JORNAIS GRATUITOS
Na aula de 3 de Novembro último, contou-se com a presença de Nuno Henrique Luz, director do gratuito Metro. Trata-se do segundo maior jornal em audiência e o jornal de maior tiragem no país (150 mil exemplares, dos quais 115 mil são distribuidos em Lisboa, nas estações de metro; no Porto, cidade que conta com o jornal há quatro meses, distribuem-se 35 mil, metade dos quais em autocarros) [o Correio da Manhã, jornal pago, tem 116 mil exemplares diários].
Da intervenção de Nuno Henrique Luz, detectei quatro grandes linhas de discurso. A primeira é o efeito de atracção informativa e gráfica do seu jornal. Para ele, se a primeira parte do jornal é mais neutra na informação que presta, a segunda parte é mais agradável, com secções de lazer e de desporto, fazendo dela uma área de grande proximidade com o leitor (mais lifestyle). Aqui entra o perfil do público-alvo do Metro: jovem, urbano, com algum grau de sofisticação. O tipo de distribuição usado representa, para além de canal de baixo custo, um veículo importante na massificação pretendida pelo jornal. O ideal é chegar à distribuição junto dos semáforos, nas universidades e nos escritórios.
A segunda linha da sua intervenção prendeu-se com a área comercial, a qual tem uma visão simples mas clara do que pretende: os anúncios publicados apontam para a captação de audiências com um determinado perfil, vendido aos anunciantes. Por exemplo, o Metro tem mais leitores da classe ABC que o jornal Público, dado editar o dobro de exemplares, o que o torna muito apetecível para os anunciantes.
A terceira ideia fundamental de Nuno Henrique Luz foi o relacionamento entre imprensa gratuita e imprensa paga. Conforme as suas palavras, os gratuitos contribuem para ler (também) jornais pagos, e uma apetência para a leitura. Parte importante dos leitores do Metro não tinham hábitos de leitura. O director do Metro tem uma interpretação interessante (não digo que incorrecta) sobre tiragens. Para ele, a subida de tiragens dos jornais pagos ocorre ao fim-de-semana (dias a que o seu jornal não sai). Logo, o Metro criou hábitos de leitura. Claro que - e aqui o fazedor da mensagem demarca-se - os jornais de sábado e domingo traduzem um hábito antigo; por isso, ele trazem suplementos coloridos com notícias leves, mais do tipo lifestyle. E também porque a imprensa paga se fez acompanhar de produtos associados, como livros e DVDs, que resultaram bem nos mercado português e espanhol.
Finalmente, a última linha de força que percebi na sua comunicação ligou-se à produção jornalística. Para além de 15 jornalistas na redacção, esta conta com o apoio da redacção da Media Capital Multimedia (que engloba ainda o Portugal Digital, a IOL e a Agência Financeira). A Media Capital é um dos accionistas de referência do Metro, e em cujas instalações funciona a redacção, em Queluz de Baixo. Cada jornalista é "dono" de uma página, pelo que a faz totalmente, desde a notícia até à construção da página em Quark Express (existem cerca de 10 modelos de template). Além da equipa redactorial, o jornal possui dois photo editors, o que é inovador face aos outros jornais, segundo Nuno Henrique Luz. O jornal é muito popular, dada a quantidade de cartas e de mensagens electrónicas, pelo que o que aparece no jornal constitui uma parte pequena.
Presidente sueco do jornal Metro Internacional afirma que jornais pagos só aos fins-de-semana
Segundo o Público de ontem, Pelle Tornberg, presidente do Metro Internacional prevê que as publicações gratuitas substituirão os diários pagos, que apenas sobreviverão aos fins-de-semana. O modelo que ele aplica é o da televisão paga e televisão gratuita.
Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
quarta-feira, 30 de novembro de 2005
terça-feira, 29 de novembro de 2005
VIAGENS PELA PALAVRA - UM LIVRO DE HOMENAGEM A LAURA PIRES
No próximo dia 6 de Dezembro, pelas 18:00, na Universidade Aberta (Sala dos Actos, à rua da Escola Politécnica, 147, em Lisboa), será lançado o livro Viagens pela palavra, coordenado por Mário Avelar, uma homenagem a Maria Laura Bettencourt Pires.
Tenho um carinho e uma admiração especial pela Professora Laura Pires. Comecei a dar aulas no mestrado de comunicação na UCP quando ela era sua coordenadora. No momento em que eu estava a trabalhar o texto das Vozes da rádio, descobri o seu texto História da literatura infantil portuguesa (1982), onde analisa uma fileira de publicações ao longo do século XX, que me orientaram na pesquisa dos programas infantis da rádio (pois diversos desses projectos radiofónicos para as crianças nasceram associados a publicações).
Mais recentemente, em 2004, a professora Laura Pires publicou Teorias da Cultura, uma edição da Universidade Católica Portuguesa - e que publicitei aqui no blogue. No livro, ela fala de autores tão diversos como Adorno, Althusser, Gramsci, Giddens, Vattimo e Virilio.
No próximo dia 6 de Dezembro, pelas 18:00, na Universidade Aberta (Sala dos Actos, à rua da Escola Politécnica, 147, em Lisboa), será lançado o livro Viagens pela palavra, coordenado por Mário Avelar, uma homenagem a Maria Laura Bettencourt Pires.
Tenho um carinho e uma admiração especial pela Professora Laura Pires. Comecei a dar aulas no mestrado de comunicação na UCP quando ela era sua coordenadora. No momento em que eu estava a trabalhar o texto das Vozes da rádio, descobri o seu texto História da literatura infantil portuguesa (1982), onde analisa uma fileira de publicações ao longo do século XX, que me orientaram na pesquisa dos programas infantis da rádio (pois diversos desses projectos radiofónicos para as crianças nasceram associados a publicações).
Mais recentemente, em 2004, a professora Laura Pires publicou Teorias da Cultura, uma edição da Universidade Católica Portuguesa - e que publicitei aqui no blogue. No livro, ela fala de autores tão diversos como Adorno, Althusser, Gramsci, Giddens, Vattimo e Virilio.
A MEDIA CAPITAL DE NOVO NA AGENDA DOS JORNAIS
Já vão longe as querelas sobre a saída de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI e da aquisição de parte do capital da Media Capital pela Prisa, cada uma a despertar violentos ataques dos partidos políticos. Agora assiste-se a uma não menos explosiva história: quem controla a Media Capital? Disso dão exemplo os títulos do Diário de Notícias de ontem ("Paes do Amaral nega guerra entre RTL e Prisa na Media Capital") e no Público de hoje ("Prisa não sabia que RTL ia reforçar peso na Media Capital").
Segundo a infografia que acompanhava o texto de ontem do Diário de Notícias, assinado por Paula Brito, a participação accionista distribui-se pela Prisa (33%), RTL (32,2%), Paes do Amaral (13%) e disperso em bolsa (21,8%). Isto significa que Paes do Amaral passou de patrão da Media Capital (e da TVI) a árbitro, o que não deixa de ser uma posição igualmente interessante. Para além de tudo, a peça é importante porque descreve três cenários, o último dos quais me parece mais sensato, o da união de esforços do capital internacional e não a digladiação entre os dois conglomerados dos media. É nesse sentido que apontam as palavras de Paes do Amaral, no final do texto do Diário de Notícias, onde se espera o aparecimento de uma rádio de informação (anunciado pela Prisa) [o que implica uma nova lei da rádio, porque, pelas minhas contas, há muito que a Media Capital superou o número de estações pertencentes a um só proprietário permitidas pela lei, conquanto tenha aproveitado frequências que comprou e as tenha usado para as suas estações já existentes] e a dinamização das outras estações, além do possível reforço de publicações, bem como o know-how da RTL em televisão.
Entretanto, da notícia de hoje do Público não parece partilhar-se o desejo de uma coligação de interesses entre os dois conglomerados. Isto se a legenda que acompanha a imagem estiver correcta: "Grupo da TVI pode vir a assistir a uma luta entre gigantes dos media".
Já vão longe as querelas sobre a saída de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI e da aquisição de parte do capital da Media Capital pela Prisa, cada uma a despertar violentos ataques dos partidos políticos. Agora assiste-se a uma não menos explosiva história: quem controla a Media Capital? Disso dão exemplo os títulos do Diário de Notícias de ontem ("Paes do Amaral nega guerra entre RTL e Prisa na Media Capital") e no Público de hoje ("Prisa não sabia que RTL ia reforçar peso na Media Capital").
Segundo a infografia que acompanhava o texto de ontem do Diário de Notícias, assinado por Paula Brito, a participação accionista distribui-se pela Prisa (33%), RTL (32,2%), Paes do Amaral (13%) e disperso em bolsa (21,8%). Isto significa que Paes do Amaral passou de patrão da Media Capital (e da TVI) a árbitro, o que não deixa de ser uma posição igualmente interessante. Para além de tudo, a peça é importante porque descreve três cenários, o último dos quais me parece mais sensato, o da união de esforços do capital internacional e não a digladiação entre os dois conglomerados dos media. É nesse sentido que apontam as palavras de Paes do Amaral, no final do texto do Diário de Notícias, onde se espera o aparecimento de uma rádio de informação (anunciado pela Prisa) [o que implica uma nova lei da rádio, porque, pelas minhas contas, há muito que a Media Capital superou o número de estações pertencentes a um só proprietário permitidas pela lei, conquanto tenha aproveitado frequências que comprou e as tenha usado para as suas estações já existentes] e a dinamização das outras estações, além do possível reforço de publicações, bem como o know-how da RTL em televisão.
Entretanto, da notícia de hoje do Público não parece partilhar-se o desejo de uma coligação de interesses entre os dois conglomerados. Isto se a legenda que acompanha a imagem estiver correcta: "Grupo da TVI pode vir a assistir a uma luta entre gigantes dos media".
JORNALISMO - UMA PROFISSÃO ADMIRADA
Retiro do Diário de Notícias de hoje, em peça assinada por Céu Neves: "Os jornalistas ascenderam em Novembro ao primeiro lugar no barómetro das profissões [DN/TSF/Marktest]. São admirados tanto por homens como por mulheres, de todas as idades, mas em especial pelos que vivem no Sul do País, pertencem às classes média e baixa e votam no PSD".
Retiro do Diário de Notícias de hoje, em peça assinada por Céu Neves: "Os jornalistas ascenderam em Novembro ao primeiro lugar no barómetro das profissões [DN/TSF/Marktest]. São admirados tanto por homens como por mulheres, de todas as idades, mas em especial pelos que vivem no Sul do País, pertencem às classes média e baixa e votam no PSD".
PÚBLICOS DO CINEMA
A maior parte das investigações ocupa-se em descrever a história do sector ou a estrutura económica nos seus três ramos: produção, distribuição e exibição (Fernández et al., 2002: 47). O mundo dos espectadores não tem sido trabalhado.
Num dos textos mais antigos produzidos em Espanha [Cuadrado e Frasquet, 1999], foi trabalhado o universo de espectadores dos 15 aos 35 anos na província de Valência. Como primeiro resultado, o público foi dividido em três grupos: 1) aficionados, 2) os que assistem por causas de relações sociais, e 3) apáticos. Logicamente, o primeiro grupo é o que frequenta mais as salas de cinema. Os consumidores dos segundo e terceiro grupo elegem os multiplexes, situados nos centros comerciais, com mais frequência que o grupo dos aficionados. Este frequenta mais assiduamente as salas de cinema tradicionais (2002: 49). Entre os aficionados abundam as mulheres e os que possuem níveis de estudo mais elevados. Ao contrário, os que assistem por razões sociais são maioritariamente do sexo masculino e também mais jovens. Nos três segmentos predominam indivíduos de rendimentos médios.
Nos estudos anglo-saxónicos, começou-se a pôr em destaque a influência das condições e características das salas de projecção e de alguns serviços periféricos sobre a assistência do público. Isto levou Cuadrado e Frasquet a darem importância às condições técnicas (conforto, condições do ecrã, som e imagem) e frequência das estreias.
Outros trabalhos [Férnandez, 1998; Redondo, 2000] usaram a metodologia das tabelas de contingência. No primeiro, surgem informações sobre características socioeconómicas do entrevistado (idade, estado civil, nível de estudos) e sobre a sua história profissional (relação com a actividade produtiva, experiência no posto de trabalho, empregos anteriores). O segundo é um inquérito de opinião sobre diversos temas de carácter sociológico. Entre eles introduziu-se uma pergunta relativa a hábitos de lazer do indivíduo, incluindo o consumo de alguns bens de consumo cultural.
Dos resultados, conclui-se que o cinema é um assunto de jovens. As salas alimentam-se principalmente de estratos de população menores de 30 anos, enquanto a presença de maiores de 45 anos é mínima e, a partir dos 60, é residual. O nível educativo também é uma qualidade muito relevante para caracterizar o espectador. A sua incidência sobre a assistência é positiva e crescente. Consequentemente, os indivíduos com estudos universitários são os que mostram maior interesse. No sentido contrário, as responsabilidades familiares convertem-se num dos maiores obstáculos à ida ao cinema. As actividades do lar e a presença de filhos menores e outras pessoas dependentes reduz os índices de presença (2002: 51).
Desde os anos 1970 tem-se produzido um fenómeno de reconversão das salas de cinema, desaparecendo progressivamente os grandes locais tradicionais, com um único ecrã, passando a haver outros espaços com salas múltiplas. E, se os anos 1980 foram os dos mini-cinemas, os anos 1990 representaram o momento dos multiplexes e dos megaplexes, localizados nos grandes centros comerciais, ligados às novas tendências de lazer da população. As novas salas, ainda que de dimensões mais reduzidas que as tradicionais mas em número elevado e mais confortáveis, permitiram recuperar o número de espectadores.
Os autores do livro agora em referência trabalharam ainda sobre um anuário de hábitos de consumo cultural, que inclui artes cénicas, discos, audiovisual, leitura e outras actividades de lazer, usando tabelas de contingência sobre a óptica do consumidor. Assim, foram empregues variáveis como idade, sexo, nível educativo, responsabilidades familiares e classe social entre outras, procurando-se saber a atitude do indivíduo perante os bens culturais e as razões que motivam a escolha de um produto ou outro e o interesse que proporciona a escolha.
Quais as razões que levam muitos potenciais espectadores a não irem ao cinema? Há quatro razões: 1) televisão, um poderoso substituto do cinema, 2) barreira económica, que pesa nos mais jovens, 3) falta de infra-estruturas cinematográficas, e 4) ausência de cinemas em muitas localidades. À concorrência da televisão - onde se podem ver noticiários, filmes e reportagens - juntam-se o vídeo e o aluguer de filmes vídeo (2002: 57).
Leitura: Víctor Fernández, Juan Prieto, Cristina Muñiz e Rubén Gutierréz (2002). Cinéfilos, videoadictos y telespectadores. Madrid: Fundación Autor, pp. 47-58
A maior parte das investigações ocupa-se em descrever a história do sector ou a estrutura económica nos seus três ramos: produção, distribuição e exibição (Fernández et al., 2002: 47). O mundo dos espectadores não tem sido trabalhado.
Num dos textos mais antigos produzidos em Espanha [Cuadrado e Frasquet, 1999], foi trabalhado o universo de espectadores dos 15 aos 35 anos na província de Valência. Como primeiro resultado, o público foi dividido em três grupos: 1) aficionados, 2) os que assistem por causas de relações sociais, e 3) apáticos. Logicamente, o primeiro grupo é o que frequenta mais as salas de cinema. Os consumidores dos segundo e terceiro grupo elegem os multiplexes, situados nos centros comerciais, com mais frequência que o grupo dos aficionados. Este frequenta mais assiduamente as salas de cinema tradicionais (2002: 49). Entre os aficionados abundam as mulheres e os que possuem níveis de estudo mais elevados. Ao contrário, os que assistem por razões sociais são maioritariamente do sexo masculino e também mais jovens. Nos três segmentos predominam indivíduos de rendimentos médios.
Nos estudos anglo-saxónicos, começou-se a pôr em destaque a influência das condições e características das salas de projecção e de alguns serviços periféricos sobre a assistência do público. Isto levou Cuadrado e Frasquet a darem importância às condições técnicas (conforto, condições do ecrã, som e imagem) e frequência das estreias.
Outros trabalhos [Férnandez, 1998; Redondo, 2000] usaram a metodologia das tabelas de contingência. No primeiro, surgem informações sobre características socioeconómicas do entrevistado (idade, estado civil, nível de estudos) e sobre a sua história profissional (relação com a actividade produtiva, experiência no posto de trabalho, empregos anteriores). O segundo é um inquérito de opinião sobre diversos temas de carácter sociológico. Entre eles introduziu-se uma pergunta relativa a hábitos de lazer do indivíduo, incluindo o consumo de alguns bens de consumo cultural.
Dos resultados, conclui-se que o cinema é um assunto de jovens. As salas alimentam-se principalmente de estratos de população menores de 30 anos, enquanto a presença de maiores de 45 anos é mínima e, a partir dos 60, é residual. O nível educativo também é uma qualidade muito relevante para caracterizar o espectador. A sua incidência sobre a assistência é positiva e crescente. Consequentemente, os indivíduos com estudos universitários são os que mostram maior interesse. No sentido contrário, as responsabilidades familiares convertem-se num dos maiores obstáculos à ida ao cinema. As actividades do lar e a presença de filhos menores e outras pessoas dependentes reduz os índices de presença (2002: 51).
Desde os anos 1970 tem-se produzido um fenómeno de reconversão das salas de cinema, desaparecendo progressivamente os grandes locais tradicionais, com um único ecrã, passando a haver outros espaços com salas múltiplas. E, se os anos 1980 foram os dos mini-cinemas, os anos 1990 representaram o momento dos multiplexes e dos megaplexes, localizados nos grandes centros comerciais, ligados às novas tendências de lazer da população. As novas salas, ainda que de dimensões mais reduzidas que as tradicionais mas em número elevado e mais confortáveis, permitiram recuperar o número de espectadores.
Os autores do livro agora em referência trabalharam ainda sobre um anuário de hábitos de consumo cultural, que inclui artes cénicas, discos, audiovisual, leitura e outras actividades de lazer, usando tabelas de contingência sobre a óptica do consumidor. Assim, foram empregues variáveis como idade, sexo, nível educativo, responsabilidades familiares e classe social entre outras, procurando-se saber a atitude do indivíduo perante os bens culturais e as razões que motivam a escolha de um produto ou outro e o interesse que proporciona a escolha.
Quais as razões que levam muitos potenciais espectadores a não irem ao cinema? Há quatro razões: 1) televisão, um poderoso substituto do cinema, 2) barreira económica, que pesa nos mais jovens, 3) falta de infra-estruturas cinematográficas, e 4) ausência de cinemas em muitas localidades. À concorrência da televisão - onde se podem ver noticiários, filmes e reportagens - juntam-se o vídeo e o aluguer de filmes vídeo (2002: 57).
Leitura: Víctor Fernández, Juan Prieto, Cristina Muñiz e Rubén Gutierréz (2002). Cinéfilos, videoadictos y telespectadores. Madrid: Fundación Autor, pp. 47-58
segunda-feira, 28 de novembro de 2005
UMA NOTA MAIS SOBRE O PATRIMÓNIO IMATERIAL GALAICO-PORTUGUÊS
Ler os comentários colocados na caixa de Manuel Bragado, do blogue galego Brétemas, sobre o não reconhecimento do património imaterial reunindo o norte de Portugal e a Galiza.
Ler os comentários colocados na caixa de Manuel Bragado, do blogue galego Brétemas, sobre o não reconhecimento do património imaterial reunindo o norte de Portugal e a Galiza.
SOBRE INVESTIGAÇÃO HISTÓRICA NA RÁDIO E NOS MEDIA EM PORTUGAL
Aquando do lançamento do meu livro As vozes da rádio, 1924-1939, eu tencionava dizer umas palavras sobre investigação histórica. Contudo, a apresentação do livro por Adelino Gomes, pela sua excelência, levaram-me a adiar essas palavras. O blogue pode, agora, ser eco dessas nótulas.
1) Investigação
Com a saida dos livros de Nelson Ribeiro (A Emissora Nacional nos primeiros anos do Estado Novo, da editora Quimera) e Dina Cristo (A rádio em Portugal e o declínio do regime de Salazar e Caetano, 1958-1974, da editora MinervaCoimbra), além do meu, pode considerar-se 2005 como ano vintage para a história da rádio no nosso país. O futuro da investigação passa pela abertura, após classificação e digitalização, do arquivo da RTP (rádio), em fase de execução (o responsável pelo centro de documentação falou-me que tal ocorrerá em meados de 2006). Evidentemente, é fundamental o alargamento da investigação aos outros media (imprensa, rádio). Torna-se necessário fazer investigação e edição sobre a realidade do século XX (neste momento, que tenha conhecimento, decorre uma investigação sobre imprensa dos anos 1960 a anos 1980, levada a cabo por Fernando Correia e Carla Baptista). A investigação deve alargar-se ainda a outras indústrias culturais, como o cinema, o disco e o livro, por exemplo. A investigação pode incluir metodologias distintas: 1) documentação escrita, como eu usei, 2) entrevistas como Dina Cristo empregou, e Fernando Correia e Carla Baptista estão a fazer, 3) recolha de imagens de profissionais já retirados ou com uma longa carreira.
2) Recepção estética, social, cultural e política
Como fiz no meu livro, é preciso perceber como os programas (mais noticiários e mais publicidade) são recebidos. Que públicos? Quais os gostos dominantes? E os minoritários? Tem sido feita investigação em termos de recepção actual de televisão (Isabel Ferin, Verónica Policarpo, Catarina Burnay), mas esse interesse tem de se alargar aos outros media.
3) Ligação universidade e empresas
A meu ver, esforços multidisciplinares devem ser erguidos (história, sociologia, estética e cultura) entre a universidade e o mundo das empresas. Sei que têm sido assinados protocolos entre entidades (por exemplo, a Fundação Portuguesa das Comunicações com a Universidade de Coimbra, mas no âmbito das telecomunicações). Não temos uma história do Diário de Notícias até aos nossos dias, ou do Público. O trabalho de Vasco Hogan Teves sobre a RTP ficou-se pelo primeiro volume (dada a falência da entidade editora). A tese de doutoramento de Ana Cabrera sobre a imprensa no tempo de Marcelo Caetano, quando sair, será importante. Cada vez mais, estes trabalhos são feitos por equipas de investigação, dada a dimensão das matérias (caso dos principais jornais nacionais durante o século XX) [observação: não conheço no seu todo o state of art da área].
4) Realização de eventos
Pode não ser sob a forma de congresso, mas sob a designação de encontros sobre história e sociologia dos media (a SOPCOM, Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, não tem um grupo de trabalho desta área, mas apenas de jornalismo, que abarca benevolamente a área e tem permitido que se trate da história de jornalsitas do começo do século XX, como eu fiz em dois congressos seguidos). Isto quer dizer que manifesto disponibilidade em apoiar/promover encontros sobre esta matéria. Sei, aliás, que o Instituto Goethe em Portugal está a agendar uma proposta nesse sentido (mais concretamente sobre rádio na primeira metade do século XX). Afinal, os media enformam cada vez mais as nossas vidas e nós temos de saber como eles funcionam (hoje como há cem anos).
5) Esforço das editoras e dos media
A publicação é fundamental. Para além da editora Caminho, relevo o esforço (relativamente recente) de editoras como os Livros Horizonte e MinervaCoimbra. Sei que a aposta neste tipo de literatura não costuma ser rentável, mas não podemos deixar de chamar a atenção e estimular a saida de obras. Do mesmo modo, os jornais e os outros media são veículos excelentes para a promoção das edições, fazendo recensões críticas.
Aquando do lançamento do meu livro As vozes da rádio, 1924-1939, eu tencionava dizer umas palavras sobre investigação histórica. Contudo, a apresentação do livro por Adelino Gomes, pela sua excelência, levaram-me a adiar essas palavras. O blogue pode, agora, ser eco dessas nótulas.
1) Investigação
Com a saida dos livros de Nelson Ribeiro (A Emissora Nacional nos primeiros anos do Estado Novo, da editora Quimera) e Dina Cristo (A rádio em Portugal e o declínio do regime de Salazar e Caetano, 1958-1974, da editora MinervaCoimbra), além do meu, pode considerar-se 2005 como ano vintage para a história da rádio no nosso país. O futuro da investigação passa pela abertura, após classificação e digitalização, do arquivo da RTP (rádio), em fase de execução (o responsável pelo centro de documentação falou-me que tal ocorrerá em meados de 2006). Evidentemente, é fundamental o alargamento da investigação aos outros media (imprensa, rádio). Torna-se necessário fazer investigação e edição sobre a realidade do século XX (neste momento, que tenha conhecimento, decorre uma investigação sobre imprensa dos anos 1960 a anos 1980, levada a cabo por Fernando Correia e Carla Baptista). A investigação deve alargar-se ainda a outras indústrias culturais, como o cinema, o disco e o livro, por exemplo. A investigação pode incluir metodologias distintas: 1) documentação escrita, como eu usei, 2) entrevistas como Dina Cristo empregou, e Fernando Correia e Carla Baptista estão a fazer, 3) recolha de imagens de profissionais já retirados ou com uma longa carreira.
2) Recepção estética, social, cultural e política
Como fiz no meu livro, é preciso perceber como os programas (mais noticiários e mais publicidade) são recebidos. Que públicos? Quais os gostos dominantes? E os minoritários? Tem sido feita investigação em termos de recepção actual de televisão (Isabel Ferin, Verónica Policarpo, Catarina Burnay), mas esse interesse tem de se alargar aos outros media.
3) Ligação universidade e empresas
A meu ver, esforços multidisciplinares devem ser erguidos (história, sociologia, estética e cultura) entre a universidade e o mundo das empresas. Sei que têm sido assinados protocolos entre entidades (por exemplo, a Fundação Portuguesa das Comunicações com a Universidade de Coimbra, mas no âmbito das telecomunicações). Não temos uma história do Diário de Notícias até aos nossos dias, ou do Público. O trabalho de Vasco Hogan Teves sobre a RTP ficou-se pelo primeiro volume (dada a falência da entidade editora). A tese de doutoramento de Ana Cabrera sobre a imprensa no tempo de Marcelo Caetano, quando sair, será importante. Cada vez mais, estes trabalhos são feitos por equipas de investigação, dada a dimensão das matérias (caso dos principais jornais nacionais durante o século XX) [observação: não conheço no seu todo o state of art da área].
4) Realização de eventos
Pode não ser sob a forma de congresso, mas sob a designação de encontros sobre história e sociologia dos media (a SOPCOM, Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, não tem um grupo de trabalho desta área, mas apenas de jornalismo, que abarca benevolamente a área e tem permitido que se trate da história de jornalsitas do começo do século XX, como eu fiz em dois congressos seguidos). Isto quer dizer que manifesto disponibilidade em apoiar/promover encontros sobre esta matéria. Sei, aliás, que o Instituto Goethe em Portugal está a agendar uma proposta nesse sentido (mais concretamente sobre rádio na primeira metade do século XX). Afinal, os media enformam cada vez mais as nossas vidas e nós temos de saber como eles funcionam (hoje como há cem anos).
5) Esforço das editoras e dos media
A publicação é fundamental. Para além da editora Caminho, relevo o esforço (relativamente recente) de editoras como os Livros Horizonte e MinervaCoimbra. Sei que a aposta neste tipo de literatura não costuma ser rentável, mas não podemos deixar de chamar a atenção e estimular a saida de obras. Do mesmo modo, os jornais e os outros media são veículos excelentes para a promoção das edições, fazendo recensões críticas.
HAPPY CLICKMAS
O título da notícia de ontem do Sunday Times é um trocadilho com a expressão Feliz Natal (Happy Christmas). É que se espera que 24 milhões de ingleses comprem as suas prendas de Natal pela internet, podendo totalizar 5 biliões de libras.
Há um facto novo no comércio, segundo uma das duas peças do jornal dominical inglês, assinada por Will Iredale e Tom Baird: vários retalhistas estão a vender os seus produtos 30% mais baratos na internet que nas lojas físicas situadas em pontos importantes das cidades. Isto porque na internet não se incluem custos elevados de aluguer de lojas nem salários com pessoal.
O Sunday Times comparou preços em vários retalhistas e concluiu que, por exemplo, o disco de Madonna (Confessions on a dance floor) custa £13,99 numa loja e £9,99 na internet (incluindo embalagem e envio pelo correio) enquanto o modelo Sony DAVDZ500 (equipamento de cinema doméstico) custa £449,99 numa loja e 369,99 na internet. Discos, livros e software são produtos que se vendem muito bem na internet, apesar do total de vendas por este novo meio ainda ser pequeno: estima-se que atinja 3,5%.
No Reino Unido, as cinco principais marcas que vendem pela internet são a Ebay UK (39,1% de quota de mercado), a Amazon.co.uk (6,22%), a Argos (1,6%), a Tesco.com (1,45%) e a Play.com (1,42%).
Considero, porém, que nada melhor do que entrar numa loja, conversar ou pedir conselho ao lojista, assistir ao embrulhar e pagar, recebendo ainda um sorriso de quem nos vende, apesar de saber existir já um novo tipo de pessoas, aquelas que vão às lojas ver os produtos mas acabam por comprá-los na internet.
O título da notícia de ontem do Sunday Times é um trocadilho com a expressão Feliz Natal (Happy Christmas). É que se espera que 24 milhões de ingleses comprem as suas prendas de Natal pela internet, podendo totalizar 5 biliões de libras.
Há um facto novo no comércio, segundo uma das duas peças do jornal dominical inglês, assinada por Will Iredale e Tom Baird: vários retalhistas estão a vender os seus produtos 30% mais baratos na internet que nas lojas físicas situadas em pontos importantes das cidades. Isto porque na internet não se incluem custos elevados de aluguer de lojas nem salários com pessoal.
O Sunday Times comparou preços em vários retalhistas e concluiu que, por exemplo, o disco de Madonna (Confessions on a dance floor) custa £13,99 numa loja e £9,99 na internet (incluindo embalagem e envio pelo correio) enquanto o modelo Sony DAVDZ500 (equipamento de cinema doméstico) custa £449,99 numa loja e 369,99 na internet. Discos, livros e software são produtos que se vendem muito bem na internet, apesar do total de vendas por este novo meio ainda ser pequeno: estima-se que atinja 3,5%.
No Reino Unido, as cinco principais marcas que vendem pela internet são a Ebay UK (39,1% de quota de mercado), a Amazon.co.uk (6,22%), a Argos (1,6%), a Tesco.com (1,45%) e a Play.com (1,42%).
Considero, porém, que nada melhor do que entrar numa loja, conversar ou pedir conselho ao lojista, assistir ao embrulhar e pagar, recebendo ainda um sorriso de quem nos vende, apesar de saber existir já um novo tipo de pessoas, aquelas que vão às lojas ver os produtos mas acabam por comprá-los na internet.
domingo, 27 de novembro de 2005
AINDA OS BLOGUES NO FEMININO
O colóquio foi já há algumas semanas, mas sabe bem ler na imprensa diária coisas que consideramos que vale a pena serem lidas. Os "blogues no feminino são diários que assumem um papel político", escrevia-se no Diário de Notícias de ontem. Respigo duas ideias do texto: "«Poesia. Os blogues das mulheres são só poemas». Esta é a opinião manifestada por um homem a Isabel Ventura, mestranda em Estudos sobre Mulheres, quando realizava um inquérito sobre o que são blogues no feminino. Mas esses recentes diários virtuais «são muito mais do que poesia ou relatos do dia-a-dia», afirma ao DN Isabel Ventura".
Outra parcela do texto: "Já a jornalista Carla Quevedo, autora do Bomba Inteligente, diz que as mulheres abordam qualquer assunto na blogosfera. «Falam literalmente de tricô, como Hilda Portela ou Rosa Pomar, ou dos filhos, como Vieira do Mar no Passeai, Flores! Falam da actualidade, de política, de sexo, de homens, de compras, de touradas, de animais, de economia, de futebol, do quotidiano, de moda, de cinema, de literatura. As diferenças no modo como observam os temas estão relacionadas com o que são como pessoas e não com o simples facto de serem mulheres», considera a jornalista".
O colóquio foi já há algumas semanas, mas sabe bem ler na imprensa diária coisas que consideramos que vale a pena serem lidas. Os "blogues no feminino são diários que assumem um papel político", escrevia-se no Diário de Notícias de ontem. Respigo duas ideias do texto: "«Poesia. Os blogues das mulheres são só poemas». Esta é a opinião manifestada por um homem a Isabel Ventura, mestranda em Estudos sobre Mulheres, quando realizava um inquérito sobre o que são blogues no feminino. Mas esses recentes diários virtuais «são muito mais do que poesia ou relatos do dia-a-dia», afirma ao DN Isabel Ventura".
Outra parcela do texto: "Já a jornalista Carla Quevedo, autora do Bomba Inteligente, diz que as mulheres abordam qualquer assunto na blogosfera. «Falam literalmente de tricô, como Hilda Portela ou Rosa Pomar, ou dos filhos, como Vieira do Mar no Passeai, Flores! Falam da actualidade, de política, de sexo, de homens, de compras, de touradas, de animais, de economia, de futebol, do quotidiano, de moda, de cinema, de literatura. As diferenças no modo como observam os temas estão relacionadas com o que são como pessoas e não com o simples facto de serem mulheres», considera a jornalista".
A NOVA CONSOLA DA MICROSOFT
Na mensagem, sigo o texto de Patricia Fernández de Lis, hoje publicado no El Pais, sobre a Xbox 360, a nova consola de videojogos da Microsoft. E, através dele, procuro: 1) reflectir sobre a concorrência nesta apetitosa área das indústrias culturais, 2) adivinhar qual dos meios de comunicação será o de maior sucesso no futuro - computador, telemóvel ou consola de videojogos.
A Microsoft lançou, na passada terça-feira, a sua consola Xbox 360, máquina que se adianta cerca de um ano ao surgimento das novas consolas da concorrência: Sony e Nintendo. Hoje, uma consola é uma máquina multiforme, potentes como grandes computadores e cheias de possibilidades: permitem falar pela internet, reproduzem filmes, música e fotografias, além dos jogos.
A Microsoft - que encara a possibilidade de deixar a indústria dos computadores pessoais, que domina há muito através do software Windows, para se concentrar no negócio dos videojogos - investiu 12 mil milhões de dólares e cada consola custa, ao fabricante, 552 dólares, apesar dela aparecer no mercado ao preço de 399 dólares. Isto é: se a Microsoft vender dez milhões de consolas num ano, o prejuízo será de 1530 milhões de dólares. Mas recupera as perdas com os jogos.
Os videojogos são muito caros: apenas três em dez são rentáveis. O que significa que as empresas criadoras elegem a consola com maior quota de mercado na sua geração. Neste momento, a Sony tem uma confortável quota de 68% do mercado mundial, que a Microsoft desafia. O êxito da Sony e da sua Playstation - ou apenas Play para os seus fãs - deveu-se a uma publicidade inteligente e próxima de vários públicos-alvo, a uma boa máquina e a centenas de bons jogos, muitos deles desenvolvidos pela própria Sony. A Sony espera lançar a resposta na Primavera de 2006 no Japão e depois do Verão na Europa, mais potente que a Xbox 360 e 35 vezes mais que a Playstation 2, equipada com a tecnologia Blu-Ray, a aposta da empresa para os DVD de alta definição.
Há aqui duas linhas de raciocínio a lembrar. A primeira é que a Xbox e a Playstation disputam jogadores habituais e os hardcore, mais especializados e exigentes do mercado, que querem a última tecnologia, se bem que mais cara (a Nintendo tem uma filosofia mais subtil, a de procurar novos jogadores). A segunda, e a meu ver, mais importante, é que a indústria das consolas e dos videojogos tem um objectivo a médio prazo, que é a de instalar estas máquinas no centro da sala de estar e converter-se na primeira opção dos lares, preenchendo o actual lugar da televisão.
Isto conduz à minha segunda ideia expressa no começo da mensagem: qual o meio que, no futuro, triunfará: consola, computador ou telemóvel. A consola, ao invés das consolas portáteis, lideradas pela Nintendo (Game Boy Advance, Game Boy Advance SP e Nintendo DS), é um equipamento para o lar. Logo, numa perspectiva simplista, entra em concorrência directa com a televisão. Por questões de geração, a consola está para os mais jovens como a televisão para os mais velhos. Logo, a penetração da consola no lar parte da crescente influência dos mais jovens no centro do lar: quando crescem, quando começam a trabalhar, quando saem do lar dos pais. Movimento semelhante ao que ocorreu e está a ocorrer com a passagem do telefone fixo para o celular.
Mas a consola no lar não pode concorrer com o celular, devido à mobilidade deste. E o computador, apesar dos crescentes pontos de acesso sem fios, atrasou-se face ao telemóvel, até porque o peso dos equipamentos é mais elevado. Por outro lado, e finalmente, os acessos habituais à internet podem fazer-se do telemóvel: consulta de informação, jogos, mensagens. A hibridez, ou multiforme, que se encontra nas consolas Xbox 360 ou na futura consola da Sony, está para o lar assim como os telemóveis estão para a mobilidade. A meu ver, serão estes meios os que vão triunfar. Claro que os consumos de lazer - ficção versus jogos - alterarão a fisionomia do lar.
Na mensagem, sigo o texto de Patricia Fernández de Lis, hoje publicado no El Pais, sobre a Xbox 360, a nova consola de videojogos da Microsoft. E, através dele, procuro: 1) reflectir sobre a concorrência nesta apetitosa área das indústrias culturais, 2) adivinhar qual dos meios de comunicação será o de maior sucesso no futuro - computador, telemóvel ou consola de videojogos.
A Microsoft lançou, na passada terça-feira, a sua consola Xbox 360, máquina que se adianta cerca de um ano ao surgimento das novas consolas da concorrência: Sony e Nintendo. Hoje, uma consola é uma máquina multiforme, potentes como grandes computadores e cheias de possibilidades: permitem falar pela internet, reproduzem filmes, música e fotografias, além dos jogos.
A Microsoft - que encara a possibilidade de deixar a indústria dos computadores pessoais, que domina há muito através do software Windows, para se concentrar no negócio dos videojogos - investiu 12 mil milhões de dólares e cada consola custa, ao fabricante, 552 dólares, apesar dela aparecer no mercado ao preço de 399 dólares. Isto é: se a Microsoft vender dez milhões de consolas num ano, o prejuízo será de 1530 milhões de dólares. Mas recupera as perdas com os jogos.
Os videojogos são muito caros: apenas três em dez são rentáveis. O que significa que as empresas criadoras elegem a consola com maior quota de mercado na sua geração. Neste momento, a Sony tem uma confortável quota de 68% do mercado mundial, que a Microsoft desafia. O êxito da Sony e da sua Playstation - ou apenas Play para os seus fãs - deveu-se a uma publicidade inteligente e próxima de vários públicos-alvo, a uma boa máquina e a centenas de bons jogos, muitos deles desenvolvidos pela própria Sony. A Sony espera lançar a resposta na Primavera de 2006 no Japão e depois do Verão na Europa, mais potente que a Xbox 360 e 35 vezes mais que a Playstation 2, equipada com a tecnologia Blu-Ray, a aposta da empresa para os DVD de alta definição.
Há aqui duas linhas de raciocínio a lembrar. A primeira é que a Xbox e a Playstation disputam jogadores habituais e os hardcore, mais especializados e exigentes do mercado, que querem a última tecnologia, se bem que mais cara (a Nintendo tem uma filosofia mais subtil, a de procurar novos jogadores). A segunda, e a meu ver, mais importante, é que a indústria das consolas e dos videojogos tem um objectivo a médio prazo, que é a de instalar estas máquinas no centro da sala de estar e converter-se na primeira opção dos lares, preenchendo o actual lugar da televisão.
Isto conduz à minha segunda ideia expressa no começo da mensagem: qual o meio que, no futuro, triunfará: consola, computador ou telemóvel. A consola, ao invés das consolas portáteis, lideradas pela Nintendo (Game Boy Advance, Game Boy Advance SP e Nintendo DS), é um equipamento para o lar. Logo, numa perspectiva simplista, entra em concorrência directa com a televisão. Por questões de geração, a consola está para os mais jovens como a televisão para os mais velhos. Logo, a penetração da consola no lar parte da crescente influência dos mais jovens no centro do lar: quando crescem, quando começam a trabalhar, quando saem do lar dos pais. Movimento semelhante ao que ocorreu e está a ocorrer com a passagem do telefone fixo para o celular.
Mas a consola no lar não pode concorrer com o celular, devido à mobilidade deste. E o computador, apesar dos crescentes pontos de acesso sem fios, atrasou-se face ao telemóvel, até porque o peso dos equipamentos é mais elevado. Por outro lado, e finalmente, os acessos habituais à internet podem fazer-se do telemóvel: consulta de informação, jogos, mensagens. A hibridez, ou multiforme, que se encontra nas consolas Xbox 360 ou na futura consola da Sony, está para o lar assim como os telemóveis estão para a mobilidade. A meu ver, serão estes meios os que vão triunfar. Claro que os consumos de lazer - ficção versus jogos - alterarão a fisionomia do lar.
O BLOGUEIRO FOI INJUSTO
Para com a parte portuguesa da candidatura do património imaterial da humanidade à Unesco. Li ontem no Público - com trabalho exemplar, a nível do do dia anterior - e confesso que estava equivocado.
Lurdes Carita, directora portuguesa da associação promotora da candidatura e professora da escola secundária de Valença (Minho), considerou que, pedagogicamente, o projecto foi muito bom e vai explicar aos alunos "que não é possível separar uma cultura". Para um membro do juri, a candidatura era demasiado ampla, indo de tradições orais de "regueifas", cantares ao desafio e romarias, mas também jogos tradicionais, artes da pesca, tradições agrícolas e saberes de ofícios (peça jornalística escrita por Ana Navarro Pedro). A associação portuguesa promotora foi a Ponte... nas Ondas. E, para o dia da decisão da Unesco, anteontem, várias escolas de norte do país e da Galiza tinham preparado festas.
Da arrogância ou ignorância do blogueiro, as minhas desculpas!
Para com a parte portuguesa da candidatura do património imaterial da humanidade à Unesco. Li ontem no Público - com trabalho exemplar, a nível do do dia anterior - e confesso que estava equivocado.
Lurdes Carita, directora portuguesa da associação promotora da candidatura e professora da escola secundária de Valença (Minho), considerou que, pedagogicamente, o projecto foi muito bom e vai explicar aos alunos "que não é possível separar uma cultura". Para um membro do juri, a candidatura era demasiado ampla, indo de tradições orais de "regueifas", cantares ao desafio e romarias, mas também jogos tradicionais, artes da pesca, tradições agrícolas e saberes de ofícios (peça jornalística escrita por Ana Navarro Pedro). A associação portuguesa promotora foi a Ponte... nas Ondas. E, para o dia da decisão da Unesco, anteontem, várias escolas de norte do país e da Galiza tinham preparado festas.
Da arrogância ou ignorância do blogueiro, as minhas desculpas!
sábado, 26 de novembro de 2005
FÁTIMA MENDONÇA
Tinha visto, no blogue Seta Despedida (de Alexandra Barreto), a indicação de uma exposição de Fátima Mendonça ("Assim... assim... assim... para gostares de mim"). Por isso, decidi pôr o computador em "Suspender", colocar um casaco e apenas atravessar os perigosos semáforos na saída da Av. João XXI para a Praça do Campo Pequeno (ou também chamada Marquês de Marialva) e entrar na Culturgest.
Do pequeno catálogo (há um maior), com texto de de Ruth Rosengarten, li: "Este é um lar de incansável actividade feminina, onde (o que é típico do mundo pictórico da artista) se fazem bolos e massas. Encomenda de bolos de dedinhos de morango, pronta, pode ler-se". Mas há uma óbvia crítica a um universo conotadamente feminino, caso do quarto forrado do chão ao tecto com uma mistura (certamente saborosa) de chocolate e baunilha no bolo mármore, para te receber e te agradar. Aqui já há uma evidente sedução.
Na realidade, fiquei logo com uma fome incrível. Solução: correr à pastelaria Namur e comprar um bolo para comer daqui a um bocado. Claro que os bolos de Fátima Mendonça são incomparavelmente melhores, ou, diria, mais agradáveis, pelo colorido e propostas visuais.
Fátima Mendonça nasceu em Lisboa (1964) e licenciou-se em pintura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (1990). Alguns títulos de exposições: "Gosto da minha casinha" (1999), "Eu tenho medo: lá, lá, lá, lá, lá..." (2001), "Para te fazer não tem nada que saber" (2002) e "Fátifashion - vestidos de lã e bolo" (2003).
Tinha visto, no blogue Seta Despedida (de Alexandra Barreto), a indicação de uma exposição de Fátima Mendonça ("Assim... assim... assim... para gostares de mim"). Por isso, decidi pôr o computador em "Suspender", colocar um casaco e apenas atravessar os perigosos semáforos na saída da Av. João XXI para a Praça do Campo Pequeno (ou também chamada Marquês de Marialva) e entrar na Culturgest.
Do pequeno catálogo (há um maior), com texto de de Ruth Rosengarten, li: "Este é um lar de incansável actividade feminina, onde (o que é típico do mundo pictórico da artista) se fazem bolos e massas. Encomenda de bolos de dedinhos de morango, pronta, pode ler-se". Mas há uma óbvia crítica a um universo conotadamente feminino, caso do quarto forrado do chão ao tecto com uma mistura (certamente saborosa) de chocolate e baunilha no bolo mármore, para te receber e te agradar. Aqui já há uma evidente sedução.
Na realidade, fiquei logo com uma fome incrível. Solução: correr à pastelaria Namur e comprar um bolo para comer daqui a um bocado. Claro que os bolos de Fátima Mendonça são incomparavelmente melhores, ou, diria, mais agradáveis, pelo colorido e propostas visuais.
Fátima Mendonça nasceu em Lisboa (1964) e licenciou-se em pintura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (1990). Alguns títulos de exposições: "Gosto da minha casinha" (1999), "Eu tenho medo: lá, lá, lá, lá, lá..." (2001), "Para te fazer não tem nada que saber" (2002) e "Fátifashion - vestidos de lã e bolo" (2003).
OUTRAS AGENDAS CULTURAIS
Graças à amabilidade do meu fornecedor habitual de agendas culturais, Carlos Filipe Maia, tenho mais cinco para mostrar, de tamanhos e volumes distintos, mas que dão a vontade de sentir o que se passa em cada um daqueles municípios em termos de algumas indústrias criativas.
Destaco o tema de capa do magazine cultural de Sintra As Cidades e a Serra. O entrevistado é o entertainer de televisão Manuel Luís Goucha. Reconheço que não gosto muito do que faz, mas trata-se de um profissional que dá o melhor que sabe e as suas audiências são grandes. Ele diz que se vai candidatar a presidente da câmara de Sintra dentro de oito anos, quando tiver 58. À pergunta "Incomoda-o que ainda seja conotado com tachos e panelas", responde airosamente: "Já não sou conotado. Toda a gente sabe que tenho um restaurante, mas já não sou catalogado com os tachos. 3.500 programas depois eu sou, assumidamente, conotado com a apresentação de programas".
Curioso que, na gíria maldosa da política, se diz que quem se candidata a um lugar procura um tacho. Este, antes de se candidatar, já conhece bem o fundo dos tachos e das panelas! E parece ter uma mão especial para os doces. Olá!
Já a agenda Almada Informa prefere o destaque da 13ª quinzena da dança e a promoção do comércio local, enquanto a pequena agenda cultural da Trofa (12 x 12 centímetros) destaca eventos, exposições, música, a semana da floresta autónoma (que acabou ontem) e a programação da biblioteca, para além de outras informações. Deixo como nota de rodapé algumas das recomendações feitas ao público dos eventos daquela cidade: "Não é permitido tirar fotografias nem fazer gravações sonoras ou filmagens durante os eventos. Pede-se a máxima pontualidade. Em caso de atraso, só poderá entrar após conclusão de cada uma das obras ou actos em programa, de acordo com as instruções dos arrumadores de sala".
Graças à amabilidade do meu fornecedor habitual de agendas culturais, Carlos Filipe Maia, tenho mais cinco para mostrar, de tamanhos e volumes distintos, mas que dão a vontade de sentir o que se passa em cada um daqueles municípios em termos de algumas indústrias criativas.
Destaco o tema de capa do magazine cultural de Sintra As Cidades e a Serra. O entrevistado é o entertainer de televisão Manuel Luís Goucha. Reconheço que não gosto muito do que faz, mas trata-se de um profissional que dá o melhor que sabe e as suas audiências são grandes. Ele diz que se vai candidatar a presidente da câmara de Sintra dentro de oito anos, quando tiver 58. À pergunta "Incomoda-o que ainda seja conotado com tachos e panelas", responde airosamente: "Já não sou conotado. Toda a gente sabe que tenho um restaurante, mas já não sou catalogado com os tachos. 3.500 programas depois eu sou, assumidamente, conotado com a apresentação de programas".
Curioso que, na gíria maldosa da política, se diz que quem se candidata a um lugar procura um tacho. Este, antes de se candidatar, já conhece bem o fundo dos tachos e das panelas! E parece ter uma mão especial para os doces. Olá!
Já a agenda Almada Informa prefere o destaque da 13ª quinzena da dança e a promoção do comércio local, enquanto a pequena agenda cultural da Trofa (12 x 12 centímetros) destaca eventos, exposições, música, a semana da floresta autónoma (que acabou ontem) e a programação da biblioteca, para além de outras informações. Deixo como nota de rodapé algumas das recomendações feitas ao público dos eventos daquela cidade: "Não é permitido tirar fotografias nem fazer gravações sonoras ou filmagens durante os eventos. Pede-se a máxima pontualidade. Em caso de atraso, só poderá entrar após conclusão de cada uma das obras ou actos em programa, de acordo com as instruções dos arrumadores de sala".
sexta-feira, 25 de novembro de 2005
O FIM DO DNA?
"Há nove anos que o DNA é a minha casa. Cada aniversário do suplemento é como se fosse, também, um aniversário meu. E, de certo modo, é mesmo. [...] o DNA foi a casa onde cresci. [...] Conheci o meu homem. Casei. Tive dois filhos. Comprei a minha casa. Acabo de a vender. Nestes nove anos fui feliz. As felicitações que o suplemento recebe, pelos seus nove anos, sinto-as como se fossem minhas. Mesmo. [...] O DNA faz nove anos e lê-se nos jornais que não chega aos dez" (Sónia Morais Santos, texto com o título Novembro, Lisboa, página 27, da coluna "Vê-se-te-avias", do DNA de hoje).
O título do suplemento é "Estou a preparar-me..." [continua nas páginas seguintes] "Para a festa..." "...do DNA..." "Nove anos todos novos"! E Pedro Rolo Duarte, no seu editorial chamado "Uma capa, a metáfora e um «Livro de Estilo»", conta-nos o que vai na sua alma: "O DNA é um suplemento do Diário de Notícias. Complementar significa, neste caso, acrescentar. O DNA deve acrescentar criatividade, reflexão, profundidade e personalização. Deve ser uma vez por semana o que o DN, pela sua natureza, não pode ser todos os dias". E, mais adiante, sublinha o seguinte: "No DNA não procuramos objectividade nem verdade. Procuramos sinceridade, seriedade, e uma clara noção de ética".
E nas duas páginas anteriores o suplemento mostra-nos os prémios que ganhou; só de Sónia Morais Santos contei três. Vou guardar mais este suplemento para recordar. Até porque vou sentir falta das memórias trazidas nomeadamente por aquela jornalista, como a de hoje em que nos fala da série de televisão Espaço 1999. Oh, quantas vezes me sentei em frente ao televisor a acompanhar a saga do comandante John Koening, da drª Helena Russel e dos seus companheiros!
Confesso ainda que guardo sempre para o fim da leitura dos jornais os suplementos, como o "DNA/DN:Música", "Mil Folhas", "Actual". São os jornais que as empresas jornalísticas preparam especialmente para mim; os "Vidas" ou as "Públicas" ficam para o resto da família (sem desprimor para esta). Aqueles que fazem os jornais conhecem bem o público cá de casa.
"Há nove anos que o DNA é a minha casa. Cada aniversário do suplemento é como se fosse, também, um aniversário meu. E, de certo modo, é mesmo. [...] o DNA foi a casa onde cresci. [...] Conheci o meu homem. Casei. Tive dois filhos. Comprei a minha casa. Acabo de a vender. Nestes nove anos fui feliz. As felicitações que o suplemento recebe, pelos seus nove anos, sinto-as como se fossem minhas. Mesmo. [...] O DNA faz nove anos e lê-se nos jornais que não chega aos dez" (Sónia Morais Santos, texto com o título Novembro, Lisboa, página 27, da coluna "Vê-se-te-avias", do DNA de hoje).
O título do suplemento é "Estou a preparar-me..." [continua nas páginas seguintes] "Para a festa..." "...do DNA..." "Nove anos todos novos"! E Pedro Rolo Duarte, no seu editorial chamado "Uma capa, a metáfora e um «Livro de Estilo»", conta-nos o que vai na sua alma: "O DNA é um suplemento do Diário de Notícias. Complementar significa, neste caso, acrescentar. O DNA deve acrescentar criatividade, reflexão, profundidade e personalização. Deve ser uma vez por semana o que o DN, pela sua natureza, não pode ser todos os dias". E, mais adiante, sublinha o seguinte: "No DNA não procuramos objectividade nem verdade. Procuramos sinceridade, seriedade, e uma clara noção de ética".
E nas duas páginas anteriores o suplemento mostra-nos os prémios que ganhou; só de Sónia Morais Santos contei três. Vou guardar mais este suplemento para recordar. Até porque vou sentir falta das memórias trazidas nomeadamente por aquela jornalista, como a de hoje em que nos fala da série de televisão Espaço 1999. Oh, quantas vezes me sentei em frente ao televisor a acompanhar a saga do comandante John Koening, da drª Helena Russel e dos seus companheiros!
Confesso ainda que guardo sempre para o fim da leitura dos jornais os suplementos, como o "DNA/DN:Música", "Mil Folhas", "Actual". São os jornais que as empresas jornalísticas preparam especialmente para mim; os "Vidas" ou as "Públicas" ficam para o resto da família (sem desprimor para esta). Aqueles que fazem os jornais conhecem bem o público cá de casa.
SOBRE AS INDÚSTRIAS CRIATIVAS - DE NOVO
Escrevi, no blogue e a 19 deste mês, sobre indústrias criativas, a propósito do Plano Tecnológico (total do Plano: 17 documentos), recentemente em discussão. Para tal, servi-me do texto publicado no jornal Público e nos comentários sobre a matéria em título, regozijando-me com o facto dela ser objecto de preocupação do Governo. Ontem, depois da substituição do seu responsável e de parte significativa da equipa, o Plano foi aprovado pelo Conselho de Ministros, segundo se lê (ou se tenta ler) em Aprovação do Plano Tecnológico.
O documento existente na internet, de treze páginas, faz um levantamento do que existe: "Nos últimos anos, as indústrias criativas tornaram-se numa fonte importante de desenvolvimento económico e social, com uma posição cada vez mais forte ao nível do comércio mundial de todos os países, desenvolvidos ou em desenvolvimento. Neste momento, entre 25 a 30% dos trabalhadores dos países mais industrializados do mundo trabalham no sector criativo em diversas áreas do conhecimento, tais como a economia, as ciências, as engenharias, indústrias de base tecnológica, artes, música, cultura, design". Indústrias criativas, questões relacionadas com a pirataria [tema que ontem tratei, a propósito de notícias vindas do Reino Unido] e referência às cidades criativas fazem parte desse documento.
As indústrias criativas envolvem "publicidade, arquitectura, mercado de artes e antiguidades, design, moda, filmes, vídeos ou outras produções audiovisuais, design gráfico, software educacional e de lazer, música ao vivo e gravada, artes performativas e entretenimento, difusão através da televisão, rádio e internet, e escrita e publicação", segundo o texto que me apoia nesta mensagem. No caso das cidades criativas, por exemplo [lembrar o que escrevi, tendo como base o texto de Jinna Tay, no dia 18 de Maio último], o objectivo do Plano Tecnológico era apresentar candidaturas de cidades criativas à Unesco, uma garantia de prestígio mas não de investimentos financeiros (a Unesco atribui o título em áreas como literatura, cinema, música, turismo).
De acordo com o Público, o capítulo sobre indústrias criativas não apontava medidas concretas, que aliás se pode observar no documento oficial. Mas, parece-me terem existido propostas tais como: 1) financiamento das próprias indústrias criativas, através do IAPMEI ou de capital de risco, e como beneficiárias as empresas da indústria criativa, 2) rede de cinema digital (conjunto de salas de cinema ligadas a um sistema central a partir do qual serão disponibilizados, em formato digital, as obras cinematográficas a exibir), prevendo equipar cerca de 20 salas de cinema ao ano, a fim de tornar possível uma rede alternativa de exibição.
O documento incluido no Plano Tecnológico tem (ou tinha) por objectivos: 1) divulgar e promover o conceito de indústrias criativas em Portugal, 2) consolidar a base de conteúdos culturais e informativos, 3) promover o potencial económico das indústrias criativas pelo acesso ao financiamento e aos recursos humanos, e 4) promover as cidades criativas em Portugal. O documento - e o Plano na sua totalidade - foi trabalhado entre Maio e finais de Outubro, tendo, da parte da área de indústrias criativas, recebido contributos e apoios de entidades como o Ministério da Cultura.
Ainda de acordo com o documento, e apesar de não existir uma estimativa precisa, "a pirataria é uma das actividades mais prósperas da economia, ainda que informal. Em Portugal, os produtos falsificados na área do software informático (que representam sensivelmente metade destes produtos), custam por ano 12 milhões de euros de IVA não arrecadado, segundo a Revista Prémio. Em 2004 a Brigada Fiscal apreendeu no nosso país 7.848 milhões de euros em produtos falsificados". Só na área dos DVD, a pirataria cresceu em Portugal 2.400% em 2004.
Contudo, e apesar da luminosa ideia de incluir as indústrias criativas no Plano Tecnológico, parece não haver dinheiro para concretizar os objectivos elencados acima. Promover o conceito ou formar crianças para a compreensão do fenómeno da pirataria são pequeníssimos passos. E, apesar do benchmarking proposto no documento (sobre o Reino Unido, claro), torna-se necessário ter ou criar um tecido empresarial forte e com projectos concretos, e não apenas estar à espera de alguns subsídios. É o que me parece que aconteceu, pois a uma aceitação inicial da proposta, houve um recuo e toda a gente negou viabilidade à mesma, incluindo altos responsáveis políticos.
Escrevi, no blogue e a 19 deste mês, sobre indústrias criativas, a propósito do Plano Tecnológico (total do Plano: 17 documentos), recentemente em discussão. Para tal, servi-me do texto publicado no jornal Público e nos comentários sobre a matéria em título, regozijando-me com o facto dela ser objecto de preocupação do Governo. Ontem, depois da substituição do seu responsável e de parte significativa da equipa, o Plano foi aprovado pelo Conselho de Ministros, segundo se lê (ou se tenta ler) em Aprovação do Plano Tecnológico.
O documento existente na internet, de treze páginas, faz um levantamento do que existe: "Nos últimos anos, as indústrias criativas tornaram-se numa fonte importante de desenvolvimento económico e social, com uma posição cada vez mais forte ao nível do comércio mundial de todos os países, desenvolvidos ou em desenvolvimento. Neste momento, entre 25 a 30% dos trabalhadores dos países mais industrializados do mundo trabalham no sector criativo em diversas áreas do conhecimento, tais como a economia, as ciências, as engenharias, indústrias de base tecnológica, artes, música, cultura, design". Indústrias criativas, questões relacionadas com a pirataria [tema que ontem tratei, a propósito de notícias vindas do Reino Unido] e referência às cidades criativas fazem parte desse documento.
As indústrias criativas envolvem "publicidade, arquitectura, mercado de artes e antiguidades, design, moda, filmes, vídeos ou outras produções audiovisuais, design gráfico, software educacional e de lazer, música ao vivo e gravada, artes performativas e entretenimento, difusão através da televisão, rádio e internet, e escrita e publicação", segundo o texto que me apoia nesta mensagem. No caso das cidades criativas, por exemplo [lembrar o que escrevi, tendo como base o texto de Jinna Tay, no dia 18 de Maio último], o objectivo do Plano Tecnológico era apresentar candidaturas de cidades criativas à Unesco, uma garantia de prestígio mas não de investimentos financeiros (a Unesco atribui o título em áreas como literatura, cinema, música, turismo).
De acordo com o Público, o capítulo sobre indústrias criativas não apontava medidas concretas, que aliás se pode observar no documento oficial. Mas, parece-me terem existido propostas tais como: 1) financiamento das próprias indústrias criativas, através do IAPMEI ou de capital de risco, e como beneficiárias as empresas da indústria criativa, 2) rede de cinema digital (conjunto de salas de cinema ligadas a um sistema central a partir do qual serão disponibilizados, em formato digital, as obras cinematográficas a exibir), prevendo equipar cerca de 20 salas de cinema ao ano, a fim de tornar possível uma rede alternativa de exibição.
O documento incluido no Plano Tecnológico tem (ou tinha) por objectivos: 1) divulgar e promover o conceito de indústrias criativas em Portugal, 2) consolidar a base de conteúdos culturais e informativos, 3) promover o potencial económico das indústrias criativas pelo acesso ao financiamento e aos recursos humanos, e 4) promover as cidades criativas em Portugal. O documento - e o Plano na sua totalidade - foi trabalhado entre Maio e finais de Outubro, tendo, da parte da área de indústrias criativas, recebido contributos e apoios de entidades como o Ministério da Cultura.
Ainda de acordo com o documento, e apesar de não existir uma estimativa precisa, "a pirataria é uma das actividades mais prósperas da economia, ainda que informal. Em Portugal, os produtos falsificados na área do software informático (que representam sensivelmente metade destes produtos), custam por ano 12 milhões de euros de IVA não arrecadado, segundo a Revista Prémio. Em 2004 a Brigada Fiscal apreendeu no nosso país 7.848 milhões de euros em produtos falsificados". Só na área dos DVD, a pirataria cresceu em Portugal 2.400% em 2004.
Contudo, e apesar da luminosa ideia de incluir as indústrias criativas no Plano Tecnológico, parece não haver dinheiro para concretizar os objectivos elencados acima. Promover o conceito ou formar crianças para a compreensão do fenómeno da pirataria são pequeníssimos passos. E, apesar do benchmarking proposto no documento (sobre o Reino Unido, claro), torna-se necessário ter ou criar um tecido empresarial forte e com projectos concretos, e não apenas estar à espera de alguns subsídios. É o que me parece que aconteceu, pois a uma aceitação inicial da proposta, houve um recuo e toda a gente negou viabilidade à mesma, incluindo altos responsáveis políticos.
MAIS SOBRE O VALOR IMATERIAL DO NORTE DE PORTUGAL E DA GALIZA
Num intervalo entre cálculos estatísticos sobre públicos de cultura (e manipulação de dados no SPSS e no Excel), dei um salto ao sítio galego Vieiros, para saber as reacções ao não da Unesco em reconhecer o património imaterial daquela vasta zona do norte da Península Ibérica (tema que o jornal Público de hoje tratou bem).
A meu ver - e sem entrar em qualquer tipo de polémica, que não me interessa -, quem mais perdeu com o não reconhecimento foi a Galiza, enquanto região que pretende maior autonomia política face ao poder central de Madrid. Portugal talvez tenha olhado de modo distraído esta candidatura, até porque se trata de uma parcela do território em associação com uma parcela de Espanha - e desconheço o peso político e de lóbi do grupo que tratou da candidatura do lado nacional.
Contudo, não quero deixar de referir uma entrevista que o sítio Vieiros inclui, onde surgem os pontos de vista de José María Fonseca (presidente do Conselho de Administração de Terras Gauda e membro do Conselho de Administração de Galaxia e do padroado da Fundación Carlos Casares). Diz ele: "É moi certo que as simetrías entre Galiza e o norte de Portugal son moi abondosas. Moitas das variedades autóctonas repítense, trebellos, tipos de elaboración, destilados... Iso que vostede chama inmaterial tradúcese materialmente nunha morea de castes nobres que só existen en Galiza e no norte de Portugal: Treixadura (trajadura), Albariño (Alvarinho), Loureiro, Sousón... ou na cultura existente arredor de destilados como as augardentes branca e bagaceira. Pero a tradición vitivinícola é moi semellante en toda a Europa romanizada. A tradición do que en Galiza chamamos loureiros ou furanchos, coa póla de loureiro fóra para anunciar a colleita, existe practicamente en todo o continente. A tonelería e a arxila para gardar os viños, as festas da vendima e o abillado, as diferentes elaboracións dos viños licorosos ou doces".
A uma pergunta - "Entre os séculos XVI e XVIII, o nivel de coñecemento do viño do Ribeiro era moi superior ao do Porto. A partir do século XIX, a tendéncia invírtese radicalmente, en parte por culpa da filoxera. Que se fixo en Portugal que non se puido facer en Galiza"? -, respondeu o entrevistado "O cambio prodúcese cando Inglaterra, entón o primeiro mercado do mundo, entra en conflito con España, deixa de mercarlle e vén a producir ás ribeiras do Douro, pero xa en moitos casos con compañías propias. Levando, por certo, moita man de obra e cultura do viño de Galiza. En Portugal tamén é decisiva a figura do Marqués de Pombal... Despois a filoxera apontoou este proceso. Sobre o que se fixo en Portugal e non se puido facer en Galiza, eu contéstolle á galega: ¿que se puido facer en Portugal que non se fixo en Galiza"?
Há, ali, um grande conhecimento de História. Mas a Unesco não foi flexível à situação. Por curiosidade, gostaria de conhecer a composição do júri.
Num intervalo entre cálculos estatísticos sobre públicos de cultura (e manipulação de dados no SPSS e no Excel), dei um salto ao sítio galego Vieiros, para saber as reacções ao não da Unesco em reconhecer o património imaterial daquela vasta zona do norte da Península Ibérica (tema que o jornal Público de hoje tratou bem).
A meu ver - e sem entrar em qualquer tipo de polémica, que não me interessa -, quem mais perdeu com o não reconhecimento foi a Galiza, enquanto região que pretende maior autonomia política face ao poder central de Madrid. Portugal talvez tenha olhado de modo distraído esta candidatura, até porque se trata de uma parcela do território em associação com uma parcela de Espanha - e desconheço o peso político e de lóbi do grupo que tratou da candidatura do lado nacional.
Contudo, não quero deixar de referir uma entrevista que o sítio Vieiros inclui, onde surgem os pontos de vista de José María Fonseca (presidente do Conselho de Administração de Terras Gauda e membro do Conselho de Administração de Galaxia e do padroado da Fundación Carlos Casares). Diz ele: "É moi certo que as simetrías entre Galiza e o norte de Portugal son moi abondosas. Moitas das variedades autóctonas repítense, trebellos, tipos de elaboración, destilados... Iso que vostede chama inmaterial tradúcese materialmente nunha morea de castes nobres que só existen en Galiza e no norte de Portugal: Treixadura (trajadura), Albariño (Alvarinho), Loureiro, Sousón... ou na cultura existente arredor de destilados como as augardentes branca e bagaceira. Pero a tradición vitivinícola é moi semellante en toda a Europa romanizada. A tradición do que en Galiza chamamos loureiros ou furanchos, coa póla de loureiro fóra para anunciar a colleita, existe practicamente en todo o continente. A tonelería e a arxila para gardar os viños, as festas da vendima e o abillado, as diferentes elaboracións dos viños licorosos ou doces".
A uma pergunta - "Entre os séculos XVI e XVIII, o nivel de coñecemento do viño do Ribeiro era moi superior ao do Porto. A partir do século XIX, a tendéncia invírtese radicalmente, en parte por culpa da filoxera. Que se fixo en Portugal que non se puido facer en Galiza"? -, respondeu o entrevistado "O cambio prodúcese cando Inglaterra, entón o primeiro mercado do mundo, entra en conflito con España, deixa de mercarlle e vén a producir ás ribeiras do Douro, pero xa en moitos casos con compañías propias. Levando, por certo, moita man de obra e cultura do viño de Galiza. En Portugal tamén é decisiva a figura do Marqués de Pombal... Despois a filoxera apontoou este proceso. Sobre o que se fixo en Portugal e non se puido facer en Galiza, eu contéstolle á galega: ¿que se puido facer en Portugal que non se fixo en Galiza"?
Há, ali, um grande conhecimento de História. Mas a Unesco não foi flexível à situação. Por curiosidade, gostaria de conhecer a composição do júri.
NÃO FOI RECONHECIDO O VALOR DO IMATERIAL PELA UNESCO
No dia 9 deste mês, fazia aqui referência à candidatura à Unesco do valor do imaterial da região da Galiza e do norte de Portugal (tradições, oralidades, monumentos). Retiro, de novo, o que se escrevia no sítio galego Vieiros (de onde extraí, e volto a fazê-lo, a imagem): "Todo un conxunto de saberes comúns, transmitidos oralmente de xeración en xeracións, sobre o que pende a ameaza da desaparición. Porén, a candidatura non só predende conservar esta tradición, senón poñela en valor. Porque do que se trata é dun patrimonio para o futuro".
Infelizmente, a Unesco não aceitou. De manhã cedo, ouvi na rádio uma opinião em que nem todos os dossiês estavam bem elaborados. O esforço de quatro anos não foi coroado de êxito. Tenho pena que tal tenha acontecido. A todos (e todas) que trabalharam no projecto, a minha solidariedade.
No dia 9 deste mês, fazia aqui referência à candidatura à Unesco do valor do imaterial da região da Galiza e do norte de Portugal (tradições, oralidades, monumentos). Retiro, de novo, o que se escrevia no sítio galego Vieiros (de onde extraí, e volto a fazê-lo, a imagem): "Todo un conxunto de saberes comúns, transmitidos oralmente de xeración en xeracións, sobre o que pende a ameaza da desaparición. Porén, a candidatura non só predende conservar esta tradición, senón poñela en valor. Porque do que se trata é dun patrimonio para o futuro".
Infelizmente, a Unesco não aceitou. De manhã cedo, ouvi na rádio uma opinião em que nem todos os dossiês estavam bem elaborados. O esforço de quatro anos não foi coroado de êxito. Tenho pena que tal tenha acontecido. A todos (e todas) que trabalharam no projecto, a minha solidariedade.
RELAÇÕES PÚBLICAS, POLÍTICA E JORNALISTAS
[texto produzido pelo autor em 30 de Março de 2001 para o Diário dos Media, grupo de discussão sobre os media, aqui adaptado]
Em Março de 2001, o jornal Público fez sair duas notícias sobre um curso de relações públicas e política, organizado pelo governo dos Açores. Por detrás, estava uma empresa, que elaborou um texto para a ocasião. Dele, obtive uma cópia. A publicação, oriunda de um desconhecido (para mim) Instituto Internacional de Consultoria e Formação, sedeado em Lisboa, tem 34 páginas mais 14 de anexos e intitula-se "Relações institucionais". No preâmbulo, escreve-se: "dar a conhecer a importância que assume, nos dias de hoje, a opinião pública, o relacionamento entre os Serviços Públicos e os Cidadãos organizados em movimentos associativos e o papel que a Comunicação Social tem nesse contexto". O público-alvo identificado no texto é o dos quadros superiores de Administração. Do sumário, distinguem-se os seguintes pontos: a questão da imagem no âmbito da sociedade, os programas de relacionamento, os serviços de atendimento, o relacionamento com a imprensa e as bases para tal relacionamento.
Foi este último ponto – bases para um relacionamento com os jornalistas – que serviu de leitmotiv à escrita do jornalista Nuno Mendes (a garrafa de água para não ter a garganta seca durante a entrevista; as roupas de cores neutras e corte clássico; evitar ter o rosto suado quando se conversa com o jornalista, o que transmite uma impressão de nervosismo e desleixo). Da leitura do texto "Relações Institucionais" ressaltaria a ideia de que o texto jornalístico leva à ideia que a acção de formação realizada pelo governo regional se destinou a "propaganda política" e a "domesticar jornalistas", com uso de palavras com conotação negativa como "acção secreta", "iludir as más notícias".
Selecciono algumas mensagens do texto distribuído na reunião dos Açores: "Nos folhetos e prospectos informativos dirigidos a Comunidades, adoptar linguagem simples e directa e utilizar, ao máximo, recursos de ilustração. Dar, ainda, preferência à informação oral, em função dos índices de analfabetismo que possam existir e do baixo hábito de leitura" (p. 12). "É fundamental que todo o trabalho de atendimento seja registado em cadastros individuais, com identificação da pessoa atendida (nome, endereço e telefone de contacto), quem atendeu, tipo de atendimento solicitado (informações, reclamações, outros), encaminhamento do caso, eventuais dificuldades encontradas, etc. Com base nessas informações, serão elaborados os relatórios periódicos, permitindo o monitoramento do ambiente em que a acção se desenvolve" (p. 16). "Um utente satisfeito melhora sem sombra de dúvida a imagem do Serviço. Por isso, esta deve ser construída juntamente com a eficácia da prestação dos serviços. (...) A atitude de, antecipando-se ao interesse da Comunidade, manter as organizações da Sociedade Civil plenamente informadas é uma das formas de evitar conflitos futuros" (p. 7). "O melhor momento para definir um Programa de Relações com a Sociedade é durante a preparação da acção, o que permite uma identificação e uma preparação mais adequada junto às comunidades envolvidas" (p. 11).
"O relacionamento com a imprensa torna-se, pois, inevitável. Mas a sua qualidade dependerá, principalmente, da postura que venha a ser adoptada. (...) Ao adoptar uma postura activa em relação à imprensa, a instituição passa a manter uma relação que envolve riscos, mas também vantagens" (p. 21). "O relacionamento com a imprensa deve ser uma via de mão dupla. Procurar e atender os jornalistas apenas quando é do interesse da Administração caracteriza uma relação de sentido único, que, mais cedo ou mais tarde, será abandonada pela imprensa. (...) A postura activa é sempre muito bem vista pela imprensa, mesmo em situações de crise" (p. 24). "Não assumir compromissos que não se tenha condições de cumprir. Isso pode adiar, mas não eliminar os problemas. E, o mais grave, comprometerá a credibilidade do programa" (p. 12). "Tenha extremo cuidado ao exteriorizar as suas opiniões pessoais. Ao tecer eventuais comentários sobre temas alheios à sua actividade (como políticas de governo, questões macroeconómicas, etc.), lembre-se de que eles podem ser confundidos com um posicionamento do Governo ou da Administração" (p. 30).
O texto contém umas notas sumárias sobre as empresas jornalísticas e um breve glossário jornalístico. Neste glossário, detecto alguma influência brasileira, caso da palavra pauta (que, no português de Portugal, é agenda), e de outras palavras que não tenho tanta certeza, como colunão (notas curtas, não assinadas) e foca (jornalista novato).
O trabalho apresentado nas Furnas é, assim, um manual de informação positiva (Robert Tixier-Guichard e Daniel Chaize, Les DIRCOMS - à quoi sert la communication? Enquête, 1993, Paris, Seuil, p. 280). Por informação positiva entende-se todas aquelas mensagens que as instituições (poder político, empresas, organizações) pretendem publicitar, por oposição aos danos, que têm de ser controlados (damage control) e mantidos secretos. Durante anos – mais precisamente de 1983 a 1996 –, trabalhei nessa indústria das profissões do simbólico, e sei como se arquitecta a informação positiva.
Para concluir, outra referência, neste caso a um artigo saído na revista do Expresso, em 18 de Novembro de 2000, mas que só agora tomei conhecimento. O título é sugestivo: "A arte do lobbying". Um conjunto de empresas de lobbying e comunicação e imagem falam de si, das suas campanhas e da facturação prevista. Duas delas previam facturar em 2000 mais de 600 mil contos [três milhões de euros]. A maior parte dessas empresas consultadas têm estruturas com mais de 10 pessoas. Os clientes vão da banca às telecomunicações e a ONGs (como a célebre Abraço). Mas incluem-se também os departamentos de Estado. Uma citação ao acaso: "Miguel Almeida Fernandes tem a mesma posição: «Como consultores da região de Turismo do Algarve, tivemos de lhes explicar que era muito mais vantajoso conseguir uma reportagem de página inteira numa revista espanhola, com a foto do presidente da Região de Turismo entre Maria José Ritta [mulher de Jorge Sampaio, presidente da República] e Luciano Pavarotti, do que colocar um anúncio na mesma edição»".
Muitos dos dirigentes destas empresas são antigos jornalistas e tornam-se, hoje, uma espécie de intermediários entre as instituições e os jornalistas. Vantagens? Desvantagens? O certo é que, hoje, o governo e as grandes empresas (as fontes oficiais) usam agências de comunicação ou admitem jornalistas para as suas direcções de comunicação e imagem. Foi o que aconteceu com o antigo editor de economia da RTP, Paulo Fidalgo, depois porta-voz do BCP. Ainda ontem [29.3.2001] declarações dele vinham no Público a propósito do "emagrecimento" do número de balcões e de empregados "em fim de carreira".
[texto produzido pelo autor em 30 de Março de 2001 para o Diário dos Media, grupo de discussão sobre os media, aqui adaptado]
Em Março de 2001, o jornal Público fez sair duas notícias sobre um curso de relações públicas e política, organizado pelo governo dos Açores. Por detrás, estava uma empresa, que elaborou um texto para a ocasião. Dele, obtive uma cópia. A publicação, oriunda de um desconhecido (para mim) Instituto Internacional de Consultoria e Formação, sedeado em Lisboa, tem 34 páginas mais 14 de anexos e intitula-se "Relações institucionais". No preâmbulo, escreve-se: "dar a conhecer a importância que assume, nos dias de hoje, a opinião pública, o relacionamento entre os Serviços Públicos e os Cidadãos organizados em movimentos associativos e o papel que a Comunicação Social tem nesse contexto". O público-alvo identificado no texto é o dos quadros superiores de Administração. Do sumário, distinguem-se os seguintes pontos: a questão da imagem no âmbito da sociedade, os programas de relacionamento, os serviços de atendimento, o relacionamento com a imprensa e as bases para tal relacionamento.
Foi este último ponto – bases para um relacionamento com os jornalistas – que serviu de leitmotiv à escrita do jornalista Nuno Mendes (a garrafa de água para não ter a garganta seca durante a entrevista; as roupas de cores neutras e corte clássico; evitar ter o rosto suado quando se conversa com o jornalista, o que transmite uma impressão de nervosismo e desleixo). Da leitura do texto "Relações Institucionais" ressaltaria a ideia de que o texto jornalístico leva à ideia que a acção de formação realizada pelo governo regional se destinou a "propaganda política" e a "domesticar jornalistas", com uso de palavras com conotação negativa como "acção secreta", "iludir as más notícias".
Selecciono algumas mensagens do texto distribuído na reunião dos Açores: "Nos folhetos e prospectos informativos dirigidos a Comunidades, adoptar linguagem simples e directa e utilizar, ao máximo, recursos de ilustração. Dar, ainda, preferência à informação oral, em função dos índices de analfabetismo que possam existir e do baixo hábito de leitura" (p. 12). "É fundamental que todo o trabalho de atendimento seja registado em cadastros individuais, com identificação da pessoa atendida (nome, endereço e telefone de contacto), quem atendeu, tipo de atendimento solicitado (informações, reclamações, outros), encaminhamento do caso, eventuais dificuldades encontradas, etc. Com base nessas informações, serão elaborados os relatórios periódicos, permitindo o monitoramento do ambiente em que a acção se desenvolve" (p. 16). "Um utente satisfeito melhora sem sombra de dúvida a imagem do Serviço. Por isso, esta deve ser construída juntamente com a eficácia da prestação dos serviços. (...) A atitude de, antecipando-se ao interesse da Comunidade, manter as organizações da Sociedade Civil plenamente informadas é uma das formas de evitar conflitos futuros" (p. 7). "O melhor momento para definir um Programa de Relações com a Sociedade é durante a preparação da acção, o que permite uma identificação e uma preparação mais adequada junto às comunidades envolvidas" (p. 11).
"O relacionamento com a imprensa torna-se, pois, inevitável. Mas a sua qualidade dependerá, principalmente, da postura que venha a ser adoptada. (...) Ao adoptar uma postura activa em relação à imprensa, a instituição passa a manter uma relação que envolve riscos, mas também vantagens" (p. 21). "O relacionamento com a imprensa deve ser uma via de mão dupla. Procurar e atender os jornalistas apenas quando é do interesse da Administração caracteriza uma relação de sentido único, que, mais cedo ou mais tarde, será abandonada pela imprensa. (...) A postura activa é sempre muito bem vista pela imprensa, mesmo em situações de crise" (p. 24). "Não assumir compromissos que não se tenha condições de cumprir. Isso pode adiar, mas não eliminar os problemas. E, o mais grave, comprometerá a credibilidade do programa" (p. 12). "Tenha extremo cuidado ao exteriorizar as suas opiniões pessoais. Ao tecer eventuais comentários sobre temas alheios à sua actividade (como políticas de governo, questões macroeconómicas, etc.), lembre-se de que eles podem ser confundidos com um posicionamento do Governo ou da Administração" (p. 30).
O texto contém umas notas sumárias sobre as empresas jornalísticas e um breve glossário jornalístico. Neste glossário, detecto alguma influência brasileira, caso da palavra pauta (que, no português de Portugal, é agenda), e de outras palavras que não tenho tanta certeza, como colunão (notas curtas, não assinadas) e foca (jornalista novato).
O trabalho apresentado nas Furnas é, assim, um manual de informação positiva (Robert Tixier-Guichard e Daniel Chaize, Les DIRCOMS - à quoi sert la communication? Enquête, 1993, Paris, Seuil, p. 280). Por informação positiva entende-se todas aquelas mensagens que as instituições (poder político, empresas, organizações) pretendem publicitar, por oposição aos danos, que têm de ser controlados (damage control) e mantidos secretos. Durante anos – mais precisamente de 1983 a 1996 –, trabalhei nessa indústria das profissões do simbólico, e sei como se arquitecta a informação positiva.
Para concluir, outra referência, neste caso a um artigo saído na revista do Expresso, em 18 de Novembro de 2000, mas que só agora tomei conhecimento. O título é sugestivo: "A arte do lobbying". Um conjunto de empresas de lobbying e comunicação e imagem falam de si, das suas campanhas e da facturação prevista. Duas delas previam facturar em 2000 mais de 600 mil contos [três milhões de euros]. A maior parte dessas empresas consultadas têm estruturas com mais de 10 pessoas. Os clientes vão da banca às telecomunicações e a ONGs (como a célebre Abraço). Mas incluem-se também os departamentos de Estado. Uma citação ao acaso: "Miguel Almeida Fernandes tem a mesma posição: «Como consultores da região de Turismo do Algarve, tivemos de lhes explicar que era muito mais vantajoso conseguir uma reportagem de página inteira numa revista espanhola, com a foto do presidente da Região de Turismo entre Maria José Ritta [mulher de Jorge Sampaio, presidente da República] e Luciano Pavarotti, do que colocar um anúncio na mesma edição»".
Muitos dos dirigentes destas empresas são antigos jornalistas e tornam-se, hoje, uma espécie de intermediários entre as instituições e os jornalistas. Vantagens? Desvantagens? O certo é que, hoje, o governo e as grandes empresas (as fontes oficiais) usam agências de comunicação ou admitem jornalistas para as suas direcções de comunicação e imagem. Foi o que aconteceu com o antigo editor de economia da RTP, Paulo Fidalgo, depois porta-voz do BCP. Ainda ontem [29.3.2001] declarações dele vinham no Público a propósito do "emagrecimento" do número de balcões e de empregados "em fim de carreira".
quinta-feira, 24 de novembro de 2005
INDÚSTRIAS CRIATIVAS VERSUS PIRATARIA
Segundo Jemima Kiss, do sítio journalism.co.uk, o governo inglês pretende conhecer melhor o impacto das tecnologias dos novos media nas indústrias criativas. Uma comissão do departamento de Estado dedicado à matéria (Culture, Media and Sport) quer ouvir as posições de responsáveis do audiovisual, designers e empresas (e empresários) das indústrias criativas sobre partilha de conteúdos ilegais e efeitos das tecnologias de convergência, assim como auscultar se a presente regulação protege eficientemente os conteúdos criativos em plataformas digitais. A mesma comissão quer ainda receber ideias sobre como equilibrar os direitos dos criadores com as expectativas dos utilizadores [usuários] da internet.
Segundo Jemima Kiss, do sítio journalism.co.uk, o governo inglês pretende conhecer melhor o impacto das tecnologias dos novos media nas indústrias criativas. Uma comissão do departamento de Estado dedicado à matéria (Culture, Media and Sport) quer ouvir as posições de responsáveis do audiovisual, designers e empresas (e empresários) das indústrias criativas sobre partilha de conteúdos ilegais e efeitos das tecnologias de convergência, assim como auscultar se a presente regulação protege eficientemente os conteúdos criativos em plataformas digitais. A mesma comissão quer ainda receber ideias sobre como equilibrar os direitos dos criadores com as expectativas dos utilizadores [usuários] da internet.
COMUNIMODO - UM SÍTIO PEDAGÓGICO NAS CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
Tomei agora contacto com o sítio ComuniNodo, do departamento de comunicação da Universidade de Vigo (Galiza, Espanha). Tem muita informação sobre comunicação e suas teorias, com resumos e links, num sentido bastante pedagógico.
A descobrir e aprender!
Tomei agora contacto com o sítio ComuniNodo, do departamento de comunicação da Universidade de Vigo (Galiza, Espanha). Tem muita informação sobre comunicação e suas teorias, com resumos e links, num sentido bastante pedagógico.
A descobrir e aprender!
CALL FOR PAPERS - BRAZILIAN JOURNALISM RESEARCH
Call for paper – Number 1, Vol. 2, 2006
"The journal Brazilian Journalism Research is now announcing a call for paper for its next issue, to be printed during Semester I, 2006. The deadline is March 30th. 2006. Brazilian Journalism Research is a semi-annual scientific journal published by the Brazilian Journalism Researchers Association. For further information about SBPJor, please visit our website (Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo). The association is dedicated to theory and research on journalism (both theoretical and empirical work). The journal is totally edited in English.
"Schedule for Vol II, number 1: Call for paper: December 1st. 2005 to March 30th 2006; Editorial decisions: April 30th 2006; Editing and printing: May-June 2006; Distribution: June 2006. Submission - The articles should be originals in the English language; preference will be assigned to empirical research reports; authors should send a copy of the manuscript of the article, labeled and typed in double space throughout, to the following electronic addresses by March 30th, 2006: lmotta@sbpjor.org.br or luizmottaunb@yahoo.com.br".
Call for paper – Number 1, Vol. 2, 2006
"The journal Brazilian Journalism Research is now announcing a call for paper for its next issue, to be printed during Semester I, 2006. The deadline is March 30th. 2006. Brazilian Journalism Research is a semi-annual scientific journal published by the Brazilian Journalism Researchers Association. For further information about SBPJor, please visit our website (Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo). The association is dedicated to theory and research on journalism (both theoretical and empirical work). The journal is totally edited in English.
"Schedule for Vol II, number 1: Call for paper: December 1st. 2005 to March 30th 2006; Editorial decisions: April 30th 2006; Editing and printing: May-June 2006; Distribution: June 2006. Submission - The articles should be originals in the English language; preference will be assigned to empirical research reports; authors should send a copy of the manuscript of the article, labeled and typed in double space throughout, to the following electronic addresses by March 30th, 2006: lmotta@sbpjor.org.br or luizmottaunb@yahoo.com.br".
A AULA DE HOJE
Foi agradável, na aula de hoje, ouvir Raquel Ribeiro Santos, responsável pelos Serviços Educativos da Culturgest.
O que disse? Dos serviços educativos criados há cerca de um ano, dos projectos a eles associados, das visitas guiadas. Foi uma presença jovem e pedagógica, onde ela falou dos públicos criados e a criar, os públicos reais e os públicos potenciais. Referiu-se à programação anual, que inclui públicos infantis (3 a 5 anos) e primeiro ciclo de escolaridade.
Os formatos da informação em papel constituiram outro dos temas abordados, estabelecendo elas comparação entre informação produzida pela Culturgest nos vários programas produzidos e com programas de outras instituições da cultura (benchmarking). Raquel Ribeiro Santos, que tem uma grande exigência com esses documentos e que constituem o primeiro cartão de visita da sua instituição, mostrou alguns dos exemplares, uns maiores que outros mas sempre adaptados às circunstâncias (como os enviados por correio) [a imagem ao lado, retirada do quadro a óleo e lápis de óleo sobre tela, de Fátima Mendonça, Salinha forrada a bolo-mármore, de 2004-2005 (exposição patente até 18 de Dezembro) encabeça um dos cartazes dos Serviços Educativos da Culturgest].
A programação para as escolas assenta numa grande empatia com alunos e professores, tendo, previamente, de identificar necessidades e características. Uma das melhores regras é saber o que as escolas estão a fazer, para aumentar essa empatia. Além de criar uma rede de professores, com quem produz uma avaliação do trabalho conjunto desenvolvido.
Segundo a nossa convidada, trabalhar com públicos infantis ou muito jovens implica também estabelecer - para além das escolas - ligação aos pais das crianças, no que ela designou por públicos familiares. Tal quer dizer ainda mostrar o que a Culturgest é: 1) a identidade desta, 2) o que ela está a fazer (teatro, música, exposições, etc.), e 3) contactos, como o telefone ou o e-mail.
A mim, que sou vizinho da Culturgest, ela deu um aspecto distinto da zona residencial de influência da instituição: público relativamente jovem e de nível económico elevado, logo público(s) potencial(ais) para visitar aquele espaço cultural. Uma política de proximidade, nomeadamente com as escolas da zona, levam-na a um contacto muito pessoal e através do telefone.
Observação: no ano lectivo passado, convidara Bárbara Coutinho e Marise Francisco, dos Serviços Educativos do Centro Cultural de Belém (CCB) [ver mensagem de 10 de Dezembro de 2004]. Não sabia, até pouco tempo antes, da enorme importância deste tipo de serviços dentro de instituições como a Culturgest, CCB ou Gulbenkian. Por detrás destes serviços está uma grande responsabilidade em formar ou apoiar a formação de públicos da cultura. Quanto a mim, não tem sido realçado este esforço das instituições e dos seus jovens mas muito bem preparados quadros (mais no feminino que no masculino, parece-me).
Foi agradável, na aula de hoje, ouvir Raquel Ribeiro Santos, responsável pelos Serviços Educativos da Culturgest.
O que disse? Dos serviços educativos criados há cerca de um ano, dos projectos a eles associados, das visitas guiadas. Foi uma presença jovem e pedagógica, onde ela falou dos públicos criados e a criar, os públicos reais e os públicos potenciais. Referiu-se à programação anual, que inclui públicos infantis (3 a 5 anos) e primeiro ciclo de escolaridade.
Os formatos da informação em papel constituiram outro dos temas abordados, estabelecendo elas comparação entre informação produzida pela Culturgest nos vários programas produzidos e com programas de outras instituições da cultura (benchmarking). Raquel Ribeiro Santos, que tem uma grande exigência com esses documentos e que constituem o primeiro cartão de visita da sua instituição, mostrou alguns dos exemplares, uns maiores que outros mas sempre adaptados às circunstâncias (como os enviados por correio) [a imagem ao lado, retirada do quadro a óleo e lápis de óleo sobre tela, de Fátima Mendonça, Salinha forrada a bolo-mármore, de 2004-2005 (exposição patente até 18 de Dezembro) encabeça um dos cartazes dos Serviços Educativos da Culturgest].
A programação para as escolas assenta numa grande empatia com alunos e professores, tendo, previamente, de identificar necessidades e características. Uma das melhores regras é saber o que as escolas estão a fazer, para aumentar essa empatia. Além de criar uma rede de professores, com quem produz uma avaliação do trabalho conjunto desenvolvido.
Segundo a nossa convidada, trabalhar com públicos infantis ou muito jovens implica também estabelecer - para além das escolas - ligação aos pais das crianças, no que ela designou por públicos familiares. Tal quer dizer ainda mostrar o que a Culturgest é: 1) a identidade desta, 2) o que ela está a fazer (teatro, música, exposições, etc.), e 3) contactos, como o telefone ou o e-mail.
A mim, que sou vizinho da Culturgest, ela deu um aspecto distinto da zona residencial de influência da instituição: público relativamente jovem e de nível económico elevado, logo público(s) potencial(ais) para visitar aquele espaço cultural. Uma política de proximidade, nomeadamente com as escolas da zona, levam-na a um contacto muito pessoal e através do telefone.
Observação: no ano lectivo passado, convidara Bárbara Coutinho e Marise Francisco, dos Serviços Educativos do Centro Cultural de Belém (CCB) [ver mensagem de 10 de Dezembro de 2004]. Não sabia, até pouco tempo antes, da enorme importância deste tipo de serviços dentro de instituições como a Culturgest, CCB ou Gulbenkian. Por detrás destes serviços está uma grande responsabilidade em formar ou apoiar a formação de públicos da cultura. Quanto a mim, não tem sido realçado este esforço das instituições e dos seus jovens mas muito bem preparados quadros (mais no feminino que no masculino, parece-me).
FUGAS DE INFORMAÇÃO
(Contributo do autor para o Diário dos Media, grupo de discussão de estudiosos dos media, a 6 de Janeiro de 2001, aqui adaptado).
Tenho trabalhado ultimamente este tema, como parte da investigação em jornalismo. Com o presente texto, procuro adequá-lo a um hipotético dicionário de entradas. Pela fuga de informação, pretende-se desequilibrar uma relação de forças, através de informações mantidas secretas e que se tornam públicas. Ericsson et al. (1989) – que descreveram os contactos entre jornalistas e fontes como equivalente ao palco (onde se publicita, anuncia) e bastidor (onde se esconde, o secreto mas também a confidência) – consideram que o parlamento é um espaço ideal para as fugas de informação. No parlamento, há muitas organizações distintas interessadas em descobrir segredos das outras (Ericsson et al., 1989: 220). Cada organização possui especialistas em "largar" informação, com objectivos próprios: cativar os jornalistas e ter acesso aos media; espicaçar os adversários, para que estes reajam, libertando outra informação e alterando a rota das suas intenções. Além de um especialista, a fuga pode ser executada por um amador, divulgando um abuso ou um erro de gestão. O aumento das fugas de informação resulta da concorrência interna de diversos poderes em instituições em que a luta pelo poder é importante (pessoas, grupos, facções políticas, económicas, religiosas).
Na fuga de informação, a fonte esconde-se através do anonimato. Actua [ou pode actuar] por mera vingança, para "abater" uma pessoa ou entidade, para publicitar uma injustiça ou dificuldade, pelo efeito de surpresa, como balão de ensaio para medir reacções a uma proposta ou projecto a lançar. Dentro das estruturas institucionais – e o parlamento é uma delas – produzem-se muitos boatos ou rumores. Enquanto o boato ou rumor tem um carácter indefinido, com apenas alguns elementos coerentes (e que podem resultar da distorção de elementos), sem identificação de origem, a fuga de informação possui uma origem própria, mas que se esconde, temendo represálias ou actuando por vingança. O rumor é um meio importante, pois pode constituir uma campanha de insinuação para desacreditar os adversários.
A fuga de informação implica a colaboração activa de uma fonte e de um jornalista. Ambos têm interesse, embora diferenciado. Os livros de estilo dos media rejeitam a fuga de informação, exceptuando quando a informação coloca a fonte em perigo físico.
(Contributo do autor para o Diário dos Media, grupo de discussão de estudiosos dos media, a 6 de Janeiro de 2001, aqui adaptado).
Tenho trabalhado ultimamente este tema, como parte da investigação em jornalismo. Com o presente texto, procuro adequá-lo a um hipotético dicionário de entradas. Pela fuga de informação, pretende-se desequilibrar uma relação de forças, através de informações mantidas secretas e que se tornam públicas. Ericsson et al. (1989) – que descreveram os contactos entre jornalistas e fontes como equivalente ao palco (onde se publicita, anuncia) e bastidor (onde se esconde, o secreto mas também a confidência) – consideram que o parlamento é um espaço ideal para as fugas de informação. No parlamento, há muitas organizações distintas interessadas em descobrir segredos das outras (Ericsson et al., 1989: 220). Cada organização possui especialistas em "largar" informação, com objectivos próprios: cativar os jornalistas e ter acesso aos media; espicaçar os adversários, para que estes reajam, libertando outra informação e alterando a rota das suas intenções. Além de um especialista, a fuga pode ser executada por um amador, divulgando um abuso ou um erro de gestão. O aumento das fugas de informação resulta da concorrência interna de diversos poderes em instituições em que a luta pelo poder é importante (pessoas, grupos, facções políticas, económicas, religiosas).
Na fuga de informação, a fonte esconde-se através do anonimato. Actua [ou pode actuar] por mera vingança, para "abater" uma pessoa ou entidade, para publicitar uma injustiça ou dificuldade, pelo efeito de surpresa, como balão de ensaio para medir reacções a uma proposta ou projecto a lançar. Dentro das estruturas institucionais – e o parlamento é uma delas – produzem-se muitos boatos ou rumores. Enquanto o boato ou rumor tem um carácter indefinido, com apenas alguns elementos coerentes (e que podem resultar da distorção de elementos), sem identificação de origem, a fuga de informação possui uma origem própria, mas que se esconde, temendo represálias ou actuando por vingança. O rumor é um meio importante, pois pode constituir uma campanha de insinuação para desacreditar os adversários.
A fuga de informação implica a colaboração activa de uma fonte e de um jornalista. Ambos têm interesse, embora diferenciado. Os livros de estilo dos media rejeitam a fuga de informação, exceptuando quando a informação coloca a fonte em perigo físico.
quarta-feira, 23 de novembro de 2005
REVISTA COMUNICAÇÃO & CULTURA
A Universidade Católica Portuguesa vai lançar uma revista intitulada Comunicação & Cultura, publicação semestral, a começar em 2006, com peer-review, "projecto de edição que pretende dar visibilidade a uma articulação de saberes nas áreas das ciências da comunicação e dos estudos culturais, com o objectivo de explorar perspectivas inovadoras e repensar o campo de estudos de forma interdisciplinar".
Neste momento, está-se a fazer o Call for papers para o número inicial com o tema A Cor dos Media. Parte-se do princípio que "Os meios de comunicação social, enquanto agentes privilegiados de mediação, impõem, através das suas agendas, temas e questões de natureza diversa que originam discussão pública e reflexão conjunta. A Cor dos Media evoca uma multiplicidade de perspectivas, a complexidade da mediação e os modos como esta representa a diversidade".
Aceitam-se contributos que incidam nomeadamente sobre media e raça, imigração e os media, construção da identidade, propriedade dos media, democracia e os media. Os trabalhos submetidos a apreciação deverão estar de acordo com as normas de publicação, podendo ser enviados até dia 15 de Janeiro de 2006, para um dos seguintes endereços: comunicultura@fch.ucp.pt ou Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de Ciências Humanas, Revista Comunicação & Cultura, Palma de Cima, 1649-023 Lisboa.
A Universidade Católica Portuguesa vai lançar uma revista intitulada Comunicação & Cultura, publicação semestral, a começar em 2006, com peer-review, "projecto de edição que pretende dar visibilidade a uma articulação de saberes nas áreas das ciências da comunicação e dos estudos culturais, com o objectivo de explorar perspectivas inovadoras e repensar o campo de estudos de forma interdisciplinar".
Neste momento, está-se a fazer o Call for papers para o número inicial com o tema A Cor dos Media. Parte-se do princípio que "Os meios de comunicação social, enquanto agentes privilegiados de mediação, impõem, através das suas agendas, temas e questões de natureza diversa que originam discussão pública e reflexão conjunta. A Cor dos Media evoca uma multiplicidade de perspectivas, a complexidade da mediação e os modos como esta representa a diversidade".
Aceitam-se contributos que incidam nomeadamente sobre media e raça, imigração e os media, construção da identidade, propriedade dos media, democracia e os media. Os trabalhos submetidos a apreciação deverão estar de acordo com as normas de publicação, podendo ser enviados até dia 15 de Janeiro de 2006, para um dos seguintes endereços: comunicultura@fch.ucp.pt ou Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de Ciências Humanas, Revista Comunicação & Cultura, Palma de Cima, 1649-023 Lisboa.
NOVAS FUNCIONALIDADES DO eXTReMe
Para conhecer os últimos vinte visitantes, agora tenho uma indicação visual directa do país e da zona e da organização (se for Portugal).
Aquilo que Sérgio Nunes pôs em comentário à minha mensagem sobre o Google tem também algum sentido se se aplicar à eXTReMe: "Substituindo a palavra GMail por Hotmail, Yahoo!Mail ou qualquer outro serviço de mail, a interpretação pode ser a mesma. Mesmo o mais básico serviço processa (de forma automática!) as mensagens para, por exemplo, fazer pesquisas. Isto é, só conseguimos pesquisar as nossas mensagens porque o conteúdo delas é processado por programas. É exactamente o acontece com os anúncios do Google. Um problema mais real é o cruzamento de informação que o Google pode fazer entre serviços. Aí sim, acho que é necessário tomar algumas precauções. Por outro lado, uma vantagem do Google em relação a outros serviços é a clareza com que apresentam a política de privacidade".
Obrigado a Sérgio Nunes pelo seu comentário.
Para conhecer os últimos vinte visitantes, agora tenho uma indicação visual directa do país e da zona e da organização (se for Portugal).
Aquilo que Sérgio Nunes pôs em comentário à minha mensagem sobre o Google tem também algum sentido se se aplicar à eXTReMe: "Substituindo a palavra GMail por Hotmail, Yahoo!Mail ou qualquer outro serviço de mail, a interpretação pode ser a mesma. Mesmo o mais básico serviço processa (de forma automática!) as mensagens para, por exemplo, fazer pesquisas. Isto é, só conseguimos pesquisar as nossas mensagens porque o conteúdo delas é processado por programas. É exactamente o acontece com os anúncios do Google. Um problema mais real é o cruzamento de informação que o Google pode fazer entre serviços. Aí sim, acho que é necessário tomar algumas precauções. Por outro lado, uma vantagem do Google em relação a outros serviços é a clareza com que apresentam a política de privacidade".
Obrigado a Sérgio Nunes pelo seu comentário.
RECUPERAÇÃO DE NOTÍCIAS (III)
Para o Sunday Times de 20 do corrente, em peça escrita por Paul Durman, a empresa de internet AOL prepara-se para lançar no próximo ano um serviço de aluguer de filmes através do sistema de banda larga. Os filmes pertencem à empresa irmã Warner Bros.
O serviço video-on-demand da AOL será o primeiro a oferecer descarregamentos (downloads) legais de filmes como Harry Potter e Batman, num mercado em que se estima haver mais de 20% de descarregamentos ilegais. Muitos destes usam o software BitTorrent.
Ao anunciar o arranque de uma actividade como esta há a demonstração da convergência entre companhias de telecomunicações e media e entretenimento. Isto porque a BT (empresa inglesa de telecomunicações) também anunciou a intenção de lançar o serviço de televisão e internet por pedido (video-on-demand) para 2006.
A AOL ainda não decidiu o preço a praticar. Lê-se na peça que o valor será próximo ao do aluguer de DVDs da Blockbuster e outras empresas do sector. A exibição dos filmes ocorrerá logo após a edição em formato DVD. Os clientes descarregarão o filme no computador e terão sete dias para o verem.
Para o Sunday Times de 20 do corrente, em peça escrita por Paul Durman, a empresa de internet AOL prepara-se para lançar no próximo ano um serviço de aluguer de filmes através do sistema de banda larga. Os filmes pertencem à empresa irmã Warner Bros.
O serviço video-on-demand da AOL será o primeiro a oferecer descarregamentos (downloads) legais de filmes como Harry Potter e Batman, num mercado em que se estima haver mais de 20% de descarregamentos ilegais. Muitos destes usam o software BitTorrent.
Ao anunciar o arranque de uma actividade como esta há a demonstração da convergência entre companhias de telecomunicações e media e entretenimento. Isto porque a BT (empresa inglesa de telecomunicações) também anunciou a intenção de lançar o serviço de televisão e internet por pedido (video-on-demand) para 2006.
A AOL ainda não decidiu o preço a praticar. Lê-se na peça que o valor será próximo ao do aluguer de DVDs da Blockbuster e outras empresas do sector. A exibição dos filmes ocorrerá logo após a edição em formato DVD. Os clientes descarregarão o filme no computador e terão sete dias para o verem.
RECUPERAÇÃO DE NOTÍCIAS (II)
Ainda do Diário de Notícias de domingo transacto recupero outra notícia, em edição de Sónia Correia dos Santos e fotografia de Gonçalo Santos, sobre os prémios de design ñho2.
O Diário de Notícias foi, segundo a notícia, eleito o jornal ibérico impresso com melhor design em 2005, conquistando ainda dois galardões de Ouro (capa sobre a morte de Arafat e grafismo da reportagem Flores do Mal). Dois outros jornais portugueses galardoados foram o Público e O Independente. A edição online do madrileno El Pais ganhou o prémio de melhor design na categoria de online.
Parabéns a todos!
Ainda do Diário de Notícias de domingo transacto recupero outra notícia, em edição de Sónia Correia dos Santos e fotografia de Gonçalo Santos, sobre os prémios de design ñho2.
O Diário de Notícias foi, segundo a notícia, eleito o jornal ibérico impresso com melhor design em 2005, conquistando ainda dois galardões de Ouro (capa sobre a morte de Arafat e grafismo da reportagem Flores do Mal). Dois outros jornais portugueses galardoados foram o Público e O Independente. A edição online do madrileno El Pais ganhou o prémio de melhor design na categoria de online.
Parabéns a todos!
RECUPERAÇÃO DE NOTÍCIAS (I)
No passado domingo, o Diário de Notícias, em texto assinado por Paula Brito, dava conta dos prémios lançados pelos anunciantes.
O objectivo da APAN (Associação Portuguesa dos Anunciantes) foi premiar a eficácia de campanhas de publicidade, em termos traçados pelos anunciantes (vendas, facturação) e reforço de notoriedade de marca (índices de recordação, afinidade, simpatia). Segundo a notícia, a BBDO e a Arena ganharam o Grande Prémio de eficácia.
Retiro do texto escrito por Luís Mergulhão, o responsável máximo (CEO) do grupo OMD em Portugal: "Na nossa vida, à medida que percepcionamos que um Mundo global nos cerca, sabemos que a identidade, a forma, e conteúdo, a diversidade e a capilaridade marcam os nossos dias. O mesmo acontece com as Marcas: trabalhar com estas, ter em conta os seus objectivos e público-alvo, não basta. Temos de acrescentar valor e trabalhar com as agências criativas, os meios e outras entidades que trabalham na Comunicação. Os prémios, esses, são as Marcas. E, por isso, de todos. Principalmente dos consumidores".
No passado domingo, o Diário de Notícias, em texto assinado por Paula Brito, dava conta dos prémios lançados pelos anunciantes.
O objectivo da APAN (Associação Portuguesa dos Anunciantes) foi premiar a eficácia de campanhas de publicidade, em termos traçados pelos anunciantes (vendas, facturação) e reforço de notoriedade de marca (índices de recordação, afinidade, simpatia). Segundo a notícia, a BBDO e a Arena ganharam o Grande Prémio de eficácia.
Retiro do texto escrito por Luís Mergulhão, o responsável máximo (CEO) do grupo OMD em Portugal: "Na nossa vida, à medida que percepcionamos que um Mundo global nos cerca, sabemos que a identidade, a forma, e conteúdo, a diversidade e a capilaridade marcam os nossos dias. O mesmo acontece com as Marcas: trabalhar com estas, ter em conta os seus objectivos e público-alvo, não basta. Temos de acrescentar valor e trabalhar com as agências criativas, os meios e outras entidades que trabalham na Comunicação. Os prémios, esses, são as Marcas. E, por isso, de todos. Principalmente dos consumidores".
SOBRE O GMAIL
No passado domingo, o Sunday Times trazia uma página dedicada ao email da Google, o Gmail (Google Mail, no Reino Unido). É que há o receio do Gmail perder confidencialidade, podendo qualquer mensagem ser interceptada por alguém com menos escrúpulos.
A história começou na Primavera do ano passado, quando Larry Page e Sergey Brin, os fundadores da empresa, delinearam um novo tipo de email, que queriam mais rápido, barato e inteligente. Planearam oferecer um espaço de um gigabyte (mil megabytes) a cada pessoa que abrisse uma conta na rede do Google, 500 vezes mais do que o oferecido pela Microsoft e 250 vezes mais que a Yahoo.
David Vise - em livro publicado pela MacMillan e com o título The Google Story, com extracto publicado no jornal e que eu sigo - narra o facto da Google, para tornar rentável o seu produto desde a fase de ensaio, colocar publicidade dentro de cada mensagem de correio electrónico. A publicidade tem uma "relevância contextual", adaptando-se ao que cada mensagem contém, através de palavras-chave. Isto é, há uma máquina que observa as mensagens e atribui a dita relevância contextual. Dizendo de outra maneira, as mensagens são lidas não apenas por quem envia a mensagem e por que a recebe. Tal põe em risco a reputação e o bom nome da Google, como escreveu Walt Mossberg, respeitado colunista de tecnologia do Wall Street Journal.
A questão levou políticos e grupos privados a atacarem a Google. A Privacy Rights Clearance, com sede em San Diego, na Califórnia, e outros trinta grupos de defesa dos direitos civis assinaram uma carta a pedir a suspensão do Gmail, assim como tornar explícitas as políticas e práticas em termos de partilha de dados. A carta de 6 de Abril de 2004 indicava que o uso de publicidade nas mensagens de correio electrónico reduzia em muito as expectativas quanto à privacidade das mesmas.
Foi então que os fundadores do Google se viraram para Brad Templeton, um especialista em internet e amigo de longa data de Larry Page e Sergey Brin. Templeton sugeriu que as mensagens fossem encriptadas, de modo a ser tecnicamente impossível procurar um arquivo completo. Uma outra questão associada é a do arquivo das mensagens electrónicas guardado por mais de 180 dias por parte da Google. Levanta-se a ideia da sociedade do Big Brother, a da vigilância de todos os movimentos de um cidadão. Esta possibilidade parecerá mais real se se encarar a hipótese de fusão dos motores de busca do Google com o Gmail.
No passado domingo, o Sunday Times trazia uma página dedicada ao email da Google, o Gmail (Google Mail, no Reino Unido). É que há o receio do Gmail perder confidencialidade, podendo qualquer mensagem ser interceptada por alguém com menos escrúpulos.
A história começou na Primavera do ano passado, quando Larry Page e Sergey Brin, os fundadores da empresa, delinearam um novo tipo de email, que queriam mais rápido, barato e inteligente. Planearam oferecer um espaço de um gigabyte (mil megabytes) a cada pessoa que abrisse uma conta na rede do Google, 500 vezes mais do que o oferecido pela Microsoft e 250 vezes mais que a Yahoo.
David Vise - em livro publicado pela MacMillan e com o título The Google Story, com extracto publicado no jornal e que eu sigo - narra o facto da Google, para tornar rentável o seu produto desde a fase de ensaio, colocar publicidade dentro de cada mensagem de correio electrónico. A publicidade tem uma "relevância contextual", adaptando-se ao que cada mensagem contém, através de palavras-chave. Isto é, há uma máquina que observa as mensagens e atribui a dita relevância contextual. Dizendo de outra maneira, as mensagens são lidas não apenas por quem envia a mensagem e por que a recebe. Tal põe em risco a reputação e o bom nome da Google, como escreveu Walt Mossberg, respeitado colunista de tecnologia do Wall Street Journal.
A questão levou políticos e grupos privados a atacarem a Google. A Privacy Rights Clearance, com sede em San Diego, na Califórnia, e outros trinta grupos de defesa dos direitos civis assinaram uma carta a pedir a suspensão do Gmail, assim como tornar explícitas as políticas e práticas em termos de partilha de dados. A carta de 6 de Abril de 2004 indicava que o uso de publicidade nas mensagens de correio electrónico reduzia em muito as expectativas quanto à privacidade das mesmas.
Foi então que os fundadores do Google se viraram para Brad Templeton, um especialista em internet e amigo de longa data de Larry Page e Sergey Brin. Templeton sugeriu que as mensagens fossem encriptadas, de modo a ser tecnicamente impossível procurar um arquivo completo. Uma outra questão associada é a do arquivo das mensagens electrónicas guardado por mais de 180 dias por parte da Google. Levanta-se a ideia da sociedade do Big Brother, a da vigilância de todos os movimentos de um cidadão. Esta possibilidade parecerá mais real se se encarar a hipótese de fusão dos motores de busca do Google com o Gmail.
terça-feira, 22 de novembro de 2005
A SEGUIR SEMPRE COM ATENÇÃO
O que se escreve no blogue Jornalismo e Comunicação. Hoje, o texto Achegas para o debate sobre o papel das televisão na sociedade - um contributo de investigadores da Universidade do Algarve, com base na tomada de posição de três professores daquela universidade, liderados por Vítor Reia-Baptista, e hoje editado no jornal Público (anteriormente, a Universidade do Minho tomara uma posição sobre o assunto, assinada por alguns dos colaboradores do blogue Jornalismo e Comunicação, e que eu aqui assinalei). Mas também se pode ler no mesmo blogue, com data de ontem, Jornalismo e blogosfera e "Estatuto do Jornalista" - a espiral do silêncio.
Observação: esta é a minha primeira mensagem wireless (sem fios).
O que se escreve no blogue Jornalismo e Comunicação. Hoje, o texto Achegas para o debate sobre o papel das televisão na sociedade - um contributo de investigadores da Universidade do Algarve, com base na tomada de posição de três professores daquela universidade, liderados por Vítor Reia-Baptista, e hoje editado no jornal Público (anteriormente, a Universidade do Minho tomara uma posição sobre o assunto, assinada por alguns dos colaboradores do blogue Jornalismo e Comunicação, e que eu aqui assinalei). Mas também se pode ler no mesmo blogue, com data de ontem, Jornalismo e blogosfera e "Estatuto do Jornalista" - a espiral do silêncio.
Observação: esta é a minha primeira mensagem wireless (sem fios).
ESQUENAZI - PARA CONTINUAR A LER DEVAGAR
"Quando se trabalha com um produto complexo, nada impede que se traga à luz grande número de camadas de sentido, tanto mais que uma interpretação conhecida é, frequentemente, origem de muitas reinterpretações. A obra torna-se um palimpsesto, uma história dos públicos e das suas preocupações: o objecto da análise é a maneira como a comunidade se determina perante a obra" [Jean-Pierre Esquenazi (2005). "O sentido do público". In José Carlos Abrantes (coord.) A construção do olhar. Lisboa: Livros Horizonte e CIMJ, p. 110].
Sabia, de antemão, do encantamento deste texto inserido no livro coordenado por José Carlos Abrantes e que aqui referi nos passados dias 15 e 16 deste mês. De que fala Esquenazi, autor que eu já apresentei, quando escrevi sobre Sociologie des publics, a 23 de Agosto último? Ele fala de obras cinematográficas mas também de televisão, da recepção (logo de audiências) e das múltiplas leituras, como indica o parágrafo acima inserido.
Esquenazi parte de uma posição polémica: o conceito de público tem sido o parente pobre da teoria do cinema. Aí, ele destaca o modelo de construção do star system como resultado inicial da associação do público à produção. E enuncia o peso dos serviços de publicidade dos estúdios na promoção (e aceitação) dos filmes - a sua popularidade. A uma abordagem comunicacional ele junta outras: quantitativa, ontológica, artística e baseada na massificação. Nesta última, é particularmente duro para com Horkheimer e Adorno: "os autores não se limitam a acusar o capitalismo, origem do conceito de «indústria cultural»: condenam todos os seus produtos, argumentando que um produto fabricado com o único intuito de agradar ao público não pode despertar o interesse de uma pessoa culta. Extraem, pois, como consequência que o público não só é manipulado pelas indústrias culturais como também é conduzido a uma espécie de embrutecimento. Recordemos o desdenhoso comentário dos autores: «Um público de gente que ri é uma paródia da humanidade»" (Esquenazi, 2005: 99-100).
Depois, Esquenazi propõe olhar o problema do público com novos olhos. E apresenta três novos princípios: 1) continuidade (não se pode isolar a recepção das condições de produção de filmes e telefilmes), 2) multiplicidade (reconfiguração da recepção com actos distintos - os públicos mudam, os olhares mudam) [logo: há públicos e não um só público], 3) actividade (o público não é passivo face ao produtor, mas dispõe de informação de contexto, com críticas ou declarações de um autor, e actualiza o tecido fílmico - o que vê - com a sua própria experiência). O que significa que o espectador, na sua interpretação, atribui uma intenção à produção.
O seu magnífico texto (14 páginas) ainda se debruça sobre aquilo que designa como problemas actuais da recepção. Onde não deixa de focar o fenómeno dos fãs, completando, inteligentemente, as perspectivas mais conhecidas e produzidas em língua inglesa. Escreve ele: "Numa sociedade dominada pela velocidade e pela pluralidade de gostos, aparecem produtos que despertam em comunidades mais ou menos importantes um entusiasmo tão vivo quanto provisório" (2005: 105). Para o autor, os fãs não são vítimas de ciladas das indústrias culturais, mas exprimem, nos produtos que são objecto de culto [o fandom inglês], uma forma de vida próxima da que é vivida pela comunidade em questão.
Se um grupo industrial pensa que um produto cultural atinge o público de um dado modo, os públicos (e não um só) apropriam-se desse produto cultural, não se deixando enganar. Constroem-se outros olhares, afinal o tema que reuniu Esquenazi e outros investigadores.
"Quando se trabalha com um produto complexo, nada impede que se traga à luz grande número de camadas de sentido, tanto mais que uma interpretação conhecida é, frequentemente, origem de muitas reinterpretações. A obra torna-se um palimpsesto, uma história dos públicos e das suas preocupações: o objecto da análise é a maneira como a comunidade se determina perante a obra" [Jean-Pierre Esquenazi (2005). "O sentido do público". In José Carlos Abrantes (coord.) A construção do olhar. Lisboa: Livros Horizonte e CIMJ, p. 110].
Sabia, de antemão, do encantamento deste texto inserido no livro coordenado por José Carlos Abrantes e que aqui referi nos passados dias 15 e 16 deste mês. De que fala Esquenazi, autor que eu já apresentei, quando escrevi sobre Sociologie des publics, a 23 de Agosto último? Ele fala de obras cinematográficas mas também de televisão, da recepção (logo de audiências) e das múltiplas leituras, como indica o parágrafo acima inserido.
Esquenazi parte de uma posição polémica: o conceito de público tem sido o parente pobre da teoria do cinema. Aí, ele destaca o modelo de construção do star system como resultado inicial da associação do público à produção. E enuncia o peso dos serviços de publicidade dos estúdios na promoção (e aceitação) dos filmes - a sua popularidade. A uma abordagem comunicacional ele junta outras: quantitativa, ontológica, artística e baseada na massificação. Nesta última, é particularmente duro para com Horkheimer e Adorno: "os autores não se limitam a acusar o capitalismo, origem do conceito de «indústria cultural»: condenam todos os seus produtos, argumentando que um produto fabricado com o único intuito de agradar ao público não pode despertar o interesse de uma pessoa culta. Extraem, pois, como consequência que o público não só é manipulado pelas indústrias culturais como também é conduzido a uma espécie de embrutecimento. Recordemos o desdenhoso comentário dos autores: «Um público de gente que ri é uma paródia da humanidade»" (Esquenazi, 2005: 99-100).
Depois, Esquenazi propõe olhar o problema do público com novos olhos. E apresenta três novos princípios: 1) continuidade (não se pode isolar a recepção das condições de produção de filmes e telefilmes), 2) multiplicidade (reconfiguração da recepção com actos distintos - os públicos mudam, os olhares mudam) [logo: há públicos e não um só público], 3) actividade (o público não é passivo face ao produtor, mas dispõe de informação de contexto, com críticas ou declarações de um autor, e actualiza o tecido fílmico - o que vê - com a sua própria experiência). O que significa que o espectador, na sua interpretação, atribui uma intenção à produção.
O seu magnífico texto (14 páginas) ainda se debruça sobre aquilo que designa como problemas actuais da recepção. Onde não deixa de focar o fenómeno dos fãs, completando, inteligentemente, as perspectivas mais conhecidas e produzidas em língua inglesa. Escreve ele: "Numa sociedade dominada pela velocidade e pela pluralidade de gostos, aparecem produtos que despertam em comunidades mais ou menos importantes um entusiasmo tão vivo quanto provisório" (2005: 105). Para o autor, os fãs não são vítimas de ciladas das indústrias culturais, mas exprimem, nos produtos que são objecto de culto [o fandom inglês], uma forma de vida próxima da que é vivida pela comunidade em questão.
Se um grupo industrial pensa que um produto cultural atinge o público de um dado modo, os públicos (e não um só) apropriam-se desse produto cultural, não se deixando enganar. Constroem-se outros olhares, afinal o tema que reuniu Esquenazi e outros investigadores.
segunda-feira, 21 de novembro de 2005
O POTE DE MIDAS DE DANIEL RADCLIFFE
O rapaz, actualmente com 16 anos, que interpreta a figura de Harry Potter, tornou-se o adolescente mais rico do Reino Unido. Ainda com um filme em exibição no cinema, ele já assinou a sua interpretação no quinto filme da série, Harry Potter e a Ordem de Fénix, onde receberá pelo menos £8 milhões (não sei o câmbio de hoje, mas presumo que dê uns €12 milhões). Este filme será comercializado dentro de um ano. A Gilmore Jacobs, uma empresa criada pelos pais de Daniel Radcliffe para gerir os seus proventos, já ganhou £10 milhões com os primeiros três filmes da série.
Radcliffe - lê-se na notícia do Sunday Times de ontem, em texto assinado por Maurice Chittenden e John Elliott - torna-se o equivalente de Macauly Culkin, agora com 25 anos, e que ganhou £27 milhões com os filmes Sozinho em casa. Mas a sorte financeira bate também à porta das co-estrelas do Harry Potter, casos de Rupert Grint, 17 anos, no papel de Ron Weasley, e Emma Watson, 15 anos, como Hermione Granger. A rapariguinha disse a um sítio de fãs que guardava todo o seu dinheiro no banco e que só o levantaria aos 25 anos. Ainda tem uma longa vida antes de disfrutar desse dinheiro.
Claro que a notícia é um aperitivo para o filme agora em exibição (ou prestes a sê-lo). Só no fim-de-semana que acabou, eram esperadas em Inglaterra meio milhão de espectadores nas salas de cinema. O filme já fez mais de £25 milhões naquele país enquanto nos Estados Unidos o filme passa em 3858 salas - isto é, quase quatro mil salas.
O rapaz, actualmente com 16 anos, que interpreta a figura de Harry Potter, tornou-se o adolescente mais rico do Reino Unido. Ainda com um filme em exibição no cinema, ele já assinou a sua interpretação no quinto filme da série, Harry Potter e a Ordem de Fénix, onde receberá pelo menos £8 milhões (não sei o câmbio de hoje, mas presumo que dê uns €12 milhões). Este filme será comercializado dentro de um ano. A Gilmore Jacobs, uma empresa criada pelos pais de Daniel Radcliffe para gerir os seus proventos, já ganhou £10 milhões com os primeiros três filmes da série.
Radcliffe - lê-se na notícia do Sunday Times de ontem, em texto assinado por Maurice Chittenden e John Elliott - torna-se o equivalente de Macauly Culkin, agora com 25 anos, e que ganhou £27 milhões com os filmes Sozinho em casa. Mas a sorte financeira bate também à porta das co-estrelas do Harry Potter, casos de Rupert Grint, 17 anos, no papel de Ron Weasley, e Emma Watson, 15 anos, como Hermione Granger. A rapariguinha disse a um sítio de fãs que guardava todo o seu dinheiro no banco e que só o levantaria aos 25 anos. Ainda tem uma longa vida antes de disfrutar desse dinheiro.
Claro que a notícia é um aperitivo para o filme agora em exibição (ou prestes a sê-lo). Só no fim-de-semana que acabou, eram esperadas em Inglaterra meio milhão de espectadores nas salas de cinema. O filme já fez mais de £25 milhões naquele país enquanto nos Estados Unidos o filme passa em 3858 salas - isto é, quase quatro mil salas.
QUEBRAR BARREIRAS DA RAÇA
É o que nos diz a notícia ontem publicada no Sunday Times, a propósito da admissão de Audrey Pulvar, uma mulher das Caraíbas francesas com 34 anos e actualmente apresentadora do noticiário da noite do canal France 3, que atinge seis milhões de espectadores.
Claro que os recentes e graves incidentes que abalaram a França parecem vir dar a esta notícia. É que, quando Audrey Pulvar chegou há cinco anos a França, lhe disseram não estarem as audiências preparadas para uma apresentadora de raça negra. A televisão francesa nunca adoptara o sistema americano das quotas, mas a tendência será adoptar um estilo que reflicta nos ecrãs da televisão os 10% de habitantes que em França vivem mas são de outras paragens geográficas.
Audrey Pulvar começou a sua carreira como apresentadora de televisão há seis anos, na sua Martinica. Recentemente, em 2004, já em França, apresentava um noticiário regional em Marselha, área onde a Frente Popular (extrema-direita) tem 25% dos votos. Ora, o canal não perdeu audiência, o que significou aceitação. Agora, o salto, desde Setembro, num canal nacional, é mais ambicioso.
É o que nos diz a notícia ontem publicada no Sunday Times, a propósito da admissão de Audrey Pulvar, uma mulher das Caraíbas francesas com 34 anos e actualmente apresentadora do noticiário da noite do canal France 3, que atinge seis milhões de espectadores.
Claro que os recentes e graves incidentes que abalaram a França parecem vir dar a esta notícia. É que, quando Audrey Pulvar chegou há cinco anos a França, lhe disseram não estarem as audiências preparadas para uma apresentadora de raça negra. A televisão francesa nunca adoptara o sistema americano das quotas, mas a tendência será adoptar um estilo que reflicta nos ecrãs da televisão os 10% de habitantes que em França vivem mas são de outras paragens geográficas.
Audrey Pulvar começou a sua carreira como apresentadora de televisão há seis anos, na sua Martinica. Recentemente, em 2004, já em França, apresentava um noticiário regional em Marselha, área onde a Frente Popular (extrema-direita) tem 25% dos votos. Ora, o canal não perdeu audiência, o que significou aceitação. Agora, o salto, desde Setembro, num canal nacional, é mais ambicioso.
domingo, 20 de novembro de 2005
BILHETE DE IDENTIDADE
Talvez o dia de hoje, porque chuvoso, tenha contribuido para eu acabar de ler o livro de Maria Filomena Mónica, Bilhete de identidade, que comprara ontem na livraria da Universidade, com um bom desconto, ainda antes da aula de mestrado, dada ao sábado.
O percurso da família e dela própria lêem-se como se fosse um romance. Claro, há uma espécie de voyeurismo quando se conhece, com muitos pormenores, a vida de alguém, ainda por cima viva e conhecida socialmente. Paixões e desamores, alheamento ou aproximação dos actos e dos acontecimentos políticos e narrativa da sua evolução académica não me interessaram tanto quanto o relato que vai fazendo do país.
Ela avisa-nos, logo no começo (p. 12), que a sua intenção é "a de tentar perceber, e dar a perceber, uma vida, uma família e um país". Embora saliente que o género biográfico tem tido sucesso em países como o Reino Unido, onde a autora fez o doutoramento, mas não em Portugal, ela reconhece o quanto difícil é esta exposição pública. Dá-nos a história de uma pessoa e da sua família mas retrata também Portugal, à luz de quem o viu por dentro e lá fora. E o registo desapiedado que faz conduziu-me à reflexão, eu que não tenho essa visão de fora do país, dado que nele sempre vivi, exceptuando o período de serviço militar numa antiga colónia africana.
Fixo-me na página 233, onde ela anota o resultado de um inquérito feito quando trabalhava no Centro de Investigação Pedagógica, da Fundação Gulbenkian: "Ao defrontar-me com as respostas ao questionário, logo concluí que a escola não estava a cumprir a sua missão no que dizia respeito à contribuição para a igualdade de oportunidades. Mas não foi isto que mais me espantou, e sim a resposta à pergunta, aberta, sobre a obra mais lida pelos estudantes. No espaço respectivo, aparecia um livro de que eu jamais ouvira falar, A Rosa do Adro, escrito por Manuel Maria Rodrigues, o qual, após investigação, verifiquei ser um sub-Júlio Dinis. No meu espírito, reforçou-se a ideia de que a sociedade portuguesa era, não só desigualitária, mas bronca".
Um dos temas que a autora aborda ao longo da sua biografia é a da educação universitária, onde estabelece implicitamente comparações entre o Reino Unido e Portugal. Nota-se, contudo, uma alteração nos dois países ao longo do período em que ela é estudante e professora universitária. Algumas regras mudariam, mas o esforço de assistir a seminários, estudar e discutir através de trabalhos de investigação surge muito mais sólido no Reino Unido.
Talvez - repito o início de frase - seja pelo domingo cinzento e dormente, mas do olhar dela parece-me restar uma grande tristeza. As pessoas movem-se em círculos mesquinhos, as mulheres olham para os tricots. E um alheamento de grande parte de nós face à realidade - quando em Lisboa se discutem problemas políticos pós-1974, ela observa famílias de camponeses fazendo piqueniques à beira de riachos, como se tratasse de um outro país.
E ainda um grande desencanto com o país. Visível também em pessoas que fazem (ou fizeram) parte do seu núcleo mais chegado. Escreve António Barreto (Público de hoje, p. 9): "A lebre portuguesa, a que corria célere e mais depressa do que os europeus, tem vindo a viver como a da fábula. A perder tempo, a dormir, a entreter-se, a divertir-se e a olhar com desprezo para a tartaruga europeia". E Vasco Pulido Valente (também Público de hoje, última página), que fala de Mário Soares (como o faria de qualquer outro candidato): "Não há candidato que não queira «dar a sua contribuição» para salvar a Pátria".
Os três - Filomena Mónica, António Barreto e Pulido Valente - são dos pensadores e intelectuais mais lúcidos que leio. Estudaram fora do país (sensivelmente num período em que eu estava no serviço militar) e entusiasmaram-se com o regime começado em 1974. Barreto e Pulido Valente ocuparam até altos cargos políticos na governação. O que os faz ver assim tão de escuro o país? Este, certamente, está da cor do dia de hoje. Ainda restam forças para o revitalizar?
Talvez o dia de hoje, porque chuvoso, tenha contribuido para eu acabar de ler o livro de Maria Filomena Mónica, Bilhete de identidade, que comprara ontem na livraria da Universidade, com um bom desconto, ainda antes da aula de mestrado, dada ao sábado.
O percurso da família e dela própria lêem-se como se fosse um romance. Claro, há uma espécie de voyeurismo quando se conhece, com muitos pormenores, a vida de alguém, ainda por cima viva e conhecida socialmente. Paixões e desamores, alheamento ou aproximação dos actos e dos acontecimentos políticos e narrativa da sua evolução académica não me interessaram tanto quanto o relato que vai fazendo do país.
Ela avisa-nos, logo no começo (p. 12), que a sua intenção é "a de tentar perceber, e dar a perceber, uma vida, uma família e um país". Embora saliente que o género biográfico tem tido sucesso em países como o Reino Unido, onde a autora fez o doutoramento, mas não em Portugal, ela reconhece o quanto difícil é esta exposição pública. Dá-nos a história de uma pessoa e da sua família mas retrata também Portugal, à luz de quem o viu por dentro e lá fora. E o registo desapiedado que faz conduziu-me à reflexão, eu que não tenho essa visão de fora do país, dado que nele sempre vivi, exceptuando o período de serviço militar numa antiga colónia africana.
Fixo-me na página 233, onde ela anota o resultado de um inquérito feito quando trabalhava no Centro de Investigação Pedagógica, da Fundação Gulbenkian: "Ao defrontar-me com as respostas ao questionário, logo concluí que a escola não estava a cumprir a sua missão no que dizia respeito à contribuição para a igualdade de oportunidades. Mas não foi isto que mais me espantou, e sim a resposta à pergunta, aberta, sobre a obra mais lida pelos estudantes. No espaço respectivo, aparecia um livro de que eu jamais ouvira falar, A Rosa do Adro, escrito por Manuel Maria Rodrigues, o qual, após investigação, verifiquei ser um sub-Júlio Dinis. No meu espírito, reforçou-se a ideia de que a sociedade portuguesa era, não só desigualitária, mas bronca".
Um dos temas que a autora aborda ao longo da sua biografia é a da educação universitária, onde estabelece implicitamente comparações entre o Reino Unido e Portugal. Nota-se, contudo, uma alteração nos dois países ao longo do período em que ela é estudante e professora universitária. Algumas regras mudariam, mas o esforço de assistir a seminários, estudar e discutir através de trabalhos de investigação surge muito mais sólido no Reino Unido.
Talvez - repito o início de frase - seja pelo domingo cinzento e dormente, mas do olhar dela parece-me restar uma grande tristeza. As pessoas movem-se em círculos mesquinhos, as mulheres olham para os tricots. E um alheamento de grande parte de nós face à realidade - quando em Lisboa se discutem problemas políticos pós-1974, ela observa famílias de camponeses fazendo piqueniques à beira de riachos, como se tratasse de um outro país.
E ainda um grande desencanto com o país. Visível também em pessoas que fazem (ou fizeram) parte do seu núcleo mais chegado. Escreve António Barreto (Público de hoje, p. 9): "A lebre portuguesa, a que corria célere e mais depressa do que os europeus, tem vindo a viver como a da fábula. A perder tempo, a dormir, a entreter-se, a divertir-se e a olhar com desprezo para a tartaruga europeia". E Vasco Pulido Valente (também Público de hoje, última página), que fala de Mário Soares (como o faria de qualquer outro candidato): "Não há candidato que não queira «dar a sua contribuição» para salvar a Pátria".
Os três - Filomena Mónica, António Barreto e Pulido Valente - são dos pensadores e intelectuais mais lúcidos que leio. Estudaram fora do país (sensivelmente num período em que eu estava no serviço militar) e entusiasmaram-se com o regime começado em 1974. Barreto e Pulido Valente ocuparam até altos cargos políticos na governação. O que os faz ver assim tão de escuro o país? Este, certamente, está da cor do dia de hoje. Ainda restam forças para o revitalizar?
MAIS AGENDAS CULTURAIS
Agora que se aproxima o Natal - ontem mesmo foi inaugurada a iluminação da árvore gigante do Terreiro do Paço - as agendas culturais reflectem a época do ano. Isso é saliente no roteiro de actividades de Vila Franca de Xira (primeira imagem) e Coimbra (penúltima imagem). As outras agendas pertencem a, por ordem da colocação de imagens, Porto, Beja, Cascais e Marinha Grande.
Sem querer extrapolar para além do que é visível, noto que a agenda da Câmara do Porto é trimestral quando concelhos como Oeiras (sem falar em Lisboa) possuem uma edição mensal. A agenda do Porto é resultado de um protocolo assinado entre a Associação de Amigos do Coliseu, a Câmara, o Balleteatro, a Casa da Música, a Culturporto, a Fundação Ciência e Desenvolvimento, a Fundação Serralves, o Museu Soares dos Reis, a Orquestra Nacional do Porto, a Silo (espaço cultural do NorteShopping) e o Teatro S. João.
Embora me pareça complexa a gestão da feitura desta agenda cultural do Porto, nota-se a não visibilidade da direcção da autarquia, o que não acontece com outras agendas, como a de Vila Franca de Xira, onde é a própria presidente da câmara que escreve o editorial dando conta das actividades municipais. Voltando ainda à agenda do Porto, noto algumas particularidades da sua organização: 1) a sua distribuição engloba a área metropolitana do Porto e da Galiza (não sei qual o âmbito geográfico da segunda; contudo, na penúltima página, fala-se em Porto e área metropolitana, com cerca de 1000 pontos de distribuição, Lisboa com cerca de 140 locais e Galiza com cerca de 130 locais), 2) está escrita em português e inglês (mas não em galego), 3) na penúltima página, ficamos a saber quanto custa fazer publicidade numa das suas páginas (duas páginas duplas custam €3600, a contracapa €2400, a página ímpar €2000). Há, pelo menos 7,5 páginas de publicidade, conquanto a maioria diga respeito a actividades das organizações pertencentes ao protocolo (a publicação tem 80 páginas).
Fico-me pela análise de outra publicação, a de Beja: bimestral (pertencente a Setembro/Outubro), dá conta de exposições e cinema, assim como o movimento das bibliotecas e dos museus. Traz ainda informações úteis como telefones e media. A coordenação pertence ao departamento Sócio-Cultural.
Nota: os meus agradecimentos a Carlos Filipe Maia, um dos editores da agenda de Oeiras 30 Dias, meu "fornecedor" habitual deste material de trabalho.
Agora que se aproxima o Natal - ontem mesmo foi inaugurada a iluminação da árvore gigante do Terreiro do Paço - as agendas culturais reflectem a época do ano. Isso é saliente no roteiro de actividades de Vila Franca de Xira (primeira imagem) e Coimbra (penúltima imagem). As outras agendas pertencem a, por ordem da colocação de imagens, Porto, Beja, Cascais e Marinha Grande.
Sem querer extrapolar para além do que é visível, noto que a agenda da Câmara do Porto é trimestral quando concelhos como Oeiras (sem falar em Lisboa) possuem uma edição mensal. A agenda do Porto é resultado de um protocolo assinado entre a Associação de Amigos do Coliseu, a Câmara, o Balleteatro, a Casa da Música, a Culturporto, a Fundação Ciência e Desenvolvimento, a Fundação Serralves, o Museu Soares dos Reis, a Orquestra Nacional do Porto, a Silo (espaço cultural do NorteShopping) e o Teatro S. João.
Embora me pareça complexa a gestão da feitura desta agenda cultural do Porto, nota-se a não visibilidade da direcção da autarquia, o que não acontece com outras agendas, como a de Vila Franca de Xira, onde é a própria presidente da câmara que escreve o editorial dando conta das actividades municipais. Voltando ainda à agenda do Porto, noto algumas particularidades da sua organização: 1) a sua distribuição engloba a área metropolitana do Porto e da Galiza (não sei qual o âmbito geográfico da segunda; contudo, na penúltima página, fala-se em Porto e área metropolitana, com cerca de 1000 pontos de distribuição, Lisboa com cerca de 140 locais e Galiza com cerca de 130 locais), 2) está escrita em português e inglês (mas não em galego), 3) na penúltima página, ficamos a saber quanto custa fazer publicidade numa das suas páginas (duas páginas duplas custam €3600, a contracapa €2400, a página ímpar €2000). Há, pelo menos 7,5 páginas de publicidade, conquanto a maioria diga respeito a actividades das organizações pertencentes ao protocolo (a publicação tem 80 páginas).
Fico-me pela análise de outra publicação, a de Beja: bimestral (pertencente a Setembro/Outubro), dá conta de exposições e cinema, assim como o movimento das bibliotecas e dos museus. Traz ainda informações úteis como telefones e media. A coordenação pertence ao departamento Sócio-Cultural.
Nota: os meus agradecimentos a Carlos Filipe Maia, um dos editores da agenda de Oeiras 30 Dias, meu "fornecedor" habitual deste material de trabalho.
sábado, 19 de novembro de 2005
UM GUIA PARA O JORNALISTA-CIDADÃO?
Segundo o sítio Journalism.co.uk, em notícia de anteontem, escrita por Jemima Kiss, a união de sindicatos ingleses dos jornalistas está a discutir a questão do jornalismo-cidadão e as potenciais ameaças ao trabalho dos jornalistas freelance.
Nesse sentido, os sindicatos ingleses preparam-se para produzir um código de boas práticas para os jornalistas-cidadãos, baseado em textos da própria união sindical e dos códigos da Press Complaints Commission. A versão final, que se espera pronta em Dezembro, envolverá, pelo menos, dois assuntos fulcrais: segurança e exploração. Isto tem a ver com o conhecimento (ou desconhecimento) público dos direitos de autor, caso das fotografias republicadas.
A própria Jemima Kiss conta a história de uma participação sua numa discussão do jornalismo-cidadão, na passada segunda-feira, e que se lê também no sítio do Journalism.co.uk. É que há um receio crescente, entre os jornalistas freelancers, de perda de trabalho devido à produção de conteúdos por utilizadores ("user-generated content" - UGC). É que estes conteúdos são usados por sítios e media em geral como forma de substituir o conteúdo produzido por profissionais [ver texto abaixo "Pago ou gratuito? Sim, eu quero o Expresso gratuito!", em que há jornais que convidam os leitores a enviar crónicas (com textos e fotos), caso de espectáculos musicais a que assistam]. Existem, desse modo, receios que a indústria dos media promova a tecnologia de publicação telefone móvel-internet (que opera com qualidade através da banda larga) e aceite o trabalho gratuito destes produtores como forma de reduzir os custos gerais das empresas jornalísticas.
Claro que o jornalismo-cidadão envolve muitas acções e nem todas "roubam" emprego ou preenchem o estatuto profissional, como vídeos e fotografias colocados em sítios, fóruns de discussão e formas de jornalismo participativo como os blogues. Aliás, estas formas de produção de conteúdo inserem-se no espírito colaborativo da internet.
Segundo o sítio Journalism.co.uk, em notícia de anteontem, escrita por Jemima Kiss, a união de sindicatos ingleses dos jornalistas está a discutir a questão do jornalismo-cidadão e as potenciais ameaças ao trabalho dos jornalistas freelance.
Nesse sentido, os sindicatos ingleses preparam-se para produzir um código de boas práticas para os jornalistas-cidadãos, baseado em textos da própria união sindical e dos códigos da Press Complaints Commission. A versão final, que se espera pronta em Dezembro, envolverá, pelo menos, dois assuntos fulcrais: segurança e exploração. Isto tem a ver com o conhecimento (ou desconhecimento) público dos direitos de autor, caso das fotografias republicadas.
A própria Jemima Kiss conta a história de uma participação sua numa discussão do jornalismo-cidadão, na passada segunda-feira, e que se lê também no sítio do Journalism.co.uk. É que há um receio crescente, entre os jornalistas freelancers, de perda de trabalho devido à produção de conteúdos por utilizadores ("user-generated content" - UGC). É que estes conteúdos são usados por sítios e media em geral como forma de substituir o conteúdo produzido por profissionais [ver texto abaixo "Pago ou gratuito? Sim, eu quero o Expresso gratuito!", em que há jornais que convidam os leitores a enviar crónicas (com textos e fotos), caso de espectáculos musicais a que assistam]. Existem, desse modo, receios que a indústria dos media promova a tecnologia de publicação telefone móvel-internet (que opera com qualidade através da banda larga) e aceite o trabalho gratuito destes produtores como forma de reduzir os custos gerais das empresas jornalísticas.
Claro que o jornalismo-cidadão envolve muitas acções e nem todas "roubam" emprego ou preenchem o estatuto profissional, como vídeos e fotografias colocados em sítios, fóruns de discussão e formas de jornalismo participativo como os blogues. Aliás, estas formas de produção de conteúdo inserem-se no espírito colaborativo da internet.
AS INDÚSTRIAS CRIATIVAS NO PLANO TECNOLÓGICO DO GOVERNO
Parece que as coisas não estão a correr bem no designado Plano Tecnológico do governo, conforme as notícias dos últimos dias. Do Público de hoje retiro uma informação sobre as indústrias criativas, que eu não sabia estarem pensadas neste plano governamental.
Dado que tenho referido, por várias ocasiões, aqui no blogue, o conceito de indústrias criativas - nomeadamente a 4, 7 e 11 de Fevereiro deste ano -, retiro do jornal as seguintes informações: "Talento, criatividade e capacidade de comunicação são as palavras-chave desta área de intervenção [...]. Pretende-se reforçar a componente do conhecimento por oposição à tradicional base de indústria e serviços que sustenta a economia. [...] As indústrias criativas são apontadas como agregadoras e dinamizadoras de vários sectores económicos. Fazem a ligação entre os media, a informação, cultura e artes; unem vocação criadora com tecnologia; e atravessam várias áreas governamentais como a cultura, economia, ciência e educação" (texto assinado com as iniciais P.F.).
No texto de 4 de Fevereiro, seguindo um livro então editado (John Hartley, Creative industries, 2005: 5), escrevi que as indústrias criativas descrevem a convergência conceptual e prática das artes criativas (talento individual) com as indústrias culturais (escala de massa), no contexto das novas tecnologias dos media (TIC), dentro de uma nova economia do conhecimento, para uso dos cidadãos-consumidores interactivos. As indústrias criativas fazem parte das políticas nacionais e regionais ou urbanas, com políticos e decisores a promoverem "empregos e PIB". A discussão no Reino Unido, onde o tema se tem desenvolvido, aponta para a revitalização de cidades e regiões, umas porque sairam da indústria pesada e outras porque nunca desenvolveram uma base fabril forte (ver o Creative Industries Mapping Document 2001, do Department of Culture, Media and Sport).
Parece que as coisas não estão a correr bem no designado Plano Tecnológico do governo, conforme as notícias dos últimos dias. Do Público de hoje retiro uma informação sobre as indústrias criativas, que eu não sabia estarem pensadas neste plano governamental.
Dado que tenho referido, por várias ocasiões, aqui no blogue, o conceito de indústrias criativas - nomeadamente a 4, 7 e 11 de Fevereiro deste ano -, retiro do jornal as seguintes informações: "Talento, criatividade e capacidade de comunicação são as palavras-chave desta área de intervenção [...]. Pretende-se reforçar a componente do conhecimento por oposição à tradicional base de indústria e serviços que sustenta a economia. [...] As indústrias criativas são apontadas como agregadoras e dinamizadoras de vários sectores económicos. Fazem a ligação entre os media, a informação, cultura e artes; unem vocação criadora com tecnologia; e atravessam várias áreas governamentais como a cultura, economia, ciência e educação" (texto assinado com as iniciais P.F.).
No texto de 4 de Fevereiro, seguindo um livro então editado (John Hartley, Creative industries, 2005: 5), escrevi que as indústrias criativas descrevem a convergência conceptual e prática das artes criativas (talento individual) com as indústrias culturais (escala de massa), no contexto das novas tecnologias dos media (TIC), dentro de uma nova economia do conhecimento, para uso dos cidadãos-consumidores interactivos. As indústrias criativas fazem parte das políticas nacionais e regionais ou urbanas, com políticos e decisores a promoverem "empregos e PIB". A discussão no Reino Unido, onde o tema se tem desenvolvido, aponta para a revitalização de cidades e regiões, umas porque sairam da indústria pesada e outras porque nunca desenvolveram uma base fabril forte (ver o Creative Industries Mapping Document 2001, do Department of Culture, Media and Sport).
PAGO OU GRATUITO? SIM, EU QUERO O EXPRESSO GRATUITO!
À pergunta de um dos textos do Expresso de hoje (a propósito do congresso sobre o melhor design dos jornais), eu respondo que quero o jornal gratuito.
No congresso designado ñho2, a tendência para a diminuição do formato dos jornais, a importância da forma das letras na visibilidade dos jornais e a (in)compatibilidade entre publicidade e conteúdos jornalísticos [isto é, notícias] foram temas da reunião, organizado pelo Expresso e pela secção espanhola da Society for New Design, conforme se lê na peça de Maria Teresa Oliveira, que assina as outras notícias sobre o evento e incluídas na mesma página.
Um dos temas, puxado para peça autónoma, é o da relação com os leitores, facilitada pela internet. Há jornais que convidam os leitores a enviar crónicas (com textos e fotos), caso de espectáculos musicais a que assistam. Um dos participantes, o subdirector do Expresso, Henrique Monteiro, embora se mostre a favor da participação dos leitores, alertou para o facto de a "ética profissional ter passado para o receptor", quando ela deve permanecer no jornal [espero produzir uma mensagem a esse propósito, ainda hoje].
Outro dos temas que a jornalista destacou foi o do futuro de cada jornal ser pago ou gratuito. A conclusão do painel que tratou do assunto, escreve Maria Teresa Oliveira, é que o futuro dos generalistas é a gratuitidade. Se os jovens (e os mais velhos) se habituaram a ver televisão e ouvir rádio sem pagar, porque não o mesmo sistema com os jornais? Claro que isto mereceria uma leitura e discussão mais profunda.
Deixo, porém, a minha proposta a partir de um cálculo: o caderno do Expresso onde vêm estas notícias tem 32 páginas; há anúncios que ocupam quatro páginas inteiras (cerca de 2146 centímetros quadrados), mais um conjunto de publicidade que preenche seis páginas (total: 12845,75 centímetros quadrados, se as minhas contas batem certo). Logo, há dez páginas de publicidade em 32, o que dá 31,25% do caderno, quase um terço do caderno. Um terço do jornal com publicidade pode torná-lo gratuito. Sim, eu quero o Expresso gratuito!
À pergunta de um dos textos do Expresso de hoje (a propósito do congresso sobre o melhor design dos jornais), eu respondo que quero o jornal gratuito.
No congresso designado ñho2, a tendência para a diminuição do formato dos jornais, a importância da forma das letras na visibilidade dos jornais e a (in)compatibilidade entre publicidade e conteúdos jornalísticos [isto é, notícias] foram temas da reunião, organizado pelo Expresso e pela secção espanhola da Society for New Design, conforme se lê na peça de Maria Teresa Oliveira, que assina as outras notícias sobre o evento e incluídas na mesma página.
Um dos temas, puxado para peça autónoma, é o da relação com os leitores, facilitada pela internet. Há jornais que convidam os leitores a enviar crónicas (com textos e fotos), caso de espectáculos musicais a que assistam. Um dos participantes, o subdirector do Expresso, Henrique Monteiro, embora se mostre a favor da participação dos leitores, alertou para o facto de a "ética profissional ter passado para o receptor", quando ela deve permanecer no jornal [espero produzir uma mensagem a esse propósito, ainda hoje].
Outro dos temas que a jornalista destacou foi o do futuro de cada jornal ser pago ou gratuito. A conclusão do painel que tratou do assunto, escreve Maria Teresa Oliveira, é que o futuro dos generalistas é a gratuitidade. Se os jovens (e os mais velhos) se habituaram a ver televisão e ouvir rádio sem pagar, porque não o mesmo sistema com os jornais? Claro que isto mereceria uma leitura e discussão mais profunda.
Deixo, porém, a minha proposta a partir de um cálculo: o caderno do Expresso onde vêm estas notícias tem 32 páginas; há anúncios que ocupam quatro páginas inteiras (cerca de 2146 centímetros quadrados), mais um conjunto de publicidade que preenche seis páginas (total: 12845,75 centímetros quadrados, se as minhas contas batem certo). Logo, há dez páginas de publicidade em 32, o que dá 31,25% do caderno, quase um terço do caderno. Um terço do jornal com publicidade pode torná-lo gratuito. Sim, eu quero o Expresso gratuito!
WALTER BENJAMIN SOBRE FOTOGRAFIA - II
[continuação da mensagem de 18 de Novembro]
Se a história da fotografia foi publicada em 1931, A obra de arte na época da sua reprodutibilidade técnica apareceu em 1935. No ano seguinte, Benjamin fez profundas alterações, publicadas postumamente em 1955. Ainda em 1936, apareceria uma versão francesa abreviada do texto. Uma quarta versão apareceu em 1939. O tradutor José Muñoz Millanes preferiu esta última, editando o prólogo e as sete primeiras secções, mais relacionadas com a fotografia (pp. 91-109) [cá em casa tenho duas das versões do texto] [imagens de August Sander (1876-1964), um dos autores estudados por Benjamin, retiradas do sítio do Metropolitan Museum].
Quando Benjamin (2004: 99) define aura no texto A obra de arte na época da sua reprodutibilidade técnica, há frases que repetem o trabalho da Pequena história da fotografia, analisado no começo da mensagem, e que ilustra a interligação dos dois textos. É o caso do perfil da cordilheira numa tarde de Verão, o respirar da aura dessa montanha. Neste texto, ele fala de autenticidade, de independência, da reprodução técnica, da possibilidade da cópia chegar ao receptor, seja fotografia ou disco fonográfico. A obra de arte reproduzida mantém a sua consistência, mas perde o seu valor aqui e agora, perde o seu ideal de aura (2004: 97). A técnica reprodutiva desvincula o reproduzido do âmbito da tradição; a multiplicação das reproduções substitui a ocorrência irrepetível do reproduzido pela sua ocorrência massiva, escreve ainda Benjamin.
Graças à reprodutibilidade técnica, provoca-se uma sacudidela e torna-se possível a regeneração da humanidade, uma ideia que remete directamente para o pensamento benjaminiano, numa junção de marxismo e de judaismo. Os dois processos propostos por ele estão relacionados com os movimentos de massa dos nossos dias, e o cinema é o seu agente mais poderoso (Benjamin estivera em 1926 em Moscovo e reflectira o cinema russo) [imagem de Eugène Atget (1856-1927), outro dos fotógrafos analisados por Walter Benjamin, retirada do sítio Masters of Photography].
Dos outros textos do livro, destaco o intitulado A fotografia (pp. 115-143), reflexões e citações feitas entre 1934 e 1940. O seu carácter fragmentário correspondia a um ficheiro pertencente ao projecto Das Passagen-Werk (A obra das passagens).
Nota: Walter Benjamin (1892-1940) foi filósofo e crítico literário alemão de origem judia. Licenciou-se em Berlim com a dissertação Conceito da crítica de arte no romantismo alemão. Entre 1923 e 1925, trabalhou no livro Drama barroco alemão. Deixou ensaios de grande importância tais como os sobre Kafka, Baudelaire e as arcadas de Paris. Entre outros, foi influenciado pelo pensamento de Hegel e Lukács. Com a chegada do nazismo, ele procurou refúgio em Paris, intentando alcançar os Estados Unidos por passagem por Portugal. Infelizmente, na fronteira franco-espanhola, temeu ser preso e acabou por se suicidar.
[continuação da mensagem de 18 de Novembro]
Se a história da fotografia foi publicada em 1931, A obra de arte na época da sua reprodutibilidade técnica apareceu em 1935. No ano seguinte, Benjamin fez profundas alterações, publicadas postumamente em 1955. Ainda em 1936, apareceria uma versão francesa abreviada do texto. Uma quarta versão apareceu em 1939. O tradutor José Muñoz Millanes preferiu esta última, editando o prólogo e as sete primeiras secções, mais relacionadas com a fotografia (pp. 91-109) [cá em casa tenho duas das versões do texto] [imagens de August Sander (1876-1964), um dos autores estudados por Benjamin, retiradas do sítio do Metropolitan Museum].
Quando Benjamin (2004: 99) define aura no texto A obra de arte na época da sua reprodutibilidade técnica, há frases que repetem o trabalho da Pequena história da fotografia, analisado no começo da mensagem, e que ilustra a interligação dos dois textos. É o caso do perfil da cordilheira numa tarde de Verão, o respirar da aura dessa montanha. Neste texto, ele fala de autenticidade, de independência, da reprodução técnica, da possibilidade da cópia chegar ao receptor, seja fotografia ou disco fonográfico. A obra de arte reproduzida mantém a sua consistência, mas perde o seu valor aqui e agora, perde o seu ideal de aura (2004: 97). A técnica reprodutiva desvincula o reproduzido do âmbito da tradição; a multiplicação das reproduções substitui a ocorrência irrepetível do reproduzido pela sua ocorrência massiva, escreve ainda Benjamin.
Graças à reprodutibilidade técnica, provoca-se uma sacudidela e torna-se possível a regeneração da humanidade, uma ideia que remete directamente para o pensamento benjaminiano, numa junção de marxismo e de judaismo. Os dois processos propostos por ele estão relacionados com os movimentos de massa dos nossos dias, e o cinema é o seu agente mais poderoso (Benjamin estivera em 1926 em Moscovo e reflectira o cinema russo) [imagem de Eugène Atget (1856-1927), outro dos fotógrafos analisados por Walter Benjamin, retirada do sítio Masters of Photography].
Dos outros textos do livro, destaco o intitulado A fotografia (pp. 115-143), reflexões e citações feitas entre 1934 e 1940. O seu carácter fragmentário correspondia a um ficheiro pertencente ao projecto Das Passagen-Werk (A obra das passagens).
Nota: Walter Benjamin (1892-1940) foi filósofo e crítico literário alemão de origem judia. Licenciou-se em Berlim com a dissertação Conceito da crítica de arte no romantismo alemão. Entre 1923 e 1925, trabalhou no livro Drama barroco alemão. Deixou ensaios de grande importância tais como os sobre Kafka, Baudelaire e as arcadas de Paris. Entre outros, foi influenciado pelo pensamento de Hegel e Lukács. Com a chegada do nazismo, ele procurou refúgio em Paris, intentando alcançar os Estados Unidos por passagem por Portugal. Infelizmente, na fronteira franco-espanhola, temeu ser preso e acabou por se suicidar.
sexta-feira, 18 de novembro de 2005
Walter Benjamin sobre fotografia - I
Benjamin (1892-1940) parte do princípio que o auge da fotografia se deu no seu primeiro decénio de existência (Hill, Cameron, Hugo, Nadar), período que precedeu a industrialização (Benjamin, 2004: 22). A indústria começaria pelos cartões de visita com foto e o seu primeiro fabricante ficaria milionário. As fotografias iniciais, os daguerreótipos, podiam custar 25 francos e guardadas em estojos, como se fossem jóias.
Na mão de alguns pintores, a fotografia tornou-se uma ferramenta auxiliar. David Octavius Hill tomou a fotografia do primeiro sínodo da igreja escocesa para fazer um fresco. Processava-se, contudo, um movimento de reacção: a fotografia não era arte mas técnica, com irrelevante legitimidade face à pintura [imagem de David Octavius Hill (1802-1870) retirada do sítio da George Eastman House].
De que estou a escrever? Exactamente sobre um texto de Walter Benjamin, inicialmente publicado em 1931 com o título "Pequena história da fotografia" e que foi reeditado em castelhano num volume com o nome Sobre la fotografía, em tradução de José Muñoz Millanes (pode ler-se uma versão em francês no sítio Études Photographiques).
As primeiras placas eram pouco sensíveis à luz, o que obrigavam a uma grande exposição ao ar livre (2004: 31). Tal aconselhava o operador a afastar-se o mais possível da mobilidade do objecto a fotografar. Curiosamente, era o tempo em que a pintura ao ar livre começava a revelar perspectivas novas aos pintores mais avançados.
A verdadeira vítima da fotografia não foi a pintura de paisagem mas o retrato de miniatura. Por volta de 1840, a maioria dos pintores de miniaturas converteu-se em fotógrafos profissionais. Logo depois, vieram os comerciantes e generalizou-se a prática de retocar os negativos (Benjamin, 2004: 35) [nos jornais portugueses, tal será visível até meados do século XX]. Começava o tempo dos fotografados o serem junto a pedestais, balaustres, mesas ovais, palmeiras artificiais, apoios para a cabeça, uma perna direita e outra dobrada, uma cortina por detrás.
Benjamin (2004: 40), neste texto, ensaia o conceito de aura, que retomará no texto mais conhecido A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica [imagem de Benjamin retirada do sítio Walter Benjamin Research Syndicate, com fotografia de Charlotte Joël]. A aura é uma teia especial de espaço e tempo: "a irrepetível presença próxima de algo sempre muito distante". Ora, trazer uma coisa para perto de nós pode significar reproduzir, a cópia. Da singularidade e permanência no original transita-se para a fugacidade e possibilidade de repetição na cópia. O autor alemão conclui que a percepção das grandes obras é melhorada devido ao desenvolvimento das técnicas de reprodução, embora se reflicta numa tensão entre fotografia e arte.
Sobre a interpretação do espectador, Benjamin tinha o seguinte entendimento: "A natureza que fala a câmara é distinta da que fala o olho; distinta sobretudo porque, graças a ela, um espaço constituído inconscientemente substitui o espaço constituído pela consciência humana" (2004: 26). Por exemplo, não se dá conta do andar de uma pessoa, mas a fotografia, numa fracção de segundo, torna-o patente com os seus instrumentos auxiliares: a câmara lenta, a ampliação. A fotografia revela o mais pequeno, o mais oculto. Dauthendrey, ao comentar os primeiros daguerreótipos, explicava: "não nos atrevíamos a contemplar atentamente as primeiras imagens que confeccionou. Tínhamos medo da nitidez dessas personagens" (Benjamin, 2004: 29).
Leitura: Walter Benjamin (2004). Sobre la fotografía. Valência: Pre-Textos. Edição e tradução de José Muñoz Millanes, trabalho que decorreu no Colégio de Espanha em Paris no ano lectivo 2003-2004. A mensagem assentou na segunda edição do livro, cuja impressão foi concluída em 30 de Dezembro de 2004.
[continua]
Na mão de alguns pintores, a fotografia tornou-se uma ferramenta auxiliar. David Octavius Hill tomou a fotografia do primeiro sínodo da igreja escocesa para fazer um fresco. Processava-se, contudo, um movimento de reacção: a fotografia não era arte mas técnica, com irrelevante legitimidade face à pintura [imagem de David Octavius Hill (1802-1870) retirada do sítio da George Eastman House].
De que estou a escrever? Exactamente sobre um texto de Walter Benjamin, inicialmente publicado em 1931 com o título "Pequena história da fotografia" e que foi reeditado em castelhano num volume com o nome Sobre la fotografía, em tradução de José Muñoz Millanes (pode ler-se uma versão em francês no sítio Études Photographiques).
As primeiras placas eram pouco sensíveis à luz, o que obrigavam a uma grande exposição ao ar livre (2004: 31). Tal aconselhava o operador a afastar-se o mais possível da mobilidade do objecto a fotografar. Curiosamente, era o tempo em que a pintura ao ar livre começava a revelar perspectivas novas aos pintores mais avançados.
A verdadeira vítima da fotografia não foi a pintura de paisagem mas o retrato de miniatura. Por volta de 1840, a maioria dos pintores de miniaturas converteu-se em fotógrafos profissionais. Logo depois, vieram os comerciantes e generalizou-se a prática de retocar os negativos (Benjamin, 2004: 35) [nos jornais portugueses, tal será visível até meados do século XX]. Começava o tempo dos fotografados o serem junto a pedestais, balaustres, mesas ovais, palmeiras artificiais, apoios para a cabeça, uma perna direita e outra dobrada, uma cortina por detrás.
Benjamin (2004: 40), neste texto, ensaia o conceito de aura, que retomará no texto mais conhecido A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica [imagem de Benjamin retirada do sítio Walter Benjamin Research Syndicate, com fotografia de Charlotte Joël]. A aura é uma teia especial de espaço e tempo: "a irrepetível presença próxima de algo sempre muito distante". Ora, trazer uma coisa para perto de nós pode significar reproduzir, a cópia. Da singularidade e permanência no original transita-se para a fugacidade e possibilidade de repetição na cópia. O autor alemão conclui que a percepção das grandes obras é melhorada devido ao desenvolvimento das técnicas de reprodução, embora se reflicta numa tensão entre fotografia e arte.
Sobre a interpretação do espectador, Benjamin tinha o seguinte entendimento: "A natureza que fala a câmara é distinta da que fala o olho; distinta sobretudo porque, graças a ela, um espaço constituído inconscientemente substitui o espaço constituído pela consciência humana" (2004: 26). Por exemplo, não se dá conta do andar de uma pessoa, mas a fotografia, numa fracção de segundo, torna-o patente com os seus instrumentos auxiliares: a câmara lenta, a ampliação. A fotografia revela o mais pequeno, o mais oculto. Dauthendrey, ao comentar os primeiros daguerreótipos, explicava: "não nos atrevíamos a contemplar atentamente as primeiras imagens que confeccionou. Tínhamos medo da nitidez dessas personagens" (Benjamin, 2004: 29).
Leitura: Walter Benjamin (2004). Sobre la fotografía. Valência: Pre-Textos. Edição e tradução de José Muñoz Millanes, trabalho que decorreu no Colégio de Espanha em Paris no ano lectivo 2003-2004. A mensagem assentou na segunda edição do livro, cuja impressão foi concluída em 30 de Dezembro de 2004.
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