GENTILEZAS A RETRIBUIR (E DISTRIBUIR) EM DIA DE BLOGUES
1) Texto Blogues como ferramenta pedagógica, assinado por Gládis Leal dos Santos, editado ontem em caicmariano (pena que a produção de mensagens seja tão espaçado no tempo),
2) em dia de BlogDay, boa sorte ao Leão Verde, de João Pereira (embora não esteja comprometido com a inclinação desportiva dele, desejo toda a sorte para o seu clube, assim como quero para o meu),
3) idem, para o amigo Manuel Bragado, do blogue Brétemas, de Santiago de Compostela, na Galiza, quase mais perto da minha cidade natal do que esta de Lisboa, e que partilha comigo interesses muito próximos na blogosfera.
Dantes, dizia-se: pede três desejos. E uma pessoa punha-se a pensar: quero isto e aquilo e aqueloutro. Agora, tem de se mencionar cinco blogues [deve ser por causa da inflação]. Por isso, aos três acima referenciados, por gentilezas que tenho de retribuir, menciono ainda a Pandora's Box, de onde retirara a informação - e que é uma óptima organizadora de jantares de blogueiros, com animação e ilusionistas - , e A Minha Rádio, um amigo ali do Porto, com quem já não converso há um longo tempo, e que no domingo escreveu sobre o olho mágico, aquele rectângulo (ou outra forma) que nos avisava de estar bem ou mal sintonizada uma estação (e mais abaixo, a 1 de Agosto, escreveu sobre o aparecimento da Emissora Nacional, e de uma cumplicidade dele e minha na escrita de uns textos).
Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
quarta-feira, 31 de agosto de 2005
TESE DE DOUTORAMENTO SOBRE TELEVISÃO
Nuno Goulart Brandão vai fazer a sua dissertação de doutoramento no ISCTE (Ala Autónoma, Auditório Afonso de Barros), no dia 16 de Setembro, pelas 14:30. O título é Os telejornais da televisão generalista portuguesa – importantes encontros quotidianos com a actualidade e para a construção social da realidade.
Nuno Brandão, professor universitário e antigo profissional da RTP, tem já um livro publicado, O espectáculo das notícias - a televisão generalista e a abertura dos telejornais, publicado pela Notícias Editorial (2002).
Nuno Goulart Brandão vai fazer a sua dissertação de doutoramento no ISCTE (Ala Autónoma, Auditório Afonso de Barros), no dia 16 de Setembro, pelas 14:30. O título é Os telejornais da televisão generalista portuguesa – importantes encontros quotidianos com a actualidade e para a construção social da realidade.
Nuno Brandão, professor universitário e antigo profissional da RTP, tem já um livro publicado, O espectáculo das notícias - a televisão generalista e a abertura dos telejornais, publicado pela Notícias Editorial (2002).
DIA DO BLOGUE
O BlogDay é um dia especial dedicado a todos os blogues. Se hoje aderir à iniciativa divulgue cinco novos blogues nacionais ou estrangeiros que considere interessantes e dignos de destaque. Assim os seus visitantes terão oportunidade de navegar e conhecer outras pessoas, ideias e áreas de interesse, celebrando a diversidade de pontos de vista.
Instruções para a mensagem do BlogDay
1. Procure cinco novos Blogues que ache interessantes.
2. Notifique por email esses cinco blogueiros que serão sujeitos à sua recomendação no BlogDay 2005.
3. Escreva uma pequena descrição dos blogues e o link para os blogues sugeridos.
4. Publique hoje esse post.
5. Junte a tag do BlogDay usando este link: http://technorati.com/tag/BlogDay2005 e um link para o site do BlogDay: http://www.blogday.org/ [dica de Pandora's Box]
O BlogDay é um dia especial dedicado a todos os blogues. Se hoje aderir à iniciativa divulgue cinco novos blogues nacionais ou estrangeiros que considere interessantes e dignos de destaque. Assim os seus visitantes terão oportunidade de navegar e conhecer outras pessoas, ideias e áreas de interesse, celebrando a diversidade de pontos de vista.
Instruções para a mensagem do BlogDay
1. Procure cinco novos Blogues que ache interessantes.
2. Notifique por email esses cinco blogueiros que serão sujeitos à sua recomendação no BlogDay 2005.
3. Escreva uma pequena descrição dos blogues e o link para os blogues sugeridos.
4. Publique hoje esse post.
5. Junte a tag do BlogDay usando este link: http://technorati.com/tag/BlogDay2005 e um link para o site do BlogDay: http://www.blogday.org/ [dica de Pandora's Box]
A INTERNET SEGUNDO ANDY BENNETT
O peso do computador na cultura de hoje faz nascer uma literacia electrónica, que articula os produtos em linha com os produtos já feitos (CD-ROMs, bases de dados) e estabelece redes de relações pessoais [acrescento eu: a provar tal, os almoços e jantares de blogueiros e a edição de livros feita por Paulo Querido a partir de projectos de textos em blogues. Há também relações com as máquinas, como as pesquisas no Google. Registe-se ainda o uso de uma linguagem mais livre mas contaminada por outras experiências, caso da contracção de palavras e emprego de iniciais como nas mensagens SMS e Messenger].
Uma página da internet [como um blogue] tem um baixo custo, é adaptável [configuração, extensão, com ligação a outros sítios] e um meio de publicação de grande alcance. O seu uso pressupõe um novo capital cultural, que ultrapassa barreiras geográficas e temporais [de novo os almoços e jantares de blogueiros], permitindo o estabelecimento de novas associações colectivas. Por outro lado, existe a possibilidade de se estabelecer uma nova identidade (refúgio em pseudónimos, que escondem idade, género e proveniência pessoal) [para além da alteração da relação público/privado, pois a publicação de mensagens pessoais num meio de acesso universal reduz essa distinção].
A confluência de tecnologias e saberes permite, na internet, uma grande criatividade [como nos blogues: narrativas escritas, fotos, desenhos] e uma maior participação cultural.
Por ser barata e adaptável, como escrevi acima, os novos movimentos sociais usam a internet como primeiro meio para a comunicação autónoma, formando potencial para a construção social e comunitária, com mobilização, conhecimento e acção política directa (Bennett, 2005: 92). Ao que eu acrescento: a expansão da blogosfera dependeu destas facilidades.
Um último pormenor: a utilização por pequenos grupos e em escala reduzida de intervenientes e acções permite a expressão de uma participação mais igualitária nos debates e nos processos decisivos. Ou seja, enfraquecem-se as concepções autoritárias e vanguardistas nos novos movimentos sociais.
Bennett é professor de sociologia na universidade de Surrey. Este livro é um manual que preenche, por inteiro, os objectivos do blogue. Para além de definir conceitos em torno da cultura de massa e do pós-modernismo, Bennett olha os media, a moda, a música, o turismo e a contra-cultura como elementos centrais da vida do quotidiano. A sua leitura está a ser um tónico para mim.
Leitura: Andy Bennett (2005). Culture and everyday life. Londres, Thousand Oaks e Nova Deli: Sage, pp. 89-93. Total de páginas: 207. Custo: £19,99 (aproximadamente: €30).
O peso do computador na cultura de hoje faz nascer uma literacia electrónica, que articula os produtos em linha com os produtos já feitos (CD-ROMs, bases de dados) e estabelece redes de relações pessoais [acrescento eu: a provar tal, os almoços e jantares de blogueiros e a edição de livros feita por Paulo Querido a partir de projectos de textos em blogues. Há também relações com as máquinas, como as pesquisas no Google. Registe-se ainda o uso de uma linguagem mais livre mas contaminada por outras experiências, caso da contracção de palavras e emprego de iniciais como nas mensagens SMS e Messenger].
Uma página da internet [como um blogue] tem um baixo custo, é adaptável [configuração, extensão, com ligação a outros sítios] e um meio de publicação de grande alcance. O seu uso pressupõe um novo capital cultural, que ultrapassa barreiras geográficas e temporais [de novo os almoços e jantares de blogueiros], permitindo o estabelecimento de novas associações colectivas. Por outro lado, existe a possibilidade de se estabelecer uma nova identidade (refúgio em pseudónimos, que escondem idade, género e proveniência pessoal) [para além da alteração da relação público/privado, pois a publicação de mensagens pessoais num meio de acesso universal reduz essa distinção].
A confluência de tecnologias e saberes permite, na internet, uma grande criatividade [como nos blogues: narrativas escritas, fotos, desenhos] e uma maior participação cultural.
Por ser barata e adaptável, como escrevi acima, os novos movimentos sociais usam a internet como primeiro meio para a comunicação autónoma, formando potencial para a construção social e comunitária, com mobilização, conhecimento e acção política directa (Bennett, 2005: 92). Ao que eu acrescento: a expansão da blogosfera dependeu destas facilidades.
Um último pormenor: a utilização por pequenos grupos e em escala reduzida de intervenientes e acções permite a expressão de uma participação mais igualitária nos debates e nos processos decisivos. Ou seja, enfraquecem-se as concepções autoritárias e vanguardistas nos novos movimentos sociais.
Bennett é professor de sociologia na universidade de Surrey. Este livro é um manual que preenche, por inteiro, os objectivos do blogue. Para além de definir conceitos em torno da cultura de massa e do pós-modernismo, Bennett olha os media, a moda, a música, o turismo e a contra-cultura como elementos centrais da vida do quotidiano. A sua leitura está a ser um tónico para mim.
Leitura: Andy Bennett (2005). Culture and everyday life. Londres, Thousand Oaks e Nova Deli: Sage, pp. 89-93. Total de páginas: 207. Custo: £19,99 (aproximadamente: €30).
PARSONS E A SOCIEDADE
Na sua teoria, Parsons (1949: 768; 1969: 19) define a sociedade como um sistema em que os vários elementos (instituições, grupos) desempenham uma dada acção. Pelo estabelecimento de contactos pessoais frequentes, partilha de valores comuns e de sentimentos de pertença, coesão e reforço dos seus elementos através de códigos de conduta, representamo-los como grupos primários. A sociedade não constitui, contudo, uma entidade homogénea. Ela divide-se em múltiplos grupos com interesses específicos, de ordem política, social, económica e cultural, que se influenciam num processo contínuo, aqui designados por grupos secundários. Para Elias (1999), o rumo dado à relação de indivíduos, grupos e instituições não se planeia antecipadamente, mas resulta da sua ligação em cada momento de análise. É da articulação funcional dos grupos primários e secundários, e do seu alargamento a outros grupos, que resulta a vida social, numa dinâmica de troca e mudança.
A vida social e as ligações que se estabelecem nos indivíduos e grupos decorrem na dinâmica desenvolvida pela comunicação directa, em que os agentes se conhecem e entrecruzam numa negociação permanente de diálogos, argumentos e perspectivas culturais e filosóficas. Resultam também da comunicação mediada por suportes escritos ou electrónicos, quando a industrialização e a massificação transformaram o mundo, no sentido da percepção geral do reflexo dos acontecimentos internacionais na vida comum.
A escala do conhecimento alarga-se e ultrapassa a informação do local ou da região em que o indivíduo vive, trabalha e descansa. A informação proveniente de um ponto longínquo caminha a passo com a curiosidade em descobrir gentes e costumes diferentes, que o comércio e as viagens há muito faziam referência. Cada notícia informa, forma e determina opiniões e reacções sobre questões, problemas e decisões da vida colectiva. Os jornais, especialmente no século XIX, a rádio a partir de 1920, a televisão desde os anos 1940 e a internet na década de 1990, alargam o universo dos saberes e, ao mesmo tempo, estreitam a distância e o tempo na transmissão dos factos e da realidade social. Os media noticiosos passam a concorrer com a comunicação directa na construção da cultura moderna.
Leituras: Norbert Elias (1999). Introdução à sociologia. Lisboa: Edições 70
Talcott Parsons (1949). The structure of social action. Glencoe, Illinois: The Free Press
Talcott Parsons (1969). Sociedades – perspectivas evolutivas e comparativas. S. Paulo: Livraria Pioneira Editora
Na sua teoria, Parsons (1949: 768; 1969: 19) define a sociedade como um sistema em que os vários elementos (instituições, grupos) desempenham uma dada acção. Pelo estabelecimento de contactos pessoais frequentes, partilha de valores comuns e de sentimentos de pertença, coesão e reforço dos seus elementos através de códigos de conduta, representamo-los como grupos primários. A sociedade não constitui, contudo, uma entidade homogénea. Ela divide-se em múltiplos grupos com interesses específicos, de ordem política, social, económica e cultural, que se influenciam num processo contínuo, aqui designados por grupos secundários. Para Elias (1999), o rumo dado à relação de indivíduos, grupos e instituições não se planeia antecipadamente, mas resulta da sua ligação em cada momento de análise. É da articulação funcional dos grupos primários e secundários, e do seu alargamento a outros grupos, que resulta a vida social, numa dinâmica de troca e mudança.
A vida social e as ligações que se estabelecem nos indivíduos e grupos decorrem na dinâmica desenvolvida pela comunicação directa, em que os agentes se conhecem e entrecruzam numa negociação permanente de diálogos, argumentos e perspectivas culturais e filosóficas. Resultam também da comunicação mediada por suportes escritos ou electrónicos, quando a industrialização e a massificação transformaram o mundo, no sentido da percepção geral do reflexo dos acontecimentos internacionais na vida comum.
A escala do conhecimento alarga-se e ultrapassa a informação do local ou da região em que o indivíduo vive, trabalha e descansa. A informação proveniente de um ponto longínquo caminha a passo com a curiosidade em descobrir gentes e costumes diferentes, que o comércio e as viagens há muito faziam referência. Cada notícia informa, forma e determina opiniões e reacções sobre questões, problemas e decisões da vida colectiva. Os jornais, especialmente no século XIX, a rádio a partir de 1920, a televisão desde os anos 1940 e a internet na década de 1990, alargam o universo dos saberes e, ao mesmo tempo, estreitam a distância e o tempo na transmissão dos factos e da realidade social. Os media noticiosos passam a concorrer com a comunicação directa na construção da cultura moderna.
Leituras: Norbert Elias (1999). Introdução à sociologia. Lisboa: Edições 70
Talcott Parsons (1949). The structure of social action. Glencoe, Illinois: The Free Press
Talcott Parsons (1969). Sociedades – perspectivas evolutivas e comparativas. S. Paulo: Livraria Pioneira Editora
HERBERT BLUMER
Herbert Blumer (1900-1987) desenvolveu duas ideias principais: a interacção simbólica e a análise do comportamento colectivo. Blumer, discípulo de George Herbert Mead, cunhou a designação interaccionismo simbólico como estudo da vida humana. A sua teoria assenta em três princípios: 1) significado – um indivíduo actua perante pessoas e coisas e atribui-lhes um significado preciso; 2) linguagem – permite ao indivíduo um significado que o conduz à negociação através de símbolos; 3) pensamento – consolida ou modifica a interpretação individual quanto aos símbolos.
Em termos de análise do comportamento colectivo, escreveu sobre relações raciais, trabalho e gestão de conflitos, urbanização e cultura popular. A partir destas áreas centrou-se em situações e resultados relativamente não construídos – multidões, massa, e público.
As suas definições resultam preciosas para a compreensão da comunicação de massa, nomeadamente no momento em que Blumer escreveu o texto (1946), logo a seguir à II Guerra Mundial. Uma das palavras então mais frequentes para cobrir os fenómenos da comunicação de massa era propaganda, termo aliás que fecha o texto deste sociólogo.
Blumer elenca as características de massa como: 1) participantes oriundos de todas as profissões e categorias sociais; 2) grupo anónimo (os elementos não se conhecem entre si); 3) pouca interacção ou troca de experiências; 4) organização frágil (p. 177). Quanto ao termo público designa um grupo de pessoas: 1) envolvidas numa questão; 2) divididas em termos dessa opinião; 3) com discussão a respeito de tal problema (p. 181). Diz Blumer a seguir: “a presença de uma questão, de discussão e de uma opinião colectiva constitui a marca do público”.
Já opinião pública é um resultado colectivo, não uma opinião unânime e extensível a todo o grupo do público, nem necessariamente a opinião da maioria, mas a tendência central fixada pela concorrência das várias opiniões em jogo (p. 184). Aqui entram os grupos de interesse, que, sobre um dado assunto, emitem uma opinião que pretendem fazer prevalecer no público. Para Blumer, “compreende-se a qualidade variável da opinião pública e a utilização de meios de influência como a propaganda, que subvertem a discussão pública inteligente” (p. 185).
Herbert Blumer trabalhou em Chicago antes de se transferir para a Califórnia, onde foi professor e responsável pelo departamento de sociologia na universidade de Berkeley. Foi também editor e presidente da American Sociological Association, nas décadas de 40 e 50 do século passado.
Leitura: Herbert Blumer (1978). “A massa, o público e a opinião pública”. In Gabriel Cohn (org.) Comunicação e indústria cultural. S. Paulo: Companhia Editora Nacional (texto de Blumer original de 1946) [o exemplar do livro de Cohn foi-me oferecido por Jorge Guimarães Silva, do blogue A Rádio em Portugal; a minha gratidão]
Herbert Blumer (1900-1987) desenvolveu duas ideias principais: a interacção simbólica e a análise do comportamento colectivo. Blumer, discípulo de George Herbert Mead, cunhou a designação interaccionismo simbólico como estudo da vida humana. A sua teoria assenta em três princípios: 1) significado – um indivíduo actua perante pessoas e coisas e atribui-lhes um significado preciso; 2) linguagem – permite ao indivíduo um significado que o conduz à negociação através de símbolos; 3) pensamento – consolida ou modifica a interpretação individual quanto aos símbolos.
Em termos de análise do comportamento colectivo, escreveu sobre relações raciais, trabalho e gestão de conflitos, urbanização e cultura popular. A partir destas áreas centrou-se em situações e resultados relativamente não construídos – multidões, massa, e público.
As suas definições resultam preciosas para a compreensão da comunicação de massa, nomeadamente no momento em que Blumer escreveu o texto (1946), logo a seguir à II Guerra Mundial. Uma das palavras então mais frequentes para cobrir os fenómenos da comunicação de massa era propaganda, termo aliás que fecha o texto deste sociólogo.
Blumer elenca as características de massa como: 1) participantes oriundos de todas as profissões e categorias sociais; 2) grupo anónimo (os elementos não se conhecem entre si); 3) pouca interacção ou troca de experiências; 4) organização frágil (p. 177). Quanto ao termo público designa um grupo de pessoas: 1) envolvidas numa questão; 2) divididas em termos dessa opinião; 3) com discussão a respeito de tal problema (p. 181). Diz Blumer a seguir: “a presença de uma questão, de discussão e de uma opinião colectiva constitui a marca do público”.
Já opinião pública é um resultado colectivo, não uma opinião unânime e extensível a todo o grupo do público, nem necessariamente a opinião da maioria, mas a tendência central fixada pela concorrência das várias opiniões em jogo (p. 184). Aqui entram os grupos de interesse, que, sobre um dado assunto, emitem uma opinião que pretendem fazer prevalecer no público. Para Blumer, “compreende-se a qualidade variável da opinião pública e a utilização de meios de influência como a propaganda, que subvertem a discussão pública inteligente” (p. 185).
Herbert Blumer trabalhou em Chicago antes de se transferir para a Califórnia, onde foi professor e responsável pelo departamento de sociologia na universidade de Berkeley. Foi também editor e presidente da American Sociological Association, nas décadas de 40 e 50 do século passado.
Leitura: Herbert Blumer (1978). “A massa, o público e a opinião pública”. In Gabriel Cohn (org.) Comunicação e indústria cultural. S. Paulo: Companhia Editora Nacional (texto de Blumer original de 1946) [o exemplar do livro de Cohn foi-me oferecido por Jorge Guimarães Silva, do blogue A Rádio em Portugal; a minha gratidão]
NOTAS SOBRE OS CONCEITOS DE SISTEMA E DE INTERACÇÃO
Sistema
A partir do séc. XVIII, dava-se o reconhecimento de sistemas na natureza: combinações químicas; funções e relações das partes de um corpo vivo. Já no séc. XX, Bertallanfy considerava que a principal tarefa da biologia devia ser a descoberta dos sistemas biológicos a todos os níveis de organização. Este biólogo ligou o seu nome ao conceito de sistema aberto. Segundo a propriedade de equifinalidade, “um mesmo estado estacionário pode ser atingido a partir de estados iniciais diferentes e de maneiras diferentes e pode ser restabelecido espontaneamente após uma perturbação” (Einaudi, 1993: 193).
Interacção
O conceito de interacção aparece na ciência contemporânea, incluindo a física teórica e o estudo dos sistemas sociais. A interacção liga coerência, sistema e unidade. Graças à interacção, os indivíduos e os grupos associam-se. A interacção desempenha um papel essencial na termodinâmica, com entropia e reversibilidade. Na interacção global, coexistem as estruturas dissipadoras: controlo/retroacção, organização, ordem/desordem. Para a cibernética, um sistema organizado e de controlo pela retroacção estabelece um paralelo entre o comportamento da máquina e do organismo vivo. Este surge visualizado como autómato capaz de executar um programa que estabiliza as suas funções face às variações ambientais.
Leitura: Enciclopédia Einaudi (1993). Sistema. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1993, vol. 26
Sistema
A partir do séc. XVIII, dava-se o reconhecimento de sistemas na natureza: combinações químicas; funções e relações das partes de um corpo vivo. Já no séc. XX, Bertallanfy considerava que a principal tarefa da biologia devia ser a descoberta dos sistemas biológicos a todos os níveis de organização. Este biólogo ligou o seu nome ao conceito de sistema aberto. Segundo a propriedade de equifinalidade, “um mesmo estado estacionário pode ser atingido a partir de estados iniciais diferentes e de maneiras diferentes e pode ser restabelecido espontaneamente após uma perturbação” (Einaudi, 1993: 193).
Interacção
O conceito de interacção aparece na ciência contemporânea, incluindo a física teórica e o estudo dos sistemas sociais. A interacção liga coerência, sistema e unidade. Graças à interacção, os indivíduos e os grupos associam-se. A interacção desempenha um papel essencial na termodinâmica, com entropia e reversibilidade. Na interacção global, coexistem as estruturas dissipadoras: controlo/retroacção, organização, ordem/desordem. Para a cibernética, um sistema organizado e de controlo pela retroacção estabelece um paralelo entre o comportamento da máquina e do organismo vivo. Este surge visualizado como autómato capaz de executar um programa que estabiliza as suas funções face às variações ambientais.
Leitura: Enciclopédia Einaudi (1993). Sistema. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1993, vol. 26
terça-feira, 30 de agosto de 2005
EXPRESSO
Há três ou quatro anos atrás, eu tinha a vontade de escrever uma história do semanário Expresso, dada a importância do jornal na vida democrática do país. Ainda esbocei as linhas gerais dessa intenção que incluíam o seguinte: 1) génese do jornal (1973), revolução (1974), esquerdização do regime e nacionalizações da imprensa (1975), "normalização", censura versus liberdade de imprensa, 2) a revista e o jornal broadsheet, dois jornais num só (1980), 2º caderno, cartaz, "Vidas" (agora "Única"), guia da semana, 3) época de apogeu dos semanários (O Jornal, O Tempo, O Semanário) e consolidação do Expresso (anos 80), 4) institucionalização do jornal nos seus 25 anos (1998), sinergias do grupo de informação - jornais e televisão (SIC).
Como metodologias de investigação prevista, incluía pesquisa documental em arquivos (Expresso, Mário Soares, Torre do Tombo), entrevistas com directores, editores e jornalistas, e análise de conteúdo (à primeira e última página do primeiro caderno, 1300 edições, e à revista). Como obras teóricas de referência seguiria Michael Schudson (1978, Discovering the news - a social history of American newspapers) e Jeremy Tunstall (ed., 2001, Media occupations and professions - a reader).
O livro do arqº José António Saraiva (2003, Confissões de um director de jornal) e outras contingências da vida levaram-me a esquecer totalmente essa ideia. O livro do ainda director do Expresso contém muita informação útil, embora ele deva ser lido com atenção como qualquer outro livro de memórias: destacam-se uns acontecimentos, ignoram-se outros. E qual o equilíbrio entre isto? E, por outro lado, um livro de memórias é sempre a justificação de medidas tomadas e de ajustes de contas, como aparece com alguma frequência no livro.
Agora, recuperei alguns recortes de imprensa sobre o tema para os voltar a arrumar. Deles, menciono uma peça escrita por Sofia Rodrigues (Público, 6 de Janeiro de 2003), ocasião dos 30 anos do semanário. No primeiro número do Expresso, a 6 de Janeiro de 1973, a manchete era "63 por cento dos portugueses nunca votaram". O jornal custava cinco escudos (€0,025; a inflacção que houve depois!) e os princípios evocados no estatuto editorial pelo seu director, Francisco Pinto Balsemão, eram: seriedade, rigor e independência. De cariz liberal, prossegue a mesma notícia, o Expresso inspirava-se nos sundays ingleses.
Dos outros dois recortes que guardo numa capa de plástico, o primeiro é do próprio director José António Saraiva, por ocasião do aniversário do jornal há dois anos e meio (Expresso, 11 de Janeiro de 2003). Escreve ele: "A minha primeira impressão, quando aqui cheguei, foi de que tinha entrado num manicómio. A transição do «atelier» [ele é arquitecto] - onde funcionava como eremita - para a redacção do Expresso foi um choque brutal. O ambiente de um jornal, com a febre das notícias e a competição interna, leva as pessoas a revelarem mais abertamente a sua natureza". Nessa coluna, "Política à portuguesa", que ele mantém desde há mais de 25 anos (ou desde o começo do jornal, não investiguei), ele apura o modo como começou a exercer o seu ofício de director: "O ambiente era estimulante mas simultaneamente duro e a questão do poder não estava resolvida. Havia regularmente plenários de redacção onde se faziam ajustes de contas e se exigiam cabeças". O arquitecto tratou da "normalização", reorganizando o primeiro caderno, e via Vicente Jorge Silva a lançar a "Revista", com "novos temas e inquietações".
É exactamente uma entrevista com Vicente Jorge Silva que termino esta ronda pelos meu clipping [entrevista publicada no Expresso em 10 de Fevereiro de 2001]. Da revista recorda ele: "A «Revista» do Expresso foi muito importante para mim nessa altura. Foi um trabalho feito com o António Mega Ferreira, que é uma pessoa muito estimulante, muito criativa. O conceito de «Revista» era inovador para a altura, não se baseava em modelo nenhum existente". Antes de ingressar no Expresso, Vicente Jorge Silva estivera no Comércio do Funchal, o jornal cor-de-rosa antes de 1974, nitidamente contra o regime de então. Depois do Expresso, seria um dos fundadores do Público e seu primeiro director, para quem o jornal "abriu uma janela, deixou entrar ar fresco na imprensa portuguesa".
Ora aqui está um bom tema de investigação: como evoluiram os jornais entre 1970/1974 e os finais do século? Que mercado, que problemáticas, que profissionais, que transformações tecnológicas? Qual o peso do Expresso em todas essas mudanças? Como conseguiu resistir aos tempos e tornar-se um jornal imprescindível, mesmo que digamos "vou deixar de o ler, pois só traz balões de ensaio" [notícias verdadeiras com tópicos inverosímeis destinados a apenas um determinado grupo de pessoas, para exercício de pressão]? O café da manhã de sábado sem ser acompanhado pela leitura do Expresso é amargo, é queimado, é aguado, não presta [aliás, um bom café de máquina é designado habitualmente por expresso, embora não me parece haver razão para sobreposição]!
Há três ou quatro anos atrás, eu tinha a vontade de escrever uma história do semanário Expresso, dada a importância do jornal na vida democrática do país. Ainda esbocei as linhas gerais dessa intenção que incluíam o seguinte: 1) génese do jornal (1973), revolução (1974), esquerdização do regime e nacionalizações da imprensa (1975), "normalização", censura versus liberdade de imprensa, 2) a revista e o jornal broadsheet, dois jornais num só (1980), 2º caderno, cartaz, "Vidas" (agora "Única"), guia da semana, 3) época de apogeu dos semanários (O Jornal, O Tempo, O Semanário) e consolidação do Expresso (anos 80), 4) institucionalização do jornal nos seus 25 anos (1998), sinergias do grupo de informação - jornais e televisão (SIC).
Como metodologias de investigação prevista, incluía pesquisa documental em arquivos (Expresso, Mário Soares, Torre do Tombo), entrevistas com directores, editores e jornalistas, e análise de conteúdo (à primeira e última página do primeiro caderno, 1300 edições, e à revista). Como obras teóricas de referência seguiria Michael Schudson (1978, Discovering the news - a social history of American newspapers) e Jeremy Tunstall (ed., 2001, Media occupations and professions - a reader).
O livro do arqº José António Saraiva (2003, Confissões de um director de jornal) e outras contingências da vida levaram-me a esquecer totalmente essa ideia. O livro do ainda director do Expresso contém muita informação útil, embora ele deva ser lido com atenção como qualquer outro livro de memórias: destacam-se uns acontecimentos, ignoram-se outros. E qual o equilíbrio entre isto? E, por outro lado, um livro de memórias é sempre a justificação de medidas tomadas e de ajustes de contas, como aparece com alguma frequência no livro.
Agora, recuperei alguns recortes de imprensa sobre o tema para os voltar a arrumar. Deles, menciono uma peça escrita por Sofia Rodrigues (Público, 6 de Janeiro de 2003), ocasião dos 30 anos do semanário. No primeiro número do Expresso, a 6 de Janeiro de 1973, a manchete era "63 por cento dos portugueses nunca votaram". O jornal custava cinco escudos (€0,025; a inflacção que houve depois!) e os princípios evocados no estatuto editorial pelo seu director, Francisco Pinto Balsemão, eram: seriedade, rigor e independência. De cariz liberal, prossegue a mesma notícia, o Expresso inspirava-se nos sundays ingleses.
Dos outros dois recortes que guardo numa capa de plástico, o primeiro é do próprio director José António Saraiva, por ocasião do aniversário do jornal há dois anos e meio (Expresso, 11 de Janeiro de 2003). Escreve ele: "A minha primeira impressão, quando aqui cheguei, foi de que tinha entrado num manicómio. A transição do «atelier» [ele é arquitecto] - onde funcionava como eremita - para a redacção do Expresso foi um choque brutal. O ambiente de um jornal, com a febre das notícias e a competição interna, leva as pessoas a revelarem mais abertamente a sua natureza". Nessa coluna, "Política à portuguesa", que ele mantém desde há mais de 25 anos (ou desde o começo do jornal, não investiguei), ele apura o modo como começou a exercer o seu ofício de director: "O ambiente era estimulante mas simultaneamente duro e a questão do poder não estava resolvida. Havia regularmente plenários de redacção onde se faziam ajustes de contas e se exigiam cabeças". O arquitecto tratou da "normalização", reorganizando o primeiro caderno, e via Vicente Jorge Silva a lançar a "Revista", com "novos temas e inquietações".
É exactamente uma entrevista com Vicente Jorge Silva que termino esta ronda pelos meu clipping [entrevista publicada no Expresso em 10 de Fevereiro de 2001]. Da revista recorda ele: "A «Revista» do Expresso foi muito importante para mim nessa altura. Foi um trabalho feito com o António Mega Ferreira, que é uma pessoa muito estimulante, muito criativa. O conceito de «Revista» era inovador para a altura, não se baseava em modelo nenhum existente". Antes de ingressar no Expresso, Vicente Jorge Silva estivera no Comércio do Funchal, o jornal cor-de-rosa antes de 1974, nitidamente contra o regime de então. Depois do Expresso, seria um dos fundadores do Público e seu primeiro director, para quem o jornal "abriu uma janela, deixou entrar ar fresco na imprensa portuguesa".
Ora aqui está um bom tema de investigação: como evoluiram os jornais entre 1970/1974 e os finais do século? Que mercado, que problemáticas, que profissionais, que transformações tecnológicas? Qual o peso do Expresso em todas essas mudanças? Como conseguiu resistir aos tempos e tornar-se um jornal imprescindível, mesmo que digamos "vou deixar de o ler, pois só traz balões de ensaio" [notícias verdadeiras com tópicos inverosímeis destinados a apenas um determinado grupo de pessoas, para exercício de pressão]? O café da manhã de sábado sem ser acompanhado pela leitura do Expresso é amargo, é queimado, é aguado, não presta [aliás, um bom café de máquina é designado habitualmente por expresso, embora não me parece haver razão para sobreposição]!
segunda-feira, 29 de agosto de 2005
MAIS SOBRE MORANGOS COM AÇUCAR
Ler, a propósito da série da TVI, a mensagem contida no blogue controversa maresia , bem como os 24 comentários (alguns removidos por autores e pela administradora do blogue).
Comentário escrito à posteriori: quando coloquei a mensagem acima, foi no sentido de chamar a atenção para a diferença de perspectivas quanto a um objecto, o que é salutar. Agradeço bastante à bloguista de controversa maresia o comentário que pôs nesta mensagem (e o facto de ter apagado o comentário ofensivo a meu respeito, dado ser um tipo de coisas não controlável e muitas vezes a coberto do anonimato).
Ler, a propósito da série da TVI, a mensagem contida no blogue controversa maresia , bem como os 24 comentários (alguns removidos por autores e pela administradora do blogue).
Comentário escrito à posteriori: quando coloquei a mensagem acima, foi no sentido de chamar a atenção para a diferença de perspectivas quanto a um objecto, o que é salutar. Agradeço bastante à bloguista de controversa maresia o comentário que pôs nesta mensagem (e o facto de ter apagado o comentário ofensivo a meu respeito, dado ser um tipo de coisas não controlável e muitas vezes a coberto do anonimato).
UM ARTIGO QUE GOSTEI DE LER
O de Mário Pinto, no Público de hoje, intitulado A importância das doutrinas sociais (p. 5). Isto a propósito de um livro que aquele professor universitário anda a ler, de Stefan Swiezawski, Redescobrir Tomás de Aquino (versão francesa). Escreve Mário Pinto: "talvez valha a pena lembrar que dois tópicos genéticos da filosofia são essenciais; (1) que a filosofia se abre a todo o ser (o natural e o sobrenatural), não excluindo nada do seu objecto; e (2) que a filosofia é, acima de tudo, amizade do saber - isto é: sobre-ordenada, e não subordinada".
O de Mário Pinto, no Público de hoje, intitulado A importância das doutrinas sociais (p. 5). Isto a propósito de um livro que aquele professor universitário anda a ler, de Stefan Swiezawski, Redescobrir Tomás de Aquino (versão francesa). Escreve Mário Pinto: "talvez valha a pena lembrar que dois tópicos genéticos da filosofia são essenciais; (1) que a filosofia se abre a todo o ser (o natural e o sobrenatural), não excluindo nada do seu objecto; e (2) que a filosofia é, acima de tudo, amizade do saber - isto é: sobre-ordenada, e não subordinada".
BLOGREPORTERS
O projecto BlogReporters, que "privilegia a participação de várias pessoas, num mesmo espaço de publicação de textos jornalísticos", conforme publicitei no último dia 20, não irá arrancar no começo de Setembro mas em 1 de Outubro. O seu responsável, Hugo Neves da Silva, pretende "concluir alguns pormenores em atraso e garantir que este projecto possa alcançar o sucesso pretendido".
Desejo, de novo, boa sorte ao projecto.
O projecto BlogReporters, que "privilegia a participação de várias pessoas, num mesmo espaço de publicação de textos jornalísticos", conforme publicitei no último dia 20, não irá arrancar no começo de Setembro mas em 1 de Outubro. O seu responsável, Hugo Neves da Silva, pretende "concluir alguns pormenores em atraso e garantir que este projecto possa alcançar o sucesso pretendido".
Desejo, de novo, boa sorte ao projecto.
CONSUMOS DE TEATRO, MÚSICA E INDÚSTRIAS CULTURAIS
A análise de Jordi López e Ercília García (2002) evidencia, sobre o consumo estratificado das artes cénicas, uma homologia entre a assistência aos eventos culturais estudados e a classe social dos consumidores (numa linha devedora de Pierre Bourdieu). Os autores estudaram: 1) os estilos de vida dos assistentes espanhóis face às artes cénicas e musicais, baseando-se no seu comportamento, e 2) os valores que esperam obter no consumo, num reforço da sua posição na estrutura social.
López e García distinguem: 1) consumidores com um padrão de consumo esporádico e uma probabilidade muito reduzida de participar inclusive nos eventos culturais mais populares, sejam estes a leitura de diários locais ou revistas populares, feiras populares ou festivais, concertos de música pop, folk ou flamenca; 2) consumidores que mostram um estilo de vida popular tanto pelo que fazem em hábitos de leitura (jornais locais, revistas familiares, ou livros populares), consumo das artes (festivais de teatro e música, monumentos artísticos e feiras de artesãos), como da assistência às artes cénicas e musicais (teatro, concertos de música pop, flamenca, folk e jazz); 3) consumidores com um padrão de consumo "culto", lendo livros com um certo valor literário e revistas de opinião, assistindo aos museus com regularidade, mas também indo às galerias de arte, monumentos artísticos e feiras de livros e às artes cénicas e musicais "cultas", ópera, zarzuela, música clássica e ballet/dança; 4) consumidores insaciáveis que lêem de tudo (livros, revistas, jornais), consomem todo o tipo de artes com profusão e assistem às artes cénicas e musicais.
Os autores etiquetaram os quatro grupos como consumidores: 1) esporádicos, 2) populares, 3) snobs, e 4) omnívoros. A elevada dimensão da classe esporádica de consumidores (2/3 da população) transforma-a no segmento mais importante para alguns dos geradores dos produtos cultos e populares. Os consumidores populares representam entre 12 e 20%. Os consumidores snobs e omnívoros não atingem, em média, até 10%.
Há dois eixos ou factores principais: 1) consumo geracional, e 2) conteúdo cultural. O consumo geracional indica-nos que os jovens com o seu consumo revelam uma preferência pelas manifestações culturais com valores modernos que lhes permite diferenciar-se dos mais velhos, caso da assistência aos concertos de música pop, ao passo que as gerações de idade mais elevada aderem a valores mais tradicionais, provavelmente relacionados com os valores da sua juventude, uma predisposição para a nostalgia, como a ópera, a zarzuela e as manifestações folclóricas.
O eixo do conteúdo cultural diz-nos que existe uma diferenciação geracional na assistência às artes cénicas e musicais. Dentro de uma mesma geração também existem diferenças quanto a preferências: as classes sociais privilegiadas são as que elegem os produtos mais cultos (ópera, ballet/dança, música clássica), enquanto as classes baixas e médias consomem as mais populares (flamenco, folclore e teatro).
Leitura: Jordi López Sintas e Ercília García Álvarez (2002). El consumo de las artes escénicas y musicadas en España. Madrid: Fundación Autor
A análise de Jordi López e Ercília García (2002) evidencia, sobre o consumo estratificado das artes cénicas, uma homologia entre a assistência aos eventos culturais estudados e a classe social dos consumidores (numa linha devedora de Pierre Bourdieu). Os autores estudaram: 1) os estilos de vida dos assistentes espanhóis face às artes cénicas e musicais, baseando-se no seu comportamento, e 2) os valores que esperam obter no consumo, num reforço da sua posição na estrutura social.
López e García distinguem: 1) consumidores com um padrão de consumo esporádico e uma probabilidade muito reduzida de participar inclusive nos eventos culturais mais populares, sejam estes a leitura de diários locais ou revistas populares, feiras populares ou festivais, concertos de música pop, folk ou flamenca; 2) consumidores que mostram um estilo de vida popular tanto pelo que fazem em hábitos de leitura (jornais locais, revistas familiares, ou livros populares), consumo das artes (festivais de teatro e música, monumentos artísticos e feiras de artesãos), como da assistência às artes cénicas e musicais (teatro, concertos de música pop, flamenca, folk e jazz); 3) consumidores com um padrão de consumo "culto", lendo livros com um certo valor literário e revistas de opinião, assistindo aos museus com regularidade, mas também indo às galerias de arte, monumentos artísticos e feiras de livros e às artes cénicas e musicais "cultas", ópera, zarzuela, música clássica e ballet/dança; 4) consumidores insaciáveis que lêem de tudo (livros, revistas, jornais), consomem todo o tipo de artes com profusão e assistem às artes cénicas e musicais.
Os autores etiquetaram os quatro grupos como consumidores: 1) esporádicos, 2) populares, 3) snobs, e 4) omnívoros. A elevada dimensão da classe esporádica de consumidores (2/3 da população) transforma-a no segmento mais importante para alguns dos geradores dos produtos cultos e populares. Os consumidores populares representam entre 12 e 20%. Os consumidores snobs e omnívoros não atingem, em média, até 10%.
Há dois eixos ou factores principais: 1) consumo geracional, e 2) conteúdo cultural. O consumo geracional indica-nos que os jovens com o seu consumo revelam uma preferência pelas manifestações culturais com valores modernos que lhes permite diferenciar-se dos mais velhos, caso da assistência aos concertos de música pop, ao passo que as gerações de idade mais elevada aderem a valores mais tradicionais, provavelmente relacionados com os valores da sua juventude, uma predisposição para a nostalgia, como a ópera, a zarzuela e as manifestações folclóricas.
O eixo do conteúdo cultural diz-nos que existe uma diferenciação geracional na assistência às artes cénicas e musicais. Dentro de uma mesma geração também existem diferenças quanto a preferências: as classes sociais privilegiadas são as que elegem os produtos mais cultos (ópera, ballet/dança, música clássica), enquanto as classes baixas e médias consomem as mais populares (flamenco, folclore e teatro).
Leitura: Jordi López Sintas e Ercília García Álvarez (2002). El consumo de las artes escénicas y musicadas en España. Madrid: Fundación Autor
ECRÃS NOS CENTROS COMERCIAIS
Escreveu ontem Helder Robalo no seu blogue Pensamentos: "Sou frequentador algo assíduo dos [...] shoppings. Não pela grande oferta de lojas, mas, essencialmente, porque acaba por ser aquele sítio onde posso passar alguns momentos agradáveis a conversar enquanto tenho oportunidade de degustar uma refeição. E quando a companhia prima pela ausência, gosto de ir dando uma espreitadela nos ecrãs de televisão que se encontram espalhados pelas áreas de restauração de quase todos os shoppings.
"Mas há um que me anda a tirar do sério. Há quase dois meses que ando a ver as mesmas imagens num dos mais recentes shoppings cá da zona. A suposta agenda cultural apresentada é a mesma pelo menos há mês e meio. Se calhar para alertar os mais desatentos para o excelente espectáculo que perderam ou para o desfile de moda tão interessante que não viram. Aliás, deve ser também por isso que de cinco em cinco minutos (pronto, estou a exagerar um bocado, se calhar é só de meia em meia hora, mas não mais do que isso) sou invadido pelas imagens da festa de apresentação de uma equipa de futebol ali dos lados do centro do País. Se as imagens tivessem legendas (que som é algo que ali é impossível ouvir), garanto-vos que já conhecia de cor e salteado os nomes dos jogadores de todo o plantel...
"Por isso, senhores directores do shopping, se calhar estava na hora de começar a mudar a programação. Ainda tenho a esperança de lá mais para a frente, talvez em Outubro, ver o resumo alargado do jogo da semana passada. Já que não tive hipóteses de o ver na televisão. Era simpático".
Partilho totalmente com o que o blogueiro diz!
Escreveu ontem Helder Robalo no seu blogue Pensamentos: "Sou frequentador algo assíduo dos [...] shoppings. Não pela grande oferta de lojas, mas, essencialmente, porque acaba por ser aquele sítio onde posso passar alguns momentos agradáveis a conversar enquanto tenho oportunidade de degustar uma refeição. E quando a companhia prima pela ausência, gosto de ir dando uma espreitadela nos ecrãs de televisão que se encontram espalhados pelas áreas de restauração de quase todos os shoppings.
"Mas há um que me anda a tirar do sério. Há quase dois meses que ando a ver as mesmas imagens num dos mais recentes shoppings cá da zona. A suposta agenda cultural apresentada é a mesma pelo menos há mês e meio. Se calhar para alertar os mais desatentos para o excelente espectáculo que perderam ou para o desfile de moda tão interessante que não viram. Aliás, deve ser também por isso que de cinco em cinco minutos (pronto, estou a exagerar um bocado, se calhar é só de meia em meia hora, mas não mais do que isso) sou invadido pelas imagens da festa de apresentação de uma equipa de futebol ali dos lados do centro do País. Se as imagens tivessem legendas (que som é algo que ali é impossível ouvir), garanto-vos que já conhecia de cor e salteado os nomes dos jogadores de todo o plantel...
"Por isso, senhores directores do shopping, se calhar estava na hora de começar a mudar a programação. Ainda tenho a esperança de lá mais para a frente, talvez em Outubro, ver o resumo alargado do jogo da semana passada. Já que não tive hipóteses de o ver na televisão. Era simpático".
Partilho totalmente com o que o blogueiro diz!
domingo, 28 de agosto de 2005
O HOMEM SEM PIANO
Nuno Pacheco dedica o editorial do Público de hoje à história da semana, a descoberta da identidade do homem do piano, que encantou a comunicação social há uns meses atrás e, por via disso, os leitores e os telespectadores. Afinal, o homem não tinha nada de secreto, como se viu após ele quebrar o seu prolongado silêncio. Fico-me pelo começo da peça de Pacheco (belamente intitulada "Drama, plano e fuga", num apelo à cultura da música clássica), pois não tenho permissão de a copiar da internet, e passar todo o texto à mão para o computador custa tempo e esforço: "Foi um idílio breve mas intenso. Durante quatro meses, o mundo (ou a parte dele que com tais coisas se importa) seguiu com um misto de avidez e deslumbramento o caso do chamado Homem do Piano, um jovem desconhecido que apareceu numa praia britânica, com as roupas encharcadas e sem pronunciar uma só palavra. Quando lhe estenderam um papel, desenhou um enorme piano".
O resto já se sabe: o homem seria virtuoso, tocando Bach, Lizst e Chopin - sigo a lista do editorialista, que escreve com uma prodigiosa e invejável memória cinematográfica, à procura de encaixar a história do homem do piano em próximo êxito do cinema. Porém, agora, desfeita a ilusão, o homem só martelaria uma tecla. Clamam "fraude". Incrível: parece um juízo sobre um treinador de futebol: hoje é bestial se ganha, amanhã é besta se perde!
Nuno Pacheco esqueceu-se de um pormenor: não definiu o papel dos jornalistas na história. E parece-me que eles têm um papel, pois aceitaram a definição dada pela fonte do hospital psiquiátrico inglês onde Adreas Grassl, o jovem de 20 anos alemão, permaneceu durante estes meses. Na quarta-feira passada, Filipe Morais, do Diário de Notícias, fora mais cauteloso que Nuno Pacheco (é certo que um escreveu um editorial e outro uma reportagem). Morais contaria, entre outros, com o comentário de Manuel Pinto (Un. Minho), que respondeu ser estranho que os media alemães não tenham descoberto o caso, mas "à partida, não parece um caso paradigmático de incompetência da imprensa e os jornalistas têm de confiar nos especialistas".
Para mim, a história é deliciosa, merece tornar-se argumento de cinema, pois a efabulação toda criada em torno dele é uma boa narrativa. Repare-se que Andreas apenas se mostrou em silêncio, desenhou um piano e tocou. É, afinal, a história de Lincoln Seis Eco (interpretado por Ewan McGregor) no filme A ilha (2005, realizado por Michael Bay), que desenha um barco e, a partir daí, se desenrola a trama da "ilha", onde todos ambicionam chegar para iludir a realidade mecânica e desumana em que viviam. No caso da história do agora identificado alemão, o que surpreende é a doçura e entusiasmo com que os media a receberam, de uma ingenuidade tamanha. Prova que os jornalistas são conduzidos frequentemente pelas fontes, com estas a definirem territórios de comunicação para aqueles [espero recuperar da memória um pequeno texto que escrevi há algum tempo sobre a relação entre fontes e jornalistas]. Resta a ideia de que Andreas era, no fim de contas, um homem sem piano.
Nuno Pacheco dedica o editorial do Público de hoje à história da semana, a descoberta da identidade do homem do piano, que encantou a comunicação social há uns meses atrás e, por via disso, os leitores e os telespectadores. Afinal, o homem não tinha nada de secreto, como se viu após ele quebrar o seu prolongado silêncio. Fico-me pelo começo da peça de Pacheco (belamente intitulada "Drama, plano e fuga", num apelo à cultura da música clássica), pois não tenho permissão de a copiar da internet, e passar todo o texto à mão para o computador custa tempo e esforço: "Foi um idílio breve mas intenso. Durante quatro meses, o mundo (ou a parte dele que com tais coisas se importa) seguiu com um misto de avidez e deslumbramento o caso do chamado Homem do Piano, um jovem desconhecido que apareceu numa praia britânica, com as roupas encharcadas e sem pronunciar uma só palavra. Quando lhe estenderam um papel, desenhou um enorme piano".
O resto já se sabe: o homem seria virtuoso, tocando Bach, Lizst e Chopin - sigo a lista do editorialista, que escreve com uma prodigiosa e invejável memória cinematográfica, à procura de encaixar a história do homem do piano em próximo êxito do cinema. Porém, agora, desfeita a ilusão, o homem só martelaria uma tecla. Clamam "fraude". Incrível: parece um juízo sobre um treinador de futebol: hoje é bestial se ganha, amanhã é besta se perde!
Nuno Pacheco esqueceu-se de um pormenor: não definiu o papel dos jornalistas na história. E parece-me que eles têm um papel, pois aceitaram a definição dada pela fonte do hospital psiquiátrico inglês onde Adreas Grassl, o jovem de 20 anos alemão, permaneceu durante estes meses. Na quarta-feira passada, Filipe Morais, do Diário de Notícias, fora mais cauteloso que Nuno Pacheco (é certo que um escreveu um editorial e outro uma reportagem). Morais contaria, entre outros, com o comentário de Manuel Pinto (Un. Minho), que respondeu ser estranho que os media alemães não tenham descoberto o caso, mas "à partida, não parece um caso paradigmático de incompetência da imprensa e os jornalistas têm de confiar nos especialistas".
Para mim, a história é deliciosa, merece tornar-se argumento de cinema, pois a efabulação toda criada em torno dele é uma boa narrativa. Repare-se que Andreas apenas se mostrou em silêncio, desenhou um piano e tocou. É, afinal, a história de Lincoln Seis Eco (interpretado por Ewan McGregor) no filme A ilha (2005, realizado por Michael Bay), que desenha um barco e, a partir daí, se desenrola a trama da "ilha", onde todos ambicionam chegar para iludir a realidade mecânica e desumana em que viviam. No caso da história do agora identificado alemão, o que surpreende é a doçura e entusiasmo com que os media a receberam, de uma ingenuidade tamanha. Prova que os jornalistas são conduzidos frequentemente pelas fontes, com estas a definirem territórios de comunicação para aqueles [espero recuperar da memória um pequeno texto que escrevi há algum tempo sobre a relação entre fontes e jornalistas]. Resta a ideia de que Andreas era, no fim de contas, um homem sem piano.
RÁDIOS DAS COMUNIDADES EM FRANÇA
Diz o da esquerda: "Fiz uma volta pela Europa das rádios e parece-me que há mesmo uma excepção cultural francesa". Pergunta o amigo: "Vais-me dizer que somos os únicos a ter uma paisagem cultural muito variada"? Responde o primeiro: "Não... Somos os únicos a ter o Johnny Halliday" (Le Monde de hoje, caderno "Radio-Télévision", p. 4) [elementos para melhor percepção do conteúdo: 1) excepção cultural é a recusa francesa de liberalização ou abertura total dos mercados dos serviços audiovisuais (cinema, rádio, televisão) ou dos serviços relacionados com bibliotecas, arquivos e museus, temendo em especial a força do mercado norte-americano; 2) Johnny Halliday é um cantor pop francês que vem dos anos 1960].
O cartoon vem a propósito de uma série de artigos que o Le Monde tem publicado sobre as rádios de comunidades estrangeiras instaladas em França. O destaque do texto de hoje é sobre as rádios das comunidades europeias. Diz o artigo escrito por Catherine Simon: "Curiosamente, e ao contrário das rádios das comunidades magrebinas e judias, há poucas rádios destinadas às populações vindas das migrações intereuropeias. Enquanto os magrebinos têm três redes (Radio Orient, Beur FM e Radio Soleil) e dispõem [...] de uma dezena de frequências em Paris e na província, as rádios italianas e portuguesas contam-se pelos dedos das mãos". Os portugueses podem captar estações na sua língua em Paris (Rádio Alfa), Clermont-Ferrand (Rádio Altitude) e uma antena em Tours.
Diz o da esquerda: "Fiz uma volta pela Europa das rádios e parece-me que há mesmo uma excepção cultural francesa". Pergunta o amigo: "Vais-me dizer que somos os únicos a ter uma paisagem cultural muito variada"? Responde o primeiro: "Não... Somos os únicos a ter o Johnny Halliday" (Le Monde de hoje, caderno "Radio-Télévision", p. 4) [elementos para melhor percepção do conteúdo: 1) excepção cultural é a recusa francesa de liberalização ou abertura total dos mercados dos serviços audiovisuais (cinema, rádio, televisão) ou dos serviços relacionados com bibliotecas, arquivos e museus, temendo em especial a força do mercado norte-americano; 2) Johnny Halliday é um cantor pop francês que vem dos anos 1960].
O cartoon vem a propósito de uma série de artigos que o Le Monde tem publicado sobre as rádios de comunidades estrangeiras instaladas em França. O destaque do texto de hoje é sobre as rádios das comunidades europeias. Diz o artigo escrito por Catherine Simon: "Curiosamente, e ao contrário das rádios das comunidades magrebinas e judias, há poucas rádios destinadas às populações vindas das migrações intereuropeias. Enquanto os magrebinos têm três redes (Radio Orient, Beur FM e Radio Soleil) e dispõem [...] de uma dezena de frequências em Paris e na província, as rádios italianas e portuguesas contam-se pelos dedos das mãos". Os portugueses podem captar estações na sua língua em Paris (Rádio Alfa), Clermont-Ferrand (Rádio Altitude) e uma antena em Tours.
HISTÓRIA DA GUERRA CIVIL DE ESPANHA PELO EL MUNDO
A Espanha esteve em guerra civil de 1936 a 1939, período terrível como em qualquer outra guerra. As sequelas ficaram de um conflito que se apresta a comemorar 70 anos - ainda hoje é visível, para quem visite o Vale dos Caídos, perto de Madrid, ou veja placas nas igrejas do país ou memoriais (esculturas, placas). O jornal madrileno El Mundo, para melhor compreensão do conflito, irá editar uma história em 36 volumes, a partir do próximo domingo.
Lê-se na edição de hoje (p. 8): "Ao contrário da maioria das outras histórias da Guerra Civil escritas até ao presente, esta colecção mantém-se à margem dos grupos, inclinações políticas ou análises ideológicas. Na medida do possível, quis-se reflectir a versão dos factos de cada uma das partes que se opuseram e permitir que cada uma das facções desse a sua própria interpretação". Tarefa difícil, pois, mas que se espera que resulte em trabalho intelectualmente honesto. Muitas fotografias inéditas e outro material gráfico e uso da técnica de infografias (croquis, mapas) irão, certamente, favorecer a leitura do material escrito.
A Espanha esteve em guerra civil de 1936 a 1939, período terrível como em qualquer outra guerra. As sequelas ficaram de um conflito que se apresta a comemorar 70 anos - ainda hoje é visível, para quem visite o Vale dos Caídos, perto de Madrid, ou veja placas nas igrejas do país ou memoriais (esculturas, placas). O jornal madrileno El Mundo, para melhor compreensão do conflito, irá editar uma história em 36 volumes, a partir do próximo domingo.
Lê-se na edição de hoje (p. 8): "Ao contrário da maioria das outras histórias da Guerra Civil escritas até ao presente, esta colecção mantém-se à margem dos grupos, inclinações políticas ou análises ideológicas. Na medida do possível, quis-se reflectir a versão dos factos de cada uma das partes que se opuseram e permitir que cada uma das facções desse a sua própria interpretação". Tarefa difícil, pois, mas que se espera que resulte em trabalho intelectualmente honesto. Muitas fotografias inéditas e outro material gráfico e uso da técnica de infografias (croquis, mapas) irão, certamente, favorecer a leitura do material escrito.
PLAYSTATION PORTÁTIL
O lançamento da Playstation portátil é já na próxima semana. Com certeza que vai ser a compra do Natal para crianças, adolescentes e mesmo adultos, mesmo com a crise económica e o custo da máquina em si (à volta de €300). Jogos e vídeos animam a vontade da compra, como se pode ver, por exemplo, em PlayStation.com-PSP.
Recordo alguns dados publicados no recente Anuário de Comunicação, do Obercom, sobre esta indústria cultural: em 2003, na Europa, havia 11,5 milhões de consolas, o mais alargado o da PlayStation2, da Sony, que atingiu vendas, no mesmo ano, no valor de €1,4 mil milhões. Nas consolas portáteis, a mais difundida era a Nintendo Game Boy, com mais de 38 milhões de máquinas em toda a Europa, que vendeu em 2003 perto de €379 milhões. Já no tocante a software de jogos, e para a Europa, só para a PlayStation2 a Sony apurou €2,2 mil milhões e a XBox da Microsoft €465 milhões. Em Portugal e em 2004, a Playstation distribuíu 235 títulos.
O lançamento da Playstation portátil é já na próxima semana. Com certeza que vai ser a compra do Natal para crianças, adolescentes e mesmo adultos, mesmo com a crise económica e o custo da máquina em si (à volta de €300). Jogos e vídeos animam a vontade da compra, como se pode ver, por exemplo, em PlayStation.com-PSP.
Recordo alguns dados publicados no recente Anuário de Comunicação, do Obercom, sobre esta indústria cultural: em 2003, na Europa, havia 11,5 milhões de consolas, o mais alargado o da PlayStation2, da Sony, que atingiu vendas, no mesmo ano, no valor de €1,4 mil milhões. Nas consolas portáteis, a mais difundida era a Nintendo Game Boy, com mais de 38 milhões de máquinas em toda a Europa, que vendeu em 2003 perto de €379 milhões. Já no tocante a software de jogos, e para a Europa, só para a PlayStation2 a Sony apurou €2,2 mil milhões e a XBox da Microsoft €465 milhões. Em Portugal e em 2004, a Playstation distribuíu 235 títulos.
SUPER SAGRES
O anúncio da cerveja diz: "Líder de Viana a Sagres". À primeira vista, trata-se de um anúncio da Sagres, tal o destaque. Depois, olha-se para a geografia: parece um anúncio abrangendo todo o Portugal, de lá em cima (norte) até lá em baixo (sul). Ora, se Sagres é o "lá em baixo", há um erro quanto ao "lá em cima", que deveria ser Caminha. Os erros pagam-se caro, a não ser que a campanha tenha teaser.
E, olhando bem para a parte final do mupi, percebe-se que, afinal, o anúncio é da "Super Bock, nº 1 em Portugal". Isto é, a Super Bock faz publicidade "atacando" o nome da concorrência. Eu, se fosse esta, já tinha slogan para a próxima campanha: Super Sagres.
O anúncio da cerveja diz: "Líder de Viana a Sagres". À primeira vista, trata-se de um anúncio da Sagres, tal o destaque. Depois, olha-se para a geografia: parece um anúncio abrangendo todo o Portugal, de lá em cima (norte) até lá em baixo (sul). Ora, se Sagres é o "lá em baixo", há um erro quanto ao "lá em cima", que deveria ser Caminha. Os erros pagam-se caro, a não ser que a campanha tenha teaser.
E, olhando bem para a parte final do mupi, percebe-se que, afinal, o anúncio é da "Super Bock, nº 1 em Portugal". Isto é, a Super Bock faz publicidade "atacando" o nome da concorrência. Eu, se fosse esta, já tinha slogan para a próxima campanha: Super Sagres.
sábado, 27 de agosto de 2005
O FOGO NAS DIRECÇÕES DO DIÁRIO DE NOTÍCIAS
O Diário de Notícias de ontem deve ler-se como um bloco. Isto porque nele vejo três temas, em secções bem distintas, que apresentam uma grande homogeneidade, juntando análise aos incêndios e duas histórias de direcções do jornal em tempos diferentes.
Comecemos pelo tema do dia, Incêndios e incendiários, que ocupa cinco (5) páginas [sem falar nas cinco cartas de leitores, que ocupam todo o espaço da Tribuna livre]. Salto as análises do perfil do incendiário, a entrevista e as citações, para me debruçar sobre as páginas 4 e 5 (escrita pelos jornalistas da área dos media e televisão). Assim, fica-se a saber que, nos primeiros 23 dias deste mês e segundo estudo da Marktest, a televisão portuguesa dedicou mais de 45 horas nos seus noticiários, ou seja, 23% do tempo total destes programas. A SIC transmitiu mais notícias em mais tempo e a TVI emitiu notícias mais curtas. Em termos de opinião de especialistas, há quem considere que as imagens influenciam os pirómanos e os que pensam de outro modo. Tem havido um apelo à regulação (redução de imagens de incêndios) [mas o Expresso de hoje revela que isso será pouco consensual entre as três televisões].
O começo do comentário de Miguel Gaspar - bem escrito como sempre, embora discorde da sua opinião - aponta-me para o segundo tema. Escreve Gaspar: "A ideia de suavizar as reportagens de incêndios, removendo as chamas, que passariam a ser só filmadas à distância, é mais um exemplo de uma situação em que os políticos, ameaçados na legitimidade, reagem contra o mensageiro".
O segundo tema que quero trazer aqui vem nas páginas 14 e 15, uma resenha do tempo em que José Saramago foi director-adjunto do Diário de Notícias, entre Abril e Novembro de 1975. Lê-se, escrito por Pedro Correia: "A nacionalização do DN, na sequência do 11 de Março de 1975, trouxe uma nova administração a este matutino [...]. Luís de Barros (ex-jornalista do Expresso e hoje editor-geral do Diário Económico) foi então designado director, tendo Saramago como adjunto. Na prática, as posições invertiam-se: os textos que marcavam a posição editorial do jornal eram os do futuro autor de Levantado do chão. Sempre na primeira página, sob o título genérico «Apontamentos». Entre Abril e Novembro, foram publicados 95 destes textos, que funcionavam como verdadeiros editoriais". As críticas eram demolidoras respeitantes a figuras como Mário Soares, Freitas do Amaral e Melo Antunes e termos como inimigos, traição e rendição eram frequentes.
Os textos não eram assinados por Saramago, excepto um, a 11 de Abril, em que ele e o director afirmavam que o Diário de Notícias precisava de todos os que trabalhavam dentro do jornal. Tempos depois, a 27 de Agosto, 22 jornalistas eram despedidos por delito de opinião. A leitura da peça de ontem, de Pedro Correia, deve ser toda lida, para se compreender melhor como se faziam as notícias e os jornais de então.
Se de fogo poderemos dizer da passagem de Saramago pelo Diário de Notícias, a peça da página 40 remete-nos para outro "incêndio". A peça chama-se "Negócio concretizado, administração empossada" e refere-se à entrada de Joaquim Oliveira nos comandos da Lusomundo Serviços. A fotografia da administração, comparada com a dimensão das de Saramago, não nos permite ver muito bem as caras para além do principal responsável, mais conhecido dos media. Com a nova administração, a direcção do jornal muda. Para já, foi nomeado João Morgado Fernandes como director-interino.
Pela leitura do Diário de Notícias dos últimos meses, parecia-me que a direcção de Miguel Coutinho e Raul Vaz estava a funcionar. Gostava de ler os editoriais deles e os de Peres Metelo. E verifiquei - como já o escrevi aqui - que a secção de media e televisão teve um salto enorme e de valor, afinal a área que mais me interessa. Contudo, um novo patrão quer construir uma equipa de confiança - tem toda a legitimidade. Mas isto traz uma outra questão, normalmente discutida pelos académicos e pelos jornalistas: o peso destes, mais a deontologia e a imparcialidade. Não podemos esquecer a importância das administrações e dos accionistas (e das empresas que colocam publicidade nos media). A questão é, portanto, mais complexa - pelo que devemos olhar um quadro vasto, muito vasto, e não um ou vários jornalistas apenas, com obrigações e deveres.
O Diário de Notícias de ontem deve ler-se como um bloco. Isto porque nele vejo três temas, em secções bem distintas, que apresentam uma grande homogeneidade, juntando análise aos incêndios e duas histórias de direcções do jornal em tempos diferentes.
Comecemos pelo tema do dia, Incêndios e incendiários, que ocupa cinco (5) páginas [sem falar nas cinco cartas de leitores, que ocupam todo o espaço da Tribuna livre]. Salto as análises do perfil do incendiário, a entrevista e as citações, para me debruçar sobre as páginas 4 e 5 (escrita pelos jornalistas da área dos media e televisão). Assim, fica-se a saber que, nos primeiros 23 dias deste mês e segundo estudo da Marktest, a televisão portuguesa dedicou mais de 45 horas nos seus noticiários, ou seja, 23% do tempo total destes programas. A SIC transmitiu mais notícias em mais tempo e a TVI emitiu notícias mais curtas. Em termos de opinião de especialistas, há quem considere que as imagens influenciam os pirómanos e os que pensam de outro modo. Tem havido um apelo à regulação (redução de imagens de incêndios) [mas o Expresso de hoje revela que isso será pouco consensual entre as três televisões].
O começo do comentário de Miguel Gaspar - bem escrito como sempre, embora discorde da sua opinião - aponta-me para o segundo tema. Escreve Gaspar: "A ideia de suavizar as reportagens de incêndios, removendo as chamas, que passariam a ser só filmadas à distância, é mais um exemplo de uma situação em que os políticos, ameaçados na legitimidade, reagem contra o mensageiro".
O segundo tema que quero trazer aqui vem nas páginas 14 e 15, uma resenha do tempo em que José Saramago foi director-adjunto do Diário de Notícias, entre Abril e Novembro de 1975. Lê-se, escrito por Pedro Correia: "A nacionalização do DN, na sequência do 11 de Março de 1975, trouxe uma nova administração a este matutino [...]. Luís de Barros (ex-jornalista do Expresso e hoje editor-geral do Diário Económico) foi então designado director, tendo Saramago como adjunto. Na prática, as posições invertiam-se: os textos que marcavam a posição editorial do jornal eram os do futuro autor de Levantado do chão. Sempre na primeira página, sob o título genérico «Apontamentos». Entre Abril e Novembro, foram publicados 95 destes textos, que funcionavam como verdadeiros editoriais". As críticas eram demolidoras respeitantes a figuras como Mário Soares, Freitas do Amaral e Melo Antunes e termos como inimigos, traição e rendição eram frequentes.
Os textos não eram assinados por Saramago, excepto um, a 11 de Abril, em que ele e o director afirmavam que o Diário de Notícias precisava de todos os que trabalhavam dentro do jornal. Tempos depois, a 27 de Agosto, 22 jornalistas eram despedidos por delito de opinião. A leitura da peça de ontem, de Pedro Correia, deve ser toda lida, para se compreender melhor como se faziam as notícias e os jornais de então.
Se de fogo poderemos dizer da passagem de Saramago pelo Diário de Notícias, a peça da página 40 remete-nos para outro "incêndio". A peça chama-se "Negócio concretizado, administração empossada" e refere-se à entrada de Joaquim Oliveira nos comandos da Lusomundo Serviços. A fotografia da administração, comparada com a dimensão das de Saramago, não nos permite ver muito bem as caras para além do principal responsável, mais conhecido dos media. Com a nova administração, a direcção do jornal muda. Para já, foi nomeado João Morgado Fernandes como director-interino.
Pela leitura do Diário de Notícias dos últimos meses, parecia-me que a direcção de Miguel Coutinho e Raul Vaz estava a funcionar. Gostava de ler os editoriais deles e os de Peres Metelo. E verifiquei - como já o escrevi aqui - que a secção de media e televisão teve um salto enorme e de valor, afinal a área que mais me interessa. Contudo, um novo patrão quer construir uma equipa de confiança - tem toda a legitimidade. Mas isto traz uma outra questão, normalmente discutida pelos académicos e pelos jornalistas: o peso destes, mais a deontologia e a imparcialidade. Não podemos esquecer a importância das administrações e dos accionistas (e das empresas que colocam publicidade nos media). A questão é, portanto, mais complexa - pelo que devemos olhar um quadro vasto, muito vasto, e não um ou vários jornalistas apenas, com obrigações e deveres.
LEITURA DE BLOGUES NOS ESTADOS UNIDOS E MAINSTREAM MEDIA
Segundo a newsletter do Obercom, ontem distribuida, a leitura de blogues nos Estados Unidos é uma prática em crescimento. Lê-se nesse texto: "Cerca de um terço da população de internautas norte-americanos – 50 milhões de indivíduos – visitou blogues no primeiro trimestre de 2005, de acordo com o mais recente estudo da comScore Networks ("Behaviors of the Blogosphere. Understanding Size, Composition and Activities of Weblog Readers") [deste mês]. Isto corresponde a cerca de um sexto do total da população norte-americana".
Refere ainda o mesmo texto do Observatório da Comunicação que "O estudo da comScore indica um crescimento acentuado – 45% – entre os dois períodos analisados. Tendo em conta que a visita a blogues é uma prática que se estende a cerca de um terço da audiência de Internet norte-americana, esta fonte considera que os blogues começam a poder ser incluídos na categoria de mainstream media. A audiência de blogues caracteriza-se por uma acentuada fragmentação – facto que se prende com uma das principais características da «blogosfera», a multiplicidade de blogues publicados; este número é estimado actualmente em mais de 14 milhões, de acordo com o motor de busca de blogues Technorati" [alterei, nesta mensagem, a palavra blogs, no texto que cito, para blogues].
Porque considero importante estas observações, aconselho a que seja lido o original do texto do Obercom, porque tem em ficheiro pdf o estudo americano referido acima.
Segundo a newsletter do Obercom, ontem distribuida, a leitura de blogues nos Estados Unidos é uma prática em crescimento. Lê-se nesse texto: "Cerca de um terço da população de internautas norte-americanos – 50 milhões de indivíduos – visitou blogues no primeiro trimestre de 2005, de acordo com o mais recente estudo da comScore Networks ("Behaviors of the Blogosphere. Understanding Size, Composition and Activities of Weblog Readers") [deste mês]. Isto corresponde a cerca de um sexto do total da população norte-americana".
Refere ainda o mesmo texto do Observatório da Comunicação que "O estudo da comScore indica um crescimento acentuado – 45% – entre os dois períodos analisados. Tendo em conta que a visita a blogues é uma prática que se estende a cerca de um terço da audiência de Internet norte-americana, esta fonte considera que os blogues começam a poder ser incluídos na categoria de mainstream media. A audiência de blogues caracteriza-se por uma acentuada fragmentação – facto que se prende com uma das principais características da «blogosfera», a multiplicidade de blogues publicados; este número é estimado actualmente em mais de 14 milhões, de acordo com o motor de busca de blogues Technorati" [alterei, nesta mensagem, a palavra blogs, no texto que cito, para blogues].
Porque considero importante estas observações, aconselho a que seja lido o original do texto do Obercom, porque tem em ficheiro pdf o estudo americano referido acima.
ENTRADAS PARA UM DICIONÁRIO (I)
Tenho um conjunto de pequenos apontamentos, não muito trabalhados, mas que resultam de alguma reflexão. Vou deixando no blogue alguns desses apontamentos, que poderiam constituir entradas para um dicionário de indústrias culturais.
Juvenilização
Ela ocorreu na época das rádios piratas. Eram sobretudo estudantes (universitários, anos finais do secundário), sem estruturas mas com muito voluntarismo e desejo de fazer coisas. Após completarem estudos, esses jovens abandonavam as rádios, o que deu origem a um fenómeno de grande rotação de quadros e animadores. Entretanto, as estruturas profissionalizaram-se, e os pioneiros eram substituídos por quadros com objectivos comerciais e de marketing mais fortes que a simples aventura de emissão. Por isso, as estruturas comerciais ganharam peso face às de programação, uma vez resolvidos os problemas técnicos e jurídicos. Há também que fazer referência a questões estéticas, deixadas para outro apontamento.
A juvenilização é também preponderante na internet, primeiro nas páginas web, agora nos blogues (em especial os foto e videoblogues). Uma vez que as questões técnicas são muito pouco importantes, os jovens concentram as suas capacidades no experimentalismo, que vão para a estética. Outro elemento é o diálogo. Outro ainda é o estímulo, a emulação. O uso de linguagens específicas (informáticas) é reduzido, embora a distinção se faça a partir desse domínio, com os webdesigners, que procuram distinção como as revistas fazem cada vez mais para se diferenciarem umas das outras.
Tenho um conjunto de pequenos apontamentos, não muito trabalhados, mas que resultam de alguma reflexão. Vou deixando no blogue alguns desses apontamentos, que poderiam constituir entradas para um dicionário de indústrias culturais.
Juvenilização
Ela ocorreu na época das rádios piratas. Eram sobretudo estudantes (universitários, anos finais do secundário), sem estruturas mas com muito voluntarismo e desejo de fazer coisas. Após completarem estudos, esses jovens abandonavam as rádios, o que deu origem a um fenómeno de grande rotação de quadros e animadores. Entretanto, as estruturas profissionalizaram-se, e os pioneiros eram substituídos por quadros com objectivos comerciais e de marketing mais fortes que a simples aventura de emissão. Por isso, as estruturas comerciais ganharam peso face às de programação, uma vez resolvidos os problemas técnicos e jurídicos. Há também que fazer referência a questões estéticas, deixadas para outro apontamento.
A juvenilização é também preponderante na internet, primeiro nas páginas web, agora nos blogues (em especial os foto e videoblogues). Uma vez que as questões técnicas são muito pouco importantes, os jovens concentram as suas capacidades no experimentalismo, que vão para a estética. Outro elemento é o diálogo. Outro ainda é o estímulo, a emulação. O uso de linguagens específicas (informáticas) é reduzido, embora a distinção se faça a partir desse domínio, com os webdesigners, que procuram distinção como as revistas fazem cada vez mais para se diferenciarem umas das outras.
PEQUENA NOTA SOBRE PÚBLICOS, A PARTIR DE ESQUINAZI
No livro Sociologie des publics (2003), já aqui abordado, Jean-Pierre Esquinazi refere um inquérito (Les jeunes et les sorties culturelles), que caracterizaria jovens dos 12 aos 25 anos, tendo encontrado seis maneiras de abordar a oferta cultural. O referente central é a música clássica - dos que gostam e não gostam dela -, critério que não me parece o melhor.
O ecletismo e a rebeldia encontram-se sobretudo entre os jovens vindos de meios favorecidos e urbanos. Os primeiros (mais as mulheres) são apreciadores de todas as actividades culturais enquanto os segundos rejeitam a cultura "clássica" para se consagrarem nos concertos de rock e nas actividades contestatárias. O conformismo, um dos mais representados nas diferentes atitudes, centra-se no conjunto cinema, música de rock e discoteca; a rejeição da cultura clássica é aqui uma marca de desinteresse. O distanciamento é uma atitude que partilham muitos filhos das classes populares: são praticantes culturais fracos (excepto desporto e televisão) e não querem desenvolver as suas práticas. Os jovens em que a frustração é o traço dominante provêm também das classes populares; mais rurais e femininos que os anteriores têm um desejo de maior actividade. Finalmente, o enraizamento representa a particularidade preponderante de uma larga camada média (30% dos jovens inquiridos) fortemente ligada ao património e interessada no espectáculo desportivo.
No livro Sociologie des publics (2003), já aqui abordado, Jean-Pierre Esquinazi refere um inquérito (Les jeunes et les sorties culturelles), que caracterizaria jovens dos 12 aos 25 anos, tendo encontrado seis maneiras de abordar a oferta cultural. O referente central é a música clássica - dos que gostam e não gostam dela -, critério que não me parece o melhor.
O ecletismo e a rebeldia encontram-se sobretudo entre os jovens vindos de meios favorecidos e urbanos. Os primeiros (mais as mulheres) são apreciadores de todas as actividades culturais enquanto os segundos rejeitam a cultura "clássica" para se consagrarem nos concertos de rock e nas actividades contestatárias. O conformismo, um dos mais representados nas diferentes atitudes, centra-se no conjunto cinema, música de rock e discoteca; a rejeição da cultura clássica é aqui uma marca de desinteresse. O distanciamento é uma atitude que partilham muitos filhos das classes populares: são praticantes culturais fracos (excepto desporto e televisão) e não querem desenvolver as suas práticas. Os jovens em que a frustração é o traço dominante provêm também das classes populares; mais rurais e femininos que os anteriores têm um desejo de maior actividade. Finalmente, o enraizamento representa a particularidade preponderante de uma larga camada média (30% dos jovens inquiridos) fortemente ligada ao património e interessada no espectáculo desportivo.
sexta-feira, 26 de agosto de 2005
HISTÓRIA DA RÁDIO
Hoje, já li (revi) 200 páginas das provas do meu livro sobre a rádio, a editar em breve. Ainda faltam mais de cem, mas não consigo ir além do que fiz. Ainda queria acabar a leitura de um capítulo de uma tese de mestrado sobre imprensa regional. E foi rápido o folhear do Diário de Notícias e do Público. Na memória, ficou-me o belo tratamento do Diário de Notícias ao tema incêndios e televisão, aliás tema de capa (e que gostaria de me debruçar sobre ele, como sobre um texto saído esta semana acerca do "homem do piano"). E estou de antenas no ar por causa de um congresso em Santiago de Compostela (II Simposium sobre o libro e a lectura, organizado pela Asociación Galega de Editores, e a decorrer no começo de Novembro). Para além de saber que as aulas começam dentro de duas semanas, com a necessária preparação dos dossiês de trabalho.
Por isso, o tempo dispensado ao blogue é muito curto por agora.
Hoje, já li (revi) 200 páginas das provas do meu livro sobre a rádio, a editar em breve. Ainda faltam mais de cem, mas não consigo ir além do que fiz. Ainda queria acabar a leitura de um capítulo de uma tese de mestrado sobre imprensa regional. E foi rápido o folhear do Diário de Notícias e do Público. Na memória, ficou-me o belo tratamento do Diário de Notícias ao tema incêndios e televisão, aliás tema de capa (e que gostaria de me debruçar sobre ele, como sobre um texto saído esta semana acerca do "homem do piano"). E estou de antenas no ar por causa de um congresso em Santiago de Compostela (II Simposium sobre o libro e a lectura, organizado pela Asociación Galega de Editores, e a decorrer no começo de Novembro). Para além de saber que as aulas começam dentro de duas semanas, com a necessária preparação dos dossiês de trabalho.
Por isso, o tempo dispensado ao blogue é muito curto por agora.
quinta-feira, 25 de agosto de 2005
BLOGUES LIGADOS À ARTE
O infohabitar - o blog do grupo Habitar, de António Baptista Coelho, com sede no Núcleo de Arquitectura e Urbanismo(NAU) do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) - que também tem o sítio Grupo Habitar, Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional - é um blogue que trabalha dentro "do interesse e das preocupações de várias pessoas com diversas formações e práticas profissionais, ligadas às temáticas habitacionais".
Ainda do documento de apresentação do sítio Grupo Habitar, Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional, pretende "iniciar um período de natural reorientação das exigências habitacionais de uma perspectiva dominantemente quantitativa", bem como privilegiar "os múltiplos aspectos da qualidade de vida, associados a uma perspectiva de valorização do nosso património urbano e paisagístico, concretizada em conjuntos residenciais com valor estético, social e construtivo".
O blogue do grupo Habitar, que se assume como "folha informativa", já existe desde 21 de Fevereiro deste ano. Na mensagem assinada no último domingo, reforça o principal objectivo: "falar da boa arquitectura urbana, globalmente e ao nível do pormenor, e nela encontraremos as facetas e os elementos do verde urbano, que [...] são valiosos factores de caracterização e de identidade dos lugares". No texto, há ainda um conjunto de imagens do "bairro de Telheiras Sul (63,5 hectares para 3.600 fogos) [...] promovido pela EPUL e pela Câmara Municipal de Lisboa, entre 1976 e o início dos anos 80, com desenho urbano pormenorizado (projecto de 1973/74) de Pedro Vieira de Almeida e Augusto Pita".
Um blogue para conhecer [a imagem inserida nesta mensagem é de autoria do próprio arquitecto António Baptista Coelho].
O blogue de Arne Andreassen
Arne Andreassen é um norueguês vivendo em Oslo e trabalhando em consultadoria. Pinta desde 2002 (pelo menos, as imagens que mostra vêm dessa data). Nele, há um jeito à Van Gogh que gosto. Dei com o blogue e entabulei com ele uma rápida conversa. Claro que ele não percebe português (apesar de já ter estado em Lisboa) e eu não compreendo norueguês. Mas a linguagem das imagens é universal. Das imagens aqui colocadas (e que ele me permitiu publicar) os títulos são, respectivamente, Golden jacket, Tullarbo e Blue lady. A galeria completa dos trabalhos de Arne pode ser vista na sua homepage.
O infohabitar - o blog do grupo Habitar, de António Baptista Coelho, com sede no Núcleo de Arquitectura e Urbanismo(NAU) do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) - que também tem o sítio Grupo Habitar, Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional - é um blogue que trabalha dentro "do interesse e das preocupações de várias pessoas com diversas formações e práticas profissionais, ligadas às temáticas habitacionais".
Ainda do documento de apresentação do sítio Grupo Habitar, Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional, pretende "iniciar um período de natural reorientação das exigências habitacionais de uma perspectiva dominantemente quantitativa", bem como privilegiar "os múltiplos aspectos da qualidade de vida, associados a uma perspectiva de valorização do nosso património urbano e paisagístico, concretizada em conjuntos residenciais com valor estético, social e construtivo".
O blogue do grupo Habitar, que se assume como "folha informativa", já existe desde 21 de Fevereiro deste ano. Na mensagem assinada no último domingo, reforça o principal objectivo: "falar da boa arquitectura urbana, globalmente e ao nível do pormenor, e nela encontraremos as facetas e os elementos do verde urbano, que [...] são valiosos factores de caracterização e de identidade dos lugares". No texto, há ainda um conjunto de imagens do "bairro de Telheiras Sul (63,5 hectares para 3.600 fogos) [...] promovido pela EPUL e pela Câmara Municipal de Lisboa, entre 1976 e o início dos anos 80, com desenho urbano pormenorizado (projecto de 1973/74) de Pedro Vieira de Almeida e Augusto Pita".
Um blogue para conhecer [a imagem inserida nesta mensagem é de autoria do próprio arquitecto António Baptista Coelho].
O blogue de Arne Andreassen
Arne Andreassen é um norueguês vivendo em Oslo e trabalhando em consultadoria. Pinta desde 2002 (pelo menos, as imagens que mostra vêm dessa data). Nele, há um jeito à Van Gogh que gosto. Dei com o blogue e entabulei com ele uma rápida conversa. Claro que ele não percebe português (apesar de já ter estado em Lisboa) e eu não compreendo norueguês. Mas a linguagem das imagens é universal. Das imagens aqui colocadas (e que ele me permitiu publicar) os títulos são, respectivamente, Golden jacket, Tullarbo e Blue lady. A galeria completa dos trabalhos de Arne pode ser vista na sua homepage.
AUDIÊNCIAS
Michel Souchon (1997) escreve que a palavra audiência não tem o mesmo significado original em francês e em inglês. Ali, é o equivalente de escuta [o auditório prestar atenção]: estudar a audiência é indicar [nomear] as pessoas que escutam/dão atenção a uma emissão, a um canal, durante um período ou faixa horária. Para os ingleses, a palavra audiência quer dizer público: a pesquisa de audiência diz respeito ao conjunto de trabalhos que estudam o público, através de sondagens ou outros métodos, para contar espectadores ou ouvintes, assim como para conhecer outros aspectos do seu comportamento, modo de vida, práticas culturais. Audiência significa assim, também, um dos aspectos da pesquisa de audiência numa sociedade de televisão. E é a designação dominante hoje.
Souchon fala em vários indicadores: 1) audiência instantânea (conjunto de pessoas presentes diante da televisão ou ouvindo uma estação num momento preciso), 2) audiência acumulada de uma emissão ou fatia de horário (conjunto de pessoas que viram, pelo menos, um fragmento do período analisado), 3) audiência inteira ou completa (conjunto de pessoas que viram toda a emissão ou uma fatia horária), e 4) audiência média (número de pessoas presentes, em média durante a duração de uma emissão ou fatia horária).
Segundo os utilizadores, privilegia-se um ou outro dos indicadores. Os compradores de espaços publicitários pagam pela audiência instantânea. Os políticos preocupam-se com partes da audiência ou parte do mercado. Os produtores querem conhecer o perfil do seu público lendo os números da audiência média. O indicador mais usado nas televisões (e mais publicado nos jornais) é a audiência média. O indicador dominante substitui-se à realidade, esquecendo o seu carácter parcial. O número dos que viram um fragmento da emissão (audiência acumulada) é muito mais elevado; e que o número dos que viram a emissão no seu total é muito mais baixo. Daí a necessidade de usar outro indicador: a audiência inteira.
Souchon constata que uma estrutura de tempo de audição atravessa grandes mudanças nos diferentes grupos sócio-demográficos da população. A repartição em classes A, B, C, D e E não permite descobrir pequenos consumidores que vêem televisão em programa de informação, cultura ou conhecimento. Eu acrescento que a recepção é activa, isto é, a mensagem pode não atingir todos de igual modo.
[na segunda imagem, página do Diário de Notícias de hoje, com informações sobre os programas de televisão mais vistos. O indicador usado é a audiência média]
Leitura: Michel Souchon (1997). “L’audience de la télévision”. In Paul Bead, Patrice Flichy, Dominique Pasquier e Louis Quéré (dir.) Sociologie de la communication. Paris: CNET, pp. 909-913
Michel Souchon (1997) escreve que a palavra audiência não tem o mesmo significado original em francês e em inglês. Ali, é o equivalente de escuta [o auditório prestar atenção]: estudar a audiência é indicar [nomear] as pessoas que escutam/dão atenção a uma emissão, a um canal, durante um período ou faixa horária. Para os ingleses, a palavra audiência quer dizer público: a pesquisa de audiência diz respeito ao conjunto de trabalhos que estudam o público, através de sondagens ou outros métodos, para contar espectadores ou ouvintes, assim como para conhecer outros aspectos do seu comportamento, modo de vida, práticas culturais. Audiência significa assim, também, um dos aspectos da pesquisa de audiência numa sociedade de televisão. E é a designação dominante hoje.
Souchon fala em vários indicadores: 1) audiência instantânea (conjunto de pessoas presentes diante da televisão ou ouvindo uma estação num momento preciso), 2) audiência acumulada de uma emissão ou fatia de horário (conjunto de pessoas que viram, pelo menos, um fragmento do período analisado), 3) audiência inteira ou completa (conjunto de pessoas que viram toda a emissão ou uma fatia horária), e 4) audiência média (número de pessoas presentes, em média durante a duração de uma emissão ou fatia horária).
Segundo os utilizadores, privilegia-se um ou outro dos indicadores. Os compradores de espaços publicitários pagam pela audiência instantânea. Os políticos preocupam-se com partes da audiência ou parte do mercado. Os produtores querem conhecer o perfil do seu público lendo os números da audiência média. O indicador mais usado nas televisões (e mais publicado nos jornais) é a audiência média. O indicador dominante substitui-se à realidade, esquecendo o seu carácter parcial. O número dos que viram um fragmento da emissão (audiência acumulada) é muito mais elevado; e que o número dos que viram a emissão no seu total é muito mais baixo. Daí a necessidade de usar outro indicador: a audiência inteira.
Souchon constata que uma estrutura de tempo de audição atravessa grandes mudanças nos diferentes grupos sócio-demográficos da população. A repartição em classes A, B, C, D e E não permite descobrir pequenos consumidores que vêem televisão em programa de informação, cultura ou conhecimento. Eu acrescento que a recepção é activa, isto é, a mensagem pode não atingir todos de igual modo.
[na segunda imagem, página do Diário de Notícias de hoje, com informações sobre os programas de televisão mais vistos. O indicador usado é a audiência média]
Leitura: Michel Souchon (1997). “L’audience de la télévision”. In Paul Bead, Patrice Flichy, Dominique Pasquier e Louis Quéré (dir.) Sociologie de la communication. Paris: CNET, pp. 909-913
quarta-feira, 24 de agosto de 2005
OUTROS LIVROS
Por vezes, em livrarias fora de Lisboa, encontram-se livros deliciosos, publicados por editores pequenos. Numa ocasião, em que trabalhava em Aveiro, era um habitual de uma livraria num centro comercial mas que funcionava como se fosse uma loja de bairro. Lá descobri um texto de José Dias Coelho, chamado Leiria entre 1920 e 1940 - sociabilidade e vida quotidiana (1999, ed. Magno), a que já fiz aqui referência. O que eu aprendi com o livro, que nunca encontrei numa livraria aqui em Lisboa!
Há sempre uma razão para coisas que desconhecemos. No caso, a enorme produção de livros (apesar de nos considerarmos leitores baixos a nível nacional). Um distribuidor dizia-me em Dezembro passado que tinham sido publicados no final do ano cerca de 400 livros. Não existe uma qualquer livraria capaz de albergar tamanha produção numa só ocasião. Resultado: muitos dos livros são mortos à nascença.
Esta minha conversa vem a propósito de pequenas edições, claro. Ou melhor: de edições de circulação fora das principais livrarias. Caso das edições de associações. Uma das maiores alegrias da minha vida foi ter ajudado, numa altura de associações de defesa do património, a editar um livro sobre uma festa de Valongo.
A Associação Cultural de Cascais situa-se nessa condição de editora de livros de autores menos conhecidos, talvez designados por autores populares. É um importante serviço prestado à comunidade. Trago aqui dois deles, com textos em rima.
Um deles foi escrito por Isolina Alves dos Santos, chamado Alcabideche no sabor dos versos meus (2003). Escreve a autora: "Quando a televisão chegou/Pela mão de Luís Pires/A minha casa brilhou/Com as cores do arco-iris.//Esta casa já velhinha/Sem nada para admirar/Onde eu me senti rainha/Ter alguém com quem falar".
O outro pertence a Natael Rianço, entretanto desaparecido, com o título A minha história de Portugal (2001). Retiro duas quadras de um poema sobre Rafael Bordalo Pinheiro: "[...] Lanterna Mágica também ilustrou/Fê-lo com grande ternura e carinho./E, aí, uma lendária imagem nos legou:/A figura do eterno Zé Povinho.//Durante o século XIX,/À sua arte imprimiu dinâmica./O principal caricaturista português,/Com incursões nas artes decorativas e cerâmica".
Do primeiro livro, escreve no prefácio José d'Encarnação: "à primeira vista, dos versos de Isolina Alves Santos: «coração» a rimar com «afeição»; «amor» com «dor»; «criança» - «esperança»; «mundo» - «profundo»... Fácil, não é? Formalmente, sim. Mas... e a alma"? Do segundo, e do mesmo prefaciador, lê-se a história de Portugal de Natael Rianço é "Como ele a estudou, como lha ensinaram em tempos de heróis e de santos e do Poeta que canta".
Estas e de outras publicações devem-se ao entusiasmo desse prefaciador, José d'Encarnação, professor da Universidade de Coimbra e fundador da Associação Cultural de Cascais. Um grande obrigado pelo seu esforço de divulgador e incentivador de obras que, sem estarem de acordo com o sentido estrito de indústrias culturais, como desenvolvo aqui, são-no enquanto contributo para conhecimento de outras vozes da cultura.
Por vezes, em livrarias fora de Lisboa, encontram-se livros deliciosos, publicados por editores pequenos. Numa ocasião, em que trabalhava em Aveiro, era um habitual de uma livraria num centro comercial mas que funcionava como se fosse uma loja de bairro. Lá descobri um texto de José Dias Coelho, chamado Leiria entre 1920 e 1940 - sociabilidade e vida quotidiana (1999, ed. Magno), a que já fiz aqui referência. O que eu aprendi com o livro, que nunca encontrei numa livraria aqui em Lisboa!
Há sempre uma razão para coisas que desconhecemos. No caso, a enorme produção de livros (apesar de nos considerarmos leitores baixos a nível nacional). Um distribuidor dizia-me em Dezembro passado que tinham sido publicados no final do ano cerca de 400 livros. Não existe uma qualquer livraria capaz de albergar tamanha produção numa só ocasião. Resultado: muitos dos livros são mortos à nascença.
Esta minha conversa vem a propósito de pequenas edições, claro. Ou melhor: de edições de circulação fora das principais livrarias. Caso das edições de associações. Uma das maiores alegrias da minha vida foi ter ajudado, numa altura de associações de defesa do património, a editar um livro sobre uma festa de Valongo.
A Associação Cultural de Cascais situa-se nessa condição de editora de livros de autores menos conhecidos, talvez designados por autores populares. É um importante serviço prestado à comunidade. Trago aqui dois deles, com textos em rima.
Um deles foi escrito por Isolina Alves dos Santos, chamado Alcabideche no sabor dos versos meus (2003). Escreve a autora: "Quando a televisão chegou/Pela mão de Luís Pires/A minha casa brilhou/Com as cores do arco-iris.//Esta casa já velhinha/Sem nada para admirar/Onde eu me senti rainha/Ter alguém com quem falar".
O outro pertence a Natael Rianço, entretanto desaparecido, com o título A minha história de Portugal (2001). Retiro duas quadras de um poema sobre Rafael Bordalo Pinheiro: "[...] Lanterna Mágica também ilustrou/Fê-lo com grande ternura e carinho./E, aí, uma lendária imagem nos legou:/A figura do eterno Zé Povinho.//Durante o século XIX,/À sua arte imprimiu dinâmica./O principal caricaturista português,/Com incursões nas artes decorativas e cerâmica".
Do primeiro livro, escreve no prefácio José d'Encarnação: "à primeira vista, dos versos de Isolina Alves Santos: «coração» a rimar com «afeição»; «amor» com «dor»; «criança» - «esperança»; «mundo» - «profundo»... Fácil, não é? Formalmente, sim. Mas... e a alma"? Do segundo, e do mesmo prefaciador, lê-se a história de Portugal de Natael Rianço é "Como ele a estudou, como lha ensinaram em tempos de heróis e de santos e do Poeta que canta".
Estas e de outras publicações devem-se ao entusiasmo desse prefaciador, José d'Encarnação, professor da Universidade de Coimbra e fundador da Associação Cultural de Cascais. Um grande obrigado pelo seu esforço de divulgador e incentivador de obras que, sem estarem de acordo com o sentido estrito de indústrias culturais, como desenvolvo aqui, são-no enquanto contributo para conhecimento de outras vozes da cultura.
MORANGOS COM AÇUCAR
Só agora destaco a publicação mensal 30 dias em Oeiras, a agenda cultural daquele concelho respeitante ao mês de Agosto. O tema de capa é a novela da TVI que se emite, durante o período escolar, todos os dias antes do noticiário das 20:00. A entrevistada é Patrícia Sequeira, coordenadora da novela desde Fevereiro último, a qual explica as razões do sucesso e as alterações que irão ocorrer agora no reinício das emissões (entrevistada por Guiomar Belo Marques)
Logo de início, Patrícia Sequeira destaca as grandes audiências devido a que, em cada série anual, "o elenco vai sendo renovado, já que tudo gira em torno de uma escola onde os alunos vão transitando de ano e partem". O mesmo ocorre com os professores do Colégio da Barra, o núcleo central. Do tempo do Pipo e da Joana, permanecem dois professores, um dos quais o Sapinho já não estará na escola. E também o casal principal, Simão e Ana Luísa, sairá, pois vão "para a faculdade". Ficam o Topê, porque chumbou, e o Zé Milho, que faz melhoria de nota e está associado ao hip hop, "tipo de música que os miúdos adoram", esclarece a entrevistada.
Para esta, o desenho da novela foi apontado "para um target entre os quatro e os vinte e poucos anos". O produto é mais descontraído que a novela da noite, continua, havendo sempre muitos mistérios e peripécias. Na última série, o mistério foi Calipso, uma rapariga que gostava muito da sua melhor amiga e lhe enviava mensagens secretas.
Com a série, tornaram-se famosos os DZR'T, cuja música enche salas. Confessa Patrícia Sequeira: "Os Morangos são, no fundo, uma maneira de melhor vender um produto, como uma vitrina fantástica". Isto é, para além das histórias, uma novela é um modelador de comportamentos (sentimentos) e um promotor potencial de merchandising (música, roupa, locais), assim como emprega o product-placement em determinadas cenas.
A criação da novela é da Casa da Criação, da NBP, e a responsável pelos actores (amadores) é Maria Henrique, apoiada por Rita Alagão. Patrícia Sequeira já tem muita experiência em novelas. Do seu porta-fólio destacam-se: Queridas feras (TVI), Segredo (no Brasil, para a RTP), Fúria de viver, O jogo e Ganância (SIC).
Observação: já escrevi sobre a série em 18 de Janeiro e 6 de Março deste ano (aproveitando mesmo trabalhos de alunos de licenciatura em Comunicação Social). Não tenho uma visão de tanta bonomia sobre a série como a do texto da agenda cultural 30 dias em Oeiras. A série é um programa comercial - nada tenho contra - mas é também um formador de comportamentos - e aí parece-me haver necessidade de acompanhar o programa. Uma determinada história num capítulo - o relacionamento amoroso ou a troca de par amoroso, por exemplo - tem, certamente, repercussões distintas num(a) jovem de vinte anos e numa criança de quatro anos - são públicos muito distintos mas que parecem de um só padrão para os organizadores da novela.
Só agora destaco a publicação mensal 30 dias em Oeiras, a agenda cultural daquele concelho respeitante ao mês de Agosto. O tema de capa é a novela da TVI que se emite, durante o período escolar, todos os dias antes do noticiário das 20:00. A entrevistada é Patrícia Sequeira, coordenadora da novela desde Fevereiro último, a qual explica as razões do sucesso e as alterações que irão ocorrer agora no reinício das emissões (entrevistada por Guiomar Belo Marques)
Logo de início, Patrícia Sequeira destaca as grandes audiências devido a que, em cada série anual, "o elenco vai sendo renovado, já que tudo gira em torno de uma escola onde os alunos vão transitando de ano e partem". O mesmo ocorre com os professores do Colégio da Barra, o núcleo central. Do tempo do Pipo e da Joana, permanecem dois professores, um dos quais o Sapinho já não estará na escola. E também o casal principal, Simão e Ana Luísa, sairá, pois vão "para a faculdade". Ficam o Topê, porque chumbou, e o Zé Milho, que faz melhoria de nota e está associado ao hip hop, "tipo de música que os miúdos adoram", esclarece a entrevistada.
Para esta, o desenho da novela foi apontado "para um target entre os quatro e os vinte e poucos anos". O produto é mais descontraído que a novela da noite, continua, havendo sempre muitos mistérios e peripécias. Na última série, o mistério foi Calipso, uma rapariga que gostava muito da sua melhor amiga e lhe enviava mensagens secretas.
Com a série, tornaram-se famosos os DZR'T, cuja música enche salas. Confessa Patrícia Sequeira: "Os Morangos são, no fundo, uma maneira de melhor vender um produto, como uma vitrina fantástica". Isto é, para além das histórias, uma novela é um modelador de comportamentos (sentimentos) e um promotor potencial de merchandising (música, roupa, locais), assim como emprega o product-placement em determinadas cenas.
A criação da novela é da Casa da Criação, da NBP, e a responsável pelos actores (amadores) é Maria Henrique, apoiada por Rita Alagão. Patrícia Sequeira já tem muita experiência em novelas. Do seu porta-fólio destacam-se: Queridas feras (TVI), Segredo (no Brasil, para a RTP), Fúria de viver, O jogo e Ganância (SIC).
Observação: já escrevi sobre a série em 18 de Janeiro e 6 de Março deste ano (aproveitando mesmo trabalhos de alunos de licenciatura em Comunicação Social). Não tenho uma visão de tanta bonomia sobre a série como a do texto da agenda cultural 30 dias em Oeiras. A série é um programa comercial - nada tenho contra - mas é também um formador de comportamentos - e aí parece-me haver necessidade de acompanhar o programa. Uma determinada história num capítulo - o relacionamento amoroso ou a troca de par amoroso, por exemplo - tem, certamente, repercussões distintas num(a) jovem de vinte anos e numa criança de quatro anos - são públicos muito distintos mas que parecem de um só padrão para os organizadores da novela.
RENOVAÇÃO DE LICENÇAS AOS CANAIS PRIVADOS DE TELEVISÃO
Na semana passada, os jornais fizeram referência aos pedidos de renovação das licenças televisivas feitas pela SIC e pela TVI (que caducam em 2007 e cujos pedidos deveriam ser feitos em Fevereiro do próximo ano). O líder do PSD, Marques Mendes, partido actualmente na oposição, "põe em causa, em particular, que a licença da TVI possa ser renovada sem recurso a concurso público" (Expresso, 20 de Agosto), porque houve mudança clara de objectivos relativos aos inicialmente propostos. A TVI fora uma licença concedida à Igreja Católica, depois tomada pela Media Capital, após alterações de percurso, que hoje negoceia com a RTL e a Prisa uma nova partilha de capitais.
Na passada sexta-feira, o atento Manuel Pinto, do blogue Jornalismo e Comunicação, escreveu algumas notas sobre o caso, que passo a citar: "Em primeiro lugar, é muito provável que, relacionados com este caso, haja factos que ocorrem nos bastidores do espaço público que são relevantes para compreender o que se está a passar e que desconhecemos". A que junta: "Em segundo lugar, não é fácil aceitar que haja apenas coincidências, nestas sucessivas tentativas do grupo Prisa de entrar no mercado mediático português. Basta acompanhar a sua trajectória em Espanha e noutros países, para se perceber que se trata de um grupo que, para dizer pouco, «não brinca em serviço»".
O professor de jornalismo da Universidade do Minho continua: "Em terceiro lugar, a prática do governo PS noutras áreas (igualmente estratégicas) faz redobrar as atenções relativamente a qualquer movimentação numa área sensível como a dos media. Em quarto lugar - e aqui bate o ponto - não parece sério que se construa um cenário desta magnitude (uma aliança de governos da mesma cor política para o controlo, por via indirecta, do principal canal televisivo) sem que isso seja apoiado em factos. Não é o facto de Marques Mendes afirmar que o Governo «sabia, acompanhou e ajudou» que dá substância ao referente da afirmação. Dito de outro modo: não é pelo facto de existir a afirmação que existem os factos correspondentes. E não é legítimo tomar a afirmação como prova dos factos. Mas aqui haveria que chamar a atenção para as responsabilidades que cabem ao nosso jornalismo: então o líder do principal partido da oposição afirma, taxativamente, que o Governo está envolvido numa manobra de controlo do principal canal televisivo e ninguém o questiona (tanto quanto me pude aperceber) dos factos em que ele se baseia? Ninguém investiga"?
A posição lida no Expresso é sintomática, dada a SIC pertencer ao mesmo grupo de media. Em artigo assinado por Ana Serzedelo, saído na mesma edição de sábado passado, ela referencia ser normal o procedimento das estações (pelo envolvimento em organizações avaliadas em milhões de euros). Dá voz ao director-geral da SIC mas não regista opinião de qualquer dirigente da TVI.
Curiosa é a peça de anteontem do Diário de Notícias, com o título "RTL não deverá competir com Prisa pelo controlo da Media Capital". Apesar de estratégico o negócio com a TVI, o grupo alemão está concentrado noutros investimentos, pelo que não entrará em "guerra" com a Prisa. E a parte final do artigo, assinado por Paula Brito, avança com a hipótese de a entrada de capitais espanhóis poder significar o aparecimento de um semanário em concorrência com o Expresso, para além da potenciação do porta-fólio da rádio.
São muitas informações, que o blogueiro ainda está a digerir (e que funcionam como tomada de notas mais do que trazer ideias novas). Mas parece que esta última notícia visa descansar os políticos governamentais que um novo semanário até seria útil para combater a presente hegemonia do Expresso (de mercado e de pendor partidário).
Na semana passada, os jornais fizeram referência aos pedidos de renovação das licenças televisivas feitas pela SIC e pela TVI (que caducam em 2007 e cujos pedidos deveriam ser feitos em Fevereiro do próximo ano). O líder do PSD, Marques Mendes, partido actualmente na oposição, "põe em causa, em particular, que a licença da TVI possa ser renovada sem recurso a concurso público" (Expresso, 20 de Agosto), porque houve mudança clara de objectivos relativos aos inicialmente propostos. A TVI fora uma licença concedida à Igreja Católica, depois tomada pela Media Capital, após alterações de percurso, que hoje negoceia com a RTL e a Prisa uma nova partilha de capitais.
Na passada sexta-feira, o atento Manuel Pinto, do blogue Jornalismo e Comunicação, escreveu algumas notas sobre o caso, que passo a citar: "Em primeiro lugar, é muito provável que, relacionados com este caso, haja factos que ocorrem nos bastidores do espaço público que são relevantes para compreender o que se está a passar e que desconhecemos". A que junta: "Em segundo lugar, não é fácil aceitar que haja apenas coincidências, nestas sucessivas tentativas do grupo Prisa de entrar no mercado mediático português. Basta acompanhar a sua trajectória em Espanha e noutros países, para se perceber que se trata de um grupo que, para dizer pouco, «não brinca em serviço»".
O professor de jornalismo da Universidade do Minho continua: "Em terceiro lugar, a prática do governo PS noutras áreas (igualmente estratégicas) faz redobrar as atenções relativamente a qualquer movimentação numa área sensível como a dos media. Em quarto lugar - e aqui bate o ponto - não parece sério que se construa um cenário desta magnitude (uma aliança de governos da mesma cor política para o controlo, por via indirecta, do principal canal televisivo) sem que isso seja apoiado em factos. Não é o facto de Marques Mendes afirmar que o Governo «sabia, acompanhou e ajudou» que dá substância ao referente da afirmação. Dito de outro modo: não é pelo facto de existir a afirmação que existem os factos correspondentes. E não é legítimo tomar a afirmação como prova dos factos. Mas aqui haveria que chamar a atenção para as responsabilidades que cabem ao nosso jornalismo: então o líder do principal partido da oposição afirma, taxativamente, que o Governo está envolvido numa manobra de controlo do principal canal televisivo e ninguém o questiona (tanto quanto me pude aperceber) dos factos em que ele se baseia? Ninguém investiga"?
A posição lida no Expresso é sintomática, dada a SIC pertencer ao mesmo grupo de media. Em artigo assinado por Ana Serzedelo, saído na mesma edição de sábado passado, ela referencia ser normal o procedimento das estações (pelo envolvimento em organizações avaliadas em milhões de euros). Dá voz ao director-geral da SIC mas não regista opinião de qualquer dirigente da TVI.
Curiosa é a peça de anteontem do Diário de Notícias, com o título "RTL não deverá competir com Prisa pelo controlo da Media Capital". Apesar de estratégico o negócio com a TVI, o grupo alemão está concentrado noutros investimentos, pelo que não entrará em "guerra" com a Prisa. E a parte final do artigo, assinado por Paula Brito, avança com a hipótese de a entrada de capitais espanhóis poder significar o aparecimento de um semanário em concorrência com o Expresso, para além da potenciação do porta-fólio da rádio.
São muitas informações, que o blogueiro ainda está a digerir (e que funcionam como tomada de notas mais do que trazer ideias novas). Mas parece que esta última notícia visa descansar os políticos governamentais que um novo semanário até seria útil para combater a presente hegemonia do Expresso (de mercado e de pendor partidário).
terça-feira, 23 de agosto de 2005
FRIDA KAHLO HOJE NO BIOGRAPHY CHANNEL
É as 22:00 que Kahlo passa no Biography Channel. Recordo que escrevi aqui sobre a pintora mexicana no passado dia 14.
Nota colocada a 24 de Agosto, por volta das 8:55: a biografia de Kahlo pareceu-me mal construída, do ponto de vista da narrativa e da sucessão de imagens (recorrendo a desnecessários zooms rápidos). Frases repetidas, recurso às mesmas imagens (fotografias) em diferentes ocasiões, falta de arquivos em termos de recortes de imprensa (por exemplo, capas de revistas internacionais onde a pintora apareceu, imagens das exposições em Nova Iorque e Paris em que participou). Possivelmente haveria mais material, mas a produção deve ter tido um orçamento muito reduzido para fazer o documentário. Finalmente, a presença de biógrafas de Frida - apesar do entusiasmo destas - foi quase sempre descontrolada em relação ao que era mostrado.
É as 22:00 que Kahlo passa no Biography Channel. Recordo que escrevi aqui sobre a pintora mexicana no passado dia 14.
Nota colocada a 24 de Agosto, por volta das 8:55: a biografia de Kahlo pareceu-me mal construída, do ponto de vista da narrativa e da sucessão de imagens (recorrendo a desnecessários zooms rápidos). Frases repetidas, recurso às mesmas imagens (fotografias) em diferentes ocasiões, falta de arquivos em termos de recortes de imprensa (por exemplo, capas de revistas internacionais onde a pintora apareceu, imagens das exposições em Nova Iorque e Paris em que participou). Possivelmente haveria mais material, mas a produção deve ter tido um orçamento muito reduzido para fazer o documentário. Finalmente, a presença de biógrafas de Frida - apesar do entusiasmo destas - foi quase sempre descontrolada em relação ao que era mostrado.
SOBRE OS PÚBLICOS DA CULTURA
Jean-Pierre Esquenazi tem um pequeno mas significativo livro sobre Sociologie des publics, editado há dois anos atrás por La Découverte.
O autor divide em seis grandes concepções a sua definição de público, as quais obedecem a lógicas distintas. Assim, as definições assentam em: 1) o público como objecto em si activado pela obra (perspectiva textual ou semiótica), 2) inquéritos estatísticos (que dão um retrato cultural, tipo "tantos portugueses vêem cinco horas de televisão por dia"), 3) lógicas comerciais dos produtores de objectos (de que emerge a crítica desses produtores como indústrias culturais manipuladoras dos públicos), 4) relação da obra de arte com o público como marcador da hierarquia de classes sociais (Bourdieu, nomeadamente), 5) consumo de cultura a partir de divisores de género sexual ou de nacionalidade, independentemente dos produtos, e 6) tradição etnográfica da sociologia (que privilegia uma concepção mais qualitativa do inquérito).
Vou-me ficar pela sua apresentação da crítica das indústrias culturais (pp. 38-44). A origem da teoria reside no texto de Adorno e Horkheimer A produção industrial de bens culturais, texto violento porque assente em duas pressões sobre os autores: o refúgio nos Estados Unidos devido à violência nazi e a incompreensão da cultura americana (cinema e jazz). Os autores vislumbram uma identidade nas duas civilizações, apoiadas por monopólios. Ambas se organizam em torno da "racionalidade técnica [que] é a racionalidade da dominação". Todos os elementos da cultura subordinam-se aos fins das indústrias culturais, que fabricam produtos desprovidos de surpresa. Mesmo os produtos inovadores são recuperados pelos mecanismos de produção. A fusão da cultura e do divertimento significam a morte da arte.
Há um excesso no texto, considera Esquinazi. E ele vai em busca de dois autores que, embora com uma matriz referencial próxima, se afastam do texto fundador. Um é Armand Mattelart, que na crítica de Adorno e Horkheimer vê o eco do protesto burguês e letrado contra a nova cultura mediática. Assim, a cultura de massa surge como um meio de controlo social. A outra referência autoral é Walter Benjamin que, no seu texto A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica, formula uma base de análise das indústrias culturais. Para este, se a obra de arte significa exposição única, singularidade e originalidade, a sua reprodução ou multiplicação destrói a "aura" da obra. As artes modernas, como a fotografia e o cinema, são em si mesmas artes da reprodução. Daí, Benjamin nos propor uma série de reflexões sobre a recepção.
Esquinazi leva-nos a olhar mais profundamente a evolução da crítica das indústrias culturais, a partir de outras perspectivas. Ele faz a avaliação dos públicos face aos produtos realizados em série. A especialização das indústrias de conteúdo (software) leva-a à separação progressiva das indústrias de hardware, reorganizando a produção. Esta passa de edição (produção lenta e sem identificação de tempo de conclusão) a fluxo (produção contínua diária). Analisa-se o papel do programador: simultaneamente produtor, gestor e vendedor, ele gere o fluxo de programas em função de objectivos comerciais e estratégias que acompanham o interesse do público. O programador utiliza ferramentas estatísticas para adaptar a produção ao ritmo da sociedade. Nesse contexto, a inovação é principalmente tecnológica, o que permite adaptar conteúdos a produtos novos e às lógicas de uso massificado.
Há uma segunda linha de intervenção dos investigadores, que aponta para o estudo de obras particulares, como as séries. Ou, no caso apresentado por Esquinazi, os filmes-catástrofe iniciados nos anos de 1970. Uma terceira linha de trabalho da crítica das indústrias culturais é dada por autores franceses como Edgar Morin e Bernard Miège. Para o primeiro, a criação cultural não está totalmente integrada no sistema de produção industrial, pois um filme novo não é todo idêntico a um anterior, preconizando um ciclo de inovação e estandardização. Miège, anotando a existência de múltiplos canais de distribuição (televisão temática, internet, géneros musicais), salienta a diversificação de públicos, já não estando amarrados à hierarquia social mas sim à escolha no interior de alternativas diferenciadas.
Jean-Pierre Esquenazi tem um pequeno mas significativo livro sobre Sociologie des publics, editado há dois anos atrás por La Découverte.
O autor divide em seis grandes concepções a sua definição de público, as quais obedecem a lógicas distintas. Assim, as definições assentam em: 1) o público como objecto em si activado pela obra (perspectiva textual ou semiótica), 2) inquéritos estatísticos (que dão um retrato cultural, tipo "tantos portugueses vêem cinco horas de televisão por dia"), 3) lógicas comerciais dos produtores de objectos (de que emerge a crítica desses produtores como indústrias culturais manipuladoras dos públicos), 4) relação da obra de arte com o público como marcador da hierarquia de classes sociais (Bourdieu, nomeadamente), 5) consumo de cultura a partir de divisores de género sexual ou de nacionalidade, independentemente dos produtos, e 6) tradição etnográfica da sociologia (que privilegia uma concepção mais qualitativa do inquérito).
Vou-me ficar pela sua apresentação da crítica das indústrias culturais (pp. 38-44). A origem da teoria reside no texto de Adorno e Horkheimer A produção industrial de bens culturais, texto violento porque assente em duas pressões sobre os autores: o refúgio nos Estados Unidos devido à violência nazi e a incompreensão da cultura americana (cinema e jazz). Os autores vislumbram uma identidade nas duas civilizações, apoiadas por monopólios. Ambas se organizam em torno da "racionalidade técnica [que] é a racionalidade da dominação". Todos os elementos da cultura subordinam-se aos fins das indústrias culturais, que fabricam produtos desprovidos de surpresa. Mesmo os produtos inovadores são recuperados pelos mecanismos de produção. A fusão da cultura e do divertimento significam a morte da arte.
Há um excesso no texto, considera Esquinazi. E ele vai em busca de dois autores que, embora com uma matriz referencial próxima, se afastam do texto fundador. Um é Armand Mattelart, que na crítica de Adorno e Horkheimer vê o eco do protesto burguês e letrado contra a nova cultura mediática. Assim, a cultura de massa surge como um meio de controlo social. A outra referência autoral é Walter Benjamin que, no seu texto A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica, formula uma base de análise das indústrias culturais. Para este, se a obra de arte significa exposição única, singularidade e originalidade, a sua reprodução ou multiplicação destrói a "aura" da obra. As artes modernas, como a fotografia e o cinema, são em si mesmas artes da reprodução. Daí, Benjamin nos propor uma série de reflexões sobre a recepção.
Esquinazi leva-nos a olhar mais profundamente a evolução da crítica das indústrias culturais, a partir de outras perspectivas. Ele faz a avaliação dos públicos face aos produtos realizados em série. A especialização das indústrias de conteúdo (software) leva-a à separação progressiva das indústrias de hardware, reorganizando a produção. Esta passa de edição (produção lenta e sem identificação de tempo de conclusão) a fluxo (produção contínua diária). Analisa-se o papel do programador: simultaneamente produtor, gestor e vendedor, ele gere o fluxo de programas em função de objectivos comerciais e estratégias que acompanham o interesse do público. O programador utiliza ferramentas estatísticas para adaptar a produção ao ritmo da sociedade. Nesse contexto, a inovação é principalmente tecnológica, o que permite adaptar conteúdos a produtos novos e às lógicas de uso massificado.
Há uma segunda linha de intervenção dos investigadores, que aponta para o estudo de obras particulares, como as séries. Ou, no caso apresentado por Esquinazi, os filmes-catástrofe iniciados nos anos de 1970. Uma terceira linha de trabalho da crítica das indústrias culturais é dada por autores franceses como Edgar Morin e Bernard Miège. Para o primeiro, a criação cultural não está totalmente integrada no sistema de produção industrial, pois um filme novo não é todo idêntico a um anterior, preconizando um ciclo de inovação e estandardização. Miège, anotando a existência de múltiplos canais de distribuição (televisão temática, internet, géneros musicais), salienta a diversificação de públicos, já não estando amarrados à hierarquia social mas sim à escolha no interior de alternativas diferenciadas.
OS BLOGUES COMO QUINTO PODER
Vital Moreira, um dos blogueiros da Causa Nossa, escreve no jornal Público de hoje um texto sobre os blogues. Diz ele no começo: "Corre nestes dias uma animada troca de opiniões entre vários blogues nacionais sobre a função e o poder dos blogues, bem como sobre as relações entre eles e os media tradicionais".
Mais à frente, lê-se: "Não falta quem já considere a blogosfera como um novo poder, um «quinto poder», ao lado do três poderes tradicionais do Estado (poder legislativo, pode executivo, poder judicial) e do «quarto poder» representado pelos media clássicos. A função dos blogues deveria ser não somente a de fiscalização dos poderes do Estado - função principal dos media numa sociedade aberta -, mas também do poder dos media tradicionais, quer quanto à selectividade da sua agenda mediática, quer quanto ao seu tratamento. Daí a invocação que alguns fazem de uma função privilegiada dos blogues em termos de agenda setting (suscitar temas ignorados pelo poder político e/ou pelos media tradicionais) e de watchdog (função de vigilância e de denúncia dos demais poderes)".
O que chama mais a atenção para o texto é o que ele diz sobre a importância dos blogues no espaço público: "Dada a incipiência da blogosfera, o maior risco consiste em sobrestimar a sua influência". Afinal, grande parte dos blogues nasce "como simples meios de expressão pessoal dos seus autores. Há blogues de artistas, de músicos, de poetas, de cultores de vários saberes, desde a culinária às ciências ocultas". Os blogues estariam assim aptos, no discorrer de Vital Moreira, para suprir as "insuficiências dos media tradicionais [...] ao nível do local, onde existe um grande défice de pluralismo de imprensa, sendo raros, em muitas regiões, os jornais e as rádios locais".
A receita parece boa. Mas pergunto: uma vez que existem rádios em (quase) todos os concelhos - ao contrário do que escreve Vital Moreira -, não haverá a tentação de transferir para os blogues a mesma cultura de repetição de modelos que existem nas rádios locais (e na imprensa regional). A repetição de esterótipos não livraria os blogues desse efeito de novidade e de quase pureza original.
Vital Moreira, um dos blogueiros da Causa Nossa, escreve no jornal Público de hoje um texto sobre os blogues. Diz ele no começo: "Corre nestes dias uma animada troca de opiniões entre vários blogues nacionais sobre a função e o poder dos blogues, bem como sobre as relações entre eles e os media tradicionais".
Mais à frente, lê-se: "Não falta quem já considere a blogosfera como um novo poder, um «quinto poder», ao lado do três poderes tradicionais do Estado (poder legislativo, pode executivo, poder judicial) e do «quarto poder» representado pelos media clássicos. A função dos blogues deveria ser não somente a de fiscalização dos poderes do Estado - função principal dos media numa sociedade aberta -, mas também do poder dos media tradicionais, quer quanto à selectividade da sua agenda mediática, quer quanto ao seu tratamento. Daí a invocação que alguns fazem de uma função privilegiada dos blogues em termos de agenda setting (suscitar temas ignorados pelo poder político e/ou pelos media tradicionais) e de watchdog (função de vigilância e de denúncia dos demais poderes)".
O que chama mais a atenção para o texto é o que ele diz sobre a importância dos blogues no espaço público: "Dada a incipiência da blogosfera, o maior risco consiste em sobrestimar a sua influência". Afinal, grande parte dos blogues nasce "como simples meios de expressão pessoal dos seus autores. Há blogues de artistas, de músicos, de poetas, de cultores de vários saberes, desde a culinária às ciências ocultas". Os blogues estariam assim aptos, no discorrer de Vital Moreira, para suprir as "insuficiências dos media tradicionais [...] ao nível do local, onde existe um grande défice de pluralismo de imprensa, sendo raros, em muitas regiões, os jornais e as rádios locais".
A receita parece boa. Mas pergunto: uma vez que existem rádios em (quase) todos os concelhos - ao contrário do que escreve Vital Moreira -, não haverá a tentação de transferir para os blogues a mesma cultura de repetição de modelos que existem nas rádios locais (e na imprensa regional). A repetição de esterótipos não livraria os blogues desse efeito de novidade e de quase pureza original.
segunda-feira, 22 de agosto de 2005
A INFELICIDADE DE UM PAÍS
Lia-se no Diário Digital (take da Lusa) às 19:21 : "Portugal é o país com a menor taxa de felicidade entre os 15 países que formavam a União Europeia (UE) antes do último alargamento, indica um estudo agora divulgado. O estudo, intitulado «O que Compra a Felicidade?», foi publicado agora pelo Instituto Alemão de Estudo do Trabalho (IZA), sedeado em Bona, e é da autoria de Christian Bornskov, Nabanita Datta Gupta e Peder Pedersen. A análise assentou nos inquéritos promovidos pelo Eurobarómetro […] Os autores fizeram a média das respostas à pergunta «Como classifica em geral a sua satisfação com a vida que leva?», que consta do inquérito, que dá quatro possibilidades de resposta: muito satisfeito, que é quantificado em 4, satisfeito (3), pouco satisfeito (2), nada satisfeito (1). Portugal surge em último lugar com uma média de 2,52 enquanto os dinamarqueses apresentam o valor mais elevado com 3,61. Mais de metade da amostra situa-se acima dos 3 pontos".
Já de manhã havia sido "agredido" com a notícia que dizia que os portugueses aparecem cada vez menos a sorrir nas fotografias dos jornais. Um psicólogo, de nome Armindo Freitas Magalhães, terá analisado mais de cem mil fotografias em jornais diários e concluiu que a redução do sorriso nas fotografias dos jornais tem a ver com a situação atravessada pelo país (imagem da página do Diário de Notícias). Presumo que ele se refira à depressão económica e à vaga de incêndios nas florestas.
Não há mesmo uma pequena alegria que nos faça sorrir? Como ando com as leituras ainda atrasadas, retiro um pedacinho de um texto escrito por Sónia Morais Santos, no DNA de 12 do corrente, a propósito da Microsoft Portuguesa: "A melhor empresa para trabalhar em Portugal acredita nas pessoas. No seu potencial. Não são só os responsáveis que o dizem. São os próprios funcionários. [...] Além da formação, a Microsoft tem prémios que reconhecem os valores: prémios de excelência, prémios para quem se distingue em termos de comportamento, prémios anuais por reconhecimento do desempenho". Naquela empresa, há sempre disponível e gratuitamente fruta, café, chá e água engarrafada. E há uma empresa (ebairro) com quem os colaboradores da Microsoft contam para marcar serviços pessoais: obras em casa, lavandaria, baby-sitter. O tempo que ganham é aproveitado para aumentar a produtividade. Com certeza que as pessoas que lá trabalham têm um grande sorriso todos os dias. Obrigado, Sónia, pela peça. Fico muito menos deprimido!
Lia-se no Diário Digital (take da Lusa) às 19:21 : "Portugal é o país com a menor taxa de felicidade entre os 15 países que formavam a União Europeia (UE) antes do último alargamento, indica um estudo agora divulgado. O estudo, intitulado «O que Compra a Felicidade?», foi publicado agora pelo Instituto Alemão de Estudo do Trabalho (IZA), sedeado em Bona, e é da autoria de Christian Bornskov, Nabanita Datta Gupta e Peder Pedersen. A análise assentou nos inquéritos promovidos pelo Eurobarómetro […] Os autores fizeram a média das respostas à pergunta «Como classifica em geral a sua satisfação com a vida que leva?», que consta do inquérito, que dá quatro possibilidades de resposta: muito satisfeito, que é quantificado em 4, satisfeito (3), pouco satisfeito (2), nada satisfeito (1). Portugal surge em último lugar com uma média de 2,52 enquanto os dinamarqueses apresentam o valor mais elevado com 3,61. Mais de metade da amostra situa-se acima dos 3 pontos".
Já de manhã havia sido "agredido" com a notícia que dizia que os portugueses aparecem cada vez menos a sorrir nas fotografias dos jornais. Um psicólogo, de nome Armindo Freitas Magalhães, terá analisado mais de cem mil fotografias em jornais diários e concluiu que a redução do sorriso nas fotografias dos jornais tem a ver com a situação atravessada pelo país (imagem da página do Diário de Notícias). Presumo que ele se refira à depressão económica e à vaga de incêndios nas florestas.
Não há mesmo uma pequena alegria que nos faça sorrir? Como ando com as leituras ainda atrasadas, retiro um pedacinho de um texto escrito por Sónia Morais Santos, no DNA de 12 do corrente, a propósito da Microsoft Portuguesa: "A melhor empresa para trabalhar em Portugal acredita nas pessoas. No seu potencial. Não são só os responsáveis que o dizem. São os próprios funcionários. [...] Além da formação, a Microsoft tem prémios que reconhecem os valores: prémios de excelência, prémios para quem se distingue em termos de comportamento, prémios anuais por reconhecimento do desempenho". Naquela empresa, há sempre disponível e gratuitamente fruta, café, chá e água engarrafada. E há uma empresa (ebairro) com quem os colaboradores da Microsoft contam para marcar serviços pessoais: obras em casa, lavandaria, baby-sitter. O tempo que ganham é aproveitado para aumentar a produtividade. Com certeza que as pessoas que lá trabalham têm um grande sorriso todos os dias. Obrigado, Sónia, pela peça. Fico muito menos deprimido!
PICCADILLY OR PORTUGAL?
A publicidade exterior em Portugal é basicamente feita nos mupis e nos outdoors. Em Londres, aproveitando a enorme frota de autocarros e de táxis (cabs), a publicidade é feita nestes veículos.
Se, neste momento em Portugal, a maioria da publicidade diz respeito a bebidas - devido ao calor do Verão - em Londres, há uma presença constante de publicidade sobre espectáculos, destinada a chamar a atenção dos turistas naquela cidade. Assim, Os miseráveis ou O fantasma da ópera aparecem nos painéis instalados nos autocarros. Mas também exposições (caso de Frida Kahlo) e filmes a estrear em Agosto.
A publicidade exterior em Portugal é basicamente feita nos mupis e nos outdoors. Em Londres, aproveitando a enorme frota de autocarros e de táxis (cabs), a publicidade é feita nestes veículos.
Se, neste momento em Portugal, a maioria da publicidade diz respeito a bebidas - devido ao calor do Verão - em Londres, há uma presença constante de publicidade sobre espectáculos, destinada a chamar a atenção dos turistas naquela cidade. Assim, Os miseráveis ou O fantasma da ópera aparecem nos painéis instalados nos autocarros. Mas também exposições (caso de Frida Kahlo) e filmes a estrear em Agosto.
O MERCADO DA PUBLICIDADE SEGUNDO O ANUÁRIO DO OBERCOM
A preços de tabela, o investimento publicitário em 2004 e em Portugal foi de €2,995 mil milhões de euros (Obercom, 2005: 347), superior ao do ano anterior (€2,648 mil milhões). A televisão seria o meio de comunicação com um valor mais elevado: €1,893 mil milhões (63%), seguindo-se a imprensa (€675 milhões, 23%). O outdoor é a terceiro meio de comunicação (€225 milhões, 8%). O mês de maior investimento publicitário na televisão em 2004 foi Dezembro, seguindo-se Maio, invertendo-se a posição na imprensa, enquanto em outdoors os meses mais fortes foram Dezembro e Junho (Obercom, 2005: 359). Comparativamente a 2003, houve um crescimento da publicidade institucional do Estado: as rádios nacionais (€160 mil) e as rádios locais (€148 mil) foram as mais beneficiadas.
Dos anunciantes em 2004, a Vodafone liderou (€82,7 milhões), seguindo-se a Procter & Gamble (€67,2 milhões) e Modelo Continente (€66,7 milhões). Em termos de sectores de actividade, indústria da alimentação (12,3%), higiene pessoal (9,8%), serviços e equipamento de comunicação (9,4%) e indústria automóvel (8,3%) foram as mais publicitadas (2005: 355). As principais agências de meios seriam Media Planning, Initiative e Mediaedge, enquanto as principais agências de publicidade foram Euro RSCG MRT, McCann Erikson Portugal e BBDO Portugal.
No sumário executivo referente à publicidade no mesmo volume do Observatório da Comunicação (2005: 347), lê-se que, a nível internacional, os Estados Unidos são o país de maior investimento, seguindo-se o Japão. A nível europeu, o Reino Unido lidera, seguido pela Alemanha. Detecta-se um aumento na televisão e uma redução a nível de imprensa, publicidade exterior e rádio, ao passo que a internet apresenta já valores superiores ao cinema.
Leitura: Obercom (2005). AnuárioComunicação. Lisboa: Obercom, pp. 347-367
A preços de tabela, o investimento publicitário em 2004 e em Portugal foi de €2,995 mil milhões de euros (Obercom, 2005: 347), superior ao do ano anterior (€2,648 mil milhões). A televisão seria o meio de comunicação com um valor mais elevado: €1,893 mil milhões (63%), seguindo-se a imprensa (€675 milhões, 23%). O outdoor é a terceiro meio de comunicação (€225 milhões, 8%). O mês de maior investimento publicitário na televisão em 2004 foi Dezembro, seguindo-se Maio, invertendo-se a posição na imprensa, enquanto em outdoors os meses mais fortes foram Dezembro e Junho (Obercom, 2005: 359). Comparativamente a 2003, houve um crescimento da publicidade institucional do Estado: as rádios nacionais (€160 mil) e as rádios locais (€148 mil) foram as mais beneficiadas.
Dos anunciantes em 2004, a Vodafone liderou (€82,7 milhões), seguindo-se a Procter & Gamble (€67,2 milhões) e Modelo Continente (€66,7 milhões). Em termos de sectores de actividade, indústria da alimentação (12,3%), higiene pessoal (9,8%), serviços e equipamento de comunicação (9,4%) e indústria automóvel (8,3%) foram as mais publicitadas (2005: 355). As principais agências de meios seriam Media Planning, Initiative e Mediaedge, enquanto as principais agências de publicidade foram Euro RSCG MRT, McCann Erikson Portugal e BBDO Portugal.
No sumário executivo referente à publicidade no mesmo volume do Observatório da Comunicação (2005: 347), lê-se que, a nível internacional, os Estados Unidos são o país de maior investimento, seguindo-se o Japão. A nível europeu, o Reino Unido lidera, seguido pela Alemanha. Detecta-se um aumento na televisão e uma redução a nível de imprensa, publicidade exterior e rádio, ao passo que a internet apresenta já valores superiores ao cinema.
Leitura: Obercom (2005). AnuárioComunicação. Lisboa: Obercom, pp. 347-367
domingo, 21 de agosto de 2005
BERND E HILLA BECHER
Eles são um casal, com formações nas áreas da arquitectura e da fotografia, e dedicam-se a fazer imagens de construções industriais como se fossem esculturas monumentais [imagem retirada do sítio Académie Nantes].
A colecção Joe Berardo, em exposição no Centro Cultural de Belém até Janeiro de 2006 - Construir/Desconstruir/Habitar - , tem algumas fotografias destes alemães.
A totalidade das obras apresentadas agora faz parte da importante colecção de Berardo no museu de arte contemporânea em Sintra.
Recordo a importância de trabalhos como os de Kasimir Malevitch, El Lissitzky e Amadeu Souza-Cardoso.
Eles são um casal, com formações nas áreas da arquitectura e da fotografia, e dedicam-se a fazer imagens de construções industriais como se fossem esculturas monumentais [imagem retirada do sítio Académie Nantes].
A colecção Joe Berardo, em exposição no Centro Cultural de Belém até Janeiro de 2006 - Construir/Desconstruir/Habitar - , tem algumas fotografias destes alemães.
A totalidade das obras apresentadas agora faz parte da importante colecção de Berardo no museu de arte contemporânea em Sintra.
Recordo a importância de trabalhos como os de Kasimir Malevitch, El Lissitzky e Amadeu Souza-Cardoso.
DE TANTO BATER O MEU CORAÇÃO PAROU
O filme de 2005 - urso de prata do Festival de Berlim (melhor música) - é de Jacques Audiard (França) e o papel principal está entregue a Romain Duris.
Da sinopse do filme retiro o seguinte: Thomas (Tom) [Romain Duris], de 28 anos, segue a profissão do pai [Niels Arestrup], ligado ao imobiliário. Um encontro leva-o a pensar que pode tornar-se pianista, como a mãe o fora. Prepara uma audição com uma jovem pianista [Linh-Dan-Pham] acabada de chegar da China e que não entende o francês. No filme, há violência mas também momentos de ternura, numa história que se equilibra entre a continuação de uma vida e a busca de um destino diferente.
Na base do filme está outro filme, Fingers, de James Toback (1978), história da mafia novaiorquina que Audiard actualizou para a Paris de hoje, em que o agente imobiliário expulsa violentamente inquilinos ilegais de prédios em destruição ou reconstrução. No Y (caderno do Público), Kathleen Gomes escreve que Tom é um "«easy rider» de casaco de cabedal, botas de «cowboy urbano", "pinta de escroque, escroque que pinta" [no caso: que toca piano]. Claro que a jornalista-crítica de cinema aponta baterias para o actor: "[Duris] é muito e é muito bom. Façam o favor de seguir o cometa".
O filme de 2005 - urso de prata do Festival de Berlim (melhor música) - é de Jacques Audiard (França) e o papel principal está entregue a Romain Duris.
Da sinopse do filme retiro o seguinte: Thomas (Tom) [Romain Duris], de 28 anos, segue a profissão do pai [Niels Arestrup], ligado ao imobiliário. Um encontro leva-o a pensar que pode tornar-se pianista, como a mãe o fora. Prepara uma audição com uma jovem pianista [Linh-Dan-Pham] acabada de chegar da China e que não entende o francês. No filme, há violência mas também momentos de ternura, numa história que se equilibra entre a continuação de uma vida e a busca de um destino diferente.
Na base do filme está outro filme, Fingers, de James Toback (1978), história da mafia novaiorquina que Audiard actualizou para a Paris de hoje, em que o agente imobiliário expulsa violentamente inquilinos ilegais de prédios em destruição ou reconstrução. No Y (caderno do Público), Kathleen Gomes escreve que Tom é um "«easy rider» de casaco de cabedal, botas de «cowboy urbano", "pinta de escroque, escroque que pinta" [no caso: que toca piano]. Claro que a jornalista-crítica de cinema aponta baterias para o actor: "[Duris] é muito e é muito bom. Façam o favor de seguir o cometa".
OS CONSUMOS DO CINEMA EM PORTUGAL
"Um terço dos portugueses nunca vai ao cinema" (Inês Nadais, Público, 10 de Agosto), "Um terço dos portugueses não vai ao cinema" (João Pedro Oliveira e Maria João Caetano, Diário de Notícias, 12 de Agosto). A informação provinha de estudo divulgado pela Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC) e Comissão de Classificação de Espectáculos (CCE), num trabalho feito pela Euroexpansão.
Que outros dados interessantes os jornais publicaram? Dois terços dos nacionais não compram filmes e mais de metade não os aluga. Em termos de nível etário, os jovens entre os 14 e os 17 anos são os que mais vão ao cinema: 45,6% deles garante a ida ao cinema duas vezes por mês em média. São também os jovens os clientes do mercado de aluguer de DVDs. A ida ao cinema torna-se um comportamento minoritário a partir dos 30 anos (14,1% dos inquiridos) e residual nas faixas etárias acima dos 50 anos. Para o director do ICAM, Elísio de Oliveira, as "pessoas que compram DVD são as mesmas que vão ao cinema" (jornal Público). O mercado está virado completamente para o público adolescente, como eu frisei em mensagem anterior [aliás, as imagens que ilustram os textos dos dois jornais apontam para isso: os filmes são Star Wars III, Madagáscar, Guerra dos mundos].
A perda de espectadores (e a correspondente quebra de receitas nas salas de cinema) não se justifica pelo mercado de venda e aluguer de DVD. A crise tem o contraponto no crescimento da pirataria: em destaque, lê-se no Diário de Notícias que quase dois terços da informação partilhada na internet corresponde a ficheiros de vídeo. Hoje, as redes peer-to-peer (redes de amigos) é a plataforma principal de difusão de cópias ilegais de filmes.
Há, ainda, um fenómeno contraditório: o da abertura e encerramento de salas de cinema. Segundo o Diário de Notícias, desde o começo de 2004 até Junho deste ano abriram 91 salas e fecharam 25, com um saldo positivo de mais 66 salas (num total de 998 ecrãs). Entre os novos recintos, destacam-se os Millenium no Freeport de Alcochete (21 ecrãs), pertencente a Paulo Branco, que já abrira, no ano anterior, 16 salas no Alvaláxia XXI, em Lisboa. Há rumores que a empresa está em processo de insolvência, mas o seu dono não comenta. E para o começo do próximo ano prevêm-se oito salas aqui ao lado, no Campo Pequeno.
Sentido, sentido, foi o encerrar de portas do cinema de S. Mateus (Viseu), como se lia no local Centro do Público de 10 de Agosto. A sala abrira há quase 23 anos, com Em busca da esmeralda perdida, e fecharia este mês com o filme Quem tem medo do papão? [será que os títulos têm alguma relação com a histótia do cinema?] Os espectadores, diz a peça assinada por Marisa Miranda (com fotografias de Carla Carvalho Tomás), frequentam agora os cinemas dos centros comerciais: Palácio do Gelo (três salas e abertura próxima de mais) e Fórum Viseu (que terá seis salas este ano ainda). Cada cinema que morre deixa uma época para trás - filmes, relações pessoais, circuitos de consumo e cultura. Mas a vida é assim mesmo! O contraditório acima assinalado vai pesar, com certeza, contra as salas de cinema.
Observação: pela inserção das imagens nos dois jornais, percebe-se que o Diário de Notícias tem uma leitura mais maleável e agradável que o Público. A cor e a possibilidade das imagens "morderem" o texto dá ao Diário de Notícias um ar de modernidade face a um jornal, o Público, que, novo de quinze anos, tem um layout clássico, sem permissão de grande inovação.
"Um terço dos portugueses nunca vai ao cinema" (Inês Nadais, Público, 10 de Agosto), "Um terço dos portugueses não vai ao cinema" (João Pedro Oliveira e Maria João Caetano, Diário de Notícias, 12 de Agosto). A informação provinha de estudo divulgado pela Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC) e Comissão de Classificação de Espectáculos (CCE), num trabalho feito pela Euroexpansão.
Que outros dados interessantes os jornais publicaram? Dois terços dos nacionais não compram filmes e mais de metade não os aluga. Em termos de nível etário, os jovens entre os 14 e os 17 anos são os que mais vão ao cinema: 45,6% deles garante a ida ao cinema duas vezes por mês em média. São também os jovens os clientes do mercado de aluguer de DVDs. A ida ao cinema torna-se um comportamento minoritário a partir dos 30 anos (14,1% dos inquiridos) e residual nas faixas etárias acima dos 50 anos. Para o director do ICAM, Elísio de Oliveira, as "pessoas que compram DVD são as mesmas que vão ao cinema" (jornal Público). O mercado está virado completamente para o público adolescente, como eu frisei em mensagem anterior [aliás, as imagens que ilustram os textos dos dois jornais apontam para isso: os filmes são Star Wars III, Madagáscar, Guerra dos mundos].
A perda de espectadores (e a correspondente quebra de receitas nas salas de cinema) não se justifica pelo mercado de venda e aluguer de DVD. A crise tem o contraponto no crescimento da pirataria: em destaque, lê-se no Diário de Notícias que quase dois terços da informação partilhada na internet corresponde a ficheiros de vídeo. Hoje, as redes peer-to-peer (redes de amigos) é a plataforma principal de difusão de cópias ilegais de filmes.
Há, ainda, um fenómeno contraditório: o da abertura e encerramento de salas de cinema. Segundo o Diário de Notícias, desde o começo de 2004 até Junho deste ano abriram 91 salas e fecharam 25, com um saldo positivo de mais 66 salas (num total de 998 ecrãs). Entre os novos recintos, destacam-se os Millenium no Freeport de Alcochete (21 ecrãs), pertencente a Paulo Branco, que já abrira, no ano anterior, 16 salas no Alvaláxia XXI, em Lisboa. Há rumores que a empresa está em processo de insolvência, mas o seu dono não comenta. E para o começo do próximo ano prevêm-se oito salas aqui ao lado, no Campo Pequeno.
Sentido, sentido, foi o encerrar de portas do cinema de S. Mateus (Viseu), como se lia no local Centro do Público de 10 de Agosto. A sala abrira há quase 23 anos, com Em busca da esmeralda perdida, e fecharia este mês com o filme Quem tem medo do papão? [será que os títulos têm alguma relação com a histótia do cinema?] Os espectadores, diz a peça assinada por Marisa Miranda (com fotografias de Carla Carvalho Tomás), frequentam agora os cinemas dos centros comerciais: Palácio do Gelo (três salas e abertura próxima de mais) e Fórum Viseu (que terá seis salas este ano ainda). Cada cinema que morre deixa uma época para trás - filmes, relações pessoais, circuitos de consumo e cultura. Mas a vida é assim mesmo! O contraditório acima assinalado vai pesar, com certeza, contra as salas de cinema.
Observação: pela inserção das imagens nos dois jornais, percebe-se que o Diário de Notícias tem uma leitura mais maleável e agradável que o Público. A cor e a possibilidade das imagens "morderem" o texto dá ao Diário de Notícias um ar de modernidade face a um jornal, o Público, que, novo de quinze anos, tem um layout clássico, sem permissão de grande inovação.
sábado, 20 de agosto de 2005
GUIA EDITORIAL DO BLOGREPORTERS
O BlogReporters já lançou o seu guia editorial, esperando começar a publicar a partir do dia 1 do próximo mês. O BlogReporters é um projecto que "privilegia a participação de várias pessoas, num mesmo espaço de publicação de textos jornalísticos". O seu mentor é Hugo Neves da Silva, que ao lançar este guia torna clara "a existência de um documento no qual sejam expressas e publicitadas um conjunto de normas éticas e técnicas, segundo o qual este blogue se deverá reger".
O BlogReporters já lançou o seu guia editorial, esperando começar a publicar a partir do dia 1 do próximo mês. O BlogReporters é um projecto que "privilegia a participação de várias pessoas, num mesmo espaço de publicação de textos jornalísticos". O seu mentor é Hugo Neves da Silva, que ao lançar este guia torna clara "a existência de um documento no qual sejam expressas e publicitadas um conjunto de normas éticas e técnicas, segundo o qual este blogue se deverá reger".
O MERCADO DO CINEMA SEGUNDO O ANUÁRIO DO OBERCOM
Mostrando que o cinema é uma indústria cultural madura, o AnuárioComunicação 2004-2005, do Obercom, agora editado, divide-a em três sectores - produção, distribuição e exibição, seguindo a sua cadeia de valor, distinguindo a realidade internacional e a nacional.
Segundo os dados mais recentes, o cinema europeu reduziu a produção de filmes. O mesmo trabalho aponta para o crescimento do investimento na França e um maior número de filmes rodados no Reino Unido. Já quanto à distribuição, a empresa líder do mercado europeu é a Buena Vista (17,7%), seguida pela UIP (17%). A Bélgica é o país com maior número de filmes estreados (555), seguindo-se a Espanha (527). Os filmes exibidos têm uma proveniência acentuada dos Estados Unidos (71,4%), com o título Shrek 2 a ser o mais visto (43 milhões de espectadores). O filme europeu mais visto foi Bridget Jones: the edge of reason (17 milhões).
Portugal teve, em 2004, 15 longas-metragens produzidas (incluídas cinco co-produções), 14 documentários e oito filmes de animação (Obercom, 2005: 91). O apoio financeiro público subiu ligeiramente, após dois anos de quebra, embora não haja ainda números fechados [no primeiro quadro da p. 96 do anuário, há indicação de valores para 2003 (€22,489 milhões) e 2004 (€21,9 milhões)]. As longas metragens absorvem uma grande fatia deste investimento público, incluindo as primeiras obras (dados de 2003). Em termos de distribuição, Portugal estreou 300 títulos, de que se destacam as salas da Lusomundo Audiovisuais, com 89 títulos novos. Por origem, a maior remessa vem dos Estados Unidos (120 títulos estreados) e da Europa (81). A maioria dos filmes foi classificada para maiores de 12 anos (184), ilustrando que o cinema é uma indústria cultural atenta à adolescência, onde vai buscar muitos dos seus espectadores.
Quanto a exibição, havia, em 2004, 269 recintos de cinema em actividade (Obercom, 2005: 119), com grande concentração em Lisboa, Porto, Setúbal e Faro. De modo igual à União Europeia, o filme mais visto foi Shrek 2 (730 mil espectadores). Também Bridget Jones: the edge of reason foi o filme europeu mais visto no nosso país (267 mil espectadores). Já os filmes nacionais tiveram menor visibilidade: Sorte nula alcançou os 45,7 mil espectadores, seguindo-se Balas e bolinhos (45 mil).
Mostrando que o cinema é uma indústria cultural madura, o AnuárioComunicação 2004-2005, do Obercom, agora editado, divide-a em três sectores - produção, distribuição e exibição, seguindo a sua cadeia de valor, distinguindo a realidade internacional e a nacional.
Segundo os dados mais recentes, o cinema europeu reduziu a produção de filmes. O mesmo trabalho aponta para o crescimento do investimento na França e um maior número de filmes rodados no Reino Unido. Já quanto à distribuição, a empresa líder do mercado europeu é a Buena Vista (17,7%), seguida pela UIP (17%). A Bélgica é o país com maior número de filmes estreados (555), seguindo-se a Espanha (527). Os filmes exibidos têm uma proveniência acentuada dos Estados Unidos (71,4%), com o título Shrek 2 a ser o mais visto (43 milhões de espectadores). O filme europeu mais visto foi Bridget Jones: the edge of reason (17 milhões).
Portugal teve, em 2004, 15 longas-metragens produzidas (incluídas cinco co-produções), 14 documentários e oito filmes de animação (Obercom, 2005: 91). O apoio financeiro público subiu ligeiramente, após dois anos de quebra, embora não haja ainda números fechados [no primeiro quadro da p. 96 do anuário, há indicação de valores para 2003 (€22,489 milhões) e 2004 (€21,9 milhões)]. As longas metragens absorvem uma grande fatia deste investimento público, incluindo as primeiras obras (dados de 2003). Em termos de distribuição, Portugal estreou 300 títulos, de que se destacam as salas da Lusomundo Audiovisuais, com 89 títulos novos. Por origem, a maior remessa vem dos Estados Unidos (120 títulos estreados) e da Europa (81). A maioria dos filmes foi classificada para maiores de 12 anos (184), ilustrando que o cinema é uma indústria cultural atenta à adolescência, onde vai buscar muitos dos seus espectadores.
Quanto a exibição, havia, em 2004, 269 recintos de cinema em actividade (Obercom, 2005: 119), com grande concentração em Lisboa, Porto, Setúbal e Faro. De modo igual à União Europeia, o filme mais visto foi Shrek 2 (730 mil espectadores). Também Bridget Jones: the edge of reason foi o filme europeu mais visto no nosso país (267 mil espectadores). Já os filmes nacionais tiveram menor visibilidade: Sorte nula alcançou os 45,7 mil espectadores, seguindo-se Balas e bolinhos (45 mil).
CÉLIA
Ouço a Célia dizer: "Passo pelo ginásio e corro todo o dia. Gosto de viver na cidade, mas cansa-me. Espero que se veja que quero estar sempre bem. [...] Claro, conheço muita gente. Sou sociável e, além disso, boa amiga. Mas quando me fazem alguma coisa, eu a devolvo, isso é que é".
Nos comentários às suas afirmações, eu leio: 1) tem uma energia incrível e uma vida social muito intensa, 2) é do signo do Escorpião, 3) apesar das muitas amizades, é rancorosa, pelo que elas não duram muito, 4) um jovem apaixonado teve pouca sorte, quando ela estava armada com o príncipe azul (magnata dos petróleos); contudo, o jovem continua na esperança de a levar ao cinema e lhe contar o seu segredo.
Mas quem é Célia? Ela vem de longe, da Patagónia, no sul da Argentina, ao que eu descobri no mapa. Se em Portugal faz muito calor, a Célia deve andar cheia de roupa. Tem sorte: pode ver pinguins ao pé de si, ao passo que eu só os vejo no Oceanário [e, depois de ter visto o filme de animação Madagascar, fiquei com a convicção de que eles são uns animais inteligentes].
A Célia é uma construção de Alberto Brandi, que tem personagens espantosas no seu blogue argentino ¿Cara de qué?. Ele desenha uma personagem, dá-lhe atributos e fica à espera de contributos de leitores para preencher a personagem com mais traços. É, assim, um blogue interactivo e muito lúdico. Aconselho vivamente uma visita ao ¿Cara de qué? e a que deixem comentários. O blogueiro ainda tem um sítio, Obras de Alberto Brandi, onde apresenta obras da sua autoria, bem como contos e poesias. É um autor cheio - será que a Patagónia tem dias mais compridos do que em Portugal?
Ouço a Célia dizer: "Passo pelo ginásio e corro todo o dia. Gosto de viver na cidade, mas cansa-me. Espero que se veja que quero estar sempre bem. [...] Claro, conheço muita gente. Sou sociável e, além disso, boa amiga. Mas quando me fazem alguma coisa, eu a devolvo, isso é que é".
Nos comentários às suas afirmações, eu leio: 1) tem uma energia incrível e uma vida social muito intensa, 2) é do signo do Escorpião, 3) apesar das muitas amizades, é rancorosa, pelo que elas não duram muito, 4) um jovem apaixonado teve pouca sorte, quando ela estava armada com o príncipe azul (magnata dos petróleos); contudo, o jovem continua na esperança de a levar ao cinema e lhe contar o seu segredo.
Mas quem é Célia? Ela vem de longe, da Patagónia, no sul da Argentina, ao que eu descobri no mapa. Se em Portugal faz muito calor, a Célia deve andar cheia de roupa. Tem sorte: pode ver pinguins ao pé de si, ao passo que eu só os vejo no Oceanário [e, depois de ter visto o filme de animação Madagascar, fiquei com a convicção de que eles são uns animais inteligentes].
A Célia é uma construção de Alberto Brandi, que tem personagens espantosas no seu blogue argentino ¿Cara de qué?. Ele desenha uma personagem, dá-lhe atributos e fica à espera de contributos de leitores para preencher a personagem com mais traços. É, assim, um blogue interactivo e muito lúdico. Aconselho vivamente uma visita ao ¿Cara de qué? e a que deixem comentários. O blogueiro ainda tem um sítio, Obras de Alberto Brandi, onde apresenta obras da sua autoria, bem como contos e poesias. É um autor cheio - será que a Patagónia tem dias mais compridos do que em Portugal?
MONTRAS DE LOJAS DA RUA DIREITA (VISEU)
Para mim, esta rua viseense é um fascínio. Perto quer do museu Grão Vasco e da Sé, quer do centro da cidade (Câmara), trata-se de uma rua estreita, medieval e nada linear como parece indicar o seu nome, que está dedicada ao comércio, com pequenas lojas. A maioria delas é de roupa e de sapatos, mas há ainda uma livraria (não muito dotada), algumas pastelarias (confeitarias), onde se vendem cavacas, o doce da região, e lojas de artigos diversos. Durante o dia é um corropio de gente. É certo que falta o arrojo estético das montras das lojas de Londres, como apresentei aqui anteontem, mas sempre que vou a Viseu por esta altura do ano - cidade que gosto muito, em especial para apreciar a pintura de Vasco Fernandes -, dou uma espreitadela às montras das lojas da rua Direita!
Observam-se diversas lojas com roupas de noiva nas montras. A explicação que eu dou é que, nesta altura, há muitos emigrantes (em especial de França e Suíça, que os ouvi a falarem na rua), aproveitando a ocasião para casamentos na "terra".
Para mim, esta rua viseense é um fascínio. Perto quer do museu Grão Vasco e da Sé, quer do centro da cidade (Câmara), trata-se de uma rua estreita, medieval e nada linear como parece indicar o seu nome, que está dedicada ao comércio, com pequenas lojas. A maioria delas é de roupa e de sapatos, mas há ainda uma livraria (não muito dotada), algumas pastelarias (confeitarias), onde se vendem cavacas, o doce da região, e lojas de artigos diversos. Durante o dia é um corropio de gente. É certo que falta o arrojo estético das montras das lojas de Londres, como apresentei aqui anteontem, mas sempre que vou a Viseu por esta altura do ano - cidade que gosto muito, em especial para apreciar a pintura de Vasco Fernandes -, dou uma espreitadela às montras das lojas da rua Direita!
Observam-se diversas lojas com roupas de noiva nas montras. A explicação que eu dou é que, nesta altura, há muitos emigrantes (em especial de França e Suíça, que os ouvi a falarem na rua), aproveitando a ocasião para casamentos na "terra".
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