quarta-feira, 13 de agosto de 2008

FÉRIAS


As férias estão a chegar. O blogueiro regressa em Setembro. Continuem a preferir e visitar o Indústrias.

CARACTERÍSTICAS DESTE BLOGUE


Da análise do Clicky aos meus visitantes, num período entre ontem e hoje, detectaram-se as seguintes regularidades em termos de temas e cidades que os leitores procuram:


Há tendências: um grande peso do termo indústrias culturais, o centro do blogue, seguindo-se temas de actual agendamento como o jornal O Primeiro de Janeiro, pelo processo fecha-não fecha o jornal, e notícias relacionadas com Beijing (Pequim), devido aos jogos olímpicos. Das cidades de onde provém a procura, Lisboa vem à frente, mas seguem-se várias cidades do Brasil, como S. Paulo e Rio de Janeiro, com o Porto no meio.

FÓRUM CULTURA E CRIATIVIDADE


O Fórum Cultura e Criatividade 2008, a decorrer na Exponor (Matosinhos) de 19 a 23 de Novembro, é uma iniciativa da Agência INOVA em colaboração com o Ministério da Cultura e o Ministério da Economia e Inovação.

Integra três actividades: 1) Debates FCC (Gestão Pública e Gestão Privada na Cultura), 2) TEMPUS (I Salão Internacional dos Museus e do Património) e 3) CONCEPTA (I Feira Internacional de Arte, Cultura e Indústrias Criativas).

Destaco Marcas de Cultura e Marcas na Cultura (dia 21, dia inteiro), I Encontro Internacional de Cidades e Bairros Criativos (dia 22, dia inteiro) e Encontro Informal de Blogues de Cultura e Criatividade (dia 23, parte da tarde).

Mais informações no sítio
www.inovaforum.org.

RESPONSABILIDADE SOCIAL DOS MEDIA


Nos últimos anos, o termo accountability está na ciência política latino-americana como sinónimo de mecanismos que possibilitam a responsabilização das pessoas que ocupam cargos públicos, eleitas ou não, pelos seus actos à frente das instituições do Estado (Paulino, 2008: 12). Para além dos poderes Judicial, Executivo e Legislativo, pressupõe a existência de agências com autoridade legal, dispostas e capacitadas para empreender acções que vão do controlo rotineiro até sanções legais. A accountability estende-se a jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão.

O trabalho onde o tema responsabilidade social é desenvolvido resulta da tese de doutoramento de Fernando Paulino, defendida este ano na Universidade de Brasília. Aí se pretende identificar e avaliar iniciativas estabelecidas dentro dos chamados Meios de Assegurar a Responsabilidade Social dos Media (MARS), na tentativa de os aplicar à realidade brasileira (Paulino, 2008: 13). Ele segue autores como Claude-Jean Bertrand (2002), Eugene Goodwin (1993) e Hugo Aznar (1999), que consideraram a Teoria da Responsabilidade Social da Imprensa como base para um sistema de jornalismo ético que obrigue os comunicadores a se responsabilizarem perante o público, com prestação de contas das suas actividades (Paulino, 2008: 15).

Tal inspira-se, por seu lado, nas actividades da Comissão sobre Liberdade de Imprensa (Comissão Hutchins), constituída em Dezembro de 1942, a partir do financiamento de Henry Luce, um dos fundadores da revista Time. Robert Maynard Hutchins foi convidado para coordenar uma pesquisa que revelasse “o estado actual e as perspectivas futuras da liberdade de imprensa”. O resultado do trabalho da Comissão foi A Free and Responsible Press a General Report on Mass Communication: Newspapers, Radio, Motion Pictures, Magazines, and Books, publicado em 1947. O documento, onde se temia que a concentração de propriedade nas mãos de um número mais pequeno de empresas pudesse resultar num monopólio de ideias (Paulino, 2008: 21), provocou polémica ao indicar a criação de um órgão independente que avaliasse a actuação dos media. As críticas vinham de muitas instituições de comunicação, que temiam que as regulamentações se materializassem em interferências restritivas à liberdade de imprensa (Paulino, 2008: 19).

O termo accountability, que não tem uma tradução exacta na língua portuguesa, refere a obrigação de membros de um órgão administrativo ou representativo prestar contas a entidades controladoras ou ao seu público (Paulino, 2008: 87), sendo traduzido frequentemente por responsabilização ou prestação de contas. Paulino (2008: 27) ressalta o crescimento da atenção dos media, em especial as referentes a actividades de promoção da saúde, infância, meio ambiente e desenvolvimento sustentável por parte das empresas.



Ele dá ênfase a um dos tipos de accountability, a social (elenca mais duas, horizontal e vertical), concepção baseada numa matriz teórica que partilha da ideia de que o controlo da acção governamental pela sociedade constitui uma especificidade (Paulino, 2008: 94), mecanismo de controlo não eleitoral, envolvendo elementos institucionais e não institucionais assentes na acção de múltiplas associações de cidadãos, movimentos sociais ou media, com o objectivo de dar visibilidade a erros e falhas do Estado, trazer novos pontos à agenda pública ou influenciar decisões políticas.

O autor segue de perto o modelo de Claude-Jean Bertrand dos MARS (Meios para Assegurar a Responsabilidade Social dos Media), os quais incluem colunas de correcção de erros, secções de cartas dos leitores, colunas do provedor dos leitores, revistas de jornalismo, observatórios de imprensa e códigos de ética dos media (Paulino, 2008: 104). Paulino (2008: 256) referencia igualmente associações de telespectadores e blogues que levam os media a prestar contas. Na investigação, foi feito um levantamento exaustivo das competências assumidas pelas entidades reguladoras dos media em Espanha e em Portugal, caso da ERC, modelos que o autor entende úteis para a implementação da responsabilidade social dos media no Brasil. O trabalho de Fernando Paulino - "correspondente" do Indústrias Culturais em Brasília - incluiu entrevistas feitas a dirigentes de empresas dos media, reguladores e académicos.


Leitura: Fernando Oliveira Paulino (2008). Responsabilidade Social da Mídia. Análise conceitual e perspectivas de aplicação no Brasil, Portugal e Espanha. Tese de doutoramento defendida na Universidade de Brasília, 347 páginas

RUAS DE LISBOA


Wanderlino Arruda (escritor do blogue Recanto das Letras, onde escreveu o texto abaixo inserido e publicado em 24 de Dezembro de 2004) e Jorge Silva (fotógrafo do sítio Imagens de Lisboa, de onde retirei as imagens de, pela ordem de inserção, Rua das Escolas Gerais, Rua dos Cegos, Beco da Caridade) não me conhecem. Mas eu conheço o seu trabalho e acho que retratam muito bem a cidade de Lisboa, pelo que não resisto a pedir-lhes de empréstimo o texto e as imagens.

Não creio que exista outra cidade no mundo com ruas de nomes mais engraçados do que as de Lisboa. Parece que os portugueses que viveram mais perto de El-rei tinham mais aguçada a imaginação, eram mais românticos ou, então, queriam uma notoriedade pelo lado alegre da vida. Os lisboetas, lisbonenses ou ulissiponenses, conforme o grau de erudição, ou simplesmente alfacinhas, conforme o grau de intimidade, foram sempre uma gente bem disposta, cheia de vida, vaidosa por sua cidade. Chamam Roma de cidade eterna, mas eu acho que Lisboa é que é cidade de nunca se esquecer. Ninguém passa pela capital portuguesa como um simples passageiro.

Lisboa é terra para uma saudade de vida inteira, finda, aconchegante, educada, cheia de cultura, inteligência e arte em cada rua, cada beco, nos largos, nas praças, nas ladeiras, nos terreiros em vielas ou avenidas, no morro do Castelo ou na beira do Tejo!

Eterna menina moça, noiva e namorada, Lisboa tem a mágica de uma lembrança de muitos séculos de história, o encanto das descrições literárias de Eça, de Herculano, de Castilho e até do nosso saudoso David Nasser, que tanto amou o que ele chamava de "Portugal, meu avôzinho". Se Lisboa fosse brasileira, poderíamos dizê-la um doce-de-coco, cujo tempero de cravo e canela parece chegar mais ao nosso coração! E se o visitante tem mesmo muito amor, como é sentimental descobri-la, percorrê-la de ponta a ponta, vivê-la com carinho e sofreguidão!

Apaixonada como Lisboa, talvez só a nossa Salvador, cidade de todos os santos. Bonita, é possível que sã o Rio de Janeiro. Aconchegante, quem sabe só Fortaleza ou Maceió! Lisboa muito tem de Manaus, de Porto Alegre, de Belo Horizonte, de Curitiba! Faceira, movimentada, antiga e moderna ao mesmo tempo!

O gostoso é que Lisboa nunca perde seu encanto, com velhos elevadores, velhas igrejas, o casario de telhados vermelhos em Alfama, a beira do Tejo, rio mar com brancas gaivotas, a historia viva nas paredes de pedras do romano castelo de São João, o Rossio, o Chiado, o bondinho valente da Graça, as cegonhas do Sete Rios, os vendedores de rua, as raparigas de chales negros, as feireiras de salto alto e vistosos brincos de ouro, o Bairro Alto, o som do fado! Encanto em todos os cantos!

Mas o mais gostoso em Lisboa são os nomes das ruas ou de todos os lugares por onde passam as gentes, por onde a gente passa. Ninguém pode deles esquecer: Beco da Amorosa, Largo das Garridas, Poço dos Negros, Pátio do Albergue das Crianças Abandonadas, A Calçadinha de São Miguel, Beco do Pocinho, Rua das Escolas Gerais, Rua da Fresca, Rua da Bempostinha, Quinta do Espião, Pátio do Joaquim Polícia, Pátio das Malucas, Travessa do Pinto, Quinta da Argolinha, Rua da Horta Nova, Travessa do Vintém das Escolas, Pátio do Ferro de Engomar, Travessa do Pau-de-ferro, Azinhaga da Bruxa... Tudo um amor!

Tem mais, tem muito mais: Pátio da Fartura, Rua da Cozinha Económica, Rua da Horta das Tripas, Rua Joaquim Leiteiro, Bairro das Galinheiras, Beco da Bicha, Largo do Chafariz de Dentro, Beco do Pocinho, Rua do Benformoso, Vila do Penteado, Rua do Alfredo Pimenta, Largo da Bomba, Beco dos Surradores, Travessia da Zebra, Vila do Cabaço, Rua do Saco, Travessa da Rabicha, Rua da Buraca, Rua dos Bons Dias, Pátio da Mariana Vapor. Cinco são as ruas chamadas Direita, uma rua chamada Esquerda, Rua da Pátria, Rua do Ouro, Terreiro do Paço Quanta fartura de ruas com nomes de santos, só de Santo Antônio, quase cinquenta!

Existem até a Travessa dos Prazeres, a Rua da Triste Feia e a Praça da Alegria! Não sei quando, mas ainda vou vê-las de novo!

terça-feira, 12 de agosto de 2008

TEATRO ABERTO PROCURA NOVOS ACTORES


O Teatro Aberto vai realizar audições para seleccionar actores e actrizes, com idades entre 25 e 35 anos, para participação nos próximos espectáculos do teatro. Os candidatos à audição deverão entregar na recepção do Teatro Aberto, ou enviar por correio, até ao próximo dia 28 de Agosto, curriculum vitae e fotografia.

O Teatro Aberto funciona na Praça de Espanha, em Lisboa (telefone: 213880086; internet:
Teatro Aberto).

PACO BERNARDO


Paco Bernardo é um poeta italiano nascido na década de 1940 que, por razões de educação, sempre escreveu em português. Nunca publicou um livro e viveu sempre afastado dos centros académicos. Viajou por quase 80 países, mas nunca fixou residência numa região mais que dois anos. Ligou-se à poesia experimental e trabalhou em cinema, fotografia e teatro.


A sua obra é vasta, estando a ser digitalizada a produção mais antiga (final da década de 1950). Para saber mais sobre ele, ver os sítios
Paco Bernardo, Paco Bernardo, A Parede e o Sangue Dela e Ebooks digitalizados pelo núcleo - 4shared.com.

ISAAC HAYES


Eu gostava de ouvir Isaac Hayes, voz da música soul. Conheci a sua voz no programa Em Órbita, em meados da década de 1970. Hayes tinha 65 anos.

Fica Shaft para recordação.


segunda-feira, 11 de agosto de 2008

PORTAL DE LA COMUNICACIÓN


O Portal de la Comunicación do Instituto de la Comunicación da Universidade Autónoma de Barcelona foi inaugurado em Março de 2001 e oferece informação e documentação especializada nos diferentes âmbitos da comunicação, orientada para investigadores, estudantes e profissionais da Comunicação, em especial na América Latina, Espanha e Catalunha.

Destaco os recursos em linha (muitos textos actuais), informações sobre congressos e simpósios e os observatórios associados.

PESQUISA ONLINE GRATUITA DE REVISTAS DE ESTUDOS CULTURAIS


Até ao final do próximo mês de Setembro, a editora Sage disponibiliza acesso livre online a treze das revistas científicas que publica na área dos estudos culturais. Para saber mais e fazer o registo, ver aqui.

TAKE - CINEMA MAGAZINE


A Take - cinema magazine é um projecto recente, agora com a edição na internet do número 6. Este número de Agosto pode folhear-se como uma revista. Para mais fácil leitura, descarregar em PDF através da capa no topo direito do sítio (o acesso às anteriores edições da Take - cinema magazine em PDF faz-se através do botão "Edições Take" no sítio, o qual foi apresentado recentemente no programa Dicas de Internet, da RTP).


Dentro do projecto editorial, há o objectivo de apoiar festivais e eventos nacionais relacionados com o cinema. Nesse sentido, a
Take - cinema magazine foi parceiro media de Festroia, Curtas (Vila do Conde), Hola Lisboa, Ciclo Cinema Espanhol, Festa do Cinema Italiano, Porto 7, e tem agendadas as seguintes: Motelx - Festival de terror de Lisboa, FICAP - Festival Internacional de Cinema de Artes Performativas, Queer Lisboa, 1as! - Lisbon film & video arts fest.

domingo, 10 de agosto de 2008

40 ANOS DA TIME OUT


A revista Time Out faz 40 anos (primeiro número em 12 de Agosto de 1968). Quando apareceu, idealizada numa mesa de cozinha no norte de Londres, tornou-se o mundo da cultura pop e do protesto. Então, Twiggy era a face da moda, George Best o herói do futebol e a Praça Grosvenor (Londres) o local da contra-cultura. Depois, vieram o punk e o hip, entre outras culturas. Hoje, é uma revista mundial franchisada.

A data será celebrada com a edição de dois livros e com a abertura de duas exposições. Lembra Tony Elliott, fundador da Time Out, então com 21 anos e acabado de chegar a Londres, agora presidente de uma companhia que vale milhões de euros, que, em 1968, havia duas tribos culturais em Londres. Uma, ia a lugares culturais semi-estabelecidos onde aconteciam coisas interessantes, tais como filmes italianos e franceses, na Tate viam-se mostras de Andy Wharol ou de Giacometti, no teatro havia Peter Hall, Peter Brook e o Hamlet de David Warner. A outra tribo era referida como contra-cultura ou underground e incluía referências americanas e das peças de Jean Genet, e o ICA reabria com a exposição Cybernetic Serendipity, liderada por Michael Kustow, interessado na vanguarda. A moda hippie era uma referência, embora não total, e entrecruzavam-se alguns idealistas que procuravam alternativas de vida.

Fonte: The Independent, de hoje

CINEMAS (ALGUNS) SEM PIPOCAS


Pipocas no cinema significa, por um lado, muito lucro, dadas as elevadas margens de rendimento, além das bebidas associadas, outro bom negócio. Mas querem dizer, por outro lado, lixo, ruído (quando se come o milho torrado) e cheiro.

Por isso, alguns cinemas ingleses vão banir o ingresso de espectadores com pipocas e bebidas - ou ter sessões sem esse tipo de espectadores, segundo o Independent de hoje. Isto tendo em conta que há dois tipos de audiências: as que gostam e as que não gostam de pipocas. Estas últimas gostam mais de cinema como arte e ensaio, são mais silenciosas e gostam de espaços mais sofisticados.


Eu acrescentaria mais elementos, fruto da minha observação dos cinemas do Campo Pequeno: os que gostam de pipocas são mais jovens ou mesmo crianças, vêem filmes de ficção científica e com heróis tipo Batman, Indiana Jones ou Harry Potter, buscam o entretenimento menos que o conhecimento, almoçam ou jantam comida rápida (hambúrgueres, batatas fritas, coca-cola) nos pequenos restaurantes de marcas internacionais, deslocam-se em grupos grandes, com ou sem familiares, vestem roupas coloridas e de marca e são divertidos. Os que não gostam de pipocas não têm uma tão rigorosa caracterização, mas admito que preencham o perfil traçado pelo Independent.

sábado, 9 de agosto de 2008

ESTADO LASTIMÁVEL DO MUSEU DE ARTE POPULAR


Uma política de esquecimento lamentável quanto ao Museu de Arte Popular é visível na fachada do edifício, como a imagem documenta.

A anterior ministra da Cultura pretendia erguer aqui um museu da língua portuguesa. Todo o espólio do museu, construído na ditadura de Salazar como parte integrante da Exposição do Mundo Português em 1940, terá sido deslocado para outros museus.

Qual o pensamento do actual ministro da tutela sobre este espaço?


sexta-feira, 8 de agosto de 2008

"FALAR DA VIDA", (AUTO)BIOGRAFIAS, HISTÓRIAS DE VIDA E VIDAS DE ARTISTAS


Trata-se da 2ª Edição do Curso de Verão (Setembro de 2008), organizado por Idalina Conde, docente no Departamento de Sociologia do ISCTE e investigadora do CIES-ISCTE.

Lê-se em informação da entidade organizadora:

  • Este curso, sobre a abordagem biográfica, apresenta uma perspectiva multifacetada que abrange tanto as histórias de vida e o método biográfico nas ciências sociais como outras tradições. Nomeadamente, a diarística e literária, interessante do ponto de vista documental e para uma análise de narrativas sobre o sujeito e a vida, modos da sua construção. Esse encontro pouco habitual de diferentes tradições, desenvolvido no curso com as necessárias referências reflexivas e metodológicas, inclui também a ilustração da singularidade, recorrente na dimensão biográfica, com retratos de artistas e readings de (auto) biografias. Algumas são referenciais para a história da arte e outras de grande impacto público, embora raramente consideradas pelas ciências sociais. Os exemplos, vários, vão das Vite de Giorgio Vasari no século XVI aos Diários de Andy Warhol e a testemunhos de escritores contemporâneos.
O curso está dividido em dois módulos, o primeiro de 9 a 12 de Setembro, e o segundo de 23 a 26 de Setembro. Mais informações aqui.

ASSALTO EM DIRECTO NA TELEVISÃO


As imagens do vídeo amador do Público (ver o vídeo aqui), e que eu retirei quatro fotogramas do noticiário da SIC de hoje às 13:00, dão conta da tragédia que ontem se abateu sobre um balcão bancário em Campolide, Lisboa. Dois assaltantes mantiveram-se entrincheirados no banco com dois reféns, a gerente do banco e outro colaborador, durante oito horas. Quando os assaltantes se aproximaram da porta e houve um ligeiro afastamento dos reféns e dos assaltantes, um tiro da polícia acertou num destes, que desfalece imediatamente (terceira imagem). Logo depois, a polícia entrava dentro do balcão e libertava os reféns. Um dos assaltantes morreu e o outro foi em estado grave para o hospital. As televisões transmitiram em directo.


Hoje, fiquei com mais pormenores. Os assaltantes tinham idades entre 25 e 35 anos, imigrantes não legais, mas a nacionalidade não foi inicialmente revelada. A notícia do Público online indicava que os assaltantes se recusaram a negociar com as autoridades e ameaçaram executar as duas pessoas que mantinham sob sequestro. Mais tarde, no noticiário das 20:00, a televisão pública RTP afirmava tratarem-se de brasileiros, trabalhadores da construção civil e a residirem há poucos meses na margem sul do rio Tejo.

Após os violentos desacatos das últimas semanas, que opuseram duas comunidades diferentes nos arredores de Lisboa, com forte exposição mediática, este caso chama de novo a atenção da televisão (e do vídeo de um jornal). As imagens agora mostradas são expressivas - no vídeo colocado no sítio do jornal Público, as vozes off dão conta do impacto do que ia acontecendo. Uma das vozes regozija-se quando o tiro da polícia atinge um dos assaltantes, pormenor não reproduzido quando o vídeo passa na SIC. No sítio do jornal, os comentários à notícia por leitores colocam a questão da origem geográfica dos assaltantes.

Na azáfama de relatar tudo, a televisão e o jornal Público situam o país na pós-modernidade. Temos polícias eficazes e televisões a filmarem em directo a morte dos bandidos. Um dos pormenores que mais me impressionou no relato do episódio do assalto foi saber a principal preocupação da gerente do banco: ela não queria que os seus filhos estivessem a ver televisão. Sobre o assunto, já escrevera Eduardo Cintra Torres no Público online (às 16:58): "Quanto ao directo televisivo, é mesmo assim: o poder enorme do directo é romper com as convenções de toda a gente e de não estar sujeito a censuras, autocensuras, convenções e tabus. A realidade em bruto. Por vezes é brutal. A liberdade também".

Ou, nas minhas palavras: a morte deve estar presente, mesmo a mais violenta, do mesmo modo que a vida. A televisão - e também a internet - é o meio mais propício para nos dar esses momentos em directo da vida e da morte, fluxo de acontecimentos de ruptura (as breaking news dos americanos), não programados (mas também programados, como nos disseram Daniel Dayan e Elihu Katz em A História em Directo). Isso obriga-nos a estar sempre conectado à televisão e esperar o imprevisto, ou inédito, ou espectacular, ou dramático, o que tem valor-notícia, como falam os sociólogos dos media.

BEIJING


Esperava-se uma abertura dos Jogos Olímpicos de Beijing com um forte recurso tecnológico que marcasse para o mundo a importância da China como grande potência. Se a forma estava prevista, o conteúdo poderia ter variações.

No chão do Estádio Nacional "Ninho de Pássaro", qual palimpsesto audiovisual e adaptável em dimensão e formato, passaram figuras históricas, heróis, trajes regionais, artes marciais, ópera chinesa, cantores e músicos, a navegação que levou os chineses antigos a espalhar a sua cultura e a estabelecer relações comerciais por todo o lado. A tradição não foi esquecida, a que não faltaram as artes antigas, o fogo de artifício e a caligrafia nesse pergaminho moderno.

Modernidade foi um conceito sempre presente na cerimónia: as crianças, os astronautas e a nave espacial, as imagens virtuais intercaladas entre os diversos quadros cenográgicos. Saliento a ideia de organização, de exército, de homens-formiga, quando milhares de bailarinos e figurantes se dispunham e formulavam novas formas, como a pomba branca a esvoaçar. E também a influência da cultura de massa - as indústrias culturais -, como a banda desenhada e os videojogos.

Por vezes, ao ver as mudanças de cor de fundo do cenário e várias zonas do palco iluminadas com cores diferentes, lembrei-me da cultura de videojogos e das tecnologias de informação e de computador.

O "Ninho de Pássaro" funcionou de acordo com essa analogia: uma recolha de imagens, culturas, cores e formas, uma universalidade que é a cultura chinesa. Fiquei impressionado.

[imagens retiradas do Público online e da página de entrada do Google]

ESPAÇOS VIRTUAIS


O Stardoll é um sítio virtual com quase 20 milhões de utilizadores, em especial meninas a chegar à adolescência. A imagem que se apresenta abaixo pertence a Hunnicue101, inglesa e ligada ao sítio desde 25 de Outubro último. Ela gosta de Amy Winehouse, de ouvir Rithm & Blues, de batatas fritas e do programa televisivo Friends.


Uma das meninas que a visitou recentemente é Anete, da Letónia, ligada à rede social desde 3 de Março de 2005.


O
Stardoll subintitula-se "Fama, moda e amigas", o que centra muito bem quem a ele pertence. Mas há também perfis de rapazes, embora minoritários. Trata-se de uma rede social muito direccionada etariamente e em termos de género. Actuando num ambiente virtual próximo do Second Life, permite construir cenários do lar e da participante com tipos de vestuário escolhido numa montra. Além desse lado da moda, o relacionamento de género através de preferências de bandas musicais, filmes, tipos de programas de televisão e comida serve para estabelecer contactos. No fundo, trata-se de uma enorme montra de compras, através de vários links: vestuário, calçado, maquilhagem. A formação de gostos e de tendências de consumo está bem patente.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

CONFERÊNCIA MUNDIAL DE BLOGUES E NOVOS MEDIA


Só podia acontecer nos Estados Unidos e em Las Vegas! A 2008 BlogWorld & New Media Expo terá lugar no próximo mês de Setembro, nos dias 20 e 21, no Las Vegas Convention Center. No dia 19, haverá uma conferência intitulada "Executive & Entrepreneur".

Os promotores da
exposição indicam que é a única feira, conferência e acontecimento mediático do mundo dedicada à "indústria dinâmica dos blogues e dos novos media".


Assim, qualquer blogueiro, videoblogueiro, emissor de televisão ou rádio pela internet, especialista em Media Sociais ou produtor de qualquer outra forma de conteúdo de novos media tem ali um local para conhecer as novidades e fazer negócios. Os blogueiros interessados no encontro vão desde os de negócios, tecnologias, política, desporto, estilos de vida e cultura, aos de itens noticiosos gerais ou de boatos sobre celebridades. Anotem na vossa agenda!

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O MEU LIVRO NA TELEVISÃO


Hoje, o programa Ler + Ler Melhor (RTPN) fez uma apresentação do meu livro Indústrias Culturais. Imagens, Valores e Consumos. Agradeço à RTPN, a Teresa Sampaio e à Filbox Produções a atenção dada. Foram 3:07 de emissão, onde a jornalista se referiu ao livro e eu falei dele (o vídeo abaixo mostra os 48 segundos iniciais).


O BLOGUE DOS ZUASTI-TOAJAS


O Camino del Águila é o blogue da família Zuasti-Toajas (Zuasti da parte do pai e Zuasti-Toajas da parte da mãe). A casa de cima é uma imagem publicada em 28 de Janeiro de 2008, quadro pintado por um tio da blogueira. A do lado, publicada em 10 de Maio de 2008, mostra a nova casa de um irmão da blogueira.

O blogue, iniciado em Janeiro último, é escrito por vários membros da família, embora o trabalho maior pertença a Mariela, que também se assina Marily. Se San Juan, Puerto de Santa María, Jerez e Camino del Águila recordam a sua Andaluzia natal, uma referência a Zuasti identifica simultaneamente uma localidade perto de Pamplona e o nome de família do pai da blogueira.


O blogue é um diário no velho sentido do termo, dando conta das histórias da família, a partir das fotografias: brinquedos, férias na praia, o velho automóvel, o cão, os pais já desaparecidos, os familiares quando pequenos. Por vezes, tem apontamentos - contra a injustiça, sobre uma festa popular. Mas, por ser um blogue, transforma o privado - a vida de uma família específica - no público. Todo o planeta pode aceder a esta página e ficar a conhecer a família Zuasti-Toajas. A minha vontade era copiar as imagens das pessoas dessa família e recriar (inventar) histórias, percursos, geografias.

É certo que a pintura da casa de cima é naïf, com uma paisagem rural junto ao porto (Cádiz?). Mas quantos sonhos, quantas corridas, quantos brinquedos e regras e festas e tristezas, que constituem a vida de uma família e que agora se recordam, não passaram por ela?
Às vezes, vale a pena ser assim - recordar e lembrar aos outros -, uma antropologia dos gostos, dos costumes e das estéticas.

O BLOGUE DE ZILDA CARDOSO


O blogue de Zilda Cardoso, O Fio de Ariadne, insere-se igualmente no tipo de blogues diários. Isto dentro da tipologia de Susan Herring, Lois Ann Scheit, Inna Kouper e Elijah Wright (2007: 8), que codificariam três tipos de blogues: filtro, jornal pessoal e jornal de conhecimento. O primeiro é escrito basicamente por homens e o segundo por mulheres (o terceiro associa-se a instituições ou grupos profissionais).
Zilda Cardoso, que já aqui comentei um livro - mas ainda não o fiz relativamente a Cerejas de Celulóide -, começou a sua aventura na blogosfera no passado dia 21. Mas já denota o lado pessoal, com colocação de fotografias suas, da escrita na primeira pessoa do singular, da apresentação com fotografia do seu neto mais novo, nascido por ocasião do surgimento do blogue, das suas preferência musicais.

Esperemos que continue por muito tempo e que conte muitas histórias e fale frequentemente do Porto, cidade onde vive. E parabéns pelo design do blogue, que é bonito.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

BLOGUES, CIDADANIA E O FUTURO DOS MEDIA


Quem são os blogueiros de topo? Quais as suas características, a qualidade do que escrevem, a qualidade das suas ideias e dos links? Pode uma comunidade de blogues funcionar como entidade jornalística? Será que o seu sucesso, bem como a sua comercialização, vai destruir a atmosfera única que tem hoje? Adoptarão os media tradicionais os métodos dos blogues para manter as quotas de mercado? Como será afectada a cidadania? O blogue é um indicador da participação política? Não fazem os blogues discriminação das suas fontes?

Eis um conjunto pertinente de perguntas feitas por Mark Tremayne, o organizador do livro Blogging, citizenship, and the future of media (2007: 267). A maioria dos textos são escritos por docentes de universidades americanas (Texas, Austin; Missouri; Tennessee, Knoxville) e alunos de doutoramento da primeira das universidades identificadas, assente numa estrutura quase comum a todos: trabalho empírico baseado em análise de conteúdo de blogues (nomeadamente políticos), com uma apresentação teórica inicial, discussão de resultados e conclusões. É, a meu ver, o modelo ideal de livro.

Ficam algumas ideias: os blogues lidos a partir da teoria dos usos e gratificações, a complementaridade face aos media tradicionais, a ampliação do espaço público e a criação de uma rede social nova, a especialização, os receptores como jovens mas já veteranos da internet, com nível educacional e rendimento económico elevados. Há uma semelhança social dos blogues com as tertúlias da rádio, com o extremar de posições políticas (caso dos blogues políticos), e aproximação ao jornalismo cidadão. E a blogosfera poderá ser a revolução mais significativa desde a chegada da televisão.

Mas surgem também críticas: nem sempre usam a criatividade proporcionada pela internet (como as várias possibilidades da interface gráfica), usam mais a opinião que o facto, seguem as notícias e o enquadramento dos media tradicionais, frequentemente têm ausência de responsabilidade e credibilidade, o que os pode tornar uma nova forma de tabloidização.

Leitura: Mark Tremayne (ed.) (2007). Blogging, citizenship, and the future of media. Nova Iorque: Routledge, 287 páginas

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

ENCONTRO DE BLOGUES


Vai realizar-se em Lisboa, na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, nos dias 14 e 15 de Novembro de 2008, o IV Encontro Universitário de Blogues, uma organização do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura (CECC).

O encontro, subordinado ao tema principal de Blogues Culturais, tem ainda espaço para discutir questões como espaço público mediatizado e futuro dos media.

O programa está a ser trabalhado, embora o mês de Agosto seja o menos produtivo do ano e, logo, com algumas dificuldades de afinação. Mas a sua estrutura de base é a seguinte:

Primeiro dia – manhã: comunicação central; painel;
tarde: dois painéis.
Segundo dia – manhã: comunicação; painel.

Aceitam-se candidaturas de comunicações para o email http://webmail.lisboa.ucp.pt/src/compose.php?send_to=encontrodeblogues%40fch.lisboa.ucp.pt, até 30 de Setembro de 2008. Em breve daremos conta do perfil da comunicação desejada bem como os nomes de alguns convidados.

Comissão Organizadora: Rogério Santos, Jorge Fazenda Lourenço, Fernando Ilharco, Carla Ganito, Mariana Pinto e Sara Bica.

JORNAL GRATUITO METRO EM VERSÃO DIGITAL


Retiro a informação da newsletter da Press Gazette.co.uk de hoje:

O jornal gratuito Metro lançou hoje, no Reino Unido, uma versão electrónica. O serviço tem em conta os leitores que não conseguem uma cópia em papel nas estações de metro, comboio e autocarro em 16 cidades britânicas.

Trata-se de uma nova forma de fidelizar os leitores do gratuito, associada a algumas facilidades, como aumentar o tipo de letra que se lê e o envio de artigos ou páginas inteiras por email. Stuart Wood, o director operacional do Metro disse que o jornal electrónico combina as vantagens da edição digital com a familiaridade do formato do jornal e a qualidade de conteúdo.

Em Janeiro passado, o Metro lançou sítios para os leitores partilharem o seu próprio conteúdo como o MEmusic, sítio de música, e o MEview, uma plataforma de partilha de vídeo estilo YouTube.

domingo, 3 de agosto de 2008

SOU A FAVOR DO VIBRATO


Ontem à tarde, a Antena 2 transmitiu em diferido um concerto dos Proms, a Sinfonia nº 1 de Elgar, escrita em 1908. O que não se explicou foi a inexistência do vibrato na peça.

Isto porque Roger Norrington, maestro da Orquestra Sinfónica da Rádio Estugarda, que dirigiu a peça de Elgar, tem fama de provocar a audiência de música clássica e decidiu banir o vibrato daquela representação.

O vibrato - que, durante o século XX, foi empregue na execução de música barroca e de outros movimentos, embora haja quem acuse, como o próprio Norrington, de ser um modernismo que não existia na época da criação dessas músicas - vai estar igualmente ausente quando, no final dos concertos Proms deste ano, for tocada a peça de Elgar Terra da Esperança e da Glória, mais conhecida por Marcha da Pompa e da Circunstância nº 1.

Espera-se que o público assistente ao concerto faça um coro de protestos!


[imagem de arquivo do Royal Albert Hall]

sábado, 2 de agosto de 2008

O OUTONO DE VEIKO ÖUNPUU



Antes da sala de cinema abrir, aquele casal de meia idade já se havia feito notar. Ele iniciara uma chamada telefónica e passara a ela, que falou alto, muito alto. Dialogava com uma amiga sobre uma ida a Sintra e do incómodo sentido com os residentes da casa visitada. Nunca mais vou lá, dizia ela muito alto. Depois, já instalados nas cadeiras do cinema, ela parecia sussurrar, embora toda a audiência do cinema conseguisse ouvir: trata-se de um filme sobre a solidão. Deve ter repetido a expressão umas três vezes. Até ao genérico do filme, ela falou. Fiquei sem saber se um deles tinha um grau de surdez elevado. Já no final da exibição, comentava ela: não sei se o filme é russo. E repetiu. Cá fora, ele abordou-me e fez-me essa pergunta. Ao que respondi laconicamente: é da Estónia. O homem pareceu-me ter dito qualquer coisa como: bem me parecia isso.

Sügisball - Baile de Outono, de Veiko Öunpuu, é como que um filme experimental: na articulação das várias histórias, nas cores, num tipo de desfocagem das imagens que proporciona uma combinação de formas imprecisas. O ponto de partida é um bairro urbano periférico que dá para um descampado triste. Poucas vezes nos é mostrado o fluxo dos indivíduos mas mais o interior das casas e da vida isolada ou solitária dos seus integrantes. Histórias de casais que se desfazem lentamente, com pequenas traições ou apagamento de laços entre eles.


Depois de ver todo o filme, ficámos com uma ideia precisa do que o realizador quis mostrar: o barbeiro solteiro e de meia idade que olhava uma menina e acabou por lhe dar o boneco de corda, a empregada na fábrica que cuidava com desvelo essa mesma menina enquanto vivia uma existência amarga e em que os homens a procuravam aliciar, o porteiro que teria mais interesse em comprar contentores do lixo para criar uma pequena actividade industrial do que integrar as suas conquistas femininas. E, depois, os intelectuais, os mais idiotas do filme: um forrara a casa com livros mas o abandono da mulher transtornou a vida e os livros eram uma decoração inútil; outro achava um dever político-estético viver no bairro social, mesmo quando os outros se riam dessa sua atitude.

Cada personagem está à beira do abismo, e parece haver sempre alguém a ajudar. O bêbado, o polícia (que era intelectual, mas esta condição não era materialmente compensadora) e o patrão do porteiro são outras personagens que dão brilho a um pano de fundo sempre frio, distante, solitário.

Uma das conquistas femininas do porteiro fala-lhe de Pessoa - esse mesmo, Fernando Pessoa - como se houvesse uma ligação entre os extremos do continente europeu, entre Portugal e a Estónia. Até há pouco a Estónia fazia parte da União Soviética mas, pelo filme, vê-se que pouco havia de comum, como outrora entre a Finlândia e a Rússia. Pele muito branca, cabelos entre o louro e o ruivo e uma língua cuja sonoridade me pareceu próximo do finlandês, mas não do sueco e muito menos do russo, esta paisagem humana e cultural agia num fundo soviético, o dos bairros feitos ortogonalmente, caixas iguais como se os indivíduos fossem todos iguais, sem infra-estruturas de apoio, mas revelando, contudo, uma materialização capitalista em contraste com a anterior penúria socialista.

MEMÓRIA DA RÁDIO: CT-1 DH


A notícia saiu no Século (por volta de 1928) e é interessante a vários títulos, nomeadamente a descrição do "estúdio" e do seu material, local, o facto de ser em casa do seu promotor (era o blogue da época!), e também pelas informações preciosas sobre a recepção e interacção com os ouvintes: recebia 4200 postais e cartas por mês! A notícia do Século publica a carta de um jovem ouvinte da estação: Vítor Hugo Coimbra Torres, então com uma idade entre 6 e 10 anos. A carta terminava com um "Viva a estação C T 1 D H !". CT-1 DH pertencia a Luiz Rau Sales e funcionava na rua Andrade, em Lisboa.

Nessa altura, quando a estação apareceu, foi uma grande novidade, porque tinha programação variada e específica, tinha diálogos, havia várias pessoas que colaboravam. "Toda a gente ouvia", diria alguém recordando essa época. Por toda a gente, queria dizer o seu meio familiar, escolar e social, da pequena e média burguesia lisboeta. Depois da DH, apareceram outras rádios, mas esta terá sido a primeira a usar este género de comunicação. Só mais tarde apareceu o Rádio Clube Português, emissor da Parede, animado por Jorge Botelho Moniz.


[obrigado a Eduardo Cintra Torres, que me forneceu os recortes e o texto; para visualizar adequadamente os recortes, clicar em cima das imagens]

O PRIMEIRO DE JANEIRO


Uma notícia e o editorial de José Manuel Fernandes no Público contam essa tristeza que é o desaparecimento do jornal diário O Primeiro de Janeiro. Certamente um dos mais antigos jornais do país, a existência de O Primeiro de Janeiro era precária desde há muito, com muitas histórias em torno da sua sobrevivência. Agora, o encerrar instalações, o dispensar todos os trabalhadores, em especial os jornalistas, é o culminar dessa longa agonia.

Não fui um leitor muito regular desse jornal nos tempos em que ele era um diário respeitado do Porto. Mas posso comprovar, da memória que tenho de décadas anteriores, as características de registo sóbrio, independente dos grupos económicos e políticos, conservador no sentido de moderado - nos títulos, nos temas, no modo de abordar os temas. No geral, estou de acordo com o diagnóstico traçado pelo director do Público.

Só não concordo quando ele diz que o Público poderia não ter aparecido se, em 1990, O Primeiro de Janeiro mantivesse características de independência que o pautaram desde sempre. Apesar das boas qualidades do jornal do Porto, o Público sempre foi um melhor jornal - e é-o ainda hoje, ou talvez ainda melhor, quando se olha para os outros jornais diários de hoje.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

ANTÓNIO QUADROS


António Quadros Ferro mantém um blogue cujo título é o nome do seu avó António Quadros. Prestou recente homenagem a esse seu antepassado, no momento do aniversário de nascimento, com textos de familiares e investigadores.

Da mensagem colocada no dia 25 de Julho passado, assinada por
Romana Valente Pinho retiro a seguinte nota biográfica:

António Gabriel de Quadros Ferro nasceu na cidade de Lisboa no dia 14 de Julho de 1923. Se fosse vivo faria 85 anos. Filho dos escritores António Ferro (1895-1956) e Fernanda de Castro (1900-1994), António Quadros licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e dedicou-se, durante toda a sua vida, à filosofia, à literatura e à arte de uma forma geral. Por esse motivo, fundou, entre outras instituições, a Associação Portuguesa de Escritores e o Instituto de Arte, Decoração e Design (IADE). Na sua actividade profissional fundou e dirigiu alguns dos periódicos mais importantes do seu tempo, a saber, Acto, 57 e Espiral.