quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Encontro de media no Brasil

9º Encontro Nacional de História da Mídia, Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), 30 de maio a 1º de junho de 2013, Ouro Preto - MG. Ver mais em www.jornalismo.ufop.br/historiadamidia, www.facebook.com/HistoriaDaMidia, www.twitter.com/historiamidia.

mídia

A recepção dos Doors em Portugal

Os Doors surgiram em 1965 e acabaram em 1971, com a morte de Jim Morrison, o vocalista e alma da banda americana (no formato da banda inicial, que incluía Ray Manzarek nas teclas, Robby Krieger na guitarra e John Densmore na bateria), com influências de diferentes estilos musicais, casos do blues, do jazz, da country music e do movimento psicadélico. O seu impacto mundial foi enorme, marcando de forma inegável a cultura popular e de massa na segunda metade dessa década de 1960 e muito depois.

Rui Pedro Silva, um grande fã da banda e um dos seus mais conceituados biógrafos, escrevera Contigo Torno-me Real (2003). Agora, e depois de uma intensa investigação em Los Angeles, a cidade da banda, com especial incidência nos arquivos da Universidade da Califórnia (UCLA), onde Jim Morrison e Ray Manzarek se conheceram no curso de cinema, publica Caravana Doors. Uma viagem luso-americana (editora Documenta, 2012).

O livro tem duas partes distintas: a primeira dedicada ao percurso dos Doors, a segunda ao seu impacto em Portugal. Retenho a segunda parte do livro, onde o autor faz uma exploração sistemática da imprensa nacional e especializada em busca de ecos e reflexões da banda americana (Jornal de Notícias, Mundo da Canção, A Memória do Elefante, Música & Som, Se7e, Blitz). Numa das publicações, Mundo da Canção (Fevereiro(Março de 1981), era reconhecido o esforço de divulgação da música dos Doors, apresentado como produto de qualidade (p. 195). Mas também realça a passagem da banda na rádio, através dos seus discos (em alguns programas de rádio), casos de Unknown Soldier, pela comparabilidade de situações nos Estados Unidos (guerra do Vietname) e Portugal (guerras coloniais em África), Light My Fire e Strange Days.

Aqui, o programa Em Órbita (Rádio Clube Português) é destacado. Nascido no mesmo ano da banda norte-americana, o programa de Jorge Gil passou exclusivamente música anglo-americana, incluindo os Doors. Em entrevista ao jornal Se7e (16 de Julho de 1980), Gil disse: "A música que passávamos falava dos problemas dos jovens americanos e ingleses, mas não deixava de ter reflexos na realidade portuguesa. Quando se falava na guerra do Vietname estava-se, por via indirecta, a falar na guerra colonial" (p. 191).

Retiro mais alguns dados, a partir de uma entrevista dada por Rui Pedro Silva em 2011: "«Muitas bandas ao longo das décadas assumiram-se fãs incondicionais dos Doors, e algumas em particular do Jim Morrison, mas nenhuma conseguiu chegar ao brilhantismo que os Doors assumiram na música e no casamento da música com a poesia», referiu Rui Pedro Silva, autor do livro Contigo Torno-me Real. O autor, que está a preparar um segundo livro sobre os Doors, salientou que muitos tentaram imitar a banda de Jim Morrison, «mas ficaram muito longe» de conseguirem. «Outros beberam a influência e, de uma forma original, foram criar o seu próprio caminho», afirmou, destacando o caso de Ian Astbury, vocalista dos Cult, que mais tarde veio a ser convidado para representar Jim Morrison na banda que assumiu a designação Doors Século XXI" (Diário de Notícias).

O livro tem uma terceira parte, a de entrevistas e recolhas de opinião com artistas, agentes culturais e profissionais da rádio sobre o impacto da obra dos Doors: Cândido Mota, Ana Cristina Ferrão, António Manuel Ribeiro, Joaquim de Almeida, Tino Navarro, Filipe Mendes (Phil Mendrix), António Garcez, Sérgio Castro, João-Maria Nabais (a quem julgo que pertencem as pp. 394-401, mas não devidamente identificadas, pela densidade narrativa distinta do resto do volume) e outros.

Leitura: Rui Pedro Silva (2012). Caravana Doors. Uma viagem luso-americana. Lisboa: Documenta, 414 p., 24,99 euros

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O estado do bosque

José Tolentino de Mendonça distribui por cinco personagens a peça O Estado do Bosque (2013): John Wolf, o guia da floresta, Peter Weil e Jacob, mais jovem, os dois caminhantes na floresta, Viviane Mars e o Destino. São sete cenas, em que as diferentes personagens falam e revelam ao leitor como se entra, como se percorre e como se aspira a chegar a um ponto (fim, eterno, paraíso, alegria).

Logo na primeira cena indaga Peter (Pedro) a John (João) do sentido do trilho. John, que é cego, responde não saber pois cada trilho leva a mais do que um sentido. Há aqui uma asserção realista: cego não consegue esclarecer. Há também uma posição simbólica: a vida de cada um tem um sentido, um significado, mas cada indivíduo precisa de a procurar, ou seguir, ou construi-la.

No texto, nota-se a busca, a vontade de obter uma resposta. Diz o cego muito mais à frente (cena seis) que à noite o bosque deixa de ser cegueira: o que vê e o que não vê detectam as mesmas coisas - nada. Nessa cena, o cego (o Tirésias grego) dialoga com o destino, que o interroga porque ele arrasta inocentes para o bosque. O destino insiste em saber o que faz John desde que o sol desce e a escuridão se abate sobre o bosque. O Tirésias do bosque distingue os cheiros, as vozes, os acentos. A revelação, a procura da luz e da fé estão patentes em todo o belo texto do padre Tolentino Mendonça. Na adaptação ao teatro, Luís Miguel Cintra interpreta John e o Destino é uma gravação que dialoga com John e revela essa procura da revelação. Num momento de fragilidade emotiva grande, o actor e encenador sentiu a necessidade de proferir as palavras sagradas do Pai Nosso. Já era evidente esta procura religiosa de Cintra quando encenou Paul Claudel, como escrevi aqui, no começo do ano de 2012.

A Claudel, católico que fez aturadamente a exegese da Bíblia, Luís Miguel Cintra acrescentou outro autor, Pier Paolo Pasolini, poeta e cineasta maldito, marxista e homossexual, que dedicou um filme ao Papa João XXIII e protestou contra a dessacralização da vida. Para o ator e encenador, O Estado do Bosque é uma revisitação abstrata do Auto da Alma de Gil Vicente. Revejo o dispositivo cénico (de Cristina Reis): um centro em que o cego recebe e fala com Peter (Nuno Nunes), Jacob (David Granada) e Vivienne (Viviane) Mars (Vera Barreto), um rectângulo de luz sobre o chão, um poço atrás, um lugar onde os actores permanecem e se deslocam por detrás da formação de cadeiras em roda desse centro e onde se sentam os espectadores. Essa intimidade, essa proximidade, essa multiplicidade de pontos de vista dos espectadores, leva-os a compreender melhor o sentido dos gestos, silêncios, lamentos e interrogações - a revelação.

Num pequeno texto, o autor da peça lembra-nos que a religião não é apenas uma questão de igrejas e de padres, mas é verdadeira se for uma coisa humana. Deus não habita num passado distante chamado Bíblia, continua Tolentino Mendonça, mas existe, é atual. O Estado do Bosque é essa recondução ao lugar.

Leitura: José Tolentino de Mendonça (2013). O Estado do Bosque. Lisboa: Assírio & Alvim, 67 p. 10 €
Peça: Teatro da Cornucópia, Bairro Alto, Lisboa, 15 €

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Museu das Marionetas (Porto)

vai no batalha

O Museu das Marionetas (rua das Flores, Porto) abriu ao público muito recentemente.

O Museu tem como diretora Isabel Barros, mas a grande alma do espaço e do Teatro das Marionetas foi João Paulo Seara Cardoso (1956-2010), que teve formação no domínio da animação socio-cultural, do teatro e das marionetas (estes e os dados seguintes retirados do sítio do museu). Frequentou os cursos do Institut National d’Éducation Populaire e do Institut International de la Marionnette. Iniciou a sua atividade teatral e formação no Teatro Universitário do Porto. Dedicou-se à pesquisa e reconstituição do Teatro Dom Roberto, fantoches populares portugueses e recebeu de Mestre António Dias a herança desta tradição secular. Efetuou cerca de mil e quinhentas representações do Teatro Dom Roberto. Com a coreógrafa Isabel Barros codirigiu dois espetáculos explorando o cruzamento das marionetas e da dança: 3ª Estação e Hamlet Machine.

Para João Paulo Seara Cardoso, "Andamos sempre à procura dessa linguagem sensível que nos permite voar até lugares bonitos onde podemos encontrar um certo apaziguamento". Esse lugar bonito e com apaziguamento fica na rua das Flores. Aconselho uma visita.

[Vai no Batalha, encenação de João Paulo Seara Cardoso e marionetas de Rosa Ramos. Vai no Batalha era uma expressão que significava atualidade, novidade, cosmopolitismo, mas também conversa fiada, da treta, como se o outro fosse um tonto]

A rádio no Porto há 60 anos

comunicar2Em 1955, estava a formar-se a Radiotelevisão Portuguesa (RTP). Dos sessenta mil contos de capital inicial da RTP, um terço fora atribuído às estações de rádio. Um dos grupos de rádio que mais dinheiro pôs no capital social inicial da RTP foi o dos Emissores do Norte Reunidos (Porto), com 2310 contos. Aos Emissores do Norte Reunidos pertenciam cinco estações: Ideal Rádio, Rádio Porto, Rádio Clube do Norte, Electromecânico e ORSEC (Oficinas de Rádio, Som, Eletricidade e Cinema), as quais emitiram até ao final de 1975, quando a nacionalização da rádio as integrou na RDP.

A exemplo dos Emissores Associados de Lisboa, que, no final de outubro de 1950, juntaram Rádio Peninsular, Voz de Lisboa, Rádio Acordeon, Rádio Graça e Clube Radiofónico de Portugal , os Emissores do Norte Reunidos agruparam-se através das sociedades comerciais que detinham a posse das estações (Rádio Porto, ORSEC, Manuel Moreira, Ideal Rádio e Sá, Quaresma e Companhia), com quotas por sócio em partes iguais para um capital social de 450 contos. A gerência coube a Rádio Porto. A convenção europeia de redistribuição das frequências (Plano de Copenhaga) obrigou-as a emitir numa só frequência (1602 quilociclos por segundo).

A emissão passou a ser em regime de rotação, com duas a três horas diárias em horários diferentes ao longo da semana. Ao ficarem associados, isso resultou numa poupança de recursos: a antena comum montada na Afurada, em Vila Nova de Gaia, em 1953. Elementos para a história da rádio no Porto. Os 60 anos dos Emissores do Norte Reunidos foi o tema que escolhi ontem para falar no seminário Comunicar, organizado dentro da exposição com aquele nome, a decorrer no Museu de Transportes e Comunicações [imagens que retirei da exposição: estúdio áudio analógico, que pertencera à RDP Porto; sistema de imagens virtuais da estação ferroviária de S. Bento, Porto].

comunicar

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Fazer teatro

Fazer teatro é um debate organizado pela Sedes no próximo dia 28 de fevereiro à noite, com Jorge Silva Melo, responsável da companhia Artistas Unidos.


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A Estalajadeira de Goldoni

Creio que Mirandolina é mais que uma estalajadeira, é uma rainha, não no sentido da classe social nobre, mas no modo como olha o mundo e compreende as fraquezas e as contradições dos seres humanos. Em A Estalajadeira, de Carlo Goldoni, numa tradução e encenação de Jorge Silva Melo, estão em jogo as diferenças de género, as diferenças de classe e uma época especial de transição de classe moderna: a burguesia. Goldoni foi observador da Revolução francesa, sentindo na pele as alterações sociais: a sua pensão de velhice ser-lhe-ia retirada por ter origem numa decisão real, pelo que passou o seu último ano de vida na miséria.

Previdente, a peça explicita muito bem as lutas sociais em especial as dentro da nobreza enquanto classe social, a antiga e de pergaminho mas falida, a mais nova que comprou os títulos (condes e outros) com dinheiro obtido em empresas industriais ou comerciais. A estalajadeira é uma mulher que organiza o seu negócio (a estalagem, deixada pelo pai) e organiza a sua relação com os os pretendentes ao seu amor. No final, e para desespero do marquês de Forlipópoli (Américo Silva), do conde de Albafiorita (António Simão) e cavaleiro de Ripafatta (Elmano Sancho) e até do criado deste (João Delgado), ela opta pelo seu empregado Fabrício (Rúben Gomes), que lhe garante apoio na gestão do negócio.

Outras personagens são as cómicas (comediantes, uma espécie de peça dentro da peça) Hortênsia (Maria João Falcão) e Dejanira (Maria João Pinho), o oposto de Mirandolina, mulheres frívolas e só com olhinhos para os homens e os seus bens económicos.



Nunca tinha visto a peça, pelo que não posso estabelecer comparações, mas a interpretação de Catarina Wallenstein corre muito bem, solta, divertida e/ou irónica, suave e subtil, a encher o palco. Muitas vezes, os espectadores riem-se com o diálogo entre os pretendentes e a astúcia da mulher que governa a estalagem. A personagem é uma encenadora, está no centro do palco, finge (aceitando os presentes mas não dando nada em troca, como se fosse um jogo por ela controlado), faz de conta que desmaia para provar e desmascarar o cavaleiro, que de distante se revela interessado e mau perdedor, ao tentar agredi-la, o que condiz com o seu apregoado ódio às mulheres.

Goldoni (1707-1793) é um autor que rompe com a estrutura teatral da sua época. Então, os autores traçavam as personagens e deixavam os atores improvisar (commedia dell’arte). Com Goldoni voltou-se ao hábito antigo da escrita das peças completas, que o ator interpretava. Isso valeu-lhe glórias mas igualmente incompreensões. O trabalho dele é a comédia em que o caráter de uma personagem vai sendo revelado (commedia di carattere).

A peça A Estalajadeira está numa curta temporada no Teatro de S. João (Porto), palco adequado a uma peça do século XVIII. Contudo, e por hábito de ver os Artistas Unidos no seu teatro na rua da Escola Politécnica, entre o Rato e o Príncipe Real (Lisboa), senti falta daquele conforto de estar perto dos atores e dos cenários. Jorge Silva Melo indica que a encenação desta peça lhe deu grande prazer, uma cintilante (como adjetiva) obra que traduziu em 1973 e então a destinava a Glicínia Quartin e a Luís Miguel Cintra.

O tradutor e encenador fala de Goldoni como o autor que não vem da literatura – daí o ser tratado de pouco culto – mas do teatro, pois toda a sua vida fê-lo, montou-o, programou-o. A peça leve (comédia) aparece um pouco em contrário a alguma programação dos Artistas Unidos, com autores contemporâneos em situações e contextos novos. Isto apesar de haver nos anos mais recentes uma linha menos dramática daquela que se observa na vizinha Cornucópia, cuja peça atual é um belo texto do padre Tolentino Mendonça, um espetáculo de que procurarei ocupar-me num dos próximos dias.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Igrejas Caeiro e Os Companheiros da Alegria

Na Fundação Marquês de Pombal (Linda-a-Velha) foi hoje ao fim da tarde inaugurada uma exposição evocativa de Francisco Igrejas Caeiro, no primeiro aniversário do seu desaparecimento. Esta exposição, a partir de espólio organizado pela Sociedade Portuguesa de Autores, é fundamentalmente fotobiográfica, mostrando o homem nas suas múltiplas actividades. teatro, cinema, rádio. Apesar da má qualidade da fotografia, consegue-se ver Igrejas Caeiro e Os Companheiros da Alegria, espectáculo realizado no começo da década de 1950, por todo o país. Impedido por razões políticas de continuar os seus programas itinerantes (1954), Igrejas Caeiro passou a fazer o seu programa na cabina do Rádio Clube Português (até 1969, quando o actor, realizador e homem de cinema passou a dirigir o Teatro Maria Matos) e a pequena camioneta foi depois vendida ao Sport Lisboa e Benfica (ainda em 1954).

Grupo universitário de investigação da rádio

Com o objectivo de promover o desenvolvimento dos estudos de rádio em Portugal, um grupo de investigadores de vários centros de pesquisa em comunicação (de Braga, Coimbra e Lisboa), criou esta sexta-feira uma rede de Estudos de Rádio. Reunidos na Universidade Nova de Lisboa, simbolicamente na semana em que se assinalou o Dia Mundial da Rádio, os fundadores deste grupo pretendem dinamizar os estudos sobre meios sonoros e os novos modelos de produção radiofónica (no vídeo, Madalena Oliveira, uma das promotoras do encontro). A reunião desta sexta-feira, dia 15 de Fevereiro, teve o intuito de mobilizar os investigadores que têm desenvolvido algum trabalho científico nesta área para a criação de uma rede nacional que possa constituir-se como interlocutora de outros grupos similares de âmbito internacional. O programa de ações a médio prazo incluirá a organização regular de eventos científicos, a publicação de uma série de livros e o desenvolvimento de projectos de investigação que fomentem a cooperação entre grupos nacionais e internacionais. Esta reunião de reflexão contou com a participação de Adelino Gomes, convidado para emprestar a sua experiência profissional neste meio à definição de linhas estratégicas de investigação. Um novo encontro ficou já agendado para o final de Setembro. Até lá, o grupo conta lançar uma plataforma online para publicar notícias, criar redes de contacto e divulgar a produção bibliográfica dos investigadores portugueses (do comunicado final do grupo).



Contactos:
Luís Bonixe: luis.bonixe@gmail.com
Madalena Oliveira: madalena.oliveira@ics.uminho.pt
Paula Cordeiro: pcordeiro@iscsp.utl.pt

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Rádio

Hoje é o segundo Dia Mundial da Rádio. Qual pode ser o meu contributo para assinalar este dia? Escrever que sexta-feira se inaugura uma exposição sobre [Francisco] Igrejas Caeiro, um eminente homem da rádio (Fundação Marquês de Pombal, Linda-a-Velha), e que eu vou falar sobre as estações de rádio no Porto, numa perspectiva de historiador, no próximo dia 25 naquela cidade (Museu dos Transportes e Comunicações).

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A cultura a partir dos governantes e dirigentes de topo

Em dias quase seguidos, o jornal Público editou duas entrevistas feitas a altos responsáveis da cultura. Primeiro, coube a vez a Jorge Barreto Xavier, no cargo de secretário de Estado da Cultura desde Outubro do ano passado (Vanessa Rato e Joana Amaral Cardoso, Público, 8 de Fevereiro), depois, a entrevistada foi Isabel Cordeiro, responsável da Direcção-Geral do Património Cultural, no lugar também desde a mesma altura (Isabel Salema e Lucinda Canelas, Público, 10 de Fevereiro). Três ou quatro páginas de texto, ambos com chamada de primeira página, dão conta do investimento feito pelo jornal a nível da cultura. Nestas chamadas de capa, seriam escolhidos dois temas fulcrais na acção governativa ou dirigente: cinema, património. Embora de igual relevo, diria que uma entrevista é mais política (a do secretário de Estado) e a outra tem contornos mais culturais e de relacionamento entre áreas (a da directora do património). As idades dos dois é próxima: 48 anos em Barreto Xavier, 46 anos em Isabel Cordeiro. Em ambos a ambição de deixar coisas feitas nas suas lideranças (as entrevistas servem para dar conta destes estados de alma; o balanço vem depois de cumpridas as funções).



Jorge Barreto Xavier enfrenta um sector exterior (a produção de cultura e arte) exangue: cortes, não lançamento de apoios e atrasos de cumprimento de obrigações por parte do Estado. O governante garante que estão a ser cumpridos calendários e metas. Mas subsistem dúvidas. Por exemplo, no cinema, a verba de 10,19 milhões de euros de apoios à produção em 2013 corre o risco de não ser concretizada: há uma quebra de espectadores nas salas de cinema, os canais de televisão de sinal aberto podem não contribuir com os montantes estipulados, por redução de audiências e investimentos publicitários, e os canais de televisão por cabo, com maiores audiências, não foram tidos nessa nova distribuição de espectadores. Explica a necessidade de cortes (30% na Casa da Música, 20% no CCB) mas destaca a importância e o interesse do governo nessas duas instituições. Ele fala de uma postura assente em cinco vectores: pluralidade, coesão, identidade, resiliência e crescimento. Como conciliar o lado teórico com a prática criativa?

Barreto Xavier não dá respostas ideológicas, pois a palavra parece-lhe limitada, não encontra dificuldade em conciliar as suas expectativas anteriores (crescimento da produção e consumo da cultura com maiores apoios do Estado) com a actual situação de controlo e restrições orçamentais. À pergunta da possível exclusão de criadores como Olga Roriz em termos de apoios às artes, responde com cautela ao indicar que se devem encontrar caminhos transparentes e de menor burocracia na acção do Estado. Destaco como pontos curiosos: 1) insistência em encontrar uma norma distinta da marxista e da neoliberal em termos de economia da cultura, 2) relação entre tempo e espaço, a privilegiar este último e a incorporar as margens (leio: a experimentação, a inovação, a criatividade, em suma).

Isabel Cordeiro, com uma experiência rica ligada aos museus (veio de directora do Palácio Nacional de Queluz), traz uma preocupação com a classificação dos bens patrimoniais, que distingue entre monumentos nacionais, de interesse público e de interesse municipal. O que ela pretende proteger são, como diz, os referenciais absolutos de cultura, o que mexe com a identidade nacional e o que tem valor de excepcionalidade. Do que falta classificar, ela lembra realidades culturais mais difusas como a Avenida da Liberdade ou as Minas de São Domingos. E esclarece as razões de transferência de monumentos até agora afectos à Direcção-Geral e que passaram para as autarquias como o Convento de Jesus (Setúbal) e a Sé de Santarém, por questões de proximidade e uma melhor gestão desses bens. O novo Museu dos Coches é algo que a nova responsável do património cultural promete gerir com atenção (creio que não consegue disfarçar a sua oposição a um projecto que está a chegar à sua conclusão): hoje, o museu custa 600 mil euros por ano, o novo vai necessitar de 3,5 milhões de euros, o que quer dizer que os actuais 200 mil visitantes precisam de subir para 600 mil por ano, para equilibrar as contas.

É que o orçamento que Isabel Cordeiro vai gerir em 2013 anda à volta de 40 milhões de euros, 19 milhões vindos do orçamento de Estado, 13 de receitas próprias e o restante de fundos comunitários. Ela dá um grande peso às receitas próprias, pelo que as visitas gratuitas ao domingo de manhã estão condenadas a desaparecer (e a ser substituída por gratuitidade apenas a uma tarde de domingo por mês, no que me parece uma medida incorrecta). Há também um dispositivo teórico (e prático) na sua visão da função: mais polivalência, mais capacidade de liderança e mais concorrência em termos de fontes de financiamento. Por outro lado, as relações com instituições internacionais representam um dos seus objectivos programáticos.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Simplesmente Maria

Simplesmente Maria foi um folhetim radiofónico transmitido pela Rádio Renascença entre 1973 e 1974 (aqui referi a recente passagem de documentário na SIC, assinado por Isabel Osório, no que parece ser uma reapropriação, revivalismo ou reavaliação da cultura popular de massas da década de 1970). Agora, é tema de uma peça de teatro pelo grupo A Curta, A Comprida e a do Meio, jovens que ainda não eram nascidos nessa época mas que a recriam num texto de Mirró Pereira, com direcção de projecto de Gisela Duque Pereira e direcção de cena de Joana Barros.

Na peça agora estreada pelo grupo A Curta, A Comprida e a do Meio, acolhido pelo Teatro A Barraca, a Santos (Lisboa), há, sobre a história do folhetim radiofónico, uma outra história em torno dos intérpretes da novela. Do folhetim, salienta-se Maria (Carolina Parreira), recém-chegada da aldeia, que procura emprego em Lisboa, no começo da década de 1970. Conhece Maria Albertina ou Dona Zéza (Ana Lopes Gomes), a dona da casa onde se hospeda, e Arminda (Joana Barros). Com esta partilha o quarto e vai trabalhar num escritório como empregada da limpeza, onde conhece Eduardo (Daniel Moutinho), por quem se apaixona, e o irmão deste, Artur (Pedro Luzindro). Maria, que entretanto muda de profissão e abre uma loja de reposteiros, como que ascendendo socialmente, acaba por ser preterida por uma outra mulher e aproxima-se de Artur, mas o casamento com este é impedido pelo irmão Eduardo que o fere com uma arma de fogo. A história do folhetim aproxima-se muito das histórias de fotonovelas e radionovelas da época, muito piegas e em que os homens têm mais liberdades e oportunidades que as mulheres.



A história da peça narra as aproximações sentimentais dos artistas que representam as personagens da radionovela. Maria Amélia (Carolina Parreira) e Henrique (Daniel Moutinho) tiveram uma relação amorosa mas desfizeram-na, com aquela a aproximar-se Tony (Pedro Luzindro), mas só para fazer inveja a Henrique. Tony apaixona-se verdadeiramente por Maria Ana (Joana Barros). Duas outras personagens, artistas extra radionovela, são o sonoplasta (Bernardo Gavina) e Hermínia (Sofia Ramos) [as imagens abaixo foram retiradas da página de Facebook do grupo teatral e da folha volante distribuída com a peça; os cartazes têm design de Patrícia Guimarães].

O que mais me agradou ver na peça foi a reconstituição de uma sala de estúdio de rádio na época retratada, nomeadamente os cuidados postos na gravação (e os sinais cúmplices dos artistas com uma régie atrás dos espectadores, como se estivessem a reconhecer o bom trabalho de registo) e no trabalho da sonoplastia. Fico-me neste. À época, ou alguns anos antes, com mais propriedade, os sons de ambiente eram gravados na altura do registo. O sonoplasta tinha de inventar os sons: tacões de mulher a andar depressa, porta a abrir e fechar, colher em chávena para indicar o café que se bebia, apito para sugerir comboio a partir, teclar telefone para fazer pensar em chamada telefónica. Esses sons eram bem imitados e sugeridos pelo sonoplasta, primeiro com Pedro Luzindro e depois com Bernardo Gavina.

Os sons, aliás, constituem uma presença determinante na peça, ou não fosse ela a recordação ou reconstituição de um folhetim radiofónico. De um relato de futebol com Artur Agostinho a um discurso pela rádio por Salazar, música da época (Beatles [Blackbird singing in the dead of night, take these broken wings and learn to fly / All your life, you were only waiting for this moment to arise / Blackbird singing in the dead of night, take these sunken eyes and learn to see / All your life, you were only waiting for this moment to be free / Black-bird fly / Black-bird fly, into the light of a dark black night], Simone de Oliveira, Paulo de Carvalho, outros) e sons da revolução de Abril de 1974, a marcar o quase final da radionovela. No intervalo da peça, são sorteados dois prémios: um sabonete Ach Brito e um conjunto de costura da Coats & Clark. Logo: mais um sinal de verosimilhança com os sorteios realizados na rádio na época retratada pela peça, no sentido de estabelecer uma maior empatia com a audiência, os ouvintes.



Embora de uma geração anterior a Simplesmente Maria, o outro grande êxito de radionovelas em Portugal foi A Força do Destino (1956), mais conhecido pelo folhetim Tide da Coxinha [Tide era a marca de detergente patrocinadora do folhetim], transmitido pela Rádio Graça.

Em entrevista sobre o seu trabalho, disse o sonoplasta Octávio Frias, responsável pelos efeitos sonoros de A Força do Destino: "Muito trabalho com episódios, de 230 e tal episódios, fazendo a montagem. Começámos, por exemplo, à quarta-feira às dez da noite e acabávamos aí às quatro ou cinco a gravar só a parte de interpretação. E depois era feito comigo a parte de sonorização, de montagem, de ruídos que, naquela altura, eram muito difíceis de arranjar. Tínhamos por vezes de fazê-los diretamente e depois eram feitas as cópias para os Emissores Associados de Lisboa e Rádio Clube Português e Emissores Norte Reunidos" (entrevista conduzida por Luís Garlito, para o programa da RDP A Minha Amiga Rádio, 28 de Setembro de 1993; Arquivo da RTP AHD 14919). Muito curiosamente, o sonoplasta Octávio Frias, falecido no final de 2012, casou-se (na vida real) com a estrela da radionovela Lily Santos. A cunhada desta fazia o papel de má da história, enredos afinal parecidos com as histórias ficcionadas e que também podemos observar na peça do grupo A Curta, A Comprida e a do Meio.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Sociologia da cultura em Maria de Lourdes Lima dos Santos

Sociologia da Cultura. Perfil de uma carreira, de Maria de Lourdes Lima dos Santos é um livro que se lê com muito interesse. Como o subtítulo deixa antever, trata-se de um volume que recolhe muitos dos textos produzidos por Maria de Lourdes Lima dos Santos (1935).

Como esta professora escreve na nota prévia, ao longo de cerca de 40 anos de carreira profissional (1966-2005), ela escreveu textos para publicações periódicas em ciências sociais, textos para as disciplinas de sociologia que leccionou, textos para congressos, textos de projectos (livros e relatórios), textos com ideias para aprofundar e reflectir (p. 15).

Atravessou o grupo de bolseiros da Gulbenkian do Instituto de Ciências Sociais, chegou a investigadora coordenadora e foi presidente do Observatório de Actividades Culturais. A sociologia da Cultura foi a área onde a autora esteve mais ligada, desde a primeira disciplina com aquele nome na universidade portuguesa (1983), onde fez o doutoramento e as provas de agregação e onde organizou e dirigiu o observatório acima indicado. Nesse sentido, escreve, os textos agora publicados são o retomar da sociologia da cultura, e o consequente remeter para a sua carreira.

A primeira parte do livro aborda as diversas fases da sua carreira, quase no tempo da criação do GIS (Gabinete de Investigações Sociais), actual ICS, e da revista Análise Social, por Adérito Sedas Nunes (p. 19). Já na década de 1980, a autora acompanha o reconhecimento da sociologia como carreira, com a licenciatura do ISCTE, a institucionalização do GIS (ICS) e a constituição da Associação Portuguesa de Sociologia (p. 21). Se a terceira parte da sua carreira acompanha a década de 1990, com coordenação crescente de projectos e orientações, enquanto dedica atenção a temas como a convivialidade e o lazer (p. 26), o quarto período é o do Observatório de Actividades Culturais (p. 33).

A segunda parte do livro aborda os escritos ao longo da carreira, como as noções de cultura (grande cultura, popular, de massas) (com uma leitura cuidada da produção literária francesa sobre o tema), raridade e reprodutibilidade (onde escreve sobre Benjamin, Dorfles, Bordieu e Lipovetsky), novos mundos da arte e da cultura (com precisa referência à heterogeneidade dos públicos, em 1994 e que se repercute nos textos posteriores, como o que coordena sobre os públicos do Porto capital da cultura), a cultura mediática e as indústrias culturais, cultura dos ócios (onde define a composição das minorias cultivadas, 1995). Maria de Lourdes Lima dos Santos dedica o espaço central do livro a um texto de 1979 sobre intelectuais e artistas no século XIX (trabalho para a tese de doutoramento), a que se segue a conceptualização de públicos de cultura, a meu ver uma das melhores elaborações teóricas aqui presentes.

Público leitor, públicos do Festival de Almada, do teatro S. João e do Porto 2001, apresentações de outros tantos volumes editados pelo Observatório, e públicos da cultura (resultado de um encontro em 2003) adquiram, na época da publicação, uma grande importância na formação e discussão intelectual no país. No seguimento, a autora estuda a relação entre cultura e economia, nomeadamente o mecenato, de que faz uma resenha elaborada das políticas governamentais. Dos trabalhos que li da professora do ICS, o que mais me marcou foi "Indústrias culturais: especificidades e precariedades", de 1999. O ponto de partida foi a relação tripla das indústrias culturais com 1) as outras indústrias, 2) entre si e 3) as outras formas culturais.

Estudo das galerias de arte, políticas culturais nacionais e europeias, e transformações no domínio da cultura de 1974 a 2004 são outros temas a ler com atenção. A última parte da obra é dedicada a guiões das aulas, em especial as leccionadas entre 1983 e 1998. Aqui observa-se uma espécie de textura, de construção do tecido teórico, da experimentação contínua do trabalho do docente. Olhando estas páginas aprende-se muito como se processa a evolução e a maturação de um pensamento.

Leitura: Maria de Lourdes Lima dos Santos (2012). Sociologia da Cultura. Perfil de uma carreira. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 511 p., 30 €

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Café da Manhã da RFM acaba

Café da Manhã, programa emblemático da RFM (grupo Renascença), apresentado por José Coimbra e Carla Rocha, vai acabar, conforme hoje foi divulgado pela estação. O programa durava há dez anos no horário mais importante da rádio (6:00-10:00). A substituição da equipa parece dever-se à perda de audiência para a concorrente Rádio Comercial. O novo programa terá como apresentadores André Henriques, Nilton, Joana Cruz e Mariana Alvim (a partir de notícia do Diário de Notícias).

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Jornalistas sobre pressão

"Jornalistas sobre pressão" é o tema do mais recente número da revista Jornalistas & Jornalismo (nº 52, de Out/Dez 2012). No sumário do tema lê-se: "Os jornalistas estão sob pressão, mergulhados numa profunda crise de identidade e, tal como outras profissões intelectuais, num claro processo de proletarização. Mas a fragilização dos jornalistas não os afecta apenas a eles e ao jornalismo - são os direitos dos portugueses a uma informação livre, rigorosa e pluralista e é a própria democracia que estão em causa".

No seu texto, Fernando Correia aponta diversos tipos de pressão: laboral, profissional, ética, empresarial, de autonomia, político-ideológica. Do mesmo trabalho, ressalto o seguinte: "a sobrevivência de uma empresa só será possível se os jornalistas tiverem condições materiais e concretas, mas também subjectivas, para o exercício das suas funções; se forem em número suficiente e suficientemente remunerados; se a sua dignidade e identidade profissionais forem respeitadas; se a deontologia não for vista como um empecilho mas como uma garantia de qualidade; se os mais velhos não forem considerados como um incómodo mas sim como um factor de preservação da memória e um precioso manancial de experiência; se os mais novos deixarem de ser mera reserva de trabalho disponível para tudo, ou mão de obra barata, eternamente temporária e facilmente descartável".

Carla Baptista, no seu texto, apresenta quatro histórias de jornalistas desempregados: António Marujo (51 anos), Leonor Figueiredo (56 anos), Isabel Lucas (42 anos) e Pedro Quedas (30 anos). Histórias de gente com muita qualidade e que tem (sobre)vivido com altos e baixos de uma profissão entusiasmante mas onde essa qualidade tende a não ser reconhecida. Lembro a especialização de Leonor Figueiredo, quando no Diário de Notícias escrevia sobre saúde. Ganhou prémios e prémios pelo seu trabalho. Um dia, o ministério da Saúde convidou-a a fazer parte do júri de um prémio pela razão dessa sua especialização. Ela recusou. Para a minha tese de doutoramento, sobre notícias de saúde, ela foi uma fonte privilegiada, dado o seu conhecimento dessa matéria. Agora, fez o mestrado em História Contemporânea, candidatou-se a uma bolsa para investigação no doutoramento e publicou algumas obras, mas não faz o que mais gosta de fazer: jornalismo.

Carla Baptista, num outro texto, mais analítico, mostra números de jornalistas em Portugal, a partir dos registos da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista. O número de profissionais está a diminuir, estabilizando nos 6705 em dados de Outubro de 2012 (chegaram a 8948 em 2007). Apenas em 2012, prossegue no mesmo texto, a Impala fechou quatro revistas, num total de 29 jornalistas, o Sol despediu 20 jornalistas, o Diário Económico rescindiu com 22 jornalistas e avançou com o despedimento colectivo de seis jornalistas, o Público despediu 36 jornalistas e um layoff de 21 pessoas. 2012 foi um ano negro na história do jornalismo em Portugal, conclui a docente da Universidade Nova de Lisboa.

Outros temas da Jornalismo & Jornalistas: entrevistas ao jornalista Paulo Moura e ao professor Muniz Sodré, prémios Gazeta 2011 e um texto de história do humorismo, com apresentação da obra de Rafael Bordalo Pinheiro (por Álvaro Costa de Matos).

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Call for Papers: “History of the Media in Transition Periods”


4-6 September 2013, Lisbon, Catholic University of Portugal

Convergence and digitalization have become buzz-words employed to demonstrate how technological change has impacted on the media and is reconfiguring today’s media systems. Accordingly, media research in the last decade has centered itself on the contemporary changes operated on and by the new media sometimes over-estimating the transitions that are taking place and not acknowledging common patterns that can be found between the emergence of new media and the appearance of other means of communication in previous decades. In fact, instead of being something new brought by digitalization, moments of technological transition can easily be found in many historical periods namely throughout the 20th century. While today the internet and new media are inducing new patters of media consumption, back in the 1920s radio broadcasting facilitated change in everyday life by bringing entertainment into the homes while in the 1950s television also enabled new patterns of media consumption inside the home. The increased interest in understanding today’s new media can be explained by the seductive power of “the new” which leads scholars to interpret contemporary transitions as being the most profound in history. For example, it is now frequently claimed that new media play a crucial role in changing social habits, economic structures and even political regimes.

Whatever about the past, in today’s culture there is increasing concern and attention focused on the media’s active role in transition periods, i.e. during periods of discontinuity. When thinking about economic or political crisis, or even in war periods or regime changes, the media have been active players in mediating the new reality and promoting the discussion on the public sphere besides being used as instruments of cultural diplomacy. Having this background in mind, the ECREA Communication History Section intends to discuss the role of the media in transition periods either these are technological, political, economic, social or cultural transitions.

Thus, the Section invites contributions from scholars who are interested in topics related to this theme and who can present papers and engage in the discussion at its 2013 workshop in Lisbon that with be organized in collaboration with the research line “Media, Technology, Contexts” of the Research Centre for Communication and Culture. Extended abstracts (500 words max.), for a 15 minute presentation, can be submitted by e-mail to: <a href="https://webmail.lisboa.ucp.pt/src/compose.php?send_to=ecreacomhistory%40gmail.com">ecreacomhistory@gmail.com</a> until 17 March 2013, focusing (but not limited to) the following topics:

• Media and technological change
• The emergence of new media (popular press, film, radio, television, internet)
• The role of the media in regime transitions or political change (emergence of authoritarian regimes, implementation of democracy, political shifts inside a particular regime)
• The media in periods of uncertainty (economic transitions, social upraises, war periods)
• Past economic crisis and their impact on media and journalism
• Media and the creation or alteration of social habits
• Changes in audience behavior and consumer/audience identities
• Mass Communication in the two World Wars or in the Inter-War Crises (Russian Revolution and Rise of Fascist and National Socialist Regimes)
• The role of the media in the Cold War
• Media change in specific European 'regions' or geo-political formations
• Theories and conceptualizations of media change in transition periods
• To what extent is historical understanding and explanation becoming increasingly techno-centric or media-centric?

The ECREA Communication History Section is also planning to publish a handbook with the aim of providing a coherent set of contributions which yield a well-structured and relevant overview of European mass media history and so provide a platform for more transnational perspectives on relevant historical developments. The he workshop in Lisbon will also provide an opportunity to advance the Section's interests and plans for handbooks and other texts related to overviews of European media and communication history.

All abstracts submitted will be subject to peer-review. Authors will be notified by 14 April 2013. Both ECREA members and non-members can submit extended abstracts to the workshop.

II Congress of History and Sport - II Congresso de História e Desporto

II Congress of History and Sport
May 30 and 31, 2013
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Lisbon, Portugal
Call for papers
Organization Grupo de História e Desporto (Group for History and Sport), from the Instituto de História Contemporânea (IHC) of Universidade Nova de Lisboa and Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX of Universidade de Coimbra – CEIS20. International Congress with papers accepted in Portuguese, English, Spanish and French. Proposal submissions until February 15, 2013 to: historia.desporto@gmail.com.

Submission results: March 15, 2013
Proposals: title, abstract (500 words), three key-words and curriculum (200 words)
Goals
The Grupo de História e Desporto (Group for History and Sport – GHD) gathers researchers from several institutions, with the main goal of promoting cooperation, research and studies in the field of sport history. The GHD also organizes events for History and Sport at the national and international levels. In the Portuguese case, the interest in the history of sport is an important research focus. The GHD also organizes an annual congress, whose goal is the discussion and the production of knowledge in the various aspects of the intersection of history and sport. The theme for the 2013 congress is the Sport in the Ibero-american Space.
Subject
In 2013 is the centenary of the Portuguese-Brazilian relations in football, a very important issue in both countries – in 1913 a Portuguese football team visited Brazil for the first time in history. To mark these event and to promote a sport history research about the international relations between Iberian Peninsula and American countries, the II Congress of History and Sport will be dedicated to Sport in the Ibero-american Space, in different perspectives in sport, including social, economic, political, religious, media, culture, ethics, cultural, artistic, structural and others.
Call for papers
We seek abstracts of no more than 500 words from persons interested in participating in the II Congress of History and Sport. Please include three key words related to your proposed paper, a brief curriculum vita, academic affiliation and contact information (including email and telephone). Papers can be presented in Portuguese, English, Spanish and French. Proposals should be submitted via email to: historia.desporto@gmail.com.
Important dates in 2013
February 15 – Closing deadline for proposals
March 15 – Notification of abstract acceptance
May 1 – Final program announced
Fees: 25 euros and 10 euros (students)
Organizing Committee
Francisco Pinheiro, CEIS20 da Universidade de Coimbra, João Tiago Pedroso de Lima, NICPRI da Universidade de Évora, Manuela Hasse, Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa, Maria Fernanda Rollo, IHC/FCSH da Universidade Nova de Lisboa, Nuno Miguel Lima, IHC/FCSH da Universidade Nova de Lisboa, Rita Nunes, Academia Olímpica de Portugal/Confederação do Desporto de Portugal.
More details about the Congress can be found on the following websites: http://congressodehistoriaedesporto.blogspot.com, http://www.ceis20.uc.pt, http://ihc.fcsh.unl.pt/, http://www.facebook.com/ihc.fcsh.unl

II Congresso de História e Desporto
30 e 31 de Maio de 2013
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas Universidade Nova de Lisboa
Call for papers
Organização Grupo de História e Desporto, do Instituto de História Contemporânea (IHC) da Universidade Nova de Lisboa e do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra – CEIS20.
Congresso internacional, com conferencistas convidados, aceitando-se a apresentação de comunicações mediante submissão de proposta. Aceitam-se comunicações em português, inglês, espanhol e francês. Submissão de propostas até 15 de Fevereiro de 2013 para: historia.desporto@gmail.com.
Comunicação do resultado da submissão: 15 de Março de 2013
Enviar: título da comunicação, resumo (500 palavras), três palavras-chave e breve currículo (200 palavras). 
Objectivos
O Grupo de História e Desporto reúne investigadores de diversas instituições com o objectivo de promover a cooperação, a investigação e a divulgação de estudos, assim como a realização de actividades sobre História e o Desporto no contexto nacional e internacional. O interesse pelo Desporto e pela sua História está longe de corresponder, em Portugal, a uma actividade prolífica em termos de iniciativas que promovam a investigação neste campo e o contacto entre investigadores, bem como a difusão de conhecimentos e saberes. O Grupo de História e Desporto assumiu o desenvolvimento de diversas iniciativas, quer a nível editorial quer organizativo, incluindo a realização de um congresso anual. Pretende-se que esse congresso constitua um contributo para a discussão e aprofundamento de matérias ligadas à História e ao Desporto, elegendo anualmente uma determinada linha de investigação que, em 2013, será o Desporto no Espaço Ibero-americano.
Tema
No ano em que se comemora o centenário das relações luso-brasileiras no futebol, por ocasião da visita ao Brasil, em 1913, de uma equipa da Associação de Futebol de Lisboa, o II Congresso de História e Desporto será dedicado ao Desporto no Espaço Ibero-americano, nas suas múltiplas facetas: desportivas, sociais, económicas, políticas, jurídicas, éticas, de género, mediáticas, competitivas, culturais, organizativas, religiosas, artísticas, urbanísticas, entre outras. Call for papers As propostas de comunicação devem ser apresentadas num texto máximo de 500 palavras e ser acompanhadas por três palavras-chave. Os proponentes deverão juntar uma breve nota biográfica, assim como indicar a respectiva filiação institucional e contactos do autor ou autores (email e telefone). Aceitam-se comunicações em português, inglês, espanhol e francês.
Endereço para o envio de propostas: historia.desporto@gmail.com.
Calendarização
15 de Fevereiro – data limite para a submissão de propostas de comunicações.
15 de Março – comunicação sobre a aceitação de comunicações.
1 de Maio – divulgação final do programa.
Valor da inscrição: 25 euros e 10 euros (estudantes)
Comissão organizadora
Francisco Pinheiro, CEIS20 da Universidade de Coimbra, João Tiago Pedroso de Lima, NICPRI da Universidade de Évora, Manuela Hasse, Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa, Maria Fernanda Rollo, IHC/FCSH da Universidade Nova de Lisboa, Nuno Miguel Lima, IHC/FCSH da Universidade Nova de Lisboa, Rita Nunes, Academia Olímpica de Portugal/Confederação do Desporto de Portugal.
Para mais informações, consultar: http://congressodehistoriaedesporto.blogspot.com, www.ceis20.uc.pt, http://ihc.fcsh.unl.pt/, http://www.facebook.com/ihc.fcsh.unl.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Adivinhe quem vem para rezar

O homem (Jorge Loureiro), de cerca de quarenta anos, entrou na igreja para a missa de sétimo dia do pai. Ao fim da tarde abatera-se sobre o local um grande temporal. Ainda não chegara ninguém, nem a mãe, até que entrou o velho sócio do pai. Em tempos, eles tinham sido proprietários de uma pastelaria, de luxo dizia o velho sócio, de quinta categoria dizia o homem. Desde o começo do encontro dentro da igreja, descobre-se um grande ódio que o homem tem pelo velho, de quem desconfiava ter sido amante da sua mãe. Poderia ter contado ao pai, mas desfazia o casamento. Ao invés, o velho tem uma grande simpatia pelo homem.

Há um diálogo intenso e duro. Por vezes, as duas personagens sentam-se ao lado dos espectadores, pois a sala funciona como o espaço de reza dos crentes. A mim, à minha esquerda, calhou o velho sócio (António Reis). Aquele vozeirão grave a entrar junto a mim impressionou-me muito. Perguntaria ele: "Já olhaste bem para mim, para a minha idade, para a minha bengala...? Eu sou uma obsessão na tua vida e não sabia". O velho admirava-se sobre o defunto, pois pensara que morreria antes dele.

Num segundo quadro, o homem espera a família para a missa do sétimo dia do sócio do seu pai. O primeiro a aparecer é o pai (António Reis), que comenta pensar que morreria antes do falecido. A história aparece como que invertida, o que nos faz compreendê-la melhor. De repente, o pai diz ao homem que nem sempre os dois falaram tudo o que deviam e conta que o falecido é que era o seu verdadeiro pai. Continua: "sempre foste mais ligado à tua mãe, não me prestavas atenção. Eu também estava lá, mas tu não me vias". Momento de pânico: o homem fica desconcertado: "Então, por que é que nunca me ensinou? Eu não sabia que pensavas desse jeito tão liberal".

A trovoada continua, ninguém aparece na missa. O homem mantém-se à espera. Até que o padre (António Reis) entra e dirige-se aquele filho (de Deus) que já estava à muito a rezar. O homem mostra a sua preocupação: um terceiro a chamar-lhe filho. "Vamos começar a missa?", pergunta o padre. Agora, a conversa toma um outro rumo; afinal, os homens falam pouco uns com os outros, economizam nas palavras e geram mal entendidos. A conversa é mais do género feminino, como a conversa da ex-mulher daquele homem perdido na igreja. "Vá aprender a seduzir", aconselhara o velho sócio do pai (afinal o seu verdadeiro pai). Lições, sermões, advertências, escreveu Dib Carneiro Neto.

Adivinhe quem vem para rezar é uma peça do brasileiro Dib Carneiro Neto, 51 anos, de ascendência libanesa, que escreveu no O Estado de S. Paulo durante vinte anos e agora se dedica à escrita de peças. Estreou em 2005 no Brasil e já foi representada na Argentina e no Paraguai. A encenação portuguesa pertence a Júlio Cardoso, uma peça do Seiva Troupe (Porto).

sábado, 2 de fevereiro de 2013

A fotografia de Francesc Català-Roca

Francesc Català-Roca (1922-1998) está em exposição no Centro Português de Fotografia (Porto) a partir de hoje e até 7 de abril, comissariado por Cherna Conesa. O fotógrafo catalão em três décadas deixou mais de 200 mil negativos de qualidade, observando a realidade quotidiana (festas, ruas, publicidade, polícias, gente urbana e rural, fundos de fábricas). A exposição centra-se na década de 1950 (há muitas fotografias de 1955), numa altura de lenta recuperação da Espanha, cujos valores e economia tinham saído devastados pela guerra civil e pelo impacto da II Guerra Mundial.