Julgo ter sido em 1988 que Henrique Leorne fez as vinhetas da banda desenhada
A Festa, a partir de um texto meu. Descobri nos meus papéis esta colaboração - na altura, trabalhávamos na indústria das telecomunicações - e resolvi reproduzi-las aqui, numa homenagem ao autor dos desenhos.
A Festa era um concurso do melhor mascarado no Carnaval - e que até envolve a televisão.
Realce: a importância do telefone na comunicação humana. O objetivo era fazer uma impressão tipo livro de banda desenhada. Mas nunca foi publicado nem sequer mostrado a alguém. Creio que nem o autor dos desenhos ficou com uma cópia.
A realização da festa é comunicada a muita gente de profissões diferentes: empregada de escritório, basquetebolista, professora do ensino secundário, mecânico. Todos recebem bem a notícia e vão preparar as suas roupas e máscaras. O telefone é sempre fixo. De notar o telefone que liga ao futebolista, com um longo cabo desde a ficha, algo que não era habitual nas instalações telefónicas de então mas que se viam em filmes americanos, quando as conversas eram longas (e românticas).
Numa imagem, Henrique Leorne propôs-me mudar o texto. Onde eu tinha escrito bebidas como vinho e cerveja, ele optou por bebidas não alcoólicas (ver o meu texto no final da mensagem). Era um tempo em que se discutia publicamente a questão, do mesmo modo que o tabaco. Ainda me lembro de ver locutores-jornalistas na televisão apresentarem o telejornal enquanto fumavam. Hoje, é impossível.
Noutra vinheta, observa-se o movimento urbano (transportes públicos e particulares, transporte de bens) e indicação da discoteca da festa. Em fundo, que eu apreciei muito quando Henrique Leorne me mostrou o conjunto dos desenhos, uma cidade de prédios elevados e muitas luzes, a indiciar uma pujante vida urbana. Curiosa, porque datada num tempo, a vinheta do cliente ir à loja de computadores reservar uma mesa para a festa. Hoje, far-se-ia online (em linha). Na mesa ao fundo, um empregado da loja escreve num papel; hoje, usaria um tablet ou telemóvel inteligente.
Já agora, nem um só telemóvel ao dispor dos utentes do metro ou autocarro. O desenhador não podia prever a explosão de aparelhos de comunicação móvel. A primeira empresa em Portugal, a TMN surgiu em 1991 e os primeiros telemóveis eram muito grandes (implantavam-se nas malas dos automóveis) e muito caros.
Mais para a frente da história, uma das imagens tem anacronismos. Se a empresa de telefones pretendia que o consumo (ligações telefónicas) fosse fluído, a ideia aqui é a do "entupimento" (linhas todas ocupadas). A imagem da central manual com telefonistas quase tinha desaparecido com a implantação de centrais digitais. O desenho da telefonista, de perfil, retoma uma imagem de Henrique Leorne feito noutra ocasião da sua colaboração.
Quando o cliente comenta ir para a festa, a telefonista, ainda vista de perfil, lamenta não poder ir. As horas do seu turno de trabalho coincidiam com as da festa. Na vinheta seguinte, onde se recupera o enquadramento de desenho anterior da banda desenhada, vê-se uma carrinha com panos publicitários a anunciar a festa. Ao fundo, no passeio, de forma estilizada, tipos de figuras: o punk (de cabelos eriçados), o janota (de chapéu alto) e a senhora da sociedade (com estola).
Como comentário final, houve sempre uma ligação (ou tentação) das telecomunicações aos media. A televisão é cobiçada pelas telecomunicações em termos de conteúdos e transporte de mensagens. A PT teve no seu portfólio de empresas jornais e uma rádio. Nos anos mais recentes, procurou comprar um canal de televisão generalista.
Observação: faz hoje 15 anos que comecei a escrever nas redes sociais (caso da Blogger.com).