quarta-feira, 31 de maio de 2006

REVISTAS FEMININAS


O papel principal – contributo para uma análise do que vêem as mulheres nas revistas femininas. Um estudo de caso – as capas da Elle de edição portuguesa foi tema de dissertação de mestrado de Helena Cordeiro, hoje defendida na Universidade Católica (Lisboa).

Como razões para a escolha do tema, Helena Cordeiro destacou o interesse por representações femininas globalizadas na imprensa de género, importante meio de comunicação de cultura de massas na actualidade, e porque é leitora do género. Escolheu a Elle (edição portuguesa), primeira revista internacional orientada para o público feminino a ser publicada no nosso país (Outubro de 1988). A nova mestre caracterizou o papel específico dos discursos escrito e de imagem patentes nas capas de uma revista feminina (glossy), “rosto” e anúncio da própria revista.

No seu trabalho, Helena Cordeiro desconstruiu a revista feminina, tentando entender o seu significado em contextos quotidianos e aferindo as razões da sua adaptabilidade além fronteiras, a partir de tipologia criada pela investigadora Joke Hermes. Fez análise empírica das capas (covers) e chamadas de capa (coverlines) da Elle portuguesa, de Outubro de 1988 a Dezembro de 2004 (16 anos e 3 meses, ou 189 capas), com um total de 38 variáveis, casos de moda, roupa, acessórios, cosmética, perfumes, maquilhagem, beleza e saúde.

De entre as conclusões, Helena Cordeiro constata que os objectivos propostos no editorial do número fundador da Elle portuguesa não foram cumpridos, nomeadamente a escassez de figuras portuguesas na capa. Isto embora o ano de 1998 tenha marcado o início de nova etapa na imagem de capa da Elle nacional, mantendo-se as mulheres bonitas e elegantes mas provenientes de outras áreas que não exclusivamente a moda – como o cinema e a música -, numa afirmação de outros talentos que não apenas o da beleza física. Desde o começo, as capas da Elle fazem uma representação estereotipada da mulher, apesar das chamadas de capa irem introduzindo temas de maior seriedade, destacando áreas como “dossiê”, “entrevista” e “reportagem”. A autora distinguiu ainda o papel pedagógico, de “afecto”, apoio e aconselhamento por parte das revistas femininas.

DIRIGIR UMA REVISTA FEMININA

Sarah Glattstein Franco é directora da revista Cosmopolitan em Espanha há vinte anos, responsável pela criação desse projecto jornalístico. O seu romance Diário de uma directora de revista... feminina é, aliás, dedicado à sua redacção, ou melhor "dizendo, as minhas redacções".

Afirma Glattstein que a história nada tem a ver com as suas experiências reais. Mas fala, obviamente, da redacção de revistas dedicadas à moda, em que uma jovem jornalista de Salamanca, Isabel Gonzaléz Mata, ingressada num improvável jornal generalista chamado Heraldo de la Fortuna, começa a escrever um pequeno espaço sobre moda. Conseguiu criar uma rede de contactos - desde lojas que abriam na cidade do rio Tormes até à quase inatingível passagem de modelos em Madrid. Aí, conhece Palmira Acevedo Campos, directora da Femme. Algum tempo depois já estava em Madrid, a trabalhar como redactora da melhor revista de Espanha. Com algumas peripécias, como a ida à bruxa, aventuras amorosas e partilha de apartamento com Carla, que a convenceu a adquirir um novo look na roupa e no cabelo, Isabel Gonzaléz (também conhecida pelo diminutivo Isa) ascende rapidamente. Mas a directora da revista sai e Gloria Ansorena substitui-a. Entra com ela Anne Mendo Daniel, que rapidamente se torna confidente de Isabel, enquanto o lugar de Jacqueline, directora de moda, fica periclitante. Logo depois, Isa torna-se directora da Mulher Prática, com Anne a subdirectora e mais outros "reforços" trazidos da Femme. A Mulher Prática precisava de se reposicionar no mercado, para concorrer directamente com a Femme. Foi na nova publicação que viajou a primeira vez para Paris. E, quando tudo parecia estabilizado, Isa recebe um convite para dirigir a Femme, ela mesma. A indefectível Anne e Jacqueline - que andava a escrever um romance - acompanham-na na nova aventura.

Deixo outras divertidas peripécias do romance, e concentro-me em algumas parcelas do livro, onde se descreve o ambiente de uma redacção de revista feminina. Primeiro, as redactoras de moda e colegas como estilistas, directoras de secção e da revista formam um grupo hermético, em que as rainhas na hierarquia são as directoras das revistas de moda, seguindo-se as redactoras que escrevem nos suplementos (p. 63). É como a redactora de moda do La Vanguardia ser superior nessa hierarquia à do Heraldo de la Fortuna, seguindo-se o resto das revistas, jornais, rádios. Segundo, as redacções organizam-se de modos distintos, pois há quem prefira ter as secções isoladas em espaços fechados e quem tenha uma perspectiva republicana, com a directora no centro, sem gabinete ou "aquário" (p. 73). A secção de moda fica num sítio afastado, com estantes e escadotes para colecções destinadas a produções fotográficas, destacando-se a sua importância pelo tráfego de modelos, fotógrafos e representantes de agências. Em terceiro, a directora tem uma vida social muito forte: vai a almoços com anunciantes, assiste a passagens de modelos, contacta com certos escritores e jornalistas selectos para páginas de destaque ou top images quando se trata de fotógrafos ou ilustradores (p. 143).

terça-feira, 30 de maio de 2006

JACARANDÁS NO RESTELO (LISBOA)

3.º ENCONTRO "FALAMOS ENTRE NÓS" (BRAGA)

A 2 de Junho, pelas 18:00, na Livraria 100ª página (Casa Rolão, Av. Central, 118, Braga), com a participação de Iria López Teijeiro (vencedora do I Prémio BIBLOS-Pazos de Galicia, destinado a escritores com menos de 25 anos), Sérgio Luís de Carvalho (historiador e escritor), Rámon Loureiro (jornalista e escritor), Raúl Veiga (director e guionista de cinema), Tucho Calvo (escritor e director da BIBLOS) e Emídio Ribeiro (director-geral da Campo das Letras).

Iria López Teijeiro (na imagem) nasceu em La Coruña e, desde que concluiu os Estudos de Realização na Escola de Imaxe e Son da Coruña, em 2001, que trabalha no campo da pós-produção de vídeo. A Campo das Letras editará em breve Meniña de cristal, a novela vencedora do I Prémio BIBLOS-Pazos de Galicia.
Uma organização do Centro de Estudos Galegos da Universidade do Minho e da Comunidade de Leitores BIBLOS (Galiza).

LIVRO DE JOSÉ TENGARRINHA



Lançamento do livro do professor José Tengarrinha, Imprensa e opinião pública em Portugal, no dia 7 de Junho, às 18:30, no El Corte Inglés (Lisboa).

LER JORNAIS

[mensagem nº 1979]

Ler jornais pode cansar. Isto porque nem sempre tudo é claro ou existe repetição.

Por exemplo, no Público de hoje: 1) destaque na primeira página - "MAI perde 40 milhões com extinção da Direcção-Geral de Viação", 2) pág. 8 - "Ministério das Obras Públicas ganha 40 milhões de euros com extinção da DGV". Para além da confusão com os nomes de ministérios, a minha pergunta é: se um ganha 40 e outro perde a mesma quantia, o resultado não é nulo?

Quanto ao Diário de Notícias, meio que incorporou de modo inovador o discurso dos blogues em cada edição, não estará a cansar ao citar sempre um número reduzido deles ? Explico: 1) um dos blogues referidos hoje é o Arrastão, que já viera destacado na última quinta-feira, 2) do Mais Actual li extractos na sexta-feira e no sábado. Ele há um conjunto pequeno de blogues que surge nas páginas de opinião entre o nacional e o internacional, junto a cronistas e líderes de opinião (que recebem pelos seus textos) e às cartas ao director. Certamente que são opiniões de grande valia, mas não estará o jornal a poupar meia coluna sempre usando os mesmos autores? Paga-lhes pelas citações?
UMA CONFERÊNCIA DE ISABEL GIL

No passado dia 25, conforme aqui escrevi, decorreu mais um seminário na área de Ciências da Comunicação da Universidade Católica (Lisboa). Desta vez, a conferencista seria a professora Isabel C. Gil, directora da Faculdade de Ciências Humanas daquela universidade, falando sobre Territórios Fluídos: Notas sobre o Modelo Cartográfico nos Estudos Culturais.

Como ela explica no pequeno vídeo, o seu texto faz uma reapreciação do espaço nos estudos de cultura, a partir da análise de diversas viragens científicas (linguística, história, antropologia, estudos culturais). Retive alguns elementos do seu trabalho - a publicar -, nomeadamente uma referência a James Carey, investigador desaparecido a semana passada. Para Carey, há uma negociação entre a imagem e a autenticidade do jornalista. Isto é, a notícia representa a melhor versão da realidade, mas ela também é construção ficcional, pelos elementos que acrescenta, como os valores.


DIREITOS DOS BLOGUEIROS

Lê-se na newsletter Meios & Publicidade de hoje, em texto assinado por Hugo Real, que um tribunal da Califórnia concedeu direitos jornalísticos a blogueiros.

Isto porque o tribunal de segunda instância de San Jose, na Califórnia, considerou que os blogueiros, como os jornalistas dos media tradicionais, têm direito a manter a confidencialidade das suas fontes. Um grupo de blogueiros foi a tribunal depois da multinacional Apple ter procurado que revelassem a identidade de uma pessoa, possivelmente um empregado da empresa, que fornecera detalhes de um determinado projecto. A decisão poderá mudar o jornalismo na era digital.

segunda-feira, 29 de maio de 2006



Investigação em Portugal na Área das Ciências Humanas e Sociais, debate organizado pelo Centro de Estudos Anglo-Portugueses, dia 1 de Junho, às 15:00, Auditório 2, piso 3, Torre B, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (av. de Berna, 26).

Confirmaram já a sua participação os professores Lígia Amâncio (Vice-Presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia), Adriano Moreira (Presidente do Conselho Nacional de Avaliação do Ensino Superior) e Luísa Leal de Faria (Vice Presidente da Universidade Católica).
RANKING DE LONGEVIDADE DOS BLOGUES PORTUGUESES

Segundo o blogue Apdeites, o Indústrias é o 58º mais antigo blogue ainda em actividade (data de início: 17 de Março de 2003). O primeiro lugar pertence a macacos sem galho, começado em 19 de Março de 1999. Desse longínquo ano de 1999, há dois blogues ainda em funcionamento (o outro é o Dees life), em 2000 apenas um (Ptnix). Já em 2001, surgem mais resistentes, não podendo deixar de referir o ponto media, de António Granado, jornalista do Público e professor universitário, o quarto blogue mais velho.
OS NÚMEROS DO CINEMA

Segundo dados divulgados recentemente pelo ICAM – Instituto de Cinema, Audiovisual e Multimedia, o número de espectadores em Março deste ano registou uma quebra de quase um quarto do total face a igual período de 2005, alcançando pouco mais de 1,1 milhões de entradas nos cinemas. Isso fez soar as sirenes de alarme da indústria, nomeadamente a exibição, e logo num momento em que se anunciam mais salas a abrir em Lisboa. O fenómeno da quebra de espectadores do cinema não é, aliás, um problema nacional mas europeu e americano.

Avançam-se várias explicações. Uma delas é o consumo de televisão, tema recorrente desde a massificação deste meio nos anos de 1970. Mais tarde, o videogravador familiar, ao permitir o registo de programas, caso dos filmes, baixaria o número de saídas ao cinema. Em simultâneo, nasciam as lojas de vídeo, onde se podiam alugar ou comprar filmes em formato magnético (VHS).

Mas é, nos anos mais recentes, com a digitalização, que aumenta a regressão nas idas ao cinema. O filme em DVD e o barato reprodutor "made in China" tornam mais adequada a designação cinema em casa e a correspondente acção de ver um filme no sofá da sala de estar, sem a preocupação do espectador da frente dificultar a visão do ecrã.

O encanto da ida ao cinema, desde os anos 1940 e 1950 até antes das duas décadas finais do século XX, era a saída. Falava-se em consumos culturais de saída distintos dos consumos no lar (ler jornais e livros, ver televisão, ouvir rádio). Esse tipo de saídas era quase uma festa. Preparava-se todo um cerimonial, vestindo-se a melhor roupa e convidando familiares e amigos, fomentando uma tertúlia após o filme. As estrelas e os galãs enchiam as conversas: a beleza, a elegância, a força, a fantasia, o humor, a tragédia. Ria-se e chorava-se na sala escura do cinema. A gorjeta ao arrumador fazia parte do ir ver uma fita e o dia eleito era o sábado.

Se, nos começos do animatógrafo, os espectadores comentavam, jocosamente ou a propósito, o silêncio passou a ser a regra de ouro. O filme era arte, pelo menos nos cinemas do centro da grande cidade. Distinguia-se a estreia e a reprise, esta às vezes com anos de distância. Como o consumo de cinema por indivíduo era raro em média, os filmes ficavam na memória. Correntes sociológicas diferentes diziam que o cinema era ou educação ou divertimento. Um pouco à semelhança da televisão: formar, informar, entreter.

Já nas três últimas décadas do século XX, com a banalização do cinema, houve uma espécie de dessacralização. Passava-se a ir sem a cerimónia de outrora, com jeans e ténis a substituírem o fato e gravata ou a saia pelo joelho. E os temas diversificavam-se: as comédias de Hollywood ou os filmes de António Silva nos anos 1930-1940 tornavam-se mais densos psicologicamente, e mesmo com temas polémicos ou chocantes. Chegava-se ao fim da ingenuidade enquanto espectadores (Casablanca, West Side Story, Música no Coração). Isto sem referir as salas mais recentes – ou algumas delas –, onde se levam bebidas e batatas fritas, com a banda sonora do filme a ser complementada por um certo ruminar dos espectadores. Neste aspecto, voltou-se ao começo do cinema.

A guerra dos formatos também levou à perda dos números de espectadores do cinema. No começo da massificação da televisão, alguns cineastas apostaram em formatos gigantes, como o 70 mm, cujos filmes passavam apenas em alguns cinemas.

Com o crescimento de zonas periféricas à cidade para habitação, os cinemas da “baixa” e de bairro perderam clientela. Para os menos agradáveis e abafados cinemas de centro comercial da periferia, de paredes forradas a tecido e já não de madeiras ou mármores, e para a televisão. Nesta, o género telenovela reformulava gostos estéticos. O filme de 90 minutos deu lugar à saga de 150 episódios, todos os dias transmitidos à mesma hora da noite, com um enredo de múltiplas histórias e lentidão na acção, de modo a apanhar-se a narrativa mesmo que ela não fosse vista durante alguns dias por um espectador ocupado, e frequentemente falado com sotaque brasileiro.

Televisão, vídeo e DVD marcaram o cinema, com este a definir-se como arte opondo-se aqueles, designados por indústrias de conteúdo. A digitalização, isto é, o uso de computadores, alargou-se a outras áreas, como as máquinas fotográficas, a indústria dos discos, os livros (chamados e-books ou livros electrónicos). Negócios assentes há décadas, muitos deles desde finais do século XIX, deram origem a novas actividades. Tudo isto em muito poucos anos. Ainda nos podemos lembrar que, há cinco ou seis anos, a nossa máquina fotográfica funcionava com rolo. Agora, fazemos fotografias e vídeos e colocamo-los em servidores da internet, como o Flickr e o YouTube.

Há um outro inimigo mortal do cinema – a pirataria. A mesma que fez diminuir o lucro das editoras discográficas. Filme estreado, filme copiado. As máquinas digitais têm essa simultânea vantagem e desvantagem: copiar com a mesma qualidade do original. E a internet é uma rede de rápida expansão dessas cópias, num processo muito difícil de controlar. Nunca se falou tanto de direitos de autor – da sua perda – como agora.

Claro que, apesar dos números menos agradáveis para os exibidores, o cinema não pode acabar. A ilusão na sala escura, a efabulação a partir da paisagem, de rostos bonitos e de aventuras fantásticas tem de persistir. A memória da humanidade em mais de cem anos assim o exige.

E, talvez por causa disso, os números de Abril foram positivos face a igual mês em 2005, com uma subida de 37,5% (1,730 milhões de espectadores). Para isso, contribuíram filmes como Idade do Gelo 2, Infiltrado, Scary Movie 4 e Instinto Fatal. Mesmo antes do Código da Vinci. Pelo menos, por instantes, o cinema está salvo.

[uma versão mais curta desta mensagem passa hoje de manhã, por volta das 10:00, em crónica na Antena Miróbriga Rádio ou 102,7 MHz]

[em baixo, fachada do Animatógrafo do Rossio, em Lisboa, hoje convertido em peep show]

domingo, 28 de maio de 2006

INDÚSTRIAS CRIATIVAS

As notícias sobre o ensino têm-nos falado da redução da licenciatura para três anos (em discussão séria desde o ano passado) e da participação dos pais na classificação dos professores (nos media de hoje). Se me parece redutor a atribuição do grau de licenciatura no mesmo período de tempo que o antigo bacharelato, desprestigiando a designação, a intervenção dos pais na avaliação dos professores parece-me um risco. Se eu sou exigente para com um aluno mas o pai ou mãe dele julga que eu sou violento e exagerado, que posso fazer?

Por isso, nos tempos livres, preparo-me afincadamente para uma profissão alternativa no campo das indústrias criativas. O meu sonho é conseguir fabricar pastéis de nata, mas, por enquanto, fico-me no território do peixe grelhado (douradas e robalos), que serviram o almoço de hoje.


CELULARES COM MÁQUINA FOTOGRÁFICA INCORPORADA

Já lera algo do género nos media nacionais. Hoje, o El Pais dá conta de uma nova "actividade" dos utilizadores dos celulares, o dos happy slappers, que traduzo por pancadarias felizes. Isto é, utilizadores do celulares de terceira geração gravam na memória fotográfica cenas de violência e transmitem para outros celulares, graças à tecnologia bluetooth, radiofrequência com alcance entre 20 e 100 metros que permite a troca de ficheiros, áudio e imagens em tempo real.




A "moda" começou no Reino Unido, tendo-se propagado rapidamente para outros países europeus, como Suécia, Irlanda e Espanha. Aqui, no país vizinho, estima-se que a taxa de penetração do celular ande pelos 89,2% da população, com mais de metade dos terminais nas mãos de adolescentes, e metade desta metade com telefones com câmara fotográfica incorporada para fazer fotografias e vídeos.

Assim, torna-se fácil gravar e difundir cenas de agressões a colegas, velhos e mendigos e difundi-las rapidamente. Parece que eliminar este tipo de manifestação está fora de controlo. Falta-nos Stanley Kubrick para filmar uma nova Laranja Mecânica?

sábado, 27 de maio de 2006

CASO CARRILHO (II)

Ontem, em chamada de primeira página no canto superior esquerdo, o Diário de Notícias escrevia: "Entidade Reguladora critica livro de Carrilho", remetendo para a página 40 (secção dos media). Na página indicada, e sob antetítulo "Polémica", titulava: "Regulador condena acusações de Carrilho", anunciando entrevista com o presidente da ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social), Azeredo Lopes, a publicar no dia seguinte (hoje) [com fotografia desse responsável]. Hoje, ocupando quase duas páginas, destaco a peça intitulada "As «gravíssimas acusações»". Na pergunta a Azeredo Lopes sobre o que lhe aprazia "dizer sobre a obra", a resposta é esta: "Rigorosamente nada. No entanto, nela há matérias, como decorre do comunicado que a ERC emitiu, que se configuram muito mais como alegados factos criminosos e gravíssimas acusações. O Conselho Regulador entendeu que não tinha que ficar confinado ao livro de Manuel Maria Carrilho".

As peças jornalísticas de ontem e de hoje são assinadas por Paula de Sá e Sónia Correia dos Santos, com fotografias de Gonçalo Santos.





Da leitura da chamada de atenção e do texto de ontem mais o título de hoje, parece-me exagerado que a ERC, nomeadamente o seu presidente, tenha condenado Manuel Maria Carrilho, na entrevista agora editada. Creio ter havido excesso de linguagem quanto ao anunciado ontem.

Recordo o que publicou Estrela Serrano no seu recente livro Para compreender o jornalismo: Na primeira [página], predomina o drama e a encenação [...] na página interior, há contenção, prudência e rigor" (p. 78). Estrela Serrano, provedora do leitor do Diário de Notícias entre 2001 e 2004 e actual membro da ERC, escrevia então sobre um medicamento (página de 4 de Março de 2002). Nessa altura, o jornal passava por uma fase de tabloidização, com títulos menos justos e precisos. Será que voltou a esse período?

[continua noutra mensagem]
O BLOGUE DE CONSTANÇA LUCAS

O blogue Imagem e palavra é animado por Constança Lucas. É um local acolhedor, onde mistura poesia com imagens suas, pelo que aconselho a uma visita.

Ao longo destes anos de trabalho na blogosfera, tenho descoberto várias sensibilidades artísticas, caso desta artista que conheci agora no seu espaço da internet. Nascida em Coimbra (Portugal), Constança Lucas vive e trabalha actualmente em São Paulo (Brasil), onde desenvolve trabalhos em pintura, desenho, gravura, aguarela e infografia. Autora de inúmeros desenhos publicados em jornais, revistas e livros, tem ainda um outro sítio, onde também mostra as suas actividades plásticas.




[imagens retiradas do blogue de Constança Lucas, de 18 e de 21 deste mês, autorizadas pela autora para reprodução no Indústrias]
AGENDAS MUNICIPAIS E DE CENTROS DE ARTE




Incluo a agenda do Porto, o programa do ciclo Acert de Tondela, o Centro de Artes de Sines e o Festival Músicas do Mundo de Sines (Julho).


LISBON UNDERGROUND MUSIC ENSEMBLE

Com Marco Barroso (direcção e composição), Manuel Luís Cochofel (flauta), Paulo Gaspar (clarinete), Jorge Reis (sax soprano), João Pedro Silva (sax alto), João Mortágua (sax tenor), Elmano Coelho (sax barítono), Jorge Almeida/ João Moreira/ Pedro Monteiro (trompetes), Luis Cunha/ Eduardo Lála/ Pedro Canhoto (trombones), Marco Barroso (piano), Yuri Daniel (contrabaixo e baixo eléctrico), Pedro Silva (bateria) e Rodrigo Amado (DJ SET).

No MAXIME, 1 de Junho, pelas 23:00, na Praça da Alegria, 58, em Lisboa.

sexta-feira, 26 de maio de 2006

DOCUMENTÁRIO SOBRE A EXISTÊNCIA DE RÁDIO FM NO NEPAL

O
Media Network Weblog traz hoje uma mensagem que vale a pena ler e seguir. Andy escreve sobre uma estação FM no Nepal, com um documentário que se pode ver no YouTube. Apesar deste servidor permitir filmes até 10 minutos, o referido vídeo tem cerca de 30 minutos. Produzido em 2002, antes de restrições sobre estações de FM, o documentário segue um grupo de jornalistas que agrega recursos no sentido de fornecer informação para várias emissoras. O vídeo foi colocado por Jack Fuller [director do vídeo: Micz Flor & Philip Scheffner; produtor: Micz Flor & Philip Scheffner; produção: Crash Media / pong-berlinContact; informação: Crash Media, Berlin Micz Flor: micz@mi.cz].

Há, aqui, três consequências em que eu reflicto: 1) a alegria de construir informação o mais livre possível em condições difíceis (se calhar, iguais às produzidas pelas rádios comunitárias do Brasil ou da Guiné-Bissau), 2) a possibilidade de se aprender com esses meios e os aplicar noutros locais, funcionando como media de proximidade, 3) uma etapa que se aproxima, em que se podem fazer conteúdos audiovisuais (televisão) por preços nunca imaginados antes. O problema não estará na técnica, quase resolúvel - velocidade da banda (banda larga) e alojamento desses conteúdos -, mas na produção de conteúdos, em que é preciso dar um enorme salto.




Por favor, não desista, pois a qualidade do vídeo é má e ele tem paragens frequentes.
GOOGLE DO BRASIL SUSPENDE PÁGINAS DO ORKUT

Ontem, a Google informou ir eliminar várias páginas da popular rede Orkut no Brasil, após as autoridades deste país descobrirem que algumas das páginas promovem a violência, terrorismo e pornografia infantil. Isto além de se suspeitar que um outro sítio foi criado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), o grupo criminoso responsável pela recente violência em S. Paulo. O Orkut tem 16 milhões de usuários, 72% dos quais são brasileiros. Fonte:
Reuters.
CICLO DE CONCERTOS DE MÚSICA SACRA ANIMA IGREJAS DA BAIXA-CHIADO

Aos Domingos, em Lisboa e durante Junho, sempre às 16:00, com entrada livre. Segundo comunicado: "Em Junho, a Unidade Pastoral da Baixa-Chiado abre um ciclo de concertos com vista a contribuir para a animação sócio-cultural e cultivo da música sacra, naquela zona nobre da capital. A iniciativa conta com alguns dos melhores coros do país e visa abrir os espaços sagrados à música que outrora ou agora foi composta ao serviço da contemplação dos mistérios da Revelação Cristã". Para mais informações, contactar com João Freitas Ferreira (213869405, 913469472 ou
jff@belodemorais.com.pt).

CASO CARRILHO (I)

Não li o livro Sob o signo da verdade de Manuel Maria Carrilho nem vi o programa Prós e Contras da RTP. Logo: sobre estas realidades não posso dizer nada. Mas posso destacar as fontes secundárias que li: textos de jornalistas e analistas (artigos de opinião) e um blogue com os seus comentários. Dessa produção toda, destaco:

1) necessidade dos jornalistas visados criticamente por Carrilho repudiarem a sua perspectiva,
2) apresentação de dois estudos, no Expresso de 20 de Maio, sobre a "produção" das agências de comunicação (sete em dez notícias têm origem em agências de comunicação e gabinetes de imprensa), embora tal não signifique "comprar" jornalistas,
3) defesa do princípio da independência dos jornalistas no Público (24 de Maio), em editorial do director,
4) algum posicionamento político-partidário nos textos dos analistas dos media editados nos jornais,
5) agendamento reproduzido nos blogues, como mostra a citação no Diário de Notícias de 25 de Maio (blogue de Daniel Oliveira), mostrando a falta de originalidade quer do blogue quer do jornal que reproduz a citação, numa ideia de circulação circular da informação, à Bourdieu,
6) agendamento reproduzido nas cartas do leitor (caso do Público),
7) intervenção da ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social), com nota publicada ontem e entrevista do seu presidente anunciada para a edição de amanhã do Diário de Notícias.

Como síntese destes pontos, regista-se uma confluência de agendas - política, mediática, pública. Neste caso, foi a agenda política a arrancar (a edição de livro do político Carrilho), seguida logo pela mediática (assunção contra dos jornalistas, acusando aquele de se vitimizar) e da pública (o assunto entrou nas cartas ao director dos jornais e nos blogues).

O tema principal da discussão é: relação entre fontes (ou intermediários, as agências de comunicação) e jornalistas. Esta funciona em dois sentidos: 1) existe cooperação entre os dois lados (por exemplo, um deputado precisa do jornalista para divulgar o seu trabalho junto do público; o jornalista precisa da informação do deputado para escrever a sua notícia), 2) autonomia, cada lado tem os seus interesses, profissionalmente antagónicos. Por vezes, há conflito, quando um dos lados não respeita o outro (quebra de embargo; informação truncada quer pela fonte quer pelo jornalista). A esta relação de cooperação/autonomia/conflito chama-se negociação - cada um dos lados ganha ou perde com o relacionamento, podendo ainda estabilizar uma relação de compreensão mútua.

Há outras hipóteses: 1) se jornalista e fonte estabelecem uma longa relação (por exemplo, no parlamento europeu, no futebol, nos desportos motorizados), a separação de interesses ou autonomia pode atenuar-se (criação de amizade), com perda de independência para quem reporta os acontecimentos (por isso, é salutar mudar regularmente os interlocutores). Esta relação pode também deteriorar-se se as fontes pressionam não apenas os jornalistas mas também as organizações (como retirar publicidade).

Anoto ainda três aspectos, sendo o segundo subsidiário do primeiro:

1) o fornecimento de informação por instituição ou entidade a trabalhar para aquela a determinado jornal ou jornalista (exclusivo, informação mais detalhada), significando reconhecimento por notícias anteriores,
2) esta proximidade de interesses pode configurar favorecimento ou distorção (e será o caso apontado no livro de Carrilho, ao acusar uma agência de comunicação de veicular informação positiva de um lado e prejudicar outros agentes sociais),
3) criação de pseudo-eventos. Neste caso, cito Estrela Serrano (Para compreender o jornalismo, 2006: 169): "Os políticos e os jornalistas são os maiores criadores de pseudo-eventos". O livro de Carrilho enquadra-se neste tipo, com multiplicação de notícias e ressurgimento político e mediático do seu autor.

Um penúltimo ponto nas minhas notas: o que se mostra e o que se esconde, o público e o privado. Toda a discussão remonta a uma ocorrência antiga: um vídeo usado em campanha eleitoral, em que Carrilho, candidato à câmara municipal de Lisboa, se fazia acompanhar pela família. A pergunta é: 1) um político em campanha deve valer pelas suas competências e propostas eleitorais, ou 2) isso e mais a imagem familiar?

O último elemento dá pelo nome pouco científico de "boa" ou "má" imagem. Ao longo dos anos, Carrilho não terá sabido cultivar uma "boa imagem", mostrando distanciamento (mesmo arrogância) face aos media. Independentemente do trabalho sério e objectivo que o jornalista faz, este gosta de ser bem considerado pelas fontes. Carrilho (ou Rui Rio, noutro quadrante político) não fazem esse "cultivo" dos jornalistas. E Carrilho, nos últimos anos, estendeu esse distanciamento a outros níveis - desafiando os líderes do seu partido a eleições internas.

A longo prazo, o distanciamento (ou frieza no tratamento com os media) pode ser fatal (repito que isto ocorre sem questionar a seriedade e objectividade jornalísticas). A candidatura de Carrilho foi sufragada em eleições. Ele perdeu e deveria, quanto a mim, tirar ilações. Escrever sobre a derrota, atirando culpas para outros e a esta distância temporal - não li o livro, apenas o que têm escrito sobre ele -, parece-me errado.

Apesar de tudo, a discussão - muita dela, superficial e algo despeitada - teve um mérito: discutir a relação entre fontes e jornalistas. E destacar alguns dos espaços de fragilidade, aqui representados. Recomendo, assim, a leitura do livro de Estrela Serrano (Para compreender o jornalismo, 2006), onde a autora, na função de provedora do leitor de jornal, trabalhou sobre notícias e modos de percepção dos acontecimentos por parte de fontes e jornalistas.

[continua noutra mensagem]
NOVO LIVRO DE JOSÉ CARLOS ABRANTES

A lançar em 6 de Junho, às 18:30, na Feira do Livro de Lisboa.


quinta-feira, 25 de maio de 2006

  • PARECER DA ERC SOBRE O CASO CARRILHO

    A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) emitiu hoje uma nota à imprensa, em 10 pontos, acerca do livro de Manuel Maria Carrilho (Sob o signo da verdade) e o debate e a polémica desenvolvidos nos media. Assunto principal: a falta de independência dos jornalistas e as suas relações com fontes (ponto 1).

    A ERC lamenta que algumas das acusações formuladas no debate surgido ponham em causa a dignidade e o profissionalismo do conjunto dos jornalistas (ponto 6). Daí, a ERC inscrever, entre as suas prioridades de regulação, "a análise das relações entre o campo jornalístico e os campos político e económico, nas suas diferentes vertentes, entre as quais se incluem questões como o pluralismo e o papel dos promotores das notícias (nomeadamente, das ditas «agências de comunicação») na informação publicada" (ponto 8).

  • Esta posição da ERC segue-se a um pedido formal de Carrilho para apreciação e a sugestões surgidas nos media para que a entidade tomasse posição [a ERC também tomou deliberações sobre cobertura jornalística da SIC em caso de fiscalização alimentar e sobre a capa do jornal 24 Horas de 27 de Abril último].

O blogueiro tinha também decidido escrever aqui no Indústrias algo sobre o tema (até porque leitores do blogue me abordaram nesse sentido, o que agradeço). Já tomei umas notas hoje, e tenciono escrever amanhã sobre o assunto (embora eu procure não seguir a agenda dos media, dos políticos ou dos blogues em geral).

JAMES CAREY

Soube ontem, através da leitura de Manuel Pinto, no blogue
Jornalismo e Comunicação: James Carey faleceu. O investigador americano era especialista em Harold Innis, um dos precursores da escola de Toronto, antes de McLuhan. O texto que melhor conhecia dele é: Communication as culture.

EDUCAÇÃO PARA OS MEDIA

O ponto de partida é substituir o quarto poder - atribuído aos jornalistas - por um quinto poder, aquilo a que Manuela Espírito Santo chama de práticas de educação cidadã.

A partir de relatos de jornalistas como Manuel António Pina, César Príncipe e Baptista Bastos, e de textos de Xosé Soengas, Ignacio Ramonet, Philippe Breton e Fernando Ilharco, a autora avança a construção de uma nova censura nos tempos de hoje, onde se podem distinguir uma directa, exercida de topo para base por parte dos detentores da propriedade das organizações noticiosas, e outra, indirecta, da base para cima, quando promotores de informação não a fornecem totalmente. Daí, propõe-nos a educação para os media, em que aos mais jovens sejam fornecidos instrumentos de análise.

Não estou de acordo com a totalidade das proposições de Manuela Espírito Santo. Ela parece colocar as raízes dos problemas dos media na sua construção específica em Portugal, embora fazendo referências ao mundo e a leituras publicadas fora do país. Sem o explicitar, nota-se uma crítica à economia de mercado, mas não avança com uma alternativa, pois parte de um quadro existente. Isto é, aponta males, mas não propõe ou sugere curas.

As organizações jornalísticas evoluiram ao longo do tempo, muitas vezes tacteando a sua evolução, em busca de soluções. A mensagem que ontem coloquei, a propósito de trabalhos de mestrado e doutoramento de Paula Miranda, onde se abordam o nascimento e o crescimento de jornais (Diário de Notícias, Século, Primeiro de Janeiro), elucida o modo como os media têm uma relação (mais fácil ou difícil) com a sociedade e a estrutura económica e política vigente. Os próprios jornais sentiram necessidade de abandonar critérios de ordem ideológica como elementos de sobrevivência das suas propostas. Isto é, não houve uma determinação externa total que os reorientasse. Fazer um jornal implica vender exemplares do jornal.

A educação para os media é exterior ao processo de fabrico dos media. A consciência crítica adquirida implica aquilo a que Manuela Espírito Santo chama educação cidadã. Ou seja, a que permite a escolha, por parte de cada um, dos produtos informativos mais adequados à própria formação individual. Assim, no seu texto, há uma amputação fundamental, o esquecimento da construção dos media em si e da sua relação com o mundo.

Manuela Espírito Santo é directora de comunicação e relações públicas da câmara municipal de Matosinhos. Anteriormente, foi vice-presidente do Inatel e fez parte das direcções do Teatro Experimental do Porto de da cooperativa FITEI. Actualmente, está a tirar mestrado em comunicação na Universidade do Minho e tem o curso superior de Teatro. Foi uma das melhores alunas que tive aquando da minha passagem na Árvore - Escola Superior de Ensino Artístico, em meados dos anos 80.

Leitura: Manuela Espírito Santo (2006). Por um quinto poder em defesa do futuro cidadão. Combate à nova censura através da educação para os media. Porto: Arca das Letras, 46 páginas, preço €5.

quarta-feira, 24 de maio de 2006

[mensagem nº 1958]

OBRIGADO.

O blogue
Indústrias Culturais atingiu 250 mil visitantes, ao fim da tarde de hoje. Um quarto de milhão!

LIVROS COTOVIA

  • Da programação da Cotovia para a Feira do Livro de Lisboa destaco:

    1) 9 de Junho, pelas 18:00 - O Teatro de Ibsen, lançamento do 1º volume de Peças Escolhidas, com Gustavo Rubim e Jorge Silva Melo e leitura encenada pelas actrizes Carmen Dolores, Gina Santos e Sylvie Rocha. No Auditório da Feira,

    2) mesmo dia 9 de Junho, pelas 19:00 - Apresentação do projecto teatral PANOS – palcos novos palavras novas, lançamento do livro em colaboração com a Culturgest, com Natália Vieira, Francisco Frazão e Jacinto Lucas Pires. Leitura por alunos da escola secundária António Carvalho de Figueiredo de Loures. No Foyer da Feira.


ESTUDOS SOBRE A IMPRENSA (FINAIS DO SÉCULO XIX E PRINCÍPIOS DO SÉCULO XX)

Mensagem feita a partir da leitura de dois trabalhos de Paula Miranda: 1) As origens da imprensa de massa em Portugal: o Diário de Notícias (1864-1889) (tese de mestrado defendida na Universidade de Évora em 2002, 305 páginas), 2) O jornalismo em Portugal. Elementos para a arqueologia de uma profissão (1865-1925) (tese de doutoramento defendida na Universidade de Évora em 2005, 2 volumes com um total de 619 páginas).

Quer na tese de mestrado quer na de doutoramento, Paula Miranda enfatiza a arqueologia da produção e da distribuição enquanto aspecto decisivo para o funcionamento do Diário de Notícias, no primeiro desses trabalhos, complementado com análises do Século e do Primeiro de Janeiro, na segunda das teses. Evidentemente, a tese de doutoramento é um documento mais rico, pela maior extensão do tema quer em jornais avaliados quer em tempo histórico. A autora combina áreas científicas distintas, da história às ciências da comunicação, evidenciando um mais à vontade na primeira. No trabalho de mestrado, ela olhou o Diário de Notícias em períodos de amostra: 1865, 1870, 1875, 1880, 1885, detectando uma evolução na imprensa portuguesa para uma fase de organização industrial.

A tarefa de Paula Miranda é muito louvável. Num país onde ainda pouco se sabe da história da imprensa, ela ousou entrar em terrenos movediços, pois faltam muitas fontes documentais directas. Na tese de mestrado, por exemplo, ela refere-se a estudos de José Manuel Tengarrinha e Fernando de Sousa, mas estes estão mais no campo institucional e menos no organizacional. Daí a importância do capítulo 1 da segunda parte da tese de doutoramento (pp. 47-64), onde, a partir de um inquérito internacional de 1925, se começa a caracterizar a profissão de jornalista, objecto principal deste projecto de Paula Miranda. Nesse capítulo, ficamos a perceber as diferenças de profissão entre Portugal e outros países. Enquanto que, na Áustria, Alemanha, Itália, Suécia e Suíça, os jornalistas estão associados a um só jornal e fazem disso profissão, em países como França, Espanha e Portugal, o jornalismo é desempenhado em paralelo com outras actividades, caso de escritores, comércio, banca, ensino, funcionalismo público (p. 57).

A origem e seu desenvolvimento económico e social das empresas jornalísticas portuguesas ocupa um espaço central da tese de doutoramento de Paula Miranda. Assim, se uma companhia de moagem serviu de capital para o avanço do Diário de Notícias, no Século e no Primeiro de Janeiro as actividades de tipografias associadas (no Primeiro de Janeiro, também actividades comerciais) garantiram os primeiros investimentos de capital.

Nas conclusões do trabalho de doutoramento, Paula Miranda continua o defendido no mestrado: o Diário de Notícias assumiu o jornalismo como um negócio, adaptando a informação como estandarte (p. 363). Ao invés, os dois outros jornais começaram por se dedicar à causa republicana ainda em fase de monarquia constitucional, mas passaram a defender o mesmo modelo do Diário de Notícias após alterações na constituição das firmas que suportavam os jornais. As várias profissões dentro do jornalismo, a sua identificação, a criação de espaços próprios redactoriais separados de outras funções, a distribuição (ardinas em Lisboa, correspondentes no resto do país, estes acumulando possivelmente com a função de recolectores de informação para as notícias) e os movimentos associativos são objecto de estudo o mais apurado possível.

Sem conhecer a autora e saber o que ela espera deste trabalho - se é que ainda o não fez -, ele merece publicação. Estar apenas na biblioteca da universidade não será, certamente, o melhor local de divulgação. E o país precisa da publicação destes trabalhos. Mesmo que se discorde de alguns pontos de vista e interpretações, a crítica a vir a lume enriqueceria o contributo porque elimina zonas escuras da nossa história recente.

Observação final: a tese de mestrado encontra-se já depositada na Biblioteca Nacional, onde a li. A tese de doutoramento, se deu entrada na Biblioteca Nacional, ainda não está disponível (li-a, porque me emprestaram uma das cópias feitas para a defesa da tese).
REVISTA OS MEUS LIVROS NA FEIRA DO LIVRO DE LISBOA

Vai começar a Feira do Livro em Lisboa e a revista Os Meus Livros estará presente. Assim, nas tardes de sábado e domingo, homens-sanduíche procederão à leitura de diversos textos ao longo do percurso da feira, intervindo com os transeuntes e fazendo da sua actuação um desafio a todos os que se passeiam pelo recinto.

As intervenções, a cargo de actores da companhia "Histórias Contadas", decorrerão às 17:00 e 19:00 dos dias 27 e 28 de Maio, 3, 4, 10 e 11 de Junho.

A 7 de Junho (quarta-feira), pelas 18:30, haverá o debate "Os Livros na Comunicação Social", iniciativa conjunta da Câmara Municipal de Lisboa e da revista Os Meus Livros. Presentes: João Morales (director de Os Meus Livros); Bárbara Guimarães (jornalista e apresentadora do programa diário Páginas Soltas, na SIC Notícias); José Carlos Vasconcelos (jornalista e director do Jornal de Letras, Artes e Ideias) e Carlos Vaz Marques (jornalista e apresentador do programa diário Pessoal e Transmissível, na TSF), com moderação de Reginaldo Rodrigues de Almeida (professor de Comunicação na UAL).

terça-feira, 23 de maio de 2006

OS LÁPIS DA VIARCO



Não foi com Viarco que eu comecei a escrever, mas também serve. A página de hoje do Diário de Notícias, com texto de Francisco Mangas e fotografias de Hernâni Pereira, sobre os setenta anos dos lápis Viarco, não merece morrer na edição de hoje, tão bonita que é (retirei do sítio do Diário de Notícias de hoje a segunda imagem).

E a peça revela uma próxima tese de mestrado de Carlos Coutinho sobre o lápis português (domínio da museologia e património), que espero, um dia, aceder (não sei ainda muito bem como), dado o tema tão curioso. Além do conhecimento de uma exposição a percorrer o país, incluindo Lisboa, de colecções de lápis antigos, embalagens e outros materiais gráficos. E de um museu, com espaço já definido mas sem dinheiro para o transformar.

FESTA DE LANÇAMENTO DO "SACO DE GATOS"



Lançamento e apresentação no dia 26, às 21:30, no Santiago Alquimista (Lisboa), com actuação ao vivo de Carlos e Yara Gutkin, curta metragem de André Braz e J.B.Mota, banda sonora original ao vivo e mais coisas.

CAFÉ DE TRADUÇÃO



O "Café de Tradução" é amanhã, às 17:30, na livraria Bulhosa, Campo Grande, 10, a Entrecampos, aqui em Lisboa. Organizado pela ATELP - Associação de Tradução em Língua Portuguesa, é o primeiro de uma série de encontros dedicados à tradução em Portugal. Reunindo representantes das grandes áreas da tradução em Portugal – tradutores-intérpretes, técnicos e literários – o "Café de Tradução" terá Luísa Yokochi como moderadora, e conta ainda com as presenças de João Roque Dias e Rosário Moreira.

A mesma livraria tem ainda uma programação cultural, aliás a exemplo de outras, como a Almedina (Lisboa) e Minerva (Coimbra). Tertúlias e conversas fazem parte do reportório habitual da Bulhosa (não tenho indicação de sítio de internet onde se possam obter mais informações).
DICAS PARA OS FÃS MANTEREM AS SÉRIES DE PREFERÊNCIA

Ou os canais de preferência, se se quiser. Sirvo-me ainda da edição de anteontem do Sunday Times, em peça assinada por Tony Allen-Mills, a partir de Nova Iorque.

Os telespectadores americanos andam furiosos com as ameaças de extinção de séries de culto, caso da Deadwood, do canal por cabo HBO. Horas após o comunicado a informar o próximo desaparecimento do programa e da não renovação dos contratos dos artistas, abriu um sítio chamado "Salvemos a Deadwood". Num só dia, o sítio atraiu donativos da ordem de €2400 destinados ao pagamento de uma página de publicidade na Daily Variety, publicação fundamental da indústria de entretenimento. Uma semana antes, um grupo de fãs de Los Angeles, temendo o fim da série Veronica Mars, com a estrela Kristen Mars, recolheu €3150 para alugar uma avioneta com um pano cujo texto protestava contra a medida. O pequeno avião sobrevoou a casa do presidente da rede televisiva, Dawn Ostroff.

A notícia traz mais casos, mas chega para o que pretendo.


A minha micro-causa chama-se TV Cabo. A uma regularidade impressionante, a direcção daquela empresa monopolista (na minha rua, pelo menos) muda a grelha de canais, sem pensar que assinei um contrato com uma grelha estabilizada. De então para cá, retirando os canais generalistas, parece que tudo mudou. O último que nos deixou foi o brasileiro GNT, em troca por um de menor qualidade. O que é um desprezo absoluto pelo cliente, numa altura em que se diz que o cliente é rei. E o mais incrível é que recebo periodicamente telefonemas de vendedores da TV Cabo, falando das vantagens de novos canais, pagos à parte, claro. À atenção da ANACOM e da ERC: quando se controla a actividade da TV Cabo e se permite a liberalização da televisão por cabo? Estou ansioso por experimentar a concorrência.

Ou então, espectadores descontentes, forme-se uma associação que tenha ideias e as ponha em prática como a dos grupos americanos acima descritos. Passividade é que não. Basta!

segunda-feira, 22 de maio de 2006

O QUE ESTÁS A FAZER?



Parece ser a pergunta que o gato me fez, ao espreitar do lado de fora da janela do meu escritório. Acho que lhe respondi qualquer coisa do género: "olha, estou a acabar de ler um texto sobre o impacto nos media do alargamento da União Europeia". Penso que não me compreendeu, pois a impressão seguinte dele foi chamar-me a atenção para a hora de almoço. Ao que agradeci. E ele saltou para um pequeno varandim, entre um sexto e um sétimo andar. Estamo-nos a habituar a estas conversas com janela de permeio. Vida de gato quase voador. E de workholic deste lado da janela!

AGOSTINHO DA SILVA

  • É tema de conferência no Seminário Internacional de Cultura Luso-Espanhola da Universidade Católica Portuguesa. A conferência será dada por Paulo A. E. Borges (Universidade de Lisboa), apresentado por Manuel Cândido Pimentel (Universidade Católica Portuguesa). No edifício da biblioteca João Paulo II, dia 26 pelas 18:30.

A HISTÓRIA DA CASA DA IMPRENSA

Coordenado por João Alferes Gonçalves, o livro Casa da Imprensa - 100 anos de história (1905-2005), escrito por Afonso Serra e Mário Branco, assinala o centenário da instituição. Representa, nas palavras de Fialho de Oliveira, dirigente actual, a homenagem aos que fundaram e aos que, ao longo de gerações de jornalistas, souberam garantir esta obra de solidariedade que é exemplo de mutualismo moderno.

Dos autores, pode dizer-se que Afonso Serra foi um dos notáveis que ergueram o edifício-sede, há cinquenta anos, e Mário Branco um elemento da revitalização da Casa da Imprensa nas últimas décadas.

O livro, com 232 páginas e preço de € 16,80, é editado pela Campo das Letras e tem fotografias de Fernando Negreiro, João Ribeiro, Jorge Cabral e Arquivo Casa da Imprensa.
VERSÃO RÁDIO DO BLOGUE

A ouvir Indústrias Culturais na Antena Miróbriga Rádio ou 102,7 MHz, depois da música dos "Naifa". O tema de hoje é sobre o livro de Eduardo Street, O teatro invisível. A seguir.
FRIDA KAHLO

Estou a ouvir na Antena 2 António Mega Ferreira referir o êxito da exposição de Kahlo, que acabou ontem e obteve a maior audiência de público no Centro Cultural de Belém (CCB) em treze anos. E, comparativamente à mostrada na Tate Modern, teve também muito sucesso. Parabéns ao CCB - mas Frida ajudou. Eu também verifiquei o impacto público da exposição em Santiago de Compostela.
A CRÍTICA AO CINEMA PORTUGUÊS

No suplemento "6ª" (Diário de Notícias, de 19 de Maio), João Lopes escreve sobre a crítica ao cinema português. O ponto de partida é que a crítica negativa a um filme português pode afastar o público.

Ele entende isso como redutor: "esquece o peso realmente minoritário da crítica de cinema: em boa verdade, no conjunto de todos os espectadores de cinema, apenas uma pequeníssima percentagem lê com regularidade os textos críticos". E, se destaca a heterogeneidade do discurso crítico, anota três problemas fundamentais acumulados ao longo do tempo: 1) frágil estrutura de produção e ausência de estratégias de marketing, 2) pequeno envolvimento entre produção e distribuição/exibição, 3) distanciamento económico e estratégico entre cinema e televisões (esta marcada pelo padrão da telenovela).

domingo, 21 de maio de 2006

SHAME ON YOU, GIRLS

Quando escrevi, mais abaixo, sobre o caso Paul McCartney versus Heather Mills, lera apenas uma parte da história. Isto é, vi a carta de Christopher Terrill até ao fim, mas não lera o jornal todo. Um "sunday" é como o Expresso, nunca mais acaba e precisa de ser lido por etapas. Por isso, quando cheguei ao caderno "Culture", deparei-me com o artigo de opinião de India Knight, com o título que encabeça esta mensagem, com ela a olhar-me com um sorriso cúmplice (vá lá, não reprovador).

Pus-me a ler. Ela escreve sobre o Big Brother (BB) inglês e as 14 criaturas que habitam a casa. Crítica, ela não encontra uma só mulher inteligente naquele programa. Talvez uma, mas esta orgulha-se de não ter amigos(as) e não criar qualquer tipo de relacionamento seja com quem for. E continuei a ler sobre as raparigas que estão na casa, no que me levou a lamentar não ter escrito assim sobre o show da TVI. Conclusão: India Knight, apesar de fã do programa, não desejaria ver uma sua filha adolescente no BB. Logo: aconselha as jovens a terem vergonha dos esforços que fazem para aparecer na tele. A aparência não é tudo na vida de uma pessoa. A exposição aos media resulta em apenas quinze minutos de fama, como dizia Andy Wharol, e as mulheres (e também os homens) que nela aparecem são rapidamente esquecidas e substituídas.

Mas a parte final da sua crónica fala sobre Heather Mills, com um olhar distinto do traçado pelo namorado ressabiado pelo afastamento de há cinco anos. É que os jornais britânicos da semana passada mostraram as lágrimas de Heather, devastada em cima de uma cadeira de rodas. Para a jornalista, Heather Mills, por muito que proclame, não está bem: a sua perna amputada (por acidente, há anos) foi operada de novo, recentemente, o que provoca certamente pânico, emocional e fisicamente.

Por isso, tenho de rever o que escrevi ao princípio da tarde. Não se trata, realmente, de uma tragédia grega, como a Medeia, mas a ausência de fronteira entre público e privado impede os famosos do resguardo necessário em tempos de dificuldades (dor). O problema é que os famosos e os que procuram a fama não convivem bem com o afastamento das páginas dos jornais e dos holofotes da televisão. E isto anda perto da configuração de uma tragédia moderna.
  • CAMPO PEQUENO - A ROMARIA ANTES DOS GLOBOS DE OURO

    A publicidade nos media, em especial na televisão, seguida de programas, também na televisão (espectáculo de Filipe la Féria na RTP, tourada na TVI, globos de ouro hoje na SIC), levaram multidões ao Campo Pequeno hoje à tarde, a pé, de autocarro, de metro, para ver como é - e, quem sabe, algum famoso dos que vão participar no programa da SIC, a começar daqui a escassos minutos [no vídeo, onze segundos dessa romaria, às 15:30]. Também reparei em muitas famílias, guarnecidas com sacos de compras do Sá, o supermercado de origem madeirense já a funcionar na galeria comercial. Enquanto novidade, o Campo Pequeno é o destino do passeio de domingo de muita gente. Espera-se ainda a abertura da livraria Bertrand e dos cinemas, estes lá para Julho.

FROM CHRIS TO MACCA

A história conta-se em poucas linhas. Na semana passada, Paul McCartney - um dos músicos dos Beatles - separou-se da mulher Heather. E, hoje, o Sunday Times, com chamada de atenção na primeira página e toda a página 13 (1º caderno), traz uma carta de Christopher Terrill dirigida ao abandonado "beatle".



Na longa carta, Chris diz que ele e Paul nunca se encontraram. Até são muito diferentes: Paul é muito rico e globalmente conhecido, Chris é apenas um simples cineasta, o primeiro recebeu o grau de cavaleiro ao passo que o segundo tem apenas um certificado por ter concluído a maratona londrina, Paul gosta de tofu e Chris não. Mas convida-o a se conhecerem e tomarem juntos uma cerveja.

Razão: ambos amaram a mesma mulher - e ao mesmo tempo. Como? Heather e Chris já tinham combinado o casamento, marcado a lua de mel (Seichelles e Zimbabué), pago o catering da boda e recebido prendas dos amigos. Seis dias antes do casamento - faz agora cinco anos -, Chris atende em casa um telefonema, onde o interlocutor pede para falar com Heather. Esta, no dia seguinte, inventa a necessidade de ir buscar a irmã ao aeroporto (vinda da Grécia, onde vivia), e desapareceu. Escreve na sua carta: "Foi a última vez que a vi". Isto porque, duas horas depois, ela telefona e diz que o casamento se não pode efectuar, que está tudo acabado. Afinal, continua a escrever Chris, ele, ao atender o telefonema, introduzira Paul a Heather.

Doze dias após Chris conhecer Heather, já estavam no Camboja a fazer um filme sobre minas pessoais, tema patrocinado pela antiga modelo. Quando o cineasta telefonou à família, esta ficou surpreendida. É que, após lerem a autobiografia da rapariga, concluiram que ela coleccionava mais namorados do que um fã de selos compra estampilhas.

Destruído pelo fim da relação, Chris, que até gostava de ouvir os Beatles, remeteu a colecção dos discos para o armário. Nunca mais os ouviu. Agora, sabendo do final da ligação de Heather com Paul, recuperou os discos: depois de ouvir Sergeant Pepper, passaria por Revolver, A Hard Day's Night e Help!. Títulos sugestivos, né?

Até parece uma tragédia grega. Se Eurípides existisse ainda, ele certamente reconstituiria a história e torná-la-ia numa espécie de Medeia. Claro que estou a exagerar, mas a história inglesa tem desígnio próximo da de Medeia. Não há violência e o relacionamento entre homens e mulheres é muito mais equilibrado do que na Grécia clássica. No seu tempo, Eurípides não teve muito reconhecimento. Mas, colocar uma mulher no centro da história, num tempo em que as mulheres - como os estrangeiros e os escravos - não tinham direito de cidadania, foi muito arriscado.

Medeia, vinda da Cólquida (actual Geórgia), apaixonou-se por Jesão, o grego comandante dos Argonautas, traindo o seu país ao segui-lo. Quando Jasão a repudia, mais aos filhos de ambos, para desposar a filha de Creonte, rei de Corinto, Medeia jura e cumpre uma terrível vingança.

Christopher Terrill - apesar do seu segundo nome despertar algum interesse quando lido em português - não terá, certamente, o mesmo espírito de vingança terrível. Quando muito, como ele diz na carta, espera ser ressarcido dos gastos feitos nas encomendas para o casamento gorado.

Peça: Medeia, de Eurípides, com tradução de Sophia de Mello Breyner Andresen, está em cena no Teatro D. Maria II. Tem uma encenação soberba de Fernanda Lapa, que também aparece na peça, num pequeno mas importante papel, ao lado da magnífica Manuela Freitas.

sábado, 20 de maio de 2006

DA CRÍTICA SOBRE A TELEVISÃO

No El Mundo de hoje, vem uma excelente entrevista feita por Irene Hdez Velasco a Paul Ginsborg, professor de história contemporânea europeia na universidade de Florença. Inglês de origem, mas vivendo em Itália há diversos anos, Ginsborg olha a televisão e Berlusconi, até há pouco primeiro-ministro naquele país. Diz o professor:

  • Através do seu controlo sobre a televisão, Berlusconi conseguiu inculcar um forte modelo cultural na vida diária dos italianos. Um modelo baseado num consumo muito elevado, numa responsabilidade social baixa, na importância da família, na lealdade aos amigos, no conceito de furbizia (artimanhas) e muito pouco preocupado pela sociedade civil ou pelos problemas do mundo. Trata-se de um modelo que exalta o provincianismo dos italianos e o interesse pelos negócios dos parentes próximos.

Ginsborg tem um igual olhar crítico dos noticiários televisivos, dada a similitude estrutural nos vários canais: entra Berlusconi no noticiário, depois a oposição a Berlusconi dá a sua perspectiva, volta este com a sua opinião, naquilo a que na gíria televisiva se chama de sanduíche, vêem depois as notícias do dia, mais a Ferrari ou o futebol. E, depois, surgem anúncios de automóveis: "É incrível, tendo em conta que nas estradas já não entram mais automóveis".

E, acerca dos alunos italianos, afirma o seguinte:

  • São brilhantes e, sobretudo, muito apaixonados. É verdade que não estão tão bem formados como os de Cambridge [universidade onde Ginsborg leccionara antes], mas têm muita vontade de aprender. Os 15% dos meus melhores alunos em Florença são tão bons como os de Cambridge. [...] Isso deve-se a que aqui em Itália [...] a educação média é muito boa, tradicional mas de muito boa qualidade. Os jovens estudam Filosofia, lêem Kant quando têm 17 anos, e isso é algo que não ocorre na Grã-Bretanha.

Na leitura, associei logo Portugal, pois existem algumas semelhanças. E quero que também a análise aos estudantes se aproxime.

Paul Ginsborg publicou recentemente no mercado espanhol o livro Silvio Berlusconi: televisón, poder y patrimonio, com a chancela da editorial Foca.

sexta-feira, 19 de maio de 2006

SEMINÁRIO DE COMUNICAÇÃO E POLÍTICA A 1 DE JUNHO

O Grupo de Trabalho de Comunicação e Política da SOPCOM - que visa a criação de um espaço de encontro interdisciplinar entre as várias áreas que se debruçam sobre os fenómenos da comunicação e da política - e o Instituto Superior e Ciências Políticas organizam o seminário Comunicação e Política, a decorrer nas instalações do último, na rua Almerindo Lessa, ao Alto da Ajuda, em Lisboa, a 1 de Junho, com começo marcado para as 10:30 e prolongando-se pelo dia todo [para ver mais ampliado o cartaz, clicar aqui].



O seminário divide-se em três painéis: comunicação e política; comunicação e processos eleitorais; media, persuasão política e opinião pública. As comunicações estão a cargo de João Pissarra Esteves, Gil Baptista Ferreira, João Carlos Correia (organizador por parte da SOPCOM), António Marques Bessa, Estrela Serrano, Susana Salgado, Pedro Magalhães/Diogo Moreira, Manuel Meirinho Martins, Joel da Silveira, Paula Espírito Santo, Isabel Salema Morgado e João Bettencourt da Câmara.

Para saber mais pormenores, telefonar para 213619430.
PORTUGAL ORGANIZA CONFERÊNCIA MUNDIAL NA ÁREA DOS MEDIA EM 2008

A 8ª Conferência Mundial de Economia dos Media vai realizar-se em Portugal, de 21 a 24 de Maio de 2008, em Lisboa e Porto.

Tal foi decidido na sequência da 7ª conferência, subordinada ao tema Globalização, media e diversidade, que decorreu em Pequim (China), até ontem. O evento, organizado pelo Journal of Media Economics, reúne, de dois em dois anos, investigadores, docentes e consultores na área da economia, gestão e política dos media de todo o mundo.

Paulo Faustino, que, em representação da Universidade Autónoma de Lisboa, apresentou a comunicação Media concentration – new trends in portuguese newspaper market, foi o proponente. A candidatura portuguesa saiu vencedora tendo tido como concorrentes países como a Grécia e Suiça. O empresário e docente contou com o apoio de instituições nacionais, caso do ministro dos Assuntos Parlamentares, e das associações do sector (Confederação de Meios de Comunicação Social, Associação Portuguesa de Radiodifusão e Associação Portuguesa de Imprensa).


Anúncio publicado no Diário de Notícias de hoje (p. 41).

O assunto - Impacto do alargamento da União Europeia na indústria de media em Portugal - já foi aqui tratado, no dia 12, apontando para o blogue EUmedia.

SEMINÁRIO DE INVESTIGAÇÃO EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO DA UCP

  • Realiza-se, no dia 25 (próxima quinta-feira), o 9º seminário do Ciclo de Seminários de Investigação em Ciências da Comunicação (CSI2) da Universidade Católica (Lisboa).

    Convidada: Isabel Gil, directora da Faculdade de Ciências Humanas da UCP. Tema: "Territórios Fluídos: Notas sobre o Modelo Cartográfico nos Estudos Culturais".

    A sessão terá lugar pelas 18:30 horas, na sala dos Descobrimentos Portugueses (edifício da Biblioteca João Paulo II).
  • desnorte

    Um blogue de autoria de HVA, sério e a seguir com atenção. Concertos, música clássica e lugares são algumas das rubricas fixas. Saliento a mensagem do dia
    12 deste mês, sobre Aveiro, uma das mais bonitas cidades do país (eu vivi lá meio ano, e gostei muito).

TEATRO RADIOFÓNICO E TELEVISÃO (III)

[continuação das mensagens de 13 e 18 deste mês]

No livro Produções Fictícias. 13 anos de insucessos, Inês Fonseca Santos traça o percurso de vida da produtora de humor (e de outros géneros), desde o começo de actividades até ao começo deste ano. Não constitui um texto de reflexão sobre a criação e produção nas indústrias culturais, caso da televisão, mas sim um trabalho descritivo dos projectos abraçados por um grupo de criativos reunidos empresarialmente.

Ao longo das 347 páginas, emerge a figura de Nuno Artur Silva, antigo professor de Português no ensino secundário (Olaias, Lisboa). Antes de ser conhecido nos media, ele mandava textos de humor para a televisão, repetidamente ignorados. Estando a organizar recitais de poesia, música e fragmentos de textos no Jardim Botânico, dois actores abordam-no e, sabendo dos textos do jovem professor (através de José Nuno Martins), pedem-lhe para escrever para um novo programa televisivo (de Joaquim Letria).

Depois, nasceria o Produções Fictícias Apresentam, nome de uma produtora ainda sem existência legal e que criava conteúdos para televisão, parodiando os géneros existentes na televisão. Conjuntamente com Rui Cardoso Martins, Miguel Viterbo e José de Pina - além de Nuno Artur Silva -, os pioneiros de uma aventura que mal começava a despontar. Seguiram-se as colaborações com Herman José (Parabéns, Herman 98, Herman 99, Herman SIC). O livro, aliás, elucida-nos bem acerca da importância de Herman José no arranque e consolidação da produtora de humor, até pelo espaço dedicado às participações nos programas desse homem de televisão.

Os associados das Produções Fictícias (PF) viriam entrar um novo e valioso elemento: Nuno Markl, que tinha uma rubrica no programa na rádio Prok Der e Vier, as aventuras de Abílio Mortaça, vendedor de enciclopédias.

Por volta de 1995, nascia a estrutura jurídica Produções Fictícias, com dois sócios: Carlos Fogaça e Nuno Artur Silva. Os restantes pioneiros do grupo, e outros que se haviam acrescentado, formavam os associados, ocupados apenas com a parte criativa e deixando as questões burocráticas para os dois sócios. Arranjaram um espaço para trabalhar, na travessa da Fábrica de Pentes, 27, às Amoreiras (Lisboa). O Contra-Informação ia de vento em popa e trabalhava-se o Herman Enciclopédia, com as PF nomeadas em 1997 para os Globos de Ouro da SIC e revista Caras. O nome Contra-Informação seria dado por Joaquim Furtado, então director-geral da RTP, que também o "colou" ao horário do principal telejornal da RTP.

Outra aventura com sucesso tem sido o Inimigo Público, suplemento do Público às sextas-feiras e dirigido por Luís Pedro Nunes. Para este, citado no livro, o suplemento nada tem a ver com o jornal, dada a diferença de cânones entre os dois. O director do suplemento destaca mesmo a falta de total sentido de humor do director do jornal (p. 173). A par do programa diário de televisão Contra-Informação, as colaborações no Inimigo Público são as que dão mais prazer aos membros das Produções Fictícias (O Procurador seria o primeiro nome do suplemento humorístico). Mais recentemente, o Público traz um suplemento dominical, o Kulto, orientado para leitores mais jovens e saído da fábrica de Nuno Artur Silva.

Associados às Produções Fictícias, estão os sucessos de O Homem Que Mordeu o Cão, de Nuno Markl, na rádio, e o Gato Fedorento, de Ricardo Araújo Pereira, Tiago Dores, Miguel Góis e José Diogo Quintela, um blogue. Deste, os humoristas saltaram do meio de origem e tornaram-no em programa de televisão, livros e DVDs, numa prova de interligação e sinergias entre várias indústrias culturais. Refira-se que, apesar da associação às Produções Fictícias, nenhuma destas produções leva o seu selo, embora seja a entidade que os agencia e produz.

Nos anos mais recentes, a equipa das Produções Fictícias tem-se voltado para outros géneros além do humor. O livro destaca também alguns dos insucessos da produtora tais como Não És Homem Não és Nada, O Programa da Maria e Paraíso Filmes.

Elementos suplementares: desde há pouco tempo, antes do noticiário das oito da manhã da Antena 1, o humor das PF sucedeu ao infeliz programa da Palmilha Dentada. E, além de um filme em acabamento, as PF criaram uma nova linha de programas, como refere a newsletter de hoje da Meios & Publicidade: "Sob o nome PF/Business, a nova área de negócio das Produções Fictícias destina-se «a empresas, gabinetes de comunicação, elementos dos Conselhos de Administração e a todos os que compreendem a necessidade de comunicar de forma inteligente, actual e apelativa com os seus interlocutores profissionais»".

Leitura: Inês Fonseca Santos (2006). Produções Fictícias. 13 anos de insucessos. Lisboa: Oficina do Livro

quinta-feira, 18 de maio de 2006

NOVO SEMANÁRIO PARA COIMBRA


  • Coimbra vai ter um novo jornal, o novojornal, com tiragem prevista de 30 mil exemplares, segundo comunicado de Fernando Moura, indicado como director da nova publicação. Moura tem 39 anos, é profissional com 20 anos de experiência nas áreas da comunicação social e da publicidade. O número zero será distribuído gratuitamente no dia 29 de Junho.

    O novojornal quer apostar "no jornalismo de proximidade e na colaboração permanente do «jornalista–cidadão». As páginas de opinião vão contar com a colaboração regular de um conjunto de protagonistas que prometem «dar que falar». A reportagem e a investigação são uma das prioridades". O jornal a lançar "quer aproveitar todas as potencialidades das novas tecnologias, posicionando-se como marca multimedia. A publicação vai adoptar um formato útil e popular, directo ao que interessa e que responda a (quase) todas as expectativas de um consumidor proactivo".

    Editada pela Sociedade Aberta, a publicação vai praticar um preço de capa de 50 cêntimos, apostando em quatro diferentes plataformas de distribuição, incluindo a venda em banca e por assinatura.

    Para saber mais do jornal, contactar o correio electrónico:
    novojornal@gmail.com.
  • ECRÃS EM MUDANÇA - LIVRO A LANÇAR

    No dia 6 de Junho, às 18:30, na Feira do Livro (Lisboa), vai ser lançado o livro organizado por José Carlos Abrantes, Ecrãs em mudança, editado por Livros Horizonte/CIMJ. A obra terá apresentação de José Manuel Paquete de Oliveira (provedor da RTP), Tânia Morais Soares (investigadora do ISCTE) e Maria Emília Brederode Santos (directora da revista Noesis).

    O livro Ecrãs em mudança reúne contribuições sobre as relações da televisão e da internet com os seus públicos, em especial os jovens. Segundo o organizador, "A interacção entre os públicos e tais tecnologias faz-se, sobretudo, a partir dos ecrãs, face aos quais nos entregamos, quotidianamente, mais ou menos tempo, na nossa actividade profissional e de lazer. Tais ecrãs estão em mudança pois, quer uns quer outros, sofrem transformações constantes nos conteúdos, nos dispositivos, nos públicos, nas tecnologias que os fazem estar presentes nas sociedades modernas. Este livro dá uma contribuição para entender melhor as relações entre os ecrãs e os públicos, facto maior das sociedades contemporâneas".

    Na obra, há textos de Jacques Piette (Universidade de Sherbrooke), Dominique Pasquier (École des Hautes Études en Sciences Sociales), Jacques Gonnet (Université de Paris III), Eduardo Marçal Grilo (Fundação Calouste Gulbenkian), Serge Tisseron (Université Paris VII) e Geneviève Guicheney (France Télévision).

TEATRO RADIOFÓNICO E TELEVISÃO (II)

[continuação da mensagem de 13 deste mês]

O teatro radiofónico, segundo Eduardo Street

O livro de Eduardo Street (O teatro invisível. História do teatro radiofónico, com 222 páginas e editado pela Página 4) começa com os programas infantis e os amadores da rádio, nos anos 1930. E nomeia Armando Neves (1899-1944), colaborador da há muito desaparecida Rádio Luso, como o pai do teatro invisível ou teatro radiofónico. Será, contudo, na Emissora Nacional, no seu ano experimental (1934), que o teatro radiofónico se consolida. A primeira transmissão coube à peça de Júlio Dantas, A ceia dos cardeais. Samuel Dinis seria um dos intérpretes, marcando o começo de uma carreira muito ligada ao teatro na rádio. Já em 1936 seria transmitida a primeira peça escrita para a rádio: Bodas de Lia, de Pedroso Rodrigues.

Em 1938, surgia Virgínia Vitorino (1898-1967) (do grupo de Fernanda Castro, que era mulher de António Ferro, presidente do Secretariado de Propaganda Nacional e da Emissora Nacional, a partir de finais da década de 1930). Membro do Conselho Permanente de Programas, Virgínia Vitorino foi fundamental para a transmissão regular de teatro radiofónico (como autora e intérprete sob o nome de Maria João do Vale). Outra figura importante no arranque do teatro radiofónico seria Maria Madalena Patacho (1903-1993), autora de programas como Meia hora de recreio para crianças. Alice Ogando (1900-1981) e Odete Saint-Maurice (1918-1993) seriam duas das principais figuras na organização de programas de teatro radiofónico, havendo mesmo uma competição entre as duas para conseguirem séries mais longas de episódios. Outras ainda seriam Ema Paul e Judite Navarro (1918-1987).

Ao longo de 70 anos de teatro radiofónico, e num total de 237 folhetins, Alice Ogando foi a campeã da adaptação de romances a folhetins (28), seguindo-se Odete Saint Maurice (24), Judite Navarro (18), Ema Paul e Botelho da Silva (17) e Álvaro Martins Lopes (13). Dos autores representados, Camilo Castelo Branco vem à frente (11 títulos), acompanhando-o Alexandre Dumas (8), Walter Scott e Charles Dickens (6 cada um) e Júlio Dinis (5). Pelos autores, consegue-se perceber quais as estéticas políticas preferidas. Os folhetins de autores portugueses representam 51,5%.

No mapa das figuras pioneiras, destaque ainda para Olavo d'Eça Leal (1908-1976), poeta, dramaturgo, locutor e escritor de teatro, que criou a personagem Octávio Mendes (Mendes), que o acompanhou em trinta anos de diálogos. E Jorge Alves (1914-1976), que começara no Rádio Clube Português e fora para os Estados Unidos aprender a técnica de montagem - ou sonorização ou realização radiofónica. Com Jorge Alves nasceram os primeiros folhetins e os indicativos de cada programa, que alertavam os ouvintes para a sua transmissão. Assim como Álvaro Benamor (1908-1976), o responsável pelo programa Teatro das Comédias, que se prolongaria de 1952 a 1974.

No livro são evocadas outras vedetas - as vozes da rádio, de que se destaca a primeira locutora da Emissora Nacional, Maria de Resende, a qual ainda escreveu versos e contos para crianças e era muito popular entre os portugueses residentes no estrangeiro. Mas há muitas outras vozes lembradas no livro, tais como Manuel Lereno (1914-1976, que morreu amargurado pelo afastamento ditado pela mudança de regime político em 1974), Carmen Dolores (1924), Rui de Carvalho (1927), Eunice Muñoz (1928) ou Canto e Castro (1930-2005).

Eduardo Street apresenta algumas balizas na evolução do teatro radiofónico. Inicialmente, esse tipo de programa combinava canção e diálogo humorístico. A separação ocorre em 1942. Nessa época, surge o Domingo Sonoro, programa idealizado por Ferro, onde se combinam diálogos de Olavo, Francisco Mata (1915-1983) ou Costa Ferreira, entre outros. Diálogos do Zequinha e da Lélé, com Vasco Santana e Irene Velez, iniciavam-se em 1947, escritos por Aníbal Nazaré, e tornaram-se os mais famosos diálogos da rádio. O início da perda de protagonismo da rádio seria 1965, quando o auditório das grandes cidades troca o meio sonoro pela televisão. Nessa altura, gravava-se ainda um número impressionante de folhetins, à volta de 13 por ano, como aconteceu em 1965. 1974 ditou o fim de um ciclo de teatro radiofónico, retomado em 1997 na Antena 2, com o título de Teatro Imaginário, dirigido por Eduardo Street, e que apresentou 43 peças até 2002.

Uma referência obrigatória a esta história da rádio é a dedicada à publicidade. Segundo o autor, esta, a partir dos anos 1950, cercava os noticiários ou confundia-se com o sinal horário. A relação com o teatro radiofónico é a entoação da voz (suavidade, dramatismo) para apresentar o produto publicitado. A publicidade também seria responsável pelo patrocínio de muitas novelas, a primeira das quais teve como intérprete José Mensurado, mais tarde jornalista da televisão.

Leitura: Eduardo Street (2006). O teatro invisível. História do teatro radiofónico. Lisboa: Página 4.

quarta-feira, 17 de maio de 2006

COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL

Recordo-me da APCE (Associação Portuguesa de Comunicação Empresarial) desde o começo, em finais dos anos de 1980. Ou mesmo ainda antes da sua formalização, em encontros nacionais e internacionais.

A revista Comunicação Empresarial, editada pela APCE, vai já no 11º ano de aventura. Durante muito tempo, ela foi dirigida por Vítor Baltasar, cujo perfil de líder eu aprecio. Aliás, com ele eu aprendi muito na área da comunicação.

O número agora editado, o 30º, é uma espécie de voltar ao nuclear da publicação: a comunicação interna. Nele se encontram resumos de dois estudos sobre a matéria, as realidades nacional e europeia. Vale a pena ler, embora os gráficos melhorassem se houvesse dados percentuais ou absolutos a acompanharem-nos. E também merece leitura atenta a descrição do encontro APCE 2005.

A direcção da APCE pertence a Graça Ferreira e, para se saber mais da associação, contactar os telefones: 213472437 ou 213251512; a revista não menciona qualquer email.

GRAFFITI NA CIDADE DE SÃO PAULO

Retiro da recente newsletter ArteCidadania, a seguinte informação:

O graffiti na cidade de São Paulo e sua vertente no Brasil: estéticas e estilos

  • Livro editado por pesquisadores artistas e grafiteiros apresenta a história do graffiti paulistano e traça um panorama atual da linguagem artística das ruas. O recém lançado livro O graffiti na cidade de São Paulo e sua vertente no Brasil: estéticas e estilos reúne textos de profissionais de diferentes áreas, entrevistas, relatos de experiências e apresentação de trabalhos de 60 artistas grafiteiros de representatividade no cenário nacional. Relata a história do graffiti desde seu início, em 1980, até os dias atuais. Sérgio Poato, editor e autor, em parceria com Maria de Lourdes Beldi de Alcântara, do Laboratório do Imaginário e Memória do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo - LABI/USP; publicam esta obra, parte integrante da coleção “Imaginário” , como forma de propagar e difundir o conhecimento em relação à diversidade cultural brasileira, junto ao público em geral. Trata-se de um importante registro entre o graffiti e o movimento hip hop em nossa cultura.

    Segundo Charbelly Estrella – uma das autoras do livro e mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) –, a singularidade dessa produção que vem transformando São Paulo na cidade mais grafitada do mundo, está no fato de que o graffiti conjuga um tempo diferente de produção. Esse tempo diferente é a metáfora da crítica à indiferença promovida pela “arquitetura-shoppingcenter”. Essa operação só é possível pelo fato de que o graffiti convoca em sua produção a preocupação com o lado estético, poético. É nesse cenário árido e, ao mesmo tempo, profícuo que o graffiti vem apostando em novas técnicas, novas modalidades e uma experimentação fervorosa de seus espaços, cujos acessos são restritos às contra-racionalidades cotidianas. É nesse cenário, que promove o encontro entre gigantes e “banais”.
HOJE HÁ TERTÚLIA DE BLOGUES

Em mais uma organização de José Carlos Abrantes e a livraria Almedina, ao Saldanha (Lisboa), pelas 19:00. Tema em debate hoje: blogues e jornalismo.

Apareça.

SER FÃ DOS CLÃ

"É o caos, é o caos, é a mutação/Voltar atrás, pisar, dar um passo em frente/Manipular os olhos doutra geração/Terá que ser, vai ter que ser, é a evolução/Pois é, não é" [começo da lírica de Carlos Tê e Hélder Gonçalves para música de Hélder Gonçalves, um êxito da banda musical Clã].

A banda encontrou-se em 1992, tendo o Porto como epicentro. Seis músicos com destinos anteriores bem distintos, alguns deles em torno de Hélder Gonçalves, antigo professor de música de jazz. Em 1996, editavam o primeiro disco Lusoqualquercoisa, pela EMI. Pois é e Nova Babilónias passaram nas rádios nacionais, projectando longe o nome da banda. Carlos Tê, letrista de muitas das canções de Rui Veloso, também participou neste álbum.

Em 1998, quando o grupo concebia o segundo disco, Kazoo, Manuela Azevedo, a vocalista, era convidada a participar num espectáculo da Expo 98, o Afinidades. A banda foi e levou Sérgio Godinho. Depois da Expo, o concerto teve vida posterior em palco e em disco.

Lustro, o terceiro disco da banda (2000), seria o da mediatização completa da banda. Já mais perto de nós, em 2004, saía Rosa Carne.

Leitura: Curioso Clã, com introdução de Nuno Galopim (2006). Lisboa: Relógio d'Água. 125 páginas, €14. Parte do livro contém as líricas das músicas dos discos.

terça-feira, 16 de maio de 2006

PRIME TIME

Prime time é um título sugestivo, com um igualmente apelativo subtítulo: Do que falam as notícias dos telejornais. Depois, tem um prefácio de Francisco Pinto Balsemão. E o lançamento do livro contou com o ministro Augusto Santos Silva, com a administração da RTP e com apresentação de Fernando Madrinha, um dos mais conhecidos e prestigiados jornalistas do Expresso.

Claro, estou a escrever sobre o livro de Nuno Goulart Brandão, editado com a etiqueta Casa das Letras, poucos meses após doutoramento que o autor defendeu no ISCTE (e aqui referido) e quatro anos depois da edição do seu texto de mestrado (O espectáculo das notícias, Editorial Notícias).




Retiramos do livro o seguinte: "A televisão está cada vez mais rendida ao modo espectacular e dramático, reduzindo a vida quotidiana principalmente ao signo do consumo, da sedução, do desejo e de uma forte necessidade de procura de gratificação. Tudo é apresentado numa lógica de mercado como consumível e acessível, afastando progressivamente os seus telespectadores de uma visão de cidadãos e reduzindo-os decisivamente ao posicionamento de meros consumidores" (p. 16).




[estas duas últimas imagens foram cedidas gentilmente por Inácio Beirão]
THE INDEPENDENT E A SIDA

Não comprei a edição em papel do Independent de hoje, porque a não vi na banca dos jornais estrangeiros no quiosque da avenida de Roma. Mas sabia - e ouvi manhã cedo - que o director, por um dia, do jornal foi Bono Vox, líder da banda musical U2. Analisa ele no seu editorial uma doença recente, a sida - as primeiras notícias surgiram em 1981. Enquanto testemunha, Bono diz o que pode fazer - e o que se exige aos outros que façam, nomeadamente os políticos do primeiro mundo. Escreve ele: "a África perde mensalmente cento e cinquenta mil homens, mulheres e crianças devido à sida, uma doença que se pode evitar através de tratamentos preventivos".

Remédios, água, ligações entre aldeias (em especial na África), de modo a atender às necessidades de apoio, consciencialização, escoamento dos produtos locais - são outras possibilidades para reduzir o impacto nas economias deste continente.

O Hoje não há notícias - que preenche o total da primeira página - é, afinal o oposto: há muitas notícias. E os artigos sobre a sida são prova disso. Mas também os acontecimentos trágicos que estão a ocorrer em São Paulo, Brasil, também aparecem nesta edição especial.

segunda-feira, 15 de maio de 2006

  • 30 MULHERES +

    30 mulheres + é um projecto da Edeline. Trinta jovens na faixa dos vinte anos escreveram sobre 30 mulheres portuguesas. Agustina Bessa Luís, Ana Salazar, Beatriz Pacheco Pereira, Cândida Pinto, Catarina Furtado, Eunice Muñoz, Joana Carneiro, Leonor Beleza, Manuela Ferreira Leite, Marisa Cruz, Mariza, Odete Santos, Paula Rego, Rosa Mota, Teresa Ricou e Teresa Salgueiro são muitas dessas mulheres.

    O livro custa €15 e os direitos de autor revertem para a Associação Portuguesa de Apoio à Mulher com Cancro de Mama (APAMCM). Para saber mais pormenores:
    edelinereporters@mail.telepac.pt ou telefones 213903169/70.

RUA DE BAIXO, A NEWSLETTER COM DOIS ANOS E MEIO

Foi em Novembro de 2003 que saíu a primeira edição da Rua de Baixo em formato online. Hoje continuam com os mesmos objectivos: criar um espaço alternativo de divulgação cultural e lifestyle, simples e directo, facilmente "absorvido" pelo leitor. O primeiro grande tema da newsletter de Maio é o Festróia, festival de cinema de Setúbal, numa entrevista com Mário Ventura, presidente do festival, feita por Pedro Soares.

Mas há muitas mais notícias na newsletter.

NOVO PROGRAMA DE INFORMAÇÃO CULTURAL

  • Câmara Clara é o novo magazine de informação cultural do canal televisivo público 2:, às sextas-feiras, a seguir ao noticiário (22:30). Tem apresentação de Paula Moura Pinheiro, com João MacDonald, até agora editor da agenda cultural de Lisboa, a coordenar e co-editar o projecto.

    O programa semanal e com uma hora de duração inicia-se a 26 de Maio e assume-se como convite à partilha dos "prazeres dos livros, dos filmes, das artes visuais e dos espectáculos". Procurará acompanhar a "actualidade cultural, os seus actores e protagonistas, os acontecimentos e os projectos" artísticos e culturais que marcam o panorama nacional [informação obtida a partir da newsletter
    Meios & Publicidade de hoje].
VIDEOLAB COIMBRA 2006

Mais de 100 filmes, vindos de 40 países, vão ser exibidos no Videolab Coimbra 2006, mostra das novas tendências do filme em vídeo (Coimbra).

Segundo a organização, algumas exibições serão oportunidades únicas de ver, no país, pequenas obras-primas realizadas em vídeo. A sessão de abertura, a ocorrer no Jardim Botânico de Coimbra, na noite de 1 para 2 de Junho, apresenta Emina, de Jurinko Rajiè (Bósnia-Herzegovina), e Dies irae, filme de animação do francês Jean-Gabriel Périot. Ainda na mesma sessão de abertura, e perfazendo um tempo de projecção estimado em 64 minutos, ver-se-ão An icecream girl in the end of summer, de Jazuo Kono (Japão), Facechasers, de Gabriel Judet-Weinshel (EUA), Aeon, de Richard Sidey (Nova Zelândia), Bouquet Final, de Zahra Poonawala (França), e Dawn of the Pixies, de Tara Wells (Canadá).

Trata-se já da terceira edição, com a presença de todo o tipo de filmes, dos mais convencionais aos mais experimentais - ficção, animação, drama, comédia, documentário, experimentação, videoarte, videodança. O programa inclui ainda instalações, concertos, dança, artes plásticas e sessões de reflexão e debate sobre a imagem. As iniciativas repartem-se por vários locais de Coimbra como o Teatro Académico de Gil Vicente, Pavilhão Centro de Portugal, O Teatrão - Museu dos Transportes, Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, Galeria Santa Clara, Livraria XM, FNAC e Museu Nacional da Ciência e Técnica Dr. Mário Silva.

Para mais informações, visitar o sítio: Videolab Coimbra 2006.