domingo, 18 de setembro de 2005

REDES

Em pequeno livro, Manuel Castells sintetiza o seu conceito de rede, destacando os centros de inovação e as redes de informação ligadas a áreas nodais e a sistemas rápidos de transporte. Forma antiga de organização social, caso dos transportes, a rede mostra-se flexível, adaptável e reconfigurável, não física mas electrónica, a qual lhe fornece uma vida virtual [observação: apesar de me referir à edição inglesa, existe já uma tradução portuguesa].

castells.jpgQuem fala em redes, escreve sobre a virtualidade. O autor desenvolve dois conceitos ligados. O primeiro é o da cidade virtual. Para ele, com as tecnologias da informação, a cidade digital é o novo espaço público, democrático, interactivo, comunitário. O outro conceito é o de virtualidade real. Por norma, fala-se de realidade virtual, expressão mediada virtualmente de um mundo imaginário. Em Castells, a virtualidade real entende-se como manifestações de cultura mediadas electronicamente (em linha, televisão, vídeo), enquanto parte fundamental da nossa realidade. É virtualidade porque se processa em termos electrónicos, mas é absolutamente real porque é uma parte central da nossa experiência.

Se a actual sociedade é de uma grande criatividade, ela produz também como que o seu negativo. Quem não tiver capacidade de inovação, fica de fora. Aquilo que designa por divisor digital quer dizer fragmentação, individualização e desigualdade social e de rendimentos. Para combater tal divisor, tem havido políticas de ligar mais computadores à Internet, nomeadamente na escola. Verifica-se, contudo, e caso não se atenda às condições sociais e económicas de cada caso, que os estudantes com melhores condições aprendem mais face a estudantes em piores situações sociais e culturais. E a discrepância mantém-se.

Numa aposta polémica, o sociólogo catalão caracteriza a cultura da sociedade em rede como desprovida de qualquer valor ético. Criar e destruir constantemente são elementos presentes. Exemplo é o do mercado financeiro global, não controlado por ninguém e onde se transferem bens financeiros de países e regiões para outros países. É o autómato, que pode ditar aleatoriamente a pobreza e a riqueza num instante apenas. Porém, a haver ética, ela vem dos hackers, cujo sentido de inovação os leva a furar os segredos dos sistemas protegidos de informação. Para além de entrar no proibido, arriscar, inovar constituem as palavras-chave do hacker, de certa maneira as ferramentas do gestor e da empresa moderna.

Leitura: Manuel Castells, com Bob Catterall (2002) The making of the network society. Londres: Institute of Contemporary Arts. 32 páginas. Custo aproximado: € 4,5.

3 comentários:

Anónimo disse...

Um dos problemas destas novas redes é que geralmente estimulam a cópia e raramente a criação de conteúdos estimulantes. É uma sociedade de egos e de necessidade constante de estimulação. Se não estamos a ser entretidos a todos os minutos então a "vida" parece um aborrecimento.
Todos querem parecer iguais uns aos outros para não se sentirem excluidos (menos visitas e poucos ou nenhuns comentários).
Claro que também há inovação e acesso a muita qualidade, mas são claramente minoritárias.

Anónimo disse...

Concordo com Mário mas, tendo estudado na década de 60, prefiro esta promiscuidade de 'caracteres' de 'siglas' e de 'insignificâncias' à 'normalidade' e à 'penúria' dessa época.

Anónimo disse...

mjr também estudei nessa década e todas estas possibilidades são claramente preferíveis ao que estava disponível nessa altura (quase nada).
No entanto a penúria levava a darmos muito valor ao pouco que tinhamos, por ser tão dificil arranjar mais.
O ser tão fácil ir "buscar" um determinado disco ou outro qualquer bem cultural tem como efeito que não se lhe dê tanta importância, que ele seja quase igual a outro qualquer. É essa cultura do irrelevante e do "nada é importante" que me faz ter pena de quem não conhece outro modo de funcionamento.