domingo, 30 de novembro de 2008

O GRUPO DE ESTUDO DE INDÚSTRIAS CULTURAIS DA UNIVERSIDADE DE PLYMOUTH


A Universidade de Plymouth (Reino Unido) tem um Cultural Industries Research Group, sob a liderança dos professores Alison Anderson and Kevin Meethan. Engloba académicos das áreas de geografia, media e turismo, responsáveis pelos jornais Cultural Sociology e Tourism Consumption and Practice e integrados na nova British Sociological Association (BSA). Têm interesses em cultura, globalização, teoria social e relação entre arte e ciência, turismo global e consumo, mercados da arte e globalização, e representação dos media sobre riscos ambientais, conflitos rurais e tecnologias emergentes.

ILUSTRAÇÃO PARA CRIANÇAS


Como escrevi aqui, Truth and tales é o título da exposição da Galeria do Palácio Galveias com mostra da ilustração de livros para a infância oriunda da Finlândia. Aconselho vivamente uma ida ali.

CIDADE CENOGRÁFICA DA TVI


A notícia do Diário de Notícias saiu a 6 de Novembro, a notícia do Público saiu a 29 de Novembro. A primeira dá conta da possibilidade de implantação da sede da TVI, a estação líder de audiências, em Sintra (Almargem do Bispo), a segunda indica a discussão que a criação da cidade do cinema da TVI tem em termos de impacto económico mas também imobiliário (urbanização em zona agrícola). A primeira é ainda uma intenção à volta do entertenimento de massas, a segunda revela mais coisas além da sede do canal televisivo e entra na política dos conflitos de interesse nacionais e locais.

Por isso, elas merecem atenção, dada a importância do tema. A minha base de análise resume-se às duas notícias, elementos de avaliação muito escassos, pelo que poderei não fornecer as melhores conclusões.



A fotografia (de Rodrigo Cabrita) que ilustra a peça do Diário de Notícias é fantástica: apesar de só identificar dois dos presentes, esta mostra uma mesa de almoço, ainda sem comida e bebidas exceptos quatro pratos com pão e uma entrada, com copos, pratos, talheres e guardanapos muito bem alinhados, o que indica que a photo opportunity foi feita mesmo após os comensais se sentarem. Na imagem, vejo dois telemóveis, instrumento cada vez mais visível em reuniões e em almoços, ilustrando a ideia de encontro privado mas aberto ao mundo. A peça, assinada por Tiago Guilherme, indica tratar-se de um almoço no Funchal com a comunicação social para apresentar a novela Flor do Mar, história a decorrer na Madeira. A photo opportunity foi, assim, a ocasião para informar os media das "conversas alongadas com a Câmara de Sintra. Nas próximas semanas poderemos atingir um acordo com eles", segundo diria Manuel Polanco, dirigente da TVI. O mesmo responsável falaria em cerca de 40 a 45 milhões de euros para a cidade cenográfica, sede da empresa e estúdios de gravação de programas de ficção da TVI mas ainda do canal espanhol Cuatro, igualmente pertencente à Prisa. A ocasião serviu ainda para tornar pública a passagem da designação NBP, que produz as telenovelas da TVI, para Plural Entertainment Portugal e a abertura do canal de notícias TVI24 para 2009.

Se a notícia do Diário de Notícias surgiu na secção "Media" e segue a agenda do promotor (TVI), a do Público, assinada por Luís Filipe Sebastião, apareceu na secção "Local" e parece resultar da investigação do jornalista. O lead indica o assunto: "Cidade do Cinema abre discussão sobre urbanização em zona agrícola, mas Seara acha que se trata de «indústria geradora de receitas»". Fernando Seabra é o presidente da Câmara de Sintra e o teor da notícia revela discussões a nível da Assembleia Municipal, pois os 50 hectares da cidade envolver-se-iam em 200 hectares de um projecto de licenciamento urbanístico. Alguns deputados municipais inquiridos pelo jornalista afirmavam não ter informação sobre o previsto para os 150 hectares. A peça, que indicia uma hipotética ligação a interesses urbanísticos, acaba num tom mais positivo e seguindo as palavras de Seara, indicando tratar-se de um projecto que criará a Terceira Cidade do Cinema da Europa e cerca de 2500 postos de trabalho. Convém não esquecer que há eleições autárquicas em 2009 e Seabra pretende manter o lugar. Uma segunda peça, assinada por Jorge Talixa, assinala a versão da presidente de outra Câmara Municipal, a de Vila Franca de Xira, Luz Rosinha, que diz que a NBP preferia terrenos em Vialonga, mais próximos de Lisboa e onde a empresa já tem instalações há 15 anos. O problema seria, diz a autarca, a falta de novos terrenos para a implantação do projecto. A presidente de Vila Franca de Xira tem idênticas expectativas nas eleições do próximo ano.

Vendo as duas peças, é óbvio a identificação de agentes sociais distintos e com interesses específicos. A TVI quer deixar as instalações de Queluz de Baixo. Já tem um protocolo de intenções com Sintra - e disse-o ao apresentar uma novela a jornalistas. A resposta da Câmara e as dúvidas de deputados municipais surgiu pouco depois, mas outras Câmaras mostram disponibilidade para acolher o projecto.

Além dos diferentes agentes sociais, há uma alteração de foco: se uma notícia se centra no entretenimento, a outra concentra-se no projecto de construção de edifícios e da sua localização. O núcleo central é a TVI mas os tópicos são distintos. Isto levanta a questão da importância da televisão e do entretenimento e da fileira de actividades em torno das indústrias culturais.

A TVI era, até 2000, um canal desinteressante, com uma audiência baixa. Primeiro, a liderança com José Eduardo Moniz e, depois, a compra do canal pela empresa espanhola Prisa trouxeram a TVI para as bocas do mundo. Segundo um académico, Mário Jorge Torres, a TVI instaurou um sistema de estrelas e uma indústria do entretenimento como Portugal nunca teve, excepto o período das comédias de António Silva e Ribeirinho dos anos 1940. Para os produtores independentes de televisão, Portugal ainda não tem uma indústria do audiovisual exportável como tem a Holanda, por exemplo, argumentando que os canais de televisão como a TVI se fecham na produção interna. Claro que estas perspectivas esquecem que há televisão há 50 anos, que desde sempre houve produção própria com novelas e outros programas (de entretenimento, concursos), mas sem a continuidade e força que levam o canal privado a pensar numa cidade de cinema, agora que o capital da empresa é maioritariamente internacional. Acrescente-se que, em Sintra ou em Vila Franca de Xira, os custos de produção serão aliciantes, há equipas formadas e motivadas e um feixe de actividades bem entrosados dentro da cadeia de valor da televisão.

Isto ocorre num momento de crise do outro canal privado, a SIC, com reajustamentos a nível do topo da hierarquia e com convites à saída da empresa, para redução de custos.

Mas a pergunta é: há viabilidade económica e quantidade de conteúdos capazes de edificar uma cidade do cinema? Além que a palavra cinema me causa perplexidade, porque ela é distinta da televisão e há fragilidades no cinema nacional.

sábado, 29 de novembro de 2008

PÁGINAS VISITADAS


O blogue Indústrias Culturais atingiu hoje à tarde o milhão de páginas visitadas (e acima de 862 mil visitantes únicos). Obrigado aos leitores do Indústrias.

GUIA LECOOL DE LISBOA


Recentemente, foi editado pela equipa lisboeta, liderada por Joana Pinto Correia, um Guia Le Cool, Weird and Wonderful, seguindo os de Barcelona, Londres, Amesterdão e Madrid (ver lecool).


Trata-se de um pequeno-grande guia para quem quer conhecer a verdadeira Lisboa, dividido pelas sete colinas e revela segredos bem guardados, assim como lojinhas antigas, personagens da cidade (o senhor do adeus, o amolador), boas maneiras de passar o dia mais complicado da semana (o Domingo), a Lisboa gráfica (da tipografia ao graffiti), roteiros gastronómicos internacionais, a rota da ginginha, e ainda, hotéis, cinemas e festivais, calendário das festas, jardins, cafés, miradouros, mercados e muito mais. O design ficou das mãos da
Silva!designers, responsáveis, entre outros projectos, pelas Festas de Lisboa.

O Guia, entre outros locais, está à venda na Fábrica Features (na loja da Benneton do Chiado, 4º andar) e na loja Uma Vida Portuguesa (na Rua Anchieta, ao lado do Café Austríaco).

[obrigado a Maria Miguel Pereira, editora da agenda cultural semanal, pela informação]

A TELEVISÃO DO REAL


"Felisbela Lopes é uma investigadora integrada em importantes projectos que o Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, da Universidade do Minho, vem desenvolvendo. Este livro, de algum modo, condensa muito do trabalho de reflexão e pesquisa que ali tem sido realizado por um grupo de excelentes investigadores no campo das ciências sociais e da comunicação que visam convocar a responsabilidade social dos media e a participação efectiva da cidadania no processo de uma sociedade mediática" (José Manuel Paquete de Oliveira, no prefácio ao livro de Felisbela Lopes, A TV do Real. A Televisão e o Espaço Público, MinervaCoimbra, 2008).

O livro agora publicado pela editora de Coimbra é o segundo livro saído na mesma colecção. O anterior chamava-se O Telejornal e o Serviço Público, a passagem da tese de mestrado da autora para livro. Por seu lado, A TV do Real tem uma ligação umbilical com A TV das Elites (Campo das Letras, 2007), pois ambos resultam da tese de doutoramento de Felisbela Lopes (fiz aqui alguma referência ao último desses trabalhos).

O que nos traz A TV do Real. A Televisão e o Espaço Público? Três densos capítulos (perspectivas teóricas sobre o meio, espaço público e fronteiras que a televisão integra e/ou reconfigura, informação televisiva como espelho e reconstrução da realidade), onde estão lá todos os autores que vale a pena ler: Habermas, Wolton, Baudrillard, Virilio, Innis, Arnheim (uma interessante recuperação), Bourdieu, Giddens, Jost, Cornu, Dayan e muitos, muitos outros.

Retenho-me no final do primeiro capítulo (p. 73), onde a autora faz um sumário dos tópicos desse capítulo e que mostra a televisão: 1) presa a pressões económicas, 2) subordinada a dispositivos tecnológicos, 3) dependente de constrangimentos estruturais, 4) (re)produtora de conhecimentos, 5) promotora de novas formas de vida, e 6) elo de união. Para Felisbela Lopes, a televisão "opera assinaláveis mudanças qualitativas do nosso mapa social, tendo, desse modo, um papel assinalável no espaço público contemporâneo" (p. 74).

Trata-se de uma obra a ler com toda a atenção, pois é um marco significativo da produção intelectual sobre a televisão no nosso país.

NOTÍCIAS DOS JORNAIS


Proposta de lei sobre concentração dos media - na quarta-feira, em audição parlamentar, Pedro Morais Leitão e Albérico Fernandes, ambos da Confederação Portuguesa dos Meios de Comunicação Social, e Alfredo Maia, do Sindicato dos Jornalistas, criticaram a proposta. Para os representantes dos patrões, a lei impede as empresas de ganharem dimensão. Para o jornalista, a presente concentração já é excessiva. Para Arons de Carvalho, deputado da maioria parlamentar, a lei é sensata. A lei, aprovada na generalidade em 3 de Outubro, pode entrar em vigor em 2009 depois de votada na especialidade (Diário de Notícias, 27.11.2008).

Ricardo Costa na direcção do Expresso - de 40 anos, além de director-geral adjunto da SIC, integra a direcção do semanário do grupo Impresa como director adjunto (Público, 28.11.2008).

ERC levanta processo contra programa da SIC Notícias - por inserir patrocínios em programas como Expresso da Meia Noite e Frente a Frente, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) instaurou um processo contra a SIC Notícias (Diário de Notícias, 28.11.2008).

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

ECCEIDADE


Hoje, ao final da tarde, Luís Lima lançou o seu livro Estética da Ecceidade. O traçar de uma carta [a primeira imagem conta, da esquerda para a direita, com Rita Palma (livraria Bulhosa, onde decorreu o acto), Luís Carmelo (apresentador da obra), Luís Lima, Isabel Garcia (editora da MinervaCoimbra) e Mário Mesquita (director da colecção de livros)].

O texto reflecte a tese de mestrado que o autor desenvolveu e apresentou na Universidade Nova de Lisboa. Actualmente a escrever a tese de doutoramento, Luís Lima foi jornalista da TSF e da TVI, sendo desde 2002 freelancer, e antigo docente na Escola Superior de Jornalismo do Porto.

Melhor do que eu escrever, Luís Lima explica o conceito de ecceidade no vídeo abaixo inserido.


LINHA FERROVIÁRIA À NOITE


Entrada da estação de Entrecampos (Lisboa). Ao fundo, do lado direito da imagem, vê-se o magnífico edifício da empresa de telecomunicações TMN (antiga sede da Marconi).

NÚMERO DE REVISTA ASSINALA CEM ANOS DE ENSINO DO JORNALISMO


100 anos de ensino do jornalismo, o número treze da revista Media & Jornalismo, do CIMJ (Centro de Investigação Media e Jornalismo), vai ser lançado no auditório da FLAD (Fundação Luso-americana para o Desenvolvimento) no próximo dia 3 de Dezembro, às 18:30.

Para além do lançamento, haverá um painel com alguns jornalistas, docentes e investigadores de jornalismo: Cristina Ponte (docente universitária na Universidade Nova de Lisboa), Fernando Cascais (jornalista e director do Cenjor), Adelino Gomes (jornalista e Provedor do Ouvinte da RDP) e Ana Luísa Rodrigues (jornalista da RTP).

Agora com edição da Mariposa Azual, este número da Media & Jornalismo assinala o centenário do primeiro curso de jornalismo na Universidade Americana de Missouri, em 1908. Dos artigos saídos no número, destacam-se os de Fernando Cascais, Maria João Silveirinha, Ana Luísa Rodrigues e Susana Borges, bem como a entrevista a Michael Schudson feita por Sara Pina, Carla Martins e Carla Baptista.

GESTÃO DAS INDÚSTRIAS CRIATIVAS E CULTURAIS


A EURAM (European Academy of Management) é uma associação profissional que engloba os académicos da área da gestão. Na conferência anual de 2009, a realizar em Liverpool, de 11 a 14 de Maio, de entre as 40 mesas, haverá uma dedicada à gestão das indústrias criativas e culturais, presidida por Robert G. Picard e por Lucy Küng, professores da escola sueca de Jönköping International Business School. Os oradores convidados são Julian Birkinshaw, Barbara Czarniawska e Jeffrey Pfeffer.


Para os interessados, o prazo para entrega de propostas de comunicações encerra em 7 de Dezembro.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

DIA 11 DE DEZEMBRO PELAS 11:00 EM PONTEVEDRA, JOÃO PAULO MENESES


Vai fazer a defesa publica da sua dissertação de doutoramento O consumo activo dos novos utilizadores na Internet: ameaças e oportunidades para a rádio musical (digitalizada).

O blogueiro deseja muitas felicidades. Esperamos conhecer, depois, quais as teses que sustentam esse trabalho - se a rádio continua, se ela muda, se ela se transforma num outro meio poderoso, enfim, o futuro da rádio num tempo digital.


João Paulo Meneses é autor do livro Tudo o que passa na TSF e dos blogues http://blogouve-se.com/, http://osegundochoque.blogia.com/, http://ipodgeneration.blogsome.com/, http://oquesepassa.no.sapo.pt/, http://reisdoave.blogspot.com/ e http://maiscedo.blogspot.com/.

FEIRA DE ARTES TOOLS


O Clube Português de Artes e Ideias está a organizar a Feira TOOLS, a acontecer no Centro de Experimentação Artística na Fábrica da Pólvora, em Oeiras, nos dias 20 e 21 de Dezembro.


A iniciativa tem por objectivo dar a oportunidade a pessoas que se dedicam às artes (artistas, estudantes, profissionais, etc.) de poderem vender e/ou comprar material de trabalho usado, por forma tornar mais acessíveis os custos da acção artística. Outra componente da feira é também proporcionar a oportunidade aos criadores presentes de apresentarem e venderem as suas obras.

Para obter mais informações:
artesideias.fabricadapolvora@gmail.com.

ESTÉTICA DA ECCEIDADE, LIVRO DE LUÍS LIMA


"O pensamento contemporâneo poderá caracterizar-se, entre outros atributos, por ser um pensamento que pensa a individuação, a singularidade e o acontecimento. Este texto mostrará com muita clareza como é possível pensar, numa perspectiva contemporânea, textos arcaicos, em que a génese do conceito emerge, como é o caso com Duns Escoto, por exemplo. Por esta via torna-se claro o desafio proposto pela ordem da escrita e do escrito que consiste na resistência do texto ao seu contexto original. Sem adulterar a leitura, que se quer até literal, a proposta de Luís Lima é a de iluminar essa escrita longínqua, torná-la legível na actualidade, tarefa que, executada com rigor, não é desafio fácil. Daí que o conceito de hecceidade / ecceidade seja cotejado desde o seu emprego pelo progenitor escocês até ao emprego que dele fazem Deleuze e Guattari que o reinvestiram no século passado" [Maria Augusta Babo (Prefácio)].

Estética da Ecceidade - o traçar de uma carta, de Luís Lima, na colecção Comunicação, da editora MinervaCoimbra, é um livro apresentado amanhã, dia 28, pelas 18:30, na Livraria Bulhosa Entrecampos, Campo Grande 10-B, em Lisboa, por Luís Carmelo.

INFÂMIA EM BOMBAIM


As notícias que vêm da Índia dão conta que mais de 100 pessoas morreram e muitas estão feridas como resultado de explosões e disparos que ontem atingiram hotéis, restaurantes e hospitais de Bombaim. Por muito profundas que sejam as razões que moveram os autores, essas acções são de uma grande intolerância e merecem total repúdio.

MÚSICA


Chocolate, o novo disco de Maria João e Mário Laginha, parece ser um exemplo de miscigenação cultural. A avaliar pelo cartaz.

RECORDAÇÃO DE BRASÍLIA (4) - BIENAL DE DESIGN DE BRASÍLIA


Bernardo Díaz Nosty ("El nuevo continente virtual", pp. 18-19, in Tendencias '07 Medios de comunicación. El escenário iberoamericano. Madrid: Ariel) segue Hallin e Mancini (2004) quando estes investigadores, ao escreverem sobre a relação entre sistemas políticos e sistemas de media, descrevem três modelos bem definidos nas democracias ocidentais: pluralista, corporativo democrático e liberal. Ora, dizem estes investigadores, os sistemas da América Latina não encaixam em nenhum destes modelos, mas possuem uma tipologia híbrida com coincidências com o modelo pluralista polarizado da Europa do Sul e com o liberal dos Estados Unidos, Reino Unido e Irlanda. Mas Hallin e Mancini acham que a maior tendência se deve à influência ibérica. Na América Latina não há uma tradição de imprensa crítica, quer pela ausência de uma sociedade civil organizada quer pela personalização da política. Hallin e Mancini destacam ainda a escassa profissionalização dos meios e uma brecha mediática (falta educação para os media, diria eu).

Os media na América Latina são dominados pelo audiovisual, inspirados na variante americana da rentabilidade económica, com atipicidade de consumo (se aumentam os produtos reguionais baixam os programas locais) e atipicidade social.

A década de 1970 foi de uma grande desestabilização política, com regimes militares em mais de dez países, ciclo que mudou na década seguinte. O século XXI assiste ao reaparecimento de regimes autoritários sob a capa de nacionalismos e populismos. A aproximação e afastamento do denominado imperialismo cultural norte-americano - com penetração de produtos televisivos e cinematográficos - é uma marca a seguir. Aí talvez possamos distinguir o Brasil de outros países da região, mais moderado e comprometido igualmente com a desigualdade social sem um discurso fechado como em alguns vizinhos.


quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A MORTE DO HOMEM MORCEGO


Retiro a informação do Público Última Hora: a morte do Batman, depois da existência de 70 anos.

Segundo a notícia, chegou hoje às bancas a história do fim do Cavaleiro das Trevas. Grant Morrison, argumentista da série, afirmou ser o "fim de Bruce Wayne como Batman", a ler no mais recente número da série - "R.I.P. Batman". Um dos mistérios é saber quem o mata.

200 ANOS DE HISTÓRIA DOS MEDIA DO NORDESTE BRASILEIRO


O Simpósio 200 Anos de História da Mídia do Nordeste decorre de hoje a sexta-feira no Teatro do Centro Cultural Dragão do Mar, em Fortaleza (ver programa no jornal online O Povo).

Memória, história e media; Imprensa e práticas de poder; Os regimes de excepção e o exercício do jornalismo; Publicidade como espaço de memória e história; Estudos sobre a história dos media no país; A rádio e o quotidiano das cidades; Biografias: entre o jornalismo e a história; Televisão, memória e história; O cinema e a invenção do Nordeste; e conferência de Peter Burke (Universidade de Cambridge) Jornalismo na História - eis as coordenadas principais do encontro. Peter Burke, em entrevista ao jornal
O Povo - que eu aconselho a ler na totalidade -, diria, entre muitas outras coisas, que
  • Se deixarmos os aspectos técnicos de lado, provavelmente é melhor não nos concentrar no processo de industrialização de forma isolada, mas olhar para as mudanças ao longo dos últimos 200 anos. Nesse caso, o que imediatamente nos vem à cabeça é o processo que, se quisermos, podemos chamar de "democratização", mas, se preferirmos, chamamos de "popularização". Por exemplo, jornais de baixo custo foram comprados e lidos amplamente por membros das classes trabalhadoras dos Estados Unidos e em alguns países da Europa do final do século XIX em diante. Mas esses jornais não eram simplesmente mais baratos, eles também foram remodelados para atender aos apelos de um público mais vasto, adotando um estilo muitas vezes descrito como "sensacionalista". Havia mais fotos, mais carga dramática nas manchetes, notícias mais curtas, menos temas políticos e mais notícias de "interesse humano".

INVESTIGAÇÕES SOBRE RÁDIO


Em texto editado este ano, Michael C. Keith destaca os estudos sobre a história da rádio por académicos e jornalistas. Por exemplo, tem sido dada muita atenção a agências governamentais como a FRC (Federal Radio Commission) e a FCC (Federal Communications Commission). Para os primeiros gestores da rádio, esta era considerada um meio que trazia a igualdade ao mundo. Esperava-se que o meio operasse em termos de confiança pública.

Se, no começo, os académicos e os críticos viam a rádio como um meio experimental, popular e frívolo, após as conversas à lareira do presidente americano Roosevelt, no começo da década de 1930, os académicos viram o meio como uma força cultural e um instrumento de mudança. Depois, um programa radiodifundido no Halloween de 1938, representando uma invasão de marcianos, por Orson Welles, provou o poder do meio.

De entre os trabalhos iniciais, relacionando audiências e radiodifusão, surgem os de Hadley Cantril (1982, Invasion from Mars) e Hugh Malcom Beville (1939, Social ramifications of the radio audience). Censura e liberdade aparecem em Harrison Summers (1939, Radio censorship). Estudos fundamentais seriam os de Hadley Cantril (1982, Invasion from Mars) e Mathew Chappel e Claude Hooper (1944, Radio audience measurement). O livro de Lazarsfeld e Patricia Kendall (1948, Radio listening in America: the people look at radio - again) é uma pedra de toque, enquanto Charles Siepmann (1950, Radio, television, and society) fornece um enquadramento valioso do meio num contexto sociocultural.

Os artigos não focam tanto o papel cultural da rádio e centram-se mais na indústria, na actividade comercial, na sua concretização e nos aspectos de produção. Os livros de Erik Barnouw (1966, 1968, 1970, A history of broadcasting in the United States) discutem tópicos como género, raça, religião. A primeira publicação académica é o Journal of Radio Studies. A história da rádio por Michele Hilmes (1997, Radio voices: American broadcasting, 1922-1952) e algumas monografias de Michael C. Keith (1995, Signals in the air: native broadcasting in America; 1997, Voices in the purple haze: underground radio and the sixties; 2000, Talking radio: an oral history of radio in the television age; 2001, Sounds in the dark: all night radio in American life) são elementos fundamentais para a compreensão da rádio. O livro de Susan Douglas (2000, Listening in: radio and the American imagination) oferece uma compreensão sobre a influência cultural da rádio. E David Hendy (2000, Radio in the global age) associa a influência cultural do meio num contexto global. O capítulo de Keith segue a linha de Michele Hilmes (2001, Only connect: a cultural history of broadcasting) quando ela questiona: qual o contexto do desenvolvimento da rádio? Que mistura de forças sociais, culturais e tecnológicas emergem da rádio?

Depois, Keith analisa os textos publicados sobre história da rádio, a partir dos seguintes elementos: género, raça, religião, família. Se trabalhássemos sobre Portugal, um aspecto como raça seria redefinido por causa do Império colonial, acrescentando-se um outro elemento forte: a censura.

Em termos de política, Keith entende que a explosão do talk radio nos anos 1990 foi responsável pela mudança da paisagem política americana no começo dessa década. Gini Graham Scott (1996, Can we talk? The power and influence of talk shows) emprega uma sondagem de audiência para determinar a influência dos animadores dos talk radios na opinião pública. Richard Hofstetter e Christopher Gianos (1997, "Political talk radio: actions speak louder than words") examinam a hierarquia social dos ouvintes dos fóruns da rádio. Alan Rubin e Mary Step (2000, "Impact of motivation, attraction, and parasocial interaction on talk radio listening") examinam o efeito de atracção, motivação e interacção nos ouvintes dos talk radio.


Leitura: Michael C. Keith (2008). “Writing about radio: a survey of cultural studies in radio”. In Michael C. Keith (ed.) Radio cultures. The sound medium in American Life. Peter Lang: Nova Iorque, Washington, Berna, Frankfurt, Berlim, Bruxelas, Viena, Oxford, pp. 305-308

terça-feira, 25 de novembro de 2008

CONGRESSO DE COMUNICAÇÃO EM PAMPLONA


O XXIII Congresso Internacional de Comunicação (CICOM) da Universidade de Navarra realizar-se-á em 12 e 13 de Fevereiro de 2009, com o título Excelencia e Innovación en la Comunicación.

Segundo a organização: "Na actualidade, as empresas e os profissionais do jornalismo, do entretenimento, da ficção e da comunicação corporativa e publicitária enfrentam a prova da excelência e a qualidade das suas mensagens". Daí, comunicar em todos os meios na era digital implica dispor de modelos editoriais que enriqueçam a procura do público, aprofundem a especialização dos conteúdos, renovem as linguagens e personalizem as ofertas. Por isso, a excelência e a inovação são atitudes com relevância na sociedade.

O congresso, que marca o 50º aniversário da Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra, desenvolve-se num momento chave, em que a mudança digital deve estar ao serviço das pessoas, valores e culturas.

Propostas de comunicações até 30 de Novembro de 2008. Em 10 de Dezembro será divulgada a lista de resumos seleccionados. As propostas podem ser enviadas à Secretaria Geral do Congresso:
cicom@unav.es. As normas de estilo estão aqui.
O comité científico é constituído por Mónica Herrero, Manuel Martín Algarra e José Luis Orihuela, todos da Universidade de Navarra. Mais informações em cicom@unav.es e www.unav.es/fcom/cicom.

OFICINA DE ESCRITA CRIATIVA - ESCREVER NA TELA DE CINEMA


NO CLUBE LITERÁRIO DO PORTO.


O Clube Literário do Porto fica na Rua Nova da Alfândega, 22, Porto.

PLANO B


O Plano B funciona na Rua Cândido dos Reis, 30, Porto, ali perto da torre dos Clérigos. Tem inúmeras iniciativas: Concertos, Dança, Teatro, Cinema, Exposições, Festival de Rua e Natal feito à mão. Para ver o programa do Days Off Sound, com coordenação de Ana Borralho e João Galante, clicar na imagem para ampliar.

OFICINA DE PIANO EM MONTEMOR-O-NOVO


NO BRASIL, AUDIÊNCIA PÚBLICA SOBRE CONCESSÕES DE RÁDIO E TV


Na próxima quinta-feira, vai decorrer em Brasília uma audiência pública para debater a renovação das concessões de rádio e televisão, convocada pela Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados do Brasil.

A audiência analisará sobretudo as concessões das emissoras Globo, Record e Bandeirantes (estações em várias cidades do Brasil), com o objectivo de avaliar o serviço prestado durante os últimos quinze anos. A audiência visa ainda propor regras e compromissos para o próximo período de exploração da radiodifusão por essas empresas.

Ao longo do mês passado, diversas organizações realizaram audiências públicas em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, para um melhor conhecimento de situações e envolvimento na sessão do dia 27.

RECORDAÇÃO DE BRASÍLIA (3) - SÍTIOS


A arquitectura de Brasília é utópica. Traçada a régua e esquadro, a Praça dos Três Poderes (legislativo, jurídico, executivo) é o cume dessa utopia. Uma grande alameda parte e desemboca lá, com os edifícios dos ministérios logo acima. O poder legislativo é bicamarário, o que torna mais ampla a discussão pública (espaço público).

A cidade foi inaugurada a 21 de Abril de 1960 pelo presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. A cidade, ao dividir-se em duas asas (norte, sul), dá uma ideia da modernidade do transporte e do planeamento. O plano urbanístico (Plano Piloto) foi elaborado pelo urbanista Lúcio Costa, que também concebeu o Lago Paranoá. Em simultâneo, fez-se a manutenção e a ampliação do espaço de arborização, com parques da cidade extensos e bem visíveis quando se chega à cidade de avião. As construções mais espectaculares seriam projectadas pelo arquitecto Oscar Niemeyer (ver mais informações na
Wikipedia). Os sectores industriais são identificados, caso do sector gráfico, onde está o museu da Imprensa, por exemplo (destacado aqui, no passado dia 11). Aqui, a lógica do património é diferente dos modelos alemão e austríaco da ilha ou bairro dos museus. É grande a distância entre edifícios, apelando ao uso do automóvel (diz-se que em Brasília para um milhão de habitantes há dois milhões de viaturas).

A Universidade de Brasília (UnB) é outro lugar de utopia (entrevistei aqui o
Chico Livreiro, fígura ímpar da cultura daquela universidade). Assente num edifício com um quilómetro de comprimento e inicialmente sem departamentos, a Universidade seria pensada como lugar em que todos, universitários e povo, pudessem conversar. O golpe militar de 1964 acabou com a utopia, nascendo a departamentalização. Da fundação, ficou o edifício, o seu enorme jardim e uma certa circulação anárquica. Muito recentemente, a legislação do país introduziu a distribuição por quotas de negros, índios, mulatos e pessoas pertencentes a níveis económicos reduzidos, o que terá impacto próximo na realidade daquela universidade.

À cidade falta o pathos das cidades europeias, de ruas com lojas, de edifícios antigos, de arquitecturas distintas consoante a época em que foram edificados. Há, contudo, quem pense o contrário: a Europa está decadente, o Brasil é um país do futuro, mostrando a diversidade e a miscigenação que Canclini tão bem observou (e de que fiz eco
aqui).


segunda-feira, 24 de novembro de 2008

TRUTH AND TALES - EXPOSIÇÃO DE ILUSTRAÇÃO DE LIVROS PARA A INFÂNCIA

Ilustração de Pekka Vuori

Truth and tales é o título da exposição que amanhã abre na Galeria Palácio Galveias e que se prolonga até 25 de Janeiro 2009, mostrando a ilustração de livros para a infância da Finlândia.

São expostos 106 originais de 29 ilustradores finlandeses de livros para a infância: Jaana Aalto, Aino Havukainen, Sami Toivonen, Tove Jansson, Kaarina Kaila, Liisa Kallio, Erika Kovanen, Inari Krohn, Mika Launis, Jukka Lemmetty, Veronica Leo, Kristiina Louhi, Leena Lumme, Markus Majaluoma, Outi Markkanen, Anne Peltola, Alexander Reichstein, Martti Ruokonen, Christel Rönns, Ville Salomaa, Irmelin Sandman Lilius, Salla Savolainen, Hannu Taina, Virpi Talvitie, Oili Tanninen, Anu Vanas, Julia Vuori, Pekka Vuori e Taruliisa Warsta.

Da informação da organização da exposição, lê-se: "Dirigida a todo o público é concebida especialmente para o público infantil e famílias. Os visitantes são convidados a entrar nos espaços do imaginário dos contos: um grande bosque, uma cidade, o mar, o céu através de uma cenografia construída a partir das ilustrações expostas".
A exposição é apresentada pela Bedeteca de Lisboa e produzida pela Associação de Ilustradores Finlandeses, com o patrocínio o Ministério da Educação da Finlândia e da Fundação para a Cultura da Finlândia e o apoio da Embaixada da Finlândia.

LIVRARIA VIRTUAL DISPONIBILIZA UM MILHÃO DE LIVROS GRÁTIS


A livraria virtual portuguesa Wook.pt vai colocar, a partir de amanhã, um milhão de livros grátis na Internet, segundo a Porto Editora, proprietária da livraria on-line. Livros como A Viagem do Elefante, A Vida num Sopro ou O Priorado do Cifrão estarão disponíveis a preço zero, numa alusão a recentes livros de José Saramago, José Rodrigues dos Santos e João Aguiar. A campanha permitirá "durante três dias, em determinadas horas, disponibilizar um milhão de livros com 100 por cento de desconto". Para acesso a esta campanha é preciso o registo na Wook.pt, ficando atento aos anúncios que assinalam os denominados "Momentos Wook".

Fonte:
Notícias Sapo, a partir de despacho da Lusa

A MORTE DE ROGÉRIO DE MOURA


Soube agora da morte aos 83 anos do editor Rogério Mendes de Moura, dos Livros Horizonte.

Recordo as reuniões que ele teve com o CIMJ (Centro de Investigação Media e Jornalismo), pertencia eu então à direcção do centro, para lançamento da colecção com o título exacto de "Media e Jornalismo". A primeira e mais importante dessas reuniões decorreu no amplo escritório que tinha na rua Rodrigues Sampaio, rodeado por muitos livros. Gostei muito do seu empenho; hoje, a colecção é das mais prestigiadas no seu domínio.


Rogério de Moura nasceu em 1925. Em 1953, fundaria a editora Livros Horizonte, começando a ter problemas com a censura, até devido às suas posições políticas que o levaram a entrar no Partido Comunista. Em 1956, é co-fundador da Federação Portuguesa dos Cineclubes e colabora, em 1958, na campanha de Humberto Delgado. Em 1962, funda, com Viriato Camilo, a Editora Prelo, e, em 1964, é eleito para a Direcção do Grémio dos Editores (António Alçada Baptista, Augusto Petrony e Rogério Mendes de Moura). Se, em 1972, é eleito presidente da Direcção do Grémio, em Maio de 1974, é reconduzido, numa altura em que se transforma o grémio em Associação Portuguesa de Editores e Livreiros – APEL. Em 1973, organizava e presidia ao 1.° Encontro Nacional de Editores e Livreiros. Em 1974, seria o editor de Portugal e o Futuro, do general António de Spínola, livro que abalou o regime político de então. Em 1977, aos 52 anos de idade, terminaria a Licenciatura em Filosofia, ano em que co-fundou a Sociedade Portuguesa de Filosofia. Da sua biografia, registam-se outros dois elementos marcantes, um, em 1980, quando abandona o Partido Comunista, outro, em 1998, quando, conjuntamente com o senhor Cardeal Patriarca D. José Policarpo, conduz o processo de reabilitação do Padre José da Felicidade Alves. Em 2006, receberia o prémio "Carreira – Fahrenheit 561", atribuído pela União dos Editores Portugueses.

O seu funeral será amanhã, dia 25 de Novembro, às 15:00, na Basílica da Estrela.

A CURIOSIDADE MATOU O GATO


A. passou a mão por uma área do quadro, uma colagem com veludo. As quatro camadas de verniz tornaram o veludo tão áspero como a lixa.

Ao lado do quadro, havia um boião que, em vez de rebuçados ou chocolates, tinha tiras de papel enrolado. Traria frases ou horóscopos ou desenhos? A. tirou uma e outra e outra tira. Como estavam todas em branco, pegou numa esferográfica, escreveu numa das tiras "A curiosidade matou o gato" e voltou a meter a tira de papel no boião.

A exposição tinha muitos quadros e havia muita gente. Mas distinguiam-se os pintores: roupas de cores vivas, penteados fora do comum, olhar filosófico. A tarde chegava ao fim e o vento frio entrava pela porta, vigiada por um segurança.


A Arte Lisboa, inaugurada na Feira Internacional de Lisboa no dia 19, acaba hoje (história original de A.).

CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA RÁDIO EM PORTUGAL - A RDP HÁ 30 ANOS


Combate político e primeiro estudo científico de audiências - eis dois ângulos que eu encontro ao analisar documentos de 1978, 1979 e 1980 sobre a rádio pública portuguesa [para ler, clicar em cima das imagens].

O combate político cabe a dois textos editados no Diário de Lisboa, vespertino já desaparecido. O primeiro é de Estrela Serrano (26 de Maio de 1979), intitulado "Uma ética para a RDP". Retiro um parágrafo: "A RDP, ao fazer-se veículo de conteúdos que nada têm a ver com os interesses mais prementes dos portugueses, está a alienar as suas verdadeiras funções como Rádio pública, ao serviço do povo que a usa e paga. Sabe-se que nenhum outro meio tem a capacidade de atingir tantas pessoas de maneira tão eficaz".

O segundo texto, de Emídio Rangel (24 de Maio de 1980), tem o título "RDP, ou a Informação trazida pela trela". Extraio uma parcela: "Na Radiodifusão Portuguesa, em pouco mais de três meses, grande parte da hierarquia intermédia foi alterada. Colocaram-se não só nos «postos-chave», mas mesmo em lugares de reduzida importância, pessoas de confiança política sem qualquer respeito por critérios de competência; afastaram-se das suas tarefas habituais profissionais qualificados".

Um pouco antes, a rádio pública editava o documento "Audiência e Opinião sobre a Rádio" (Verão de 1978). Aí se toma conhecimento que o primeiro estudo de audiência e opinião realizado sobre a RDP datou de 1977, e o segundo estudo foi feito em Junho de 1978, cabendo à Norma "as operações de recolha e tabulação mecanográfica dos dados" (p. 10) e ao Gabinete de Estudos da RDP a concepção do estudo e o controlo metodológico. Seriam feitas 3500 entrevistas no continente, 875 na Madeira e 840 nos Açores.


Então, já lá vão 30 anos, cerca de 10% da população do continente não tinha qualquer contacto com os media (imprensa, rádio, televisão). Em pelo menos três dias por semana, 24% liam um jornal diário, 62% ouviam rádio e 67% viam televisão. Cerca de 15% leram dois livros nos últimos três meses e 11% iam ao cinema pelo menos duas vezes por mês. 14,7% (995 mil pessoas) escutavam o canal 3 da RDP, 14,2% (965 mil pessoas) escutavam a Rádio Renascença, 12,2% (826 mil pessoas) escutavam o canal 1 da RDP e 2,7% (186 mil pessoas) escutavam o canal 4 da RDP.

Ainda não tinha chegado o movimento das rádios livres ou piratas, em meados da década seguinte, a Rádio Comercial pertencia então ao grupo da RDP, nacionalizada três anos antes, e a RFM iria emergir depois para, lentamente, tomar conta da liderança das audiências.

domingo, 23 de novembro de 2008

ESTRATÉGIA PARA A CULTURA EM LISBOA


Realizou-se ontem em Lisboa a primeira maratona em torno do projecto Estratégia para a cultura em Lisboa, uma encomenda da Câmara Municipal de Lisboa à Dinâmia, Centro de Estudos Sobre a Mudança Socioeconómica, entidade que organizou o evento de ontem. Havia sete temas em análise, cada um com duas horas de duração e com cerca de 20 pessoas em cada: criar, lembrar, distribuir, conhecer, participar, planear e representar. Eu assisti à mesa conhecer e participei na mesa distribuir (as minhas notas seguem a discussão nessas mesas).

As perguntas de partida eram: 1) quais os principais problemas com a cultura na cidade de Lisboa, 2) que soluções/medidas sugere (actividades, projectos, recursos), e 3) o que estaria disposto a fazer nesse sentido (próprio e/ou a sua instituição). Além das sessões de ontem, projectam-se mais reuniões durante Dezembro e Janeiro de 2009, com estes e outros temas e com estas e outras pessoas, numa reconfiguração capaz de dar mais dinamismo e profundidade ao projecto. Grandes objectivos a alcançar: mobilização e participação dos agentes culturais nas grandes decisões públicas.

Na mesa conhecer, a consultora Catarina Vaz Pinto levantou dois tópicos centrais: 1) acesso ao conhecimento (literacia, cultura, educação para a cidadania), 2) criação de competências (formação artística e técnica). Dessa sessão, muito rica em conteúdo, destaquei três tipos de agentes culturais: as escolas superiores de artes e cultura, com a apresentação dos seus portefólios de cursos, procurando o entrosamento entre a academia, o município e a cultura; os agentes mais identificados com programas da própria câmara ou do Estado, frisando experiências; os investigadores, apelando a uma definição dos conceitos, casos de indústrias criativas, que não podem ser mera transposição mas precisam de adaptação nacional.


Na sessão conhecer, evidenciaram-se ainda a necessidade de interligar cultura e tecnologia, de conhecer melhor experiências como as de Glasgow, Singapura e Barcelona, de ter novas práticas e novos públicos, de incrementar relações de vizinhança caso de escolas numa mesma área geográfica (como o IADE, a ETIC e a Escola de Joalharia) e de outras actividades (lojas de design, por exemplo), aproveitar os alunos Erasmus, futuros embaixadores da cidade, melhor percepção da ideia de globalização e das cidades enquanto locais de criação e do conhecimento (por oposição a cidades de informalidade, que crescem em número de habitantes mas não crescem em massa crítica artística e intelectual), envolvimento das gerações mais novas (e das novas formas artísticas mesmo que menos legais como o graffiti), renovação da zona ribeirinha, com espaços de lazer e encontro, desafio às universidades e empresas para colaborarem no projecto de revitalização da cultura em Lisboa, articulação de festivais (cinema, teatro, música) com outros agentes económicos numa vertente de externalidades (o restaurante, o hotel e os transportes ganham se houver um festival).

Um outro consultor presente na mesa, Rui Tavares, considerou que, para se chegar a uma nova cultura, é preciso uma nova economia a qual assenta numa nova cultura de conhecimento. Historiador, ele precisou a ideia de centro da política e do centro topográfico que Lisboa é, em simultâneo. E lembrou os políticos do iluminismo e do liberalismo, que olharam o centro da cidade e lhe conferiram poder simbólico, com edifícios opulentos. Recordou algumas decisões que poderão ter sido menos adequadas: a Escola Superior de Cinema e Teatro migrou da cidade para a Amadora, a cidade universitária deixou a Baixa e está deserta aos fins-de-semana, com o jardim a ser local de difícil acesso, rodeado que está por faixas de circulação de automóveis.

O terceiro consultor presente, Nuno Crato, deu algumas sugestões, simples mas que interessa desenvolver: melhoramento de espaços públicos, embora a orografia de jardins e espaços como o Parque Eduardo VII ou o Técnico ofereça dificuldades, colocação de facilidades de wireless em certos pontos da cidade como forma de atrair jovens com os seus computadores portáteis (a tecnologia das empresas de telemóveis, entretanto, já tem uma oferta que ultrapassa essa barreira), concursos de ideias (calçada portuguesa, reactivação do relógio do Cais do Sodré, que representa a hora legal).


Na sessão distribuir, o consultor António Pinto Ribeiro falou da importância da discussão de projectos numa base factual e não ideológica, do contributo das tecnologias nos acontecimentos culturais e da eventual necessidade de uma nova Lisboa capital da cultura e de uma casa de cinema, capaz de albergar festivais com regularidade e muita frequência, numa lógica temporal organizada. Outro dos consultores, Nuno Artur Silva, defendeu ser fundamental sair-se do palácio da Mitra, local do encontro, com uma lista de coisas concretas (o que fazer, o que não fazer).

Os participantes da sessão, muitos oriundos da produção de espectáculos, salientaram a falta de espaços para produções independentes - música, cinema, dança -, da recuperação de palácios em degradação e sua transformação em espaços para a arte, da falta de visibilidade das suas realizações em mupis e na televisão, da oportunidade de trazer espectáculos e rotas culturais para Lisboa, da atracção de públicos quer residentes quer turistas, da necessidade de prolongar as actividades para além de um festival de três ou quatro dias aproveitando as equipas e as competências adquiridas e os novos hábitos de consumo, as externalidades (benefícios que algumas actividades obtêm de outras actividades, no sentido de clusters), atendendo sempre à escala do país e da cidade (limite de públicos, limite de poder de compra), o arrendamento a preços adequados a artistas de vanguarda e a jovens artistas, relevo para a notável produção musical no actual momento em Lisboa que torna atractiva a cidade para viver e trabalhar, o peso dos media como elementos de transferência da informação associado a serviços educativos de teatros, museus e outros espaços de criação e representação.

Uma das propostas foi a de considerar Lisboa o vértice de um triângulo que passa pelo Brasil e pela África de língua portuguesa, capaz de dinamizar um evento de forte impacto que trouxesse visitantes da Europa e de outros pontos do mundo e dentro da perspectiva que o mercado é um factor de cooperação e estímulo de formas de co-produção. Se o município não pode criar um mercado do audiovisual, ele pode incentivar condições para a visibilidade de acontecimentos culturais e para a facilitação de alguns desses acontecimentos.

Na sua síntese, Nuno Artur Silva destacou quatro pontos: 1) mais espaços, com recuperação de alguns, 2) circulação, com atenção à segurança e ao trânsito, 3) divulgação, com a criação de um canal net de televisão, com um editor mínimo capaz de assegurar a coerência e a organização do projecto, e 4) activadores de novos centros de actividade cultural (caso dos pólos da Parque expo, festival IndieLisboa).



A equipa de investigadores da Dinâmia, a promotora do estudo, é constituída por Pedro Costa (coordenador e presente no pequeno vídeo que fiz), Tânia Jerónimo Teixeira, Bruno Vasconcelos e Miguel Magalhães. Da equipa de consultores-peritos fazem parte António Pinto Ribeiro, Carlos Martins, Catarina Vaz Pinto, Delfim Sardo, Idalina Conde, João Seixas, Nuno Artur Silva e Rui Tavares.

[a discussão tida ontem foi conduzida no palácio da Mitra, à rua do Açúcar, de onde tirei as imagens abaixo]

sábado, 22 de novembro de 2008

ALICE VIEIRA ONTEM NA TERTÚLIA VIA LATINA


Ontem, a jornalista e escritora Alice Vieira falou sobre jornalismo e literatura (infantil, juvenil e para adultos), na galeria Matos Ferreira, na rua Luz Soriano, 18, em Lisboa. A tertúlia foi organizada pelo blogue Via Latina, que permitiu a reprodução do vídeo.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

ALICE VIEIRA HOJE NA TERTÚLIA VIA LATINA


Ela vai falar, às 21:30, na Galeria Matos Ferreira (Rua Luz Soriano, 18, Lisboa). Uma realização do ciclo de tertúlias organizado pelo blogue
Via Latina.

Para justificar a sua actividade como escritora, Alice Vieira fala de uma culpada, a sua filha Catarina. Um dia, a criança, então com nove anos, terá dito: "Já li todos os livros que há para ler. E agora, o que é que leio"? A mãe decidiu escrever um livro em conjunto com a filha. Meteu papel à máquina de escrever e saíu a seguinte frase: «Quando a minha irmã nasceu o meu desapontamento foi tão evidente que a minha mãe, abafada entre lençóis e cobertores da cama do hospital, me disse: Ela vai crescer num instante»! Era o começo do primeiro capítulo do livro Rosa, minha irmã Rosa. Ganhou o prémio de Literatura Infantil Ano Internacional da Criança (1979), dividiu-o com os filhos e fizeram em conjunto uma viagem à Grécia. Depois, em 1983, com Este Rei que Eu Escolhi ganhou o Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura Infantil e em 1994 o Grande Prémio Gulbenkian, pelo conjunto da sua obra.

Nascida em 1943 em Lisboa e licenciada em Germânicas (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), começou a escrever nos jornais em 1958 (Suplemento Juvenil do Diário de Lisboa). A partir de 1969 dedicou-se ao jornalismo profissional.

ESTRATÉGIAS PARA A CULTURA EM LISBOA

Está já disponível o sítio Estratégias para a Cultura em Lisboa.

Ontem, foi feita a apresentação do projecto - a que não me foi possível comparecer -, com Rui Tavares, Pedro Costa (coordenador do projecto, Dinâmia/ISCTE) e Vladimir de Semir (Comissário para a Cultura Científica de Barcelona).

Amanhã, tem lugar a primeira sessão pública, uma autêntica maratona, no Palácio da Mitra, a partir das 14:30, com sete temas: criar, lembrar, distribuir, conhecer, participar, planear e representar.

FOTOGRAFIA DE ESPECTÁCULO


Workshop por Susana Paiva, a partir de 19 de Janeiro de 2009, na Casa da Esquina, Associação Cultural, à Rua Aires de Campos, 6, em Coimbra (e-mail: Casa da Esquina).

Segundo a organização: "Falar de fotografia de espectáculo é falar de uma disciplina tão vasta e complexa como o seu objecto – um caleidoscópio de práticas e metodologias transversais que abarca todas as possíveis especializações fotográficas. Da arquitectura do efémero ao retrato dos actores e criativos, passando pela fotografia de espectáculo, se espelha na perfeição essa forma de Arte Total que está longe de se esgotar na fotografia de cena".

DAILY MIRROR


Está já disponível o acesso digital online aos arquivos do jornal Daily Mirror, de 1903 em diante. Igualmente podem aceder-se aos arquivos do Daily Express, Sunday Express, Daily Star e Daily Star Sunday. Procurar em ukpressonline.

O FIM DA BYBLOS


Os jornais de hoje dão conta do encerramento da loja de 3300 metros quadrados e mais de 150 mil títulos. A Byblos abriu como espaço de fundos bibliográficos, de livros já não existentes à venda ao público nas outras livrarias. Mas não chegou a completar um ano de vida. 50 colaboradores ficam sem emprego.

Foi um sonho no panorama livreiro do país, mas a ausência de accionistas e de clientes decretou o seu fim. A Byblos ficava numa excelente área comercial, com muitos escritórios à volta e mesmo do outro lado da rua do centro comercial Amoreiras, igualmente perto do bairro de Campo de Ourique, um dos mais bonitos da cidade.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

NOVO LIVRO DE TIAGO BAPTISTA


Tiago Baptista trabalha como conservador do Arquivo Nacional das Imagens em Movimento (ANIM) da Cinemateca Nacional - Museu do Cinema, tem o mestrado e publicou nomeadamente As Cidades e os Filmes. Uma biografia de Rino Lupo, editado na Primavera deste ano e do qual eu fiz, em Outubro passado, uma curtíssima nota.

Agora, ele brinda-nos com um belo livro da editora Tinta da China intitulado A Invenção do Cinema Português. Livro-álbum como os de Luís Trindade a que também já aludi aqui no blogue, em que o texto é acompanhado de muitas imagens de fotogramas e cartazes de filmes fundamentais da produção nacional, Tiago Baptista organiza de modo agradável a história desta indústria cultural. Divide-a em quatro partes: 1) "Espelho da Nação", com Aurélio Paz dos Reis, Rino Lupo, Leitão de Barros, Cottinelli Telmo, Lopes Ribeiro e outros, 2) "Uma Ideia Nova de Cinema, uma Ideia Velha de País", com Manoel de Oliveira, Paulo Rocha, Fernando Lopes, Fonseca e Costa e outros, 3) "O Primo Afastado da Europa", lugar central dado a Manoel de Oliveira, mas também com António-Pedro Vasconcelos, João Botelho, João César Monteiro, e 4) "Outros Países", com Joaquim Leitão, João Canijo, Pedro Costa, Miguel Gomes e outros. A introdução tem uma designação feliz - "O Cinema Português Sempre Existiu" -, uma oposição a um título do seu presidente da Cinemateca, João Bénard da Costa, que escreveu O Cinema Português Nunca Existiu (1996).

Cada uma das partes do livro está bem delineada. Assim, a passagem de 1) para 2) reflecte a transferência do ambiente rural ou da rua ou bairro popular, onde todos se conhecem e solidarizam mas se espiam, para a cidade inóspita, de relações interpessoais mais intensas e frágeis, da filmagem em estúdio para a rua, as cores vivas e os ruídos urbanos. 3) e 4) são períodos em que o cinema, segundo Tiago Baptista, identifica um crescendo da complexidade e do engenho das relações humanas, dos finais nem sempre felizes, da densidade das atmosferas das lutas, algumas certezas e muitas dúvidas. Cada realizador aparece identificado com uma obra marcante, embora alguns apareçam repetidos como Manoel Oliveira ou Paulo Rocha, tal a importância destes autores.

Ainda não li o texto todo, mas registo a importância da obra. E anoto uma ausência: não escreve sobre João Mário Grilo.


Aqui, no blogue, tenho acompanhado a actividade de Tiago Baptista, a partir do momento em que o ouvi no ciclo Cultura de massas em Portugal no século XX, iniciativa do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (Universidade de Coimbra) e do Instituto de História Contemporânea (Universidade Nova de Lisboa) que se realizou no ano lectivo de 2006-2007 e se repetiu no de 2007-2008. Foi uma actividade de grande importância, pois conheci jovens investigadores de uma grande qualidade teórica e de uma elevada cultura, de que destaco o autor do livro aqui enunciado e Luís Trindade, sem desprimor para o restante conjunto. O vídeo a seguir mostra uma parcela do que Tiago Baptista então apresentou [e a minha inabilidade na época, sem saber colar planos, registando períodos curtos pois o cartão tinha pouca memória, contra a luz].

O CICLO DO SOFTWARE SOCIAL


Primeiro vi no blogue de Paulo Querido, depois segui o rasto do ciclo de software social e coloquei aqui no blogue (para ver melhor, clicar em cima da imagem).


Os esquemas valem o que valem, mas podemos especular um bocado com eles. Em primeiro lugar, o esquema da Gartner, que se lê da esquerda para a direita, mostra um modelo crescendo da tecnologia de ponta para um pico de expectativas (2 a 5 anos de existência), a que se sucedem um período de desilusão e um outro de recuperação (dez anos de vida). Uma tecnologia inovadora torna-se moda, é namorada e estimada por toda a gente, mas ao perder o brilho da novidade desaparece ou amadurece e permanece. Em segundo lugar, a curva da Gartner lembra a cauda longa de Chris Anderson: os grandes números (vendas) estão à esquerda, mas a consolidação faz-se à direita do esquema.

Assim, a minha leitura conclui-se com a moda e o brilho da juventude tecnológica nas redes sociais, microblogging, marketing comunitário, portabilidade social, plataformas de aprendizagem social, por esta ordem decrescente de brilho da moda. À direita, os wikis e os blogues, que já não são moda mas estão firmes e projectam uma longa vida, ultrapassando assim a fase da desilusão e entrando na era do renascimento (ou iluminismo, ou sabedoria, ou negócio, como queiram traduzir e aplicar a palavra enlightenment).

ENCONTRO DE BLOGUES NO "JORNAL DE NEGÓCIOS" DE HOJE


[Para ler adequadamente o recorte, clicar em cima da imagem]

INSCRIÇÕES NO PISA-PAPÉIS 2009/2010


Roteiro das artes do espectáculo. Aqui está o vídeo de promoção desse roteiro, com inscrições até 21 de Dezembro.



A procurarte.org, entidade que organiza o roteiro, é uma associação cultural e social que fica no Largo Vitorino Damásio, 3, 4º dir., em Lisboa.

10 ANOS DA LIVRARIA MINERVA GALERIA, EM COIMBRA


Desejo parabéns e felicidades à Livraria Minerva Galeria, e a Isabel e a José Alberto Garcia, pelos 10 anos da Livraria Minerva Galeria, na rua de Macau, em Coimbra, assim como pelos 23 anos da Livraria Minerva (alfarrabista), na Rua dos Gatos, 22 anos das Edições MinervaCoimbra e 16 anos da Livraria Minerva da Faculdade de Letras (ver blogue da MinervaCoimbra).
Dentro do programa de comemorações, será inaugurada uma exposição com obras de muitos dos artistas que ali têm exposto, casos de Ana Rosmaninho, António Menano, Artur Bual, Colette Vilatte, Hans George Schüssler, João Berardo, Lena Gal, Lúcia Maia, Maluda, M. Helena Toscano, Marco Rooth, Mário Silva, Miguel Barbosa, Paula Rego, Pedro Charneca, Pinho Dinis, Rebelo, Rui Cunha, Santiago Ribeiro, Sérgio Sá, Silva Duarte e Vasco Berardo, a decorrer no próximo sábado pelas 18:00.

Já participei em debates na livraria, sobre blogues, por exemplo. E a MinervaCoimbra editou dois livros meus, o que jamais esquecerei.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

COLECÇÃO DE FOTOGRAFIAS DA REVISTA LIFE DISPONÍVEL ONLINE


Desde ontem que 20% do total das fotografias existentes no arquivo da já desaparecida revista Life está disponível na Internet, através da Google (a partir de informação da newsletter de hoje do European Journalism Centre). A porta-voz da TimeInc, Dawn Bridges, disse que o arquivo inteiro ficará disponível até Abril do próximo ano.

Trata-se de uma das maiores colecções de fotografias existentes no mundo e de um dos mais importantes arquivos do século XX: 10 milhões de imagens, em que 97% nunca foram vistas!

CORPO E SIGNOS - CORPS ET SIGNES


COLÓQUIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

No centenário do nascimento de Claude Lévi-Strauss e Maurice Merleau-Ponty, a decorrer nos dias 20, 21 e 22 de Novembro 2008, no Auditório do Instituto Franco-Português, à Av. Luis Bívar 91, Lisboa.


A Comissão Científica é constituída por António Bracinha Vieira, José Luís Garcia, Jean-Yves Mercury, Nuno Nabais e Diogo Sardinha.

LOJA DE LISBOA


As imagens são do blogue Lisboa na ponta dos dedos, de Sancha Trindade, que permitiu a reprodução aqui. Escreve a autora do blogue: "abandonada há vários anos, estão finalmente a recuperar a mais bonita loja da Rua da Conceição. E dizem que vão manter os estuques".

RECUPERAÇÃO DE PATRIMÓNIO EDIFICADO EM BRAGA


O blogue Município de Braga dá conta do trabalho de recuperação do revestimento azulejar da escadaria nobre do Convento do Pópulo (século XVI).

A apresentação pública é hoje às 12:00.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

1967 - O ANO QUE MUDOU A RÁDIO NOS ESTADOS UNIDOS


Na história da rádio americana, 1967 é um ano charneira, como o propõem dois livros que agora trago à discussão. Um é de Jack W. Mitchell (Listener supported. The culture and history of Public Radio, 2005).

Depois da programação com interesse público da rádio Pacifica na década de 1960, e com influência da BBC inglesa em especial o Terceiro Programa, que alimentam os gostos de minorias culturais, a rádio pública americana surge em Abril de 1967. Um comité do Senado para os assuntos comerciais conseguiu fazer aprovar uma proposta do presidente Lyndon Johnson, após uma longa disputa terminológica entre televisão e audiovisual (esta palavra a incorporar a rádio). Surgia a National Public Radio (NPR).

O papel de Mitchell é fundamental na NPR. Nascido em 1941, trabalhou na rádio da universidade de Michigan (WUOM), onde estudava. A CPB (Corporation for Public Broadcasting), entidade que suportaria financeiramente a NPR, convidou Mitchell a trabalhar no novo conceito de rádio pública e enviou-o para o Reino Unido para trabalhar e estudar na BBC durante um ano. Após o regresso aos Estados Unidos, Mitchell tornou-se o primeiro empregado da NPR. Confessa ele que, sendo o primeiro empregado, foi o “primeiro” em muitas coisas. Por exemplo, foi produtor do programa All Things Considered, um dos esteios da informação da rádio pública. Foi também membro do conselho directivo da NPR, numa altura em que geria rádios no Minnesota e no Wisconsin. Mais tarde, enquanto docente universitário, pôde perceber melhor os movimentos e as tendências da rádio pública.

1967 é também o ano da marca de água do livro de Jim Ladd (Radio waves. Life and revolution on the FM dial, 1991). Escrito como se fosse um diálogo ininterrupto e romanceado, é uma viagem à própria experiência de Ladd, dee-jay desde o ano mítico de 1967 e uma figura notória da cena radiofónica da Califórnia. Se Mitchell conta uma história maioritariamente ocorrida na costa leste americana, Ladd dá-nos o contraponto da costa oeste, no Pacífico.

Foi em 1967 que Ladd e outros pioneiros lançaram rádios de rock and roll em FM. Na introdução ao livro, Don Henley fala de San Francisco, dos hippies, do consumo de ácidos, LSD e outras drogas, do álbum dos Beatles Sergeant Pepper’s Lonely Hearts Club Band e da contracultura (de costa a costa, de Boston a Los Angeles). O FM era superior ao AM em qualidade de transmissão e começava a usar a estereofonia.

Ladd recorda, no primeiro capítulo, a rádio KAOS, em 94.7 MHz, bem como a KFRE, animada pelo portentoso (em dimensão física) Tom Donahue (1928-1975) e pela sua futura segunda mulher, Raechel Hamilton, de 18 anos, com menos de metade da idade daquele. Grateful Dead, Jefferson Airplane, Janis Joplin, Jimmy Hendrix e Doors, entre muitas outras bandas, tocavam na rádio com uma abundância não vista anteriormente. O formato American Top 40, apanágio das rádios de AM, onde passavam os discos mais vendidos, era substituído por aquilo a que Ladd chama de corrente da contracultura ou underground e que rapidamente se estendeu aos Estados Unidos no seu conjunto (e também chegou a Portugal; vide o programa Em Órbita). O dia do arranque foi 7 de Abril de 1967. Tom e Raechel faziam tudo: tocavam os discos, falavam, atendiam o telefone. De rádio falida, a KFRE passou a ser o farol do novo estilo FM, angariando novos patrocinadores e tendo logo imitadores, como a WOR (Nova Iorque) e a WBCN (Boston). De San Francisco, Tom e Raechel foram logo depois destacados para dinamizar outra estação, agora em Pasadena. Estava-se em Outubro de 1967.

A KDOM, de Ladd, começava igualmente a ser conhecida, irradiando a partir de Los Angeles. Era ainda o tempo dos discos em vinil, que permitiam fazer habilidades como colocar a agulha no disco através de um botão de comando ou manualmente, procurando acertar na espira certa. Ladd apresentou uma demo de programa e foi admitido, passando, à noite, as músicas que mais gostava, desde Led Zeppelin a Beatles ou Ravi Shankar, música que significava para ele uma perspectiva geracional única (p. 23), com canções sobre o movimento pacifista, direitos civis, Vietname.