Ribeiro Cristóvão, defende um enquadramento especial para estes colaboradores. Já a Associação Portuguesa de Radiodifusão, pela voz do seu presidente, discorda. Mas a discordância é porque os relatores têm profissões incompatíveis com o estatuto de jornalista, o que provocará grandes alterações nos quadros das emissoras.
Centros comerciais do futuro
Em recente edição especial da Exame VIP (mês de publicação não identificado), há um texto que me chamou particular atenção. Trata-se de um tema dentro do conjunto dos aqui abordados: centros comerciais.
Como grande destaque do texto surge a referência a um novo conceito de centro comercial - o centro comercial de estilo de vida (lifestyles centers). Para além das lojas, escritórios e restaurantes, encontram-se espaços de cultura e lazer, como teatro, salas de cinema, uma biblioteca e uma ludoteca.
E compara-se o Victoria Gardens - nome que remete para um passado britânico faustoso - com o outlet de Alcochete. Para o articulista, Alcochete também combina consumo com lazer. Porém, em Alcochete não há biblioteca e os produtos vendidos não são de primeira escolha como nas lojas de centros comerciais clássicos como o Colombo ou o Vasco da Gama. Nem sequer tem livrarias como a FNAC.
Há, pois, alguma distinção a fazer entre um centro comercial de estilo de vida e o outlet Freeport de Alcochete. Além disso, convém distinguir um tecido social e urbano antigo, feito de malhas e de relações que se estabelecem ao longo do tempo, ampliando e recuando, inovando ou mantendo um figurino tradicional - que são as áreas comerciais das cidades antigas - com estas cidades artificiais, onde após o encerramento das lojas paira o silêncio e onde não se vêem pessoas. O lazer não é o descanso ou o sossego, mas tão só o consumo. Portanto, distinguir lazer e consumo não tem propriamente razão de ser. Os centros comerciais são locais de consumo - alimentação, roupa e produtos de higiene, cinema e vídeo (produtos finais ou equipamentos) - em que ruas ou praças, árvores ou peças arquitectónicas nos lembram as cidades antigas.
Leitura: Exame VIP. Directora: Isabel Canha. Preço: €4,90. 132 páginas. Pertence ao grupo editorial Edimpresa
O motivo foi o lançamento, no mês passado, do centro comercial Victoria Gardens, na cidade californiana de Rancho Cucamonga. Começa assim o texto não assinado (p. 14): "Este centro comercial é constituído por 64 quarteirões de lojas, ou seja, quase 650 mil metros quadrados de área. É um centro comercial que pode levar dias a ser percorrido, é cortado por oito alamedas com passeios largos e semáforos, terá vários jardins e uma praça central" [imagem retirada do sítio Rancho Cucamonga].
Como grande destaque do texto surge a referência a um novo conceito de centro comercial - o centro comercial de estilo de vida (lifestyles centers). Para além das lojas, escritórios e restaurantes, encontram-se espaços de cultura e lazer, como teatro, salas de cinema, uma biblioteca e uma ludoteca.
E compara-se o Victoria Gardens - nome que remete para um passado britânico faustoso - com o outlet de Alcochete. Para o articulista, Alcochete também combina consumo com lazer. Porém, em Alcochete não há biblioteca e os produtos vendidos não são de primeira escolha como nas lojas de centros comerciais clássicos como o Colombo ou o Vasco da Gama. Nem sequer tem livrarias como a FNAC.
Há, pois, alguma distinção a fazer entre um centro comercial de estilo de vida e o outlet Freeport de Alcochete. Além disso, convém distinguir um tecido social e urbano antigo, feito de malhas e de relações que se estabelecem ao longo do tempo, ampliando e recuando, inovando ou mantendo um figurino tradicional - que são as áreas comerciais das cidades antigas - com estas cidades artificiais, onde após o encerramento das lojas paira o silêncio e onde não se vêem pessoas. O lazer não é o descanso ou o sossego, mas tão só o consumo. Portanto, distinguir lazer e consumo não tem propriamente razão de ser. Os centros comerciais são locais de consumo - alimentação, roupa e produtos de higiene, cinema e vídeo (produtos finais ou equipamentos) - em que ruas ou praças, árvores ou peças arquitectónicas nos lembram as cidades antigas.
Leitura: Exame VIP. Directora: Isabel Canha. Preço: €4,90. 132 páginas. Pertence ao grupo editorial Edimpresa
REVISITANDO A QUINTA DAS CELEBRIDADES
Há apresentadoras(es) de televisão que seguimos a carreira com interesse. Outros nem tanto. Mas importa realçar que são figuras que visitam regularmente os nossos lares, sejam ou não convidados. E, por isso, temos de prestar atenção ao que fazem ou dizem, pois os seus gestos podem ser repetidos e seguidos como modelos.
Vem isto a propósito da entrevista que Júlia Pinheiro dá no último número da revista Selecções Reader's Digest (Janeiro 2005), trabalho bem conduzido pela jornalista Anabela Mota Ribeiro e com fotografias de Augusto Brázio.
Para além de aspectos mais relacionados com a vida familiar e privada da apresentadora da Quinta das celebridades, o cerne é, para mim, tudo o que Júlia Pinheiro diz sobre o programa da TVI. Diz ela: "O que ficou provado com a «Quinta» é que as pessoas se agrupam na procura das afinidades. Aquilo de que eu gosto, de que tu gostas, do que são as nossas experiências passadas. Com o passar do tempo, logo a seguir às afinidades, vêm as diferenças. Tudo o que se construiu numa primeira teia começa a rebentar e aparecem outras cumplicidades, que têm a ver com o carácter, a capacidade de tolerância, a confiança".
E, um pouco à frente, conclui o seu raciocínio: "Provavelmente, o que vai acontecer no final do jogo, como na vida, é que as pessoas com quem simpatizamos muito, mas que não conhecemos muito bem, quando temos oportunidade de estar perto acabamos por não gostar delas".
Júlia Pinheiro fala da sua forma de estar na vida - muito proactiva - e que levou para a Quinta enquanto apresentadora: "Sou muito espontânea, nada do que digo está escrito. Sei que quando as coisas me saem na hora podem resultar bem". E lembra a história do burro Pavarotti, contando: "A ideia não é minha, é da Gabriela Sobral [produção], e eu desenhei um bocadinho o que o burro ia dizer. estávamos excitadíssimas por causa do Schrek e o burro foi conseguido para a muidagem. Resultado: quando chego à TVI, tenho uma fila de meninos, os filhos dos funcionários todos da TVI, os amigos dos amigos dos funcionários, para ver o Pavarotti".
Há apresentadoras(es) de televisão que seguimos a carreira com interesse. Outros nem tanto. Mas importa realçar que são figuras que visitam regularmente os nossos lares, sejam ou não convidados. E, por isso, temos de prestar atenção ao que fazem ou dizem, pois os seus gestos podem ser repetidos e seguidos como modelos.
Vem isto a propósito da entrevista que Júlia Pinheiro dá no último número da revista Selecções Reader's Digest (Janeiro 2005), trabalho bem conduzido pela jornalista Anabela Mota Ribeiro e com fotografias de Augusto Brázio.
Para além de aspectos mais relacionados com a vida familiar e privada da apresentadora da Quinta das celebridades, o cerne é, para mim, tudo o que Júlia Pinheiro diz sobre o programa da TVI. Diz ela: "O que ficou provado com a «Quinta» é que as pessoas se agrupam na procura das afinidades. Aquilo de que eu gosto, de que tu gostas, do que são as nossas experiências passadas. Com o passar do tempo, logo a seguir às afinidades, vêm as diferenças. Tudo o que se construiu numa primeira teia começa a rebentar e aparecem outras cumplicidades, que têm a ver com o carácter, a capacidade de tolerância, a confiança".
E, um pouco à frente, conclui o seu raciocínio: "Provavelmente, o que vai acontecer no final do jogo, como na vida, é que as pessoas com quem simpatizamos muito, mas que não conhecemos muito bem, quando temos oportunidade de estar perto acabamos por não gostar delas".
Júlia Pinheiro fala da sua forma de estar na vida - muito proactiva - e que levou para a Quinta enquanto apresentadora: "Sou muito espontânea, nada do que digo está escrito. Sei que quando as coisas me saem na hora podem resultar bem". E lembra a história do burro Pavarotti, contando: "A ideia não é minha, é da Gabriela Sobral [produção], e eu desenhei um bocadinho o que o burro ia dizer. estávamos excitadíssimas por causa do Schrek e o burro foi conseguido para a muidagem. Resultado: quando chego à TVI, tenho uma fila de meninos, os filhos dos funcionários todos da TVI, os amigos dos amigos dos funcionários, para ver o Pavarotti".
MAIS SOBRE O TEXTO DE YUKO AOYAMA E HIRO IZUSHO
Escrevi já aqui sobre o texto editado por aqueles dois autores no livro de Dominic Power e Allen J. Scott. Porque o tema me interessa - pelo menos intelectualmente -, faço hoje uma nova alusão ao referido capítulo, que levou o título de Creative resources of the Japanese video game industry, e onde se alude ao forte peso dos cartoons e dos filmes animados na cultura e sociedade japonesa e à sua influência na produção de videojogos.
Os cartoons japoneses, chamados mangas, representaram em 1999 um terço das vendas de livros e revistas naquele país. Há cerca de 2200 edições de livros por ano e 280 títulos de revistas com uma circulação de 1,1 mil milhões de cópias. Aoyama e Izusho estimam que dois terços dos rapazes e mais de um sexto das raparigas com idades compreendidas entre os cinco e os 18 anos lêem manga, e a maioria lê revistas semanais, bissemanais ou mensais com uma média de 400 páginas e um total de 15 histórias. Também há mangas para adultos (215 títulos referidos). Os temas das publicações vão do romântico ao educacional, humor, desporto, aventura, sexo e violência. Há ainda revistas de manga "como fazer" (cozinha, finanças), assuntos de quotidiano e sátira sociopolítica.
Osamu Tezuka
O estilo distinto da manga deve muito ao cartoonista (e também médico) Osamu Tezuka (1926-1989) [imagem retirada do sítio routt.net]. Influenciado pelos filmes de Hollywood quando jovem, Tezuka revolucionou a manga ao incorporar técnicas desenvolvidas nos filmes como os planos próximos, os zooms e os ângulos das câmaras.
Além das formas, ele também alterou os conteúdos, levando as mangas de histórias curtas para longas e complexas tramas, incluindo temas como religião, raça, guerra e justiça social, mas sem esquecer as fronteiras do entretenimento. Durante a sua longa carreira de 40 anos, ele desenhou mais de 150 mil páginas, com vendas a ultrapassarem os 250 milhões de cópias em meados dos anos 1980.
Tezuka foi também pioneiro na produção de séries televisivas de animação, em 1963, com a sua manga de sucesso Astro boy [imagem retirada do sítio routt.net].
O reconhecimento da manga na cultura japonesa significa elevado prestígio e estatuto social na profissão de cartoonista, visto como celebridade. Além disso, o controlo dos direitos de autor nos artistas japoneses é maior do que os seus colegas americanos. Em 1997, havia cerca de 3500 a quatro mil cartoonistas editores e 20 mil assistentes. Quase todas as instituições educativas, do ensino básico à universidade, têm clubes de cartoonistas como actividade extra-curricular, o que leva a que a profissão de cartoonista seja encarada como uma actividade de futuro dos jovens estudantes [imagem de Kimba o Leão Branco, de Tezuka, retirada do sítio routt.net].
Da banda desenhada ao videojogo
Os comics levaram ao nascimento de filmes animados e séries de televisão, reforçando a força da manga como parte integrante da cultura popular japonesa. Muitos dos programas de animação nos anos 1960 e 1970 basearam-se em personagens saídas das mangas. Já no final dos anos 1970 e durante a década de 1980, os filmes animados tornaram-se blockbusters do cinema japonês. Filmes animados e programas de televisão representam hoje uma parcela significativa do mercado japonês de filmes e televisão. Além disso, tornaram-se um fundamento essencial para a emergência da indústria dos videojogos daquele país.
O núcleo central da produção de software dos jogos envolve escrita e desenho de cenários. Para isso, são necessários designers gráficos e artistas capazes de fazerem atraentes as personagens para os consumidores. Salários mais elevados conduziram a uma migração de cartoonistas do mundo da manga e da animação para os jogos de computador e de consolas (com uma outra faceta importante: a da literatura). A hierarquia profissional é reduzida, mas isso também se traduz numa desvantagem: os contratos são à tarefa ou à hora.
Aoyama e Izusho não têm dados precisos sobre o número de transferência de emprego da actividade de animação para os jogos, mas conhecem as interacções existentes entre estes sectores. Tal é ainda visível nos programas das escolas profissionais, que se dividem em dois segmentos: 1) moda/arte/design, 2) electrónica/programação computacional. E a indústria dos videojogos mantém uma relação estreita com as escolas profissionais. Os especialistas daquela são monitores nestas; os estudantes são admitidos como tarefeiros ou entram mesmo como empregados a tempo inteiro.
Há, assim, uma partilha de recursos criativos, possível devido ao desenvolvimento simultâneo das indústrias dos cartoons, do cinema de animação e dos videojogos.
Leitura: Yuko Aoyama e Hiro Izusho (2004). "Creative resources of the Japanese video game industry". In Dominic Power e Allen J. Scott Cultural industries and the production of culture. Londres e Nova Iorque. pp. 121-123
Escrevi já aqui sobre o texto editado por aqueles dois autores no livro de Dominic Power e Allen J. Scott. Porque o tema me interessa - pelo menos intelectualmente -, faço hoje uma nova alusão ao referido capítulo, que levou o título de Creative resources of the Japanese video game industry, e onde se alude ao forte peso dos cartoons e dos filmes animados na cultura e sociedade japonesa e à sua influência na produção de videojogos.
Os cartoons japoneses, chamados mangas, representaram em 1999 um terço das vendas de livros e revistas naquele país. Há cerca de 2200 edições de livros por ano e 280 títulos de revistas com uma circulação de 1,1 mil milhões de cópias. Aoyama e Izusho estimam que dois terços dos rapazes e mais de um sexto das raparigas com idades compreendidas entre os cinco e os 18 anos lêem manga, e a maioria lê revistas semanais, bissemanais ou mensais com uma média de 400 páginas e um total de 15 histórias. Também há mangas para adultos (215 títulos referidos). Os temas das publicações vão do romântico ao educacional, humor, desporto, aventura, sexo e violência. Há ainda revistas de manga "como fazer" (cozinha, finanças), assuntos de quotidiano e sátira sociopolítica.
Osamu Tezuka
O estilo distinto da manga deve muito ao cartoonista (e também médico) Osamu Tezuka (1926-1989) [imagem retirada do sítio routt.net]. Influenciado pelos filmes de Hollywood quando jovem, Tezuka revolucionou a manga ao incorporar técnicas desenvolvidas nos filmes como os planos próximos, os zooms e os ângulos das câmaras.
Além das formas, ele também alterou os conteúdos, levando as mangas de histórias curtas para longas e complexas tramas, incluindo temas como religião, raça, guerra e justiça social, mas sem esquecer as fronteiras do entretenimento. Durante a sua longa carreira de 40 anos, ele desenhou mais de 150 mil páginas, com vendas a ultrapassarem os 250 milhões de cópias em meados dos anos 1980.
Tezuka foi também pioneiro na produção de séries televisivas de animação, em 1963, com a sua manga de sucesso Astro boy [imagem retirada do sítio routt.net].
O reconhecimento da manga na cultura japonesa significa elevado prestígio e estatuto social na profissão de cartoonista, visto como celebridade. Além disso, o controlo dos direitos de autor nos artistas japoneses é maior do que os seus colegas americanos. Em 1997, havia cerca de 3500 a quatro mil cartoonistas editores e 20 mil assistentes. Quase todas as instituições educativas, do ensino básico à universidade, têm clubes de cartoonistas como actividade extra-curricular, o que leva a que a profissão de cartoonista seja encarada como uma actividade de futuro dos jovens estudantes [imagem de Kimba o Leão Branco, de Tezuka, retirada do sítio routt.net].
Da banda desenhada ao videojogo
Os comics levaram ao nascimento de filmes animados e séries de televisão, reforçando a força da manga como parte integrante da cultura popular japonesa. Muitos dos programas de animação nos anos 1960 e 1970 basearam-se em personagens saídas das mangas. Já no final dos anos 1970 e durante a década de 1980, os filmes animados tornaram-se blockbusters do cinema japonês. Filmes animados e programas de televisão representam hoje uma parcela significativa do mercado japonês de filmes e televisão. Além disso, tornaram-se um fundamento essencial para a emergência da indústria dos videojogos daquele país.
O núcleo central da produção de software dos jogos envolve escrita e desenho de cenários. Para isso, são necessários designers gráficos e artistas capazes de fazerem atraentes as personagens para os consumidores. Salários mais elevados conduziram a uma migração de cartoonistas do mundo da manga e da animação para os jogos de computador e de consolas (com uma outra faceta importante: a da literatura). A hierarquia profissional é reduzida, mas isso também se traduz numa desvantagem: os contratos são à tarefa ou à hora.
Aoyama e Izusho não têm dados precisos sobre o número de transferência de emprego da actividade de animação para os jogos, mas conhecem as interacções existentes entre estes sectores. Tal é ainda visível nos programas das escolas profissionais, que se dividem em dois segmentos: 1) moda/arte/design, 2) electrónica/programação computacional. E a indústria dos videojogos mantém uma relação estreita com as escolas profissionais. Os especialistas daquela são monitores nestas; os estudantes são admitidos como tarefeiros ou entram mesmo como empregados a tempo inteiro.
Há, assim, uma partilha de recursos criativos, possível devido ao desenvolvimento simultâneo das indústrias dos cartoons, do cinema de animação e dos videojogos.
Leitura: Yuko Aoyama e Hiro Izusho (2004). "Creative resources of the Japanese video game industry". In Dominic Power e Allen J. Scott Cultural industries and the production of culture. Londres e Nova Iorque. pp. 121-123
segunda-feira, 27 de dezembro de 2004
REVISTAS
Sairam recentemente os números das revistas MediaXXI e Egoista correspondentes ao final de 2004.
A primeira, dirigida por mim (com ressalvas, dado o interesse comercial que tenho), está dedicada às cidades e regiões digitais do país. Relevo as entrevistas a Eammonn Byrne, vice-director geral da Associação Mundial de Jornais - WAN (feita por Cátia Candeias) e José Carlos Abrantes, provedor do leitor do Diário de Notícias e animador dos colóquios Falar televisão (feita por Paula Cordeiro).
A segunda - que é uma degustação antes de a ler, dado o design (cores, espaços) - está dedicada à criança, ou melhor, à retrospectiva dos adultos quanto à sua infância (ou juventude). A primeira expressão pertence à jornalista Maria Flôr Pedroso (RDP): "Só hoje descobri que as árvores são as mãos da terra" (aos quinze anos). E acaba com Carolina, aos nove anos (não encontrei mais pormenores sobre ela): "A noite de 24 e o almoço de 25 [de Dezembro] foram passados em casa do irmão do Dido com toda a família, a deles claro. A distribuição dos presentes foi muito engraçada, pois foi feita pela Nicol e Samanta (as sobrinhas do Dido de 9 e 6 anos) que estavam vestidas de mãe e pai Natal".
Sairam recentemente os números das revistas MediaXXI e Egoista correspondentes ao final de 2004.
A primeira, dirigida por mim (com ressalvas, dado o interesse comercial que tenho), está dedicada às cidades e regiões digitais do país. Relevo as entrevistas a Eammonn Byrne, vice-director geral da Associação Mundial de Jornais - WAN (feita por Cátia Candeias) e José Carlos Abrantes, provedor do leitor do Diário de Notícias e animador dos colóquios Falar televisão (feita por Paula Cordeiro).
A segunda - que é uma degustação antes de a ler, dado o design (cores, espaços) - está dedicada à criança, ou melhor, à retrospectiva dos adultos quanto à sua infância (ou juventude). A primeira expressão pertence à jornalista Maria Flôr Pedroso (RDP): "Só hoje descobri que as árvores são as mãos da terra" (aos quinze anos). E acaba com Carolina, aos nove anos (não encontrei mais pormenores sobre ela): "A noite de 24 e o almoço de 25 [de Dezembro] foram passados em casa do irmão do Dido com toda a família, a deles claro. A distribuição dos presentes foi muito engraçada, pois foi feita pela Nicol e Samanta (as sobrinhas do Dido de 9 e 6 anos) que estavam vestidas de mãe e pai Natal".
ARTE E MECENATO - OU SOBRE O CANAL ARTE
Na sua coluna semanal do jornal Público (hoje, página 33), Eduardo Cintra Torres atribuiu os seus "prémios televisivos" correspondentes a 2004. Do que eu conheço da programação do medium, estou de acordo com ele. E quero manifestar a minha total anuência relativamente ao "prémio quando oiço falar de cultura puxo logo da pistola", atribuido à PT, por "ter retirado o canal ARTE do serviço analógico da TV Cabo Portugal". Continua o texto do crítico de televisão: "Estando empenhada no mecenato e patrocínio de tantas importantes iniciativas culturais, a PT também neste caso deveria assumir as suas responsabilidades de grande empresa e repor o ARTE no pacote principal da TV Cabo".
Aqui ao lado, a Telefonica - de características muito semelhantes à Portugal Telecom - faz sair publicidade de página inteira (El Pais, edição de hoje, na página 9) sobre a sua colecção de arte cubista, na posse da Fundação do grupo de telecomunicações. A marca da companhia está lá e ainda um signo específico, um celular da Movistar, a empresa de telemóveis do grupo. Trata-se de uma colecção que irá abrir ao público muito em breve, e que inclui 40 obras de 18 artistas chave do movimento, nomeadamente nomes do país vizinho.
Claro que são dois conceitos diferentes de actividade - negócio versus mecenato. Mas a PT não poderá fazer como a Telefonica, para quem "o primeiro é que a cultura seja acessível a todos"?
Na sua coluna semanal do jornal Público (hoje, página 33), Eduardo Cintra Torres atribuiu os seus "prémios televisivos" correspondentes a 2004. Do que eu conheço da programação do medium, estou de acordo com ele. E quero manifestar a minha total anuência relativamente ao "prémio quando oiço falar de cultura puxo logo da pistola", atribuido à PT, por "ter retirado o canal ARTE do serviço analógico da TV Cabo Portugal". Continua o texto do crítico de televisão: "Estando empenhada no mecenato e patrocínio de tantas importantes iniciativas culturais, a PT também neste caso deveria assumir as suas responsabilidades de grande empresa e repor o ARTE no pacote principal da TV Cabo".
Aqui ao lado, a Telefonica - de características muito semelhantes à Portugal Telecom - faz sair publicidade de página inteira (El Pais, edição de hoje, na página 9) sobre a sua colecção de arte cubista, na posse da Fundação do grupo de telecomunicações. A marca da companhia está lá e ainda um signo específico, um celular da Movistar, a empresa de telemóveis do grupo. Trata-se de uma colecção que irá abrir ao público muito em breve, e que inclui 40 obras de 18 artistas chave do movimento, nomeadamente nomes do país vizinho.
Claro que são dois conceitos diferentes de actividade - negócio versus mecenato. Mas a PT não poderá fazer como a Telefonica, para quem "o primeiro é que a cultura seja acessível a todos"?
MoMA HIGHLIGHTS
Só hoje adquiri o volume editado pelo Público, após longas "negociações" com a dona da loja das publicações onde adquiro regularmente os jornais. É que, parece, a distribuição do livro não foi boa.
Ora, quais as razões do crescimento qualitativo do MoMA (Museum of Modern Art) em Nova Iorque? [na imagem: contracapa do livro]
Basta ler a introdução, escrita por Glenn D. Lowry, o seu director: "A grande maioria dos objectos na colecção do Museu de Arte Moderna foi adquirida como presente e legado, normalmente fruto de relações desenvolvidas ao longo do tempo, de doadores e amigos generosos" (p. 19).
Um pouco acima, Lowry escrevia: Como o desenvolvimento da colecção do Museu de Arte Moderna, como da maioria dos museus, tem ocorrido ao longo do tempo, as escolhas de cada geração são tecidas na estrutura da colecção para que surja um contínuo processo de ideias e interesses. Este resultado reflecte o desdobrar da história do Museu numa colecção cheia de nuances que é afectada e alterada pelos gostos e ideias particulares dos directores e curadores e as reacções que estes gostos e ideias provocam nos seus sucessores, à medida que lacunas são preenchidas na colecção e áreas sobrevalorizadas são modificadas".
Observação: neste meu ciberespaço, tenho levantado a questão sobre a vantagem ou o interesse de produtos se servirem da bandeira (ou marca) do jornal para serem vendidos. O jornal está a tornar-se tendencialmente um veículo condutor/promotor de outros produtos.
Apesar de tudo, reconheço a importância que esses produtos, como as colecções de livros ou DVD lançados pelo jornal Público, têm na divulgação cultural, porque funcionam em outros pontos de venda que não os habituais, servindo-se de diferentes canais de distribuição. E também porque fazem negócio para as empresas de media, o que é um elemento essencial para a vida de tais entidades.
Só hoje adquiri o volume editado pelo Público, após longas "negociações" com a dona da loja das publicações onde adquiro regularmente os jornais. É que, parece, a distribuição do livro não foi boa.
Ora, quais as razões do crescimento qualitativo do MoMA (Museum of Modern Art) em Nova Iorque? [na imagem: contracapa do livro]
Basta ler a introdução, escrita por Glenn D. Lowry, o seu director: "A grande maioria dos objectos na colecção do Museu de Arte Moderna foi adquirida como presente e legado, normalmente fruto de relações desenvolvidas ao longo do tempo, de doadores e amigos generosos" (p. 19).
Um pouco acima, Lowry escrevia: Como o desenvolvimento da colecção do Museu de Arte Moderna, como da maioria dos museus, tem ocorrido ao longo do tempo, as escolhas de cada geração são tecidas na estrutura da colecção para que surja um contínuo processo de ideias e interesses. Este resultado reflecte o desdobrar da história do Museu numa colecção cheia de nuances que é afectada e alterada pelos gostos e ideias particulares dos directores e curadores e as reacções que estes gostos e ideias provocam nos seus sucessores, à medida que lacunas são preenchidas na colecção e áreas sobrevalorizadas são modificadas".
Observação: neste meu ciberespaço, tenho levantado a questão sobre a vantagem ou o interesse de produtos se servirem da bandeira (ou marca) do jornal para serem vendidos. O jornal está a tornar-se tendencialmente um veículo condutor/promotor de outros produtos.
Apesar de tudo, reconheço a importância que esses produtos, como as colecções de livros ou DVD lançados pelo jornal Público, têm na divulgação cultural, porque funcionam em outros pontos de venda que não os habituais, servindo-se de diferentes canais de distribuição. E também porque fazem negócio para as empresas de media, o que é um elemento essencial para a vida de tais entidades.
Audiências dos filmes entre 9 e 15 de Dezembro
O filme mais visto na semana de 9 a 15 de Dezembro foi O tesouro, de Jon Turteltaub, com 45881 espectadores,segundo o ICAM (bilheteiras informatizadas). Em segundo lugar, figura a história de Os incredibles, que já tiveram uma assistência (desde que se estreou) de 143563 espectadores, seguindo-se Alexandre o Grande, com uma assistência nas semanas de projecção de 73112 espectadores (abaixo do publicitado pela distribuidora Lusomundo) e Polar Express, com uma assistência total de 18237.
Pelos números, nota-se uma clara preferência pela história da família dos super-heróis, bem à frente do Polar Express. A pergunta que eu fazia semanas atrás está assim respondida. A questão que agora faço é: quem terá mais espectadores, Alexandre o Grande (a passar em 49 salas de todo o país) ou o Fantasma da ópera? Ou, reformulando a pergunta: o facto de este último se ter estreado quase em cima do Natal não vai retirar espectadores quando em confronto com o anterior, que ganhou visibilidade ainda antes do começo das férias escolares?
Pelos números, nota-se uma clara preferência pela história da família dos super-heróis, bem à frente do Polar Express. A pergunta que eu fazia semanas atrás está assim respondida. A questão que agora faço é: quem terá mais espectadores, Alexandre o Grande (a passar em 49 salas de todo o país) ou o Fantasma da ópera? Ou, reformulando a pergunta: o facto de este último se ter estreado quase em cima do Natal não vai retirar espectadores quando em confronto com o anterior, que ganhou visibilidade ainda antes do começo das férias escolares?
Os recursos criativos da indústria japonesa de videojogos
"Embora a indústria de videojogos não seja entendida como um sector que oferece formas de «alta cultura» ou arte requintada, tem-se a consciência de que ela é um indústria de importância crescente no domínio da cultura popular", em especial a cultura juvenil. Assim começa o texto de Yuko Aoyama e Hiro Izusho no texto colectivo editado por Dominic Power e Allen J. Scott Cultural Industries and the production of culture (2004).
Trata-se de uma área que, em 1999 (e estamos a falar de dados já relativamente antigos), envolveu 215 milhões de cópias de jogos comprados nos Estados Unidos. E, se os dados económicos de mercado são conhecidos, sabe-se pouco ou nada sobre a indústria e o papel dos recursos criativos na formação da actividade e a força competitiva, pois os estudos têm andado em torno de questões morais e do impacto psicológico dos jogos.
Em termos de indústrias culturais, há um domínio crescente dos produtos culturais exportados em língua inglesa (mormente oriundos dos Estados Unidos e Reino Unido). São os filmes de Hollywood, a música rap, os jeans da Levi’s, a Coca-Cola e os ténis da Nike. A indústria dos videojogos representa a excepção face à hegemonia linguística e empresarial inglesa, pois, apesar da primeira companhia ter sido americana, a Atari, os maiores produtores mundiais são japoneses: Nintendo e SCE (Sony Computer Entertainment). A pergunta que Ayoama e Izusho fazem é: como chegou a indústria japonesa a este patamar de desenvolvimento num mercado global?
Eles elencariam os seguintes quesitos: 1) experiência nos cartoons (manga) e filmes de animação, 2) ligação industrial à electrónica de bens de consumo doméstico, a qual como reflexo se traduziu em 3) complexos industriais verticalmente desintegrados com fabricantes de hardware.
Um exemplo vem da Nintendo, cuja actividade inicial nos videojogos se tornou possível graças à colaboração e troca de conhecimentos com as empresas de electrónica de consumo, em particular a produção de circuitos integrados, com a Mistsubishi Electric, Ricoh e Sharp. No caso da cooperação entre a Nintendo e a Mistsubishi Electric, esta forneceu o desenvolvimento dos circuitos integrados para os jogos, chegando a uma consola (Color TV Game 6). Já a Sharp alimentou os conhecimentos da Nintendo na área dos brinquedos, até chegar à tecnologia dos cristais líquidos.
A Nintendo, com sede em Quioto, não tem uma fábrica de raiz. A maior parte das actividades é externalizada, incluindo a produção e a montagem de plataformas e cassetes. As empresas com quem a Nintendo estabelece acordos comerciais encarregam-se de produzir, o que leva a Nintendo a concentrar-se no desenho e desenvolvimento das plataformas.
Leitura: Dominic Power e Allen J. Scott (eds.) (2004). Cultural Industries and the production of culture. Londres e Nova Iorque: Routledge
Trata-se de uma área que, em 1999 (e estamos a falar de dados já relativamente antigos), envolveu 215 milhões de cópias de jogos comprados nos Estados Unidos. E, se os dados económicos de mercado são conhecidos, sabe-se pouco ou nada sobre a indústria e o papel dos recursos criativos na formação da actividade e a força competitiva, pois os estudos têm andado em torno de questões morais e do impacto psicológico dos jogos.
Em termos de indústrias culturais, há um domínio crescente dos produtos culturais exportados em língua inglesa (mormente oriundos dos Estados Unidos e Reino Unido). São os filmes de Hollywood, a música rap, os jeans da Levi’s, a Coca-Cola e os ténis da Nike. A indústria dos videojogos representa a excepção face à hegemonia linguística e empresarial inglesa, pois, apesar da primeira companhia ter sido americana, a Atari, os maiores produtores mundiais são japoneses: Nintendo e SCE (Sony Computer Entertainment). A pergunta que Ayoama e Izusho fazem é: como chegou a indústria japonesa a este patamar de desenvolvimento num mercado global?
Eles elencariam os seguintes quesitos: 1) experiência nos cartoons (manga) e filmes de animação, 2) ligação industrial à electrónica de bens de consumo doméstico, a qual como reflexo se traduziu em 3) complexos industriais verticalmente desintegrados com fabricantes de hardware.
Um exemplo vem da Nintendo, cuja actividade inicial nos videojogos se tornou possível graças à colaboração e troca de conhecimentos com as empresas de electrónica de consumo, em particular a produção de circuitos integrados, com a Mistsubishi Electric, Ricoh e Sharp. No caso da cooperação entre a Nintendo e a Mistsubishi Electric, esta forneceu o desenvolvimento dos circuitos integrados para os jogos, chegando a uma consola (Color TV Game 6). Já a Sharp alimentou os conhecimentos da Nintendo na área dos brinquedos, até chegar à tecnologia dos cristais líquidos.
A Nintendo, com sede em Quioto, não tem uma fábrica de raiz. A maior parte das actividades é externalizada, incluindo a produção e a montagem de plataformas e cassetes. As empresas com quem a Nintendo estabelece acordos comerciais encarregam-se de produzir, o que leva a Nintendo a concentrar-se no desenho e desenvolvimento das plataformas.
Leitura: Dominic Power e Allen J. Scott (eds.) (2004). Cultural Industries and the production of culture. Londres e Nova Iorque: Routledge
domingo, 26 de dezembro de 2004
O FANTASMA DA ÓPERA
O Fantasma da ópera, peça de Andrew Lloyd Webber, chegou agora ao cinema pela mão de Joel Schumacher. A história anda à volta de um génio musical desfigurado, maltratado na sua infância e juventude pelo defeito facial, que esconde atrás de uma máscar e vive nos esconderijos da velha ópera.
O Fantasma é interpretado por Gerard Butler, enquanto Emmy Rossum (de quem eu vi mais recentemente Mystic River) desempenha o papel de Christine Daae. Esta é protegida por aquele, que treina a sua voz e acaba por se apaixonar por ela. Mas Christine apaixonar-se-ia por Raoul, Visconde de Chagny (representado por Patrick Wilson), o que enfurece o Fantasma, precipitando os acontecimentos e que culminam no incêndio da ópera.
Projecto nas mãos da Warner durante anos seria, depois, comprado pelo próprio criador do musical, Andrew Lloyd Webbber, o qual assinou o argumento do filme a meias com Joel Schumacher. Apesar de Webber conhecer bem a música do século XIX, onde a acção se desenrola, há, a meu ver, alguns problemas de concatenar peças operáticas com um musical a passar num teatro de Nova Iorque ou Londres. E existem vários momentos de quebra de ritmo. A duração da fita é de 143 minutos.
De notar a estreia do filme em vésperas de Natal no mercado europeu (em Portugal tal aconteceu a 23 de Dezembro).
O Fantasma da ópera, peça de Andrew Lloyd Webber, chegou agora ao cinema pela mão de Joel Schumacher. A história anda à volta de um génio musical desfigurado, maltratado na sua infância e juventude pelo defeito facial, que esconde atrás de uma máscar e vive nos esconderijos da velha ópera.
O Fantasma é interpretado por Gerard Butler, enquanto Emmy Rossum (de quem eu vi mais recentemente Mystic River) desempenha o papel de Christine Daae. Esta é protegida por aquele, que treina a sua voz e acaba por se apaixonar por ela. Mas Christine apaixonar-se-ia por Raoul, Visconde de Chagny (representado por Patrick Wilson), o que enfurece o Fantasma, precipitando os acontecimentos e que culminam no incêndio da ópera.
Projecto nas mãos da Warner durante anos seria, depois, comprado pelo próprio criador do musical, Andrew Lloyd Webbber, o qual assinou o argumento do filme a meias com Joel Schumacher. Apesar de Webber conhecer bem a música do século XIX, onde a acção se desenrola, há, a meu ver, alguns problemas de concatenar peças operáticas com um musical a passar num teatro de Nova Iorque ou Londres. E existem vários momentos de quebra de ritmo. A duração da fita é de 143 minutos.
De notar a estreia do filme em vésperas de Natal no mercado europeu (em Portugal tal aconteceu a 23 de Dezembro).
SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
Ainda sobre o El Pais de hoje: na página 42, vem um texto sobre tecnologias da informação, comparando vários países da União Europeia (UE), compreendendo Portugal e Espanha, assinado por Ramón Muñoz.
Em termos de transacções em caixas automáticas (ATM) para 100% na UE, Portugal tem 165,2%, o valor mais elevado a par do Reino Unido (a Espanha tem apenas 91,3%). Mas já em termos de utilizadores da banca electrónica por 100 habitantes, o nosso país regista 62,5%, bem atrás do líder Alemanha (126%) e ainda à frente da Espanha (60,4%).
Quanto a lares equipados com computadores pessoais, Portugal tem apenas 66,7%, atrás da França (68,8%) e muito longe do mais equipado, o Reino Unido (116,7%). Também a penetração de computadores portáteis é fraquíssima em Portugal (55,6%), embora acima da Espanha (54,8%). Mas em termos de televisores por lar, Portugal e Espanha batem os outros países (102% para ambos). E em telemóveis somos mesmo doidos por eles: Portugal tem 113,4%, apenas superado pela Itália (116,2%). Já em consolas, a nossa taxa é a mais baixa (64%), muito distante do Reino Unido (191,1%).
Finalmente, no quadro dos 25 da UE quanto ao uso das TIC (tecnologias da informação e da comunicação), liderado pela Finlândia, Portugal ocupa o 16% lugar, a que se segue a Espanha. Afinal, os dois vizinhos ibéricos estão mais perto um do outro do que normalmente se diz.
Ainda sobre o El Pais de hoje: na página 42, vem um texto sobre tecnologias da informação, comparando vários países da União Europeia (UE), compreendendo Portugal e Espanha, assinado por Ramón Muñoz.
Em termos de transacções em caixas automáticas (ATM) para 100% na UE, Portugal tem 165,2%, o valor mais elevado a par do Reino Unido (a Espanha tem apenas 91,3%). Mas já em termos de utilizadores da banca electrónica por 100 habitantes, o nosso país regista 62,5%, bem atrás do líder Alemanha (126%) e ainda à frente da Espanha (60,4%).
Quanto a lares equipados com computadores pessoais, Portugal tem apenas 66,7%, atrás da França (68,8%) e muito longe do mais equipado, o Reino Unido (116,7%). Também a penetração de computadores portáteis é fraquíssima em Portugal (55,6%), embora acima da Espanha (54,8%). Mas em termos de televisores por lar, Portugal e Espanha batem os outros países (102% para ambos). E em telemóveis somos mesmo doidos por eles: Portugal tem 113,4%, apenas superado pela Itália (116,2%). Já em consolas, a nossa taxa é a mais baixa (64%), muito distante do Reino Unido (191,1%).
Finalmente, no quadro dos 25 da UE quanto ao uso das TIC (tecnologias da informação e da comunicação), liderado pela Finlândia, Portugal ocupa o 16% lugar, a que se segue a Espanha. Afinal, os dois vizinhos ibéricos estão mais perto um do outro do que normalmente se diz.
CANAIS PÚBLICOS EUROPEUS DE TELEVISÃO EM EXAME
Este é o título da peça hoje publicada no El Pais (p. 44). A análise envolve Reino Unido, França, Alemanha e Itália, e inclui ainda um gráfico de audiências do primeiro canal espanhol (TVE-1). Sobre Portugal não há qualquer informação (mas basta procurar em jornais como o Público ou o Diário de Notícias).
O que nos diz o texto, e que eu sigo na totalidade nesta mensagem? Que os níveis de audiência da televisão pública inglesa baixaram a níveis históricos, e num momento em que se anuncia o despedimento de 2900 empregados, ao passo que os canais públicos dos outros países em comparação estão em luta acesa pela partilha de audiência com os canais privados.
A quebra de audiências da BBC - abaixo dos 35% - deve-se sobretudo à concorrência das plataformas digitais por cabo e por satélite. Só o canal estrela, BBC1, caiu abaixo dos 25% de share. Há vinte anos atrás, a BBC tinha metade da audiência, partilhada com a ITV, a única empresa privada de televisão então existente. A chegada do Channel 4 (1983), da Sky (1991) e do Channel 5 (1997) alterou as quotas de audiência. Há quatro anos, a BBC caira para 38%, enquanto os canais privados somavam 45% e as plataformas 17% (este ano subiram para 26%). A BBC perdeu a batalha do futebol mas mantém a liderança em termos de informação.
Em França, os canais públicos (France 2, 3, Arte, France 5 e TV5) recuperaram audiência em 2004 [a TV Cabo retirou recentemente da sua grelha exactamente o Arte]. O canal France 2 recuperou face à France 1 audiências em termos de informação das 20:00 mas também lidera frequentemente o período 19:00-20:00, e sem necessidade de recorrer ao populismo ou ao escândalo. France 3 é um canal regionalizado e o France 5, que emite entre as 9:00 e as 19:00, tem consolidado as suas emissões de debate e informação.
O sistema alemão implica que o espectador pague para ver (€16,15 mensais), mas em contrapartida recebe programas de qualidade, filmes sem cortes publicitários e ausência de anúncios a partir da hora de maior audiência (20:00). Além disso, há a garantia dos canais públicos nacionais (ARD e ZDF) e regionais estarem livres da censura do Governo. Os canais públicos somam 41,1% (a ARD tem 14,1% e a ZDF 13,4%), e o resto é repartido pelos canais privados (a RTL tem 14,9%). O telelixo escasseia. O programa estrela da ARD, o telejornal (Tagesschau) das 20:00 dura um quarto de hora! A sua implantação é de tal ordem que, por questões de educação, não se devem fazer chamadas telefónicas durante esses quinze minutos.
Finalmente, quanto à Itália, a televisão pública mantém uma audiência notável (quase 45%). Na próxima Primavera privatizará 20% das suas acções. Embora pareça gozar de boa saúde, a baixa qualidade de programação (como os reality-shows) e a ingerência política causam problemas que se arrastam há muitos anos. Os três canais públicos (RAI 1, 2 e 3) são controlados por Berlusconi.
Este é o título da peça hoje publicada no El Pais (p. 44). A análise envolve Reino Unido, França, Alemanha e Itália, e inclui ainda um gráfico de audiências do primeiro canal espanhol (TVE-1). Sobre Portugal não há qualquer informação (mas basta procurar em jornais como o Público ou o Diário de Notícias).
O que nos diz o texto, e que eu sigo na totalidade nesta mensagem? Que os níveis de audiência da televisão pública inglesa baixaram a níveis históricos, e num momento em que se anuncia o despedimento de 2900 empregados, ao passo que os canais públicos dos outros países em comparação estão em luta acesa pela partilha de audiência com os canais privados.
A quebra de audiências da BBC - abaixo dos 35% - deve-se sobretudo à concorrência das plataformas digitais por cabo e por satélite. Só o canal estrela, BBC1, caiu abaixo dos 25% de share. Há vinte anos atrás, a BBC tinha metade da audiência, partilhada com a ITV, a única empresa privada de televisão então existente. A chegada do Channel 4 (1983), da Sky (1991) e do Channel 5 (1997) alterou as quotas de audiência. Há quatro anos, a BBC caira para 38%, enquanto os canais privados somavam 45% e as plataformas 17% (este ano subiram para 26%). A BBC perdeu a batalha do futebol mas mantém a liderança em termos de informação.
Em França, os canais públicos (France 2, 3, Arte, France 5 e TV5) recuperaram audiência em 2004 [a TV Cabo retirou recentemente da sua grelha exactamente o Arte]. O canal France 2 recuperou face à France 1 audiências em termos de informação das 20:00 mas também lidera frequentemente o período 19:00-20:00, e sem necessidade de recorrer ao populismo ou ao escândalo. France 3 é um canal regionalizado e o France 5, que emite entre as 9:00 e as 19:00, tem consolidado as suas emissões de debate e informação.
O sistema alemão implica que o espectador pague para ver (€16,15 mensais), mas em contrapartida recebe programas de qualidade, filmes sem cortes publicitários e ausência de anúncios a partir da hora de maior audiência (20:00). Além disso, há a garantia dos canais públicos nacionais (ARD e ZDF) e regionais estarem livres da censura do Governo. Os canais públicos somam 41,1% (a ARD tem 14,1% e a ZDF 13,4%), e o resto é repartido pelos canais privados (a RTL tem 14,9%). O telelixo escasseia. O programa estrela da ARD, o telejornal (Tagesschau) das 20:00 dura um quarto de hora! A sua implantação é de tal ordem que, por questões de educação, não se devem fazer chamadas telefónicas durante esses quinze minutos.
Finalmente, quanto à Itália, a televisão pública mantém uma audiência notável (quase 45%). Na próxima Primavera privatizará 20% das suas acções. Embora pareça gozar de boa saúde, a baixa qualidade de programação (como os reality-shows) e a ingerência política causam problemas que se arrastam há muitos anos. Os três canais públicos (RAI 1, 2 e 3) são controlados por Berlusconi.
CRISTINA M. FERNANDES DE VOLTA À BLOGOSFERA
A criadora de Janela Indiscreta voltou. Agora está no endereço Last Tapes. Ontem, dia de Natal, ela escreveu sobre Robert Otto Walser (15.4.1878/25.12.1956), autor de Branca de Neve.
Ler de novo Cristina M. Fernandes será um grande prazer. Boa sorte para o novo blogue.
A criadora de Janela Indiscreta voltou. Agora está no endereço Last Tapes. Ontem, dia de Natal, ela escreveu sobre Robert Otto Walser (15.4.1878/25.12.1956), autor de Branca de Neve.
Ler de novo Cristina M. Fernandes será um grande prazer. Boa sorte para o novo blogue.
1001 RAZÕES PARA GOSTAR DE PORTUGAL
José Carlos Abrantes - o animador dos colóquios Falar televisão, que eu tenho aqui escrito - irá lançar um livro (que ele diz ser pequeno em dimensão). O título é 1001 razões para gostar de Portugal. Ele sairá em Janeiro e terá apresentação a 10 de Fevereiro (uma quinta-feira), pelas 18: 30, no Salão de Inverno do Teatro S. Luís. Não tenho ainda mais pormenores.
Apresentação do livro de Joaquim Fidalgo
Entretanto, no dia 11 de Janeiro, será apresentado em Lisboa o livro de Joaquim Fidalgo recentemente editado, com o título Em nome do leitor (MinervaCoimbra). Haverá ainda um colóquio sobre provedores do leitor, com a presença de alguns deles (actuais ou antigos), na Universidade Lusófona.
José Carlos Abrantes - o animador dos colóquios Falar televisão, que eu tenho aqui escrito - irá lançar um livro (que ele diz ser pequeno em dimensão). O título é 1001 razões para gostar de Portugal. Ele sairá em Janeiro e terá apresentação a 10 de Fevereiro (uma quinta-feira), pelas 18: 30, no Salão de Inverno do Teatro S. Luís. Não tenho ainda mais pormenores.
Apresentação do livro de Joaquim Fidalgo
Entretanto, no dia 11 de Janeiro, será apresentado em Lisboa o livro de Joaquim Fidalgo recentemente editado, com o título Em nome do leitor (MinervaCoimbra). Haverá ainda um colóquio sobre provedores do leitor, com a presença de alguns deles (actuais ou antigos), na Universidade Lusófona.
quarta-feira, 22 de dezembro de 2004
Noventa e oito anos de rádio
O blogueiro vai estar de descanso até ao dia 26, exclusive. Embora não saia da cidade, há algumas tarefas familiares a desempenhar e leituras a pôr urgentemente em dia.
Desejo às(aos) leitoras(es) do blogue I. C. - todos os que o têm visitado regularmente ou não - um bom Natal, com muita paz e saúde e muitas prendinhas no sapato junto à chaminé. A minha prendinha é a recordação da véspera de Natal há 98 anos atrás, dia onde a rádio começava uma fantástica história, e que se mantém até hoje (a telefonia aqui ao lado continua a dar música e palavras para minha grande alegria).
Nos Estados Unidos, a emissão experimental pioneira de radiodifusão foi conduzida por Reginald Aubrey Fessenden (1866-1932), na véspera do Natal de 1906, e composta por um curto discurso, a passagem de um trecho de Handel e um solo de violino sobre uma peça de Gounod, então um compositor muito popular. Fessenden trabalhava desde 1900 no seu projecto, tornado viável apenas quando as ondas amortecidas, usadas em radiotelegrafia, foram substituídas por ondas contínuas (amplitude constante).
Desejo às(aos) leitoras(es) do blogue I. C. - todos os que o têm visitado regularmente ou não - um bom Natal, com muita paz e saúde e muitas prendinhas no sapato junto à chaminé. A minha prendinha é a recordação da véspera de Natal há 98 anos atrás, dia onde a rádio começava uma fantástica história, e que se mantém até hoje (a telefonia aqui ao lado continua a dar música e palavras para minha grande alegria).
Nos Estados Unidos, a emissão experimental pioneira de radiodifusão foi conduzida por Reginald Aubrey Fessenden (1866-1932), na véspera do Natal de 1906, e composta por um curto discurso, a passagem de um trecho de Handel e um solo de violino sobre uma peça de Gounod, então um compositor muito popular. Fessenden trabalhava desde 1900 no seu projecto, tornado viável apenas quando as ondas amortecidas, usadas em radiotelegrafia, foram substituídas por ondas contínuas (amplitude constante).
NÚMERO DA REVISTA COMUNICAÇÃO E SOCIEDADE
Saiu recentemente o número 5 da revista Comunicação e Sociedade, do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, dedicado ao ensino do jornalismo, volume coordenado por Manuel Pinto. Com textos de Denis Ruellan, Eduardo Meditsch, Xosé López, Manuel Pinto, Joaquim Fidalgo, Madalena Oliveira e Fernando Cascais e entrevista com Manuel Carlos Chaparro, feita por alguns dos professores da Universidade do Minho, e depoimentos de vários jornalistas, constituem o dossier de formação em jornalismo, ocupando um largo espaço da publicação.
Estudos da blogosfera (artigos de José Luis Orihuela, António Granado, Luís António Santos e Fernando Zamith) e uma cuidada secção de reflexões/leituras tornam a revista editada pela Campo das Letras uma leitura necessária.
Dados suplementares: director - Moisés de Lemos Martins, 183 páginas, €12.
Saiu recentemente o número 5 da revista Comunicação e Sociedade, do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, dedicado ao ensino do jornalismo, volume coordenado por Manuel Pinto. Com textos de Denis Ruellan, Eduardo Meditsch, Xosé López, Manuel Pinto, Joaquim Fidalgo, Madalena Oliveira e Fernando Cascais e entrevista com Manuel Carlos Chaparro, feita por alguns dos professores da Universidade do Minho, e depoimentos de vários jornalistas, constituem o dossier de formação em jornalismo, ocupando um largo espaço da publicação.
Estudos da blogosfera (artigos de José Luis Orihuela, António Granado, Luís António Santos e Fernando Zamith) e uma cuidada secção de reflexões/leituras tornam a revista editada pela Campo das Letras uma leitura necessária.
Dados suplementares: director - Moisés de Lemos Martins, 183 páginas, €12.
Alexandre o Grande
Confesso que o filme de Oliver Stone não me impressionou deveras, tirando as representações de Anthony Hopkins (general Ptolomeu), Colin Farrel (Alexandre, o Grande) e Angeline Jolie (Olímpia).
Alexandre (356-323 A.C.) foi rei da Macedónia (336-323 A.C.) e conquistador do império persa, tendo derrotado Dario, construído diversas cidades a quem deu o nome de Alexandrias e governou sobre Babilónia. Nas cenas da batalha entre Alexandre e Dario, alguns dos efeitos especiais pareceram-me uma mistura de cinema com a pintura abstracta de finais dos anos 1950, imagens não propriamente interessantes de ver.
Ao longo do filme, várias vezes se compara a actuação de conquista por parte de Filipe, pai de Alexandre, com as deste. Onde o primeiro chegara, o segundo procurou ultrapassar.
Sem querermos, um filme ou um outro texto mediático qualquer é lido em termos do contexto social e político da época. E não escapamos a comparar a intervenção no Iraque de Bush pai com a do actual presidente americano. E, quando Alexandre se refere a três anos de guerrilha dos persas, não se pode esquecer a situação explosiva no Iraque, como a dos acontecimentos de ontem no coração das tropas americanas.
Para além da história do filme e da lembrança da situação presente no Médio Oriente, é importante referir as polémicas em torno de Alexandre o Grande. E nada melhor do que ler o texto de Robin Lane Fox, conselheiro de Oliver Stone para o filme, e publicado no Sunday Times do passado dia 19.
Fox, num encontro com professores de Princeton, ouviu um destes contestar a ideia de Alexandre como colosso, pois ele fora responsável pela invasão de um antigo império do Médio Oriente e ter morto milhares de pessoas que se recusaram a render.
Claro, diz, Robin Lane Fox, o filme não é um documentário ou faz história, embora os historiadores devam ser permeáveis a novas interpretações. Isto porque, ainda segundo ele, não se pode olhar uma invasão há 2300 anos como se vê hoje, em termos de contextualização e consequências. E ele afasta-se das críticas ao estilo de penteado de Colin Farrel ou à vocalização de Angelina Jolie (apesar de americana, nascida em Los Angeles, eu próprio sai confuso da sala de cinema pensando qual o país de origem da actriz).
Mas, no interior da América, as críticas foram grandes. De um lado, a sinalização do tema face ao envolvimento de Bush no Iraque, como escrevi acima. Na antiguidade, a conquista fazia parte do caminho para a glória e Alexandre foi idolatrado como um deus por isso mesmo pelos gregos contemporâneos. Por outro lado, criticou-se a ênfase satânica (toda a iniciação de Alexandre feita pela mãe Olímpia, sempre rodeada de serpentes).
Em terceiro lugar, as relações bissexuais de Alexandre, em que se eleva Hefastion como o grande amor masculino do rei macedónio. Se os homossexuais do Canadá escreveram a Robin Lane Fox que Alexandre nunca teve nada a ver com mulheres ["Alexander was a one-way gay who had nothing to do with women"], alguns advogados gregos dispuseram-se a processar os autores do filme por mostrarem Alexandre como bissexual.
Outra crítica veio dos iranianos: a mulher de Alexandre (Roxana, interpretada por Rosario Dawson) era negra. Ou melhor, ela é uma mistura de raças, o que os iranianos não apreciaram. Eles prefeririam uma mulher loura e de olhos azuis, para estabelecer uma distinção entre os seus antepassados e a África. E havia ainda uma separação a construir do Irão face aos árabes. Nas cenas da batalha que opõem Dário a Alexandre, um dos animais de combate por parte do persa são os camelos. Fox foi acusado de ignorante por ter suposto haver antepassados beduínos (que usam camelos) entre os iranianos.
Além de tudo, surgia Aristóteles, tutor de Alexandre, a quem se atribuía a constatação de que as mulheres são incapazes de pensamento racional e que os bárbaros são escravos por natureza.
Nota: Robin Lane Fox é professor de história antiga e cássica no New College da Universidade de Oxford. Também ensina história do islamismo.
Alexandre (356-323 A.C.) foi rei da Macedónia (336-323 A.C.) e conquistador do império persa, tendo derrotado Dario, construído diversas cidades a quem deu o nome de Alexandrias e governou sobre Babilónia. Nas cenas da batalha entre Alexandre e Dario, alguns dos efeitos especiais pareceram-me uma mistura de cinema com a pintura abstracta de finais dos anos 1950, imagens não propriamente interessantes de ver.
Ao longo do filme, várias vezes se compara a actuação de conquista por parte de Filipe, pai de Alexandre, com as deste. Onde o primeiro chegara, o segundo procurou ultrapassar.
Sem querermos, um filme ou um outro texto mediático qualquer é lido em termos do contexto social e político da época. E não escapamos a comparar a intervenção no Iraque de Bush pai com a do actual presidente americano. E, quando Alexandre se refere a três anos de guerrilha dos persas, não se pode esquecer a situação explosiva no Iraque, como a dos acontecimentos de ontem no coração das tropas americanas.
Para além da história do filme e da lembrança da situação presente no Médio Oriente, é importante referir as polémicas em torno de Alexandre o Grande. E nada melhor do que ler o texto de Robin Lane Fox, conselheiro de Oliver Stone para o filme, e publicado no Sunday Times do passado dia 19.
Fox, num encontro com professores de Princeton, ouviu um destes contestar a ideia de Alexandre como colosso, pois ele fora responsável pela invasão de um antigo império do Médio Oriente e ter morto milhares de pessoas que se recusaram a render.
Claro, diz, Robin Lane Fox, o filme não é um documentário ou faz história, embora os historiadores devam ser permeáveis a novas interpretações. Isto porque, ainda segundo ele, não se pode olhar uma invasão há 2300 anos como se vê hoje, em termos de contextualização e consequências. E ele afasta-se das críticas ao estilo de penteado de Colin Farrel ou à vocalização de Angelina Jolie (apesar de americana, nascida em Los Angeles, eu próprio sai confuso da sala de cinema pensando qual o país de origem da actriz).
Mas, no interior da América, as críticas foram grandes. De um lado, a sinalização do tema face ao envolvimento de Bush no Iraque, como escrevi acima. Na antiguidade, a conquista fazia parte do caminho para a glória e Alexandre foi idolatrado como um deus por isso mesmo pelos gregos contemporâneos. Por outro lado, criticou-se a ênfase satânica (toda a iniciação de Alexandre feita pela mãe Olímpia, sempre rodeada de serpentes).
Em terceiro lugar, as relações bissexuais de Alexandre, em que se eleva Hefastion como o grande amor masculino do rei macedónio. Se os homossexuais do Canadá escreveram a Robin Lane Fox que Alexandre nunca teve nada a ver com mulheres ["Alexander was a one-way gay who had nothing to do with women"], alguns advogados gregos dispuseram-se a processar os autores do filme por mostrarem Alexandre como bissexual.
Outra crítica veio dos iranianos: a mulher de Alexandre (Roxana, interpretada por Rosario Dawson) era negra. Ou melhor, ela é uma mistura de raças, o que os iranianos não apreciaram. Eles prefeririam uma mulher loura e de olhos azuis, para estabelecer uma distinção entre os seus antepassados e a África. E havia ainda uma separação a construir do Irão face aos árabes. Nas cenas da batalha que opõem Dário a Alexandre, um dos animais de combate por parte do persa são os camelos. Fox foi acusado de ignorante por ter suposto haver antepassados beduínos (que usam camelos) entre os iranianos.
Além de tudo, surgia Aristóteles, tutor de Alexandre, a quem se atribuía a constatação de que as mulheres são incapazes de pensamento racional e que os bárbaros são escravos por natureza.
Nota: Robin Lane Fox é professor de história antiga e cássica no New College da Universidade de Oxford. Também ensina história do islamismo.
terça-feira, 21 de dezembro de 2004
AINDA SOBRE O LIVRO DE NICK LACEY
Já fiz aqui várias referências ao livro de Nick Lacey, Media institutions and audiences (2002). Pela sua simplicidade no tratamento das questões mas, em simultâneo, complexidade nos temas, trata-se de um bom manual para quem queira aprender a lidar com os media e as audiências. O livro de Lacey junta-se a dois outros que ele escreveu para a mesma editora, a Palgrave, na série "Key concepts in Media Studies", Image and representation (1998) e Narrative and genre (2000).
Lacey entende que os media não são simples mercadorias [commodities] mas também artefactos culturais. Multifacetados, podem alcançar o aspecto de objecto raro ou ainda de arte. Por exemplo, uma revista como a Raiz e Utopia, que eu aludia alguns dias atrás, tornou-se um bem raro, dado já não se editar há mais de vinte anos.
O autor salienta ainda que há textos criados sem a intenção inicial de gerar lucro, podendo alcançar o estatuto de obra de arte, e textos destinados a uma audiência-alvo e feitos para dar lucro. Ele pensa sobretudo no cinema, pelo que descreve o princípio da mercantilização dos filmes [imagem ao lado: texto publicado pelo autor na internet, no sítio ITP in picture].
Uma das formas de comercialização é a do merchandising. Por exemplo, A guerra das estrelas, episódio 1: a ameaça do fantasma (1999) teve 400 produtos diferentes associados ao filme. Podemos então dizer que o filme fornece uma nova dimensão ao merchandising: este terá atingido 150 milhões de libras comparadas com os apenas 7 milhões nas salas de cinema. No caso do filme Os dinossauros (2000), a Disney terá levado a que a promoção junto da McDonald’s rendesse 150 milhões de dólares. E destaca ainda o relançamento dos filmes da Looney Tunes através da exploração, pela Warner Bros, do canal Cartoon Network.
O merchandising foi fundamental em A guerra das estrelas - agora reeditado em DVD, com três filmes a custarem perto de €70. E,desde os finais dos anos 1990, os gestores de licenças e merchandising acentuaram o seu domínio sobre a edição de um filme, ao envolverem-se mais em cada etapa da escrita desse filme.
Uma segunda forma de vender produtos é através do product placement, no qual um dado produto aparece num filme sem qualquer vontade em o esconder. Assim, se uma personagem aparece no filme a pedir uma Superbock, sabemos que a cervejeira que produz esta marca pagou para o fazer.
Ver os filmes antes da sua estreia oficial é um modo de medir a reacção dos públicos, caminho que tenta assegurar que o filme garanta um êxito de bilheteira. É que tais audiências são pessoas pertencentes aos grupos-alvo a que o filme se destina e uma reacção negativa pode conduzir à necessidade de alterar profundamente a história.
Por estas razões de mercado, o acto de criatividade dos argumentistas e dos realizadores fica condicionado à influência dos gestores de marketing.
Já fiz aqui várias referências ao livro de Nick Lacey, Media institutions and audiences (2002). Pela sua simplicidade no tratamento das questões mas, em simultâneo, complexidade nos temas, trata-se de um bom manual para quem queira aprender a lidar com os media e as audiências. O livro de Lacey junta-se a dois outros que ele escreveu para a mesma editora, a Palgrave, na série "Key concepts in Media Studies", Image and representation (1998) e Narrative and genre (2000).
Lacey entende que os media não são simples mercadorias [commodities] mas também artefactos culturais. Multifacetados, podem alcançar o aspecto de objecto raro ou ainda de arte. Por exemplo, uma revista como a Raiz e Utopia, que eu aludia alguns dias atrás, tornou-se um bem raro, dado já não se editar há mais de vinte anos.
O autor salienta ainda que há textos criados sem a intenção inicial de gerar lucro, podendo alcançar o estatuto de obra de arte, e textos destinados a uma audiência-alvo e feitos para dar lucro. Ele pensa sobretudo no cinema, pelo que descreve o princípio da mercantilização dos filmes [imagem ao lado: texto publicado pelo autor na internet, no sítio ITP in picture].
Uma das formas de comercialização é a do merchandising. Por exemplo, A guerra das estrelas, episódio 1: a ameaça do fantasma (1999) teve 400 produtos diferentes associados ao filme. Podemos então dizer que o filme fornece uma nova dimensão ao merchandising: este terá atingido 150 milhões de libras comparadas com os apenas 7 milhões nas salas de cinema. No caso do filme Os dinossauros (2000), a Disney terá levado a que a promoção junto da McDonald’s rendesse 150 milhões de dólares. E destaca ainda o relançamento dos filmes da Looney Tunes através da exploração, pela Warner Bros, do canal Cartoon Network.
O merchandising foi fundamental em A guerra das estrelas - agora reeditado em DVD, com três filmes a custarem perto de €70. E,desde os finais dos anos 1990, os gestores de licenças e merchandising acentuaram o seu domínio sobre a edição de um filme, ao envolverem-se mais em cada etapa da escrita desse filme.
Uma segunda forma de vender produtos é através do product placement, no qual um dado produto aparece num filme sem qualquer vontade em o esconder. Assim, se uma personagem aparece no filme a pedir uma Superbock, sabemos que a cervejeira que produz esta marca pagou para o fazer.
Ver os filmes antes da sua estreia oficial é um modo de medir a reacção dos públicos, caminho que tenta assegurar que o filme garanta um êxito de bilheteira. É que tais audiências são pessoas pertencentes aos grupos-alvo a que o filme se destina e uma reacção negativa pode conduzir à necessidade de alterar profundamente a história.
Por estas razões de mercado, o acto de criatividade dos argumentistas e dos realizadores fica condicionado à influência dos gestores de marketing.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2004
GLICÍNIA QUARTIN
Foi uma cerimónia muito bonita a deste fim-de-tarde na Culturgest, em homenagem a Glicínia Quartin. Estavam lá muitos amigos e admiradores daquela senhora de oitenta anos, figura impar dos palcos, do cinema e da cultura nacional.
Gostei do que disse Jorge Silva Melo no palco do auditório pequeno, e também de Jorge Sampaio. Educadamente, o presidente da República rasgou o seu discurso, guardando os papéis no bolso do casaco, e falou de improviso (o actor aludira a um quadro que o inspirara mais Glícinia, quadro agora pertença de Sampaio, o que levou o presidente a dar mais detalhes).
Lêem-se, no pequeno desdobrável (de que reproduzo aqui três das suas quatro faces), alguns aspectos da vida da actriz, que quis ir para Letras, passou por Agronomia mas acabou em Biologia, embora toda a sua vida fosse o teatro: "A sua família, o anarco-sindicalismo, a Escola-Oficina nº 1, as leituras em casa dos pais, as prisões, o Mud juvenil, os teatros experimentais".
Conversas com Glicínia, o documentário assinado por Jorge Silva Melo - exibido no auditório grande, pois a assistência esgotara há muito o outro espaço -, é uma amostra "esquinuda", segundo o realizador e homem do teatro Artistas Unidos, da vida e das vivências de Glicínia Quartin, filha do jornalista Pinto Quartin.
Onde passam memórias da infância (Vila Souza, à Graça), o encontro com o teatro (Amélia Rey Colaço, Palmira Bastos, Maria Barroso e, muito mais tarde, Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo, da Cornucópia, a sua casa nestes últimos 30 anos), com a política (como Mário Soares), com a pintura (os surrealistas e o cadavre-exquis na parede da sua casa), a passagem pelos cafés (o Chave d'Ouro), a sua estada em Itália (e o conhecimento com Fellini), com o cinema (como o Dom Roberto, de Ernesto de Sousa, e com Raul Solnado no principal papel masculino).
Aos 80 anos, aquela mulher - que, na juventude, não gostava muito da sua boca grande - aparece no documentário com muita energia e uma enorme memória dos sítios e das pessoas que passaram ao longo da sua vida. Foi, repito, uma cerimónia inesquecível. As ovações, na altura da atribuição de uma condecoração pelo presidente Sampaio e no final do filme, foram mais que merecidas.
Foi uma cerimónia muito bonita a deste fim-de-tarde na Culturgest, em homenagem a Glicínia Quartin. Estavam lá muitos amigos e admiradores daquela senhora de oitenta anos, figura impar dos palcos, do cinema e da cultura nacional.
Gostei do que disse Jorge Silva Melo no palco do auditório pequeno, e também de Jorge Sampaio. Educadamente, o presidente da República rasgou o seu discurso, guardando os papéis no bolso do casaco, e falou de improviso (o actor aludira a um quadro que o inspirara mais Glícinia, quadro agora pertença de Sampaio, o que levou o presidente a dar mais detalhes).
Lêem-se, no pequeno desdobrável (de que reproduzo aqui três das suas quatro faces), alguns aspectos da vida da actriz, que quis ir para Letras, passou por Agronomia mas acabou em Biologia, embora toda a sua vida fosse o teatro: "A sua família, o anarco-sindicalismo, a Escola-Oficina nº 1, as leituras em casa dos pais, as prisões, o Mud juvenil, os teatros experimentais".
Conversas com Glicínia, o documentário assinado por Jorge Silva Melo - exibido no auditório grande, pois a assistência esgotara há muito o outro espaço -, é uma amostra "esquinuda", segundo o realizador e homem do teatro Artistas Unidos, da vida e das vivências de Glicínia Quartin, filha do jornalista Pinto Quartin.
Onde passam memórias da infância (Vila Souza, à Graça), o encontro com o teatro (Amélia Rey Colaço, Palmira Bastos, Maria Barroso e, muito mais tarde, Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo, da Cornucópia, a sua casa nestes últimos 30 anos), com a política (como Mário Soares), com a pintura (os surrealistas e o cadavre-exquis na parede da sua casa), a passagem pelos cafés (o Chave d'Ouro), a sua estada em Itália (e o conhecimento com Fellini), com o cinema (como o Dom Roberto, de Ernesto de Sousa, e com Raul Solnado no principal papel masculino).
Aos 80 anos, aquela mulher - que, na juventude, não gostava muito da sua boca grande - aparece no documentário com muita energia e uma enorme memória dos sítios e das pessoas que passaram ao longo da sua vida. Foi, repito, uma cerimónia inesquecível. As ovações, na altura da atribuição de uma condecoração pelo presidente Sampaio e no final do filme, foram mais que merecidas.
CADEIA DE VALOR DO AUDIOVISUAL
Fiz aqui, no dia 17, referência ao último número da revista Observatório, do Obercom, dedicado ao tema em título. Trata-se de um importante documento de trabalho, a estudar e discutir nos espaços específicos, nomeadamente na universidade.
Metodologias e capítulos
Destaco a operacionalização do conceito de cadeia de valor, que partiu de Michael Porter (1985), quando este a introduziu para se compreender a vantagem competitiva. Os estudos presentes no número da Observatório (2004: pp. 25-26) incluem a análise dos seguintes trabalhos: 1) Zerdick et al. (2000), que a aplicaram ao sector dos media, combinando as várias fases da cadeia de valor com as fontes de retorno do investimento; 2) Banco de Investimento Europeu (2001), que aplicou o conceito do estudo anterior ao cinema, diluindo a a fase do pré-financiamento na pré-produção através da introdução do estádio de desenvolvimento; 3) Arthur Andersen (2002); PIRA International (2003), não apoiada em estruturas horizontais e verticais mas numa óptica de interdependência. O conceito de cadeia de valor, apresentado no capítulo 2, surge mais bem desenvolvido no capítulo 4.
[quadro retirado do estudo da consultora Arthur Andersen (2002). Outlook of the development of technologies and markets for the European Audiovisual sector up to 2010; ver o relatório em Andersen]
Já o capítulo 3 traça a distinção entre duas abordagens principais de classificação: 1) americana, baseada na NAICS, North American Industrial Classification System (2002), que aponta para as rápidas evoluções tecnológicas, industriais e empresariais e engloba as indústrias do audiovisual na macro-classificação da informação; 2) europeia, assente na NACE, Nomenclatura Estatística das Actividades Económicas da União Europeia, mas também no relatório do Banco Europeu de Investimento e no Observatório Europeu do Audiovisual, em que este último opta por uma identificação em cinco ramos: cinema, televisão, vídeo, publicidade e produção institucional e educacional, e multimedia.
Os capítulos 5 (aplicações do conceito de cadeia de valor, ou declinações como surge no texto do Obercom, às várias indústrias do audiovisual) e 6 (aplicações às indústrias do audiovisual em Portugal) completam o estudo.
As metodologias empregues no estudo de Carla Martins e colegas para o Obercom foram: análise documental, entrevistas com observadores qualificados do sector, avaliação de experiências internacionais e painel composto por representantes de várias entidades.
Leitura: Obercom (2004). "A cadeia de valor do audiovisual". Obercom, 9. 84 páginas, €10. A equipa que produziu o estudo é composta por Carla Martins (investigadora principal), Maria João Taborda e Nuno Conde. Integram ainda a equipa: Fausto Amaro, Luís Landerset Cardoso e Maria João Cunha (projecto Media e Comunicações).
Fiz aqui, no dia 17, referência ao último número da revista Observatório, do Obercom, dedicado ao tema em título. Trata-se de um importante documento de trabalho, a estudar e discutir nos espaços específicos, nomeadamente na universidade.
Metodologias e capítulos
Destaco a operacionalização do conceito de cadeia de valor, que partiu de Michael Porter (1985), quando este a introduziu para se compreender a vantagem competitiva. Os estudos presentes no número da Observatório (2004: pp. 25-26) incluem a análise dos seguintes trabalhos: 1) Zerdick et al. (2000), que a aplicaram ao sector dos media, combinando as várias fases da cadeia de valor com as fontes de retorno do investimento; 2) Banco de Investimento Europeu (2001), que aplicou o conceito do estudo anterior ao cinema, diluindo a a fase do pré-financiamento na pré-produção através da introdução do estádio de desenvolvimento; 3) Arthur Andersen (2002); PIRA International (2003), não apoiada em estruturas horizontais e verticais mas numa óptica de interdependência. O conceito de cadeia de valor, apresentado no capítulo 2, surge mais bem desenvolvido no capítulo 4.
[quadro retirado do estudo da consultora Arthur Andersen (2002). Outlook of the development of technologies and markets for the European Audiovisual sector up to 2010; ver o relatório em Andersen]
Já o capítulo 3 traça a distinção entre duas abordagens principais de classificação: 1) americana, baseada na NAICS, North American Industrial Classification System (2002), que aponta para as rápidas evoluções tecnológicas, industriais e empresariais e engloba as indústrias do audiovisual na macro-classificação da informação; 2) europeia, assente na NACE, Nomenclatura Estatística das Actividades Económicas da União Europeia, mas também no relatório do Banco Europeu de Investimento e no Observatório Europeu do Audiovisual, em que este último opta por uma identificação em cinco ramos: cinema, televisão, vídeo, publicidade e produção institucional e educacional, e multimedia.
Os capítulos 5 (aplicações do conceito de cadeia de valor, ou declinações como surge no texto do Obercom, às várias indústrias do audiovisual) e 6 (aplicações às indústrias do audiovisual em Portugal) completam o estudo.
As metodologias empregues no estudo de Carla Martins e colegas para o Obercom foram: análise documental, entrevistas com observadores qualificados do sector, avaliação de experiências internacionais e painel composto por representantes de várias entidades.
Leitura: Obercom (2004). "A cadeia de valor do audiovisual". Obercom, 9. 84 páginas, €10. A equipa que produziu o estudo é composta por Carla Martins (investigadora principal), Maria João Taborda e Nuno Conde. Integram ainda a equipa: Fausto Amaro, Luís Landerset Cardoso e Maria João Cunha (projecto Media e Comunicações).
domingo, 19 de dezembro de 2004
CAMPANHAS DE COMUNICAÇÃO PÚBLICA
A primeira notícia da edição de hoje do Sunday Times indica que, apesar das campanhas públicas de comunicação para uma melhor alimentação, um estudo veio demonstrar que se come cada vez pior no Reino Unido.
Redução de refeições completas, substituidas por alimentos fritos, menor consumo de legumes e de fruta e menos exercícios físicos estão entre os indicadores do estudo do University College de Londres a 11341 inquiridos, todos nascidos em 1958, durante uma década, e agora publicado na European Journal of Clinical Nutrition, indica o jornal. Os investigadores apontam para um fracasso completo das campanhas de comunicação pública de sucessivos governos em termos de mensagens para uma melhor alimentação.
Tipos de campanha
Retiro uma parcela da minha tese de doutoramento, onde escrevi sobre campanhas de comunicação pública:
A comunicação de risco em saúde pública tem sido uma área de forte investimento (Singer e Endreny, 1993; Gray, Stern e Biocca, 1998). Algumas campanhas de comunicação pública na prevenção de doenças tiveram início nos anos 70 ou mesmo mais cedo – coração, tabaco, mortalidade infantil –, enquanto na década seguinte se desenrolaram outras em áreas diferentes, como a cárie dentária, os acidentes rodoviários e o VIH-sida.
Desenhada a pensar numa audiência, uma campanha pública de comunicação opera num determinado período de tempo e envolve acções organizadas, com as mensagens a constituírem o objectivo instrumental da informação terapêutica para o público espectador ou leitor, como acentuam Tulloch e Lupton (1997: 29).
As estratégias das campanhas incluem o uso dos media noticiosos e outros meios, como painéis publicitários, para aumentarem a visibilidade, numa combinação de estratégias mediáticas e interpessoais, a segmentação em grupos-alvo, o uso frequente de líderes de opinião e de programas de entretenimento, com mensagens simples e claras. Backer et al. (1992: 32) realçam a importância da repetição de uma única mensagem, com o recurso a técnicas de marketing, imagens de forte impacto em ambiente afirmativo, assim como a comunicação de incentivos ou benefícios na adopção dos comportamentos desejados. Uma campanha pública tem duas frentes – publicidade e relações públicas – e cruza os esforços no sentido da promoção da entidade organizadora, com a reacção dos outros agentes sociais em campo, quer as organizações não governamentais quer os jornalistas.
Teoricamente, o mundo seria perfeito: a opinião pública formava-se a partir de um centro politicamente correcto, que funcionaria a par da excelência da escola e dos media. [imagens: publicidade de bebidas alcoólicas em mupis da Av. de Roma, Lisboa]
Mas a realidade é mais complexa. Vivemos num campo social, como não se cansava de repetir Pierre Bourdieu, exemplificando com poderes dominantes e agentes dominados, numa concorrência permanente. Assim, por muito perfeita que uma campanha de comunicação pública seja, o mercado e o apelo constante ao consumo derruba com facilidade a formação contida na informação das campanhas. Por isso, conduz-se cada vez mais selvaticamente, apesar das campanhas de "se conduzir não beba". Os anúncios dos fabricantes de bebidas corrigem e escrevem: "beba, mas com moderação". E onde está a medida justa da moderação? [eu próprio, três posts atrás, fiz publicidade a um filme e a uma cadeia de comida fast-food. Ele é muito difícil descodificarmos e fugirmos às mensagens de mais consumo].
Bibliografia
Backer, Thomas, Everett Rogers e Pradeep Sopory (1992). Designing health communication campaigns: what works?. Newbury Park, Londres e Nova Deli: Sage
Gray, Philip C. R., Richard M. Stern e Marco Biocca (1998). Communicating about risks to environment and health in Europe. Dordrecht, Boston e Londres: Kluwer Academic Publishers
Tulloch, John, e Deborah Lupton (1997). Television, AIDS and risk. St Leonards: Allen & Unwin Pty
Singer, Eleanor, e Phyllis M. Endreny (1993). How the mass media portray accidents, diseases, disasters and other hazards. Nova Iorque: Russel Sage Foundation
A primeira notícia da edição de hoje do Sunday Times indica que, apesar das campanhas públicas de comunicação para uma melhor alimentação, um estudo veio demonstrar que se come cada vez pior no Reino Unido.
Redução de refeições completas, substituidas por alimentos fritos, menor consumo de legumes e de fruta e menos exercícios físicos estão entre os indicadores do estudo do University College de Londres a 11341 inquiridos, todos nascidos em 1958, durante uma década, e agora publicado na European Journal of Clinical Nutrition, indica o jornal. Os investigadores apontam para um fracasso completo das campanhas de comunicação pública de sucessivos governos em termos de mensagens para uma melhor alimentação.
Tipos de campanha
Retiro uma parcela da minha tese de doutoramento, onde escrevi sobre campanhas de comunicação pública:
A comunicação de risco em saúde pública tem sido uma área de forte investimento (Singer e Endreny, 1993; Gray, Stern e Biocca, 1998). Algumas campanhas de comunicação pública na prevenção de doenças tiveram início nos anos 70 ou mesmo mais cedo – coração, tabaco, mortalidade infantil –, enquanto na década seguinte se desenrolaram outras em áreas diferentes, como a cárie dentária, os acidentes rodoviários e o VIH-sida.
Desenhada a pensar numa audiência, uma campanha pública de comunicação opera num determinado período de tempo e envolve acções organizadas, com as mensagens a constituírem o objectivo instrumental da informação terapêutica para o público espectador ou leitor, como acentuam Tulloch e Lupton (1997: 29).
As estratégias das campanhas incluem o uso dos media noticiosos e outros meios, como painéis publicitários, para aumentarem a visibilidade, numa combinação de estratégias mediáticas e interpessoais, a segmentação em grupos-alvo, o uso frequente de líderes de opinião e de programas de entretenimento, com mensagens simples e claras. Backer et al. (1992: 32) realçam a importância da repetição de uma única mensagem, com o recurso a técnicas de marketing, imagens de forte impacto em ambiente afirmativo, assim como a comunicação de incentivos ou benefícios na adopção dos comportamentos desejados. Uma campanha pública tem duas frentes – publicidade e relações públicas – e cruza os esforços no sentido da promoção da entidade organizadora, com a reacção dos outros agentes sociais em campo, quer as organizações não governamentais quer os jornalistas.
Teoricamente, o mundo seria perfeito: a opinião pública formava-se a partir de um centro politicamente correcto, que funcionaria a par da excelência da escola e dos media. [imagens: publicidade de bebidas alcoólicas em mupis da Av. de Roma, Lisboa]
Mas a realidade é mais complexa. Vivemos num campo social, como não se cansava de repetir Pierre Bourdieu, exemplificando com poderes dominantes e agentes dominados, numa concorrência permanente. Assim, por muito perfeita que uma campanha de comunicação pública seja, o mercado e o apelo constante ao consumo derruba com facilidade a formação contida na informação das campanhas. Por isso, conduz-se cada vez mais selvaticamente, apesar das campanhas de "se conduzir não beba". Os anúncios dos fabricantes de bebidas corrigem e escrevem: "beba, mas com moderação". E onde está a medida justa da moderação? [eu próprio, três posts atrás, fiz publicidade a um filme e a uma cadeia de comida fast-food. Ele é muito difícil descodificarmos e fugirmos às mensagens de mais consumo].
Bibliografia
Backer, Thomas, Everett Rogers e Pradeep Sopory (1992). Designing health communication campaigns: what works?. Newbury Park, Londres e Nova Deli: Sage
Gray, Philip C. R., Richard M. Stern e Marco Biocca (1998). Communicating about risks to environment and health in Europe. Dordrecht, Boston e Londres: Kluwer Academic Publishers
Tulloch, John, e Deborah Lupton (1997). Television, AIDS and risk. St Leonards: Allen & Unwin Pty
Singer, Eleanor, e Phyllis M. Endreny (1993). How the mass media portray accidents, diseases, disasters and other hazards. Nova Iorque: Russel Sage Foundation
OBRIGADO, OUTRA VEZ, A PACHECO PEREIRA
Manifesto o meu grande reconhecimento a José Pacheco Pereira (JPP), do blogue Abrupto, pela nova referência a este blogue. JPP considera o I.C. "um bom exemplo de jornalismo especializado que complementa em tempo útil (uma forma «útil» do tempo real) o que (não) vem nos jornais". Os meus alunos da Universidade Católica Portuguesa também agradecem, pois este trabalho - que ocupa horas sem conta - é a eles dedicado.
Fico ainda contente por JPP me ter colocado entre outros blogues ou páginas de internet em que me revejo, nomeadamente a página do Clube dos Jornalistas.
Um leitor atento dos escritos de Pacheco Pereira (artigos, livros).
Manifesto o meu grande reconhecimento a José Pacheco Pereira (JPP), do blogue Abrupto, pela nova referência a este blogue. JPP considera o I.C. "um bom exemplo de jornalismo especializado que complementa em tempo útil (uma forma «útil» do tempo real) o que (não) vem nos jornais". Os meus alunos da Universidade Católica Portuguesa também agradecem, pois este trabalho - que ocupa horas sem conta - é a eles dedicado.
Fico ainda contente por JPP me ter colocado entre outros blogues ou páginas de internet em que me revejo, nomeadamente a página do Clube dos Jornalistas.
Um leitor atento dos escritos de Pacheco Pereira (artigos, livros).
CAPAS DAS REVISTAS DOMINICAIS
No jornal Público de hoje (p. 49), José Rebelo escreve um importante artigo sobre o jornal francês Le Monde. Diz, quase a finalizar o artigo, que "O Le Monde de hoje é muito diferente daquele, provocantemente sóbrio e arrogantemente virado para o estrangeiro, que me abriu as portas [do tempo em que José Rebelo lá trabalhou, durante muitos anos]. Hoje, as suas páginas são ilustradas e coloridas. Predomina a política interna. E não se descura o fait-divers" [colorido meu].
Confesso que me seduzem as revistas dominicais, ilustradas e coloridas, em que alguns artigos são escritos de modo mais leve que as análises profundas que ainda felizmente encontramos nos jornais de referência. Muitos dos textos ali encontrados são reportagens, entrevistas e também artigos de fundo escritos por colaboradores cujo pefil profissional se situa entre o intelectual e o jornalista.
Selecciono, dos jornais que li hoje, as capas das revistas do Sunday Times e do El Pais. Na primeira, obtenho informação do filme de Scorsese sobre a vida de Howard Hughes, com Leonardo DiCaprio no papel principal, com uma bela fotografia em que se vê DiCaprio diante de microfones (tratar-se-ia de uma conferência de imprensa em que a rádio estava em peso).
Na segunda das revistas, assinala-se a comemoração dos 400 anos de Dom Quixote, com percursos de Alonso, o herói de Cervantes, quase desde Real Ciudad até Barcelona, passando por Teruel, Saragoça e Lérida, bem como a descrição do moinho de vento do séc. XVI. Hoje, Dom Quixote seria solteirão, Sancho Pança um empregado gordinho, a bela Dulcineia trabalharia num bar de alterne e o Rocinante continuava como cavalo. E, quanto à paisagem da Mancha, permanecem o sol, as ovelhas e os campos ondulantes, mas mudou a presença humana: os pastores podem ser agora romenos.
No jornal Público de hoje (p. 49), José Rebelo escreve um importante artigo sobre o jornal francês Le Monde. Diz, quase a finalizar o artigo, que "O Le Monde de hoje é muito diferente daquele, provocantemente sóbrio e arrogantemente virado para o estrangeiro, que me abriu as portas [do tempo em que José Rebelo lá trabalhou, durante muitos anos]. Hoje, as suas páginas são ilustradas e coloridas. Predomina a política interna. E não se descura o fait-divers" [colorido meu].
Confesso que me seduzem as revistas dominicais, ilustradas e coloridas, em que alguns artigos são escritos de modo mais leve que as análises profundas que ainda felizmente encontramos nos jornais de referência. Muitos dos textos ali encontrados são reportagens, entrevistas e também artigos de fundo escritos por colaboradores cujo pefil profissional se situa entre o intelectual e o jornalista.
Selecciono, dos jornais que li hoje, as capas das revistas do Sunday Times e do El Pais. Na primeira, obtenho informação do filme de Scorsese sobre a vida de Howard Hughes, com Leonardo DiCaprio no papel principal, com uma bela fotografia em que se vê DiCaprio diante de microfones (tratar-se-ia de uma conferência de imprensa em que a rádio estava em peso).
Na segunda das revistas, assinala-se a comemoração dos 400 anos de Dom Quixote, com percursos de Alonso, o herói de Cervantes, quase desde Real Ciudad até Barcelona, passando por Teruel, Saragoça e Lérida, bem como a descrição do moinho de vento do séc. XVI. Hoje, Dom Quixote seria solteirão, Sancho Pança um empregado gordinho, a bela Dulcineia trabalharia num bar de alterne e o Rocinante continuava como cavalo. E, quanto à paisagem da Mancha, permanecem o sol, as ovelhas e os campos ondulantes, mas mudou a presença humana: os pastores podem ser agora romenos.
sábado, 18 de dezembro de 2004
AUDIÊNCIAS DOS FILMES ENTRE 2 E 12 DE DEZEMBRO
O filme mais visto nesta semana (2 a 12 de Dezembro) foi Alexandre o Grande, de Oliver Stone, com 37438 espectadores,segundo o ICAM (bilheteiras informatizadas) [uma informação que me chegou entretanto indica que o número de espectadores já terá ultrapassado os cem mil].
Seguiram-se os filmes The incredibles, de Brad Bird, com 31417 espectadores [na imagem o super-herói bebé, um dos brindes da McDonald's, produto da associação desta empresa de fast-food com a empresa produtora do filme], e O novo diário de Bridget Jones, de Beeban Kidroon, com 14264 espectadores.
O filme mais visto nesta semana (2 a 12 de Dezembro) foi Alexandre o Grande, de Oliver Stone, com 37438 espectadores,segundo o ICAM (bilheteiras informatizadas) [uma informação que me chegou entretanto indica que o número de espectadores já terá ultrapassado os cem mil].
Seguiram-se os filmes The incredibles, de Brad Bird, com 31417 espectadores [na imagem o super-herói bebé, um dos brindes da McDonald's, produto da associação desta empresa de fast-food com a empresa produtora do filme], e O novo diário de Bridget Jones, de Beeban Kidroon, com 14264 espectadores.
TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO, BLOGUES, TELETRABALHO E OUTROS TEMAS
Hoje, de manhã, estive em aula da cadeira ministrada pelo dr. Rui Marques na licenciatura de Comunicação Social e Cultural da Universidade Católica. Presente também o dr. Diogo de Vasconcelos, presidente da Unidade de Missão Inovação e Conhecimento.
De que tratava a aula? Da apresentação de trabalhos de fim de semestre das(os) alunas(os). Porque o tema me interessava, participei na discussão (e fiquei muito agradado porque os trabalhos divulgados tinham muita qualidade, o que quer dizer que vou ter igualmente bons trabalhos para avaliar na cadeira de Públicos e Audiências). Os temas andaram à volta do teletrabalho, impacto da internet na educação das crianças, chats e blogues e comércio electrónico.
Entre os chats e os blogues
Um blogue tem "campos distintos para título, lead/entrada e corpo da notícia, permite hipertexto e hipermedia, ordena/destaca as notícias pelo critério mais adequado ao meio – a actualidade, cria automaticamente arquivos e categorias (por datas e temas), com publicação imediata", factores que credibilizam os blogues enquanto forma activa de jornalismo e de política (Filipe Quádrio). Para ele, um blogue assume-se como um espaço de ruptura e de protagonismo recente.
Quanto a Marta Rodrigues, ela prefere acentuar o papel de comunidade e de combate à solidão que a internet - e por via disso os chats e os blogues - produz na sociedade. E destaca a comunidade como: 1) partilha de um fim ou bem comum, 2) tratamento igual de todos os indivíduos que a ela pertencem, 3) lealdade para com os seus ideais, 4) liberdade para criar e praticar as suas formas de vida. O sucesso dos blogues relaciona-se intimamente à criação de comunidades, em que os espaços para comentários são vitais para a existência dessas comunidades.
Liberdade de expressão foi o tema escolhido por Bernardo Silva. Ele entende o surgimento dos blogues (e também dos chats) como ferramentas que quebram com o uso tradicional dos media, permitindo que qualquer indivíduo expresse uma opinião sem se identificar, com fácil acesso, imaginação, ausência de mediação, barreiras e marginalização. Valorização dos direitos e liberdades individuais, abertura intelectual e emocional, direito à privacidade, imediatismo da informação e formação de opiniões e correntes são algumas outras das características principais elencadas pelo mesmo.
Já Liliana Pinto, que analisou os direitos de autor, citaria Luís António Santos, do blogue Atrium, para quem a "auto-regulação nos blogues determina a nossa aceitação ou não numa determinada comunidade. [...] tanto quanto me é dado perceber, essa aceitação passa sempre por uma postura voluntariosa e, na generalidade, honesta. A blogosfera é - nesse sentido - um espaço de franqueza, em muitas situações até, estendida para além do aceitável em termos de regular comportamento social". Finalmente, Inês Beirão destacou a veracidade da informação nos chats e nos blogues.
Trabalho de pesquisa documental e uso de pequeno inquérito como metodologias e enquadramento pedagógico e histórico, análise política (no sentido nobre do termo) e questões éticas e de direitos de autor como ângulos de estudo de blogues e chats foram as abordagens destes trabalhos. Seria uma manhã de trabalho intenso mas muito gostoso. Parabéns ao dr. Rui Marques e aos seus alunos!
Hoje, de manhã, estive em aula da cadeira ministrada pelo dr. Rui Marques na licenciatura de Comunicação Social e Cultural da Universidade Católica. Presente também o dr. Diogo de Vasconcelos, presidente da Unidade de Missão Inovação e Conhecimento.
De que tratava a aula? Da apresentação de trabalhos de fim de semestre das(os) alunas(os). Porque o tema me interessava, participei na discussão (e fiquei muito agradado porque os trabalhos divulgados tinham muita qualidade, o que quer dizer que vou ter igualmente bons trabalhos para avaliar na cadeira de Públicos e Audiências). Os temas andaram à volta do teletrabalho, impacto da internet na educação das crianças, chats e blogues e comércio electrónico.
Entre os chats e os blogues
Um blogue tem "campos distintos para título, lead/entrada e corpo da notícia, permite hipertexto e hipermedia, ordena/destaca as notícias pelo critério mais adequado ao meio – a actualidade, cria automaticamente arquivos e categorias (por datas e temas), com publicação imediata", factores que credibilizam os blogues enquanto forma activa de jornalismo e de política (Filipe Quádrio). Para ele, um blogue assume-se como um espaço de ruptura e de protagonismo recente.
Quanto a Marta Rodrigues, ela prefere acentuar o papel de comunidade e de combate à solidão que a internet - e por via disso os chats e os blogues - produz na sociedade. E destaca a comunidade como: 1) partilha de um fim ou bem comum, 2) tratamento igual de todos os indivíduos que a ela pertencem, 3) lealdade para com os seus ideais, 4) liberdade para criar e praticar as suas formas de vida. O sucesso dos blogues relaciona-se intimamente à criação de comunidades, em que os espaços para comentários são vitais para a existência dessas comunidades.
Liberdade de expressão foi o tema escolhido por Bernardo Silva. Ele entende o surgimento dos blogues (e também dos chats) como ferramentas que quebram com o uso tradicional dos media, permitindo que qualquer indivíduo expresse uma opinião sem se identificar, com fácil acesso, imaginação, ausência de mediação, barreiras e marginalização. Valorização dos direitos e liberdades individuais, abertura intelectual e emocional, direito à privacidade, imediatismo da informação e formação de opiniões e correntes são algumas outras das características principais elencadas pelo mesmo.
Já Liliana Pinto, que analisou os direitos de autor, citaria Luís António Santos, do blogue Atrium, para quem a "auto-regulação nos blogues determina a nossa aceitação ou não numa determinada comunidade. [...] tanto quanto me é dado perceber, essa aceitação passa sempre por uma postura voluntariosa e, na generalidade, honesta. A blogosfera é - nesse sentido - um espaço de franqueza, em muitas situações até, estendida para além do aceitável em termos de regular comportamento social". Finalmente, Inês Beirão destacou a veracidade da informação nos chats e nos blogues.
Trabalho de pesquisa documental e uso de pequeno inquérito como metodologias e enquadramento pedagógico e histórico, análise política (no sentido nobre do termo) e questões éticas e de direitos de autor como ângulos de estudo de blogues e chats foram as abordagens destes trabalhos. Seria uma manhã de trabalho intenso mas muito gostoso. Parabéns ao dr. Rui Marques e aos seus alunos!
sexta-feira, 17 de dezembro de 2004
MEDIA & JORNALISMO
Chegou-me agora às mãos o número 5, da revista Media & Jornalismo, do CIMJ (Centro de Investigação Media e Jornalismo), editada pela MinervaCoimbra. O tema de capa é As mulheres e os media.
O motivo da belíssima capa, da EPA/LUSA, tratada por Paulo Oliveira/PMP, representa o despejo do jornal diário gratuito METRO nas ruas de Paris, por membros da CGT.
Os dois primeiros textos, de leitura obrigatória, pertencem a Maria João Silveirinha (Universidade de Coimbra) e Janice Winship (Universidade de Sussex). Aconselho também a leitura da entrevista feita a Mica Nava por Cláudia Álvares. A revista tem ainda muitos mais motivos importantes de leitura.
Chegou-me agora às mãos o número 5, da revista Media & Jornalismo, do CIMJ (Centro de Investigação Media e Jornalismo), editada pela MinervaCoimbra. O tema de capa é As mulheres e os media.
O motivo da belíssima capa, da EPA/LUSA, tratada por Paulo Oliveira/PMP, representa o despejo do jornal diário gratuito METRO nas ruas de Paris, por membros da CGT.
Os dois primeiros textos, de leitura obrigatória, pertencem a Maria João Silveirinha (Universidade de Coimbra) e Janice Winship (Universidade de Sussex). Aconselho também a leitura da entrevista feita a Mica Nava por Cláudia Álvares. A revista tem ainda muitos mais motivos importantes de leitura.
FALAR TELEVISÃO: O MELHOR E O PIOR EM 2004
Decorreu ontem à noite no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz o último colóquio de 2004 do Falar televisão, organizado por José Carlos Abrantes e pelo CIMJ.
Presentes, além do organizador e moderador, ao centro da fotografia, Miguel Gaspar, crítico de televisão e editor de media do Diário de Notícias, à esquerda, Maria Emília Brederode dos Santos, professora e autora pedagógica de programas educativos (entre os quais se inseriu a direcção da Rua Sésamo), Eduardo Cintra Torres, professor universitário e crítico de televisão no Público, e Francisco Teixeira da Mota, advogado e colunista no Público, à direita da imagem.
Aspectos negativos
Quanto ao pior da televisão em 2004, Eduardo Cintra Torres destacou: 1) influência de Santana Lopes na televisão (que provocou os afastamentos de Marcelo Rebelo de Sousa e de José Rodrigues dos Santos), 2) afunilamento da televisão generalista em 3 a 4 géneros, com modelos pouco abertos, 3) campanha eleitoral das Europeias, 4) programa 1,2,3, 5) eleição da Miss Portugal (SIC), 6) casamento do herdeiro do trono de Espanha, 7) campanha do PS no mercado de Matosinhos, 8) ausência de imagens nos 60 anos de desembarque na Normandia (II Guerra Mundial), 9) duas entrevistas de Santana Lopes à RTP.
Por seu lado, para Miguel Gaspar os maus momentos da televisão foram: 1) ausência de boa produção de documentários, 2) estagnação, pois tudo tem girado à volta de quatro géneros - futebol, telenovela, reality-show, informação, 3) consolidação do reality-show como género industrializado, 4) programas de humor (mas sem humor), 5) projecto da 2:, porque não passou das intenções do ideário novo, 6) gestão de fúria da intervenção dos media por parte dos governantes.
Maria Emília Brederode dos Santos acentuou a ausência da dimensão educativa no canal público. Para ela, é importante a existência de programas educativos para além dos destinados às crianças e adolescentes, caso de programas de língua portuguesa para os imigrantes (como os do leste europeu). Ao contrário de Cintra Torres, a pedagoga entende que a bandeira da 2: como abertura à sociedade civil não passou disso. Das duas últimas notas negativas, uma é da não produção de programas de stock, que possam ser reutilizados, e a outra é a do encerramento do canal Arte no cabo.
Aspectos positivos da televisão em 2004
Para Eduardo Cintra Torres, o melhor da televisão em 2004 foi: 1) alteração do paradigma do serviço público da 2: e continuação da recuperação financeira do canal público, 2) dos programas, entre outros, o Gato Fedorento (SIC), Magazine Cultural (SIC Radical), Páginas soltas (SIC Notícias), 3) documentário Portugal um retrato, com análise ambiental, por razões estéticas e temáticas, 4) programa estrangeiro Sopranos, 5) cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, 6) realizador Espírito Santo, por não ter filmado as imagens da morte do jogador Feher no campo desportivo, 7) Emídio Rangel, enquanto autor das criaturas Santana & Sócrates.
De positivo, Miguel Gaspar elencou a polémica que envolveu a saída de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI, porque mostrou que a sociedade civil está atenta à presença (ou ausência) da liberdade de escolha. Também deu destaque aos blogues, como modo alternativo aos media tradicionais, e que (conjuntamente com a internet em geral e os telemóveis) está a contribuir para a perda de centralidade da televisão. Salientou ainda projectos potenciais, como o programa Gato Fedorento e a produção externa da SIC em comédias, bem como a Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS) que, como último sopro de vida, interveio no caso de Marcelo. Miguel Gaspar apontaria ainda a necessidade da criação de um novo regulador (que terá competências presentes actualmente na AACS e no Instituto de Comunicação Social).
Já Maria Emília Brederode dos Santos viu como aspectos bons da programação de 2004: 1) programação infantil de Teresa Paixão, 2) protocolo de acesso dos fundos, 3) liderança da informação por parte da SIC Notícias, 4) melhor qualidade da SIC Mulher e da SIC Radical nos canais de cabo, 5) criação do canal Memória da RTP.
Decorreu ontem à noite no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz o último colóquio de 2004 do Falar televisão, organizado por José Carlos Abrantes e pelo CIMJ.
Presentes, além do organizador e moderador, ao centro da fotografia, Miguel Gaspar, crítico de televisão e editor de media do Diário de Notícias, à esquerda, Maria Emília Brederode dos Santos, professora e autora pedagógica de programas educativos (entre os quais se inseriu a direcção da Rua Sésamo), Eduardo Cintra Torres, professor universitário e crítico de televisão no Público, e Francisco Teixeira da Mota, advogado e colunista no Público, à direita da imagem.
Aspectos negativos
Quanto ao pior da televisão em 2004, Eduardo Cintra Torres destacou: 1) influência de Santana Lopes na televisão (que provocou os afastamentos de Marcelo Rebelo de Sousa e de José Rodrigues dos Santos), 2) afunilamento da televisão generalista em 3 a 4 géneros, com modelos pouco abertos, 3) campanha eleitoral das Europeias, 4) programa 1,2,3, 5) eleição da Miss Portugal (SIC), 6) casamento do herdeiro do trono de Espanha, 7) campanha do PS no mercado de Matosinhos, 8) ausência de imagens nos 60 anos de desembarque na Normandia (II Guerra Mundial), 9) duas entrevistas de Santana Lopes à RTP.
Por seu lado, para Miguel Gaspar os maus momentos da televisão foram: 1) ausência de boa produção de documentários, 2) estagnação, pois tudo tem girado à volta de quatro géneros - futebol, telenovela, reality-show, informação, 3) consolidação do reality-show como género industrializado, 4) programas de humor (mas sem humor), 5) projecto da 2:, porque não passou das intenções do ideário novo, 6) gestão de fúria da intervenção dos media por parte dos governantes.
Maria Emília Brederode dos Santos acentuou a ausência da dimensão educativa no canal público. Para ela, é importante a existência de programas educativos para além dos destinados às crianças e adolescentes, caso de programas de língua portuguesa para os imigrantes (como os do leste europeu). Ao contrário de Cintra Torres, a pedagoga entende que a bandeira da 2: como abertura à sociedade civil não passou disso. Das duas últimas notas negativas, uma é da não produção de programas de stock, que possam ser reutilizados, e a outra é a do encerramento do canal Arte no cabo.
Aspectos positivos da televisão em 2004
Para Eduardo Cintra Torres, o melhor da televisão em 2004 foi: 1) alteração do paradigma do serviço público da 2: e continuação da recuperação financeira do canal público, 2) dos programas, entre outros, o Gato Fedorento (SIC), Magazine Cultural (SIC Radical), Páginas soltas (SIC Notícias), 3) documentário Portugal um retrato, com análise ambiental, por razões estéticas e temáticas, 4) programa estrangeiro Sopranos, 5) cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, 6) realizador Espírito Santo, por não ter filmado as imagens da morte do jogador Feher no campo desportivo, 7) Emídio Rangel, enquanto autor das criaturas Santana & Sócrates.
De positivo, Miguel Gaspar elencou a polémica que envolveu a saída de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI, porque mostrou que a sociedade civil está atenta à presença (ou ausência) da liberdade de escolha. Também deu destaque aos blogues, como modo alternativo aos media tradicionais, e que (conjuntamente com a internet em geral e os telemóveis) está a contribuir para a perda de centralidade da televisão. Salientou ainda projectos potenciais, como o programa Gato Fedorento e a produção externa da SIC em comédias, bem como a Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS) que, como último sopro de vida, interveio no caso de Marcelo. Miguel Gaspar apontaria ainda a necessidade da criação de um novo regulador (que terá competências presentes actualmente na AACS e no Instituto de Comunicação Social).
Já Maria Emília Brederode dos Santos viu como aspectos bons da programação de 2004: 1) programação infantil de Teresa Paixão, 2) protocolo de acesso dos fundos, 3) liderança da informação por parte da SIC Notícias, 4) melhor qualidade da SIC Mulher e da SIC Radical nos canais de cabo, 5) criação do canal Memória da RTP.
A CADEIA DE VALOR DO AUDIOVISUAL
Embora datada de Julho, chegou-me agora às mãos o número 9 do Observatório, a revista do Obercom (Observatório da Comunicação). Produzida por uma equipa liderada por Carla Martins, a revista analisa a cadeia de valor do audiovisual.
Espero, no decurso da próxima semana, trabalhar o texto e dar conta de modo mais eficaz acerca do conteúdo desta importante publicação.
Embora datada de Julho, chegou-me agora às mãos o número 9 do Observatório, a revista do Obercom (Observatório da Comunicação). Produzida por uma equipa liderada por Carla Martins, a revista analisa a cadeia de valor do audiovisual.
Espero, no decurso da próxima semana, trabalhar o texto e dar conta de modo mais eficaz acerca do conteúdo desta importante publicação.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2004
JORNALISMO ONLINE
A aula de hoje contou com o jornalista José Vítor Malheiros, do PÚBLICONLINE.
O sítio do Público nasceu em 1994, apenas quatro anos após o lançamento do jornal. Começou como curiosidade, pois ainda não havia uma noção exacta das potencialidades e do tipo de negócio que a internet representava. Mas, no ano seguinte, já se via esta como um novo canal de disseminação e distribuição da informação, importante porque tratando-se de um bem imaterial o seu custo de reprodução era (quase) nulo. Em 1998, era criada a empresa PÚBLICO.pt, que se autonomizava face ao jornal em papel.
A etapa da visibilidade do Público on line começaria com a cobertura das eleições legislativas de Março de 1995. Ainda neste ano, a 22 de Setembro, iniciava-se a publicação diária do jornal na internet. O sítio passava a assumir-se como ferramenta de promoção da marca (marketing puro) e de criação de hábitos de leitura desta informação.
Modelo de negócio e novos produtos
O modelo de negócio de um jornal assenta em dois pés: venda do jornal e publicidade. Portanto, com a internet, para além do jornal em papel, ambicionava-se uma nova forma de captar e receitas sem custos adicionais. E também audiências, em termos cívicos e de reforço da marca.
Para Vítor Malheiros, um jornalista deve compreender a actividade empresarial - o seu trabalho engloba a oferta da informação e a transmissão da opinião, permitindo a formação de um comportamento cívico dos seus leitores. Contudo, não pode perder de vista o interesse do industrial dos media. Um jornalista, para produzir um texto, consome muito tempo na investigação (ler livros e relatórios, participar em conferências, fazer entrevistas). Se este esforço se esgota num só texto, há uma enorme massa de conhecimento que não é utilizado. Daí que uma das maneiras de aproveitamento do material recolhido seja o acesso comercial aos centros de documentação, que servem jornalistas e outras pessoas, como leitores e investigadores.
Um dos problemas sentidos pelos jornais dá pelo nome de 16-25, a faixa etária que consome muitos media em geral mas menos jornais. Houve, por isso, necessidade de criar novos produtos para cativar essa importante faixa de idades, com criação de: 1) serviço de notícias em tempo real, de acesso universal a uma base de dados, a Última Hora, e 2) agenda cultural nacional, o Guia de Lazer. Em especial neste segundo negócio, o objectivo é vender a informação a empresas, no sentido B2B (business to business), no estilo da oferta de serviços de uma agência de notícias.
As promessas da internet
Quando apareceu a internet, um dos elementos que provocou uma grande excitação foi o hipertexto, a possibilidade de interligação com outros textos. Dizia-se que haveria um corte radical com a forma anterior de escrever. Mas escrever em hipertexto é complicado, pois implica fazer links e levar o leitor a navegar por outros locais, perdendo a referência ou interesse inicial, enquanto a oralidade, por exemplo, continua sendo linear. Além de que levanta questões éticas de autoria.
A interactividade foi outro dos elementos da internet não totalmente cumpridos na profecia inicial de abundância e revolução. É que há questões de accountability (responsabilidade). José Vítor Malheiros recebe diariamente cerca de três mil mensagens. Admitindo que 2500 são ainda SPAM, apesar dos filtros, ele fica com 500 mensagens para responder. Se o fizesse não teria tempo para fazer mais nada.
Mas, na internet, cumpriu-se uma das suas promessas: a publicação. Hoje, quer os media, quer entidades privadas ou públicas, quer associações ou mesmo indivíduos isolados, podem editar. José Vítor Malheiros referiu o caso dos blogues, cuja publicação expedita funciona como uma outra fonte de informação, socialmente muito relevante. É aquilo a que ele chamou de interactividade de segundo grau. Embora isto crie novos problemas, pois, ao aumentar o caudal de informação, cresce o ruído e desaparece a função do gatekeeper. E estas publicações podem aproximar-se do grau zero da responsabilidade ética.
[mensagem concluida às 8:41 de 17 de Dezembro]
A aula de hoje contou com o jornalista José Vítor Malheiros, do PÚBLICONLINE.
O sítio do Público nasceu em 1994, apenas quatro anos após o lançamento do jornal. Começou como curiosidade, pois ainda não havia uma noção exacta das potencialidades e do tipo de negócio que a internet representava. Mas, no ano seguinte, já se via esta como um novo canal de disseminação e distribuição da informação, importante porque tratando-se de um bem imaterial o seu custo de reprodução era (quase) nulo. Em 1998, era criada a empresa PÚBLICO.pt, que se autonomizava face ao jornal em papel.
A etapa da visibilidade do Público on line começaria com a cobertura das eleições legislativas de Março de 1995. Ainda neste ano, a 22 de Setembro, iniciava-se a publicação diária do jornal na internet. O sítio passava a assumir-se como ferramenta de promoção da marca (marketing puro) e de criação de hábitos de leitura desta informação.
Modelo de negócio e novos produtos
O modelo de negócio de um jornal assenta em dois pés: venda do jornal e publicidade. Portanto, com a internet, para além do jornal em papel, ambicionava-se uma nova forma de captar e receitas sem custos adicionais. E também audiências, em termos cívicos e de reforço da marca.
Para Vítor Malheiros, um jornalista deve compreender a actividade empresarial - o seu trabalho engloba a oferta da informação e a transmissão da opinião, permitindo a formação de um comportamento cívico dos seus leitores. Contudo, não pode perder de vista o interesse do industrial dos media. Um jornalista, para produzir um texto, consome muito tempo na investigação (ler livros e relatórios, participar em conferências, fazer entrevistas). Se este esforço se esgota num só texto, há uma enorme massa de conhecimento que não é utilizado. Daí que uma das maneiras de aproveitamento do material recolhido seja o acesso comercial aos centros de documentação, que servem jornalistas e outras pessoas, como leitores e investigadores.
Um dos problemas sentidos pelos jornais dá pelo nome de 16-25, a faixa etária que consome muitos media em geral mas menos jornais. Houve, por isso, necessidade de criar novos produtos para cativar essa importante faixa de idades, com criação de: 1) serviço de notícias em tempo real, de acesso universal a uma base de dados, a Última Hora, e 2) agenda cultural nacional, o Guia de Lazer. Em especial neste segundo negócio, o objectivo é vender a informação a empresas, no sentido B2B (business to business), no estilo da oferta de serviços de uma agência de notícias.
As promessas da internet
Quando apareceu a internet, um dos elementos que provocou uma grande excitação foi o hipertexto, a possibilidade de interligação com outros textos. Dizia-se que haveria um corte radical com a forma anterior de escrever. Mas escrever em hipertexto é complicado, pois implica fazer links e levar o leitor a navegar por outros locais, perdendo a referência ou interesse inicial, enquanto a oralidade, por exemplo, continua sendo linear. Além de que levanta questões éticas de autoria.
A interactividade foi outro dos elementos da internet não totalmente cumpridos na profecia inicial de abundância e revolução. É que há questões de accountability (responsabilidade). José Vítor Malheiros recebe diariamente cerca de três mil mensagens. Admitindo que 2500 são ainda SPAM, apesar dos filtros, ele fica com 500 mensagens para responder. Se o fizesse não teria tempo para fazer mais nada.
Mas, na internet, cumpriu-se uma das suas promessas: a publicação. Hoje, quer os media, quer entidades privadas ou públicas, quer associações ou mesmo indivíduos isolados, podem editar. José Vítor Malheiros referiu o caso dos blogues, cuja publicação expedita funciona como uma outra fonte de informação, socialmente muito relevante. É aquilo a que ele chamou de interactividade de segundo grau. Embora isto crie novos problemas, pois, ao aumentar o caudal de informação, cresce o ruído e desaparece a função do gatekeeper. E estas publicações podem aproximar-se do grau zero da responsabilidade ética.
[mensagem concluida às 8:41 de 17 de Dezembro]
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