NEVE EM LISBOA
Recordo a queda de neve em Lisboa, no passado dia 29 de Janeiro.
Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
sexta-feira, 31 de março de 2006
APRESENTAÇÃO DO LIVRO DE EDWARD BERNAYS
Foi anteontem, na FNAC do Chiado. No pequeno vídeo, Luís Paixão Martins, à esquerda, fala do livro [observação: não consegui captar som] [ver mensagem aqui].
Foi anteontem, na FNAC do Chiado. No pequeno vídeo, Luís Paixão Martins, à esquerda, fala do livro [observação: não consegui captar som] [ver mensagem aqui].
PEQUENO HERÓI
O espaço Pequeno Herói fica no Largo da Graça, 79, em Lisboa.
Amanhã, sábado, pelas 16:00, Elsa Serra contará a história de O gato marau e a sua cartola, original de Colin McNaugthon e Satuski Kitamura. No domingo, também pelas 16:00, haverá uma Maratona de histórias, por pais e amigos. Nesta última, não precisa de fazer nada mais do que aparecer e deixar-se enredar pelas histórias no ar.
O espaço Pequeno Herói fica no Largo da Graça, 79, em Lisboa.
Amanhã, sábado, pelas 16:00, Elsa Serra contará a história de O gato marau e a sua cartola, original de Colin McNaugthon e Satuski Kitamura. No domingo, também pelas 16:00, haverá uma Maratona de histórias, por pais e amigos. Nesta última, não precisa de fazer nada mais do que aparecer e deixar-se enredar pelas histórias no ar.
TELEVISÃO E INFÂNCIA
Sónia Carrilho defendeu tese de mestrado em Outubro do ano passado na Universidade Católica, em dia que não me foi possível assistir. Foi, pois, com imenso prazer que estive no colóquio ontem organizado na mesma universidade, onde ela expôs as linhas principais do seu tema A criança e a televisão: contributos para o estudo da recepção.
Partindo da ideia que a televisão é um agente global simultaneamente persuasivo e conciliador, usou uma amostra de 1051 inquéritos a alunos do 5º ao 9º ano de três escolas com níveis socioeconómicos diferentes (externato S. José, escola secundária Paula Vicente e escola secundária da Pontinha) para compreender melhor o universo a estudar [fotografia de João Oliveira Silva, inserida no Diário de Notícias de 5 de Janeiro de 2006].
Entre outros itens, analisou a profissão dos pais dos alunos e os electrodomésticos existentes em casa. Os públicos juvenis que estudou - dos 10 aos 16 anos - vê mais televisão aos sábados e durante as férias, sendo o género preferido a ficção, conquanto os desenhos animados contenham muito público (seguindo-se futebol, telenovelas e filmes de aventura). O programa preferido é Morangos com açúcar (em língua e produção portuguesa).
Se ver televisão é uma atitude divertida, ela também é fonte de conhecimento. Como constatou Sónia Carrilho, temas como poluição ou conhecimento da realidade mundial (aqui com 78% das respostas) chegam às crianças através da televisão. E destacou ainda a importância da televisão na sala de aula, não usada em 33,5% das vezes.
Sónia Carrilho defendeu tese de mestrado em Outubro do ano passado na Universidade Católica, em dia que não me foi possível assistir. Foi, pois, com imenso prazer que estive no colóquio ontem organizado na mesma universidade, onde ela expôs as linhas principais do seu tema A criança e a televisão: contributos para o estudo da recepção.
Partindo da ideia que a televisão é um agente global simultaneamente persuasivo e conciliador, usou uma amostra de 1051 inquéritos a alunos do 5º ao 9º ano de três escolas com níveis socioeconómicos diferentes (externato S. José, escola secundária Paula Vicente e escola secundária da Pontinha) para compreender melhor o universo a estudar [fotografia de João Oliveira Silva, inserida no Diário de Notícias de 5 de Janeiro de 2006].
Entre outros itens, analisou a profissão dos pais dos alunos e os electrodomésticos existentes em casa. Os públicos juvenis que estudou - dos 10 aos 16 anos - vê mais televisão aos sábados e durante as férias, sendo o género preferido a ficção, conquanto os desenhos animados contenham muito público (seguindo-se futebol, telenovelas e filmes de aventura). O programa preferido é Morangos com açúcar (em língua e produção portuguesa).
Se ver televisão é uma atitude divertida, ela também é fonte de conhecimento. Como constatou Sónia Carrilho, temas como poluição ou conhecimento da realidade mundial (aqui com 78% das respostas) chegam às crianças através da televisão. E destacou ainda a importância da televisão na sala de aula, não usada em 33,5% das vezes.
ECONOMIA CRIATIVA
Publicou ontem Marcos André Carvalho Lins, em Cultura e Mercado, um texto sobre economia criativa. Entre outras coisas, escreveu:
Marcos André Carvalho Lins, profissional judiciário em Pernambuco (Brasil), é escritor diletante.
Publicou ontem Marcos André Carvalho Lins, em Cultura e Mercado, um texto sobre economia criativa. Entre outras coisas, escreveu:
- Ao se forjar a expressão economia criativa, provavelmente, ter-se-ia em mente algo bem definido e delimitado. Algo como aproximar política económica e arte, visão empresarial e orquestração cultural, em suma, um intercâmbio mais amplo e íntimo entre estores vistos, até então, como completamente dissociados e com raros pontos em comum. Não obstante, a economia criativa ganhou tons mais fortes e firmes, trazendo para si uma carga ideológica sem precedentes tanto quanto ao seu conceito quanto à sua repercussão.
Hoje, a economia criativa responde por um grande número de iniciativas no sector privado, tendo por matriz uma espécie de campo cinzento entre tais manifestações particulares e o apoio governamental. Podemos, em cima dos mais variados exemplos que perpassam nosso quotidiano, aventar uma dimensão menos nítida e mais especulativa para a ideia de criatividade associada ao mercado, assim como o conhecemos nos nossos dias.
A economia, como pretendem alguns, não se restringe a uma mediação entre trabalhador e o produto do seu trabalho, ou entre os trabalhadores e suas relações intermediadas por uma moeda. Quando tratamos coloquialmente de economia, imediatamente e mecanicamente, nos vem à mente a questão monetária e as intervenções públicas no sentido de tornar este ou aquele país mais sadio e governável em termos de deficit ou superavit comercial. Pois bem, propomos uma inovação nesse status que os cadernos de economia dos maiores jornais do mundo vêm consolidando há décadas: troquemos as páginas de economia com as manchetes do suplemento cultural mas misturemos a tudo isso o conteúdo do carro chefe de alguns periódicos, os eventos e ocorrências quotidianas.
Marcos André Carvalho Lins, profissional judiciário em Pernambuco (Brasil), é escritor diletante.
CULTURA DE MASSAS EM PORTUGAL NO SÉCULO XX
A iniciativa é do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (Universidade de Coimbra) e do Instituto de História Contemporânea (Universidade Nova de Lisboa). Visa, segundo os organizadores:
As sessões prolongar-se-ão até ao Verão (ver, embora com fraca qualidade, a totalidade da oferta aqui). E, no primeiro fim-de-semana de Setembro, haverá uma reunião de balanço sobre o que se foi passando em 2006. Nessa altura, estarão presentes os historiadores franceses Christophe Prochasson e Dominique Kalifa. A ocasião será aproveitada também para fazer um colóquio, com responsáveis públicos, sobre arquivos de imagem e som em Portugal.
A iniciativa é do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (Universidade de Coimbra) e do Instituto de História Contemporânea (Universidade Nova de Lisboa). Visa, segundo os organizadores:
- Os problemas do estudo da cultura de massas começam pela própria designação. O que são, ou quem são, as massas? Trata-se do povo? Nesse caso, porquê cultura de massas e não cultura popular? Trata-se, antes, da indústria da cultura? Então, qual o papel das massas na sua definição? Entre a cultura popular e as indústrias culturais onde parece oscilar a definição de cultura de massas, a abordagem a que esta é sujeita atravessa as manifestações aparentemente mais espontâneas da vida social e as formas de inculcação mais sofisticadas, os consumos com que se cria o gosto e o senso comum, por um lado, e os mecanismos de produção, por outro.
As sessões prolongar-se-ão até ao Verão (ver, embora com fraca qualidade, a totalidade da oferta aqui). E, no primeiro fim-de-semana de Setembro, haverá uma reunião de balanço sobre o que se foi passando em 2006. Nessa altura, estarão presentes os historiadores franceses Christophe Prochasson e Dominique Kalifa. A ocasião será aproveitada também para fazer um colóquio, com responsáveis públicos, sobre arquivos de imagem e som em Portugal.
quinta-feira, 30 de março de 2006
DEFENDIDA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DE PATRÍCIA DIAS
Foi atribuida a nota máxima à dissertação de mestrado de Patrícia Dias, 24 horas sem telemóvel - um estudo Mcluhaniano sobre a utilização do telemóvel na sociedade contemporânea, aqui na UCP (donde escrevo em wireless).
O objectivo, como se depreende do título, foi estudar o impacto do telemóvel na sociedade contemporânea. A agora mestre em Ciências da Comunicação fez uma revisão da literatura, tomando a obra de Marshall McLuhan como eixo principal. Como estudo de caso, rastreou o comportamento de seis participantes que prescindiram do uso do telemóvel durante 24 horas, seguindo-se entrevistas para percepcionar melhor essa "ausência" do aparelho do quotidiano dos participantes, numa criação de contra-ambiente. Em termos de análise, ela construiu uma grelha de oito temas: utilização, dimensão simbólica, conectividade, coordenação, emoção, dependência, extensão, público versus privado.
Destacando duas dimensões - física e tecnológica -, Patrícia Dias apresentou o telemóvel como extensão do eu e como ambiente, meio cool (no sentido de McLuhan) que intensifica a interacção (no sentido de Erwing Goffman), a mobilidade e o contacto permanente. Mais concretamente, ela abordou o tema do telemóvel como sendo de dependência do indivíduo (ter o aparelho sempre ligado, controlar os gastos, verificar se alguém tentou contactar-nos). Das conclusões do estudo, a autora observa o uso crescente do aparelho e a pressão social para a sua utilização, a qual pode ser de origem social, profissional ou afectiva. Mostra também que o telemóvel 1) se integra num ambiente, 2) com estabilidade da rede de relações, e 3) como dependência afectiva.
Observação do blogueiro enquanto escreve: ele olha regularmente para o telemóvel (que está em silêncio, dado o sítio), apesar de saber que ele vibra se alguém o tentar contactar.
Como investigadora rigorosa, reflectiu ainda as limitações do seu estudo: o âmbito do trabalho não permite generalizações, dado empregar uma amostra de conveniência, criou uma situação artificial (os participantes avisaram previamente as suas redes de que estariam desligados durante um dia), e aceita a subjectividade do pesquisador.
Observação final: alojei a apresentação inicial da dissertação em quatro espaços de aproximadamente cinco minutos cada (em Filelodge, que permite neste momento um máximo de 2 Mbytes em cada ficheiro, conquanto a proposta inicial fosse alojar até 50 Mbytes por ficheiro, opção adiada até chegar hardware novo). Assim, ouvir sequencialmente som 1, som 2, som 3 e som 4.
Foi atribuida a nota máxima à dissertação de mestrado de Patrícia Dias, 24 horas sem telemóvel - um estudo Mcluhaniano sobre a utilização do telemóvel na sociedade contemporânea, aqui na UCP (donde escrevo em wireless).
O objectivo, como se depreende do título, foi estudar o impacto do telemóvel na sociedade contemporânea. A agora mestre em Ciências da Comunicação fez uma revisão da literatura, tomando a obra de Marshall McLuhan como eixo principal. Como estudo de caso, rastreou o comportamento de seis participantes que prescindiram do uso do telemóvel durante 24 horas, seguindo-se entrevistas para percepcionar melhor essa "ausência" do aparelho do quotidiano dos participantes, numa criação de contra-ambiente. Em termos de análise, ela construiu uma grelha de oito temas: utilização, dimensão simbólica, conectividade, coordenação, emoção, dependência, extensão, público versus privado.
Destacando duas dimensões - física e tecnológica -, Patrícia Dias apresentou o telemóvel como extensão do eu e como ambiente, meio cool (no sentido de McLuhan) que intensifica a interacção (no sentido de Erwing Goffman), a mobilidade e o contacto permanente. Mais concretamente, ela abordou o tema do telemóvel como sendo de dependência do indivíduo (ter o aparelho sempre ligado, controlar os gastos, verificar se alguém tentou contactar-nos). Das conclusões do estudo, a autora observa o uso crescente do aparelho e a pressão social para a sua utilização, a qual pode ser de origem social, profissional ou afectiva. Mostra também que o telemóvel 1) se integra num ambiente, 2) com estabilidade da rede de relações, e 3) como dependência afectiva.
Observação do blogueiro enquanto escreve: ele olha regularmente para o telemóvel (que está em silêncio, dado o sítio), apesar de saber que ele vibra se alguém o tentar contactar.
Como investigadora rigorosa, reflectiu ainda as limitações do seu estudo: o âmbito do trabalho não permite generalizações, dado empregar uma amostra de conveniência, criou uma situação artificial (os participantes avisaram previamente as suas redes de que estariam desligados durante um dia), e aceita a subjectividade do pesquisador.
Observação final: alojei a apresentação inicial da dissertação em quatro espaços de aproximadamente cinco minutos cada (em Filelodge, que permite neste momento um máximo de 2 Mbytes em cada ficheiro, conquanto a proposta inicial fosse alojar até 50 Mbytes por ficheiro, opção adiada até chegar hardware novo). Assim, ouvir sequencialmente som 1, som 2, som 3 e som 4.
- CONTA DA SIBS GANHA POR LPM
A LPM, empresa consultora de comunicação e relações públicas (de Luís Paixão Martins, de que falei na entrada anterior), ganhou a conta para trabalhar a SIBS - Sociedade Interbancária de Serviços, lê-se na newsletter de hoje da Meios & Publicidade (em texto de Maria João Lima).
APRESENTAÇÃO DO LIVRO PROPAGANDA, DE EDWARD BERNAYS
Ontem ao fim da tarde, na FNAC do Chiado, foi apresentado o livro de Edward Bernays (1891-1995), Propaganda, em edição da Mareantes. Livro publicado originalmente em 1928, a edição portuguesa segue a recente reedição americana, com prefácio de Luís Paixão Martins, presente no lançamento da obra.
Do prefácio e da apresentação da obra, retiro as seguintes ideias: Edward Bernays, considerado o pai das relações públicas, terá sido o primeiro a formular o modelo das relações públicas como um acto público (ou evento), além de desenvolver as práticas de escrita de notas de imprensa, product placement, oportunidade fotográfica e técnicas de lóbingue político, dando ainda relevância ao marketing research e à segmentação de mercado. Bernays, o "pai da influência" [spin] começou a trabalhar como agente de imprensa da Broadway, tendo-se especializado naquilo a que designou como consultor de relações públicas.
Propaganda foi o segundo livro de Bernays, a seguir a Crystallizing public opinion (1923). Nos anos de 1980, fez sair um último livro: The later years: public relations insights. O livro agora lançado no mercado custa €15,20 e tem 184 páginas.
Ontem ao fim da tarde, na FNAC do Chiado, foi apresentado o livro de Edward Bernays (1891-1995), Propaganda, em edição da Mareantes. Livro publicado originalmente em 1928, a edição portuguesa segue a recente reedição americana, com prefácio de Luís Paixão Martins, presente no lançamento da obra.
Do prefácio e da apresentação da obra, retiro as seguintes ideias: Edward Bernays, considerado o pai das relações públicas, terá sido o primeiro a formular o modelo das relações públicas como um acto público (ou evento), além de desenvolver as práticas de escrita de notas de imprensa, product placement, oportunidade fotográfica e técnicas de lóbingue político, dando ainda relevância ao marketing research e à segmentação de mercado. Bernays, o "pai da influência" [spin] começou a trabalhar como agente de imprensa da Broadway, tendo-se especializado naquilo a que designou como consultor de relações públicas.
Propaganda foi o segundo livro de Bernays, a seguir a Crystallizing public opinion (1923). Nos anos de 1980, fez sair um último livro: The later years: public relations insights. O livro agora lançado no mercado custa €15,20 e tem 184 páginas.
PUBLICIDADE (4) - OUTROS ANÚNCIOS
Dos mupis actuais (ou que sairam de exposição no começo da semana), retirei ainda os seguintes anúncios: Kit jornal Record sobre o Euro de futebol, água de Lisboa EPAL, automóveis Skoda (dois anúncios), equipamentos para bebés e crianças (biberão NUK e Chico), Springfield (roupa), carão VISA e AKI (decoração de jardins).
Dos mupis actuais (ou que sairam de exposição no começo da semana), retirei ainda os seguintes anúncios: Kit jornal Record sobre o Euro de futebol, água de Lisboa EPAL, automóveis Skoda (dois anúncios), equipamentos para bebés e crianças (biberão NUK e Chico), Springfield (roupa), carão VISA e AKI (decoração de jardins).
quarta-feira, 29 de março de 2006
UMA TESE DE MESTRADO SOBRE IMPRENSA REGIONAL
Hoje, de manhã, defendeu tese de mestrado em Ciências da Comunicação na UCP a aluna Sofia Santos, com o título Imprensa regional – temas, problemas e estratégias da informação local.
Do seu trabalho, retiro as seguintes conclusões: a imprensa regional tipo do distrito de Lisboa (área geográfica que ela estudou) é constituída maioritariamente por jornais que pertencem a um grupo empresarial, com uma tiragem de mil a mil e quinhentos exemplares e disponíveis em menos de 40 pontos de venda cada um. Em termos genéricos, nos jornais analisados não existem mais de dez trabalhadores a tempo inteiro (maioria como jornalistas) e não há fotógrafo exclusivo. Muitos destes jornais adoptam algumas estratégias de marketing e promoção de eventos. Os directores dos jornais, apesar de constrangimentos vários, procuram dar uma imagem positiva da situação.
Em termos dos profissionais, o jornalista tipo é de género feminino, entre 25 e 35 anos, possui licenciatura e carteira profissional, é elemento do quadro (40%) ou recebe através de recibos verdes (30%) e ganha menos de mil euros, trabalhando há cerca de cinco anos na imprensa regional. Das secções mais presentes nos jornais analisados, as mais destacadas são desporto, cultura, local e regional, ocupando também bastante espaço as páginas de publicidade e de classificados. Uma outra secção de grande peso é a do obituário. O número de páginas por edição oscila entre 16 e 28 páginas, com dez dos jornais a custarem um euro.
A nova mestre, para obter estes dados - e bastantes outros -, fez um inquérito e entrevistas a directores e jornalistas de 16 media escritos do distrito de Lisboa. Remeto para outra entrada aqui colocada, a da defesa da tese de mestrado de Cláudia Costa (O impacto das câmaras municipais na imprensa regional. Um olhar sobre os dois jornais diários da cidade de Braga), igualmente sobre jornalismo de proximidade, escrita a 14 de Junho de 2004.
Observação: o blogueiro manifesta alegria pela defesa do trabalho de Sofia Santos, dado ter sido seu orientador.
Hoje, de manhã, defendeu tese de mestrado em Ciências da Comunicação na UCP a aluna Sofia Santos, com o título Imprensa regional – temas, problemas e estratégias da informação local.
Do seu trabalho, retiro as seguintes conclusões: a imprensa regional tipo do distrito de Lisboa (área geográfica que ela estudou) é constituída maioritariamente por jornais que pertencem a um grupo empresarial, com uma tiragem de mil a mil e quinhentos exemplares e disponíveis em menos de 40 pontos de venda cada um. Em termos genéricos, nos jornais analisados não existem mais de dez trabalhadores a tempo inteiro (maioria como jornalistas) e não há fotógrafo exclusivo. Muitos destes jornais adoptam algumas estratégias de marketing e promoção de eventos. Os directores dos jornais, apesar de constrangimentos vários, procuram dar uma imagem positiva da situação.
Em termos dos profissionais, o jornalista tipo é de género feminino, entre 25 e 35 anos, possui licenciatura e carteira profissional, é elemento do quadro (40%) ou recebe através de recibos verdes (30%) e ganha menos de mil euros, trabalhando há cerca de cinco anos na imprensa regional. Das secções mais presentes nos jornais analisados, as mais destacadas são desporto, cultura, local e regional, ocupando também bastante espaço as páginas de publicidade e de classificados. Uma outra secção de grande peso é a do obituário. O número de páginas por edição oscila entre 16 e 28 páginas, com dez dos jornais a custarem um euro.
A nova mestre, para obter estes dados - e bastantes outros -, fez um inquérito e entrevistas a directores e jornalistas de 16 media escritos do distrito de Lisboa. Remeto para outra entrada aqui colocada, a da defesa da tese de mestrado de Cláudia Costa (O impacto das câmaras municipais na imprensa regional. Um olhar sobre os dois jornais diários da cidade de Braga), igualmente sobre jornalismo de proximidade, escrita a 14 de Junho de 2004.
Observação: o blogueiro manifesta alegria pela defesa do trabalho de Sofia Santos, dado ter sido seu orientador.
UM MILHÃO, DOIS MILHÕES OU TRÊS MILHÕES?
Os temas comuns destacados nas capas das edições de hoje do Público e do Diário de Notícias são: 1) o jogo de futebol em que o Benfica foi interveniente frente ao Barcelona, 2) a vitória do partido Kadima nas eleições de Israel, 3) a providência cautelar de Margarida Rebelo Pinto sobre a edição de um livro que diz mal dos seus romances, e 4) as manifestações em França contra a proposta governamental do CPE (Contrato Primeiro Emprego).
É sobre este último destaque que quero frisar a minha opinião. No Público, a margem de erro vai de 1 a 3 milhões, conforme os olhos pertencem às autoridades (que minimizam estas manifestações) ou aos sindicatos (que maximizam tais acções). O texto de Ana Navarro Pedro começa assim: "A demonstração de força nas ruas foi impressionante: três milhões de pessoas, segundo os sindicatos, ou «mais de um milhão», segundo o Ministério do Interior". Já o lead do texto de Fernando de Sousa, do Diário de Notícias, diz que "A luta contra as propostas de contrato para os jovens mobilizou mais de dois milhões de pessoas nas principais cidades de França".
Certamente que não se exige do jornalista que controle o número de manifestantes, dada a dificuldade inerente. Fácil é contar espectadores numa sala de cinema a partir do número de bilhetes vendidos, já menos fácil é contabilizar as entradas num estádio, e muito mais difícil saber quantas pessoas encheram o Terreiro do Paço ou entre a Place d'Italie e a Place de la République ontem em Paris. Mas a discrepância entre um milhão e três milhões é muito grande. Muito grande mesmo - como se eu dissesse que o blogueiro cá de casa são, afinal, três blogueiros. Tentar objectivar aquilo que é subjectivo - uma apreciação da multidão que se manifesta transformada em dado numérico ou estatístico - não é um bom princípio jornalístico. Por isso, recordo uma mensagem que aqui escrevi, intitulada "Os trabalhos do provedor de leitor do El Pais (19 e 26 de Junho)", em 28 de Junho de 2005, onde o provedor daquele jornal explica como o El Pais utiliza mapas dos locais por onde circula uma manifestação e aplica técnicas digitais para obter uma superfície com um dado número de metros quadrados. A partir daí, estima-se o número máximo de assistentes por metro quadrado.
A mim não me interessa saber quem fez uma melhor contabilidade, mesmo servindo-se dos porta-vozes que dão estes números, pois os jornalistas dos dois jornais são séniores e merecem ambos o meu respeito. A pergunta que eu faço é: não seria possível os jornalistas pouparem-se a este esforço (efabulatório, no fim de contas), libertando-se da pressão de fontes oficiais antagónicas, e não darem conta dos números?
Os temas comuns destacados nas capas das edições de hoje do Público e do Diário de Notícias são: 1) o jogo de futebol em que o Benfica foi interveniente frente ao Barcelona, 2) a vitória do partido Kadima nas eleições de Israel, 3) a providência cautelar de Margarida Rebelo Pinto sobre a edição de um livro que diz mal dos seus romances, e 4) as manifestações em França contra a proposta governamental do CPE (Contrato Primeiro Emprego).
É sobre este último destaque que quero frisar a minha opinião. No Público, a margem de erro vai de 1 a 3 milhões, conforme os olhos pertencem às autoridades (que minimizam estas manifestações) ou aos sindicatos (que maximizam tais acções). O texto de Ana Navarro Pedro começa assim: "A demonstração de força nas ruas foi impressionante: três milhões de pessoas, segundo os sindicatos, ou «mais de um milhão», segundo o Ministério do Interior". Já o lead do texto de Fernando de Sousa, do Diário de Notícias, diz que "A luta contra as propostas de contrato para os jovens mobilizou mais de dois milhões de pessoas nas principais cidades de França".
Certamente que não se exige do jornalista que controle o número de manifestantes, dada a dificuldade inerente. Fácil é contar espectadores numa sala de cinema a partir do número de bilhetes vendidos, já menos fácil é contabilizar as entradas num estádio, e muito mais difícil saber quantas pessoas encheram o Terreiro do Paço ou entre a Place d'Italie e a Place de la République ontem em Paris. Mas a discrepância entre um milhão e três milhões é muito grande. Muito grande mesmo - como se eu dissesse que o blogueiro cá de casa são, afinal, três blogueiros. Tentar objectivar aquilo que é subjectivo - uma apreciação da multidão que se manifesta transformada em dado numérico ou estatístico - não é um bom princípio jornalístico. Por isso, recordo uma mensagem que aqui escrevi, intitulada "Os trabalhos do provedor de leitor do El Pais (19 e 26 de Junho)", em 28 de Junho de 2005, onde o provedor daquele jornal explica como o El Pais utiliza mapas dos locais por onde circula uma manifestação e aplica técnicas digitais para obter uma superfície com um dado número de metros quadrados. A partir daí, estima-se o número máximo de assistentes por metro quadrado.
A mim não me interessa saber quem fez uma melhor contabilidade, mesmo servindo-se dos porta-vozes que dão estes números, pois os jornalistas dos dois jornais são séniores e merecem ambos o meu respeito. A pergunta que eu faço é: não seria possível os jornalistas pouparem-se a este esforço (efabulatório, no fim de contas), libertando-se da pressão de fontes oficiais antagónicas, e não darem conta dos números?
QUEBRA NAS VENDAS DOS JORNAIS GENERALISTAS
Os jornais generalistas registaram quedas nas médias de circulação paga em 2005, conforme a newsletter Meios & Publicidade (texto de Adriano Nobre) seguindo dados da APCT. A quebra dos jornais de 2005 face a 2004 foi de 7,2% (menos 26256 exemplares vendidos por dia).
O Correio da Manhã vende 113792 exemplares por edição (menos 1,9% que em 2004), seguindo-se o Jornal de Notícias com 95231 (variação negativa de 14,5%). Depois, vêm o Público com 48985 exemplares (quebra de 4,3% em termos de circulação paga), o 24 Horas com 48818 jornais vendidos diariamente (menos 1,8% de vendas que no ano anterior) e o Diário de Notícias, com33434 exemplares diários (menos 12,8%). O desejo do blogueiro e leitor de jornais é que este panorama se altere em 2006. Uma nota: o 24 Horas já não pode incluir no seu frontispício a informação que foi o único jornal que subiu no ano anterior.
Relativamente aos outros segmentos de informação em papel, as publicações económicas aumentaram as vendas, as revistas de sociedade baixaram (excepto a Caras), as femininas cresceram moderadamente e a TV 7 Dias reforça a liderança no sector das revistas de televisão.
Os jornais generalistas registaram quedas nas médias de circulação paga em 2005, conforme a newsletter Meios & Publicidade (texto de Adriano Nobre) seguindo dados da APCT. A quebra dos jornais de 2005 face a 2004 foi de 7,2% (menos 26256 exemplares vendidos por dia).
O Correio da Manhã vende 113792 exemplares por edição (menos 1,9% que em 2004), seguindo-se o Jornal de Notícias com 95231 (variação negativa de 14,5%). Depois, vêm o Público com 48985 exemplares (quebra de 4,3% em termos de circulação paga), o 24 Horas com 48818 jornais vendidos diariamente (menos 1,8% de vendas que no ano anterior) e o Diário de Notícias, com33434 exemplares diários (menos 12,8%). O desejo do blogueiro e leitor de jornais é que este panorama se altere em 2006. Uma nota: o 24 Horas já não pode incluir no seu frontispício a informação que foi o único jornal que subiu no ano anterior.
Relativamente aos outros segmentos de informação em papel, as publicações económicas aumentaram as vendas, as revistas de sociedade baixaram (excepto a Caras), as femininas cresceram moderadamente e a TV 7 Dias reforça a liderança no sector das revistas de televisão.
LOCUTORES DE RÁDIO
"Estão abertas vagas para a iniciação ao espírito académico", diz o comunicado que recebi. O assunto é "locutores de rádio": "Todas as Sextas-feiras, o Universidade Radar convida um ouvinte a apresentar o programa com a Marta e o Pedro". E acrescenta: "Se queres ser um locutor de rádio por um dia, manda um imélio para radar@universidade-autonoma.pt". Confesso que não conhecia a designação imélio. Os espanhóis falam em emílio, nós em email, simplesmente. Mais informações em Universidade Radar e Radiolab.
Para melhor compreensão, refira-se que a rádio Radar (97,8 MHz, em Lisboa) e a Universidade Autónoma têm um programa todos os dias úteis, das 23:00 à meia-noite.
"Estão abertas vagas para a iniciação ao espírito académico", diz o comunicado que recebi. O assunto é "locutores de rádio": "Todas as Sextas-feiras, o Universidade Radar convida um ouvinte a apresentar o programa com a Marta e o Pedro". E acrescenta: "Se queres ser um locutor de rádio por um dia, manda um imélio para radar@universidade-autonoma.pt". Confesso que não conhecia a designação imélio. Os espanhóis falam em emílio, nós em email, simplesmente. Mais informações em Universidade Radar e Radiolab.
Para melhor compreensão, refira-se que a rádio Radar (97,8 MHz, em Lisboa) e a Universidade Autónoma têm um programa todos os dias úteis, das 23:00 à meia-noite.
PRODUTO RADIOFÓNICO: LOCAL VERSUS GLOBAL
Segundo o sítio radiolab, o tema do próximo seminário da Associação Portuguesa de Radiodifusão (APR) é Produto radiofónico: local vs. global, a realizar no dia 6 de Abril pelas 14:00, no auditório do Polo da Boavista da Universidade Autónoma de Lisboa (UAL).
O seminário pretende responder a questões como: Qual o melhor posicionamento da rádio face à dualidade local e global, aparentemente incompatível? Que opções disponíveis para os operadores? E limitações com que os operadores se podem defrontar nesta matéria e como as ultrapassar? Ao ouvinte só interessa o que está próximo (local) ou quer a perspectiva global? Participam: Luís Landerset Cardoso (ISCSP, Projecto Media e Comunicações), Francisco José Oliveira (vice-presidente da APR) e Carlos Pires Antunes (director da Rádio Atlântida).
Segundo o sítio radiolab, o tema do próximo seminário da Associação Portuguesa de Radiodifusão (APR) é Produto radiofónico: local vs. global, a realizar no dia 6 de Abril pelas 14:00, no auditório do Polo da Boavista da Universidade Autónoma de Lisboa (UAL).
O seminário pretende responder a questões como: Qual o melhor posicionamento da rádio face à dualidade local e global, aparentemente incompatível? Que opções disponíveis para os operadores? E limitações com que os operadores se podem defrontar nesta matéria e como as ultrapassar? Ao ouvinte só interessa o que está próximo (local) ou quer a perspectiva global? Participam: Luís Landerset Cardoso (ISCSP, Projecto Media e Comunicações), Francisco José Oliveira (vice-presidente da APR) e Carlos Pires Antunes (director da Rádio Atlântida).
PUBLICIDADE (3) - JOGOS DA SANTA CASA
Contei seis anúncios, mas fotografei apenas cinco. A frase é "Para nós, são estes os números da sorte", em áreas como formação, idosos, deficiência, cultura e apoio e emergência social.
Gosto mais desta série do que os cartazes de formato maior (outdoors) sobre o euromilhões, cuja mensagem é mais ou menos "todas as semanas a fazer excêntricos". Há, neste caso, uma maior humanização quanto aos dinheiros recolhidos pela Santa Casa (da Misericórdia) através da actividade de jogos legais.
Contei seis anúncios, mas fotografei apenas cinco. A frase é "Para nós, são estes os números da sorte", em áreas como formação, idosos, deficiência, cultura e apoio e emergência social.
Gosto mais desta série do que os cartazes de formato maior (outdoors) sobre o euromilhões, cuja mensagem é mais ou menos "todas as semanas a fazer excêntricos". Há, neste caso, uma maior humanização quanto aos dinheiros recolhidos pela Santa Casa (da Misericórdia) através da actividade de jogos legais.
terça-feira, 28 de março de 2006
- FALAR DE BLOGUES
José Carlos Abrantes (autor do blogue As imagens e nós) e a livraria Almedina (Saldanha, Lisboa) levam a cabo mais uma iniciativa, agora com o tema Falar de Blogues Temáticos, no próximo dia 30 de Março, pelas 19:00 horas. Presenças: Leonor Areal (Doc Log) , Vítor Relvas (Educar para os Media) e Pedro Magalhães (Margens de Erro). Os blogues temáticos aparecem com uma credibilidade forte, muitas vezes feitos por especialistas que problematizam, em profundidade, um tema.
O blogueiro tem pena, mas não estará presente. À hora do começo da tertúlia espera-o uma aula.
ESCRITA PARA TELEVISÃO
No passado sábado, Maria Lopes escrevia para o Público um texto sobre guionismo em televisão. O ponto de partida era que o mercado televisivo português está a ficar mais segmentado e especializado. E destacava o exemplo da TVI, mais voltado para o público feminino, os jovens e os idosos.
No mercado, existem quatro empresas de produção de textos mais conhecidas: Casa da Criação (nascida da NBP, e comprada pela Media Capital, da TVI, em 2002), Produções Fictícias (fundada em 1993), Dot Spirit (a que pertence, entre outros, Henrique Dias, marido de Teresa Guilherme, directora de ficção da SIC) e ScriptMakers (projecto de Rui Vilhena, brasileiro que está em Portugal há 12 anos), as duas primeiras mais antigas, as duas últimas de recente associação.
Se a TVI parece dominar actualmente o mercado, até pelo ranking de audiências ocupado por alguns programas (Morangos com açúcar III, Dei-te quase tudo, Fala-me de amor), a SIC teve um período de grande produção de novelas e filmes, com o projecto SIC Filmes, abandonado após o ano de 2001. E a divisão de trabalho das actuais empresas produtoras de guiões aponta para as seguintes características: humor nas Produções Fictícias, novelas na Casa da Criação, adaptação de sitcom e novelas nas duas empresas mais recentes, Dot Spirit e ScriptMakers.
Da notícia assinada por Maria Lopes, ressalto ainda uma ideia: a da dificuldade em arranjar guionistas que escrevam bem (e compreendam o tamanho das cenas ou o ritmo de encadeamento). Além da escassez de oferta de formação, os inquiridos no texto realçam o processo da escrita como algo infernal [ver entrada neste blogue em 3 de Fevereiro último]. A Casa da Criação tem oito pessoas para escrever Morangos com açúcar e seis guionistas para escrever Dei-te quase tudo.
No passado sábado, Maria Lopes escrevia para o Público um texto sobre guionismo em televisão. O ponto de partida era que o mercado televisivo português está a ficar mais segmentado e especializado. E destacava o exemplo da TVI, mais voltado para o público feminino, os jovens e os idosos.
No mercado, existem quatro empresas de produção de textos mais conhecidas: Casa da Criação (nascida da NBP, e comprada pela Media Capital, da TVI, em 2002), Produções Fictícias (fundada em 1993), Dot Spirit (a que pertence, entre outros, Henrique Dias, marido de Teresa Guilherme, directora de ficção da SIC) e ScriptMakers (projecto de Rui Vilhena, brasileiro que está em Portugal há 12 anos), as duas primeiras mais antigas, as duas últimas de recente associação.
Se a TVI parece dominar actualmente o mercado, até pelo ranking de audiências ocupado por alguns programas (Morangos com açúcar III, Dei-te quase tudo, Fala-me de amor), a SIC teve um período de grande produção de novelas e filmes, com o projecto SIC Filmes, abandonado após o ano de 2001. E a divisão de trabalho das actuais empresas produtoras de guiões aponta para as seguintes características: humor nas Produções Fictícias, novelas na Casa da Criação, adaptação de sitcom e novelas nas duas empresas mais recentes, Dot Spirit e ScriptMakers.
Da notícia assinada por Maria Lopes, ressalto ainda uma ideia: a da dificuldade em arranjar guionistas que escrevam bem (e compreendam o tamanho das cenas ou o ritmo de encadeamento). Além da escassez de oferta de formação, os inquiridos no texto realçam o processo da escrita como algo infernal [ver entrada neste blogue em 3 de Fevereiro último]. A Casa da Criação tem oito pessoas para escrever Morangos com açúcar e seis guionistas para escrever Dei-te quase tudo.
segunda-feira, 27 de março de 2006
[entrada dedicada a todos os noveleiros (fãs das telenovelas)]
40 ANOS DE REDE GLOBO
O ano passado saíu o livro Rede Globo. 40 anos de poder e hegemonia, organizado pelos professores universitários Valério Cruz Brittos e César Bolaño e editado pela Paulus, editora brasileira de São Paulo. Do que se trata no livro, é fácil de perceber logo no título: o império mediático construído por Roberto Marinho.
Se o texto inicial, de César Bolaño (Universidade Federal de Sergipe) [em baixo, em fotografia tirada em congresso da SOPCOM, em Aveiro, Portugal], é o mais ideológico, dentro do perfil da literatura da teoria crítica e por oposição aos estudos culturais, distinguindo entre capital e cultura, encontro um contraponto no texto de Pedro Jorge Braumann (Escola Superior de Comunicação Social, Lisboa), que, sendo economista como Bolaño, olha a sociedade num quadro liberal quando analisa a posição da Globo em Portugal e a importância que desempenhou na ascensão da SIC à liderança da audiência em 1995.
O livro está muito bem organizado, pois olha o poder da Globo, em especial a partir de 1965, quando surge o canal de televisão com aquele nome, em diversas perspectivas, da jurídica à política (o coronelismo), da internacionalização (destaque para o nosso país) aos formatos que originaram grandes sucessos (telenovela, audiovisual comunitário, educação) e aos outros media das Organizações Globo (imprensa, rádio, fonografia, televisão paga e cinema). São 17 capítulos num texto de 373 páginas (cerca de 20 páginas em média por capítulo).
Retenho alguns dos dados do capítulo escrito por Valério Brittos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) sobre internacionalização da Globo (pp. 131-154). 1977 seria um ano importante - a aquisição pela RTP (televisão pública portuguesa) da novela Gabriela, a partir do livro de Jorge Amado. Tenho memória do enorme impacto que a novela, com Sónia Braga no principal papel feminino, teve na vida pública e privada nacional.
1977 foi ainda o ano da primeira presença da Globo no "Marché International des Programmes de Télévision" (MIP TV), a mais importante montra mundial onde a exposição de produtos significa possibilidades de bons negócios. Mas, escreve Brittos, o mercado europeu é mais significativo que o norte-americano, pois aquele tem dimensão, poder aquisitivo e relativa carência de produtos televisivos. Já em 1980, a série Sítio do Picapau Amarelo era escolhida pela Unesco como exemplo de um bom programa para crianças. E Brittos volta a destacar a importância de Portugal como campo experimental da estratégia internacional da Globo, através da muito bem aceite parceria com a SIC: a resposta de públicos e anunciantes desenharam um competitivo e vencedor quadro de internacionalização da Globo.
A telenovela é a locomotiva [carro-chefe, na bonita designação brasileira] da televisão. Daí, eu saltar para o texto de Sílvia Borelli (pp. 187-203). É que a história dos sucessos da Globo constituem também uma parcela crescente da memória televisiva em Portugal. Borelli, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, começa o seu texto lembrando o tripé da televisão brasileira: jornalismo, variedades e dramaturgia. A telenovela está na grelha de programas (grade, no Brasil) da Globo desde 1965, ou seja, desde o arranque do canal. E no horário nobre, com duas novelas (das 7 e das 8), ensaduichando o Jornal Nacional (estratégia moderna das portuguesas SIC e da TVI). A novela - que contribuiu para a construção da grelha vertical de programação, com conhecimento prévio e regular no dia-a-dia da recepção televisiva - é um produto de baixo custo de produção e alto grau de rentabilidade, pois uma novela com 150 ou 200 episódios paga-se ao fim de dois a três meses de veiculação. Isto sem ter em conta as receitas de merchandising (ou de product-placement). A autora não descura ainda a competência tecnológica (produto de qualidade) da novela com o selo da Globo.
Roberto Marinho (1904-2003) começou a sua carreira como jornalista do jornal Globo (propriedade da família), no ano de lançamento do diário (1925), chegando a seu director em 1931. O alargamento aos outros media foi sendo conseguido paulatinamente: a rádio em 1944, a televisão em 1965, a indústria fonográfica em 1971 (marca Som Livre), a televisão por assinatura em 1992 e o cinema em 1998. Diversos capítulos anotam as relações do grupo mediático Globo com a ditadura militar que rebentou no Brasil em 1964, assim como a oposição à eleição de Leonel Brizola para governador estadual, aos presidentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek de Oliveira e à campanha Diretas já (1984).
40 ANOS DE REDE GLOBO
O ano passado saíu o livro Rede Globo. 40 anos de poder e hegemonia, organizado pelos professores universitários Valério Cruz Brittos e César Bolaño e editado pela Paulus, editora brasileira de São Paulo. Do que se trata no livro, é fácil de perceber logo no título: o império mediático construído por Roberto Marinho.
Se o texto inicial, de César Bolaño (Universidade Federal de Sergipe) [em baixo, em fotografia tirada em congresso da SOPCOM, em Aveiro, Portugal], é o mais ideológico, dentro do perfil da literatura da teoria crítica e por oposição aos estudos culturais, distinguindo entre capital e cultura, encontro um contraponto no texto de Pedro Jorge Braumann (Escola Superior de Comunicação Social, Lisboa), que, sendo economista como Bolaño, olha a sociedade num quadro liberal quando analisa a posição da Globo em Portugal e a importância que desempenhou na ascensão da SIC à liderança da audiência em 1995.
O livro está muito bem organizado, pois olha o poder da Globo, em especial a partir de 1965, quando surge o canal de televisão com aquele nome, em diversas perspectivas, da jurídica à política (o coronelismo), da internacionalização (destaque para o nosso país) aos formatos que originaram grandes sucessos (telenovela, audiovisual comunitário, educação) e aos outros media das Organizações Globo (imprensa, rádio, fonografia, televisão paga e cinema). São 17 capítulos num texto de 373 páginas (cerca de 20 páginas em média por capítulo).
Retenho alguns dos dados do capítulo escrito por Valério Brittos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) sobre internacionalização da Globo (pp. 131-154). 1977 seria um ano importante - a aquisição pela RTP (televisão pública portuguesa) da novela Gabriela, a partir do livro de Jorge Amado. Tenho memória do enorme impacto que a novela, com Sónia Braga no principal papel feminino, teve na vida pública e privada nacional.
1977 foi ainda o ano da primeira presença da Globo no "Marché International des Programmes de Télévision" (MIP TV), a mais importante montra mundial onde a exposição de produtos significa possibilidades de bons negócios. Mas, escreve Brittos, o mercado europeu é mais significativo que o norte-americano, pois aquele tem dimensão, poder aquisitivo e relativa carência de produtos televisivos. Já em 1980, a série Sítio do Picapau Amarelo era escolhida pela Unesco como exemplo de um bom programa para crianças. E Brittos volta a destacar a importância de Portugal como campo experimental da estratégia internacional da Globo, através da muito bem aceite parceria com a SIC: a resposta de públicos e anunciantes desenharam um competitivo e vencedor quadro de internacionalização da Globo.
A telenovela é a locomotiva [carro-chefe, na bonita designação brasileira] da televisão. Daí, eu saltar para o texto de Sílvia Borelli (pp. 187-203). É que a história dos sucessos da Globo constituem também uma parcela crescente da memória televisiva em Portugal. Borelli, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, começa o seu texto lembrando o tripé da televisão brasileira: jornalismo, variedades e dramaturgia. A telenovela está na grelha de programas (grade, no Brasil) da Globo desde 1965, ou seja, desde o arranque do canal. E no horário nobre, com duas novelas (das 7 e das 8), ensaduichando o Jornal Nacional (estratégia moderna das portuguesas SIC e da TVI). A novela - que contribuiu para a construção da grelha vertical de programação, com conhecimento prévio e regular no dia-a-dia da recepção televisiva - é um produto de baixo custo de produção e alto grau de rentabilidade, pois uma novela com 150 ou 200 episódios paga-se ao fim de dois a três meses de veiculação. Isto sem ter em conta as receitas de merchandising (ou de product-placement). A autora não descura ainda a competência tecnológica (produto de qualidade) da novela com o selo da Globo.
Roberto Marinho (1904-2003) começou a sua carreira como jornalista do jornal Globo (propriedade da família), no ano de lançamento do diário (1925), chegando a seu director em 1931. O alargamento aos outros media foi sendo conseguido paulatinamente: a rádio em 1944, a televisão em 1965, a indústria fonográfica em 1971 (marca Som Livre), a televisão por assinatura em 1992 e o cinema em 1998. Diversos capítulos anotam as relações do grupo mediático Globo com a ditadura militar que rebentou no Brasil em 1964, assim como a oposição à eleição de Leonel Brizola para governador estadual, aos presidentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek de Oliveira e à campanha Diretas já (1984).
Leitura: Valério Brittos e César Bolaño (2005) (org.). Rede Globo. 40 anos de poder e hegemonia. São Paulo: Paulus.
PUBLICIDADE (1) - CAMPANHA DOVE
Eis a nova campanha da Dove. As mulheres fotografadas, de 24-25 anos, identificadas e com profissões salientadas, usam uma nova loção corporal da Dove, com agentes auto-bronzeadores. Daí as frases que acompanham os três cartazes:
- Para a minha pele é Verão todo o ano!
- A minha pele é mesmo branca. Mas agora está fantástica!
- Nunca pensei que a minha pele ficasse tão luminosa!
Eis a nova campanha da Dove. As mulheres fotografadas, de 24-25 anos, identificadas e com profissões salientadas, usam uma nova loção corporal da Dove, com agentes auto-bronzeadores. Daí as frases que acompanham os três cartazes:
- Para a minha pele é Verão todo o ano!
- A minha pele é mesmo branca. Mas agora está fantástica!
- Nunca pensei que a minha pele ficasse tão luminosa!
domingo, 26 de março de 2006
UM COMENTÁRIO SOBRE OS CRÍTICOS DE CINEMA
Bruno Miguel Castro, o animador do blogue Animatógrafo, a quem não vejo há uns anos, deixou um comentário à entrada Sobre a generosidade dos críticos de cinema, que aqui coloquei ontem. Recupero esse texto para o corpo do blogue, para mais fácil leitura:
Bruno Miguel Castro, o animador do blogue Animatógrafo, a quem não vejo há uns anos, deixou um comentário à entrada Sobre a generosidade dos críticos de cinema, que aqui coloquei ontem. Recupero esse texto para o corpo do blogue, para mais fácil leitura:
- "É uma excelente questão Rogério, mas não é assim tão simples. Quando estive no Diário de Notícias, e privei com o Eurico de Barros, com o João Lopes e com o João Miguel Tavares (que na altura fazia crítica de cinema), apercebi-me que não há nenhuma grelha objectiva de análise de filme. Toda a crítica feita em imprensa (estou em crer que todos os críticos funcionam nesta base) parte de uma base de conhecimentos sobre cinema, sejam de natureza técnica, histórica ou outras, mas tem muito a ver com a abordagem de cada crítico ao objecto cinematográfico. Do João Lopes vai ter sempre uma visão mais "europeia", mais apaixonada pela conceptualidade da imagem. Do Eurico de Barros, por outro lado, terá sempre uma maior procura pela dificuldade da criação, em detrimento do facilitismo. E depois há algo comum nos críticos e que eu não sei definir, mas que sinto que também tenho na crítica que faço no Animatógrafo. É um je ne sais quoi, próximo da tarefa de desconstrução, do olhar clínico. É isso, aliás, por exemplo, que faz com [que] exista uma aproximação de pontos de vista entre o Vasco Câmara do Público e o Eurico de Barros do DN, nomeadamente em festivais de cinema como Berlim ou Veneza. Agora, há algo que creio que o Rogério deve ter em conta quando pensa na sua tarefa de classificação em termos académicos e no trabalhos dos críticos: é que a sua avalia a adequação de determinado trabalho a um conjunto de pressupostos e objectivos, enquanto a dos críticos não. E portanto, a sua [deles] visão é eternamente mais subjectiva do que a sua. E é bom que o seja, a bem do cinema. Abraço".
- I ENCONTRO DE BLOGUES DE VILA VIÇOSA
O I Encontro de Blogues de Vila Viçosa realizar-se-á em 22 de Julho, na cidade de Vila Viçosa, numa organização dos blogues O Restaurador da Independência, Emprego no Alentejo, A Taberna dos Inconformados, A Cidadela dos Incultos, Abata Afefê e O Quinto Império Digital.
O programa, segundo o comunicado recebido, "é composto por uma conferência em que iremos abordar a Descentralização da Blogosfera". A conferência decorrerá na Escola Secundária Hortênsia de Castro (Vila Viçosa), a que se seguirá o almoço-convívio no Restaurante "Os Cucos" (Mata Municipal de Vila Viçosa). Por fim, haverá uma visita guiada por Vila Viçosa.
CULTURAL STUDIES – II
[continuação de entrada editada ontem, baseada no meu texto “Indústria cultural, tecnologias e consumos”. In Carlos Leone (org.) (2000) Rumo ao cibermundo? Oeiras: Celta]
Em livro por si organizado, MacKay (1997) apresenta-nos um modelo de consumo cultural, integrado num circuito cultural. Esse modelo aplica-se às práticas da vida quotidiana, onde se identifica a variedade de locais que se podem explorar enquanto processos culturais. Os elementos do circuito cultural são cinco: consumo, produção, regulação, identidade e representação. Representação e identidade (constituída a partir daquela) são entidades que se sobrepõem e interligam de modo complexo e contingente. Representações específicas são os anúncios (textos e imagens). Estes discursos ou representação criam, em certos públicos, uma identidade.
Considera-se o consumo cultural enquanto momento crucial do circuito cultural. Claro que a noção de circuito não quer dizer que o consumo ou outro momento do circuito seja determinado pela produção ou base económica. Os estudos culturais reflectem a interrelação entre os vários momentos, os processos de influência ou retroacção pelos quais os vários componentes ou estádios do circuito estão ligados. Destaca-se o consumidor activo e implicado, ao lado de práticas locais.
A investigação empírica e qualitativa da apropriação diária dos artefactos culturais foi o foco dos prazeres do consumo. A teoria emergiu em especial no Centre for Contemporary Cultural Studies, de Birmingham. Os investigadores da apropriação cultural concluíram que a realidade da cultura de massa é mais criativa que o sugerido pelos críticos da cultura de massa. Os consumidores, nomeadamente os jovens, são activos, criativos e críticos na sua apropriação e transformação de artefactos materiais, em vez de passivos e manipuláveis. Num processo de bricolage, eles apropriam, reacentuam, rearticulam ou transcodificam o material da cultura de massa para os seus próprios fins, através de práticas criativas e simbólicas da vida quotidiana. Estes processos de apropriação constroem novas identidades.
Origem da escola dos cultural studies
Mas o que são os cultural studies? Trata-se de uma escola que emergiu no final dos anos de 1950, em Inglaterra, nos trabalhos de Richard Hoggart, Raymond Williams e Edward Thompson. Um aspecto chave foi a transposição das coordenadas estéticas e éticas, associadas à crítica literária, para a prática das culturas vivas ou populares. Em 1957, Hoggart, professor de literatura inglesa moderna, publicava The uses of literacy (em português, As utilizações da cultura, editado pela Presença), onde descreve as mudanças dos modos de vida e práticas da classe operária (trabalho, família, lazer). O livro saía no ano da inauguração da televisão comercial, representando uma crítica poderosa à cultura comercial. Em 1958, Raymond Williams, professor numa instituição de formação para trabalhadores, publica Culture and society (1780-1950), onde ressalta a dissociação existente entre cultura e sociedade.
Em 1964, nascia o Centre for Contemporary Cultural Studies, de Birmingham. Das influências na formação dos estudos culturais estiveram o impacto da televisão [embora os textos fundadores fossem escritos ainda sem a influência social e cultural da televisão, ou mesmo contra ela] e da publicidade, da música rock e das subculturas, a ficção de massa e os jornais e revistas de grande circulação. Outra influência veio do interaccionismo social da escola de Chicago, marcando os investigadores que trabalhavam na dimensão etnográfica, nas maneiras como a cultura dos diferentes grupos se comportavam face à cultura dominante.
Alguns dos líderes intelectuais associados ao projecto dos estudos culturais vieram das colónias e da província, reunindo-se num café do Soho, onde se instalou uma das primeiras máquinas de café expresso de Londres. A absorção tardia do estruturalismo francês, a par dos estudos do feminismo e das questões raciais, representaram um momento na refundação dos estudos culturais. O CCCS constituiria grupos de trabalho em torno de diferentes domínios de investigação (etnografia, media studies, teorias da linguagem, literatura e sociedade, representações da mulher).
[continuação de entrada editada ontem, baseada no meu texto “Indústria cultural, tecnologias e consumos”. In Carlos Leone (org.) (2000) Rumo ao cibermundo? Oeiras: Celta]
Em livro por si organizado, MacKay (1997) apresenta-nos um modelo de consumo cultural, integrado num circuito cultural. Esse modelo aplica-se às práticas da vida quotidiana, onde se identifica a variedade de locais que se podem explorar enquanto processos culturais. Os elementos do circuito cultural são cinco: consumo, produção, regulação, identidade e representação. Representação e identidade (constituída a partir daquela) são entidades que se sobrepõem e interligam de modo complexo e contingente. Representações específicas são os anúncios (textos e imagens). Estes discursos ou representação criam, em certos públicos, uma identidade.
Considera-se o consumo cultural enquanto momento crucial do circuito cultural. Claro que a noção de circuito não quer dizer que o consumo ou outro momento do circuito seja determinado pela produção ou base económica. Os estudos culturais reflectem a interrelação entre os vários momentos, os processos de influência ou retroacção pelos quais os vários componentes ou estádios do circuito estão ligados. Destaca-se o consumidor activo e implicado, ao lado de práticas locais.
A investigação empírica e qualitativa da apropriação diária dos artefactos culturais foi o foco dos prazeres do consumo. A teoria emergiu em especial no Centre for Contemporary Cultural Studies, de Birmingham. Os investigadores da apropriação cultural concluíram que a realidade da cultura de massa é mais criativa que o sugerido pelos críticos da cultura de massa. Os consumidores, nomeadamente os jovens, são activos, criativos e críticos na sua apropriação e transformação de artefactos materiais, em vez de passivos e manipuláveis. Num processo de bricolage, eles apropriam, reacentuam, rearticulam ou transcodificam o material da cultura de massa para os seus próprios fins, através de práticas criativas e simbólicas da vida quotidiana. Estes processos de apropriação constroem novas identidades.
Origem da escola dos cultural studies
Mas o que são os cultural studies? Trata-se de uma escola que emergiu no final dos anos de 1950, em Inglaterra, nos trabalhos de Richard Hoggart, Raymond Williams e Edward Thompson. Um aspecto chave foi a transposição das coordenadas estéticas e éticas, associadas à crítica literária, para a prática das culturas vivas ou populares. Em 1957, Hoggart, professor de literatura inglesa moderna, publicava The uses of literacy (em português, As utilizações da cultura, editado pela Presença), onde descreve as mudanças dos modos de vida e práticas da classe operária (trabalho, família, lazer). O livro saía no ano da inauguração da televisão comercial, representando uma crítica poderosa à cultura comercial. Em 1958, Raymond Williams, professor numa instituição de formação para trabalhadores, publica Culture and society (1780-1950), onde ressalta a dissociação existente entre cultura e sociedade.
Em 1964, nascia o Centre for Contemporary Cultural Studies, de Birmingham. Das influências na formação dos estudos culturais estiveram o impacto da televisão [embora os textos fundadores fossem escritos ainda sem a influência social e cultural da televisão, ou mesmo contra ela] e da publicidade, da música rock e das subculturas, a ficção de massa e os jornais e revistas de grande circulação. Outra influência veio do interaccionismo social da escola de Chicago, marcando os investigadores que trabalhavam na dimensão etnográfica, nas maneiras como a cultura dos diferentes grupos se comportavam face à cultura dominante.
Alguns dos líderes intelectuais associados ao projecto dos estudos culturais vieram das colónias e da província, reunindo-se num café do Soho, onde se instalou uma das primeiras máquinas de café expresso de Londres. A absorção tardia do estruturalismo francês, a par dos estudos do feminismo e das questões raciais, representaram um momento na refundação dos estudos culturais. O CCCS constituiria grupos de trabalho em torno de diferentes domínios de investigação (etnografia, media studies, teorias da linguagem, literatura e sociedade, representações da mulher).
sábado, 25 de março de 2006
A NÃO PERDER
São dois eventos a realizar na parte final de Abril, aqui em Lisboa. Refiro-me ao IndieLisboa, na sua terceira edição, com 282 filmes, e à Festa da Música, com 115 concertos dedicados à música barroca.
O Festival Internacional de Cinema Independente de Lisboa (IndieLisboa) decorre de 20 a 30 de Abril, nos cinemas Londres, King e Fórum Lisboa. Conta com algumas ante-estreias: Drawing restraint 9, de Matthew Barney, The proposition do australiano John Hillcoat e com argumento do cantor e compositor Nick Cave, Mary de Abel Ferrara, All the invisible children de um colectivo de realizadores que conta, entre outros, com os nomes de Emir Kusturica, Spike Lee, e Kátia Lund (co-realizadora de A cidade de Deus), e Wassup rockers, do realizador e fotógrafo Larry Clark. Será ainda ocasião para homenagear Michael Glawogger (Áustria), Jay Rosenblatt (EUA), Nobuhiro Suwa (Japão) e Edgar Pêra (Portugal).
No Festival da Música, a decorrer no CCB, ouvir-se-ão, entre outros, Haendel, Vivaldi, Teleman, Bach e Carlos Seixas.
São dois eventos a realizar na parte final de Abril, aqui em Lisboa. Refiro-me ao IndieLisboa, na sua terceira edição, com 282 filmes, e à Festa da Música, com 115 concertos dedicados à música barroca.
O Festival Internacional de Cinema Independente de Lisboa (IndieLisboa) decorre de 20 a 30 de Abril, nos cinemas Londres, King e Fórum Lisboa. Conta com algumas ante-estreias: Drawing restraint 9, de Matthew Barney, The proposition do australiano John Hillcoat e com argumento do cantor e compositor Nick Cave, Mary de Abel Ferrara, All the invisible children de um colectivo de realizadores que conta, entre outros, com os nomes de Emir Kusturica, Spike Lee, e Kátia Lund (co-realizadora de A cidade de Deus), e Wassup rockers, do realizador e fotógrafo Larry Clark. Será ainda ocasião para homenagear Michael Glawogger (Áustria), Jay Rosenblatt (EUA), Nobuhiro Suwa (Japão) e Edgar Pêra (Portugal).
No Festival da Música, a decorrer no CCB, ouvir-se-ão, entre outros, Haendel, Vivaldi, Teleman, Bach e Carlos Seixas.
OS NOVOS EDITORES
A capa do "Mil Folhas" (Público) de hoje é dedicada aos novos editores. São quatro páginas com dados de editores com nomes não convencionais para marcas de livros, de registar rapidamente na memória, como Saída de Emergência, Objecto Cardíaco, Deriva, Má Criação ou Guerra e Paz (texto de Mário Santos)
Observação: eu gostaria de ter a voracidade de leitura do rapaz da direita. Pelas minhas contas, ele transporta 18 livros (ilustração de Alejandro Gozblau).
A capa do "Mil Folhas" (Público) de hoje é dedicada aos novos editores. São quatro páginas com dados de editores com nomes não convencionais para marcas de livros, de registar rapidamente na memória, como Saída de Emergência, Objecto Cardíaco, Deriva, Má Criação ou Guerra e Paz (texto de Mário Santos)
Observação: eu gostaria de ter a voracidade de leitura do rapaz da direita. Pelas minhas contas, ele transporta 18 livros (ilustração de Alejandro Gozblau).
EXPOSIÇÃO DE MODA EM BARCELONA
Se eu fosse a Barcelona nos próximos tempos, certamente que não perderia a exposição de 26 peças de alta costura da casa Santa Eulalia, empresa pioneira da moda espanhola. Por uns dias - como se lê na revista de sábado do El Mundo (Yo Dona), em texto assinado pela comissária da exposição, Charo Mora -, vestidos, agasalhos, chapéus e outros deixam os armários das suas proprietárias e revelam oitenta anos de moda.
Corria o ano de 1926, quando a casa Santa Eulalia organizou o primeiro desfile de moda no seu edifício das Ramblas em Barcelona, artéria que nascera no começo desse século [a marca Santa Eulalia vinha já de 1843]. Com acompanhamento de piano, à maneira francesa, a passagem de modelos continuou até 1996, apenas interrompida pela Guerra Civil do país vizinho (1936-1939). Em 1941, a casa Santa Eulalia deixava as Ramblas para se instalar no número 60 do Paseo de Gracia. Nessa altura, como recordam clientes e modistas, os 20 empregados da loja não tinham mãos a medir, fosse de manhã ou à tarde. Cada cliente tinha uma hora marcada para atendimento, como se fosse a consulta do médico.
Santa Eulalia: espírito de mulher, exposição no edifício Santa Eulalia, Paseo de Gracia, 93, Barcelona, até 15 de Abril.
Se eu fosse a Barcelona nos próximos tempos, certamente que não perderia a exposição de 26 peças de alta costura da casa Santa Eulalia, empresa pioneira da moda espanhola. Por uns dias - como se lê na revista de sábado do El Mundo (Yo Dona), em texto assinado pela comissária da exposição, Charo Mora -, vestidos, agasalhos, chapéus e outros deixam os armários das suas proprietárias e revelam oitenta anos de moda.
Corria o ano de 1926, quando a casa Santa Eulalia organizou o primeiro desfile de moda no seu edifício das Ramblas em Barcelona, artéria que nascera no começo desse século [a marca Santa Eulalia vinha já de 1843]. Com acompanhamento de piano, à maneira francesa, a passagem de modelos continuou até 1996, apenas interrompida pela Guerra Civil do país vizinho (1936-1939). Em 1941, a casa Santa Eulalia deixava as Ramblas para se instalar no número 60 do Paseo de Gracia. Nessa altura, como recordam clientes e modistas, os 20 empregados da loja não tinham mãos a medir, fosse de manhã ou à tarde. Cada cliente tinha uma hora marcada para atendimento, como se fosse a consulta do médico.
Santa Eulalia: espírito de mulher, exposição no edifício Santa Eulalia, Paseo de Gracia, 93, Barcelona, até 15 de Abril.
SOBRE A GENEROSIDADE DOS CRÍTICOS DE CINEMA
Parto do princípio simples que os críticos de cinema são elementos fundamentais na formação (e aconselhamento) dos públicos de cinema. Com frequência, recorro a eles para a decisão da escolha do filme a ver. Isto porque tenho deles, os críticos de cinema em geral, a consideração de que são indivíduos - apenas homens nos três casos que analisei - capazes de olhar o produto filme e desconstruir para o espectador as tramas narrativas e fazer as análises sociológicas, psicológicas e semióticas que interessam.
As estrelinhas (ou bolinhas) que cada um dos críticos de cinema colocam à frente dos filmes são, assim, instrumentos preciosos de estudo. Mas persiste uma questão: onde acaba a objectividade e começa a subjectividade da interpretação e da opção do crítico? Eu, enquanto professor, sinto esse dilema. O momento mais difícil (e menos compreendido pelos alunos) de um semestre lectivo é quando atribuo classificações. Faço uma grelha de elementos a ponderar, mas fica sempre um travo de subjectividade, que inclui a disposição emocional do momento da avaliação.
Isto a propósito de dois filmes. Procurei nas classificações dos suplementos do Público ("Y"), Diário de Notícias ("6ª") e Expresso ("Actual") - edições de ontem e hoje - e tentei confrontar posições. O primeiro, de Manoel de Oliveira, Espelho mágico, que já vi e gostei muito. O mais forreta é o Diário de Notícias (uma bolinha de Eurico de Barros e duas de Pedro Mexia), o mais generoso é o Expresso (quatro estrelinhas de Francisco Ferreira e cinco de Cintra Ferreira). O segundo, de Jia Zhang-Ke, O Mundo, que igualmente vi e apreciei muito. O Público coloca-o a meio da tabela das apreciações: três bolinhas segundo três críticos (Luís Miguel Oliveira, Mário Jorge Torres e Vasco Câmara). Já o Expresso exprime tendências opostas quanto à avaliação: das duas estrelinhas de Leitão de Barros às quatro estrelinhas de Cintra Ferreira.
Os críticos mais generosos em classificações são Cintra Ferreira (Expresso) e João Lopes (Diário de Notícias), ao passo que os mais forretas são dois críticos do Público (Vasco Câmara e Mário Jorge Torres) [exclui as observações de péssimo]. Os críticos do Expresso são os que vêem mais filmes (seis a dez), os mais regulares os do Diário de Notícias (três críticos viram oito filmes cada e apenas um viu somente cinco filmes), ao passo que os do Público analisaram menos filmes no conjunto dos três jornais.
Pergunta do espectador que se serve das críticas para escolher um filme: cada um dos críticos não pode revelar que critérios usa para dar estrelinhas e bolinhas?
Parto do princípio simples que os críticos de cinema são elementos fundamentais na formação (e aconselhamento) dos públicos de cinema. Com frequência, recorro a eles para a decisão da escolha do filme a ver. Isto porque tenho deles, os críticos de cinema em geral, a consideração de que são indivíduos - apenas homens nos três casos que analisei - capazes de olhar o produto filme e desconstruir para o espectador as tramas narrativas e fazer as análises sociológicas, psicológicas e semióticas que interessam.
As estrelinhas (ou bolinhas) que cada um dos críticos de cinema colocam à frente dos filmes são, assim, instrumentos preciosos de estudo. Mas persiste uma questão: onde acaba a objectividade e começa a subjectividade da interpretação e da opção do crítico? Eu, enquanto professor, sinto esse dilema. O momento mais difícil (e menos compreendido pelos alunos) de um semestre lectivo é quando atribuo classificações. Faço uma grelha de elementos a ponderar, mas fica sempre um travo de subjectividade, que inclui a disposição emocional do momento da avaliação.
Isto a propósito de dois filmes. Procurei nas classificações dos suplementos do Público ("Y"), Diário de Notícias ("6ª") e Expresso ("Actual") - edições de ontem e hoje - e tentei confrontar posições. O primeiro, de Manoel de Oliveira, Espelho mágico, que já vi e gostei muito. O mais forreta é o Diário de Notícias (uma bolinha de Eurico de Barros e duas de Pedro Mexia), o mais generoso é o Expresso (quatro estrelinhas de Francisco Ferreira e cinco de Cintra Ferreira). O segundo, de Jia Zhang-Ke, O Mundo, que igualmente vi e apreciei muito. O Público coloca-o a meio da tabela das apreciações: três bolinhas segundo três críticos (Luís Miguel Oliveira, Mário Jorge Torres e Vasco Câmara). Já o Expresso exprime tendências opostas quanto à avaliação: das duas estrelinhas de Leitão de Barros às quatro estrelinhas de Cintra Ferreira.
Os críticos mais generosos em classificações são Cintra Ferreira (Expresso) e João Lopes (Diário de Notícias), ao passo que os mais forretas são dois críticos do Público (Vasco Câmara e Mário Jorge Torres) [exclui as observações de péssimo]. Os críticos do Expresso são os que vêem mais filmes (seis a dez), os mais regulares os do Diário de Notícias (três críticos viram oito filmes cada e apenas um viu somente cinco filmes), ao passo que os do Público analisaram menos filmes no conjunto dos três jornais.
Pergunta do espectador que se serve das críticas para escolher um filme: cada um dos críticos não pode revelar que critérios usa para dar estrelinhas e bolinhas?
CULTURAL STUDIES – I
[entrada baseada no meu texto “Indústria cultural, tecnologias e consumos”. In Carlos Leone (org.) (2000) Rumo ao cibermundo? Oeiras: Celta]
Os investigadores do Birmingham Centre for Contemporary Cultural Studies desenvolveram trabalho empírico e qualitativo da apropriação diária dos produtos culturais, no que designaram por prazeres do consumo. Um dos fundadores dos cultural studies, Stuart Hall, operou um modelo de interpretação das mensagens televisivas, pelo qual um “leitor” codifica e descodifica o “texto” difundido. Hall identificou três posições na descodificação de um texto televisivo: 1) aceitação de uma leitura preferida, a comunicação perfeitamente transparente, 2) questionar limitado e negociado da matéria, 3) rejeição das definições apresentadas, procurando encontrar quadros alternativos de referência.
A teoria deslocou a importância da produção para o consumo, espaço de apropriação, transformação e investimento de significados. Produtores, consumidores e formas de comunicação localizam-se num circuito cultural. Assim, a realidade da cultura de massa é mais criativa do que Adorno e os seus colegas escreveram, mas a modernidade está para além da cibercultura e do virtual apregoada pelos “filhos” de McLuhan, pois a realidade tem existência física.
Tecnologias e consumos domésticos
Uma das teorias relacionando a tecnologia e a sociedade é designada por determinismo tecnológico, em que a tecnologia é algo que se desenvolve fora da sociedade. À medida que chega a tecnologia, ela tem um impacto na sociedade. A teoria, em que a tecnologia se julga o motor da mudança social e da formação da sociedade, de modo determinista, associa tecnologia e máquinas, com artefactos tangíveis e físicos: o automóvel, a fábrica de produção em série, os circuitos electrónicos. Mas, a teoria determinista ignora os processos de formação social da tecnologia em torno dela. O momento de chegada de uma tecnologia é crucial, um tempo de combate. O aparecimento de uma tecnologia processa-se dentro de um contexto de tecnologias prévias.
O lar apresenta-se como uma unidade social, cultural e doméstica, tomando parte activa no consumo de objectos e significados dos membros que constituem os membros da família e unidade económica complexa em si, naquilo a que Silverstone, Hirsch e Morley chamaram economia moral. A tecnologia impregna a vida doméstica – podemos dizer que as tecnologias de informação se converteram no elemento central da família e da sua cultura. Basta atentarmos no lugar ocupado, primeiro, pela rádio e, depois, pela televisão, aparelhos cujo destino inicial e principal foi o consumo doméstico.
Do computador à internet: construção de identidade e terceiro lugar
O computador e a internet constroem um outro lugar onde podemos estar. Oldenburg defendeu o conceito de terceiro lugar (após o lar e o local de trabalho), enquanto espaços informais de encontro público. O bierstube alemão, a taberna italiana, o bistro ou café francês e o pub inglês são lugares servindo uma comunidade. Neles, encontram-se pessoas com interesses semelhantes mas também diferentes, juntando pessoas em diversas formas de associação. A alegria que manifestamos quando nos encontramos num destes lugares reside no facto de que poucos espaços servem tão bem. É o caso do café com esplanada. Área mais importante do café, com parte do passeio ocupado por mesas e cadeiras, na esplanada as pessoas conversam e apreciam o movimento.
Na cultura das comunidades virtuais, as pessoas experimentam e partilham experiências com formas variadas de comunicação e de modos de representação. Se uma comunidade real emprega códigos não verbais para acompanhar as expressões verbais – numa mistura de gestos, vestuário, etiqueta, expressões ou sotaques, produzindo sentimentos, atitudes e comportamentos –, os participantes na rede virtual recriam ambientes e aceitam regras não escritas nem visualizadas, facilitando o contacto entre pessoas que normalmente não o fazem, por timidez, distância geográfica ou qualquer outra forma de inibição.
A um sentimento de pertença emocional e ideal de projecto comum, a comunidade virtual acrescenta um lado de efémero, de ausência de organização ou composição cambiante. Os cultores do ciberespaço consideram a rede electrónica como espaço do sagrado, lugar privilegiado para observar o reencantamento da tecnologia, dado o fascínio de a máquina fazer coisas que não entendemos muito bem como ela as executa. Além disso, os defensores da cultura do ciberespaço exponenciam a rede enquanto meio descentralizado de comunicação que ultrapassa fronteiras nacionais e com centenas de milhares de editores e de autores.
[entrada baseada no meu texto “Indústria cultural, tecnologias e consumos”. In Carlos Leone (org.) (2000) Rumo ao cibermundo? Oeiras: Celta]
Os investigadores do Birmingham Centre for Contemporary Cultural Studies desenvolveram trabalho empírico e qualitativo da apropriação diária dos produtos culturais, no que designaram por prazeres do consumo. Um dos fundadores dos cultural studies, Stuart Hall, operou um modelo de interpretação das mensagens televisivas, pelo qual um “leitor” codifica e descodifica o “texto” difundido. Hall identificou três posições na descodificação de um texto televisivo: 1) aceitação de uma leitura preferida, a comunicação perfeitamente transparente, 2) questionar limitado e negociado da matéria, 3) rejeição das definições apresentadas, procurando encontrar quadros alternativos de referência.
A teoria deslocou a importância da produção para o consumo, espaço de apropriação, transformação e investimento de significados. Produtores, consumidores e formas de comunicação localizam-se num circuito cultural. Assim, a realidade da cultura de massa é mais criativa do que Adorno e os seus colegas escreveram, mas a modernidade está para além da cibercultura e do virtual apregoada pelos “filhos” de McLuhan, pois a realidade tem existência física.
Tecnologias e consumos domésticos
Uma das teorias relacionando a tecnologia e a sociedade é designada por determinismo tecnológico, em que a tecnologia é algo que se desenvolve fora da sociedade. À medida que chega a tecnologia, ela tem um impacto na sociedade. A teoria, em que a tecnologia se julga o motor da mudança social e da formação da sociedade, de modo determinista, associa tecnologia e máquinas, com artefactos tangíveis e físicos: o automóvel, a fábrica de produção em série, os circuitos electrónicos. Mas, a teoria determinista ignora os processos de formação social da tecnologia em torno dela. O momento de chegada de uma tecnologia é crucial, um tempo de combate. O aparecimento de uma tecnologia processa-se dentro de um contexto de tecnologias prévias.
O lar apresenta-se como uma unidade social, cultural e doméstica, tomando parte activa no consumo de objectos e significados dos membros que constituem os membros da família e unidade económica complexa em si, naquilo a que Silverstone, Hirsch e Morley chamaram economia moral. A tecnologia impregna a vida doméstica – podemos dizer que as tecnologias de informação se converteram no elemento central da família e da sua cultura. Basta atentarmos no lugar ocupado, primeiro, pela rádio e, depois, pela televisão, aparelhos cujo destino inicial e principal foi o consumo doméstico.
Do computador à internet: construção de identidade e terceiro lugar
O computador e a internet constroem um outro lugar onde podemos estar. Oldenburg defendeu o conceito de terceiro lugar (após o lar e o local de trabalho), enquanto espaços informais de encontro público. O bierstube alemão, a taberna italiana, o bistro ou café francês e o pub inglês são lugares servindo uma comunidade. Neles, encontram-se pessoas com interesses semelhantes mas também diferentes, juntando pessoas em diversas formas de associação. A alegria que manifestamos quando nos encontramos num destes lugares reside no facto de que poucos espaços servem tão bem. É o caso do café com esplanada. Área mais importante do café, com parte do passeio ocupado por mesas e cadeiras, na esplanada as pessoas conversam e apreciam o movimento.
Na cultura das comunidades virtuais, as pessoas experimentam e partilham experiências com formas variadas de comunicação e de modos de representação. Se uma comunidade real emprega códigos não verbais para acompanhar as expressões verbais – numa mistura de gestos, vestuário, etiqueta, expressões ou sotaques, produzindo sentimentos, atitudes e comportamentos –, os participantes na rede virtual recriam ambientes e aceitam regras não escritas nem visualizadas, facilitando o contacto entre pessoas que normalmente não o fazem, por timidez, distância geográfica ou qualquer outra forma de inibição.
A um sentimento de pertença emocional e ideal de projecto comum, a comunidade virtual acrescenta um lado de efémero, de ausência de organização ou composição cambiante. Os cultores do ciberespaço consideram a rede electrónica como espaço do sagrado, lugar privilegiado para observar o reencantamento da tecnologia, dado o fascínio de a máquina fazer coisas que não entendemos muito bem como ela as executa. Além disso, os defensores da cultura do ciberespaço exponenciam a rede enquanto meio descentralizado de comunicação que ultrapassa fronteiras nacionais e com centenas de milhares de editores e de autores.
sexta-feira, 24 de março de 2006
- ESTUDANTES MULTIMEDIA
Jemima Kiss, da newsletter Journalism.co.uk, e o jornalista freelance Chris Wheal coordenam uma equipa de estudantes para, num blogue, darem conta da totalidade da conferência anual do Sindicato Nacional de Jornalistas ingleses (National Union of Journalists) (NUJ). O principal objectivo é encorajar mais jornalistas a aderirem ao sindicato, agora que foi criado um conselho para estudar a adaptação dos jornalistas (e do sindicato) aos novos media.
Assim, 15 membros estudantes trabalham no projecto, um misto de jornalistas de imprensa e do audiovisual pertencentes a cursos dos vários níveis universitários, e que estão a oferecer conteúdos de texto, áudio e vídeo. Espreitem o blogue do encontro e lá encontrarão mesmo as fotografias dos doces do jantar de ontem.
PROPAGANDA
Para aqueles que amam, odeiam, teorizam, utilizam, observam, criticam e temem a propaganda, vai sair o livro de Edward Bernays, Propaganda, da Mareantes Editora. O lançamento efectua-se no auditório da FNAC Chiado, em Lisboa, no dia 29 de Março, pelas 18:30. A apresentação caberá a Luís Paixão Martins, autor do prefácio do livro.
Para aqueles que amam, odeiam, teorizam, utilizam, observam, criticam e temem a propaganda, vai sair o livro de Edward Bernays, Propaganda, da Mareantes Editora. O lançamento efectua-se no auditório da FNAC Chiado, em Lisboa, no dia 29 de Março, pelas 18:30. A apresentação caberá a Luís Paixão Martins, autor do prefácio do livro.
ÁGUAS COM SABORES (III)
[continuação de mensagens colocadas ontem]
O grupo de alunos finalistas de comunicação da UCP Joana Ramos, Alexandre Pedro e Joana Fonseca trabalhou um inquérito sobre o consumo de águas gaseificadas de sabores, em Novembro do ano passado, a 93 indivíduos de ambos os sexos e de idades compreendidas entre os 14 e os 62 anos.
Os alunos quiseram saber como é que esse consumo se faz, dentro ou fora do lar. Assim, 62% é feito fora de casa (47% em cafés e estabelecimentos congéneres), e 38% resulta de compras feitas em mercearias e grandes superfícies (margem de 18% com respostas NS/NR).
Das razões para o consumo, 52% aponta o sabor, 14% a sensação, 14% o hábito, 9% a saúde, 8% a influência, 1% o bem-estar e 1% a curiosidade. Sendo grande parte do consumo efectuado fora do lar, as horas para beber águas gaseificadas com sabor são principalmente das 15:00 às 22:00 (21% no período 19:00-22:00, 19% no período 15:00-19:00, 14% depois das 22:00).
Frize, Vidago e Luso foram as marcas mais referidas, por esta ordem. Também a Frize elege a maioria dos consumidores reais, com 65%, seguindo-se a Vidago (10%) e a Luso-Fresh (7%) [evidentemente estes valores reflectem um pequeno universo, podendo a totalidade dos consumidores ter outras tendências].
Quanto à publicidade, é de novo a Frize que surge em primeiro lugar em termos de recordação (78%), com as marcas em geral a serem reconhecidas pelos anúncios na televisão (56%), seguindo-se a publicidade exterior (13%). Os jovens investigadores constataram ainda o bom posicionamento, quanto a memória da publicidade, da Luso-Fresh, produto recente mas que ganha com a notoriedade da marca geral.
Observação: para completar mais o trabalho, deveria haver resultados sobre as preferências de sabores, o que não foi conseguido.
[continuação de mensagens colocadas ontem]
O grupo de alunos finalistas de comunicação da UCP Joana Ramos, Alexandre Pedro e Joana Fonseca trabalhou um inquérito sobre o consumo de águas gaseificadas de sabores, em Novembro do ano passado, a 93 indivíduos de ambos os sexos e de idades compreendidas entre os 14 e os 62 anos.
Os alunos quiseram saber como é que esse consumo se faz, dentro ou fora do lar. Assim, 62% é feito fora de casa (47% em cafés e estabelecimentos congéneres), e 38% resulta de compras feitas em mercearias e grandes superfícies (margem de 18% com respostas NS/NR).
Das razões para o consumo, 52% aponta o sabor, 14% a sensação, 14% o hábito, 9% a saúde, 8% a influência, 1% o bem-estar e 1% a curiosidade. Sendo grande parte do consumo efectuado fora do lar, as horas para beber águas gaseificadas com sabor são principalmente das 15:00 às 22:00 (21% no período 19:00-22:00, 19% no período 15:00-19:00, 14% depois das 22:00).
Frize, Vidago e Luso foram as marcas mais referidas, por esta ordem. Também a Frize elege a maioria dos consumidores reais, com 65%, seguindo-se a Vidago (10%) e a Luso-Fresh (7%) [evidentemente estes valores reflectem um pequeno universo, podendo a totalidade dos consumidores ter outras tendências].
Quanto à publicidade, é de novo a Frize que surge em primeiro lugar em termos de recordação (78%), com as marcas em geral a serem reconhecidas pelos anúncios na televisão (56%), seguindo-se a publicidade exterior (13%). Os jovens investigadores constataram ainda o bom posicionamento, quanto a memória da publicidade, da Luso-Fresh, produto recente mas que ganha com a notoriedade da marca geral.
Observação: para completar mais o trabalho, deveria haver resultados sobre as preferências de sabores, o que não foi conseguido.
Subscrever:
Mensagens (Atom)