1) Prémio de Jornalismo Cultural para João Almeida da Antena 2. Criado em 2016, o prémio agora atribuído em primeira edição distinguiu João Almeida, diretor da Antena 2 e autor de vários programas naquela estação da rádio pública. O prémio tem uma componente pecuniária e um troféu.
2) A SPA assinala a 1 de fevereiro a passagem do 80º aniversário do nascimento de Fernando Assis Pacheco, jornalista, poeta, ficcionista, cronista e autor de letras de canções. Associado da SPA desde 1978, faleceu subitamente em 1995 na livraria Bucholz. Coincidindo com este aniversário, é lançado o livro Tenho Cinco Minutos para Contar uma História (edição Tinta da China), com as crónicas que escreveu para a rádio pública portuguesa e que deixou gravadas na RDP.
Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
terça-feira, 31 de janeiro de 2017
segunda-feira, 30 de janeiro de 2017
Requalificação de sítios na baixa portuense
As notícias do Público a respeito do Porto já teem algum tempo, mas junto-as. A primeira, datada de 9 de novembro de 2016, indica o processo de requalificação da área situada no quarteirão da antiga casa Forte, indo da rua Sá da Bandeira à rua do Bonjardim e próximo da sede portuense do banco BCP. Num total de 28500 metros quadrados para residência, hotelaria e comércio. A conclusão da primeira fase está prevista para 2018. Ao lado, a renovação do mercado do Bolhão e do até agora café da Brasileira, a transformar em hotel, vai alterar a fisionomia da baixa da cidade.
A outra notícia, de 13 de janeiro de 2017, informa a reabilitação do cinema Batalha para albergar instalações da cinemateca. A câmara chegou a acordo com os proprietários do edifício para um aluguer de 25 anos. A mensalidade a pagar é de dez mil euros. O edifício foi projetado pelo arquiteto Artur Andrade e ianugurado em 1947. O arquiteto Alexandre Alves Costa está encarregado da sua remodelação. Durante muitos anos, o cinema Batalha era ponto de encontro ao domingo de manhã dos cineclubistas que iam ver filmes já fora do circuito comercial ou nunca exibidos.
A outra notícia, de 13 de janeiro de 2017, informa a reabilitação do cinema Batalha para albergar instalações da cinemateca. A câmara chegou a acordo com os proprietários do edifício para um aluguer de 25 anos. A mensalidade a pagar é de dez mil euros. O edifício foi projetado pelo arquiteto Artur Andrade e ianugurado em 1947. O arquiteto Alexandre Alves Costa está encarregado da sua remodelação. Durante muitos anos, o cinema Batalha era ponto de encontro ao domingo de manhã dos cineclubistas que iam ver filmes já fora do circuito comercial ou nunca exibidos.
domingo, 29 de janeiro de 2017
O poder, os media e a denúncia
Um Inimigo do Povo (En folkefiende) é a peça de teatro do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen representada por Pedro Gil (dr. Stockmann), Isabel Abreu (sua mulher), Filipa Matta (a sua filha mais velha, a iniciar a carreira de professora primária), o intendente da cidade, João Pedro Vaz (Peter Stockmann, irmão do dr. Stockmann), e dois jornalistas de O Mensageiro do Povo, Tónan Quito (Hovstad) e Miguel Loureiro (Billing).
A leitura e discussão do texto começou em finais de 2014 em Montemor-o-Novo. Tónan Quito assinaria a direção artística, a par da de ator. O primeiro ensaio decorreu no Espaço Alkantara (Lisboa). A peça centra-se na estância balnear, a principal fonte de riqueza da cidade, e na descoberta da contaminação do sistema de água. O médico quer denunciar a situação mas o intendente e presidente da estância opõe-se, porque a estância ficaria paralisada e o investimento seria incomportável, além da perda de empregos provocada pela paragem.
O chefe de redação do jornal O Mensageiro do Povo e o responsável da tipografia, que representa a sociedade dos pequenos proprietários, estão a favor da revelação do mal, porque a denúncia faria vender mais jornais e porque o poder político local seria renovado. Mas uma visita apropriada do intendente faz mudar de opinião os elementos do jornal e a maioria sólida de apoio ao dr. Stockmann perde-se.
A segunda parte da representação projeta os argumentos dos irmãos. A pergunta é: quem está no poder é sempre mau e quem descobre a verdade é bom? A realidade parece ser mais complexa. A verdade proclamada pelo médico é justa mas acarreta a destruição da economia e da sociedade da cidade. Há um segundo tema na peça: a posição da mulher, subalterna no casal, mas que quer assumir uma posição de liderança quando vê o marido ser traído pelos jornal local. A filha, como já estudou e tem uma profissão, representa um passo na evolução da posição feminina.
No fundo, o texto tem uma grande atualidade, ao mostrar os jogos sociais do poder e de ocultação de factos e objetivos. Discussões familiares, corrupção, manipulação política, assembleias populares e apedrejamentos são algumas das consequências. A administração da estância despede o médico, o senhorio despeja a família da casa onde vivem. Mas o sogro, personalidade que não aparece na peça, compraria todas as ações da estância e dá-las-ia ao médico, que passa a ter toda a força na empresa da estância. O novo poder é solitário, diz o médico.
A leitura e discussão do texto começou em finais de 2014 em Montemor-o-Novo. Tónan Quito assinaria a direção artística, a par da de ator. O primeiro ensaio decorreu no Espaço Alkantara (Lisboa). A peça centra-se na estância balnear, a principal fonte de riqueza da cidade, e na descoberta da contaminação do sistema de água. O médico quer denunciar a situação mas o intendente e presidente da estância opõe-se, porque a estância ficaria paralisada e o investimento seria incomportável, além da perda de empregos provocada pela paragem.
O chefe de redação do jornal O Mensageiro do Povo e o responsável da tipografia, que representa a sociedade dos pequenos proprietários, estão a favor da revelação do mal, porque a denúncia faria vender mais jornais e porque o poder político local seria renovado. Mas uma visita apropriada do intendente faz mudar de opinião os elementos do jornal e a maioria sólida de apoio ao dr. Stockmann perde-se.
A segunda parte da representação projeta os argumentos dos irmãos. A pergunta é: quem está no poder é sempre mau e quem descobre a verdade é bom? A realidade parece ser mais complexa. A verdade proclamada pelo médico é justa mas acarreta a destruição da economia e da sociedade da cidade. Há um segundo tema na peça: a posição da mulher, subalterna no casal, mas que quer assumir uma posição de liderança quando vê o marido ser traído pelos jornal local. A filha, como já estudou e tem uma profissão, representa um passo na evolução da posição feminina.
No fundo, o texto tem uma grande atualidade, ao mostrar os jogos sociais do poder e de ocultação de factos e objetivos. Discussões familiares, corrupção, manipulação política, assembleias populares e apedrejamentos são algumas das consequências. A administração da estância despede o médico, o senhorio despeja a família da casa onde vivem. Mas o sogro, personalidade que não aparece na peça, compraria todas as ações da estância e dá-las-ia ao médico, que passa a ter toda a força na empresa da estância. O novo poder é solitário, diz o médico.
Ainda sobre João Perry
Em Pai, de Florian Zeller, Ana (Ana Guiomar) fala do pai André (João Perry) quando este era forte e tinha autoridade. Ela receava-o. Agora, ele estava velho e, acima de tudo, já não reconhecia ninguém. Aquela frase da filha bateu forte em mim, agora que revi a peça. Eu estava numa fila mais próxima do palco e mais atento às palavras e aos gestos do que da primeira vez.
De João Perry, recordo a sua muito antiga colaboração com o Teatro Aberto, como sugere o texto do semanário Ponto, de 5 de fevereiro de 1981. No recorte, há uma imagem de João Perry contracenando com Mário Viegas. O tema principal da notícia era o ator e encenador João Lourenço contra a crítica de teatro.
De João Perry, recordo a sua muito antiga colaboração com o Teatro Aberto, como sugere o texto do semanário Ponto, de 5 de fevereiro de 1981. No recorte, há uma imagem de João Perry contracenando com Mário Viegas. O tema principal da notícia era o ator e encenador João Lourenço contra a crítica de teatro.
sábado, 28 de janeiro de 2017
Nuevas Narrativas: Entre la información y la ficción
Congreso Internacional sobre Nuevas Narrativas: Entre la información y la ficción y XII Seminario Internacional de Obitel (Observatorio Iberoamericano de Ficción Televisiva). El congreso se celebrará en la Facultat de Ciències de la Comunicació (Universitat Autònoma de Barcelona), los días 3, 4 y 5 de julio de 2017, y cuenta con la colaboración del OFENT (Observatorio de Ficción Televisiva y Nuevas Tecnologías) y del Gabinete de Comunicación y Educación de la UAB. Los diferentes ejes temáticos del call for papers giran en tono a la evolución de los géneros y formatos en televisión e internet, las relaciones trasmediales y las estrategias de education-entertainment de los programas. Las personas interesadas en participar, pueden enviar sus propuestas antes de 31 de marzo de 2017: www.congresointernacionalnuevasnarrativas.com.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2017
Antes que Matem os Elefantes
No início, com o palco escuro, ouvem-se vozes de crianças a falar da sua casa destruída, dos irmãos perdidos, de querer regressar à Síria, ir para a escola, voltar a comer com a família, desejar uma pista de automóveis. Acusam o presidente ditador de destruir tudo. Porquê?
Depois, sete bailarinos (quatro homens e três mulheres) passam pelo palco: dançam, mexem-se, rastejam, enchem-se de poeira, recolhem pedras, fazem-se de mortos. Há uma peça musical que fica no ouvido, a de Dhafer Youssef, um longo lamento que nos leva de imediato à bestialidade dos acontecimentos da Síria. Um país quase inteiro destruído? Como foi possível?
Olga Roriz quis conhecer de perto o grande drama dos sírios e visitou refugiados na Grécia. A sua dança-teatro de cerca de 140 minutos desenrola-se no interior de um apartamento destruído, em Alepo, com um sofá avermelhado onde um casal se contempla sem compreender o que justifica aquela violência, enquanto um frigorífico já velho e roupas e colchões rolam pelo ar. Um casal abraçado é separado, os bailarinos agem em grupo, como se fugissem da catástrofe, gemem, caem, voltam a levantar-se. Em tudo isto, muita poeira, que sai do chão, dos corpos.
Da guerra (da sua violência e do ridículo humano em torno disto) nos falam produções contemporâneas - pelo menos, assim as recebi quase todas ao mesmo tempo - o novo filme de Kusturika, o filme Silêncio, a peça Os Últimos Dias da Humanidade. A que junto o presidente louco e perigoso da maior democracia do mundo, cuja assinatura, para aparecer na televisão, tem quase a dimensão de uma folha A4. Parece que a esperança está a desaparecer.
Intérpretes: Beatriz Dias, Carla Ribeiro, Marta Lobato Faria, André de Campos, Bruno Alexandre, Bruno Alves e Francisco Rolo. Seleção musical de Olga Roriz e João Rapozo com música de Aphex Twin, Ben Frost, Dahfer Youssef, Gavin Brayers, Max Richter e Two Fingers. Cenografia e figurinos de Olga Roriz e Paulo Reis. Imagem retirada da página do Facebook da companhia de Olga Roriz. A dança estreou em final de abril de 2016 no Centro Cultural de Ílhavo. Vi-a agora no Teatro Nacional de S. João (Porto).
Depois, sete bailarinos (quatro homens e três mulheres) passam pelo palco: dançam, mexem-se, rastejam, enchem-se de poeira, recolhem pedras, fazem-se de mortos. Há uma peça musical que fica no ouvido, a de Dhafer Youssef, um longo lamento que nos leva de imediato à bestialidade dos acontecimentos da Síria. Um país quase inteiro destruído? Como foi possível?
Olga Roriz quis conhecer de perto o grande drama dos sírios e visitou refugiados na Grécia. A sua dança-teatro de cerca de 140 minutos desenrola-se no interior de um apartamento destruído, em Alepo, com um sofá avermelhado onde um casal se contempla sem compreender o que justifica aquela violência, enquanto um frigorífico já velho e roupas e colchões rolam pelo ar. Um casal abraçado é separado, os bailarinos agem em grupo, como se fugissem da catástrofe, gemem, caem, voltam a levantar-se. Em tudo isto, muita poeira, que sai do chão, dos corpos.
Da guerra (da sua violência e do ridículo humano em torno disto) nos falam produções contemporâneas - pelo menos, assim as recebi quase todas ao mesmo tempo - o novo filme de Kusturika, o filme Silêncio, a peça Os Últimos Dias da Humanidade. A que junto o presidente louco e perigoso da maior democracia do mundo, cuja assinatura, para aparecer na televisão, tem quase a dimensão de uma folha A4. Parece que a esperança está a desaparecer.
Intérpretes: Beatriz Dias, Carla Ribeiro, Marta Lobato Faria, André de Campos, Bruno Alexandre, Bruno Alves e Francisco Rolo. Seleção musical de Olga Roriz e João Rapozo com música de Aphex Twin, Ben Frost, Dahfer Youssef, Gavin Brayers, Max Richter e Two Fingers. Cenografia e figurinos de Olga Roriz e Paulo Reis. Imagem retirada da página do Facebook da companhia de Olga Roriz. A dança estreou em final de abril de 2016 no Centro Cultural de Ílhavo. Vi-a agora no Teatro Nacional de S. João (Porto).
Página 1 de novo
Texto retirado do semanário Musicalíssimo, de 2 de fevereiro de 1973, dedicado ao programa Página 1, assinado por Mário Contumélias. Numa das emissões, José Manuel Nunes passou José Mário Branco, José Afonso, Mário Viegas (poesia) e Sérgio Godinho, num domínio técnico-estético posto ao serviço da informação: "Quem ouviu esta emissão da página ficou informado, quase sem palavras, unicamente pela música, mas de uma forma dinâmica de diferente carga de força expressiva".
quinta-feira, 26 de janeiro de 2017
Rádio Clube de Moçambique em 1959
Rádio Clube de Moçambique editou um folheto em 1959, mostrando a importância da rádio em Moçambique.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2017
Despedida de um crítico de arte: Jorge Louraço Figueira
"Quando assumi o papel de crítico teatral, imaginei uma comunidade de debate onde o teatro era não tanto um espelho que refletia a sociedade, mas mais um martelo que forjava a realidade. Essa comunidade parece que se desvaneceu com o tempo. Termina aqui a minha ação enquanto crítico teatral do Público. Quando comecei, em 2005, escrevia uma crítica por mês, sobre espectáculos do Porto. Em Lisboa, havia mais duas pessoas a fazer crítica teatral. No Diário de Notícias e no Expresso havia textos todas as semanas. Hoje, só a Time Out Lisboa e o Jornal de Letras publicam regularmente. Na rádio e na televisão, na imprensa diária e semanal, nada", Jorge Louraço Figueira (Público, 20 de janeiro de 2017).
O crítico quase que termina assim: "A imprensa faz parte do espectáculo. Os artistas do teatro independente tiveram como sucessores os diretores de salas de espetáculos. Os jornalistas viram suceder-lhes as agências de comunicação. O formato das críticas está vazado, posto que foi ao serviço de tudo menos do teatro. A alternativa é acordar. O teatro tem como primeiro e último reduto a cena. Há festivais, teatros e artistas que trabalham contra os ventos. É preciso estar entre eles, dentro de cena, lutando com as armas da ficção e da atuação para impedir que as salas de teatro fechem".
O crítico quase que termina assim: "A imprensa faz parte do espectáculo. Os artistas do teatro independente tiveram como sucessores os diretores de salas de espetáculos. Os jornalistas viram suceder-lhes as agências de comunicação. O formato das críticas está vazado, posto que foi ao serviço de tudo menos do teatro. A alternativa é acordar. O teatro tem como primeiro e último reduto a cena. Há festivais, teatros e artistas que trabalham contra os ventos. É preciso estar entre eles, dentro de cena, lutando com as armas da ficção e da atuação para impedir que as salas de teatro fechem".
terça-feira, 24 de janeiro de 2017
Polaroid Park
Depois de exposições coletivas na Fábrica Braço de Prata em Lisboa, AMAC no Barreiro, Casa da Cultura de Beja, Casa da Zorra em Évora e UFCA em Algeciras, o Polaroid Park instala-se agora na Casa da Avenida em Setúbal. 28 fotógrafos partilhando o seu interesse pela fotografia em polaroid apresentam um conjunto de projetos individuais. Bem vindos ao POLAROID PARK (informação da entidade promotora).
Rádio Voz de Santo Tirso
A administração da Rádio online RVM (Rádio Voz de Matosinhos) adquiriu a Rádio Voz de Santo Tirso. Assim, a partir de 1 de fevereiro, nasce um novo projeto da empresa Rádio Voz de Matosinhos, Lda. A Rádio Voz de Santo Tirso funciona em FM (88,6 MHz) e em on line (Rádio Voz de Santo Tirso) e apresenta programação diversificada mas com predomínio de música portuguesa e de expressão portuguesa. Objetivo: alargar horizontes e servir em FM a comunidade de ouvintes, nomeadamente em Santo Tirso, Trofa, Vila das Aves, Famalicão, Maia, Matosinhos, Porto e Gaia, e online em todo o país e mundo.
Segundo comunicado da entidade promotora, a equipa tem ótimos profissionais e semiprofissionais da comunicação em Santo Tirso, com estúdios e equipamentos de alta tecnologia na rua Sacadura Cabral, 146 /rc (Santo Tirso), mantendo estúdios em Matosinhos (rua Conde S. Salvador, 352, 1º, salas 4/5), em frente ao mercado. Continuarão a emitir alternadamente e em simultâneo com Santo Tirso. Diretor: Manuel Monteiro.
Segundo comunicado da entidade promotora, a equipa tem ótimos profissionais e semiprofissionais da comunicação em Santo Tirso, com estúdios e equipamentos de alta tecnologia na rua Sacadura Cabral, 146 /rc (Santo Tirso), mantendo estúdios em Matosinhos (rua Conde S. Salvador, 352, 1º, salas 4/5), em frente ao mercado. Continuarão a emitir alternadamente e em simultâneo com Santo Tirso. Diretor: Manuel Monteiro.
domingo, 22 de janeiro de 2017
A Noite de Iguana
Esta é a quarta e última peça de Tennessee Williams (1911-1983) encenada nos Artistas Unidos. Depois de
Jardim Zoológico de Vidro,
Doce Pássaro da Juventude e Gata em Telhado de Zinco Quente, chegou a vez de A Noite da Iguana (1961). Com Nuno Lopes (Lawrence Shannon), Maria João Luís (Maxine Faulk), Isabel Muñoz Cardoso (Judith Fellowes), Joana Bárcia (Hannah Jelkes), Pedro Carraca (Hank Prosner), Tiago Matias (Jake Latta), João Meireles (Herr Fahrenkopf), Vânia Rodrigues (Frau Fahrenkopf), Pedro Gabriel Marques (Pancho), Catarina Wallenstein (Charlotte Goodall), Américo Silva (Nonno), João Delgado (Pedro), Bruno Xavier (Wolfgang) Ana Amaral (Hilda).
Lawrence Shannon, sacerdote expulso e depois guia turístico, chega a um pequeno hotel no México, fora das grandes cidades e do programa da viagem, onde reencontra Hannah Jelkes, agora viúva de Fred, com quem ele costumava conversar. As excursionistas resistem a permanecer no local, em especial Judith Fellowes. No final, o grupo da viagem triunfa e segue caminho, mas sem Shannon.
O antigo padre conhece, no pequeno hotel, Maxine Faulk, acompanhada pelo seu avó, o até aí poeta mais antigo em atividade. Os dois aproximam-se, em especial por um problema comum, a da necessidade de serem aceites pelos outros. Do mesmo modo que a iguana, que os empregados do hotel capturaram, Shannon e Faulk estão presos por cordas. O primeiro chega mesmo a ficar amarrado, depois de uma cena de grande ira, remediada à força por Hannah Jelkes, que o conhecia há muito e nutria uma paixão forte por ele.
A peça decorre, assim, em torno de três personagens, ele e as duas mulheres. Os encontros e desencontros acabariam por Lawrence Shannon ficar a co-gerir o pequeno hotel, junto a Hannah Jelkes, enquanto Maxine Faulk se afastaria. Como nas outras peças de Tennessee Williams, após um começo ou primeiro ato de múltiplas personagens com questões distintas e que fazem uma espécie de puzzle de temas, a segunda parte da peça entra no detalhe e na intimidade. A longa noite de insónias para as personagens principais, em que a iguana é liberta por ser uma criatura de Deus, retrata a obsessão com o mal e as trevas e as tentativas de êxito ou insucesso nessa luta. A velha solteirona ensina o mau padre a reencontrar-se consigo, ficando ao lado da viúva prática. A Noite de Iguana, como o autor diria, é uma peça sobre como viver para lá do desespero.
Encenação de Jorge Silva Melo, com cenografia e figurinos de Rita Lopes Alves, em coprodução dos Artistas Unidos, São Luiz e Teatro de São João (Porto).
Lawrence Shannon, sacerdote expulso e depois guia turístico, chega a um pequeno hotel no México, fora das grandes cidades e do programa da viagem, onde reencontra Hannah Jelkes, agora viúva de Fred, com quem ele costumava conversar. As excursionistas resistem a permanecer no local, em especial Judith Fellowes. No final, o grupo da viagem triunfa e segue caminho, mas sem Shannon.
O antigo padre conhece, no pequeno hotel, Maxine Faulk, acompanhada pelo seu avó, o até aí poeta mais antigo em atividade. Os dois aproximam-se, em especial por um problema comum, a da necessidade de serem aceites pelos outros. Do mesmo modo que a iguana, que os empregados do hotel capturaram, Shannon e Faulk estão presos por cordas. O primeiro chega mesmo a ficar amarrado, depois de uma cena de grande ira, remediada à força por Hannah Jelkes, que o conhecia há muito e nutria uma paixão forte por ele.
A peça decorre, assim, em torno de três personagens, ele e as duas mulheres. Os encontros e desencontros acabariam por Lawrence Shannon ficar a co-gerir o pequeno hotel, junto a Hannah Jelkes, enquanto Maxine Faulk se afastaria. Como nas outras peças de Tennessee Williams, após um começo ou primeiro ato de múltiplas personagens com questões distintas e que fazem uma espécie de puzzle de temas, a segunda parte da peça entra no detalhe e na intimidade. A longa noite de insónias para as personagens principais, em que a iguana é liberta por ser uma criatura de Deus, retrata a obsessão com o mal e as trevas e as tentativas de êxito ou insucesso nessa luta. A velha solteirona ensina o mau padre a reencontrar-se consigo, ficando ao lado da viúva prática. A Noite de Iguana, como o autor diria, é uma peça sobre como viver para lá do desespero.
Encenação de Jorge Silva Melo, com cenografia e figurinos de Rita Lopes Alves, em coprodução dos Artistas Unidos, São Luiz e Teatro de São João (Porto).
Avenidas sem trânsito em Lisboa
Hoje, durante o dia, as avenidas da República e Fontes Pereira de Melo, parcialmente, estão encerradas ao trânsito rodoviário. Após conclusão de obras de requalificação, os espaços foram tomados pelos peões, com festa ao longo das duas vias.
sábado, 21 de janeiro de 2017
João Paulo Guerra recusado para o lugar de provedor do ouvinte
João Paulo Guerra foi recusado para o lugar de provedor do ouvinte pelo Conselho de Opinião (CO) da RTP. No final de novembro, tinha sido recusado o nome de Joaquim Vieira. Agora, foi a vez de jornalista João Paulo Guerra, também colaborador da Antena 1. A administração da RTP terá de indicar um terceiro nome para suceder a Paula Cordeiro.
Atualização a 23 de janeiro de 2017: "O provedor do telespetador da RTP, Jorge Wemans, afirmou hoje estar «atónito e profundamente chocado» com o chumbo do nome do jornalista João Paulo Guerra para provedor do ouvinte pelo Conselho de Opinião, na passada sexta-feira. «Estou atónito e profundamente chocado com a recusa do Conselho de Opinião da RTP de aceitar João Paulo Guerra como provedor do ouvinte. Não vislumbro qualquer fundamento para esta decisão», afirmou Jorge Wemans, num comunicado (Diário de Notícias). Não terão sido divulgadas as razões do Conselho de Opinião e Jorge Wemans, nomeado provedor do telespectador, função iniciada há um mês, questiona a posição vinculativa daquele conselho e reserva-se o direito de tomar posição sobre a decisão.
Atualizado a 24 de janeiro de 2017: "O Conselho de Opinião da RTP chumbou o nome de João Paulo Guerra para Provedor do Ouvinte. Já tinha feito o mesmo com Joaquim Vieira. Em 2010, vetou o meu nome para Provedora da Televisão. Os possíveis provedores são indicados pelo Conselho de Administração da RTP e são depois obrigados a submeter-se a um sinistro exame feito por conselheiros cujo percurso profissional, a maior parte das vezes, não os habilita a julgar quem têm à sua frente. No meu caso, a RTP recorreu ao tribunal onde se exigiu a gravação da memorável audição. Nunca essa gravação apareceu, apesar de ter sido feita. E nunca ninguém explicou publicamente a razão de tão misterioso veto, embora todos os que estavam envolvidos dominassem bem o que se passou nos bastidores. Por conhecer os corredores de toda a situação, desisti do processo em tribunal, porque me cansei dessa gente. A pergunta que se coloca é a seguinte: pode o Conselho de Opinião continuar a ter este poder"? (Felisbela Lopes).
Atualizado a 29 de janeiro de 2017: ver a página do Facebook Provedor João Paulo Guerra, não. Porquê?
Atualização a 4 de fevereiro de 2017: "O Conselho de Opinião da RTP concluiu hoje [3 de fevereiro de 2017] não ser possível fundamentar o chumbo do nome do jornalista João Paulo Guerra para Provedor do Ouvinte, sendo o resultado da votação enviado à administração sem a exigida fundamentação. O Conselho de Opinião da RTP tinha convocado com urgência um plenário para hoje sobre o chumbo de João Paulo Guerra. Em comunicado, aquele órgão adiantou que, tendo reunido para deliberar sobre a fundamentação da votação havida, no dia 20 de janeiro último, sobre o candidato a provedor do ouvinte, senhor João Paulo Guerra, o Conselho de Opinião da Rádio e Televisão de Portugal, concluiu hoje não ser possível fundamentar esse voto em cumprimento do disposto do n.º 5 do artigo 34.º dos Estatutos da empresa. Por isso, foi aprovado pelos conselheiros -- por unanimidade e aclamação -- o envio ao Conselho de Administração [da RTP] do resultado da votação, desfavorável ao candidato, sem a exigida fundamentação" (TSF).
Atualização a 6 de fevereiro de 2017: "O jornalista João Paulo Guerra é o novo Provedor do Ouvinte da Antena 1 e restantes rádios do grupo RTP. Como assume hoje funções, já não vai assinar O Fio da Meada da próxima sexta-feira. A tarefa fica em boas mãos: será um prazer escutar de novo na telefonia a Alexandra Lucas Coelho" (João Paulo Baltazar).
Parabéns ao novo provedor do ouvinte.
Atualização a 23 de janeiro de 2017: "O provedor do telespetador da RTP, Jorge Wemans, afirmou hoje estar «atónito e profundamente chocado» com o chumbo do nome do jornalista João Paulo Guerra para provedor do ouvinte pelo Conselho de Opinião, na passada sexta-feira. «Estou atónito e profundamente chocado com a recusa do Conselho de Opinião da RTP de aceitar João Paulo Guerra como provedor do ouvinte. Não vislumbro qualquer fundamento para esta decisão», afirmou Jorge Wemans, num comunicado (Diário de Notícias). Não terão sido divulgadas as razões do Conselho de Opinião e Jorge Wemans, nomeado provedor do telespectador, função iniciada há um mês, questiona a posição vinculativa daquele conselho e reserva-se o direito de tomar posição sobre a decisão.
Atualizado a 24 de janeiro de 2017: "O Conselho de Opinião da RTP chumbou o nome de João Paulo Guerra para Provedor do Ouvinte. Já tinha feito o mesmo com Joaquim Vieira. Em 2010, vetou o meu nome para Provedora da Televisão. Os possíveis provedores são indicados pelo Conselho de Administração da RTP e são depois obrigados a submeter-se a um sinistro exame feito por conselheiros cujo percurso profissional, a maior parte das vezes, não os habilita a julgar quem têm à sua frente. No meu caso, a RTP recorreu ao tribunal onde se exigiu a gravação da memorável audição. Nunca essa gravação apareceu, apesar de ter sido feita. E nunca ninguém explicou publicamente a razão de tão misterioso veto, embora todos os que estavam envolvidos dominassem bem o que se passou nos bastidores. Por conhecer os corredores de toda a situação, desisti do processo em tribunal, porque me cansei dessa gente. A pergunta que se coloca é a seguinte: pode o Conselho de Opinião continuar a ter este poder"? (Felisbela Lopes).
Atualizado a 29 de janeiro de 2017: ver a página do Facebook Provedor João Paulo Guerra, não. Porquê?
Atualização a 4 de fevereiro de 2017: "O Conselho de Opinião da RTP concluiu hoje [3 de fevereiro de 2017] não ser possível fundamentar o chumbo do nome do jornalista João Paulo Guerra para Provedor do Ouvinte, sendo o resultado da votação enviado à administração sem a exigida fundamentação. O Conselho de Opinião da RTP tinha convocado com urgência um plenário para hoje sobre o chumbo de João Paulo Guerra. Em comunicado, aquele órgão adiantou que, tendo reunido para deliberar sobre a fundamentação da votação havida, no dia 20 de janeiro último, sobre o candidato a provedor do ouvinte, senhor João Paulo Guerra, o Conselho de Opinião da Rádio e Televisão de Portugal, concluiu hoje não ser possível fundamentar esse voto em cumprimento do disposto do n.º 5 do artigo 34.º dos Estatutos da empresa. Por isso, foi aprovado pelos conselheiros -- por unanimidade e aclamação -- o envio ao Conselho de Administração [da RTP] do resultado da votação, desfavorável ao candidato, sem a exigida fundamentação" (TSF).
Atualização a 6 de fevereiro de 2017: "O jornalista João Paulo Guerra é o novo Provedor do Ouvinte da Antena 1 e restantes rádios do grupo RTP. Como assume hoje funções, já não vai assinar O Fio da Meada da próxima sexta-feira. A tarefa fica em boas mãos: será um prazer escutar de novo na telefonia a Alexandra Lucas Coelho" (João Paulo Baltazar).
Parabéns ao novo provedor do ouvinte.
Cais da Pedra, Cais Real e Cais das Colunas
O livro de Alexandra de Carvalho Antunes, Cais da Pedra e Cais Real. Planos Joaninos para a Marinha de Lisboa, foi lançado o mês passado, editado pela Canto Redondo.
Do prefácio de Vítor Serrão, retiro o seguinte: durante séculos, houve estruturas efémeras de desembarque de embaixadas, visitantes e comitivas oficiais na margem direita do rio Tejo, compreendendo o Terreiro do Paço da Ribeira, seu cais de pedra, e o cais real, na Praça de Belém, contíguo ao palácio realengo.
O texto agora publicado integra-se no trabalho de pós-doutoramento e que culminará numa monografia sobre o Cais das Colunas. Alexandra de Carvalho Antunes tem mestrado em Arte, Património e Restauro, com o trabalho A Arquitetura de Veraneio e o Palácio Anjos em Algés, depois publicado em livro e que fiz referência em novembro de 2007 aqui (O veraneio da família Anjos. Diário de Maria Leonor Anjos (1885-1887)). A investigadora concluiria ainda doutoramento em Arquitetura.
Trabalhando com fontes primárias, permitindo reconstituir no seu conjunto os equipamentos urbanos da faixa ribeirinha e revelar as suas formas e funções como melhoramentos portuários, Alexandra de Carvalho Antunes remonta a atual Praça do Comércio ao final do século XII, com aterros e assoreamentos sucessivos (p. 19). O topónimo Terreiro do Paço é devido a D. Manuel I, que trocou o Paço Real da Alcáçova, na colina do Castelo de S. Jorge, pelo Paço da Ribeira (p. 21). A construção de um cais de pedra iniciou-se nesse período. Muito depois, discutiram-se as questões do lançamento de imundícies no cais e a necessidade de reparar o edifício da alfândega do tabaco e relançar o cais já destruído (p. 25).
A designação do termo cais da pedra, em finais do século XVI, identificou cais de cantaria próximos dos Paços da Ribeira (p. 28). O próprio Cais das Colunas, no Terreiro do Paço, acumulou os dois nomes. Os cais de pedra iam de Marvila a Belém (p. 36). O de Belém, desenhado por Carlos Mardel, surge na bela capa do livro, com "uma vasta e formosa praça, com um amplo cais de cantaria sobre o Tejo", como se escrevia num documento da época (p. 44). As obras de construção do novo porto de Lisboa acabariam com o cais da praça de Belém, aliando-se às obras da linha de caminho de ferro Cascais-Lisboa, a funcionar desde 1889-1895 (p. 47).
O livro tem 15 páginas com planos, desenhos e gravuras que revelam a beleza dos cais da pedra junto à margem direita do rio Tejo. Tem ainda dois anexos, referentes a documentos de 1742, onde se elenca um conjunto grande de argumentos para a construção dos cais da pedra, incluindo a segurança, a defesa da cidade e o combate às lixeiras junto do rio e visíveis na maré vaza.
Da leitura deste livro, extraio conclusões, a primeira das quais o fechamento do rio por infraestruturas estatais, como o porto de Lisboa. Um movimento contrário nos anos mais recentes está a permitir, de novo, usufruir o contacto com o rio e numa grande extensão da costa ribeirinha. A segunda conclusão é o reflexo social provocada pela mudança de transportes: se o rio e o navio eram essenciais no transporte de pessoas e bens, a estação de caminho de ferro do Rossio, na baixa da cidade, alterou o uso social no tocante a pessoas. Nas décadas iniciais do século XX, as personalidades mais importantes eram alvo de acolhimento público à saída e chegada do comboio, o que se alterou quando o aeroporto entrou em funcionamento e visível nas fotografias tiradas junto ao avião à partida, para memória futura. Do rio e dos seus cais de embarque ficava então uma ideia ténue. O livro de Alexandra de Carvalho Antunes, numa vertente histórica e de arquitetura, vem situar de novo o tema, a que podemos associar os aspetos sociais, económicos e culturais. Uma terceira questão é a massificação do transporte - as pessoas viajam cada vez mais e as estruturas adaptam-se a essa procura e velocidade.
Do prefácio de Vítor Serrão, retiro o seguinte: durante séculos, houve estruturas efémeras de desembarque de embaixadas, visitantes e comitivas oficiais na margem direita do rio Tejo, compreendendo o Terreiro do Paço da Ribeira, seu cais de pedra, e o cais real, na Praça de Belém, contíguo ao palácio realengo.
O texto agora publicado integra-se no trabalho de pós-doutoramento e que culminará numa monografia sobre o Cais das Colunas. Alexandra de Carvalho Antunes tem mestrado em Arte, Património e Restauro, com o trabalho A Arquitetura de Veraneio e o Palácio Anjos em Algés, depois publicado em livro e que fiz referência em novembro de 2007 aqui (O veraneio da família Anjos. Diário de Maria Leonor Anjos (1885-1887)). A investigadora concluiria ainda doutoramento em Arquitetura.
Trabalhando com fontes primárias, permitindo reconstituir no seu conjunto os equipamentos urbanos da faixa ribeirinha e revelar as suas formas e funções como melhoramentos portuários, Alexandra de Carvalho Antunes remonta a atual Praça do Comércio ao final do século XII, com aterros e assoreamentos sucessivos (p. 19). O topónimo Terreiro do Paço é devido a D. Manuel I, que trocou o Paço Real da Alcáçova, na colina do Castelo de S. Jorge, pelo Paço da Ribeira (p. 21). A construção de um cais de pedra iniciou-se nesse período. Muito depois, discutiram-se as questões do lançamento de imundícies no cais e a necessidade de reparar o edifício da alfândega do tabaco e relançar o cais já destruído (p. 25).
A designação do termo cais da pedra, em finais do século XVI, identificou cais de cantaria próximos dos Paços da Ribeira (p. 28). O próprio Cais das Colunas, no Terreiro do Paço, acumulou os dois nomes. Os cais de pedra iam de Marvila a Belém (p. 36). O de Belém, desenhado por Carlos Mardel, surge na bela capa do livro, com "uma vasta e formosa praça, com um amplo cais de cantaria sobre o Tejo", como se escrevia num documento da época (p. 44). As obras de construção do novo porto de Lisboa acabariam com o cais da praça de Belém, aliando-se às obras da linha de caminho de ferro Cascais-Lisboa, a funcionar desde 1889-1895 (p. 47).
O livro tem 15 páginas com planos, desenhos e gravuras que revelam a beleza dos cais da pedra junto à margem direita do rio Tejo. Tem ainda dois anexos, referentes a documentos de 1742, onde se elenca um conjunto grande de argumentos para a construção dos cais da pedra, incluindo a segurança, a defesa da cidade e o combate às lixeiras junto do rio e visíveis na maré vaza.
Da leitura deste livro, extraio conclusões, a primeira das quais o fechamento do rio por infraestruturas estatais, como o porto de Lisboa. Um movimento contrário nos anos mais recentes está a permitir, de novo, usufruir o contacto com o rio e numa grande extensão da costa ribeirinha. A segunda conclusão é o reflexo social provocada pela mudança de transportes: se o rio e o navio eram essenciais no transporte de pessoas e bens, a estação de caminho de ferro do Rossio, na baixa da cidade, alterou o uso social no tocante a pessoas. Nas décadas iniciais do século XX, as personalidades mais importantes eram alvo de acolhimento público à saída e chegada do comboio, o que se alterou quando o aeroporto entrou em funcionamento e visível nas fotografias tiradas junto ao avião à partida, para memória futura. Do rio e dos seus cais de embarque ficava então uma ideia ténue. O livro de Alexandra de Carvalho Antunes, numa vertente histórica e de arquitetura, vem situar de novo o tema, a que podemos associar os aspetos sociais, económicos e culturais. Uma terceira questão é a massificação do transporte - as pessoas viajam cada vez mais e as estruturas adaptam-se a essa procura e velocidade.
sexta-feira, 20 de janeiro de 2017
Revista Portuguesa de História da Comunicação
Está desde hoje disponível na internet o número zero da Revista Portuguesa de História da Comunicação.
Textos da sua editora Patrícia Teixeira (Introdução), Alberto Pena-Rodríguez (Apuntes históricos del Diario de Noticias de New Bedford (1927-1973)), Aline Strelow e Nádia Alibio (O Lábaro: Um jornal literário positivista no Sul do Brasil), Ana Regina Rêgo e Ranielle Leal Carlos (Castello Branco e a construção da Anistia no Brasil: a imposição do esquecimento), Antônio Hohlfeldt (Os médias e o império português nos séculos XIX e XX), Carla Baptista e Cláudia Henriques (O caso do Bispo do Porto na imprensa portuguesa (1958-1974): um episódio de resistência dos jornalistas durante o Marcelismo), Francisco Rui Cádima (O (des)controlo da Internet: para uma história da Darknet), Jaume Guillamet (Crisis del periodismo y naturaleza de los medios: El final de un ciclo), Maria Inácia Rezola (Emissora Nacional (1974-1975): uma estação do povo, ao serviço do povo), Rogério Santos (As audiências como elemento de compreensão das tendências da rádio entre as décadas de 1940 e 1970), Suzana Cavaco (Imprensa portuguesa em busca de um mercado luso-brasileiro (1825-1914)), Xosé López, Ana Isabel Rodríguez Vásquez e Andrea Valencia-Bermúdez (El Caton Compostelano: 217 anos de publicacións periódicas na Galiza).
Obrigado a Patrícia Teixeira e Jorge Pedro Sousa pelo trabalho na revista e no grupo de trabalho de História da Comunicação da SOPCOM.
Textos da sua editora Patrícia Teixeira (Introdução), Alberto Pena-Rodríguez (Apuntes históricos del Diario de Noticias de New Bedford (1927-1973)), Aline Strelow e Nádia Alibio (O Lábaro: Um jornal literário positivista no Sul do Brasil), Ana Regina Rêgo e Ranielle Leal Carlos (Castello Branco e a construção da Anistia no Brasil: a imposição do esquecimento), Antônio Hohlfeldt (Os médias e o império português nos séculos XIX e XX), Carla Baptista e Cláudia Henriques (O caso do Bispo do Porto na imprensa portuguesa (1958-1974): um episódio de resistência dos jornalistas durante o Marcelismo), Francisco Rui Cádima (O (des)controlo da Internet: para uma história da Darknet), Jaume Guillamet (Crisis del periodismo y naturaleza de los medios: El final de un ciclo), Maria Inácia Rezola (Emissora Nacional (1974-1975): uma estação do povo, ao serviço do povo), Rogério Santos (As audiências como elemento de compreensão das tendências da rádio entre as décadas de 1940 e 1970), Suzana Cavaco (Imprensa portuguesa em busca de um mercado luso-brasileiro (1825-1914)), Xosé López, Ana Isabel Rodríguez Vásquez e Andrea Valencia-Bermúdez (El Caton Compostelano: 217 anos de publicacións periódicas na Galiza).
Obrigado a Patrícia Teixeira e Jorge Pedro Sousa pelo trabalho na revista e no grupo de trabalho de História da Comunicação da SOPCOM.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2017
A importância da atual música portuguesa (Eurosonic, em Groningen, Holanda)
"Para ele [John Gonçalves, um dos músicos e também manager dos The Gift], que já percorreu as mais importantes feiras do mundo – da Popkomm de Berlim ao South By Southwest de Austin – solitariamente com os Gift, o que aconteceu foi «inacreditável». Em todos os acontecimentos onde esteve com os Gift, diz ele, «era complicado dar-mo-nos a conhecer. Por mais que se tente, se faça um bom trabalho, se toque ou se faça contactos, és sempre apenas mais um no meio de mil». Nas reuniões onde participou ao longo dos anos defendeu sempre «que era preciso a indústria organizar-se e fico contente que se tenha conseguido agregar agentes, managers, artistas, editoras e uma série de entidades»" (Vítor Belanciano no jornal Público sobre a música portuguesa vista de fora).
Estiveram 23 grupos e artistas portugueses e quase 100 profissionais, entre promotores, agentes, managers, produtores ou editores. O jornalista destacou os músicos e bandas Marta Ren, The Gift, Gisela João, Throes + The Shine, Best Youth e DJ Ride.
Texto importante a ler.
Estiveram 23 grupos e artistas portugueses e quase 100 profissionais, entre promotores, agentes, managers, produtores ou editores. O jornalista destacou os músicos e bandas Marta Ren, The Gift, Gisela João, Throes + The Shine, Best Youth e DJ Ride.
Texto importante a ler.
quarta-feira, 18 de janeiro de 2017
Cinema Tivoli
Hoje, foi lançado na livraria Ferin (Lisboa) o livro de Duarte de Lima Mayer e João Monteiro Rodrigues Cinema Tivoli. Memórias da Avenida, apresentado por José Sarmento Matos.
Trata-se de um livro de design muito bem feito (Silvadesigners) e que partiu de um espólio fotográfico perdido numa gaveta, com personalidades não identificadas então. Conforme Duarte de Lima Mayer, neto do fundador do Tivoli, ele endereçou o convite a João Monteiro Rodrigues, arquiteto e com gosto pela música, participante no coro do Teatro S. Carlos, para a obra em conjunto, que terá demorado mais de três anos a fazer. Ao espólio fotográfico da família, o livro juntou imagens da Fundação Calouste Gulbenkian, Arquivo Municipal de Lisboa, Cinemateca Portuguesa e Teatro D. Maria II, além de outros espólios.
[na foto, da esquerda para a direita: João Monteiro Rodrigues, Duarte de Lima Mayer e José Sarmento Matos]
O livro debruça-se sobre a atividade da sala entre 1924 e 1973, arco histórico de 50 anos, onde se processaram muitas mudanças estéticas, sociais e económicas. O Tivoli dedicou-se ao cinema (mudo e sonoro), ao teatro, à música e à dança. Um agente privado (uma família), proprietário de equipamento cultural, levaria artistas para apresentação pública, um retrato de uma época que já não é a nossa, em que havia um grande leque de interesses culturais. A relação entre Frederico Lima Mayer - e, depois, o seu filho Augusto de Lima Mayer, que assumiu a gestão do Tivoli em 1944 - e outros empreendedores culturais, músicos, bailarinos e atores fazia-se com grande informalidade, ainda não havia agentes artísticos a mediar entre o equipamento cultural e o artista. Raul Lino, arquiteto do Tivoli, seria também melómano e apaixonado pela dança. A ideia era criar na cidade um espaço moderno em zona acessível mas afastado dos pólos urbanos tradicionais - Rossio e Chiado (p. 196). No cinema Tivoli, passou também a Fundação Gulbenkian, antes desta ter sede na Praça de Espanha, o que conferiu maior peso simbólico ao cinema, com programação dedicada às artes performativas.
O apresentador, José Sarmento Matos, destacou a história rica do Tivoli, uma instituição privada que ligou arte e economia, pois o empreendimento visou dar dinheiro. O Tivoli surge muito depois da abertura da avenida da Liberdade, o antigo Passeio Público (1879), alameda que o presidente da câmara Rosa Araújo quis marcar dentro da cultura regeneradora. Mas foi o cinema que deu vida à avenida. Isto porque os espaços culturais, de lazer e noturnos e a vida palpitante da cidade ficavam na estreita rua das Portas de Santo Antão, incluindo o Ateneu e a Sociedade de Geografia. A avenida era até então conhecida pelo "lá vai um", de pouco frequentada. Aliás, os distribuidores de cinema não quiseram passar as fitas de cinema no Tivoli, porque ele ficava muito longe da cidade. Depois do Tivoli, nasceriam o Éden (anos de 1930) e o S. Jorge (anos de 1950). O Tivoli apresenta um gosto ligado a salas de espetáculos que Lima Mayer vira no estrangeiro, associado à cultura alemã de Raul Lino. Após a I Guerra Mundial, a classe média elaborada, restrita, de elite, teria o Tivoli como referência nova e cosmopolita.
O livro tem textos de Duarte de Lima Mayer, José Sarmento de Matos, Flávio Tirone, Miguel Simal, João Paes, Leitão de Barros, João Bénard da Costa, Miguel Esteves Cardoso, Duarte Ivo Cruz, Jorge Silva Melo, João de Freitas Branco e Bernardino Pontes, Helena Vaz da Silva e Luís Antunes. Com 295 páginas.
No texto de João Paes sobre a música, ele fala de Pedro de Freitas Branco, da sua fama de condutor de orquestras e dos concertos de música de Ravel (como o Bolero), do seu casamento com a francesa Marie Lévêque, dos concertos sinfónicos do Tivoli (1928-1932), da temporada de 1933-34 (Mónaco e Bélgica) e do convite para dirigir a Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, efetivado em 1935 (p. 205). Nesta página, uma fotografia significativa, com Olga Cadaval, Marie Lévêque e Arthur Rubinstein.
Trata-se de um livro de design muito bem feito (Silvadesigners) e que partiu de um espólio fotográfico perdido numa gaveta, com personalidades não identificadas então. Conforme Duarte de Lima Mayer, neto do fundador do Tivoli, ele endereçou o convite a João Monteiro Rodrigues, arquiteto e com gosto pela música, participante no coro do Teatro S. Carlos, para a obra em conjunto, que terá demorado mais de três anos a fazer. Ao espólio fotográfico da família, o livro juntou imagens da Fundação Calouste Gulbenkian, Arquivo Municipal de Lisboa, Cinemateca Portuguesa e Teatro D. Maria II, além de outros espólios.
[na foto, da esquerda para a direita: João Monteiro Rodrigues, Duarte de Lima Mayer e José Sarmento Matos]
O livro debruça-se sobre a atividade da sala entre 1924 e 1973, arco histórico de 50 anos, onde se processaram muitas mudanças estéticas, sociais e económicas. O Tivoli dedicou-se ao cinema (mudo e sonoro), ao teatro, à música e à dança. Um agente privado (uma família), proprietário de equipamento cultural, levaria artistas para apresentação pública, um retrato de uma época que já não é a nossa, em que havia um grande leque de interesses culturais. A relação entre Frederico Lima Mayer - e, depois, o seu filho Augusto de Lima Mayer, que assumiu a gestão do Tivoli em 1944 - e outros empreendedores culturais, músicos, bailarinos e atores fazia-se com grande informalidade, ainda não havia agentes artísticos a mediar entre o equipamento cultural e o artista. Raul Lino, arquiteto do Tivoli, seria também melómano e apaixonado pela dança. A ideia era criar na cidade um espaço moderno em zona acessível mas afastado dos pólos urbanos tradicionais - Rossio e Chiado (p. 196). No cinema Tivoli, passou também a Fundação Gulbenkian, antes desta ter sede na Praça de Espanha, o que conferiu maior peso simbólico ao cinema, com programação dedicada às artes performativas.
O apresentador, José Sarmento Matos, destacou a história rica do Tivoli, uma instituição privada que ligou arte e economia, pois o empreendimento visou dar dinheiro. O Tivoli surge muito depois da abertura da avenida da Liberdade, o antigo Passeio Público (1879), alameda que o presidente da câmara Rosa Araújo quis marcar dentro da cultura regeneradora. Mas foi o cinema que deu vida à avenida. Isto porque os espaços culturais, de lazer e noturnos e a vida palpitante da cidade ficavam na estreita rua das Portas de Santo Antão, incluindo o Ateneu e a Sociedade de Geografia. A avenida era até então conhecida pelo "lá vai um", de pouco frequentada. Aliás, os distribuidores de cinema não quiseram passar as fitas de cinema no Tivoli, porque ele ficava muito longe da cidade. Depois do Tivoli, nasceriam o Éden (anos de 1930) e o S. Jorge (anos de 1950). O Tivoli apresenta um gosto ligado a salas de espetáculos que Lima Mayer vira no estrangeiro, associado à cultura alemã de Raul Lino. Após a I Guerra Mundial, a classe média elaborada, restrita, de elite, teria o Tivoli como referência nova e cosmopolita.
O livro tem textos de Duarte de Lima Mayer, José Sarmento de Matos, Flávio Tirone, Miguel Simal, João Paes, Leitão de Barros, João Bénard da Costa, Miguel Esteves Cardoso, Duarte Ivo Cruz, Jorge Silva Melo, João de Freitas Branco e Bernardino Pontes, Helena Vaz da Silva e Luís Antunes. Com 295 páginas.
No texto de João Paes sobre a música, ele fala de Pedro de Freitas Branco, da sua fama de condutor de orquestras e dos concertos de música de Ravel (como o Bolero), do seu casamento com a francesa Marie Lévêque, dos concertos sinfónicos do Tivoli (1928-1932), da temporada de 1933-34 (Mónaco e Bélgica) e do convite para dirigir a Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, efetivado em 1935 (p. 205). Nesta página, uma fotografia significativa, com Olga Cadaval, Marie Lévêque e Arthur Rubinstein.
terça-feira, 17 de janeiro de 2017
Late Lounge
The Late Lounge, de Claire Anderson, na rádio Jazz FM (Londres), chegou ao fim já em 2016. Mas pode continuar a ouvir-se aqui, com um podcast semanal.
segunda-feira, 16 de janeiro de 2017
Maria Cabral
"«Era uma mulher lindíssima e talentosíssima», disse Vasco Pulido Valente em 2007 sobre a ex-mulher", Maria (da Conceição Gomes) Cabral (Público), com quem teve uma filha. Maria Cabral morreu sábado em Paris com 75 anos. Nascida em Lisboa (1941), ela estudava filosofia e trabalhava como modelo de publicidade quando António da Cunha Telles a convidou para o elenco do filme O Cerco (1970). Do mesmo realizador, entrou em Vidas (1984) e participou em outros filmes como O Recado (1972), de José Fonseca e Costa, Um Adeus Português (1986), de João Botelho, e No Man’s Land (1985), de Alain Tanner. Foi o rosto feminino do cinema novo português.
sábado, 14 de janeiro de 2017
Amadeu em Lisboa
Amadeu Sousa Cardoso expôs primeiro no Porto (Jardim Passos Manuel) e, depois, em Lisboa (Liga Naval). Isso foi em 1916-1917. Repete-se cem anos depois, no museu Soares dos Reis e no museu do Chiado. Os mesmos quadros, a mesma distribuição por temas e materiais. Como os espaços são diferentes, a receção é diferente. No Porto, o espaço aberto da sala de exposições temporárias cria divisórias, o que possibilita espreitar algumas das obras de um espaço para outro; em Lisboa, as peças estão em salas de menor dimensão mas com luz natural e boa decoração interior, o que permite um olhar mais intimista. Com muitos visitantes, pelo menos nos dias em que eu vi a exposição numa cidade e na outra.
Próxima conferência, dia 21 de janeiro de 2017, às 15:15, no Aquário Vasco da Gama, com marcação prévia.
Hoje, realizou-se também a primeira conferência intitulada O Porto em 1916 - o Jardim de Passos Manuel e a exposição de Amadeu. Intervieram quatro investigadoras: Elisa Soares, Ana Paula Machado, Sónia Moura e Marta Soares. O foco, como o título indica, foi o local da exposição inicial (Porto) de Amadeu Sousa Cardoso, ou melhor, a envolvência geográfica, social e cultural. Caso dos equipamentos: teatros Rivoli e S. João (então em construção), Sociedade de Belas Artes, Ateneu Comercial, estação ferroviária de S. Bento, alargado ainda ao Palácio de Cristal. As exposições de arte centravam-se especificamente no palácio de Cristal e no Jardim Passos Manuel. Iniciativas privadas, ateliês de artistas, ensino, exposições, atividades de associações, confronto entre naturalistas e modernistas, pioneirismo da formação feminina na pintura, relação com o teatro e o cinema, foram apresentados como contextos, formas e veículos de promoção cultural e artística que conduziriam à exposição de Amadeu.
As duas primeiras conferencistas trabalharam a sua informação a partir dos artigos e notícias de jornais, dando uma perspetiva interessante do meio cultural daquela cidade. O Jardim Passos Manuel, explicou melhor a terceira oradora, compreendia um espaço entre as ruas Passos Manuel e Formosa, onde se ergueria depois o Coliseu. Tinha um salão de festas e local de exposições, um jardim, cinematógrafo e, mais tarde, albergou tipografias e instalações da empresa Invicta Filmes. Teria ainda uma pista de gelo. A quarta oradora centrou-se mais na definição da exposição, abstracionista no Porto mas perdendo esta designação na exposição em Lisboa (1917). Afinal, a exposição, que causou polémica, tinha mais figuração que abstração. Na intervenção, foi ainda levantada a questão da exposição ser individual quando a prática naquele tipo de exposições, a nível internacional, ser coletiva, o que realça a ousadia e a qualidade do pintor português que viveu em Paris e morreu muito cedo por doença.
Próxima conferência, dia 21 de janeiro de 2017, às 15:15, no Aquário Vasco da Gama, com marcação prévia.
sexta-feira, 13 de janeiro de 2017
Página 1
O programa começou a emitir a 1 de janeiro de 1968, a comemorar 50 anos dentro de um ano. O programa acabou na primavera de 1975. O primeiro locutor foi Jorge Schnitzer, acompanhado por Maria Helena Fialho Gouveia. Emitido em Rádio Renascença, das 19:30 às 20:30, mais tarde alargado até às 21:00, teve colaboração especial da redação da revista Flama no seu início. Logo depois, em fevereiro, José Manuel Nunes assumia a liderança de Página 1. Outro elemento de destaque do programa foi o jornalista Adelino Gomes. O técnico seria Moreno Pinto, mais tarde substituído por José Videira.
Na entrevista publicada na Flama (23 de agosto de 1968), o realizador José Manuel Nunes falou das suas preferências musicais, da necessidade de dialogar com os ouvintes da estação, das iniciativas (caso da leitura do último discurso de Martin Luther King), da relação com outros programas (PBX, que José Manuel Nunes já não ouvia) e da distinção de programas: de estúdio, com pessoas a falar; de tema, com análise de um assunto.
Na entrevista publicada na Flama (23 de agosto de 1968), o realizador José Manuel Nunes falou das suas preferências musicais, da necessidade de dialogar com os ouvintes da estação, das iniciativas (caso da leitura do último discurso de Martin Luther King), da relação com outros programas (PBX, que José Manuel Nunes já não ouvia) e da distinção de programas: de estúdio, com pessoas a falar; de tema, com análise de um assunto.
segunda-feira, 9 de janeiro de 2017
A Rádio Universidade em 1970
Ao fim de 20 anos, independentemente da linha política que o texto não podia discutir, pois se vivia em ditadura e sem liberdade de expressão, o balanço da Rádio Universidade quanto a novos profissionais era rico: locutores Maria Teresa Caldeira, Armando Correia, Vasco Félix, Renato Santos, Maria Luísa Pinto, Sebastião Fernandes, Nuno Fradique, Fernando Frazão (todos da Emissora Nacional), Paulo Fernando, Carlos Lacerda, Fernando Quinas, Jorge Moreira, João David Nunes, Jorge Dias, Manuel Bravo, Rui Pedro, Adelino Gomes e José Nuno Martins (todos de Rádio Clube Português) e José Corte Real e Pedro Castelo (Rádio Renascença), além dos produtores Teles Gomes (Emissora Nacional) e Joel Nelson e Orlando Dias Agudo (Rádio Clube Português) e técnicos de som Manuel Marques (Emissora Nacional) e Luís Alcobia (Rádio Clube Português). Então, numa agência publicitária, ligado a spots radiofónicos, Eduardo Street, que voltaria à Emissora Nacional como realizador (Nova Antena, 23 de janeiro de 1970).
A Rádio Universidade começara a sua atividade em abril de 1950 numas águas furtadas da Praça das Flores, saindo dez anos depois para a rua de D. Estefânia, com emissão diária em Emissora Nacional Lisboa 1 e 2. Os estudantes universitários ou liceais do 6º e 7º podiam candidatar-se a colaborador da estação, duas vezes por ano (outubro e abril), optando por áreas: administração, produção, programas, técnico e exterior. O candidato a locutor tinha de se submeter a uma prova de voz. A equipa tinha 20 locutores, sempre aos pares - uma voz feminina e uma voz masculina. O texto assinado por Orlando Dias Agudo destaca a informação, pois todos os dias havia um boletim. A música emitida é escolhida por dez colaboradores, distribuídos entre programistas e montadores (competindo a estes a sonoplastia).
A Rádio Universidade começara a sua atividade em abril de 1950 numas águas furtadas da Praça das Flores, saindo dez anos depois para a rua de D. Estefânia, com emissão diária em Emissora Nacional Lisboa 1 e 2. Os estudantes universitários ou liceais do 6º e 7º podiam candidatar-se a colaborador da estação, duas vezes por ano (outubro e abril), optando por áreas: administração, produção, programas, técnico e exterior. O candidato a locutor tinha de se submeter a uma prova de voz. A equipa tinha 20 locutores, sempre aos pares - uma voz feminina e uma voz masculina. O texto assinado por Orlando Dias Agudo destaca a informação, pois todos os dias havia um boletim. A música emitida é escolhida por dez colaboradores, distribuídos entre programistas e montadores (competindo a estes a sonoplastia).
domingo, 8 de janeiro de 2017
A. da Silva O. e a rádio Caos
Foi ontem ao final da tarde, em ªSede, com António da Silva Oliveira, fundador da Rádio Caos, criador das Edições Mortas, editor de fanzines, plaquetes, folhetos e revistas, responsável pelas Conferências do Inferno, livreiro e performer, obra que atravessa a cultura portuense alternativa desde a década de 1980, e que contou ainda com a presença de Paula Guerra, socióloga da cultura. No vídeo, A. da Silva O. fala da Rádio Caos (apesar de estar na primeira fila, defrontei-me com a presença de uma garrafa de refrigerante que retirou alguma visibilidade ao conferencista).
Do blogue Bicho Ruim, de Rui Manuel Amaral, o programador de ªSede, extraio o seguinte: "Em meados dos anos 80, o Porto era uma cidade cercada. Não pelo exterior, mas a partir de dentro. A sensação era a de que se vivia afastado de tudo o que de importante estava a acontecer no mundo. O que chegava de fora não era suficiente para aplacar a nossa fome. A rádio, a televisão e os jornais, que para os padrões de hoje pareceriam radicalmente alternativos, representavam o tipo de cultura e informação que era necessário rejeitar. Dentro de muros, a resistência, como sempre, fazia o seu obscuro caminho. Fanzines, plaquetes e boletins, circulavam de mão em mão, nos cafés, nas lojas de discos, nas associações de estudantes e colectividades, numa espécie de samizdat legal. Desenhadas à mão, escritas à máquina, reproduzidas em lojas de fotocópias, em formato A4 ou A5, com mais ou menos páginas, quase sempre a preto-e-branco, as publicações alternativas da época seguiam a estética mais simples do DIY. Edições sobre música, cinema, literatura, filosofia, política e outros temas impossíveis de classificar, circulavam um pouco por toda a parte, ao preço de custo. Havia de tudo. Boas ideias, bom pensamento, boa produção, mas também exercícios ingénuos e profundamente naïf. O mais importante, porém, era a energia, a potência, a necessidade incontrolável de fazer, mostrar, partilhar, de resistir ao cerco. No meio da avalanche fanzinesca do Porto de meados de 80, destacava-se facilmente o trabalho de alguns autores/editores (a distinção entre autor e editor, na maioria dos casos, não era simples de fazer). António da Silva Oliveira (A. Dasilva O., 1958), não sendo um caso isolado, era um caso único. Publicava e ajudava a publicar. Não apenas fanzines, mas também revistas e livros. E não apenas revistas e livros, mas também projectos ligados aos mais diversos domínios da intervenção cultural e artística. Em 1981, juntamente com Bernardino Guimarães, Daniel Guerra e Luís Guimarães, funda a Rádio Caos, um dos exemplos mais estimulantes do grande fluxo criativo gerado pelo movimento das rádios livres (rádios pirata). A Rádio Caos emitia programas sobre música (do jazz ao pop, do rock mais alternativo à clássica), literatura, ecologia e até radionovelas, escritas e interpretadas pelo próprio Oliveira. A pretexto da Rádio Caos, publicaram-se revistas, organizaram-se concertos, abriram-se espaços de colaboração entre numerosos criadores do Porto e de outros lugares. O amplo lastro deixado pela Caos, impedida de emitir no fim dos anos 80, é algo que está por estudar. Ainda na década de 80, Oliveira cria as Edições N., a revista Última Geração e, mais tarde, as Edições Mortas, com um extenso catálogo que continua a crescer e que atravessa vários géneros. Em 1994, organiza as Conferências do Inferno, no Ateneu Comercial do Porto, e depois os Encontros com o Maldito, em colaboração com o grupo de teatro Contracena. Em meados dos anos 2000, abre a Pulga, uma livraria dedicada à venda de livros de pequenas editoras, num acto de resistência contra o monopólio das grandes cadeias de distribuição. Actualmente, edita e dirige as revistas Piolho e Estúpida. Em cerca de 40 anos de contínua produção, António da Silva Oliveira impôs uma marca indelével e sem paralelo na cultura e contracultura da cidade. Uma parte importante da edição alternativa e independente, que vive hoje um momento de particular dinamismo, é devedora do trabalho pioneiro, exigente, insubmisso e heterodoxo de Oliveira e do seu grupo de colaboradores. Um trabalho que, de forma assumida pelo próprio ou em resultado da acção cega dos diferentes poderes políticos, culturais e académicos, foi sempre mais visível a partir da margem. A margem, que é onde tudo começa e onde tudo acaba".
Do blogue Bicho Ruim, de Rui Manuel Amaral, o programador de ªSede, extraio o seguinte: "Em meados dos anos 80, o Porto era uma cidade cercada. Não pelo exterior, mas a partir de dentro. A sensação era a de que se vivia afastado de tudo o que de importante estava a acontecer no mundo. O que chegava de fora não era suficiente para aplacar a nossa fome. A rádio, a televisão e os jornais, que para os padrões de hoje pareceriam radicalmente alternativos, representavam o tipo de cultura e informação que era necessário rejeitar. Dentro de muros, a resistência, como sempre, fazia o seu obscuro caminho. Fanzines, plaquetes e boletins, circulavam de mão em mão, nos cafés, nas lojas de discos, nas associações de estudantes e colectividades, numa espécie de samizdat legal. Desenhadas à mão, escritas à máquina, reproduzidas em lojas de fotocópias, em formato A4 ou A5, com mais ou menos páginas, quase sempre a preto-e-branco, as publicações alternativas da época seguiam a estética mais simples do DIY. Edições sobre música, cinema, literatura, filosofia, política e outros temas impossíveis de classificar, circulavam um pouco por toda a parte, ao preço de custo. Havia de tudo. Boas ideias, bom pensamento, boa produção, mas também exercícios ingénuos e profundamente naïf. O mais importante, porém, era a energia, a potência, a necessidade incontrolável de fazer, mostrar, partilhar, de resistir ao cerco. No meio da avalanche fanzinesca do Porto de meados de 80, destacava-se facilmente o trabalho de alguns autores/editores (a distinção entre autor e editor, na maioria dos casos, não era simples de fazer). António da Silva Oliveira (A. Dasilva O., 1958), não sendo um caso isolado, era um caso único. Publicava e ajudava a publicar. Não apenas fanzines, mas também revistas e livros. E não apenas revistas e livros, mas também projectos ligados aos mais diversos domínios da intervenção cultural e artística. Em 1981, juntamente com Bernardino Guimarães, Daniel Guerra e Luís Guimarães, funda a Rádio Caos, um dos exemplos mais estimulantes do grande fluxo criativo gerado pelo movimento das rádios livres (rádios pirata). A Rádio Caos emitia programas sobre música (do jazz ao pop, do rock mais alternativo à clássica), literatura, ecologia e até radionovelas, escritas e interpretadas pelo próprio Oliveira. A pretexto da Rádio Caos, publicaram-se revistas, organizaram-se concertos, abriram-se espaços de colaboração entre numerosos criadores do Porto e de outros lugares. O amplo lastro deixado pela Caos, impedida de emitir no fim dos anos 80, é algo que está por estudar. Ainda na década de 80, Oliveira cria as Edições N., a revista Última Geração e, mais tarde, as Edições Mortas, com um extenso catálogo que continua a crescer e que atravessa vários géneros. Em 1994, organiza as Conferências do Inferno, no Ateneu Comercial do Porto, e depois os Encontros com o Maldito, em colaboração com o grupo de teatro Contracena. Em meados dos anos 2000, abre a Pulga, uma livraria dedicada à venda de livros de pequenas editoras, num acto de resistência contra o monopólio das grandes cadeias de distribuição. Actualmente, edita e dirige as revistas Piolho e Estúpida. Em cerca de 40 anos de contínua produção, António da Silva Oliveira impôs uma marca indelével e sem paralelo na cultura e contracultura da cidade. Uma parte importante da edição alternativa e independente, que vive hoje um momento de particular dinamismo, é devedora do trabalho pioneiro, exigente, insubmisso e heterodoxo de Oliveira e do seu grupo de colaboradores. Um trabalho que, de forma assumida pelo próprio ou em resultado da acção cega dos diferentes poderes políticos, culturais e académicos, foi sempre mais visível a partir da margem. A margem, que é onde tudo começa e onde tudo acaba".
quinta-feira, 5 de janeiro de 2017
Livro Heróis Anónimos (2)
Foi lançado ao final da tarde, na Casa da Imprensa, o livro de Wilton Fonseca e António Santos Gomes, Heróis Anónimos (2). Jornalismo de Agência. História da Lusitânia e da ANI (1944-1975).
Do livro, começo pelo fim (p. 238): "Os autores destes dois volumes dos Heróis foram trabalhadores das agências (António Santos Gomes esteve na ANI, na ANOP e na Lusa; Wilton Fonseca e Mário de Carvalho estiveram na ANOP, NP e Lusa). Testemunhas e atores na vida daquelas empresas, não pretenderam fazer uma história descomprometida ou isenta, mas nem por isso deixaram de fazer uma História, sobre a qual têm as suas posições, opiniões e indignações". Santos Gomes é filho de Barradas de Oliveira, um dos fundadores da ANI. O segundo volume tem prefácio de Pedro Feytor Pinto, último diretor dos Serviços de Informação e Turismo (SEIT), antes de abril de 1974, e que, nesse texto quatro páginas, escreve sobre os vencidos (e a necessidade de escrever História desta perspetiva sobre os anos crepusculares do Estado Novo, acrescento eu). Mas o volume II, saído em 2016 e sobre a ANOP e NP (1975-1976) - que ainda não li - traz prefácio de Jorge Lacão, com responsabilidades políticas a seguir a 1974 e com igual dimensão de texto.
Ainda na p. 238, mas em parágrafo anterior, os autores escreviam sobre as agências: "Cada uma à sua maneira, a Lusitânia e a ANI, por um lado, e a ANOP e a NP, por outro, deram a conhecer Portugal e o mundo a conhecer aos portugueses e ao mundo. Empresas muito diferentes, tiveram no entanto objetivos coincidentes, foram vítimas de problemas semelhantes e poderiam ter tido destinos mais risonhos, até mesmo do ponto de vista empresarial". Da leitura do livro, após esclarecimento da perspetiva social e ideológica dos autores, considero uma obra o mais imparcial e objetiva possível, com uma apresentação larga das questões políticas da época e seu contexto mais amplo da sociedade nacional e internacional.
A Lusitânia foi criada em 1944 e deixou de existir em 18 de novembro de 1974, tendo Luís Lupi falecido três anos depois, amargurado, revoltado e desiludido. A ANI surgiu em 1947 e desapareceu em 24 de setembro de 1977, com Dutra Faria a falecer três anos depois, Barradas de Oliveira em 1987 e Marques Gastão viveu mais algum tempo, também amargurados e desiludidos: "o sonho partilhado de criação de uma grande agência nacional havia terminado. A Lusitânia e a ANI foram criadas e dirigidas por visionários" (p. 238). Em Portugal, e ao longo da mesma época, a operar no país havia agências internacionais, a Telimprensa (distribuição de telefotos), a PPI (Publicidade, Publicações e Informação, do grupo Torralta e a distribuir apenas noticiário nacional) e a AEI (Agência Europeia de Informação, que cedia direitos de utilização de textos e imagens) (pp. 191-192).
O livro começa com a interrogação: a Lusitânia teria sido uma verdadeira agência de notícias? A Lusitânia nascera dentro da Sociedade de Propaganda de Portugal, que juntava esta característica às de turismo e jornalismo, além da sua indefinição em termos jurídicos, o que colocaria a ANI como primeira agência de notícias do país. Mas os autores reconhecem o estatuto pioneiro da Lusitânia (p. 14). Para a história agora publicada, os antigos jornalistas de agências procuraram toda a documentação possível. O arquivo da ANI seria destruído na quase totalidade em 1977 e a correspondência trocada com a SEIT é escassa. Os autores recolheriam o depoimento de pessoas que trabalharam nas duas agências, trabalho prolongado por muitos anos, e, por isso, muito louvável.
O livro tem 25 capítulos distribuídos por 240 páginas, editado pela Perfil Criativo, apresentando o nascimento das duas agências - a Lusitânia com uma tendência maior para dar noticiário das colónias africanas, a ANI para dar mais relevo ao noticiário internacional -, crescimento, qualidades e dificuldades, a tentativa de criar uma agência noticiosa nacional e a nem sempre compreensão do poder político, apesar de os seus dirigentes serem muito próximos do mesmo poder político e serem requisitados por jornalistas internacionais e estabelecerem protocolos com agências noticiosas internacionais.
[na imagem: recetor via rádio do serviço DPA, oferecido pela agência alemã ocidental, hoje pertença da Lusa. Estes aparelhos de rádio usavam-se para receber notícias, a par ou antes das ligações via telex, cuja informação provinha de países como a Alemanha e a Inglaterra]
[texto concluído em 19 de janeiro de 2017]
Do livro, começo pelo fim (p. 238): "Os autores destes dois volumes dos Heróis foram trabalhadores das agências (António Santos Gomes esteve na ANI, na ANOP e na Lusa; Wilton Fonseca e Mário de Carvalho estiveram na ANOP, NP e Lusa). Testemunhas e atores na vida daquelas empresas, não pretenderam fazer uma história descomprometida ou isenta, mas nem por isso deixaram de fazer uma História, sobre a qual têm as suas posições, opiniões e indignações". Santos Gomes é filho de Barradas de Oliveira, um dos fundadores da ANI. O segundo volume tem prefácio de Pedro Feytor Pinto, último diretor dos Serviços de Informação e Turismo (SEIT), antes de abril de 1974, e que, nesse texto quatro páginas, escreve sobre os vencidos (e a necessidade de escrever História desta perspetiva sobre os anos crepusculares do Estado Novo, acrescento eu). Mas o volume II, saído em 2016 e sobre a ANOP e NP (1975-1976) - que ainda não li - traz prefácio de Jorge Lacão, com responsabilidades políticas a seguir a 1974 e com igual dimensão de texto.
Ainda na p. 238, mas em parágrafo anterior, os autores escreviam sobre as agências: "Cada uma à sua maneira, a Lusitânia e a ANI, por um lado, e a ANOP e a NP, por outro, deram a conhecer Portugal e o mundo a conhecer aos portugueses e ao mundo. Empresas muito diferentes, tiveram no entanto objetivos coincidentes, foram vítimas de problemas semelhantes e poderiam ter tido destinos mais risonhos, até mesmo do ponto de vista empresarial". Da leitura do livro, após esclarecimento da perspetiva social e ideológica dos autores, considero uma obra o mais imparcial e objetiva possível, com uma apresentação larga das questões políticas da época e seu contexto mais amplo da sociedade nacional e internacional.
O livro começa com a interrogação: a Lusitânia teria sido uma verdadeira agência de notícias? A Lusitânia nascera dentro da Sociedade de Propaganda de Portugal, que juntava esta característica às de turismo e jornalismo, além da sua indefinição em termos jurídicos, o que colocaria a ANI como primeira agência de notícias do país. Mas os autores reconhecem o estatuto pioneiro da Lusitânia (p. 14). Para a história agora publicada, os antigos jornalistas de agências procuraram toda a documentação possível. O arquivo da ANI seria destruído na quase totalidade em 1977 e a correspondência trocada com a SEIT é escassa. Os autores recolheriam o depoimento de pessoas que trabalharam nas duas agências, trabalho prolongado por muitos anos, e, por isso, muito louvável.
O livro tem 25 capítulos distribuídos por 240 páginas, editado pela Perfil Criativo, apresentando o nascimento das duas agências - a Lusitânia com uma tendência maior para dar noticiário das colónias africanas, a ANI para dar mais relevo ao noticiário internacional -, crescimento, qualidades e dificuldades, a tentativa de criar uma agência noticiosa nacional e a nem sempre compreensão do poder político, apesar de os seus dirigentes serem muito próximos do mesmo poder político e serem requisitados por jornalistas internacionais e estabelecerem protocolos com agências noticiosas internacionais.
[na imagem: recetor via rádio do serviço DPA, oferecido pela agência alemã ocidental, hoje pertença da Lusa. Estes aparelhos de rádio usavam-se para receber notícias, a par ou antes das ligações via telex, cuja informação provinha de países como a Alemanha e a Inglaterra]
[texto concluído em 19 de janeiro de 2017]
quarta-feira, 4 de janeiro de 2017
Eduardo Calvet Magalhães
Eduardo Calvet Magalhães, 96 anos, faleceu hoje em Viana do Castelo.
Calvet Magalhães foi um animador cultural de primeira água. Quando em 1963, no café Majestic, intelectuais e artistas do Porto discutiam o movimento cultural da cidade, nasceu a Árvore – cooperativa de Atividades Artísticas.
Em 1976, abria-se um novo rumo na Árvore, com o impulso de Eduardo Calvet de Magalhães, Rolando Sá Nogueira, Arnaldo Araújo e José Rodrigues. Em 1982, a componente letiva conhecia um grande desenvolvimento, com a criação da cooperativa de ensino polivalente e artístico Árvore. Como jovem docente, eu participei nessa aventura, onde ensinei nomeadamente Estética e Teoria da Comunicação.
O corpo de Calvet Magalhães estará no Tanatório de Matosinhos na sexta-feira, com homenagem às 15:30.
Atualização a 8 de janeiro de 2017: na homenagem a Calvet de Magalhães, disse-se que ele não fora um homem de sucesso mas promoveu o sucesso em algumas pessoas e criou sucesso a vários objetos em que se envolveu. Uma forma calorosa de recordar uma vida dedicada à arte e à cultura, com muitos amigos e discípulos naquela hora de despedida.
Calvet Magalhães foi um animador cultural de primeira água. Quando em 1963, no café Majestic, intelectuais e artistas do Porto discutiam o movimento cultural da cidade, nasceu a Árvore – cooperativa de Atividades Artísticas.
Em 1976, abria-se um novo rumo na Árvore, com o impulso de Eduardo Calvet de Magalhães, Rolando Sá Nogueira, Arnaldo Araújo e José Rodrigues. Em 1982, a componente letiva conhecia um grande desenvolvimento, com a criação da cooperativa de ensino polivalente e artístico Árvore. Como jovem docente, eu participei nessa aventura, onde ensinei nomeadamente Estética e Teoria da Comunicação.
O corpo de Calvet Magalhães estará no Tanatório de Matosinhos na sexta-feira, com homenagem às 15:30.
Atualização a 8 de janeiro de 2017: na homenagem a Calvet de Magalhães, disse-se que ele não fora um homem de sucesso mas promoveu o sucesso em algumas pessoas e criou sucesso a vários objetos em que se envolveu. Uma forma calorosa de recordar uma vida dedicada à arte e à cultura, com muitos amigos e discípulos naquela hora de despedida.
Geringonça
Em iniciativa da Porto Editora, geringonça foi escolhida como a palavra do ano, com 35% dos votos de cerca de 25 mil portugueses que participaram. A palavra geringonça tem sido utilizada para designar a coligação parlamentar que apoia o atual governo. A essa palavra, seguiram-se campeão (29%) e brexit (8%). Geringonça sucede como palavra do ano a refugiado (2015), corrupção (2014), bombeiro (2013), entroikado (2012), austeridade (2011), vuvuzela (2010) e esmiuçar (2009) [informação da entidade organizadora]. Dois responsáveis indiretos pela popularidade da expressão: Vasco Pulido Valente (em crónica) e Paulo Portas (no Parlamento).
Amanhã, dia 5 de janeiro, lançamento do livro Heróis Anónimos (2). Jornalismo de Agência
Heróis Anónimos (2). Jornalismo de Agência. História da Lusitânia e da ANI (1944-1957), de Wilton Fonseca e António Santos Gomes. Lançamento na Casa da Imprensa às 18:00.
No ano passado, Wilton Fonseca e Mário de Carvalho tinham lançado Heróis Anónimos. Jornalismo de Agência. História da ANOP e da NP (1975-1986).
terça-feira, 3 de janeiro de 2017
Patricia Traunter e a BBC de Fernando Pessa
Patricia Traunter viajava no navio inglês Avila Star quando este foi torpedeado por um navio de guerra alemão em setembro de 1942. O barco afundou-se mas houve tempo para lançar uma baleeira a transportar 39 sobreviventes. Estes andaram perdidos no oceano Atlântico durante 20 dias até serem resgatados pelo navio português Pedro Nunes. Salvaram-se 27 desses passageiros.
De entre os sobreviventes, duas raparigas de 18 anos, uma das quais Patricia Traunter, como publicaria o jornal News (Adelaide, SA), de 9 de outubro de 1942, acompanhada de fotografia do resgate. A 28 de outubro, a jovem inglesa agradecia, aos microfones da BBC, o gesto dos marinheiros portugueses. A revista pró-aliada portuguesa trazia essa fotografia mais um texto de Fernando Pessa ao lado dela (Mundo Gráfico, de 15 de dezembro de 1942). O locutor-jornalista escreveria: "Portugal - símbolo da honestidade na forma como respeita a neutralidade a que se impõe".
Nas duas fotografias da publicação portuguesa, o centro das imagens é o microfone da BBC, autêntico punctum (como diria Roland Barthes). A imagem da alocução inicial da jovem na estação britânica é particularmente sugestiva, dentro do estilo de vedeta de cinema da época, uma quase superprodução fotográfica que faz esquecer a tragédia que se abateu sobre a jovem e os seus companheiros de viagem. A sua beleza e a mensagem "com a vossa bravura e espírito humanitário" (em castelhano) criaram aqui um momento de forte propaganda a favor dos aliados.
[obrigado a Gonçalo Pereira o ter-me chamado a atenção para este espólio da revista Mundo Gráfico, digitalizada na Hemeroteca Municipal de Lisboa]
De entre os sobreviventes, duas raparigas de 18 anos, uma das quais Patricia Traunter, como publicaria o jornal News (Adelaide, SA), de 9 de outubro de 1942, acompanhada de fotografia do resgate. A 28 de outubro, a jovem inglesa agradecia, aos microfones da BBC, o gesto dos marinheiros portugueses. A revista pró-aliada portuguesa trazia essa fotografia mais um texto de Fernando Pessa ao lado dela (Mundo Gráfico, de 15 de dezembro de 1942). O locutor-jornalista escreveria: "Portugal - símbolo da honestidade na forma como respeita a neutralidade a que se impõe".
Nas duas fotografias da publicação portuguesa, o centro das imagens é o microfone da BBC, autêntico punctum (como diria Roland Barthes). A imagem da alocução inicial da jovem na estação britânica é particularmente sugestiva, dentro do estilo de vedeta de cinema da época, uma quase superprodução fotográfica que faz esquecer a tragédia que se abateu sobre a jovem e os seus companheiros de viagem. A sua beleza e a mensagem "com a vossa bravura e espírito humanitário" (em castelhano) criaram aqui um momento de forte propaganda a favor dos aliados.
[obrigado a Gonçalo Pereira o ter-me chamado a atenção para este espólio da revista Mundo Gráfico, digitalizada na Hemeroteca Municipal de Lisboa]
segunda-feira, 2 de janeiro de 2017
ªSede com sessão dedicada a A. Dasilva O.
Fundador da Rádio Caos, criador das Edições Mortas, editor de fanzines, plaquetes, folhetos e revistas, responsável pelas Conferências do Inferno, livreiro e performer, a obra de António da Silva Oliveira confunde-se com a cultura portuense mais alternativa desde a década de 1980. Uma sessão antológica dedicada a ele decorre no sábado, às 17:00, e conta com a sua presença e de Paula Guerra, investigadora na área da sociologia da arte e da cultura. Em paralelo, ªSede promove uma mostra de objetos, livros, revistas, cartazes e outros materiais de A. Dasilva O, que pode ser visitada entre as 15:00 e as 20:00. ªSede fica na Rua de Santa Catarina, 787 (Porto).
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