Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007
CONFERÊNCIA SOBRE GUILHERMINA SUGGIA
Realiza-se, no Teatro Nacional de S. Carlos (foyer), no próximo dia 12, pelas 18:30, uma conferência sobre a vida e obra da violoncelista portuguesa Guilhermina Suggia (1885-1950), numa organização conjunta da Antena 2 e da Associação Guilhermina Suggia.
São conferencistas: Anita Mercier (professora da Juilliard School de Nova Iorque) [está a escrever uma biografia sobre Guilhermina Suggia - Guilhermina Suggia: the life of a cellist -, a editar em Londres por Ashgate Publishing em 2008] e Isabel Millet (escritora e filha da aluna e testamentária de Guilhermina Suggia, Isabel Cerqueira) [a escrever uma trilogia sobre Guilhermina Suggia].
Como participação musical ao vivo, Paulo Gaio Lima, violoncelista (aluno de Madalena Sá Costa, por sua vez aluna de Suggia) e vencedor do Prémio Suggia no Porto em 1979.
Para conhecer mais de perto a história da violoncelista, consultar o blogue Guilhermina Suggia, de Virgílio Marques e Catarina Campos [sítio de onde retirei a imagem].
MÚSICA NA SOCIEDADE DE INSTRUÇÃO GUILHERME COSSOUL
PINTURA E ESCULTURA MEDIEVAL DE VARSÓVIA
O Brilho das Imagens. Pintura e Escultura do Museu Nacional de Varsóvia (séculos XII-XVI), patente no MNAA (Museu Nacional de Arte Antiga), de 1 de Março a 17 de Junho, será certamente mais uma exposição de grande interesse, procura e sucesso.
Da informação que acompanha a divulgação da exposição, destaco o seguinte:
- Os retábulos de altar e as imagens devocionais (pinturas, esculturas e relevos) que esta exposição apresenta foram seleccionados da colecção de arte medieval do Museu Nacional de Varsóvia.
A selecção de peças é bem demonstrativa da evolução das principais expressões criativas e das declinações formais da arte gótica num vasto espaço territorial centro-europeu, surpreendendo não só pela escala e magnificência visual de muitas das imagens, como também pela complexidade dos seus referentes plásticos face a modelos e centros polarizadores (Itália e Flandres) da arte ocidental europeia durante a Baixa Idade Média.
ALPHARRABIO SEGUNDO CONSTANÇA LUCAS
As imagens seguintes pertencem a Constança de Almeida Lucas, portuguesa a residir há longo tempo no Brasil (S. Paulo).
Trata-se de Ensaio Fotográfico que ela fez sobre o Alpharrabio, espaço de Dalila Agrela Teles Veras, ida da Madeira com dez anos para o Brasil, mas sem nunca perder o interesse pela cultura Portuguesa. Além de livraria, o Alpharrabio é um centro cultural activo, com eventos musicais, exposições de artes visuais e teatro.
terça-feira, 27 de fevereiro de 2007
CULTURA DE CONVERGÊNCIA
Num livro editado o ano passado - e ao qual espero voltar -, Henry Jenkins traça a história das artes nos Estados Unidos nos últimos séculos.
Assim, no século XIX, houve a mistura e a fusão entre tradições de folclore com as populações indígenas e imigrantes. A produção cultural ocorria basicamente ao nível das raízes (grupos locais); as capacidades criativas e as tradições artísticas passavam de pais para filhos. Histórias e canções circulavam sem ultrapassar espaços geográficos limitados ou ter qualquer expectativa de recompensa económica.
Já no século XX, a cultura popular é quase toda dissolvida nos meios de comunicação de massa. A indústria emergente do entretenimento faz o seu desenvolvimento graças à cultura folclórica, avaliando as potencialidades dos cantores e músicos locais para entrarem nas indústrias cinematográfica e fonográfica. A evolução destas indústrias exigiria a aquisição de investimentos elevados e a procura de audiências de massa. A indústria de entretenimento comercial alcança padrões de perfeição técnica. Nasce a distinção entre cultura de massa (categoria de produção) e cultura popular (categoria de consumo).
Quanto ao século XIX, a história das artes nos Estados Unidos passa pela reemergência da criatividade das raízes (grupos locais) com as pessoas (os indivíduos) a apropriarem-se das novas tecnologias, desenvolvendo competências na recolha, apropriação e circulação de conteúdos dos media. Esta época, que começou certamente com a fotocopiadora e o computador, teve antecedentes: a videocassete. E consequentes, que terminam na internet. O trabalho de amadores - mesmo que a maioria seja má - permite a circulação de ideias e projectos. O cinema digital talvez seja o último passo, neste momento.
Leitura: Henry Jenkins (2006). Convergence culture. Where old and new media collide. Nova Iorque e Londres: New York University Press, pp. 135-137
FIM DA COLUNA DE PIRES AURÉLIO NO DIÁRIO DE NOTÍCIAS
Pires Aurélio, que sai por razões pessoais, dedica a última coluna às mudanças na imprensa, já chamada de "quarto poder" mas que entrou, segundo ele, em declínio irreversível.
Esperemos que não.
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007
CULTURA DE MASSAS EM PORTUGAL NO SÉCULO XX
Tem lugar amanhã, dia 27, uma nova sessão do Seminário de Investigação Cultura de Massas em Portugal no Século XX.
Assim, Madalena Soares dos Reis apresentará RTP: «Uma televisão ao serviço do povo».
Como de costume, o seminário tem lugar às 18:00, na sala de reuniões do 7º piso da torre B da FCSH/UNL (Universidade Nova de Lisboa, à avenida de Berna).
O blogueiro deseja sucesso à jovem autora da comunicação, dado não poder estar presente (razões profissionais).
HERMAN
No geral, há personagens que podem crescer, não direi no sentido de figuras de antologia como Herman nos habituou em anos recuados mas dentro de uma linha de humor bem conseguido. Partindo do conceito da redacção de um meio de comunicação, há o uso de clichés do que se costuma considerar como funcionando no interior desse meio. Primeiro as profissões: o jornalista ingénuo, o cameraman de penteado pós-moderno, a telefonista (que pode aceder a todas as tricas, embora esta seja esquisita). E espaços: a sala de reuniões, o local de reportagem de exterior. Não contei as personagens mas parece-me em número exagerado. Quase não há tempo para as entender. Ou então a minha leitura foi demasiado apressada.
Espero voltar a ver o programa para a semana, para formular uma opinião mais profunda.
Uma coisa é óbvia. A SIC deveria ser multada pela ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social) pela alteração do horário. Não se compreende que um programa marcado para uma determinada hora comece mais de 30 minutos depois!
CLINT EASTWOOD
Confesso que gostava mais do filme (duplo) de Clint Eastwood do que o de Martin Scorsese, mas foi este que ganhou os óscares da última madrugada (também Scorsese perdeu para Eastwood em 2005).
Fica a notável entrevista concedida por Eastwood a Philip French, no Observer de ontem (pág. 6 a 8 do segundo caderno). Quando French lhe pergunta o porquê do nome "Pais" no título do filme, Eastwood lembra a sua meninice (e juventude), altura em que se interrogava como seriam os militares saídos da Segunda Guerra Mundial. O pai dele não fora militar, mas muitos americanos tinham participado nela. Os Estados Unidos, poucos anos antes saídos da Grande Depressão (1929), sentiam-se fortes e a sua participação na guerra juntaria jovens valentes oriundos de cidades e campos.
Sobre Cartas de Iwo Jima, Eastwood conta que reuniu com o governador de Tóquio, que tem a jurisdição da ilha, o qual deu assentimento para as filmagens. Foi nessa altura que o realizador pensou: como defenderiam os japoneses aquela ilha? Como seriam os jovens para ali destacados (e mortos)? Eastwood começaria a ler dados sobre o general Kuribayashi (o comandante de Iwo Jima) e o Barão Nishi (comandante dos tanques). Eram pessoas que tinham vivido nos Estados Unidos e que tinham ali deixado amigos. Com algumas alterações políticas, talvez tivessem mantido as amizades. A queda do Japão marcaria o fim de uma era, o fim de uma mentalidade, e que é exemplo o harakiri de vários soldados nipónicos aquando da percepção da derrota.
Clint Eastwood nasceu em Maio de 1930, filho de um operário da indústria petrolífera que demandou a Califórnia durante a Grande Depressão. Eastwood teve várias profissões e a sua passagem na universidade foi atravessada pelo serviço militar. A sorte estaria do seu lado quando entra na série televisiva Rawhide, um western. A sorte voltou a sorrir-lhe quando trabalhou com Sérgio Leone, o realizador italiano que procurava um actor barato para os seus filmes. Estava-se em 1964 quando Eastwood entrou no primeiro "spaghetti western", Por um punhado de dólares. Aos 76 anos, Eastwood atinge um novo pico, com Flags of our Fathers e Letters from Iwo Joma.
Do mesmo modo que usou linguagem gestual com Leone, que não falava inglês, Eastwood serviu-se de tradutores para conduzir o filme Cartas de Iwo Jima. Ainda por cima, um dialecto falado há mais de 60 anos: na canção em que cantam crianças (no final do assalto americano e quando os nipónicos se apercebem que a derrota estava eminente), aquelas crianças estavam a aprender o dialecto. Até aí, só havia a canção que fora emitida pela rádio mas nunca gravada.
DUAS PÁGINAS SOBRE BLOGUES (WEBLOGUES, SEGUNDO O CABEÇALHO DA NOTÍCIA)
Na edição do Diário de Notícias de hoje (textos assinados por Ana Pago e Manuel Ricardo Ferreira). Ana Pago releva a complementaridade da blogosfera e do jornalismo, a mortalidade desses diários, a questão da regulação e a ausência de confronto de ideias, ancorada em blogueiros (bloggers segundo a jornalista) conhecidos como António Granado, José Mário Silva, Pedro Mexia e José Pacheco Pereira.
- A Nielsen afirma que o tráfego dos blogues de notícias aumentou 210% no ano passado, enquanto o dos sites dos jornais aumentou apenas 9% (do texto de Manuel Ricardo Ferreira).
Conclusão: a blogosfera continua activa e a receber atenção dos media clássicos.
domingo, 25 de fevereiro de 2007
O RAPAZ DOS DESENHOS
A peça, de Michael Healey (na imagem), tem versão de João Lourenço e Vera San Payo de Lemos (e dramaturgia desta última). Interpretam-na Luís Alberto (no papel de Mário), Rui Mendes (como Ângelo) e Pedro Granger (como Miguel).
Trata-se de uma peça terna sobre amizade e compreensão. Mário e Ângelo conheciam-se desde crianças, foram juntos para o serviço militar (frente da II Guerra Mundial, na Inglaterra), onde Ângelo foi ferido. De regresso ao Canadá, compraram uma quinta onde permaneceriam isolados, vivendo do trabalho agrícola. Os rituais rotineiros sucederam-se ao longo de anos até que Miguel, um jovem actor em busca de informações para escrever uma peça, introduz uma profunda alteração nessa vida cheia de gestos repetidos. A história que Mário contava a Ângelo acabaria por ser reconstruída.
A sala do Teatro Aberto onde a peça é representada é a mais pequena das duas salas, com uma arquitectura diferente da maior. Tem uma galeria - uma fila em torno da sala -, o que permite uma perspectiva distinta da peça. Ou seja, não se vêem os actores e as cenas de frente mas de cima. Eu vi de lado, ficando com uma memória peculiar desta peça, com uma grande qualidade de interpretação. Sem menosprezar o trabalho dos outros actores, realço o de Rui Mendes, fazendo o papel de um homem já velho, desmemoriado, mas apto a reconciliar-se com o passado se recontado e recontado.
A peça de Healey recolheu inspiração do teatro Passe Muraille (Canadá), que, nos anos 1970, esteve junto de uma comunidade rural à procura de histórias de agricultores para transpor para o palco. As primeiras representações decorreriam mesmo num celeiro, que a peça agora presente no Teatro Aberto também reconstitui.
Retiro do programa do espectáculo (p. 10):
- Da mesma forma que um filme documental entrelaça fragmentos de testemunho cinemático para criar uma história não ficcional, a peça de teatro documental fixa o texto dramático a partir da linguagem gravada em situações da vida real. Entrevistas e transcrições de julgamentos de tribunal, artigos de imprensa escrita e transcrições radiodifundidas, gravações de discursos ao vivo e interrogatórios públicos - todas estas fontes do discurso contemporâneo falado podem ser usadas para criar um texto dramático sobre acontecimentos reais, não imaginários.
sábado, 24 de fevereiro de 2007
O FUTURO DOS JORNAIS
Num dado momento do texto, Pacheco Pereira entende que o jornal electrónico até agora foi mais um jornal de plástico do que um verdadeiro jornal electrónico, o que pressupõe uma evolução entre o papel e o electrónico. Entendo eu que isso significa evolução (ou revolução) no conteúdo e não na forma, pois a forma (electrónica) já lá está. Mas, ao mesmo tempo, o conteúdo já existe: o hipertexto.
Ao mesmo tempo, na coluna de João Miguel Tavares do Diário de Notícias de hoje, o tema é o mesmo. Título: Jornais: espécie em vias de extinção. Em linguagem irónica, aborda três questões: 1) mudanças de directores e estruturas gráficas, 2) aproveitamento de histórias "popularuchas" mas escritas com critérios de qualidade, 3) parasitagem das notícias de jornais pelos noticiários das televisões. Parece-me bem analisado, mas há uma espécie de ressentimento quanto à televisão. Melhor: quanto aos espectadores que deixaram a leitura dos jornais.
Igualmente irónica é a banda desenhada de José Carlos Fernandes no mesmo Diário de Notícias. Pegando numa situação clássica - a venda de castanhas envolvidas em papel de jornal, o cartunista põe na boca da vendedeira das castanhas: "Quentes e boas! E embrulhadas em jornais de prestígio"!
No final: há um repensar contínuo da imprensa nos dias de hoje. Claro que as estórias do Inimigo Público de hoje (espaço de sátira) sobre a imprensa e o Diário de Notícias - sobre o patrão Joaquim Oliveira e os blogues dos jornalistas do jornal - devem ler-se com um sorriso nos lábios. Mas quem escreveu as estórias toca em verdades sem sofisma.
CICLO DE MÚSICA SACRA REGRESSA À BAIXA-CHIADO
Com o apoio do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, decorrem alternadamente na Igreja de Santa Maria Madalena e na Basílica dos Mártires, exceptuando os dois últimos concertos, que se estendem à Igreja da Encarnação e de S. Nicolau.
Segundo a informação disponibilizada pela organização, a música sacra renascentista, especificamente devotada ao período religioso entre a Quaresma e a Páscoa, inclui Palestrina, Tomás Luis de Vitoria ou Orlando di Lasso, Bach e Carlos Seixas. Destaca-se o 250º aniversário da morte do compositor italiano Domenico Scarlatti (1757), com a apresentação da sua obra Stabat Mater, a dez vozes. Nascido no mesmo ano que Bach e Händel, o compositor viveu e trabalhou em Portugal entre 1720 e 1729.
No mesmo ciclo, assinala-se também o 300º aniversário da morte do organista e compositor germano-dinamarquês Dieterich Buxtehude (1707), com a obra Missa Brevis.
ELLIPSE
Trata-se de um antigo armazém (perto de 20 mil metros quadrados), inaugurado em Maio de 2006 para esta nova função, com salas de exposição, local de acervo e serviços. A Fundação Ellipse, que resulta de uma colaboração entre João Oliveira Rendeiro e o Banco Privado Português, acolhe uma colecção dividida em três parcelas: artistas inovadores que trabalham desde os anos 1970, artistas cuja carreira se encontra já estabilizada e artistas emergentes do século XXI. Oliveira Rendeiro começou a coleccionar arte desde os anos 1980, nomeadamente a proveniente de artistas portugueses.
Para saber mais, clicar em www.ellipsefoundation.com.
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
CONTEÚDOS NA INTERNET
Dinis Correia, estudante de Comunicação Social e Cultural da Universidade Católica Portuguesa, está a trabalhar num projecto de aplicação pessoal (aproximado a tese de licenciatura). Nessa actividade, ele desenvolveu um inquérito on-line sobre o panorama dos conteúdos em língua portuguesa na internet. Trata-se de um breve inquérito. Quem quiser responder, clicar em http://diniscorreia.com/conteudospt/.
O estudante aceita respostas ao inquérito até ao dia 26 deste mês.
CONCEITO DE AUDIÊNCIA EM LACEY (2002)
Nick Lacey (2002: 180-185) trabalhou o conceito de audiência de um modo peculiar. Para alguns media, a audiência é evidente em si, caso do número de unidades vendidas de DVDs ou o número de lugares sentados no cinema ou no teatro. Mas no audiovisual não se sabe quantas pessoas estão a ver televisão por cabo ou por satélite ou a ouvir rádio. Assim, o audiovisual teve necessidade de, logo no começo do século XX, saber que audiência existia e onde estava – atendendo à importância da publicidade no financiamento destas actividades e à quantificação das audiências. Se, para serem quantificadas, as audiências precisam de ser medidas, o que levou a dividi-las em subgrupos.
Lacey apresenta várias categorias de audiências: A) classe social ou profissão, B) estilos de vida ou variáveis sócio-gráficas, C) audiência jovem para os publicitários, D) modo como se consomem os media, e E) códigos postais.
Assim, temos:
A) Um dos modos mais simples mas usual é definido pela classe social ou através da sua profissão. Lacey usa os seguintes agrupamentos, não rigorosamente seguidos desta forma nos estudos de marketing: 1) Grupo A – profissionais (advogados, médicos), cientistas, gestores de grandes organizações, 2) Grupo B – donos de lojas, agricultores, professores, empregados de colarinho branco, 3) Grupo C1 – trabalhadores manuais especializados – nível elevado, como construtores, carpinteiros, enfermeiras, 4) Grupo C2 – trabalhadores manuais de nível mais baixo, como electricistas e canalizadores, 5) Grupo D – trabalhadores semi-especializados, como condutores de autocarros, e 6) Grupo E – trabalhadores sem especialização, como porteiros e empregados de mesa.
Na perspectiva dos media, uma forma simples de definir a classe social das audiências pode fazer-se assim: as classes médias incorporam a chamada ABC1 e as classes trabalhadoras a C2DE. É claro que esta é uma forma crua de definir audiências e classe social mas é útil para caracterizar em textos mediáticos. Por exemplo, um jornal de referência aponta para leitores predominantemente ABC1 enquanto os tablóides se dirigem para uma audiência C2DE. Alguns tablóides sinalizam mesmo aos seus leitores quais os canais de televisão que devem ver, dando mais espaço às histórias desses canais. A preponderância da publicidade nos jornais de qualidade explica porque mantêm saúde financeira mesmo que percam circulação face aos tablóides; muito do rendimento vem da publicidade.
A rigidez da classificação ABC1 levou ao aparecimento de novos sistemas nos últimos anos. A classe social também pode ser classificada em termos da sua envolvente: a estrutura da classe média baseia-se no conceito de propriedade privada, em diferenças sociais de estatuto e riqueza, ao passo que a envolvente da classe trabalhadora assenta no conceito de comunidade ou identidade colectiva, falta comum de propriedade e de riqueza. Claro que esta classificação está datada: durante a década de 1980, as tradicionais comunidades de classes trabalhadoras entraram em declínio à medida que desaparecia a indústria pesada associada a elas.
B) Uma melhor forma de definir as audiências é categorizá-las por valores e atitudes em termos de estilos de vida. São as variáveis psico-gráficas, também apresentadas por Lacey (2002). O melhor sistema dentro desta distinção é a conhecida por Atitudes, Valores e Estilos de Vida (AVEV): 1) realizadores (pessoas com sucesso, ricas e dinâmicas, para quem a imagem é importante como expressão da sua individualidade), 2) cumpridores (pessoas maduras e profissionais bem formados, que valorizam a ordem, o conhecimento e as responsabilidades), 3) empreendedores (pessoas com sucesso e com carreiras orientadas, politicamente conservadores e que valorizam o status quo, considerando importante a imagem e tendendo a comprar produtos de prestígio e bem conhecidos), 4) experimentadores (jovens, impulsivos e rebeldes, que gostam de novos produtos e estilos mas que se cansam e procuram outras novidades. Podem gastar muito dinheiro em roupa, fast food, música e filmes), 5) confiantes (pessoas conservadoras que acreditam em instituições tradicionais, como a família e a escola. O seu estilo de vida tende a ser muito rotineiro, com rendimentos pequenos mas suficientes), 6) esforçados (tendem a ser inseguros e com baixos rendimentos. Tentam obter a aprovação dos outros, que possuem bens que eles aspiram embora não disponham de recursos para atingirem os seus objectivos), 7) criadores (entusiastas em si mesmo e tendem a viver uma vida familiar convencional), e 8) lutadores (têm os rendimentos mais baixos mas tendem a ser leais às suas marcas favoritas).
C) Partindo da definição geral do AVEV, pode definir-se uma audiência jovem para os publicitários: 1) adeptos (ambicionam a admiração dos elementos do seu grupo), 2) egoístas (procuram prazer), 3) puritanos (pretendem ser virtuosos), 4) inovadores (querem deixar uma marca), 5) rebeldes (desejam construir o mundo à sua imagem), 6) agrupados (querem ser aceites), 7) molengões (não sabem muito bem o que querem), 8) os que abandonam os estudos (afastam-se de compromissos de qualquer tipo), 9) tradicionalistas (querem que as coisas estejam num sítio certo e determinado), 10) utópicos (querem que o mundo seja um sítio melhor), 11) cínicos (têm sempre uma queixa a fazer), e 12) cowboys (querem dinheiro fácil).
D) Mais recentemente, as pessoas foram classificadas como membros de uma tribo, e ainda segundo Lacey (2002) definidas pelo seu modo característico de consumir os media: 1) consumidores de televisão [couch potatoes] (ficam agarrados a um programa de televisão ou, no máximo, oscilam entre dois canais), 2) especialistas (devotados a um dado tipo de programas, como Quem quer ser milionário ou Friends), 3) viciados em comédias (caracterizam-se por um comportamento algo rude e centram-se em programas de situação [sitcom] e satíricos), e 4) com insónias (vêem televisão muito para além do prime-time).
E) A audiência também se pode definir por códigos postais, caso dos Estados Unidos: 1) área agrícola, 2) zona residencial de família moderna, 3) zona residencial de estatuto intermédio, 4) zona residencial pobre e antiga, 5) arredores com melhor situação, 6) áreas multi-raciais, 7) áreas de estatuto mais elevado, 8) zonas residenciais suburbanas ricas, e 9) zonas residenciais de reformados com melhores condições. Tais variáveis geográficas e demográficas podem ser úteis para a distribuição de bens por nichos.
[Sobre Lacey, pode encontrar mais textos no blogue, aqui, aqui, aqui e aqui].
Leitura: Nick Lacey (2002). Media institutions and audiences. Key concepts in media studies. Hampshire e Nova Iorque: Palgrave
PERCURSOS EM CENTROS HISTÓRICOS
Local de realização: Museu Alberto Sampaio, Guimarães. Início: 6 de Março. E-mail de contacto: formacao@setepes.pt.
Entidade formadora: Setepés, em parceria com Tecminho/Universidade do Minho.
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007
LER IMAGENS
O CD-ROM, trabalho prático no campo da literacia audiovisual ou educação para os media, destina-se a alunos dos 2º e 3º ciclos do ensino básico e do ensino secundário, com distribuição em escolas de todo o país. Explica o autor que, no CD-ROM sobre imagens fixas, há quatro partes, com exemplos de leitura de fotografia, de pintura, de publicidade fixa e de imprensa. Nas três partes do CD-ROM sobre imagens em movimento, analisam-se anúncios e extractos de filmes e programas televisivos. Ambos os discos contêm material de background (informação adicional, glossário e dados biográficos).
O trabalho de Eduardo Cintra Torres foi realizado através do Cenjor, teve a coordenação pedagógica de Teresa Fonseca, do Ministério da Educação, e edição deste ministério.
Eduardo Cintra Torres é crítico de televisão (Público), professor da Universidade Católica Portuguesa e autor de livros como A tragédia televisiva (2006) e Anúncios à lupa. Ler publicidade (2006).
FUTEBOL
Ontem, o F.C. Porto jogou em prova europeia de futebol; hoje, coube a vez ao S. L. Benfica e ao S. C. Braga actuarem noutra competição europeia.
O futebol movimenta multidões e muitos dos seus fãs são radicais. Por isso, os clubes procuram estar ligados aos seus adeptos por todos os meios, incluindo os novos media. Caso do YouTube.
Assim, no passado dia 16 (na semana passada, portanto), o Chelsea de Mourinho - o mesmo que ontem defrontou o F. C. Porto - abriu uma página no YouTube.
O endereço é este: chelseafc.com (Chelsea Football Club Official Site). Se quiser ler uma mensagem do treinador, José Mourinho, clicar aqui. Entre outras coisas, diz o treinador: "When a team goes to the Final for the first time, or that Final is the only way to win a trophy, I think the game can be more emotional and less quality".
[a partir de informação da MEDIA-NETWORK@LISTSERV.RNW.NL
NOVO SISTEMA PARA MEDIR AUDIÊNCIAS DOS MEDIA
A WAN (World Association of Newspapers) está a promover uma iniciativa para efectuar novo tipo de medição da leitura dos media escritos e digitais. Assim, será lançado um inquérito a centenas de leitores de jornais (impressos e on-line) de modo a garantir uma maior eficácia aos agentes comerciais no modo como colocam publicidade naqueles media.
Segundo a WAN, os jornais têm como objectivo recolher, agregar e distribuir notícias, informação e entretenimento. O papel da iniciativa é perceber melhor a recepção – modos quantitativo e qualitativo das plataformas (impressa e on-line) –, para garantir maior fiabilidade aos investimentos publicitários.
O grupo que desenvolve esta iniciativa reunir-se-á em Junho, em Nova Iorque, para analisar os resultados do inquérito e apresentar novas propostas.
[informação mais detalhada em Journalism.co.uk, em texto de Oliver Luft]
ALTERAÇÕES NAS CÚPULAS DOS MEDIA
Hoje, diversos media dão conta desta alteração, acrescentando outras como a possível ida de António José Teixeira, até agora director do Diário de Notícias, para a TVI.
É curioso assistir aos próximos desenvolvimentos. Com a entrada de Marcelino na Controlinveste Media, proprietária do Diário de Notícias, significa, primeiro, que a empresa de Joaquim Oliveira foi buscar um elemento importante de um outro grupo de media, a Cofina. A concorrência manifesta-se também na aquisição de gestores. Em segundo lugar, parece confirmar-se, com a contratação, de uma reorientação do jornal para um formato mais popular, deixando o terreno livre para o Público enquanto diário de referência. Em terceiro lugar, a ser verdadeira a informação da passagem de Teixeira para a TVI, isso faz com que haja um forte movimento de transferências na liderança dos vários media. A que se pode juntar a mudança de José Fragoso (TSF) para outro cargo. O que demonstra muita dinâmica nos media em geral.
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007
VARELLA CID, JOEL COSTA, ADELINO GOMES E O PÚBLICO
Paquete, bancário, empregado de escritório, contra-guerrilheiro forçado em Angola, contabilista incompetente, dactilógrafo temporário, auxiliar de cartografias, cantor lírico, sindicalista, novelista de gaveta, dramaturgo de cesto de papéis, assessor político, classificador de espectáculos - estou quase a citar o texto de Adelino Gomes sobre Joel Costa, o autor de um livro sobre Sérgio Varella Cid, pianista que desapareceu em 1981 no Brasil para nunca mais voltar a ser visto.
Quatro páginas de texto escrito por Adelino Gomes no novo Público! Sobre personagens inclassificáveis como Cid e o seu biógrafo (não) autorizado Joel Costa!
Tudo o que tinha pensado de menos qualidade do novo Público, retiro. Um mimo. Do melhor do Público desde sempre. E pela mão de Adelino Gomes.
LES RENCONTRES
O Le Rencontre de Sevilla, de 8 a 11 de Março, tem o seguinte tema: Financiar a cultura na Europa: que parcerias entre o sector público e o sector privado? A conferência, organizada pela Associação de cidades e regiões da Grande Europa para a Cultura, vai decorrer no Alcazar de Sevilha e na ilha de Cartuja.
O encontro de Sevilha acolhe autoridades locais e regionais, membros do sector privado e da sociedade civil tendo em vista criar e desenvolver mecanismos de financiamento para os projectos culturais e artísticos. Se os governos locais e centrais têm uma contribuição inestimável nas iniciativas culturais em toda a Europa, estão a crescer as contribuições oriundas de empresas.
Uma autora, Françoise Benhamou, em The economy of culture, considera que o sector cultural é vulnerável economicamente devido ao aumento de custos e à falta de reservas para a produtividade. Por isso, continua a mesma autora, nos diversos países cresce a cooperação entre fundos públicos e patrocínios privados.
No decorrer do Encontro de Sevilha, haverá oportunidade para discutir o ponto de situação dessas parcerias, ver a legislação do sector, analisar o papel das fundações e procurar saber quais os limites de tal partenariado.
Para saber mais, procurar no sítio www.lesrencontres.org.
terça-feira, 20 de fevereiro de 2007
RESPONSABILIDADE SOCIAL NOS MEDIA
No primeiro texto do livro, Alan Albarran, professor da Universidade do Texas e editor do International Journal of Media Management, fala da necessidade de um código profissional e universal de práticas éticas (p. 26). Já Francisco Rui Cádima, depois de elencar a regulação e os seus organismos e as condicionantes e implicações da responsabilidade social, advoga uma autoridade ou conselho específico para o audiovisual, tendo em atenção, entre outras coisas, a concentração dos media e a defesa do paradigma cívico (p. 43). Para outra autora inserida no livro, Sara Pina, a responsabilidade articula-se com a liberdade; outros elementos do seu pensamento englobam interesse público, cidadania e democracia (p. 51).
Se Alan Albarran refere sete normas de ética social - regra de Ouro, ética judaico-cristã, categoria imperativa, utilitarismo, equilíbrio, relatividade e teoria da responsabilidade social -, Alfonso Sánchez Tabernero olha o jornalismo dentro de uma lógica económica, mas enfatiza a gestão das pessoas (p. 67).
Voltando à introdução, assinada por Paulo Faustino, a credibilidade dos media implica confiança e fidelidade das audiências, dado que os media são "uma componente essencial numa sociedade avançada" (p. 22).
Leitura: Paulo Faustino (org.) (2007). Ética e responsabilidade social dos media. Lisboa e Porto: Formal Press, 299 páginas
REDE 2020
Na abertura da revista, escreve Vasco Eiriz: "Vivemos tempos fascinantes. Tempos de mudança e transformação. Nas empresas, nos territórios, na comunicação. São tempos em que a acessibilidade — a produtos, dados, informação, conhecimento — ganha importância. A mobilidade aumenta e tudo parece estar à distância de um clique".
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007
EASTWOOD E A GUERRA
Os críticos de cinema consideram o segundo filme mais bem construído. No meu entendimento, Letters from Iwo Jima é um filme mais sombrio, onde, na frente da batalha, não há alternativa à morte. Mas o amor à pátria escondia pulsões individuais de regresso ao lar, à família, aos amigos, ao trabalho - que a guerra cortara definitivamente. Os códigos de honra misturavam-se com a decadência de convicções perante a derrota. Há uma espécie de campo e de contra-campo nos dois filmes. No primeiro, foca-se o desembarque das tropas americanas, sem se obter pormenores das defesas militares japonesas. No segundo, a câmara aponta do lado nipónico face ao invasor. Logo, duas posturas, duas iguais vontades de ganhar rapidamente. No filme anterior, à guerra juntavam-se as relações públicas nos próprios Estados Unidos, mostrando uma sociedade dinâmica e ainda dividida quanto ao esforço da guerra. No segundo filme, há curtíssimos flashes sobre o Japão, não permitindo perceber a força anímica do seu povo. Isto é, saimos menos bem documentados sobre a realidade nipónica, a não ser os códigos de conduta militar.
A análise aos filmes tem sido feita bem pelos críticos, os quais levantam metodologias sociológicas, históricas, semióticas e do domínio da imagem. Além disso, a luta perde-se nos finais da segunda guerra mundial (que durou entre 1939 e 1945), bem afastada de nós - logo, motivo de reflexão sobre o horrível da guerra e confronto com guerras mais recentes.
Já Flags of our fathers me recordara a guerra colonial travada por Portugal em África (1961-1974), agora adensada pela visão de Letters from Iwo Jima. Os filmes (poucos) que já se fizeram sobre o esforço militar português, ainda bem perto de nós, não têm a densidade psicológica e de força das imagens que os filmes americanos mostram sobre a guerra do Vietname ou, agora, este episódio da segunda guerra mundial e que determinou a derrota do Japão no Oriente [creio já ter escrito isto no blogue].
À minha memória veio um episódio ocorrido em 1 de Maio de 1972. Uma pequena coluna militar saía do Moxico (Leste de Angola) em direcção a um aquartelamento a norte dessa cidade. O sol já desaparecera poucas horas antes. Cerca de metade do percurso estaria cumprido (total 160 quilómetros em estrada asfaltada) quando um grupo da facção Chipenda do MPLA destroçou essa coluna. Os militares dos carros não danificados procuraram apoio; os reforços saídos do quartel para encontrar o grupo do MPLA seriam gorados, pois este grupo dispersar-se-ia rapidamente na noite. A emboscada faria sete vítimas; os seus nomes constam do monumento aos mortos da guerra colonial em Belém, aqui em Lisboa. Do grupo de falecidos, recordo sempre o Teixeira, um jovem sossegado, simpático e conversador, vindo de Guimarães (ou perto). Era tão jovem como o nipónico que fora padeiro, era pai de uma menina que não conhecia ainda e acabou ferido no confronto com os americanos das Letters from Iwo Jima. Certamente que este, após se curar e ser libertado pelos americanos, voltaria ao seu emprego e família [descontando que se trata de uma ficção].
Os dois filmes de Eastwood são um libelo contra a guerra, em especial porque ilustra pontos de vista antagónicos. Se cada lado procurou resolver a seu favor a luta, a violência desta distribuiria a morte por igual medida esses dois lados. No caso de África e nos países africanos onde se fala português, as feridas duraram dezenas de anos após acabar a guerra colonial.
domingo, 18 de fevereiro de 2007
DEPOIS DA MEMÓRIA
Jornalista culto e afável, este editorial é um texto de coragem - e de marca do seu cunho à frente do jornal (mau grado a interinidade). Em que se faz a defesa do jornalismo de referência (mas havendo, na leitura maximalista que fiz do seu texto, espaço para um jornal que alarga públicos-alvo, fundamental para a boa prossecução do Diário de Notícias).
Deixo apenas parte final do editorial (pág. 10) [ler a totalidade aqui]: "Tentar responder aos dilemas da imprensa no mundo multimedia não é fácil. Aliás, ninguém parece estar perto de conhecer a resposta. Talvez nos faça falta voltar ao exemplo de Woodfall [jornalista do século XVIII] e pensar que o bom jornalismo depende mais de uma boa ideia do que de uma boa tecnologia. E faz-nos falta o jornalismo, até para a sociedade não perder a memória".
TELEVISÃO
- Lembrei-me de tudo isto ao ver, esta semana, as notícias sobre o acidente no Metro de Superfície de Mirandela, na linha do Tua. Aquelas imagens dos repórteres enquadrados por uma paisagem deslumbrante são um dos restos fatais com que a televisão, de um modo geral, aborda a província. Mais exactamente, há dois registos dominantes para construir notícias da província. Um deles, o mais antigo e salazarista, é o pitoresco: tudo o que vem da província é tido por curiosidade mais ou menos anedótica, protagonizada por personagens inevitavelmente superficiais, quando não caricatas. O outro é este, ou seja, o modelo catastrofista em que a província adquire os contornos de terra selvagem onde acontecem os desastres que atestam o seu primitivismo.
A PÁGINA DO PROVEDOR DO LEITOR DO PÚBLICO ESTÁ BEM MELHOR
HIPERMERCADOS
Pelo estudo (inquiridos 5001 indivíduos; 1028 frequentadores de centros comerciais) fica-se a perceber que os portugueses desejam o regresso da abertura dos hipermercados nos feriados domingos à tarde. Esta liberalização apresenta vantagens e inconvenientes, de acordo com o trabalho agora publicitado. Entre as vantagens, apontam-se as de facilitar a vida a quem trabalha, criar mais emprego, com mais tempo para escolher e comprar e mais flexibilidade no uso do tempo. Das desvantagens, anoto trabalho dos empregados ao domingo à tarde, clientes longe das famílias nesse período e razões religiosas. Os motivos que levam os cidadãos a um centro comercial são: 52% vai às compras, 19% passear, 15% ao cinema e 12% a um restaurante. Num centro comercial, 43% dos produtos são comprados nos super e hipermercados, seguindo-se vestuário (roupa e calçado) com 32%
O trabalho científico foi coordenado por Henrique Lopes e as suas conclusões serão apresentadas em próximo congresso de centros comerciais (27 e 28 de Fevereiro).
BÉNARD DA COSTA
Devo confessar que esta mudança é muito melhor que a anterior (da sexta-feira para o domingo; agora mantém-se no mesmo dia, mas tem mais espaço, o que não é despiciendo).
Faltou, a meu ver, a indicação de escritor (como profissão). É que os textos de Bénard da Costa são de elevada literatura. O tema de hoje - coisa de nada, pois, afinal, escreve sobre quartos escuros - denota uma grande erudição.
COMUNIDADES VIRTUAIS
Por esse levantamento e pela posterior discussão da demissão de jornalistas, é fácil perceber a profusa quantidade de perspectivas. Tal ilustra o modo pós-moderno da discussão dos media (através de um novo medium, a internet). Há uma comunidade que reflecte de imediato e coloca as suas posições em linha.
Daí, parece-me haver lugar para uma nova esfera pública, mais rápida, servindo-se ou não dos media e dos seus mediadores. Cada indivíduo pode tornar-se autor, mediador ou distribuidor, como pretendo mostrar na mensagem seguinte (a partir de livro de Henry Jenkins) [manipulei a hora de edição das mensagens para inibir a dificuldade de ordem cronológica dos blogues]. À prontidão de comentários de leitores sucede-se uma partilha entre estes comentadores de conhecimentos e de hipóteses de consenso ou linhas de compreensão dos fenómenos, algo que não existia antes. A ideia de tertúlia ganha aqui corpo.
Nesta linha, reparo na resposta a uma mensagem que aqui coloquei ontem e respondida entretanto por Pacheco Pereira (blogue Abrupto) sobre uma cronologia da desnacionalização do Diário de Notícias.
CULTURA PARTICIPATIVA
Participante em comunidades electrónicas, parte fundamental da sua investigação opera a análise de séries televisivas como Star Trek e Twin Peaks, em que os fãs vão além da construção de textos semióticos (em John Fiske). O ser-se fã [fandom em inglês] permite criar e ocupar espaços em que as pessoas (os fãs) aprendem a viver e colaborar no que Jenkins chama de comunidade do conhecimento (conceito formado em Pierre Levy).
O fã já não é um couch potatoe (aquele que vê televisão de um modo passivo), procura ser também um produtor de media, um distribuidor, um crítico (p. 135). Mas, adverte Jenkins, em vez de se falar de tecnologias interactivas, deve-se documentar a interacção existente entre consumidores de media, entre consumidores e textos dos media, entre consumidores e produtores dos media. Isto porque a cultura participativa que Jenkins defende reside na intersecção de três tendências: 1) as novas ferramentas e tecnologias capacitam os consumidores ao arquivo, apropriação e recirculação do conteúdo dos media, 2) um conjunto de subculturas promove o DIY (Do It Yourself) na produção dos media, e 3) as tendências que encorajam os conglomerados horizontais de media encorajam igualmente o fluxo de imagens, ideias e narrativas através de múltiplos canais e procuram modos activos enquanto espectadores.
Afirma Jenkins que os fãs são motivados pela epistemofilia - não apenas têm prazer em conhecer mas também têm prazer em trocar conhecimento. Para além da produção de um significado enquanto activista, o fã produz um investimento afectivo. E a cultura do computador acelera a actividade dos fãs, que deixam de ser fãs apenas em encontros de fim-de-semana mas fazem-no numa mobilização instantânea: basta acabar um episódio de uma série de culto para escreverem mensagens nas comunidades electrónicas a que pertencem, sem barreiras de distância, idade, género ou condição social.
Jenkins introduz uma distinção entre improvisador (jammer) e fã, em que aquele pretende dominar e alterar os media enquanto este quer apropriar-se do conteúdo, imaginar um mais democrático, diversificado e partilhado. Mas ambos alteraram a relação entre produtores e consumidores dos media, ganhando visibilidade e aprendendo/ensinando - na construção de comunidades, na troca e distribuição intelectual e no activismo nos (dos) media (p. 150).
O livro abre com uma entrevista concedida por Jenkins a Matt Hills, autor já aqui trabalhado (ver mensagem de 8 de Novembro de 2005).
sábado, 17 de fevereiro de 2007
PENSAR OS JORNAIS
Lê-se: "Acabada a censura e envelhecidos os modelos dos jornais «de referência» numa sociedade em mutação, em que a ascensão das massas aos consumos «culturais» se dava pela primeira vez, era natural que uma parte dos públicos forçados até então pela ausência de alternativa escolhessem". Neste caso, a "imprensa popular". Mais à frente, Pacheco Pereira escreve: "Mas a imprensa «de referência», durante muito tempo, que era também imprensa do Estado porque pública ou semipública, continuou num caminho autista até que a privatização começou a abanar os bolsos dos «donos» da imprensa com os elevados custos de jornais que perdiam leitores e, ao perderem leitores, perdiam publicidade".
O texto de Pacheco Pereira, que li com agrado, continuará a ser publicado na sua próxima coluna. Estarei atento.
Contudo, faço dois reparos ao seu texto. Primeiro, os conceitos de referência e popular, apesar de já sedimentados, resultam de uma aplicação, em Portugal, relativamente recente. Aliás, há cuidado em Pacheco Pereira quando coloca as palavras entre aspas. Antes de 1974, havia jornais populares - se quisermos aplicar os conceitos - como o Diário Popular (vespertino, Lisboa) e o Jornal de Notícias (matutino, Porto). Terei mais dificuldades em nomear como jornais de referência Diário de Notícias, O Século ou Diário de Lisboa - a censura não permitia a aplicação cabal do conceito.
Um segundo reparo que faço ao texto de Pacheco Pereira é o da colocação temporal do autismo dos media impressos. Primeiro, a imprensa de Estado (excepto os defuntos Diário da Manhã, até 1970, e Época, a seguir, órgãos de comunicação impressa do partido único) só existiu entre 1975 (indirectamente, devido à nacionalização da banca, que detinha a propriedade dos principais títulos da imprensa) e finais da década de 1980 (entretanto, títulos conhecidos como O Século e o Jornal do Comércio e das Colónias desapareciam). O Diário de Notícias foi desnacionalizado em Maio de 1991, ou seja, há 16 anos é propriedade privada. Entretanto, tinha surgido o Público (1990).
No meu entendimento, a expressão "até que a privatização começou a abanar os bolsos dos «donos» da imprensa com os elevados custos de jornais que perdiam leitores" necessita de ser temperada com outras explicações: surgimento da televisão privada, com noticiários mais simples (tablóides), aparecimento da internet (e proliferação de ecrãs, que levam a uma lenta mudança de paradigma educacional e informacional), baixa literacia - que sempre indicou haver uma baixa camada leitora de jornais em Portugal.
Quanto aos "donos" da imprensa, assaltam-me dúvidas: a Portugal Telecom (PT), por exemplo, foi uma "dona" perfeita, no sentido do domínio do negócio e da expertise, enquanto o Diário de Notícias esteve como seu activo? Há sempre quem me esteja a referir o Sapo (internet da PT) como espaço de controlo (e aperto) de tentativas mais ousadas (e interactivas) dos seus clientes (SIC, o próprio Diário de Notícias), desejosos de acabar o prazo dos contratos.
Aliás, num texto muito bem escrito, Maria Lopes narra, na edição de hoje do Público, a sucessão de directores do Diário de Notícias em quatro anos: após a saída de Bettencourt Resendes, passaram pelo jornal Fernando Lima (Novembro de 2003), Miguel Coutinho (Outubro de 2004), António José Teixeira (Setembro de 2005). Esta deriva dirigente é fatal para alcançar um rumo adequado, para além da mudança de proprietário: ao coronel Luís Silva seguiram-se a PT e Joaquim Oliveira. Parece-me que Pacheco Pereira deveria incluir esta variável no seu texto.
Observação: quando escrevo texto bem escrito de Maria Lopes, quero dizer isso e apenas isso. Trata-se de um texto factual, com elementos históricos de enquadramento. E sereno, ao contrário de alguns textos publicados no Diário de Notícias a propósito de alterações recentes no Público (caso dos despedimentos). Senti alguma arrogância no modo como o Diário de Notícias publicou esses acontecimentos sobre o jornal concorrente, como se não se pudesse passar algo de semelhante no seu interior. A vida ensina-nos a ser prudentes quando se noticia o azar na casa alheia.
DIÁRIO DE NOTÍCIAS
"Esta direcção editorial encerra hoje uma etapa na vida do DN. Sai com a consciência imodesta de ter contribuído para acrescentar qualidade e credibilidade ao jornal. Aos leitores, a quem se destinou este trabalho, o nosso agradecimento" (Editorial, pág. 12 da edição de hoje do Diário de Notícias).
"Miguel Gaspar director interino" (título da notícia breve incluída na última página).
Na página 47, há uma peça intitulada "Livraria da Praça fecha hoje e deixa Viseu mais pobre culturalmente" (texto assinado por Amadeu Araújo). Tratava-se de um projecto inaugurado em Março de 2005, espaço onde decorreriam conversas, exposições, concertos, cursos de vinho e feira de comércio justo.
Observação: a capa do Diário de Notícias está, hoje, muito bonita. Será por causa de Angelina Jolie?
PROJECTO EDUCATIVO DO TEATRO MARIA MATOS (LISBOA)
Marionetas, oficina, cinema de animação, visitas, conversas com criadores e música electrónica para bebés são algumas das propostas.
Para saber mais, falar com Ana Ladeira (teatromariamatos@egeac.pt) ou Susana Menezes (projectoeducativo.teatromariamatos@egeac.pt).
INDÚSTRIAS CULTURAIS EM LICENCIATURA
GESTÃO DE PROJECTOS CULTURAIS
É uma nova proposta de pós-graduação no Instituto Piaget, em Almada. Do seu plano de curso, fazem parte disciplinas de artes contemporâneas, sociologia da cultura, marketing das artes, história das artes, políticas culturais, informação cultural, gestão de projectos culturais e financiamento e avaliação económica de projectos.
Mas não há uma disciplina de indústrias culturais. É pena!
VASCO DA GRAÇA MOURA
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007
DIÁRIO DE NOTÍCIAS
Retiro do Público "Última Hora", a informação da nomeação, como director interino do Diário de Notícias, de Miguel Gaspar.
Nesta fase de transição do jornal, desejo-lhe muita sorte. O Diário de Notícias merece continuar a ter um lugar de destaque nos media portugueses.
HAMLET NO MONTIJO
- Um conjunto de actores, uma caixa, talvez um caixão, e uma peça chamada Hamlet. André Gago - tradutor e encenador - aborda de uma forma original aquela que é a peça de teatro mais emblemática de toda a literatura ocidental. Involuntariamente didáctico, o espectáculo acaba por familiarizar o público, de uma forma extremamente eficaz, com a trama e a essência da obra (texto da promoção do espectáculo).
No dia 23 e 24 de Fevereiro, pelas 21:00, no Cinema-Teatro Joaquim d'Almeida em Montijo o espectáculo Hamlet, de Shakespeare, com tradução e encenação de André Gago. Além deste actor, na peça entram Maria Emília Correia, Mário Jacques, Orlando Costa e muitos outros. Uma produção do Inatel/Teatro da Trindade e Teatro Instável.
JAZZ
MODA
O MUNDO DAS MARCAS
Fico-me pelos temas constantes nos títulos dos capítulos: marca (sinal, missão, imagem), direito da marca, semiótica da marca, identidade da marca, valor e fontes de valor da marca, gestão relacional da marca, marca aplicada ao design do mobiliário e decoração.
Embora seja um texto ainda a ler por mim, destaco, pelo interesse especial nas matérias (folheando o livro), os capítulos de identidade da marca (com Wally Olins como um dos inspiradores) e de design de imobiliário.
Entretanto, segundo o blogue Jornalismo e Comunicação, foi publicado um livro intitulado Marcas e Identidades, da autoria de Teresa Ruão, uma parceria da Campo das Letras com o Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, o que ilustra o interesse renovado neste campo de investigação.
DIA AZIAGO NO DIÁRIO DE NOTÍCIAS
Para a frente do Diário de Notícias, fala-se em João Marcelino, até agora director do Correio da Manhã. A acontecer, haverá certamente uma viragem do Diário de Notícias para uma postura popular e abandono de uma linha de jornal de referência. O que não me parece uma boa solução.
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007
PROVAS DE MESTRADO NA UNIVERSIDADE DO MINHO
Amanhã, dia 15, a Universidade do Minho vai ser palco de duas importantes defesas de dissertação de mestrado (Ciências da Comunicação, área de especialização em Informação e Jornalismo).
Assim, pelas 11:00 horas, Daniela Bertocchi defenderá o trabalho intitulado A narrativa jornalística no ciberespaço: transformação, conceitos e questões. Depois, pelas 14:30 horas, caberá a vez a Fernando Zamith, com o título As potencialidades da internet nos ciberjornais portugueses.
Impossibilitado de estar presente, por ir para outro ponto do país, o blogueiro cá de casa envia um abraço de boa sorte a estes dois jovens investigadores. Parabéns também ao Manuel Pinto, incansável obreiro que orienta teses e mais teses.
PORTUGAL MÓVEL
Portugal Móvel. Utilização do telemóvel e transformação da vida social é o research report do OberCom deste mês, trabalho de Gustavo Cardoso, Maria do Carmo Gomes, Rita Espanha e Vera Araújo.
Surgido em 1991 - quem diria que foi há tão pouco tempo? -, hoje o telemóvel tornou-se imprescindível. Ele "é também agenda, lista de contactos, arquivo de ficheiros, walkman, rádio, despertador, consola de jogos, calculadora e relógio", escrevem os autores do trabalho agora divulgado. Integrado no projecto A Sociedade em Rede em Portugal 2006, desenvolvido no CIES-ISCTE pelos autores acima indicados, resulta da aplicação de um inquérito por questionário a uma amostra representativa da sociedade portuguesa, de 2000 indivíduos.
Um dos resultados que mais atenção me despertou é a caracterização de quem utiliza este dispositivo e de que modo o faz. Os quadros seguintes dão um cheirinho [para os ampliar, carregar em cima dos quadros]. [a imagem de baixo mostra um modelo de telefone celular, ainda analógico, no começo dos anos 1990; a caixa de emissão/recepção era grande e armazenava-se na mala do carro. Imagem de agência inglesa incluída no meu livro História das telecomunicações em Portugal, 1877-1990. Contributos para a sua compreensão].
terça-feira, 13 de fevereiro de 2007
TREINADOR DE SOFÁ
Nuno Azinheira, editor executivo adjunto do Diário de Notícias, colocou um comentário na minha mensagem de 12 de Fevereiro (título: A evitar). Escreve, entre outras coisas:
- A opinião é livre e o gosto também. E ainda bem. Mas em relação ao seu post sobre as capas do DN no domingo e segunda-feira, não concordo nada consigo. Não sou o único aliás. Um dos maiores especialistas internacionais em design é claro na sua apreciação, que pode ser consultada em: What's next. Innovations in newspapers.
Eu, perante isto, sinto-me treinador de bancada (ou sofá). Embora não sendo metajornalista (aquele que analisa o trabalho do jornalista), também não dou opiniões porque quero dar. Para mim, os jornais são como respirar; preciso deles, das novidades e das análises, esperando que eles continuem por muitos anos, ao contrário do que o professor Diogo Pires Aurélio escreve na última página de hoje do Diário de Notícias. Contudo, e apesar da opinião de Juan Antonio Giner ou de Medeiros Ferreira (e de outras pessoas, eventualmente), não gostei da primeira página do jornal.
Aliás, também não gostei da primeira página do jornal de hoje.
Se, ontem, o Público trazia problemas em termos de impressão das fotografias, a edição de hoje já está limpa. E, no confronto de primeiras páginas, o jornal Público está mais atraente. Escrevi ontem que a capa é como o embrulho de uma prenda. Sem simplificar demasiado as coisas, o aspecto gráfico (cor, disposição de textos e imagens) atrai a atenção de quem compra um jornal. Pode levar um leitor a comprar ou não. Entre um jornal monotemático na primeira página (como o foi o Diário de Notícias anteontem e ontem) ou um que dê destaque a múltiplos assuntos, preparando a leitura do que vem a seguir, prefiro este. O Diário de Notícias faz isso habitualmente, mas houve um corte radical nesses dois dias. E carregou muito no preto, como se houvesse luto em causa.
É a minha opinião, apenas a minha opinião. A qual vale o que vale.