sábado, 28 de fevereiro de 2015

Tchekhov em ensaio geral

O Cerejal, de Anton Tchekhov, não foi representado mas ensaiado. Os atores situavam-se na plateia, no meio do público, e repetiam sempre que o encenador pedia. Foram longos os quatro atos da peça.

Apesar de ter sido publicada em 1904, na peça há uma grande modernidade política. Então, o regime feudal na Rússia era substituído pela nova forma de sociedade, o capitalismo. A venda do cerejal e da propriedade adjacente, para fazer face à bancarrota da família, é a metáfora que encobre essa rápida transição. O burguês Lopákin, filho de escravos, acaba por comprar o cerejal para o abater e transformar em urbanização com casinhas para veraneantes. As cerejas nasciam uma vez no ano, as casas seriam alugadas todo o ano, com rendimento muito maior.

Retiro do autor do texto que acompanhava o programa algumas ideias. A peça celebra dois acontecimentos. Num deles, Lopákin resgata a dignidade dos ascendentes, celebrando a nova classe poderosa, enquanto Trofímov, eterno estudante, fala de liberdade e justiça para o futuro. Em 1917, as posições alterar-se-iam, com a revolução de Outubro. No outro, o amor nascido entre Trofímov e Ánia conduz esta à descoberta da consciência social. Outras personagens ganham densidade, como Charlotta, órfã de saltimbancos tornada perceptora, e Vária, filha adotiva de Andréievna. Esta, com a filha Gáev, não compreenderiam a mudança dos tempos e recusavam transformar o pomar numa outra atividade produtiva.

João Sousa Cardoso, o responsável pela representação em forma de ensaio, quis desconstruir o teatro "bem-feitinho", mostrando a carpintaria do ensaio, e elogiar a importância do cinema como indústria cultural prevalecente na nossa memória, pelo que o palco tinha uma tela apenas mal iluminada.

O último ato foi de grande desassossego. Os atores circulavam pelas filas onde estavam os espectadores, riam, chamavam-se pelos nomes próprios e não das personagens. As repetições, para melhorar a performance, perturbavam o desenrolar da ação. Algumas vezes, porque os atores estavam voltados para o palco e de costas para o público, não se faziam perceber, por falarem baixo e por não abrirem suficientemente as vogais (problema da língua). Depois, em especial no primeiro ato, a iluminação era escassa (a lembrar a fraca luz numa casa à noite antes da existência da eletricidade doméstica). Embora muito jovens, estudantes na maioria, atores e atrizes aceitavam pacientemente as recomendações do encenador e repetiam e voltavam a repetir a partir das deixas da personagem anterior.

Criação do Teatro Expandido!, de João Sousa Cardoso, na Sala do Teatro do Campo Alegre (Porto) ontem, com plateia muito composta. Experiência inolvidável.

Museu Etnográfico de Faro

O Museu Etnográfico Regional de Faro (1962) teve como fundador e responsável pela sua organização o pintor Carlos Filipe Porfírio (1895-1970) e compõe-se na sua maioria por utensílios de trabalho (pesca, trabalho agrícola e artesanal, indústrias domésticas, mobiliário e trajes).


Museu Municipal de Penafiel

Constituído em 1948, o museu está instalado desde 2009 no palacete setecentista dos Pereira do Lago desde 2009. Em 2010, foi distinguido com o prémio de melhor museu português e em 2012 ganhou o prémio de melhor sítio da internet. Tem cinco magníficas salas: identidade, território, arqueologia, ofícios e terra e água.
 


 

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Venda de jornais

Em 2014, o Correio da Manhã vendeu uma média de 111 milhares de exemplares, seguindo-se o semanário Expresso com 92 mil, Jornal de Notícias com 61390 exemplares, Diário de Notícias com 16335, Público com 15875 e i com 4118. Em termos de assinaturas digitais, o Expresso tem 13 mil, a que se segue o Público com 8313 (base: notícia do Público, edição em papel de hoje).

Revista de cinema Aniki

Já foi publicado um novo número da Aniki: Revista Portuguesa da Imagem em Movimento! (www.aim.org.pt/aniki). O número inclui um dossier temático sobre "Cinema Expandido", editado por Susana Viegas, com artigos de Yvonne Spielmann, Laura Rascaroli, Carlos Vara Sánchez, Miguel Mesquita Duarte e Bruno Marques, Laila Melchior e Giuliana Bruno e uma entrevista a André Parente.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Palácio de Monserrate

Está a decorrer a recuperação e revalorização da Sala de Estar Indiana, do Palácio de Monserrate, investimento de 35000 euros para o projeto global de restauro daquele palácio de Sintra. De entre as obras, encontram-se a consolidação e tratamento integral da parte do teto ainda existente, os revestimentos parietais com os seus frisos dourados e os rodapés em estuque polido. A Sala de Estar Indiana, também designada por Sala de Desenho, tem uma decoração de estuques idêntica à Sala de Bilhar. Destacam-se o florão central do teto e os dois potes (de fabrico português) da coleção de cerâmica de Sir Francis Cook. Fotografias da época permitem perceber que este espaço apresentava mobiliário de diversos estilos e origens, dos quais sobressaíam dois sofás de madeira da Índia e dois armários-vitrinas. Nas paredes, surgiam panos de caxemira da Índia, tecidos com seda e um grande espelho com moldura de cristal de Veneza. Também aqui se encontravam muitas porcelanas orientais, com relevo para duas grandes talhas da China (para mais informações consultar www.parquesdesintra.pt ou www.facebook.com/parquesdesintra, entidade promotora desta informação).

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Lançamento do livro Orpheon Portuense

Hoje, ao fim da tarde, foi lançado o livro A Sociedade Orpheon Portuense (1881-2008). Tradição e Inovação, de Henrique Luís Gomes de Araújo e Rui Vieira Nery e ainda com textos de Christine Wassermann Beirão, Constança Vieira de Andrade, Gonçalo Vasconcelos e Sousa, João-Heitor Rigaud, Jorge Castro Ribeiro, Manuel Deniz Silva, Maria do Rosário Pestana, Sofia Lourenço e Tiago Manuel da Hora. Na mesa de apresentação do livro (esquerda para a direita): Henrique Luís Gomes de Araújo, Anabela Antunes (editora) e Rui Vieira Nery (abaixo vídeos com comunicação dos dois apresentadores).




terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A Johnson & Johnson foi o maior anunciante em Janeiro

Para a MediaMonitor, a Johnson & Johnson inicia 2015 como maior anunciante com um share of voice de 3,6% face ao total do mercado publicitário de televisão, rádio, imprensa, outdoor, cinema e internet e de 8,8% face ao total dos 20 maiores anunciantes do mês. A European Home Shopping ocupa a segunda posição, responsável por 3,2% do investimento publicitário total e por 8,0% do colocado pelos 20 maiores anunciantes do mês e a Unilever-JM a terceira posição, com um share of voice de 3,0% face ao total do mercado publicitário e de 7,5% face ao total dos 20 mais. No conjunto, os 20 maiores anunciantes foram responsáveis por 40,4% do bolo publicitário mensal. No conjunto, estão cinco empresas do grande consumo, quatro da grande distribuição, três de telecomunicações, dois bancos e seis de outros sectores. Os maiores investidores privilegiaram a televisão (88,6% dos orçamentos).

[share of voice: percentagem de publicidade de uma marca no total da atividade de publicidade no setor inteiro ou tipo de produto]

Lucros na Media Capital

A Media Capital, que detém a TVI, a Rádio Comercial e a produtora Plural, gerou 16,5 milhões de euros de lucro em 2014. Tal foi possível devido às receitas geradas pelos canais TVI (147,2 milhões de euros) e pelas rádios (16 milhões de euros). Na televisão, o ganho de receitas é explicado pelo crescimento de 11% nos proveitos publicitários. Ainda no caso da TVI, a estação garantiu a liderança de audiências em televisão pelo décimo ano consecutivo, com a média de quota de audiência de 23,5% e de 26,5%, no total do dia e no horário nobre (a partir de notícias do Expresso e Jornal de Negócios).

Playground


"No studioteambox, março é mês de Mr. Fields, com o artista a trazer-nos um conjunto de gravuras e desenhos que forma a exposição Playground. Com Playground, o circo volta à cidade. Após um período de afastamento, Mister Fields sacudiu o pó ao seu fato de mestre de cerimónias e reuniu a sua trupe de palhaços e trapezistas, freaks e outras criaturas meio homem, meio sonho, todas amestradas ao som da caneta. Mas não se pense que estas figuras são prisioneiras num mundo de papel: ao sair desta exposição, o visitante arrisca-se a cruzar-se com elas, e não tardará a perceber que é ele próprio uma personagem tão grotesca, ambígua ou brincalhona quanto as que povoam o teatro místico em que todos vivemos" (informação da organização). O studioteambox fica na LXFactory, edif G, sala 6.A (Lisboa).

Indústrias criativas em Viana do Castelo


Jornal de Notícias, 24 de Fevereiro de 2015

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Óscares

A atribuição dos 87ª edição dos Óscares de cinema na última noite em Hollywood deu quatro troféus a Birdman (A Inesperada Virtude da Ignorância), do mexicano Alejandro González Iñarritu, e Grand Budapest Hotel, de Wes Anderson. Mas aquele recebeu os prémios de Melhor Filme e Melhor Realizador, ao passo que Grand Budapest Hotel teve prémios nas categorias técnicas. Julianne Moore recebeu o Óscar de Melhor Actriz com O Meu Nome é Alice e Patricia Arquette e J. K. Simmonsnas categorias de actriz e actor secundários. Os filmes perdedores da noite foram O Jogo da Imitação de Morten Tyldum, Boyhood – Momentos de uma Vida de Richard Linklater e Sniper Americano de Clint Eastwood.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Sol de inverno

Os homens, já velhos, conversavam na paragem de autocarro na praça Bernardim Ribeiro (Torrão). Mais ao lado, outros homens bebiam cerveja. O sol estava a fugir e o vento arisco ameaçava baixar rapidamente a temperatura. Na rádio, ouvia-se ir haver um acentuado arrefecimento noturno. Por isso, as portas das casas estavam fechadas e pouca gente se via na rua. O relógio da igreja da praça marcava cinco horas da tarde.


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Rever a história da rádio

E se eu atrasasse o começo da história da rádio em Portugal para 1923 (e não 1924) e o começo das emissões regulares da Emissora Nacional para bastantes meses antes de Agosto de 1935? Não seria mais confortável para a ideia de modernidade tecnológica da rádio no país? O artigo do Diário de Notícias de 27 de Fevereiro de 1929 refere que CT1AA começou a emitir experimentalmente em 1923, um documento (cópia) indica que CT1AB começou a experimentar emissões de rádio em 1924. A programação da Emissora Nacional de 22 de Março de 1935 parece-me muito bem alinhada com dois períodos de emissão (à hora de almoço e ao fim da tarde e noite), como se lê ainda no Diário de Notícias de 21 de Janeiro de 1935. Já a transmissão de jogos de futebol parece também alicerçada em 1935 (Diário de Notícias de 6 de Janeiro de 1935).

Do programa da Emissora Nacional, destaco os noticiários às 12:35, 20:30 e 22:30, a cotação da Bolsa de Lisboa, a informação meteorológica e o sinal horário (21:30). Seis períodos de música em discos e igual número de períodos de música em directo com as orquestras da estação relevavam o equilíbrio musical entre gravação e ao vivo, tendência que iria pender para o primeiro tipo de música. O director era ainda António Joyce, antes da nomeação de Henrique Galvão. Mozart, Granados, Verdi, Mendelssohn, Massenet, Strauss, Brahms, Beethoven (em disco) e Leoncavallo seriam compositores interpretados nesse dia. Se a música séria (ou clássica) tinha identificação, o mesmo não acontecia com a música de discos, então ainda com menos dignidade. Quanto a CT1GL (Rádio Clube Português), a emitir ao fim da tarde e noite, mantinha uma forte programação de música clássica, em especial a tocada pelo quarteto da estação. Um noticiário e música ligeira (de baile) eram outros elementos constituintes da sua programação. Esta tornar-se-ia mais popular poucos anos depois, ao passo que a Emissora Nacional começaria em 1948 a ter desdobramento de programas de música ligeira e música clássica.







terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Indústrias criativas - um apontamento


Segundo o DMCS (Department for Communication, Media and Sports, Reino Unido), indústrias criativas são as indústrias que têm origem na criatividade, competências e talento individuais com potencial para criar riqueza e emprego através da geração e exploração da propriedade intelectual. O conceito nasceu na Austrália e no Reino Unido no final da década de 1990. Engloba actividades como cinema, televisão, fonografia, videojogos, imprensa, teatro, software de entretenimento, festivais, publicidade, museus e património cultural. Para Rosamund Davies e Gauti Sigthorsson (Introducing the Creative Industries, 2013), as indústrias criativas compõem-se de três características: criatividade humana, veículos de mensagens simbólicas e propriedade intelectual. Se, em alguns países, as indústrias do audiovisual são fortes, noutros países elas ligam-se ao património cultural, ao turismo e acesso a locais de beleza natural ou habitat de animais.

Escaroupim, perto de Salvaterra de Magos e junto ao rio Tejo, é uma aldeia conhecida pelas casas dos avieiros (pescadores oriundos de Vieira de Leiria) e pelas colónias de garças, que se podem observar na primavera.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Ainda bem que me pergunta - a minha homenagem a Daniel Ricardo


Tinha 73 anos, exercia ainda funções de editor executivo do gabinete editorial da Visão, revista de que foi fundador. No começo da década de 1960, frequentou até ao quarto ano a Faculdade de Direito de Lisboa, onde foi dirigente da Associação de Estudantes. Para o jornalismo, entrou em 1968, no vespertino A Capital, onde cedo chegou a a funções de chefia. Trabalhou ainda nas seguintes publicações e jornais: Flama, O Século Ilustrado, Diário de Notícias, O Diário, Sete e O Jornal. Militante do Partido Comunista, pertenceu aos corpos gerentes do Sindicato e do Clube dos Jornalistas e integrou o secretariado da Comissão da Carteira Profissional.  Desde 1978, dedicou-se também ao ensino do jornalismo, como colaborador do CENJOR (Centro de Formação de Jornalistas) e coordenou o curso de pós-graduação em jornalismo Impresa e Universidade Nova de Lisboa a partir de 2011. Faleceu no final da semana passada.

Escreveu os livros de estilo de O Diário, O Jornal e Visão e foi autor dos livros Manual de Jornalismo e Ainda bem que me pergunta. Manual de escrita jornalística, este último publicado em 2003 e que analiso agora. No livro, o autor parte do princípio de que escrever, para o jornalista, é para ser lido. Daí, relevar a linguagem do jornalismo e os objectivos do profissional: informar, explicar, convencer, divertir, não esquecendo que o faz para públicos diferentes. Lema: para escrever bem, é preciso pensar bem. Em que o talento literário aparece como fundamental.

Se a literatura é uma arte, o jornalismo surge como uma técnica de comunicação - as fronteiras, as diferenças e as qualidades das duas disciplinas. No texto jornalístico, continua o autor, interessa o conteúdo: informações e explicações objetivas dos episódios da realidade social. Pelo que cabe à escrita jornalística tornar as mensagens informativas e explicativas o mais acessíveis e atraentes. A escrita jornalística faz-se por meio de frases curtas, verbos no indicativo e na voz ativa, com linguagem simples e afirmativa.

O uso de vocabulário  nas peças jornalísticas constitui um elemento útil a observar. Os leitores conhecem em média o significado de três mil vocábulos. O autor reduz mesmo para 2200 palavras o indispensável e conta que Manuel da Fonseca, nos seus romances, não utilizou mais do que 500 palavras etimologicamente diferentes. Nas suas peças (notícia, reportagem, entrevista, crónica, comentário), o jornalista precisa de escrever de modo simples, direto e sem uso de charadas. Para escrever bem, identifica Daniel Ricardo, é preciso ler muito, como romances policiais (para ganhar ritmo e lógica de narração) e jornais, compreender a linha editorial do meio em que trabalha e estar em formação (aprendizagem) contínua.

Num jornal diário, um texto não deve ultrapassar 450 palavras. Mesmo assim, lê-lo-ão apenas 29% dos leitores. Cada período do texto não pode ultrapassar 36 palavras, havendo quem defenda 15 palavras como tamanho de boa compreensibilidade [no período, eu usei 19 palavras]. Sobre o ritmo da escrita, o autor usa metáforas radiofónicas: o locutor que apresenta música clássica fala lentamente, para criar um ambiente agradável, ao passo que o relatador desportivo acelera a sua descrição quando o jogador se aproxima da baliza e remata, a criar uma grande expectativa.

O livro fala de estilos, títulos, leads, leis de proximidade (valores-notícia), verbos, grafias, livro de estilo, siglas e acrónimos, elipses e editoriais. Um livro adequado para ensinar a profissão aos novos jornalistas.

Leitura: Daniel Ricardo (2003). Ainda bem que me pergunta. Manual de escrita jornalística. Lisboa: Editorial Diário de Notícias, 252 páginas

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Eugénia Maria

Vera Lagoa (pseudónimo de Maria Armanda Falcão, a primeira apresentadora das emissões experimentais da RTP em Setembro de 1956) teve uma coluna popular no Diário Popular, chamada Bisbilhotices. Na de 7 de Fevereiro de 1968, ela escreveu sobre uma locutora - Eugénia Maria - e a sua homenagem por ter ganho um prémio da Casa da Imprensa. Como coluna de mexericos sociais, retiro uma frase do texto: "Eugénia estreou um vestido que a emagrecia imenso, de gola e punhos brancos, que foi muito admirado". Na prosa, não sabemos qual o prémio que ela ganhou, nem o programa (Talismã, Rádio Clube Português) nem o produtor (Gilberto Cotta, e não somente Cotta), mas ficamos a conhecer a impressão causada pelo vestuário. Vera Lagoa foi, no meu entender - para além das opiniões políticas que ela produziu em semanário muito posterior a esta data -, o modelo de comentário das revistas populares, de televisão e cor de rosa que existem hoje.


sábado, 14 de fevereiro de 2015

A cultura no período de "olhar para dentro"

O título do volume 4 da História Contemporânea de Portugal - 1808-2010, dirigido por António Costa Pinto e Nuno Gonçalo Monteiro, é muito interessante: Olhando para Dentro, 1930-1960. O volume tem coordenação de José Luís Cardoso e contém capítulos assinados por José Luís Cardoso ("As chaves do período"; "O processo económico"), Bruno C. Reis ("A vida política"), Pedro Aires Oliveira ("Portugal no mundo"), Álvaro Garrido ("População e sociedade") e Daniel Melo ("A cultura").

O texto que mais interesse me despertou seria o de Daniel Melo pelo tema, com 33 páginas. Destaco os subtítulos: "Introdução: discursos e instituições oficiais de enquadramento"; "Literatura, imprensa e leitura"; "Artes plásticas e arquitectura"; "Teatro e cinema"; "Música e dança"; "Rádio e televisão"; "Mostrar Portugal a si mesmo e aos outros"; "Tertúlias, cafés e tabernas"; "Festas, desporto e lazeres vários"; "Universos socioculturais alternativos"; "Educação". Daniel Melo identifica autores, obras, acontecimentos, interliga grupos e correntes, tudo com uma escrita leve e muito atraente. Da minha leitura, o subtítulo sobre a rádio e a televisão é menos importante, talvez porque eu tenha trabalhado esses tópicos e não há surpresas, mas os últimos subtítulos fornecem informação e, acima de tudo, mostram uma riqueza de propostas e realizações de trabalho cultural mesmo sob a tutela de um regime político opressor e conservador.

Leitura: José Luís Cardoso (coord.) (2014). Olhando para Dentro, 1930-1960. In António Costa Pinto e Nuno Gonçalo Monteiro (dir.) História Contemporânea de Portugal - 1808-2010, 4º volume. Madrid e Lisboa: Mapfre e Penguin Random House, 252 páginas, 17,5 euros

Guadiana

Alcoutim (Algarve), Terena, Mértola, Mourão, Juromenha, Monsaraz, Reguengo de Monsaraz, Vila Viçosa e Alandroal (Alentejo).

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Diário Popular

O Diário Popular foi fundado em 1942 e manteve-se como jornal vespertino lisboeta até 1991. Em 1962, com grafismo da agência de publicidade APA foi editado um livro-folheto sobre a actividade do jornal (as imagens seguintes representam algumas das páginas da publicação). Da sua leitura, apuramos o seguinte: António Tinoco, então secretário-geral da Caixa Sindical de Previdência do Pessoal da Indústria de Lanifícios (rua da Trindade, 20, 2º, Lisboa), reuniu com Brás de Medeiros e Barradas de Oliveira, com o objectivo de fundar um jornal (que evoluiu da ideia inicial de semanário para a de diário), dedicado às finanças e à política (depois transformar-se-ia, dando azo ao seu nome, em jornal popular e com muito espaço dedicado ao lazer e ao entretenimento). Dos accionistas fundadores do  Diário Popular, incluem-se os nomes de Carlos Alberto Farinha, Domingos Ferraz de Carvalho Megre, Francisco Pinto Balsemão e Henrique Pinto Balsemão (familiares do criador do semanário Expresso). Dos jornalistas iniciais, o diário contou com Fernando Teixeira, José de Freitas, Carlos Neves, José Augusto e outros.

Com o tempo, o jornal dispôs de gráfica e distribuidora próprias. Se em 1942 a edição média diária tinha 25 mil exemplares, em 1962, o jornal atingia uma tiragem média de 86 mil exemplares. O jornal custava um escudo.




 

A publicação tinha, a meu ver, um objectivo muito claro: mostrar aos anunciantes a capacidade e o impacto do jornal. Os seus responsáveis estimavam que cada exemplar alcançava várias pessoas, num total de cerca de 400 mil pessoas diariamente. Há um outro elemento muito objectivo, que me deu particular atenção: a censura, palavra repetida ao longo do texto. Sobre o repórter fotográfico, que se deslocava ao local do acontecimento, lia-se: "Num caso de crime tem actuação quase nula, graças à Censura. Mas, tratando-se de desastres, não rara se converte em vedeta da equipa adstringida a um serviço de rua". A censura deixava passar o acidente (relacionado com o destino e a natureza, interpreto) mas não o crime (coisa hedionda da mente humana, que o regime não tolerava).


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Televisão digital terrestre

Não sou especialista em televisão digital terrestre e apenas tenho como base a notícia do Expresso de hoje ao começo da tarde. Mas há algo que não me parece bem nessa notícia. Sobre a televisão digital terrestre, o ministro da tutela diz querer encontrar uma solução até ao final da legislatura, pois a tecnologia é uma das questões que o têm frustrado mais. Lamenta até que a tecnologia esteja a morrer. Para o ministro, um só canal (além dos quatro generalistas) não faz sentido mas reconhece que o problema jurídico para aumentar o número de canais seja complexo. Pela notícia, fica-se a saber que a Anacom [Autoridade Nacional das Comunicações] vai efectuar uma alteração tecnológica, presumo que obrigando o operador a melhorar a cobertura.

Sei que, durante muito tempo, se discutiu a televisão digital terrestre e que ela entrou tarde de mais no país, com uma discutível porque incompleta cobertura no país e num momento de dificuldades de investimentos publicitários, que não tornaram atraente a tecnologia que substituiu a forma mais antiga de propagação da televisão por feixes hertzianos. Mas, agora que a televisão por cabo tem uma larga preponderância em termos de espectadores, há interesse na tecnologia aerial? E quais são as empresas que querem colocar publicidade no sistema? A tecnologia traz acréscimos de interactividade? E não se fala mais na migração da rádio para o digital?

Os media e o movimento de 25 de Abril de 1974

Foi tema de uma investigação pelos alunos de comunicação social e cultural da Universidade Católica (cartaz de Daniela Trony). A professora Ana Paula Rias escreveu no começo do ebook ontem apresentado: "No início deste semestre, os alunos fizeram-me uma proposta irrecusável, a de repetir a experiência de um workshop, referindo o quanto tinham apreciado essa tarefa que os levara à Biblioteca Nacional, à Torre do Tombo, à Fundação Mário Soares, ao Centro de Documentação de Coimbra, ... Afinal ao contacto directo com as fontes. Tiveram os jornais nas mãos, os documentos, as cartas, as fotografias, ouviram intervenientes, jornalistas, recolheram inúmeros testemunhos e foram obrigados a sistematizar toda a informação recolhida em oito páginas, respeitando os critérios formais e respeitando as etapas da investigação histórica". Os alunos entrevistariam José Marques Vidal, Carlos de Almada Contreiras, Maria José Morgado, Marcelo Rebelo de Sousa, Vasco Lourenço, Guilherme de Oliveira Martins, Alberto Silva, Fausto, Maria Conceição Moita, Jorge Wemans, José Pedro Castanheira, Joaquim Vieira entre outros.


Ontem, Joana Reis, jornalista da editoria de política desde 2004, com a mesma licenciatura dos alunos agora autores do ebook, falou do seu livro A Transição impossível: a ruptura de Francisco Sá Carneiro com Marcello Caetano (2010, Casa das Letras) [imagem da mesa em cima; vídeo a seguir].

Fotografia na Gulbenkian

Modernidades: Fotografia Brasileira (1940-1964) é o título da exposição a inaugurar na Fundação Gulbenkian (Galeria de Exposições Temporárias), integrada no programa Próximo Futuro.

Cultura no Teatro Municipal Rivoli (Porto)



terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

L'évolution de la Radio à travers les deux guerres mondiales

"Lorsqu'on étudie l'histoire des sciences, on est souvent amené à se demander pourquoi une invention a été créée, quelles ont été les conditions absoluement nécessaires à sa conception à un moment donné. Selon Patrice Flichy, chaque invention majeure est le fruit d'un certain nombre d'avancées scientifiques, mêlées à un mouvement social1. La radio n'est pas reste : son invention peut s'expliquer à la fois comme étant une nécessité sociale, mais également comme résultant de la révolution scientifique de l'électromagnétisme et d'expériences réalisées sur les ondes par de nombreux inventeurs à la fin du siècle. Quels sont les facteurs sociaux, les découvertes et les expériences qui ont mené à l'invention de la radio à la fin du XIXe siècle"? (L'évolution de la Radio à travers les deux guerres mondiales).



Válvulas electrónicas de John Ambrose Fleming e pintura de Yves Tanguy (1936), Le nid de l'Amphioxus.


Rádio em FM na Índia

Os disfóricos passam o tempo a dizer que a rádio vai desaparecer. Primeiro, porque o vídeo matou a rádio, como dizia uma canção muito popular, depois, porque a internet está a transformar os media no geral. Mas o mundo é muito grande e há tendências imprevistas e muito curiosas. Assim, na Índia, a rádio FM está em franco progresso.

Explico melhor: em texto publicado na revista Media, Culture & Society (2014), Biswarup Sen conta como a rádio FM está em expansão na Índia. A tecnologia foi introduzida no país em 1977, mas pode dizer-se que começou em 2001 quando foi lançada a primeira estação privada em FM, a Radio City, em Bangalore. Em Fevereiro de 2013, havia já 266 estações privadas de FM em 87 cidades indianas. A rádio em FM tornou-se sinónimo de cultura juvenil e estilos de vida modernos. Durante o século XX, a rádio na Índia foi organizada em moldes nacionalistas, incluindo infraestruturas e conteúdos, em especial após a independência face a Inglaterra e controlada pelo Estado. A onda de transmissão era a de AM (modulação de amplitude), com a primeira rádio a emitir em 1927 (Indian Broadcasting Company). Em 1974, por exemplo, a rádio em AM servia 80% da população. Os grandes temas eram reportagens do governo sobre desenvolvimento, palestras educacionais para jovens e pobres urbanos e rurais e música e programas ligeiros, sem qualquer intenção de enfoque de cidadania.

Sen apresenta três momentos no desenvolvimento da rádio FM na Índia: liberalização da economia no começo da década de 1990, desenvolvimento da televisão no período 1980-2000 e crescimento de uma cultura de mercado que redefiniu a natureza da audição e do consumo. Para o autor, os acontecimentos após 1991, com a liberalização da economia que levou ao fim o modelo de economia mista socialista, influenciaram o potencial da rádio em FM, com o reconhecimento da importância da propriedade privada e o novo impacto da televisão (introdução da cor na televisão em 1982 e transmissão do campeonato mundial de críquete em 1983, o que levou a um maior consumo no audiovisual e a um repensar do panorama da rádio e da televisão a nível nacional). O alargamento da classe média em todo o país levou a um diferente nível de consumo, que beneficiou a rádio.

Leitura: Biswarup Sen (2014). "A new kind of radio: FM broadcasting in Índia". Media, Culture & Society, vol. 36(8): 1084-1099

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Rádio como meio resiliente


Foi em Setembro de 2013 que se realizou a terceira conferência  da secção de rádio da ECREA na universidade de Sunderland, em Londres. No final do ano passado, com edição do Centre for Research in Media and Cultural Studies, foi lançado o livro Radio: the Resilient Medium. Papers from the Third Conference of the ECREA Radio Research, editado por Madalena Oliveira, Grazyna Stachyra e Guy Starkey, contendo comunicações então apresentadas. São 24 capítulos divididos em três partes: tecnologias, geografias e histórias. Iniciado em 1906 com a experiência de Reginald Fassbinder, que emitiu música e palavra, já na década de 1920 inauguravam-se os serviços de radiodifusão sem fios. Depois, a rádio tornou-se portátil com o transístor e interactiva com o computador e a internet. Dos 24 capítulos, há três do grupo de rádio da SOPCOM: Madalena Oliveira, Ana Isabel Reis e Rogério Santos.

Leitura: Madalena Oliveira, Grazyna Stachyra e Guy Starkey (ed.) (2014). Radio: the Resilient Medium. Papers from the Third Conference of the ECREA Radio Research, Sunderland: Centre for Research in Media and Cultural Studies, University of Sunderland, 311 páginas.

Carlos Carreiro


De Carlos Carreiro, que Maria João Fernandes situou entre o surrealismo, o novo-realismo e o novo romantismo, com raiz na pop-art ou na nova figuração surrealizante entre o naif e o erudito, num texto publicado na revista Colóquio Artes, Abril de 1995) e Fernando Pernes chamou o Hierónimus Bosch da sociedade de consumo», está em exposição no Centro Cultural de Cascais até 12 de Abril de 2015. É uma exposição de mais de sessenta trabalhos feitos e guardados na posse do artista durante 47 anos. Para o pintor, "ao reunir nesta exposição Carlos Carreiro na colecção de Carlos Carreiro uma série de obras essenciais, tenciono evocar aqueles que sempre apreciaram a minha pintura, e apresentá-la a quem não conhece, principalmente os mais novos, pois ultimamente eu e muitos outros artistas não fazemos parte dos figurantes que são insistentemente divulgados nos media".

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Filarmónica Reguenguense

Johan de Meij (nascido em 1953) estudou trombone e direcção de orquestra no Conservatório Real de Música de Haia (Holanda) e é conhecido pela composição do Senhor dos Anéis. Agora, ouvi-o em Extreme Make-Over, pela Banda da Sociedade Filarmónica Harmonia Reguengense ( Reguengos de Monsaraz). Quando a intérprete e apresentadora do programa falou da peça, dizendo "espero que gostem", fiquei a observar a reacção do auditório, devido à experimentalidade. Mas a assistência ao concerto do 129º aniversário da Banda da Sociedade Filarmónica Harmonia Reguengense ontem mostrou-se madura e calorosa. Tocaram-se ainda, dentro do programa anunciado, obras de Julius Fucik, Helder Bettencourt, Dmitri Shostakovich, James L. Hosay e Bill Whelan, sob a direcção do maestro António Menino. Foi um espectáculo inolvidável naquela cidade alentejana (ver a página do Facebook da Filarmónica).


sábado, 7 de fevereiro de 2015

Prémio para indústrias criativas

"Unicer e Serralves andam à procura de ideias e negócios inovadores na área das indústrias criativas", assim começa o artigo publicado no d (Diário de Notícias), de hoje. Ver também aqui.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

António Pinto Ribeiro coordena actividades culturais na Gulbenkian

António Pinto Ribeiro, que tem dirigido o programa Próximo Futuro da Fundação Calouste Gulbenkian, vai passar a coordenar todos os serviços da fundação com oferta cultural, incluindo o Museu Gulbenkian, o Centro de Arte Moderna e o Serviço de Música. As suas responsabilidades assentam, assim, nas áreas das artes plásticas, cinema, colecções permanentes e música. Mais concretamente, ele será um coordenador-geral de programação e não um mega-director artístico. António Pinto Ribeiro foi director artístico da Culturgest nos primeiros dez anos de vida da instituição e tem uma longa carreira como comissário de exposições e programador cultural (a partir de notícia do jornal Público). Votos de muitos sucessos ao António.

O fim de Café Portugal?

Recebi a informação que Café Portugal fecha hoje. Para o seu responsável, Rui Dias José, "Apesar de termos conseguido posicionar uma revista (que "apenas" conta o país local e regional) entre as 70 maiores páginas portuguesas (dados Marktest), [que] no Facebook o Descobrir PORTUGAL lidera há cinco anos as páginas portuguesas de Turismo (http://www.fbrankpt.com/index.php/marcas/sector/29), ao longo destes seis anos nunca consegui nenhum reconhecimento, nem tive sequer capacidade para vender o trabalho da revista. Não logrei obter apoios oficiais...! Qualquer empresa teria evidentes ganhos de imagem se surgisse como apoiante/patrocinadora destes projectos de interesse colectivo e de grande visibilidade e notoriedade pública - que lhe permitiriam ficar credora de reconhecimento publico enquanto viabilizadora de um trabalho deste tipo. Mas eu não consegui chegar lá. E não posso culpar ninguém pela minha ineficácia. Limito-me a fechar portas com mágoa(s)".


Eu habituei-me a ler a informação interessante e útil de Café Portugal. Tenho pena que tal aconteça. Não se pode tentar um apoio institucional, logo agora que as autoridades falam em 2014 como o melhor ano de turismo desde sempre no país?


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Almanaque

Hoje, arranca o projecto Almanaque, produto editorial desenvolvido com os olhos postos em arte, livros, ócio, gastronomia, viagens, música, design, beleza, ilustração e pessoas relevantes. Em Março, o grupo dinamizador do projecto abre portas para uma festa. O público-alvo do Almanaque situa-se entre os 18 e os 45 anos, com particular interesse em assuntos actuais, cultura, lazer, tendências, boas escolhas gastronómicas e estímulos visuais (informação da organização).


Media, transportation and society: reflections on their transformations

"The text seeks to understand the relationship between means of communication and transportation in society and stresses the impact of new electronic devices on people’s lives and, especially, on their holidays and free time. Having as a base the empirical observation and the readings already done, my text stems from two ideas as theoretical hypothesis, the first one being that people, while on a nomadic life during their holidays, do not abandon routine tasks such as checking their email. The second one is that, in spite of the fact that the postmodern idea of global village means similarity, each place is different, which makes people travel to know them. Although unable to produce a scientific confirmation, due to the casual and superficial contact with reality, I detected two types in the observation: short connection time, use of computer for useful purposes (email, social networks). Besides the computer, which they carried in hand, indicating that they were going from their place of residence during the holidays to the café, people used the mobile phone. Thus, the esplanade, the café and the garden become places that are also virtual, of contact not only with the people who are sitting at a table or bench, but equally around the world, prolonging the idea of public space in Habermas (1984). For me, communication and transportation follow distinct but close lines. The starting questions for this text are: which developments in transportation and communications? Which permanent reconfigurations in the two activities? In the 21st century, which are the most important: those in transportation or in media? If the media adopted the possibilities of transportation (mobility, speed), what is the impact? To pursue with an analysis, I evoke curious events from the history of Portuguese media, from my investigation in the area, and recognise the theoretical debt owed to texts by Carey (1992) and Urry (2003, 2010)" (paper presented at 6th Annual Communication Graduate Caucus (CGC), Conference Neglected Media, Carleton University, Ottawa, Canada, March 2011; view full paper here).

O jornalismo a partir das memórias do jornalista

Manuel Dias entrou como jornalista em 1953 no Diário do Norte (Porto). Depois, em 1967, entrou para o Comércio do Porto, e em 1974 para o Jornal de Notícias.

Embora o texto que aqui refiro não tenha um cunho cronológico e sociológico, retenho elementos importantes para caracterizar o jornalismo daquele período, a partir das memórias que Manuel Dias vai deixando nos sucessivos capítulos. Alguns outros elementos marcam o livro, como a formação dos jornalistas, a deontologia da profissão, a importância da reportagem e a necessidade de se escrever bem em português.

Do estágio inicial no Diário do Norte, o jornalista evoca as práticas: as peças jornalísticas baseavam-se em factos e não em comentários atribuídos a fontes fidedignas ou anónimas, apesar do peso da censura (e das tertúlias à mesa do café, em que se comentavam episódios da censura). À falta de formação prévia, os novos jornalistas iam adquirindo conhecimentos e cultura. Acrescento: através de uma linguagem popular e de proximidade, como todo o livro de Manuel Dias expressa. O Diário do Norte concorria com três outros jornais do Porto: Comércio do Porto, Primeiro de Janeiro e Jornal de Notícias. De todos, o jornal em que o autor trabalhava era o que tinha menos recursos, propriedade da Empresa Nacional de Publicidade. Os repórteres do seu jornal, mas também dos outros, tinham de procurar acontecimentos para escrever as suas notícias, do mais insignificante acidente de viação às ocorrências solenes. Manuel Dias anota no texto a "convivência" entre jornalistas defensores da liberdade de informação e jornalistas afectos ao regime de ditadura e realça a unidade da classe em torno dos ideais da profissão (embora não especifique muito como decorria essa "convivência").

De O Comércio do Porto, o autor dá uma imagem muito positiva do tempo em que se transferiu para lá. O jornal, ideia de Bento Carqueja, era então propriedade da família Seara Cardoso. Em 1973, devido a dificuldades financeiras, o jornal foi vendido ao grupo Banco Borges & Irmão, perdendo a identidade independente até aí marca de identidade, mau grado toda a pressão política do regime do Estado Novo. Manuel Dias diz que a morte do jornal começaria aí. Do Jornal de Notícias, não revela tantas memórias, mas vê-se que deu muita alegria ter por lá passado como profissional.

Sobre o título do livro, o autor dedica um capítulo. Ele atribui o desaparecimento dos jornais em papel à situação de crise financeira instalada mundialmente em 2008, embora não adeque a decadência do jornalismo impresso à concorrência de outros meios como a internet. Mas observa os valores antagónicos de bem informar e o interesse comercial dos proprietários dos media.

Leitura: Manuel Dias (2010). Jornal de Papel no Corredor da Morte: Porto: Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, 101 p., 10 €

Conversas com o Público em Almada

O ciclo Conversas com o Público no Teatro Municipal Joaquim Benite (TMJB, Almada) continua no dia 7 de Fevereiro, sábado, às 18:00. A conversa é sobre o espectáculo O Contrabaixo, encenação de António Mercado que parte do texto de Patrick Süskind (autor de O Perfume), em cena na Sala Experimental do TMJB entre 5 e 8 de Fevereiro. Para além de António Fonseca, actor que protagoniza o espectáculo, estarão presentes na conversa o contrabaixista Pedro Wallenstein e a professora universitária, dramaturgista e tradutora Vera San Payo de Lemos (informação da organização).


terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Paisagens aéreas

Quando viajamos de avião, temos um olhar diferente sobre a natureza e o edificado pelo homem. O ângulo é essencial. Benjamin Grant, também inspirado pelas descrições e imagens dos astronautas sobre o impacto do desenvolvimento humano na Terra, criou, a partir do Google Earth, imagens impressionantes de satélite no sítio http://www.overv.eu/, que se aproxima muito da pintura abstracta (ou esta daquela, não importa) [imagens do sector industrial de Tokai, Aichi, Japão, e campos de tulipas, Lisse, Holanda].



Ainda a tertúlia e apresentação do livro A Rádio em Portugal (Alcoutim, 23 de Janeiro)

"Que melhor cenário para apresentar um livro sobre a história da rádio que no meio de uma colecção de aparelhos de rádio antigos? Foi isso mesmo que aconteceu sexta-feira à noite, na Casa dos Condes, a biblioteca municipal de Alcoutim. A Rádio em Portugal: sempre no Ar, sempre consigo é o título do livro que o seu autor, o investigador e professor universitário Rogério Santos, apresentou perante uma sala cheia de gente interessada. A colecção de rádios antigos pertence a Orlando José, um designer de interiores reformado, que agora vive em Alcaria dos Javazes, já no concelho de Mértola, mas bem perto de Alcoutim. O coleccionador, que também assistiu ao lançamento do livro, contou ao Sul Informação que, ao longo dos anos, reuniu perto de 120 aparelhos. O mais antigo é um Phillips de 1927, que pode ser visto até 30 de Janeiro, na exposição Memórias da Telefonia, na Casa dos Condes, à beira do Guadiana. Mas voltemos ao livro sobre um período de afirmação da rádio em Portugal (1941–1968), abordando temáticas como os géneros radiofónicos, a publicidade, o papel da censura durante o Estado Novo e a mulher enquanto locutora e produtora. A obra foi apresentada por Adelino Gomes, jornalista e professor, ele próprio uma das grandes figuras da rádio portuguesa das últimas quatro décadas. Adelino Gomes lembrou que o subtítulo do livro, Sempre no Ar, Sempre consigo, era o slogan lançado pelo Rádio Clube Português, em 1963, quando esta, que era uma das grandes estações nacionais daquela época, se tornou a primeira a emitir 24 horas por dia, sem interrupções. Pelo meio de muitos episódios, incluídos no livro de Rogério Santos, que recordou com o seu habitual estilo vivo, Adelino Gomes realçou o rigor da investigação do autor e foi-o instando a dar continuidade ao trabalho, desvendando páginas ainda não escritas da história da rádio em Portugal. O jornalista falou ainda um pouco da actual fase da rádio e dos media em geral, que classificou como uma «transição incerta, na medida em que não sabemos onde nos irá conduzir», para sublinhar que «hoje em dia já não há um jornal que seja apenas jornal. É também um pouco rádio, um pouco televisão». O livro, editado pela Colibri – cujo editor Fernando Mão de Ferro também esteve presente – foi apresentado durante a quinquagésima tertúlia A Palavra Sexta à Noite. Desde cedo que Rogério Santos considera a rádio um elemento místico: «na magia da infância, procurei o dono da voz por detrás da telefonia, mas ele não estava, o que aumentou o meu fascínio e curiosidade»" (texto e fotografia de Elisabete Rodrigues, directora do Sulinformação, a quem agradeço).

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A Imagem da Cidade

O Instituto Português de Fotografia inicia em 2 de Março, às 19:30, o curso A Imagem da Cidade. O workshop tem 27 horas de duração. Com sessões teóricas e práticas, dá orientações sobre "fotografia da paisagem urbana e sua capacidade de crítica e de análise, lançando as imagens obtidas para além dos limites de arquivo de memória. Faculta alguns conhecimentos sobre a utilização técnica da câmara fotográfica e do seu aproveitamento como instrumento de criação artística". O curso confere certificado de frequência (informação da organização).

Cinemateca

A Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema está a celebrar 15 anos do Laboratório de Restauro. Ver mais aqui.

Sobre Robert Bresson, "Esta não é a primeira retrospectiva integral de Robert Bresson (1901-1999) na Cinemateca, nem será certamente a última, mas é mais uma oportunidade para mostrar a totalidade da sublime filmografia de um dos maiores cineastas de sempre que, inexplicavelmente, nos últimos anos de vida, não conseguiu reunir os meios para continuar a filmar" (da informação da Cinemateca).

Festival Córtex

A 5ª edição do Festival Córtex 2015 – Festival de Curtas Metragens, vai decorrer no Centro Olga Cadaval, em Sintra, entre 12 e 15 de Fevereiro. O festival seleccionou 16 filmes para a competição nacional produzidos entre 2013 e 2014 e para a competição internacional 12 filmes produzidos entre 2013 e 2014. O festival deste ano, que dedica o dia de abertura a um grande vulto do cinema europeu, Lars von Trier, vê nascer uma competição a pensar no público infantil. Ler mais em http://www.festivalcortex.com/.


domingo, 1 de fevereiro de 2015

As histórias do senhor Keuner

Ontem, o narrador do senhor Keuner vestia gravata e colete, fumou meio longo charuto, cujo fumo flutuava no ar por entre a luz vinda da janela à esquerda, pondo e tirando os óculos. Ora, sentado, ora deambulando pela sala, mas também olhando o público, o narrador contava as histórias daquela personagem algo estranha que Bertolt Brecht construiu ao longo de trinta anos. As histórias raramente ultrapassavam a página e reflectiam cenas do quotidiano ou grandes factos mas sem os pormenorizar, de modo que ficavam quase abstractos. O narrador falava ou lia de vários volumes que ia consultando sobre Keuner, que era um misto de professor e filósofo. Por vezes, os argumentos trazidos despertavam ironia, um riso baixinho ou deixavam pensar. Na realidade, a vida tem surpresas a par de rotinas e o indivíduo precisa de estar preparado para as conhecer e enfrentar. Daí, que a peça de Brecht contenha um elemento pedagógico a considerar mais do que o olhar político habitual das suas obras.

O narrador foi interpretado por João Meireles, com encenação de Jorge Silva Melo para os Artistas Unidos.