segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Museu da Electricidade

"O Museu da Electricidade, localizado junto ao Tejo, em Lisboa, registou 244.700 visitantes em 2014, o maior número de entradas desde a abertura da entidade, em 2006, anunciou hoje a Fundação EDP. De acordo com os números da Fundação EDP, que celebra este ano uma década de actividade, é a primeira vez que o Museu da Electricidade ultrapassa os 200 mil visitantes, com um crescimento de 22,5% face ao ano de 2013" (com base em informação lida no Diário de Notícias).

Laura Mulvey em Lisboa

"Na reabertura das salas da Cinemateca na próxima segunda-feira dia 5 de Janeiro às 18.00 horas, Laura Mulvey - nome fundamental da teoria cinematográfica europeia nas últimas quatro décadas – inicia um pequeno ciclo de conferencias integrado na rubrica Histórias do Cinema. Mulvey vem a Lisboa debater a obra de Max Ophuls, apresentando cinco filmes do grande realizador alemão, cuja obra e cuja insistente procura de um ponto de vista da mulher têm ocupado um lugar central nas suas mais recentes análises. Professora, ensaísta e realizadora, Laura Mulvey marcou os estudos de cinema desde o seu artigo seminal Visual pleasure and narrative cinema, publicado na revista Screen em 1975. Hoje em dia Professora no Birkbeck College da Universidade de Londres, após muitos anos de ligação ao Brtish Film Institute e com uma longa carreira de ensaísta e realizadora (neste caso maioritariamente em co-autoria com Peter Wollen), Mulvey abordou privilegiadamente a representação feminina e o melodrama, assim como as mutações tecnológicas no cinema e na televisão, e centrou-se em obras como as de Douglas Sirk ou, precisamente, Max Ophuls" (comunicado da Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema).

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

12 anos de blogues

Todos os anos, recordo aqui como comecei a escrever em blogues. No início, José Carlos Abrantes (professor de Teoria e História da Imagem na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e na Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa, provedor dos leitores do Diário de Notícias e dos telespectadores na RTP) e eu demos animação a um blogue do CIMJ (Centro de Investigação Media e Jornalismo). Outros colegas participavam na escrita de textos mas nós mantivemos uma colaboração mais intensa, depois transferida para blogues pessoais.

O meu primeiro blogue chamou-se Teorias da Comunicação, iniciado em Março de 2003, seguindo-se este Indústrias Culturais. Quer um quer outro destinavam-se a apoios de aulas que eu então leccionava. Depois, descontinuei o blogue Teorias, não sabendo agora sequer o endereço na internet. Os textos desse blogue acabaram por ser transferidos para este. O blogue Indústrias Culturais serviu, ao longo deste tempo todo, várias funções. Uma delas, foi a edição de um livro, com um texto inicial feito de raiz para esse objectivo. Outra foi a participação em colóquios e congressos em Portugal, Espanha e Brasil. Ele também serviu para experimentar outros media como a produção de pequenos vídeos de informação (sem qualquer ambição estética mas dando conta de teses de doutoramento sobre comunicação, cultura e media, por exemplo).

No começo da actividade dos blogues, em 2002-2003, eles eram pensados como ferramentas tecnológicas revolucionárias. Por exemplo, pensava-se que o jornalismo seria substituído pelos blogues, dada a nova possibilidade de fácil produção de textos por toda a gente. Com redes sociais mais amplas como o Facebook, criou-se a ideia de o utilizador ser também produtor de conteúdos, que, sem ser errado, criou um dos melhores mitos em torno do sublime tecnológico - a ideia que a tecnologia em si muda a sociedade. Ora, muitos dos textos produzidos na internet não têm qualidade e muitos até são ofensivos. A eliminação de controlo de qualidade ou de uma espécie de editor que classifica as ideias e os modos como se publicam textos - a ausência de regras e códigos deontológicos - conduz a uma imensidão de textos e imagens que se repetem e sem preencherem o requisito do produtor-utilizador na acepção correcta da ideia.

Quando surgiram os blogues, criou-se uma espécie de comunidade de autores-escritores que se reuniam, marcavam almoços e jantares. Eu estive presente no Alentejo, em Coimbra, no Porto e aqui em Lisboa a testemunhar esse nascimento. Como se criou, o movimento esvaiu-se. Por esses anos, intentaram-se criar redes de blogues. Estive para participar numa rede de blogues portugueses, com a ideia de também angariar publicidade. Acabei por participar numa rede de blogues liderada pela universidade de Marselha (França), de que ainda mantenho a escrita, que é uma cópia do que aqui escrevo. No início, a adesão de algumas das personalidades públicas a este tipo de escrita serviu para a sua massificação, além da grande facilidade de escrita nestas plataformas. Uma das personalidades públicas que mais contribuiu foi José Pacheco Pereira com o seu blogue Abrupto.

Muitas das cerca de oito mil mensagens que já produzi não tem valor excepto darem conta de ocorrências, tipo lançamento de livros ou actividades programadas para um dia. Mas, muitas das vezes, funciona como uma espécie de diário. Aliás, a ideia original de blogue era essa, a de escrita (e publicitação para um público que não se conhece) de um diário, como a palavra espanhola aplicada a este trabalho - bitácora. Com a expansão de outras redes mais colaborativas, como o Twitter e o Facebook, o blogue ressentiu-se, perdeu adeptos e escritores, que se passaram para essas redes.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Arte útil para Charles Esche

Anteontem, dia 22 de Dezembro, o jornal Público editou uma entrevista com Charles Esche, director do Van Abbemuseum (Eindhoven, Holanda, com quadros de Picasso, Chagall, Kandinsky, El Lissitzky, Theo van Doesburg e Mondriaan, entre outros).

Depois de criticar o Estado actual ("Ao fracasso do Estado em se adaptar a contextos e necessidades em mutação, ao fracasso do modelo do Estado providência, dos serviços nacionais de saúde, da ideia de que a cidadania é partilhada pelas pessoas e que, portanto, todas têm certos direitos, a própria ideia dos direitos que derivam de uma cidadania e dos deveres que lhe estão associados"), entra na definição do papel de agente de reinvenção do Estado ("Um dos conceitos para que me parece que devemos olhar com atenção é o dos commons, um conjunto de valores ou de bens que não têm um proprietário individual, mas colectivo. O Estado manteve para si durante muito tempo a ideia de commons, agora parece-me que há oportunidade de generalizar a ideia de propriedade colectiva. E parece-me que as próprias instituições artísticas incorporam já em si o conceito de common. As colecções dos museus, por exemplo: de certa forma, são já propriedade partilhada").

Mais à frente, responde à entrevista dada a Vanessa Rato que a arte, além de experimental, "deve também implicar-se em termos de organização social. De novo: é qualquer coisa que os puristas, os modernistas, vão rejeitar, mas se virmos a arte como tendo uma função, uma delas tem que ser imaginar qualquer coisa que ainda não existe. Isto é necessário e verdade em qualquer processo criativo, quer seja socialmente criativo, individualmente criativo ou mesmo criativo em termos capitalistas, de criação de um novo produto: o processo de imaginar o que ainda não existe é fundamental – se não conseguimos imaginar, será muito difícil criar". E conclui o seu pensamento com a seguinte posição: "A arte pela arte existiu dentro de uma estrutura socio-politico-económica específica, um contexto de excesso produzido pela burguesia, que achava que a arte não devia ter uma função porque a sociedade era rica ao ponto de poder conceber um fora do utilitarismo. Nessa sociedade, a arte recebeu um papel específico, um papel que, à sua maneira, também era político. E no período da Guerra Fria essa arte pela arte foi instrumental, servia para provar a liberdade do mundo ocidental por oposição à instrumentalização que o leste fazia da arte e dos artistas. [...] No museu usamos a expressão espanhola “arte útil”. A ideia da arte como ferramenta [porque, em castelhano, “útil” quer também dizer ferramenta] parece-me mais sedutora do que a ideia de uma arte utilitária. Creio que transmite bem a capacidade da arte em assumir um papel funcional dentro das estruturas de pensamento. E isto implicará determinadas características: uma arte útil terá uma relação real com o mundo, não será apenas simbólica, não usará apenas uma linguagem simbólica, mas fará propostas reais para mudanças reais do mundo real, satisfará talvez uma necessidade ou produzirá um resultado com efeitos fora das instituições da arte". Aqui, identificaria John Ruskin e William Morris como autores ou artistas que resistiram à industrialização, a partir do qual se pode trabalhar um "conceito como o de arte útil [que] recorda que a arte pode ter uma função genuína na sociedade". A ler na íntegra aqui.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Liberdade de expressão através da perspectiva do anterior conselho deontológico do Sindicato dos Jornalistas

Publicado no sítio do Sindicato dos Jornalistas, o relatório do Conselho Deontológico cessante indica que as "condições de exercício do jornalismo no período 2010-2014 agravaram-se com implicações no domínio ético-deontológico. Em 2010 (Observatório de Deontologia do Jornalismo - Boletim mensal do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, nº 5, Setembro/Outubro), constatava-se o surgimento de indícios de “declínio e de ruptura simbólica com a expressão da liberdade” e a circunstância do jornalismo se encontrar «aos pés do mercado de notícias que dele se serve para acumular lucros e poder» [...] O carácter anómico do exercício profissional foi impulsionado por uma orientação estratégica dos media centrada em transformar a informação em mercadoria, com o intuito de produzir espectáculo mediático e assegurar audiências e vendas. Esta perspectiva conduziu gradualmente o jornalismo à situação de refém do interesse de fontes organizadas e à mercê da duvidosa qualidade de uma informação que se pretende vendável".

Quanto à participação dos públicos, o Conselho Deontológico cessante indica que "Críticas, reparos, pedidos para que o CD se pronunciasse sobre coberturas televisivas e sugestões para que sejam cumpridos os valores da profissão constituem algumas das participações apresentadas por elementos dos públicos do jornalismo. Foi criticada a promoção de um livro num dos canais de televisão em que se simulava um telejornal ou o incumprimento por outro dos canais do pedido da fonte para que não fosse identificada. Também foram criticados os serviços noticiosos de rádio e televisão que reproduzem as mesmas peças em dias sucessivos sem qualquer actualização, assim como a hegemonia de directos sobre comemorações de vitórias por clubes de futebol transmitidas em simultâneo por todos os canais de televisão generalistas. [...] O caso mais recente refere-se à cobertura noticiosa da prisão do ex-primeiro-ministro José Sócrates e à subsequente informação produzida. É apontada, nalgumas peças de imprensa, cujo género é indefinido, a mistura entre informação e opinião, a vulgaridade e a irrelevância. Os directos televisivos são pautados pela ausência não só de factos mas também de mediação jornalística. As opções editoriais traduzem tão-só a ocupação de tempo informativo de baixo custo, substituindo o acto jornalístico pelo ritual do plantão que coloca o telespectador frente à porta do tribunal ou da prisão sem acrescentar qualquer valor noticioso".

Nas recentes eleições do Sindicato dos Jornalistas (18 de Dezembro), ganhou a lista presidida pela jornalista Sofia Branco (Lusa), tendo como presidente da Mesa da Assembleia Geral o jornalista Eugénio Alves (reformado) e no Conselho Fiscal o jornalista Manuel Esteves (Jornal de Negócios). Já como presidente do Conselho Deontológico, o sindicato conta com a jornalista São José Almeida (Público) e o Conselho Geral com a jornalista Ana Luísa Rodrigues (RTP).

RTP2

Segundo o Expresso, a RTP 2, agora dirigida a partir do Centro de Produção do Porto, quer reconquistar audiências e espera chegar aos 4% no final do primeiro trimestre de 2015. Da programação planeada, serão exibidas a série dinamarquesa Borgen, centrada nos combates políticos, ciclos sobre Ingmar Bergman e Alfred Hitchcock e produção e propostas nacionais, como Visita Guiada, de Paula Moura Pinheiro, e Literatura Agora, com apresentação de Pedro Lamares.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Eu também gostava de ouvir Joe Cocker

Ele tinha uma voz rouca. Lembro-me muito da versão dos Beatles With a Little Help from My Friends. Cocker recebeu um Grammy em 1983. Ler o obituário no jornal Guardian e saber mais dele na Wikipedia. Morreu com 70 anos no Colorado.

Andrómaca

Na sala de entrada, havia fotografias com cenas da peça. Os figurinos de Manuela Bronze pareciam estranhos, num misto de vestuário dos gregos clássicos e dos filmes de ficção científica. Mas, dentro da sala, compreendi melhor os figurinos, em especial quando conjugados com o desenho de luz de Mariana Rego. A quarta parede do teatro era uma ampla tábua que recebia cores simples mas quentes - do amarelo inicial ao vermelho e ao verde. Em especial quando a luz recaiu sobre Hermíone no momento em que ela planeava vingar-se ora de Pirro ora de Orestes. Andrómaca, viúva de Heitor, derrotado e morto, vivia prisioneira de Pirro. Enquanto repelia a paixão sentida pelo seu carcereiro, procurava salvar o filho Astíanax. Ela pede a Hermíone que interceda junto de Pirro. Mas Hermíone estava mais preocupada em decidir entre Orestes e Pirro, velho e novo amor.


Vasco da Graça Moura traduzira a peça de Jean Racine Berenice, estreada em 2005. Depois, traduziu Andrómaca, incentivando o encenador Carlos Pimenta a montar a peça. Só agora, depois da morte do poeta e tradutor, na cidade onde ele nasceu, é que a peça foi dada a conhecer ao público, no Teatro Helena Sá e Costa, com os alunos finalistas do departamento de Teatro da Escola Superior da Música e das Artes do Espetáculo (ESMAE).

Além de verificar o entusiasmo dos alunos na representação, não tenho competência para aquilatar do valor de cada um dos jovens actores, nem sei prever o sucesso deles na actividade. Nove alunos representaram as oito personagens da peça, com Hermíone interpretada por Mariana Magalhães e Soraia Sousa, tendo visto esta última, cujo perfil no LinkedIn indica que ela já trabalhou no filme de João Sousa Cardoso (A Santa Joana dos Matadouros, 2014, a partir de Bertolt Brecht) e é modelo, portefólio necessário e complementar à actividade teatral. Também não me sinto competente para avaliar a colocação das vozes, embora me pareça que a acústica da sala nem sempre ajuda. No dispositivo da encenação criada por Carlos Pimenta, os actores ficam fora do tablado, nas laterais do palco, quando não entram no diálogo. Quando saem, ensaiam passos como se fossem soldados, atitude maquínica em oposição à organicidade da tragédia grega.

No texto de apresentação da peça, o encenador Carlos Pimenta escreve sobre a guerra. Ele compara a guerra de Tróia, onde homens corajosos se defrontavam com as suas virtudes e defeitos, com os actuais conflitos, mediados por drones, máquinas voadoras controladas de longe por homens. Como disse Baudrillard, a guerra hoje parece um simulacro - como, aliás, as imagens projectadas no começo e no fim da representação mostram. Mas, a guerra é sempre injusta e cruel, pelo que não há comparabilidade na sua substância.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Colecção de peças de teatro de António José de Oliveira

Entre pelo menos 1780 e 1797, António José de Oliveira copiou mais de 200 textos de teatro, guardados na Biblioteca Nacional. Agora, até ao próximo dia 31 de Dezembro, comissariada por Isabel Pinto, a exposição mostra traduções e adaptações sobretudo de autores portugueses (como Alexandre António de Lima, José Anastácio da Cunha, Manuel de Sousa, Vicente Carlos de Oliveira) mas também espanhóis, franceses, italianos, ingleses e suíços (como Pedro Calderón de la Barca, Carlo Goldoni, Diderot, Jean Racine, Rousseau, Molière, Voltaire). Como se lê na folha que acompanha a exposição, os géneros dos textos incluem ópera, comédia, drama, tragédia e farsa e foram representados em teatros como o do Bairro Alto, o da Rua dos Condes e o Teatro de São Carlos. Para a comissária da exposição, muitas dessas peças nunca mais foram representadas.


sábado, 20 de dezembro de 2014

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

The Public Philosophy Journal

"The Public Philosophy Journal is designed to re-envision the relationship between the academy and everyday life by creating a public space for accessible but rigorous scholarly discourse on challenging contemporary issues of public concern".

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O rapaz que queria escrever peças de teatro

Logo na adolescência quis fazer peças para teatro. Tinha comprado um caderno alto e começara a escrever com a sua letra muito pequena. Mas parecia faltar-lhe talento ou conhecimento do mundo e leituras e idas ao teatro. Além disso, estava à beira do insucesso escolar. A família mantinha-se em longo desequilíbrio psicológico, com o pai a morrer em breve. Eu incentivei-o a manter as suas ideias, a ler e a observar e conversar muito, e a não faltar às aulas. Esperava que ele ganhasse confiança nas suas capacidades. No fim, houve entre nós um firme cumprimento de mão. Alguns colegas que montavam uma sala negra levaram-no a visitá-la e a falar de teatro e de públicos. No final do dia, o Coro da Carris cantava no passeio. O Natal chegava.


Nova marca para os media da Controlinveste

Hoje, Diário de Notícias, Jornal de Notícias e outros media do grupo Controlinveste Conteúdos mudam de marca para Global Media Group.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Boyhood

Uma mulher divorciada com dois filhos, a procura da reconstituição familiar e dois fracassos quanto a esse motivo constituem a teia principal da história. Mas o filme mostra a evolução das crianças, em especial o rapaz (Mason, representado por Elgar Coltrane), da passagem da infância até ao final da adolescência. A escola, os amigos, as brincadeiras nem sempre seguras, o despertar sexual, os gostos e, em especial, o modo como analisa a sua vida familiar são elementos cruciais. Neste sentido, o filme é denso, de narrativa regular e com emoção, de uma América em recomposição (família, emprego, escola, reconhecimento social e cultural).

O filme de Richard Linklater (2014) adquire maior tessitura quando se descobre que realizador e actores se reuniram para filmar uma semana cada ao longo de doze anos. Assim, o filme não foi feito de uma só vez, mas continuando ao longo do tempo, experiência brutal que mostra o envelhecimento da mãe (Patrícia Arquette) (e do pai das crianças - representado por Ethan Hawke -, que as leva a passear ao fim-de-semana) e o crescimento, com a mudança de voz e de estrutura física, dos filhos tornados adultos na fase final do filme.

Esta experiência ilustra uma aposta no tempo e um risco maior de o projecto não ser concluído. Agora que o vemos, gostaríamos que ele fosse compensado nos prémios cinematográficos que se anunciam.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O livro de Huyssen

Como investigador, não me interessam temas que destaquem as representações do Holocausto, do Terceiro Reich e de outros acontecimentos traumáticos, reconciliação e silenciamento repressivo, descolonização, direitos humanos internacionais, nação e políticas de imigração ou ainda globalização. Mas o livro de Andreas Huyssen, Políticas de Memória no Nosso Tempo, chamou-me a atenção, porque inclui os temas da memória e do esquecimento, assuntos perto da História. E critica a ideia de discurso da História como comentário à tradição, à selecção e exclusão (p. 106) e vê a globalização como reduccionista e falha de profundidade histórica (p. 115).

Recordar e esquecer não são simples categorias, com Huyssen a seguir Ricoeur. O autor pensa nomeadamente no assassinato de milhões de judeus (Holocausto) mas também nos bombardeamentos de saturação das cidades alemãs na II Guerra Mundial em Dresden e em Hamburgo, por exemplo (p. 31). Nas décadas a seguir à terrível tragédia europeia, foi consentido falar no Holocausto mas os alemães reprimiram ou negaram ou evadiram-se a falar nesses bombardeamentos. Disso opera com insistência Huyssen, numa estratégia de equilibrar ambas as violências. O trabalho de memória na Alemanha pode equiparar-se a exemplos mais recentes como os regimes de ditadura na Argentina ou no Brasil, na guerra da Bósnia e nas guerras de limpeza étnica em África. O autor escreve uma coisa simples mas profunda: fazer desaparecer cadáveres é fácil mas esconder ruínas dos bombardeamentos é difícil. As marcas ficam para além da geração que as viveu, num revisionismo histórico compreensível para um alemão que cresceu na sinistra década de 1950 e que emigrou para os Estados Unidos na década de 1970, onde vive e investiga. O seu revisionismo está baseado na literatura e nos seus diversos discursos produzidos e dos quais ele manifesta quer paixão quer afastamento intelectual, à esquerda ou à direita.

A ruína e a sua nostalgia tornam-se restauro e adaptação. A ruína é reconstruída e aproveitada para outra finalidade, como se fosse um lifting (p. 91). Daí, ele recordar Piranesi e as suas ruínas, uma outra crítica à ideia de modernidade como progresso e elevação moral da humanidade (p. 94). Afinal, o século XX foi muito sujo, com um rol inesgotável de cadáveres e ruínas, longe dessa elevação e novas tecnologias, como os autores do sublime tecnológico não cessam de incensar.

Algo interessante que descobri neste livro: após a pós-modernidade nasce o novo modernismo (p. 102). A tese que Huyssen sustenta é que os americanos propuseram-se reescrever a História do século XX, libertando outra visão das vanguardas e da relação entre baixa e alta cultura. Os livros de história das artes visuais levam-nos sempre ao triunfo da perfeição do abstracto de origem americana (caso de Pollock). Mas, entende o autor de Políticas de Memória no Nosso Tempo que a teoria crítica francesa e alemã reposicionou o pós-modernismo saloio americano.

Em Huyssen há uma dialéctica permanente, visível, por exemplo, quando analisa o livro de Horkheimer e Adorno de 1947, onde estes autores elaboram o conceito de indústria cultural (p. 64). A tragédia alemã (Holocausto) traduz também o lado escuro (ou obscuro?) da modernidade. Os nazis etiquetaram a arte moderna de degenerada (1937) mas alguns modernistas, caso de Heidegger, foram seduzidos pelo regime. As reflexões sombrias dos autores da escola crítica seguem pistas dentro do que se considera a anomalia das artes visuais alemãs, como o expressionismo, cheio de irracionalismo e romantismo (p. 66). Huyssen é mais claro quando lembra as diferenças nas artes e na literatura dos dois lados da Alemanha dividida no final da II Guerra Mundial (p. 72) e nas interpretações. Na Europa de leste, Kafka era lido como um crítico do socialismo burocrático, ao passo que no Ocidente ele representava a alienação existencial universal (p. 80).

Nem sempre estou de acordo com ele, caso da quase elisão da História quando fala de cultura ou da identificação do trabalho actual de memória como a musealização dos sítios para fins turísticos e comerciais, incluindo os documentários históricos que passam no canal de televisão História. O autor refere-se aos lugares de memória, como exemplifica Pierre Nora. É certo que ele, noutro momento, se diz historiador da cultura (p. 109), mas não o diz de modo claro. E espero o desenvolvimento do seu pensamento quando tece uma crítica forte aos media: estes, apesar de divulgarem a memória, contribuem para a amnésia. Mais à frente, Huyssen esclarece que os media seleccionam e constroem memórias imaginadas, com desconstrução da temporalidade, memória, tempo vivido e esquecimento (que encontra em Paul Ricoeur, na p. 28, e Maurice Halbwachs, na p. 15). E quando comenta o tempo dos media como usando a memória tout court das coisas subjectivas e triviais, que podem levar o historiador a olhar isso como autenticidade (estou a pensar na reconstrução da história a partir da leitura de jornais sem qualquer filtro ou desconfiança sobre o modo de fazer notícias). Mas já me leva a pensar de modo diferente quando vê a modernidade dos media como ausência da longue durée em termos de contactos comerciais, imperiais e coloniais (p. 115).

Por outro lado, acho frágil a sua argumentação quando pega no aforismo de McLuhan do meio é a mensagem ou quando interpreta o que Benjamin ou Adorno escreveram. Ele não é hermeneuta mas um intérprete com uma grelha própria (a página 20 do livro é um bom exemplo). E, para terminar os comentários negativos à obra, quando identifica o obsoleto da tecnologia (p. 21) – ele pretendia comprar um computador mas o empregado da loja convidou-o a passar na semana seguinte e tomar a decisão ou gratificação, pois uma nova gama de produtos traria componentes mais poderosos. Aqui, faltou a análise económica da necessidade de substituição de produtos dentro da lógica da produção capitalista.

Deixo como apetite para a leitura deste magnífico livro as suas sete teses sobre como sair do impasse da literatura global (pp. 126-129), em que se propõe eliminar a visão vertical de alta e baixa cultura, a necessidade de ver a especificidade do meio (do oral ao visual e ao escrito), da retoma da discussão da qualidade estética e da forma, da relação entre cultura, habitus e distinção social (Bourdieu) e da vontade urgente de reunir especialidades como forma de superar debilidades que cada disciplina pode representar.

Aumento de procura nos discos de vinil

Segundo o Observador de ontem, nos Estados Unidos, as vendas de discos de vinil subiram 49% em 2014 face ao ano anterior. Aceita-se que o revivalismo tenha a ver com a alegada qualidade superior do som dos discos de 33 rotações. No mercado norte-americano, em 2014  já foram escoados nove milhões de unidades e ressurgem lojas com as novas edições e exemplares antigos, animando o mercado de segunda mão. Mas a indústria não estava preparada, revela a mesma notícia. Apenas uma empresa fornece 90% da matéria-prima solicitada pelos fabricantes de discos, além de questões como as agulhas de leitura dos discos. Cada aparelho de prensagem faz apenas 125 discos por hora. Outro problema reside no facto de se tratar de uma indústria de trabalho intensivo (Observador).

domingo, 14 de dezembro de 2014

Amor e Informação

A informação não é uma medida mas um facto. Melhor, uma sucessão de factos. A informação significa sinais que podem chegar à descodificação e/ou interpretação. Se ela se mantiver como sinal, causa embaraço, náusea, necessidade de ir/vir embora. Houve um tempo de silêncio e tempo para fazer e reflectir as coisas, hoje a informação abunda, excede a nossa compreensão. Podia concluir ao escrever que a informação está em toda a parte, persegue-nos. E informação sem emoção fecha-nos como claustrofobia e a sua quantidade dispersa-nos.

Talvez partindo destas premissas, Caryl Churchill (1938) escreveu Amor e Informação, agora em cena no Teatro Aberto. Conjunto de pequenas histórias, que obriga a uma permanente mudança de cenário, a peça fala do mundo contemporâneo, da sociedade de consumo, com mensagens constantes de telemóveis e computadores, das relações fáceis e descartáveis, onde os valores se desprezam nos contactos entre familiares, amigos ou casais. A informação é igual a oportunidade, facilidade, arranjo, apreço ou desprezo, modernidade e bit (unidade de informação). O amor, afecto ou emoção, nem parecem existir.

Pela sucessão rápida dos cenários e do vazio de muitas situações, saí cansado, quase deprimido, apesar das boas interpretações. Se os recursos (imagens em vídeo, figurinos) são bastantes, a entrada e saída contínua de artistas provoca perda de ritmo nestes e na leitura feita pelo espectador. Durante algum tempo, vou deixar de ir ao teatro.

Ficha técnica aqui.

sábado, 13 de dezembro de 2014

Adriano Paiva e a televisão

Em 29 de Dezembro de 2003, escrevi um pequeno texto aqui sobre Adriano Paiva, a quem se atribui uma parcela da invenção da televisão, quando disse: "Com o novo telescópio, [...] transformado em corrente eléctrica, o movimento luminoso percorreria docilmente o caminho que nos aprouvesse dar ao fio destinado a conduzi-lo; e de um ponto do globo terrestre seria possível devassar este em toda a sua extensão". Hoje, volto a recordar a figura do cientista, servindo-me de um texto publicado na revista Flama, a 12 de Setembro de 1969, assinado por Pinto Garcia.

Adriano Paiva Faria Leite Brandão, conde de Campo Belo, propusera uma solução para a televisão, em carta de 27 de Abril de 1878. A isso chamou telescópio eléctrico. Adriano Paiva descobrira que o selénio poderia ser um material transmissor. Docente de Física na Academia Politécnica do Porto, ele precisava de dinheiro para apetrechar o seu laboratório, o que não conseguiria. O inventor estava no domínio da técnica. Depois, com experiências na Europa e nos Estados Unidos, pelas mãos de outros inventores, chegava-se à televisão. Primeiro, o aparelho, depois os conteúdos, como reflectiu Raymond Williams.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Rádio e internet

"Na última terça-feira (9/12), a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) lançou a campanha Smart é ter rádio de graça no celular. O objetivo é estimular o consumo do rádio nos aparelhos móveis, sugerindo à população que opte por celulares com chip de rádio FM. Com o rádio no celular, defende a associação, não é necessário usar o pacote de internet para ter acesso à informação e entretenimento. A campanha envolve spots de rádio, peças publicitárias para internet, mídia impressa e redes sociais. «O foco é valorizar a recepção da programação do rádio pelo ar, gratuitamente. Para o público, que em sua maioria consome planos pré-pagos de internet e de celular, ter rádio sem pagar nada é um ativo muito relevante», afirma o presidente da Abert, Daniel Slaviero" (retirado do sítio culturaemercado/).

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

“Radio Archives in European Community Media” International Conference on Open Radio Archives on 4-6 June 2015 in Halle/Saale (Germany)

"We want to encourage people involved in community media to present current broadcast and multi-media archiving practices at their stations and to generate ideas for an institutional structure for European community radio archives. Community media across Europe face many of the same challenges in creating and managing archives of broadcast content. Every minute, they produce and broadcast an enormous amount of programming. But how is this content preserved and used after its broadcast? [...] How can community archives integrate multilingualism? How can online archiving support programme exchange within Europe? What importance do analogue, physical archives have in the digital age, and how can community media secure and digitize them? How can community media archives unlock historical material about community life and social movements in user-friendly ways? Not least, we encourage proposals dealing with the question of copyright regulations and the role of open software and open knowledge. [...]


"We invite proposals for papers, workshops, discussions, presentations and radio shows on any subject related to Radio Archives in European Community Media. You can send in proposals in German, English or Spanish. Proposals that engage the audience in active participation and discussion, or in trying out or evaluating archiving tools or strategies, are especially welcome. Participants can contribute to the conference in a variety of ways, not just by presenting a paper or hosting a discussion in 30-minute slots, or conducting a training or hosting a world café in max. 1 hour slots, but also by publishing a text in the conference reader, broadcasting or producing a radio show during the conference, or creating posters, web features or any other content you find suitable. [...]


"Please send proposals by January 31, 2015, to info@livingarchives.eu. Describe your proposed activity on not more than one page (including title and type of presentation) and include a short biography. Presenters of accepted proposals will be informed by February 28, 2015" (http://livingarchives.eu/).

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Raymond Williams (2)

Raymond Williams (1921-1988) foi um dos mais importantes intelectuais do Reino Unido (País de Gales). Inicialmente ligado a F. R. Leavis e a cultura literária inglesa e influenciado pelo marxismo, ele evoluiu para um pensamento próprio. As relações com Richard Hoggart (o primeiro director dos Cultural Studies de Birmingham), Edward Thompson e Eric Hobsbawm, entre outros, são bem esclarecidas na biografia escrita por Dai Smith (Raymond Williams. A Warrior's Tale, 2008, Cardigan: Parthian) . De Williams conhecia os trabalhos ligados à cultura, à sociologia e à comunicação, mas não sabia da importância no domínio da literatura, que o catapultaria para o ensino de teatro na universidade. Aliás, Williams queria ser conhecido como autor literário.

Smith estuda o percurso de Williams desde a frequência da escola primária em Pandy, a sua evolução para a escola de Abergavenny e a sua entrada no Trinity College, em Cambridge. A relação com o pai, um ferroviário ligado ao Partido Trabalhista e que se dedicava nas horas vagas à produção de mel e a tarefas hortícolas, a reflexão sobre a origem de classe da família, a greve geral de 1926, a vida como militar destacado na frente de batalha em França, Bélgica e Alemanha nos anos trágicos da II Guerra Mundial, onde chefiou um grupo de força anti-tanques, e a recusa posterior de reservista para combater na guerra da Coreia em 1951, de que se tornou objector de consciência, aparecem bem definidas na obra literária que escreve e reescreve continuamente, com um grande sentido autobiográfico. A obra que Williams vai construindo reflecte igualmente a melhoria das condições de vida dos britânicos após a II Guerra Mundial, o que o leva a reformular as posições do marxismo (e a ter um pensamento não crítico no sentido de Theodor Adorno), embora se mantenha no interior da Nova Esquerda. Smith esclarece bem essas ligações, mas não vai além de 1961. Por isso, somos informados da sua actividade profissional ligada à educação de adultos (departamento extra-muros da universidade), que visava preparar estes para uma formação mais avançada nos domínios das humanidades e da literatura, actividade itinerante e não muito lucrativa para uma família de pais e três filhos, mas não entramos na sua vida ligada à universidade de Cambridge onde iria ensinar Drama, dados os textos sobre cultura e teatro produzidos por ele. Embora ligado, ele nunca se sentiu totalmente dentro do espírito de Cambridge.

Da obra de Raymond Williams destacam-se Culture and Society (1958) e The Long Revolution (1961). Fora do âmbito da biografia de Smith, não se inclui a análise a Television: Technology and Cultural Form (1974), texto onde Williams reflecte no pensamento de Marshall McLuhan sobre a tecnologia e o rebate. As suas definições de cultura, que incluem a ideia de cultura como "uma  forma total de vida", abrem as portas à variedade de manifestações individuais e de grupo e que elidem a separação entre cultura de elite e cultura popular. Dai Smith acaba a biografia de Williams imprimindo quatro páginas de conclusão do livro The Long Revolution que Williams acabaria por não incluir, com um forte sentido pessoal, a intersecção entre a experiência da sua geração face às gerações anteriores. No livro, em que associou cultura, indústria, democracia, classe e arte, a longa revolução significou o crescimento da democracia e o voto nas eleições e o aumento da educação, os jornais mais baratos e o acesso a livros. Williams reflecte nomeadamente na idade de sair de casa para trabalhar: aos onze anos com o seu avô, aos treze anos com o seu pai, muito mais tarde com ele. Na casa dos pais de Williams havia sete livros, na casa de Williams os filhos já tinham tudo o que queriam. O tempo em que ele escreveu o livro (1961) era de grande confiança no futuro, o que o leva a incluir nessa longa marcha revolucionária a segurança do emprego e das pensões para os reformados. Então, havia fortes valores de tolerância e de decência, conclui nesse texto não incluído na versão impressa.

Leitura: Dai Smith (2008). Raymond Williams. A Warrior's Tale. Cardigan: Parthian

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Raymond Williams (1)

No capítulo "Technology and the Society" do livro Television, Williams escreve que a televisão alterou o mundo, o que leva a que se fale de um novo mundo, uma nova sociedade. Ele considera causas e efeitos. As questões relacionadas com causa e efeito são entre tecnologia e sociedade e têm uma acção prática. O autor refere-se à tecnologia e aos usos da tecnologia, a instituições relacionadas com tecnologia e aos seus conteúdos. Ora, a televisão é uma tecnologia cultural particular.

A análise de Williams parte de três pontos (os subcapítulos): 1) versões de causa e efeito na tecnologia e na sociedade, 2) história social da televisão como tecnologia, 3) história social dos usos da tecnologia da televisão.

No primeiro ponto, das versões de causa e efeito na tecnologia e na sociedade, há afirmações como: 1) a televisão foi inventada como resultado da investigação científica e técnica. Em vez de apenas um meio de notícias e entretenimento é o meio fundamental das notícias e entretenimento, 2) adquire a forma de meio institucional fundamental, 3) alterou as nossas percepções da realidade, 4) articula-se com outros factores como a mobilidade física, 5) adquire um papel central na vida da família, da cultura e da sociedade, 6) o investimento e desenvolvimento da televisão leva-a a um novo tipo de sociedade, 7) tornou-se numa nova fase lucrativa da economia doméstica do consumo, 8) realça elementos de passividade e desadequação cultural e psicológica, 9) explora as necessidades de uma sociedade complexa e atomizada.

A afirmação sempre presente é “a televisão alterou o nosso mundo”. As cinco primeiras afirmações são vistas como determinismo tecnológico, que é uma perspectiva ortodoxa da natureza da mudança social. As outras quatro afirmações são menos deterministas. Aqui destaca outros factores na mudança social. Williams fala do grande debate entre estas perspectivas, a do determinismo tecnológico, em que as novas tecnologias são uma variável independente, e a da tecnologia sintomática, em que essa independência é mais marginal. Williams propõe uma interpretação diferente.

No segundo ponto, a história social da televisão como tecnologia, Williams entende que a invenção da televisão não resulta de um acontecimento isolado ou de um conjunto de acontecimentos. Ela depende de um complexo de invenções e desenvolvimentos na electricidade, na telegrafia, na fotografia e cinema, e na rádio. Ele identifica dois períodos principais (1875-1890; décadas de 1920 e 1930). As vantagens da electricidade relacionam-se com as necessidades industriais, mobilidade e transferência da electricidade e flexibilidade. A electricidade, além das fábricas, vai servir as cidades e os lares. O desenvolvimento do telégrafo foi mais simples, com a transmissão de mensagens através de equipamentos eléctricos. A telegrafia eléctrica ocorreu na década de 1870, a mesma década em que o telefone se desenvolveu [há uma imprecisão de datas, pois o telégrafo é anterior]. Williams junta a ideia de imagens em movimento (cinema) com o efeito da persistência na visão humana. Ele descreve depois a televisão e as suas etapas anteriores. Apesar da previsão do seu aparecimento, foram necessárias a existência da válvula electrónica e do amplificador multi-etapas.

O autor refere um conjunto alargado de invenções (e descobertas) científicas e a rivalidade entre sistemas mecânicos e electrónicos (hoje objecto apenas da história, pois a digitalização ultrapassou esses sistemas). Williams destaca o número de campos complexo e relacionado em termos de sistemas de mobilidade e transferência de produção (eléctrica, radiodifusão) e comunicação. Isto é: uma característica dos sistemas de comunicação é que foram previstos – não em termos utópicos mas técnicos – antes dos componentes fundamentais dos sistemas desenvolvidos terem sido descobertos e melhorados. Isto liga-se a uma longa história da acumulação capitalista e ao trabalho de melhorias técnicas, criando novas necessidades e novas possibilidades.

Quanto ao terceiro ponto, a história social dos usos da tecnologia televisiva, Williams coloca a questão de uma relação entre uma nova sociedade móvel e complexa e o desenvolvimento da moderna tecnologia de comunicação. Os incentivos nasceram de problemas de comunicação e controlo militar e de operações comerciais. As tecnologias permitem passar informação específica e manter contacto e controlo. Isso foi visível na segunda fase da tecnologia (electrónica) – a rádio, mais tarde tornada uma tecnologia para o público geral. Williams indica um conhecimento crescente da mobilidade e mudança como marcadores no processo social de comunicação. O autor reflecte sobre a palavra massa: organização de massa, comício de massa, produção de massa. Mas a rádio sonora e a televisão foram desenvolvidas para a transmissão para lares individuais, embora nada na tecnologia o tornasse inevitável. Se a comunicação social está ligada à comunicação de massa, com os media a irem alcançar muita gente, a massa é ultrapassada pela oferta de aparelhos individuais.

Ao contrário de todas as tecnologias de comunicação anteriores, a rádio e a televisão eram sistemas inicialmente previstos para transmissão e recepção como processos abstractos, com uma pequena ou nenhuma definição de conteúdo. Este, quando muito, era parasitário – eventos do Estado, acontecimentos desportivos, teatro [eu tenho uma posição mais moderada que Williams, embora o entenda. A rádio deve a tecnologias anteriores, mas também a práticas culturais anteriores. Os intervalos na transmissão de uma ópera seguiram o protocolo das representações no palco]. Williams insiste: a oferta da radiodifusão antecede a procura; os media precedem o conteúdo. Depois da tecnologia pública (como o caminho de ferro e a iluminação eléctrica), veio a tecnologia privada, a privatização móvel.

Por mobilidade, entende-se o ir e vir e procurar novos locais. Uma maior mobilidade interna, a um primeiro nível, trouxe consequências secundárias em termos de dispersão das famílias e a necessidade de novos tipos de organização social. A rádio era um novo tipo de comunicação – as notícias de fora, de fontes inacessíveis. A nova tecnologia de consumo atingiu a sua primeira etapa decisiva na década de 1920. Aos novos bens, como o transporte privado, correspondeu a rádio, que trouxe notícias e entretenimento para o lar. Nessa altura inicial, a questão era a transmissão; depois, veio o conteúdo [aqui, discordo de novo de Williams: a cultura tecnológica era a troca de cartões entre emissores amadores que levavam a sua voz mais longe do que nunca. A rádio é uma tecnologia que começa por herdar isso]. Já na década de 1930, há avanços significativos na produção de conteúdos. A radiodifusão oferecia um todo social – música, notícias, entretenimento, desporto. A televisão seguiu etapas semelhantes à rádio.

Leitura: Raymond Williams (1974/2008). Television: Technology and Cultural Form. Londres e Nova Iorque: Routledge, pp. 1-23

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Martha Rosler

O Público traz hoje uma entrevista importante feita por Vanessa Rato a Martha Rosler. Para esta, o papel do artista no século XXI é o de resistente, pelo menos é o que sobressai do título. Estou de acordo com Rosler quando ela tece comentários muito críticos a Richard Florida. O conceito de cidade ou bairro criativo tem fragilidades. Hoje sabe-se que a transferência do conceito de indústria cultural para indústria criativa foi um braço de ferro ganho pela economia sobre a arte e a cultura.

Porém, já não compreendo o que Rosler diz sobre Pollock e a arte abstracta versus realismo: Para ela, os públicos burgueses de finais do século XIX fugiram ao realismo e apoiaram os abstraccionismos. E Pollock estaria a destronar Picasso como artista mais importante, assegura Rosler. Talvez não tenha lido bem a entrevista, mas Pollock estaria assim tão livre do dinheiro como Rosler diz? Ou, pegando num artista pop como Andy Warhol, qual a relação do artista com a economia? Ele é mais livre do que Miguel Ângelo a cumprir o contrato de trabalho na Capela Sistina? Parece-me que a entrevistada é demasiado polémica e não vê a verdade toda. A arte abstracta corresponde a um momento alto da economia norte-americana, que necessita de ter passado e glória antiga.  A abstracção trouxe esse consolo.

Na sua página da internet, Martha Rosler diz que trabalha em vídeo, fotografia, texto, instalação e performance.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Al Pantalone

O texto é de Mário Botequilha, a encenação e desenho de luz pertencem a Miguel Seabra e a interpretação está a cabo de Guilherme Noronha, Rui M. Silva, Sofia Correia e Vítor Alves da Silva. As personagens são Al Pantalone, um banqueiro moderno (como têm aparecido nos media), um Doutor (muito ligado a Al Pantalone, o que significa igual actualidade política e mediática), Flávio e Isabela, descendentes daqueles, por vezes tornados Zani e Columbina, empregados dos primeiros.

A Commedia dell'Arte deixou "uma tipologia muito vasta de personagens susceptíveis de serem encontradas em todas as histórias e períodos históricos", escrevem Miguel Seabra e Natália Luiza, responsáveis do Teatro Meridional, onde se representa a peça. As personagens apresentam-se voltadas para o público, definem situações, trocam posições deferenciais e/ou grotescas, sem deixarem indiferentes o público. Salamaleques, com "vossa excelência para aqui, vossa excelência para ali", mundo transparente na aparência mas sórdido na realidade. Num dado momento, uma das personagens identifica a burguesia que se senta diante deles em boas cadeiras de veludo; outra personagem pergunta ao público se aprova com mão no ar as contas da entidade bancária. O mais imperdível são as figuras das personagens: Al Pantalone a andar com os pezinhos cada qual para seu lado e a mordiscar os lábios, o respeitável volume do estômago do doutor e a sua pertinácia em definir objectivos, os movimentos de dançarino tonto da personagem de Zani ou a ingenuidade expressa por Isabela. Mas igualmente o que significam: as duas principais personagens, gananciosas, enganaram os outros, os que trabalham e descontam sempre. O embuste foi perfeito: ficaram com o dinheiro de Zani e Columbina para melhor rendimento. Mas o banco faliu e as poupanças sumiram-se.

O teatro é a arte da mensagem. A sério ou a brincar, a ironizar ou a mofar - a mensagem está ali. Daí o permanente perigo do teatro. E a sua importância. A Commedia dell'Arte não é Brecht, mas a mensagem existe. E Miguel Seabra dedica a encenação a Américo Rodrigues, antigo director do Teatro Municipal da Guarda (2005-2013), despedido pelo actual presidente daquela Câmara.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Crescimento no investimento publicitário

"A espera foi longa mas já há fumo branco. Depois de dez anos de quebras, apenas com a excepção de 2010 com um modesto 1,5 por cento positivo, Portugal volta a ter crescimento no investimento publicitário, sendo esperado um fecho de ano com 10 por cento de subida. A última vez que se registou um crescimento na ordem dos dois dígitos no investimento publicitário em Portugal foi em 2004, ano de campeonato da Europa de futebol disputado em território nacional. Seguiram-se 10 anos de estagnação e quebras, também elas a um ritmo de dois dígitos, com duas excepções: um crescimento de 1,5 por cento em 2010 e o último ano, em que a quebra foi de 8,8 por cento. Para este ano, o mercado publicitário, em Portugal, deverá crescer 10 por cento, situando-se nos 500,7 milhões de euros, de acordo com estimativas do Omnicom Media Group (OMG) referentes a valores reais. No próximo ano, o mercado deverá crescer 7,9 por cento para os 550 milhões, um nível investimento que não se via desde 2011 mas, mesmo assim, bem longe dos 806 milhões que o sector valia em 2007" (texto da publicação Meios & Publicidade).

Recuperar memórias da rádio

Falei do locutor Rui Pedro no passado dia 8 de Setembro de 2014. Recupero hoje outra peça jornalística sobre o mesmo locutor, editada na revista Flama, de 3 de Abril de 1970. Então, Rui Pedro era (fora) redactor-publicitário nos Parodiantes de Lisboa e locutor e assistente do programa PBX (embora num curto período de tempo em 1968). Na peça, o locutor distingue dois tipos de rádio - oficial (pública) e comercial, esta a viver então um importante momento através do trabalho de novos e bons profissionais.




quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Museu da Música Mecânica

Situado em Palmela, a abrir no próximo ano (provavelmente em Outubro), o Museu da Música Mecânica reúne peças do final do século XIX até à década de 1930. Serão cerca de 600 peças, incluindo caixas de música, gramofones e grafonolas.

Música gravada em Portugal

Hoje ao fim da tarde no Palácio Foz foi lançado o livro de Leonor Losa, Machinas Falantes. A Música Gravada em Portugal no Início do Século XX, uma edição da Tinta da China.

O livro divide-se em três partes: implantação do mercado de fonogramas no país, música gravada como prática social e mobilidade social da fonografia e criação de uma indústria nacional. Retiro da introdução, a seguinte perspectiva: "De modo interpretativo, este volume pretende constituir uma aproximação ao fenómeno de modernização do som, localizando-o no contexto cronológico, local e social de Portugal nas primeiras décadas do século XX" (p. 18) (sobre o trabalho de Leonor Losa já escrevi aqui). Como diria na sua apresentação do livro, a professora Salwa Castelo-Branco, o livro apresenta três níveis discursivos: texto, iconografia e disco com gravações antigas digitalizadas. Reforço que o livro, além do texto, tem uma muito boa qualidade gráfica com reproduções de capas de discos, publicidade e fotografias de artistas, nomeadamente, que o tornam um objecto a possuir.

Por seu lado, Rui Vieira Nery elogiaria a autoridade legítima da autora no livro, traduzida na segurança na pesquisa e reflexão. De ora em diante, obra de referência na matéria, o livro traça uma cronologia rigorosa da implantação da indústria discográfica, a sequência das marcas, a lógica empresarial, as estruturas do negócio e a sequenciação do repertório das músicas. O texto inclui ainda os processos técnicos da gravação sem ir ao pormenor tecnológico e discute as dinâmicas por detrás da discografia. Para Vieira Nery, a autora, além de etnomusicóloga, é uma historiadora da música e da economia, pois tratou das dimensões da produção, mediação e retalho da actividade discográfica. O meio século inventariado no livro revela um grande dinamismo, primeiro enquanto fenómeno restrito das elites urbanas com sede de modernidade pelo acesso às novas tecnologias, com o disco associado ao teatro e à dança de salão. Na fase posterior, nas décadas de 1930 e 1940, a indústria discográfica liga-se também à rádio e ao cinema sonoro, formando uma teia de indústrias culturais, culminando na terceira fase, em que surgem empresas dedicadas à produção de discos. Rui Vieira Nery nota ainda que, na questão dos conteúdos, o intérprete surge como elemento secundário se comparado com o meio tecnológico.


[Na mesa, da esquerda para a direita: Leonor Losa, Salwa Castelo-Branco, Rui Vieira Nery e Inês Hugon, representando a editora)]


Os dois apresentadores da obra destacariam a necessidade da preservação do património do registo sonoro. O disco, cujo suporte é frágil, precisa de ser guardado, registado e digitalizado. Os apresentadores destacaram igualmente a qualidade do trabalho do conjunto de investigadores do INET (Instituto de Etnomusicologia), de que a obra agora lançada é um exemplo. A importância da música gravada na configuração da indústria fonográfica foi um dos desenvolvimentos de investigação depois da publicação da Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX, dirigido por Salwa Castelo-Branco (ver aqui). Etapa seguinte, bastante avançada no presente, é o projecto de digitalização de música do começo do século XX e a pesquisa em torno das gravações em discos de goma-laca.

James Brown (1933-2006)

Dele, conhecia alguma música e a roupa extravagante que usava. Mas desconhecia a infância e adolescência difíceis mas ricas para a sua postura diferente (e as prisões na adolescência e na década de 1980). Um génio, diz dele um dos músicos que mais o acompanhou ao longo da carreira (Bobby Byrd), e que James Brown eclipsara logo no começo da sua atividade. O estilo musical e de dançarino repercutir-se-ia noutros artistas, caso de Michael Jackson.

O filme Get on Up apresenta frequentes retornos na sequência temporal, o que facilita a compreensão da evolução de Brown (papel desempenhado por Chadwick Boseman). Dele fica a música (funk, muito à frente na sua época), a liderança (autoritária), a força emancipadora (o concerto em Boston no dia seguinte à morte de Luther King e que se pode ver no Youtube) e, resultado disso, a relação racial com os editores e proprietários das companhias discográficas. Brown foi ainda alguém que conciliou o lado do artista musical com o homem de negócios, caso da gravação ao vivo de espetáculo no palco do Apolo em 1963, da gravação da música Please, Please, Please, e na colocação da promoção discográfica em rádios.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Franjas sonoras do século XX


Creative and cultural industries play key role in European recovery

"Creative and cultural industries are undeniably part of the solution to the economic crisis that has had the European continent in its grip for years according to the new EY study Creating Growth - Measuring Cultural and Creative Markets in the EU. This analysis, commissioned by European Grouping of Societies of Authors and Composers (GESAC), and backed by 18 corporate partners and supportive organizations, reveals the determining input of CCIs in the European economy" (EY). See full text here.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

MEDIA - Apoio ao Desenvolvimento de Projectos Individuais

Foi publicado o Convite à apresentação de propostas EACEA/17/2014 relativo ao Apoio ao Desenvolvimento de Obras Audiovisuais - Projectos Individuais do Subprograma MEDIA do Europa Criativa.

Projectos Individuais Objectivos: Reforçar a capacidade de criação de obras audiovisuais europeias com potencial de circulação dentro e fora da União pelos operadores audiovisuais, e favorecer as co-produções europeias e internacionais, inclusive com empresas de difusão televisiva.

Elegibilidade: Empresas Independentes de Produção Audiovisual que tenham sido constituídas há, pelo menos, 12 meses e que possam demonstrar experiência prévia comprovada; O candidato deve comprovar que produziu uma obra elegível anteriormente que tenha sido estreada oficialmente, ou transmitida, durante os dois anos civis que precedem a publicação do convite à apresentação de propostas.

Obras: Exibição em Sala: Ficção, Animação e Documentário Criativo – 60 mins.; Exploração TV ou em plataformas digitais: Ficção (one-off ou séries) - 90 minutos; Animação (one-off ou séries) - 24 minutos; Documentários criativos (one-off ou séries) - 50 minutos.

O candidato tem que comprovar ser o detentor maioritário dos direitos da obra. O projecto não pode entrar em produção antes de decorridos 8 meses da data limite da candidatura. Datas Limite de Candidatura: 15 de Janeiro de 2015 às 11:00 (12:00 Bruxelas) 16 de Abril de 2015 às 11:00 (12:00 Bruxelas).

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Recusa do Conselho da RTP face a iniciativa da administração

O Conselho Geral e Independente da RTP acusa a administração de deslealdade institucional. Os jornais dizem que a compra dos direitos de transmissão da Champions contou para essa decisão. Logo depois, o ministro da tutela lembrou a norma nos estatutos da RTP que faz depender o futuro da administração da aprovação do plano estratégico. Isto indicia a queda próxima do conselho de administração do serviço público de media.

Actualização a 2.12.2014: "Cinco directores de conteúdos da RTP e RDP enviaram segunda-feira uma carta à ERC (o regulador para a comunicação social) onde acusam o Conselho Geral Independente (CGI), criado pelo ministro Miguel Poiares Maduro, de «violação grave da autonomia editorial» da televisão pública. [...] Os directores de conteúdos da RTP «consideram, assim, que nenhum órgão interno ou externo tem competência legal para definir ou determinar que conteúdos deverão ser incluídos nas grelhas, contando que os mesmos se enquadrem no contrato de concessão, sob pena de incorrer numa grave violação da independência e autonomia editoriais definidas nas leis que regulam o sector». Assinam o documento, que pede «intervenção urgente da ERC», o director de informação da RTP, José Manuel Portugal, o director de programas, Hugo Andrade, o director de informação da RDP, Fausto Coutinho, o director de programas da RDP, Rui Pêgo, e o director da RTP2, Elísio Oliveira. A administração da RTP emitiu, entretanto, um comunicado, onde diz que cumpriu «todos os seus deveres legais e estatutários». E cita o contrato de concessão feito pelo Governo. O órgão presidido por Alberto da Ponte diz que «continuará a exercer o seu mandato» e informa que já enviou «ao CGI a posição detalhada do conselho de administração quanto às questões de relacionamento interno» (texto do jornal Expresso).

Pela notícia do Expresso, como a administração conta com a estrutura dirigente da RTP, incluindo televisão e rádio, o problema fica mais delicado. Se a administração for demitida, os directores serão também demitidos? Vai o GCI contribuir para a perda de impacto do serviço público de media? Vai o ministro servir-se do GCI para fazer o que não conseguiu até agora, a demissão da administração? E como pode a ERC arbitrar o conflito, dado que o governo conferiu poderes ao GCI?

Actualização a 4.12.2014: Segundo o Público, a administração da RTP ficou "esta quinta-feira com as costas respaldadas pela decisão, por unanimidade, dos cinco membros do conselho regulador da ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Consideram que o conselho geral independente extravasou as suas competências e poderes ao considerar que devia ter sido informado previamente sobre a compra dos direitos da Liga dos Campeões. A ERC diz que a equipa de Alberto da Ponte não tinha que o fazer e critica a actuação do órgão de supervisão criado pelo Governo".   Ainda segundo a mesma notícia, a “ERC conclui ainda que as competências do CGI em matéria de definição de conteúdos esgotam-se na emissão de pareceres não vinculativos sobre a criação de novos canais ou sobre a introdução de alterações significativas aos já existentes”. Contudo, parece que o governo vai mesmo demitir a administração, o que cria uma situação complexa e bizarra, pois duas entidades independentes (ERC e CGI) têm posições díspares sobre as competências da segunda entidade. Problema curioso a seguir.

Actualização a 16.12.2014: A administração da RTP e o Conselho Geral Independente foram hoje ouvidos no parlamento. Se Alberto da Ponte indicou que a RTP ofereceu 5 milhões de euros por ano (15 milhões de euros no total das três épocas) para obter os direitos de transmissão da Liga dos Campeões e que estes são auto-sustentáveis e têm retorno para a RTP, o Conselho Geral Independente afirmou não ter os mesmos valores. Na eventualidade de ser demitido, o presidente da RTP promete pronunciar-se por escrito e rebater os argumentos do CGI. Na sequência do chumbo do projecto estratégico, o CGI propôs a destituição da administração da RTP, com o Governo a aceitar marcar uma assembleia-geral para a decisão (com base em notícias do Jornal de Negócios).

Actualização a 23.12.2014: Segundo notícia da Lusa veiculada hoje, o conselho de administração da RTP considera que os membros do Conselho Geral Independente (CGI) "deixaram de ter, se é que alguma vez tiveram, as condições mínimas" para desempenhar funções. No despacho de pronúncia (defesa) sobre a proposta da sua destituição, a administração aponta que o CGI agiu segundo "uma pura lógica de apparatchik’ [aparelho]". Com "a actual composição, [o GCI] constitui uma grave ameaça à divisão inter-orgânica de poderes da RTP, à independência editorial das direcções de programas e de informação, à independência constitucionalmente consagrada". Por estes dias, ainda que numa posição distinta, o ministro Poiares Maduro disse que, a haver controlo do CGI, esse seria exercido não pelo governo mas pelo Bloco de Esquerda.

Actualização a 24.12.2014: A comissão de trabalhadores da RTP, que salienta terem já passado três semanas desde que o Conselho Geral Independente (CGI) propôs a destituição do conselho de administração da empresa, escreve que não "é possível continuar num impasse que tem custos com os quais ninguém parece importar-se e sabemos quem está sempre na primeira linha para pagar este tipo de facturas". Para a comissão, "para que a RTP tenha algum descanso e para que tenha futuro, não pode repetir-se a situação dos últimos três anos de rumo errático em que o poder político lançou a empresa, nem pode repetir-se um Conselho de Administração que desrespeita permanentemente os trabalhadores da empresa e que a desmantelou, abdicando da experiência e saber que a própria empresa criou durante décadas". E continua: a "próxima Administração da RTP tem que ter prestígio no meio rádio e televisão para que possa ter autoridade sem ter necessidade de ser autoritária e para que possa ser líder de um projecto que nos orgulhe a todos e que sirva o país" (a partir de notícia do Expresso).

Rádio

Registo sonoro de Ficheiros dos Media sobre o lançamento do meu livro A Rádio em Portugal, 1941-1968 (gentileza de Paulo Ferreira). [Para ouvir, abrir a janela da mensagem e clicar no ficheiro]

Nostalgia de um género - teatro radiofónico

"Nostalgia de un género olvidado. La televisión silenció un género, el radio teatro, que ahora regresa a Barcelona con dos espectáculos sonoros y visuales que convertirán a los espectadores en protagonistas de un viaje nostálgico al pasado. Si us pregunten per què vam morir es un montaje de radio teatro en vivo que conmemora los cien años de la primera guerra mundial (foto) a partir de los poemas que dejó el conflicto. De la mano del dramaturgo Gerard Vàzquez y del colectivo Veus Humanes, el público podrá revivir un formato clásico de la historia de la radio, pero con las tecnologías de nuestra época. El estreno será hoy en las salas de Cinemes Girona (Girona, 175. 20.30 horas. 15 euros), que repetirá la experiencia el lunes, día 8. Esta propuesta coincide con Ones Lliures, un proyecto de teatro radiofónico que el Espai Lliure de Montjuïc presentará el miércoles y el jueves, días 3 y 4" (El Periódico) [obrigado a Carlos Filipe Maia, por me dar a conhecer esta notícia].

Machinas Falantes, livro de Leonor Losa