sexta-feira, 29 de junho de 2018

José Manuel Tengarrinha

José Manuel Tengarrinha foi o arguente da minha tese de mestrado em media e jornalismo, em maio de 1992. Ele foi dirigente político e um importante historiador da imprensa.

Agora, com o anúncio do seu falecimento, presto-lhe a minha singela homenagem. Obrigado por tudo, professor.

sábado, 16 de junho de 2018

António Macedo

Toma, serviço público de media!

Eu ouvi agora o elogio de António Macedo feito por David Ferreira: a perda do mais caloroso dos seus animadores. E a crítica ao serviço público de media, isto é, à rádio. Penúria, perda de ativo, negligência ou estratégia (escondida?).

quarta-feira, 13 de junho de 2018

As emissões de rádio em Portugal começaram no outono de 1924

A revista TSF em Portugal começou a publicar-se em 9 de novembro de 1924, dirigida por Álvaro Contreiras, então funcionário da Marconi. O seu objetivo era "publicar em Portugal uma revista da especialidade, onde informássemos os nossos compatriotas dos progressos existentes, acompanhando a sua marcha, elucidando os novos inventos que aparecem, enfim, tudo que interessa à radiotelefonia e à radiotelegrafia".

No número de 15 de fevereiro de 1925, a revista publicava, na página inicial, a fotografia do emissor 1AB (pouco depois CT1AB), de José Joaquim Dias de Sousa Melo, e, no número de 15 de março do mesmo ano, o esquema do mesmo emissor. Na primeira imagem, no topo do móvel, além da campânula (gramofone) observa-se a bobina emissora (ninho de abelha), e, abaixo, os auscultadores e o microfone. As primeiras experiências, escreveu o amador, começaram em novembro de 1924, com duas válvulas, continuando em dezembro, com cinco bobinas e três condensadores. Por esta descrição, o esquema parece-me incompleto, pois apenas se vê representada uma válvula eletrónica.

Fixo-me na data aproximada das primeiras experiências: novembro de 1924.



Na realidade, o número de 30 de novembro de 1924 noticiava um amador a fazer ensaios na onda de 450 metros, com as iniciais PS (tornada, como acima indico, em 1AB e depois CT1AB). Todas as noites, o amador chamava "Allo! Allo! Aqui, posto português PS". No número de 14 de dezembro de 1924, a revista TSF em Portugal indicava continuarem as experiências e avisava outro posto emissor de estar a criar obstáculos a esta ação, "pois não gostaria de ser perturbado se estivesse em audição". Também CTV, o posto militar de telegrafia de Monsanto, era uma ameaça à transmissão dos amadores, devido ao uso de emissor de faísca (isto é, sem frequência definida), depois substituído por equipamento com frequência determinada por oscilador.


TSF em Portugal, no número de 18 de janeiro de 1925, publicaria a fotografia de José Joaquim de Sousa Dias Melo, considerado o "primeiro amador de Lisboa que construiu um posto de transmissão".


Mas a notícia mais interessante seria publicada pela revista no número de 28 de dezembro de 1924. Além da referência a 1PAB, agora com quatro lâmpadas eletrónicas, que emitia em telegrafia e telefonia, a indicar a passagem da transmissão de morse para a da voz, através de microfone. A mesma notícia apresenta outro emissor, o que realmente me interessa aqui: 1PAA, depois modificado para CT1AA. Lê-se: "1PAA tem feito interessantíssimas experiências, tendo já por diversas vezes transmitido concertos que têm agradado imenso a todos os que têm ouvido tanto em nitidez, como em intensidade". As experiências caminhavam no sentido da regularidade, no que posso definir como emissões de rádio. Logo, a rádio em Portugal começou a sua existência no final do outono de 1924.


No número de 8 de março de 1925, a revista publicaria o programa de P1AA com a emissão do terceiro concerto-prova da Sociedade de Amadores de Rádio Portugal (a designação mais frequente de 1PAA, depois CT1AA), a começar às 21:00 na banda dos 300 metros. Os anteriores concertos transmitidos pela estação teriam ocorrido entre meados de dezembro de 1924 e fevereiro de 1925. Tal significa que, em menos de três meses, os amadores da rádio portuguesa evoluíram rapidamente. A revista TSF em Portugal teria forte influência nesse desenrolar, pelo incentivo constante. O número de 15 de março do mesmo ano inseria uma carta encomiástica "tanto na organização feita pelo sr. dr. Carlos Pimentel , como pela execução dos distintos amadores e artistas musicais, o programa marcou pela seleção dos seus números e pela perfeição da transmissão levada a efeito pelo proprietário do posto sr. Abílio dos Santos".  Por seu lado, a estação P1AB emitiria um concerto a 12 de março de 1925: além de música clássica, atuaria o fadista Alfredo Marceneiro, acompanhado à guitarra por Álvaro Cunha. Um intervalo humorístico também fazia parte do programa, com Lino Sousa.


Na edição seguinte de TSF em Portugal, a 15 de março de 1925, o anúncio do quarto concerto-prova da Sociedade de Amadores Rádio Portugal, trazia uma novidade, o speaker (locutor) Herculano Levy.


A vida de Herculano Levy dava quase um filme. Nascido em São Tomé, filho ilegítimo de Salvador Levy, procurou herdar o que lhe competia da fortuna do pai, o que conseguiu após decisão do tribunal. Mas, antes, e para sobreviver, foi crítico de arte, teatro, cinema e música. Depois, passou a gerir uma distribuidora de filmes até ser convidado por Ricardo Covões para fazer a publicidade e promoção do Coliseu dos Recreios. Quando o tribunal considerou legal usar o nome e receber a parte da fortuna do pai a que tinha direito, ele retirou-se da atividade e passou a administrador de prédios que comprou. O seu conhecimento musical permitiu-lhe fazer diversas conferências sobre músicos internacionais [informação a partir do livro de Carlos Espírito Santo, Herculano Levy, Poemas, 2000].

domingo, 10 de junho de 2018

Estúdios da rua Cândido dos Reis (Porto)

No Porto, a Emissora Nacional inaugurava os seus estúdios na rua Cândido dos Reis, em 1943 (Panorama, nº 17, outubro de 1943). A satisfazer um desejo antigo, o Emissor Regional do Norte passava a contar com instalações adequadas para a produção de programas. O relevo era dado ao estúdio principal e à central técnica (fotografias de Mário Novais).


Agora, os estúdios da rádio pública estão no Monte da Virgem (RTP) e a rua Cândido dos Reis alberga bares que se enchem de movimento e alegria ao final da tarde e noite.

sábado, 9 de junho de 2018

Sobre a rádio pública

Nas décadas de 1950 e 1960, aqueles que tinham uma visão geral do serviço público de media eletrónicos olhavam mais para a televisão do que para a rádio, escreveu Jack W. Mitchell, relatando a situação nos Estados Unidos. O eixo Boston-Nova Iorque, com as universidades de Harvard, Princeton e Yale, nomeadamente, não tinha uma estação de rádio como objetivo, apesar das comunidades académicas olharem o serviço de rádio da BBC (Inglaterra) como meio ideal em termos educacionais.

Em Boston, continua Mitchell a escrever, a estação WGBH foi o modelo americano, instituição independente e sem o objetivo do lucro, propriedade de um conjunto de instituições educativas, cuja estrutura, governação e obtenção de fundos se assemelhava aos museus, orquestras sinfónicas e outras entidades privadas a funcionarem dentro do ideal filantrópico dos Estados Unidos [modelo que não se replica, por razões históricas e sociais, noutros países como Portugal]. Como a BBC e outras entidades que emergiram depois, a rádio WGBH representava os valores sociais e culturais da elite civil educada, emitindo muitas horas de música clássica, intercalada com teatro radiofónico e entrevistas. A qualidade inerente não buscava educar ou elevar a literacia da população, no sentido do missionário, mas tornou-se tão só um refúgio cultural.

A rádio cultural perdeu impacto ao longo da década de 1960, reporta ainda Mitchell, porque não se enquadrava no espírito da transformação da sociedade. A televisão passava a ser o alvo prioritário do dinheiro a investir na educação. Mitchell identifica, por exemplo, a Fundação Ford. A educação pelo meio televisão ajustava-se às ideias do presidente americano Johnson de criar uma sociedade com direitos iguais para as minorias, fim da pobreza e segurança para os idosos. Apesar da corrente, os novos ideais americanos conduziram a Fundação Carnegie a envolver-se num projeto que seguia a perspetiva de Reith e Hoover da rádio servir as minorias. Daí, saiu um relatório sobre o meio negligenciado que se tornou a rádio (The Hidden Medium: Educational Radio. A Status Report, 1967).

O relatório, conhecido por relatório Herman Land, nome do consultor responsável pelo documento, descrevia os ouvintes da rádio educativa como possuindo valores de educação e de rendimento acima da média e mais velhos que os ouvintes das rádios comerciais e musicais. Falava-se, nesse sentido, de rádio pública. A discussão política, no Senado por exemplo, não interessa aqui. Mas importa realçar que, da quase invisibilidade da questão, se proporcionou o nascimento da Rádio Pública Nacional (National Public Radio, NPR).

Jack W. Mitchell quando publicou Listener Supported. The Culture and History of Public Radio (2005) tinha 64 anos de idade. Ele fora o primeiro produtor do programa All Things Considered e fora, por três vezes, presidente da NPR, não sei se mandatos seguidos ou intercalados. All Things Considered foi um programa muito focado na informação e nas notícias. À data da edição do livro, Mitchell era docente na universidade de Illinois.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Command Performance - Fazer um disco em 1942



O filme de William Ganz (1942), Command Performance, da RCA Victor, mostra os processos envolvidos na produção da gravação de discos de laca, incluindo a elaboração do disco master, o disco mãe e os estampadores (e matrizes).

Observação: a gravação musical era, à época, feita diretamente da peça tocada por músicos para o disco. Muito pouco tempo depois, o processo inicial de registo seria feito por fita magnética. No filme, fala-se em laca e ainda não em vinil.