domingo, 30 de janeiro de 2011

APOSTA DA TELEVISÃO EM NOVELAS E ENTRETENIMENTO

"Televisões apostam em mais novelas e entretenimento" (Público).

MEDIA PRO E EMÍDIO RANGEL

"O grupo de media de Rui Pedro Soares e Emídio Rangel, com o apoio dos espanhóis da Media Pro, está a ser visto em Espanha como um aliado do Governo socialista de José Sócrates" (Diário de Notícias de hoje). Continua a notícia: "O objectivo é lançar um grupo de comunicação que englobe um jornal, uma rádio e uma televisão, com o apoio da espanhola Media Pro, que detém em Portugal o Porto Canal. Para isso, Rangel e Soares adquiriram à Media Pro, segundo informação veiculada pela imprensa, os direitos de transmissão da Liga espanhola de futebol, que até 2012 pertencem à Sport TV, detida em 50% pela Controlinveste, grupo que tem ainda o DN, o JN, O Jogo e a TSF". A notícia indica ainda o seguinte: os direitos da Liga espanhola para a época 2012/13 custaram a Rangel e companhia 2,6 milhões de euros, pagos em três parcelas, admitindo-se que o grupo espanhol Imagina, que detém a Media Pro, seja um dos principais suportes do grupo.

A COMUNICAÇÃO PORTUGUESA VISTA DE FORA

"[Degli anni Ottanta], i cittadini europei non rinunciano volontariosamente a vedere programmi americani in televisori giapponesi" (Bechelloni, 2009: 122).

Fascino Lusitano. Identità e cultura nella società della comunicazione portoghese, de Barbara Bechelloni, é um livro cujo ponto de partida reside numa bolsa de estudo Erasmus que a autora teve em Portugal em 2001. O encanto lusitano que fala o título serve como ideia central para ela escrever sobre identidade e memória, história de Portugal e estrutura social, modernidade (passagem de uma sociedade rural e fechada para uma sociedade plural e aberta), ênfase no período da década de 1960 para a de 1990 e entrada no século XXI, sociedade da informação como contributo para a democratização e entrada na Europa e seus reflexos na transformação do sistema dos media no país (1968-1986).

Sobre a história portuguesa, a autora traça rapidamente a origem do país (1143), grandes descobertas marítimas (séculos XV e XVI), revolução republicana (prefere o confronto entre absolutistas e liberais de 1830, mas salienta o assassínio do rei Carlos I e a constituição da República em 1911), revolta militar e ditadura, Rivoluzione dei Garofani (1974) e lenta democratização, ingresso na Europa.

Fixo-me no capítulo sobre os media portugueses (pp. 77-106). Barbara Bechelloni avalia o período entre 1968 e 1986 (de Marcelo Caetano como primeiro-ministro à entrada na Comunidade Europeia, hoje União Europeia). Para ela, existe um sistema de media decomposto em quatro parcelas: 1) produtivo, organizativo formal e empresarial; 2) discursivo ou da gramática do discurso nos suportes escrito, sonoro e audiovisual; 3) agentes produtores de informação; 4) significado do produto ou estrutura receptiva (público/audiências). A autora compara as mudanças iniciadas no marcelismo com a realidade do começo do século XXI - de pequenas empresas ligadas aos media, apesar de começarem a formar-se grupos de media, aos aglomerados e internacionalização e integração de media dentro do chamado hiper-sector da informação e da comunicação, em que a estrutura e circuitos de financiamento, produção, distribuição e publicidade são mais articulados e poderosos. Abandona-se a comunicação assente na cultura e na sociedade e chega-se a uma cultura do lazer e do entretenimento, paralelo à mudança de um mundo assente na industrialização que passa para um ligado aos serviços.

No período de 1974 a 1986, a docente da Università Sapienza, em Roma, detecta a seguinte periodização: 1) libertação (Abril de 1974), que assinala o fim da censura e culmina com a lei da imprensa, 2) estatização (Março de 1975), pela via indirecta da nacionalização da banca, 3) fase legislativa (em volta de 1979, marcada sobretudo pela acção de Daniel Proença de Carvalho), 4) crise económica-financeira (a partir de 1979), 5) pulverização das rádios livres (1984-1988), 6) desestatização e reprivatização dos media (de jornais e abertura à televisão privada, a partir de 1992). A autora identifica outros pontos essenciais na vida dos media portugueses no final do período em análise. Na imprensa, política de brindes para estimular a vendas dos jornais, tabloidização da imprensa generalista, jornais gratuitos e aumento do preço do papel (p. 96-98). Na rádio, apesar da sempre anunciada morte e dos baixos investimentos publicitários, a sua revitalização (430 frequências atribuídas a Portugal na conferência de Genebra em 1984) (p. 101). Na televisão, o surgimento quase simultâneo de canais privados em feixe hertziano com a oferta por satélite e por cabo conduziu a um aumento de volume de negócios e maior quantidade de conteúdos, com a crise de 2000-2001 a fazer ponderar quais as linhas do futuro, além de uma reflexão sobre a programação, em especial o sucesso de reality-shows como o Big Brother (p. 106).

O livro tem prefácio de Isabel Ferin da Cunha, da Universidade de Coimbra, um significativo ensaio de nove páginas sobre a história social dos media portugueses nas últimas três décadas.

Leitura: Barbara Bechelloni (2009). Fascino Lusitano. Identità e cultura nella società della comunicazione portoghese. Roma: Z!nes, 193 páginas

sábado, 29 de janeiro de 2011

IMPRENSA E INTERNET

Na sua coluna do Diário de Notícias publicada hoje, J.-M. Nobre-Correia escreve sobre sucessivas crises que abalaram a imprensa: a rádio nas décadas de 1940 e 1950, a televisão nas décadas de 1960 e 1970, a perda dos monopólios com proliferação de rádios e televisões nas décadas de 1970 e 1980, a internet com abundância de fontes de informação e interactividade e possibilidade de criação de media nas décadas de 1990 e 2000. Para combater a quebra de vendas, abriram-se portas à "economia da gratuidade" e a passagem das "informações de serviço e dos classificados esvaziou seriamente duas funções sociais primárias dos jornais". Mas a internet não permitiu atingir os resultados esperados em termos de pagamento das consultas, de assinaturas e de receitas publicitárias. O novo tablet da Apple parecia alterar esta situação, mas J.-M. Nobre-Correia apresenta razões para um novo falhanço.

CULTURA

O ministério da Cultura já não vai avançar com a fusão do Teatro S. Carlos e Companhia Nacional de Bailado com o Teatro D. Maria II e Teatro S. João (notícia do Expresso de hoje). A alteração de propósitos surge depois de críticas fortes e da demissão de Jorge Salavisa à frente da administração da OPART (Organismo de Produção Artística, que tutela o teatro S. Carlos e a companhia de bailado), cargo que assumira em Abril de 2010. A ministra Gabriela Canavilhas diz querer uma programação que seja do interesse dos frequentadores dos teatros associada a uma optimização de recursos.

TELEJORNALISMO

Os noticiários televisivos são actualmente a principal fonte de informação da sociedade - eis o ponto de partida que reuniu oito investigadores (e jornalistas) do Brasil e de Portugal. O resultado é o livro Telejornalismo. A nova praça pública (2006), organizado por Alfredo Vizeu, Flávio Porcello e Célia Mota. A ideia do livro nasceu em 2005, quando foi criada uma rede de pesquisa em telejornalismo no Brasil. Além dos autores que organizaram o volume, o livro conta com textos de Sylvia Moretzsohn, Beatriz Becker, Iluska Coutinho, Aline Lins e João Carlos Correia, e um prefácio de Elias Machado.

No livro, analisam-se rotinas produtivas, modos como os jornalistas procuram atrair o público com as suas notícias, que códigos particulares, que audiência presumida, distinção entre urgência do "vivo" e tempo real (visibilidade por oposição à reflexão), como assinalam os noticiários as experiências do quotidiano, da festa e da comemoração em termos de identidade, que dramaturgia usa o noticiário, que cidadania é veiculada, relação entre televisão e poder, construção autoral colectiva. Semiótica, fenomenologia, sociologia do jornalismo, antropologia, são algumas das ciências usadas no livro.

Retenho algumas das ideias do texto de João Carlos Correia, docente da Universidade da Beira Interior (Covilhã): o mundo parece-nos como se apresenta e há uma premissa de confiança na permanência das estruturas do mundo, o que implica um padrão organizado de rotina (p. 203). Na perspectiva fenomenológica aplicada ao jornalismo, existe uma visão convencional associada ao senso comum. Seguindo o fenomenólogo Alfred Schutz, o conhecimento do mundo do senso comum é próprio de uma comunidade bem integrada, com aparência de coerência, clareza e consistência (p. 211). Se há uma ruptura, após essa alteração, o jornalista reorganiza o tempo e o espaço das ideias e cria uma rotina, uma continuidade, uma trama narrativa que imprime um dado significado aos acontecimentos (p. 205). João Carlos Correia fala de diversidade, pressuposição, leitura preferencial e enquadramento. O autor escreve ainda sobre a construção da realidade social, que atravessa as obras de Berger, Luckmann e Tuchman.

Leitura: Alfredo Vizeu, Flávio Porcello e Célia Mota (2006) (org.). Telejornalismo. A nova praça pública. Florianópolis: Editora Insular, 223 páginas

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

MONSTRA - FESTIVAL DE ANIMAÇÃO DE LISBOA

A 10ª edição da MONSTRA – Festival de Animação de Lisboa, já tem datas marcadas: de 21 a 27 de Março de 2011. O mais antigo festival de Lisboa continua a mostrar o que de melhor se realiza no mundo do cinema de animação.

Em Fevereiro, a MONSTRA estará em Arras, França, a convite da galeria Quai de la Batterie, onde participará em três actividades relacionadas com o cinema de animação, com Fernando Galrito, professor de animação na ESAD, programador e Director Artístico da Monstra, e Pedro Serrazina, realizador de filmes de animação.

GAETANO PESCE NO MUDE

No próximo dia 3 de Fevereiro, pelas 16:00, o designer italiano Gaetano Pesce vai estar à conversa no MUDE, com moderação da directora do MUDE, Bárbara Coutinho. O encontro é aberto ao público em geral e destina-se, em particular, a designers e estudantes de design, arquitectura e artes plásticas.

Para assinalar a visita deste criador, que vem lançar o modelo Melissa+Gaetano Pesce, o MUDE vai apresentar, a partir de 1 de Fevereiro, no centro da sua exposição permanente (Piso 0), um núcleo com todas as peças da sua autoria que integram o espólio do museu.

Gaetano Pesce é considerado um dos expoentes máximos do Design Radical. Os seus trabalhos de arquitectura e design privilegiam o significado em detrimento do funcionalismo, tornando-o num ícone do anti-design. Mais recentemente, colaborou com a Melissa, dando continuidade ao projecto que a marca brasileira tem vindo a desenvolver com grandes criadores da actualidade, como Vivienne Westwood, irmãos Campana e Zaha Hadid.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

DANÇA CONTEMPORÂNEA EM GUIMARÃES

"O Centro Cultural Vila Flor (CCVF), de Guimarães, levará à cena o 1.º Festival de Dança Contemporânea nos primeiros meses deste novo ano. Com este evento artístico ampliará a já reconhecida qualidade da sua programação no domínio dos espectáculos vivos. Saudamos a iniciativa, tanto mais que a dança é, infelizmente, frequentemente relegada para segundo plano quando comparada com as áreas da música, do teatro, das artes plásticas" (Paulo Santos Pinto, aluno finalista do Curso de Estudos Artísticos e Culturais (FacFil/UCP/Braga) em Estágio no Centro Cultural Vila Flor (Guimarães), Diário do Minho, 26 de Janeiro de 2011).

CIDADES - 9

"Cada viajante constrói, das cidades que ama, uma ideia que raramente coincide com a lógica da geografia urbana. [...] desenha percursos, associações imaginárias, mitos instrumentais que o fazem ver as fachadas, os monumentos, as praças e as gentes de uma determinada zona como os melhores sinais identificadores do espírito do lugar" (António Mega Ferreira, Roma. Exercícios de reconhecimento, 2004, p. 13).

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

RÁDIO DE RANGEL AUTORIZADA

A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) aceitou a venda da rádio Europa Lisboa a Emídio Rangel e sócios e a mudança de perfil de rádio musical para informativa (fonte: Meios & Publicidade). Esta aquisição prepara o começo de um novo grupo de media, a que se sucederão um semanário, um portal e um canal de televisão.

REDES SOCIAIS NO NORTE DE ÁFRICA E MÉDIO ORIENTE

A rede social Twitter confirmou ontem ter estado fechada pelas autoridades egípcias. Quando a revolta no Egipto parecia tomar o mesmo rumo dos acontecimentos da Tunísia, onde os governantes que se mantinham no poder há décadas foram contestados e expulsos, o governo egípcio desligou o acesso à rede social. Na Tunísia, grande parte da população, em especial a mais jovem, usou o Twitter, Facebook e YouTube nesse levantamento, repetindo manifestações semelhantes ocorridas no Irão em 2010.

As redes sociais estão a desempenhar um papel de mobilização social igual ao do telemóvel no começo da década passada. Acaba por ser mais eficiente dada a malha de redes pessoais ser mais complexa, capilar e dispersa mas chegando aos mesmos receptores que o telemóvel, para não falar na menor eficácia de contactos via panfleto em papel quando não existiam estas tecnologias electrónicas. Por seu lado, a televisão faz a recolha e tratamento de informação, conferindo uma narrativa aos dados dispersos que chegam às redacções. A televisão amplia, a televisão chega aos outros lugares, aos outros países, permite ensaios noutros espaços, comparabilidades e hipóteses de mudança.

PRISA

Bastante endividado, o conglomerado de media espanhol Prisa vai cortar 2500 empregos (18% do total da sua força de trabalho). Ontem, a Prisa comunicou à CMVN (Comissão de Valores Espanhol) que os cortes afectariam 2000 postos de trabalho em Espanha e 500 em Portugal e no continente americano, realizados através de mecanismos como o incentivo à reforma antecipada ou a partir de 2012. A redução de emprego faz parte de uma reestruturação devido à evolução recente do mercado dos media. No ano que acabou, a empresa de investimentos americana Liberty Acquisition Holdings comprou uma participação maioritária na Prisa. A Prisa é o maior grupo de media de Espanha e proprietário do El Pais, um dos mais conceituados jornais do país vizinho (fonte: m&g news). Em Portugal, os principais interesses da Prisa são a televisão TVI e rádios como Comercial e M80.

Actualização às 12:40: segundo informação via Meios & Publicidade, não haverá redução de efectivos na TVI e na Plural Portugal, segundo garantiu Bernardo Bairrão, administrador-delegado da Media Capital. Além das rádios, a Media Capital inclui a Castello-Lopes (filmes e cinemas) e a Prisa detém revistas (Progresa-MCE) e a editora Santillana.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

CIDADES - 8

Renato Miguel do Carmo propõe uma viagem ao mundo através do Google Earth, onde chega a Nova Iorque, Cidade do México, Lisboa. Não sai da cadeira nem vai para outra divisão da casa, salta de cidade em cidade. Elas mostram-se planas e geométricas, a duas dimensões.

O autor lembra alguns homens que há um século começaram a ver a cidade de cima, como Georg Simmel, Louis Wirth, Ernest Burgess. A cidade é apresentada como organismo vivo que molda uma forma a partir da auto-selecção de diferentes campos de força (indivíduos, grupos, empresas, bairros) (Carmo, 2008: 27). No começo do século XX, a cidade de Chicago, observada por Burgess, explodia de população vinda de outros países e continentes, amontoada em diversos bairros. Mas uma certa lógica persistia face ao aparente caos, com a cidade a transformar-se em organismo capaz de construir áreas específicas para grupos oriundos de uma mesma região ou país. Os indivíduos diferenciam-se no espaço e juntam-se  aos que lhe são próximos (sociais, étnicos, religiosos). A expansão das cidades gera uma geometria quase invariável, uma estranha noção de ordem.

Apesar de círculos ou rectângulos em que se fecham os indivíduos, existe uma grande capacidade de circulação. Renato Miguel do Carmo fala da mobilidade diária (residência, emprego, escola, lojas) e depreende que a geometria inclui a circulação. E outra coisa: a individualização, que encontra em Simmel. Junta o descompromisso do sujeito, com atitudes generalizadas de indiferença, reserva e anonimato. A evidência do estrangeiro e do não possuidor de terra - por não preso ao lugar: bairro, rua, amigos - reforça a circulação, o passageiro permanente. O autor cita Castells, que indica que os lugares que ficam presos à cidade são os que se perderam do mundo, povoados por populações marginalizadas (p. 35).

Desconto a perspectiva pós-futurista de Castells e a poesia do conceito de "não lugar" em Marc Augé, que Carmo aceita, e penso na dicotomia entre ficar e partir. A partida pressupõe lugar para ficar. O estar a procurar uma cidade por meio virtual não inibe a necessidade de chegar ao lugar não conhecido. Aliás, estimula. A viagem prepara-se diante de um papel, de um itinerário encontrado na internet e reconstituído no percurso. A visita dá densidade à porosidade que é o planear a viagem.

Leitura: Renato Miguel do Carmo (2008). "Deambulando pelos duplos da cidade: do estrangeiro ao construtor de lugares". In Renato Miguel do Carmo, Daniel Melo e Ruy Llera Blanes (coord.) A globalização no divã. Lisboa: Tinta da China, pp. 25-42

ESTATÍSTICAS DE MEDIA E COMUNICAÇÕES

A Sampler of International Media and Communication Statistics 2010 é uma compilação de Sara Leckner e Ulrika Facht, editada pela Nordicom. O objectivo do longo e interessante relatório é apresentar e reflectir sobre dados comparativos de vários países, em domínios como a televisão, a internet, as telecomunicações, a rádio e os jornais. Diz o texto de introdução: "Nós precisamos de criar plataformas para atingir objectivos de colaboração a níveis regional, nacional e internacional a médio prazo. Precisamos de estudos comparativos de modo a ter conhecimento em assuntos de real importância. Precisamos de desenvolver ferramentas analíticas que possibilitem análises comparativas nas culturas mediáticas" [indústrias culturais].

A Nordicom monitoriza as tendências dos sectores dos media nos países nórdicos: Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia e compila estatísticas sobre os media e fornece dados às empresas de media e aos reguladores de media e telecomunicações daqueles países. Ao mesmo tempo, fornece perspectivas sobre o que se passa fora daquela região, procurando alcançar uma posição de observação a nível mundial, dada a rápida evolução das tecnologias, dos usos e dos consumos.

BLOGUE SOBRE A REGULAÇÃO DOS MEDIA

Oreste Pollicino, jurista e professor italiano da Universidade de Bocconi, em Milão, fundou um blogue dedicado à regulação dos media na Europa e onde compara a legislação de cada país (direito comparado dos media). Chama-se Medialaws e tem textos em italiano e inglês.

NOVELA DA SIC

Laços de Sangue, a novela da SIC no horário nobre, é o primeiro título de duas co-produções entre a Rede Globo e a portuguesa SP Televisão. A parceria envolve todas as etapas da criação e produção de novelas, incluindo guião, planeamento e definição de elementos artísticos, como se lê na revista Notícias Madre SGPS a que pertence a produtora SP Televisão.

Um dos objectivos é englobar a novela no pacote de vendas internacionais, a começar com o certame organizado pela National Associates of Television Program Executives (NATPE), que abriu ontem e se prolonga até amanhã em Miami, Estados Unidos. Depois de Laços de Sangue, em que está envolvido o guionista brasileiro Aguinaldo Silva, projecta-se uma segunda novela ainda para este ano. Outro dos objectivos é o de atender à crescente necessidade de programação provocada pelo surgimento de novos meios.

O terceiro objectivo da parceria é abrir um espaço de produção em Portugal. A co-produção significa o alargamento, para fora do Brasil, da produção de novelas e a concorrência mais directa, em Portugal, com as novelas da Plural Entertainment, da TVI.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

IOSSELIANI

Otar Iosseliani (ოთარ იოსელიანი, Tbilisi, Geórgia, 1934) é o realizador de Chantrapas (2010). Conta a história de Nicolas, que procura fazer um filme na Geórgia. Os dirigentes burocratas não entendem o conteúdo do mesmo e perseguem-no como dissidente. No fundo, o filme que ele se propõe fazer é sobre a liberdade e sobre a repressão, nem que as imagens mostrem apenas flores e plantas a serem derrubadas para a construção de uma zona habitacional. A repressão, no sentido da metáfora, é a perda da liberdade de vadiar após o final diário das aulas, a boleia do comboio de mercadorias, a iniciação do tabaco ou da bebida, como revela a analepse no filme. O avô conhece um amigo em Paris e encoraja-o a partir para França, pois encontrará um ambiente distinto. Nicolas, que trabalha na construção civil ou num jardim zoológico para sobreviver no Ocidente, prepara o seu filme. Os burocratas do seu país, noutra posição, parecem ajudá-lo – prometem não voltar a persegui-lo. Nicolas negoceia com os produtores, mas estes também não entendem o filme. Volta tudo quase ao princípio, com o regresso dele à Geórgia. O lar parece-lhe aconchegador, o avô procura descobrir o que Nicolas sabe de uma antiga apaixonada agora a viver em Paris. A família faz um piquenique, ele pesca. Os chantrapas são os que não servem para nada, os que devem ser excluídos. Certamente que uma sereia negra, surgida furtivamente num lago, o considerará e o levará para longe das burocracias do mundo. Talvez surja então a compreensão. Actores: Dato Tarielachvili, Tamuna Karumidze e Fanny Gonin. Vídeo no YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=fs3wKEFnjMs&feature=player_embedded.

domingo, 23 de janeiro de 2011

SOBRE O STAR-SYSTEM PORTUGUÊS

"Dantes, o sonho dos pais era que os filhos fossem doutores. Hoje querem que sejam famosos" (Público).

FILME INACABADO DE WELLES EM PRÓXIMA EXIBIÇÃO

Uma obra de arte inacabada filmada por Orson Welles, The Other Side of the Wind, realizada há cerca de 40 anos vai chegar aos ecrãs, noticia hoje o jornal Observer. O filme narra as últimas horas da vida de um velho realizador de cinema. John Huston é o realizador em causa.

NOVO PROJECTO DE MEDIA

"Os projectos de Emídio Rangel para a fundação de um semanário, uma rádio de informação e um site na Internet vão arrancar em simultâneo a partir de Abril. Trata-se de um investimento de cinco milhões de euros, que exigirá a contratação de mais de cem jornalistas que, no futuro, irão também trabalhar para um canal de televisão da responsabilidade do antigo homem forte da SIC" (fonte: Público).

sábado, 22 de janeiro de 2011

SERVIÇO PÚBLICO DE TELEVISÃO (X)

Uncertain vision é um texto de Georgina Born sobre a BBC. A autora passou diversos anos a estudar o serviço público de audiovisual inglês, em especial os canais de televisão da BBC - 1995 a 1998, 2001 -, resultando uma profunda etnografia. Observação participante, com a escrita de oito diários, e 220 entrevistas fazem do estudo talvez o mais importante sobre aquela empresa, desde sempre.

Born avalia o trabalho desenvolvido por dois directores-gerais que sucederam um ao outro: John Birt (1993-2000; fora anteriormente director-geral adjunto, 1987-1993) e Greg Dyke (2000-2004). Recorde-se que Margaret Thatcher, do partido conservador, foi primeiro-ministro entre 1979 e 1990, a que sucedeu John Major (1990-1997), do mesmo partido, substituído por Tony Blair (partido trabalhista, 1997-2007), o que quer dizer que Birt trabalhou com dois tipos de administração governativa. Cultura de Estado, novo tipo de gestão introduzido por Birt, aproximando a cultura da BBC a valores comerciais e de marketing, com introdução de estudos de auditoria e audiências, e análise das estruturas internas da BBC em especial a produção de ficção e de informação são alguns dos tópicos apresentados por Born.

Nas páginas finais do seu extenso livro (564 páginas), a autora escreve mais atentamente sobre o serviço público de televisão (e rádio). Para ela, devido ao número crescente de conflitos internacionais e tensões domésticas, o serviço público funciona como arena independente para o complexo diálogo político e cultural que exige partilha, bem comum, reciprocidade e tolerância, não apenas com plataformas comuns para a discussão pública mas também representação e expressão dos diversos grupos da sociedade (p. 508). Hoje, uma nação é vista além da ideia de comunidade imaginada (Benedict Anderson), pois as identidades colectivas (minorias étnicas, culturais, religiosas) tornam a nação uma comunidade de comunicadores. O que significa que o serviço público de televisão tem de responder a ordens políticas distintas, a realidades multifacetadas (p. 512). O serviço público desempenha um duplo papel: memória social e observação e intervenção no presente. Born acrescenta a dinâmica tecnológica trazida pelo ambiente multicanal e multimedia e pela justaposição e mistura de géneros televisivos. O exercício da cidadania é melhor desempenhado pelo serviço público do que pelas redes comerciais de audiovisual, com objectivos diferentes e lógicas de mercado segmentado e em busca de publicidade e lucro (p. 515). Uma ideia final é a do encontro entre a maioria social e as minorias, dentro do que ela chama de função da diversidade na unidade cultural (p. 516). O papel da BBC já não é o atribuído por Reith (director-geral da BBC entre 1927 e 1938), o de representar uma nação unificada, mas o de fornecer um espaço de unidade adequado à pluralidade das comunidades imaginadas e de comunicadores (p. 517).

Leitura: Georgina Born (2005). Uncertain vision. Birt, Dyke and the reinvention of the BBC. Londres: Vintage

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

DIABETES E MALÁRIA NOS MEDIA

Uma estudante inglesa de jornalismo, Katie Davies, ganhou o prémio de melhor artigo escrito no concurso Young Reporters Against Poverty. O título do seu trabalho era "Mais vale ter sida do que diabetes" ("I wish I had AIDS and not diabetes"), realçando que a diabetes tem menos evidência nos media e no desenvolvimento do estudo da doença. O júri do concurso, organizado pelo European Journalism Centre e com o apoio financeiro da Comissão Europeia, escolheu o artigo de Katie entre 33 finalistas e cerca de 200 candidaturas e acrescentou que o título era um excelente aviso para um problema desconhecido por muita gente.

Hoje, uma notícia indica que o actor George Clooney contraiu malária numa recente viagem ao Sudão, quando acompanhou o recente processo eleitoral daquele país. A notícia acrescenta mais dados: Clooney já estaria recuperado, sendo esta a segunda vez que a doença o atacou. O portal TMZ, especializado em notícias sobre estrelas e vedetas, cita Clooney: "com a medicação adequada, a doença mais letal de África pode ser reduzida a dez dias de mau estar em vez de uma sentença de morte".

O blogueiro não tem outra informação além desta, mas está convencido que a malária - mais do que a diabetes - ganhou espaço nos media, por haver uma estrela a falar dela. A investigação das doenças relacionadas ou provocadas pela sida acelerou-se quando os media e as estrelas do cinema e dos espectáculos começaram a falar dela, iniciando um movimento com impacto nos responsáveis de saúde nos principais países. Compare-se com a mediatização da gripe A em 2009.

DEZ ANOS DE SIC NOTÍCIAS

No começo deste mês, o canal de notícias SIC Notícias comemorou dez anos de actividade. A revista dominical do Público de 9.1.2011 dedicou atenção a esta efeméride, com texto de Ana Machado e Miguel Gaspar e imagens de Nuno Ferreira Santos.

O canal, do grupo Impresa (Expresso, Visão, SIC) começou a emitir em 8 de Janeiro de 2001. Pedro Mourinho, Ana Lourenço e Clara de Sousa eram as caras mais visíveis do canal, com uma equipa de dirigentes com nomes como Emídio Rangel, Luís Marques, Nuno Santos e Alcides Vieira. Hoje, uma das caras mais conhecidas do canal é Mário Crespo. A SIC Notícias sucedia a uma experiência frustrada dos canais regionais, CNL (Lisboa) e NTV (Porto), ligados à Portugal Telecom.

Há uma espécie de quadro de origem da SIC Notícias: a rádio TSF. Aliás, Emídio Rangel esteve ligado à origem dos dois projectos. A ideia de emitir notícias hora a hora na televisão foi uma profunda alteração no modo de produzir e receber informação. Quando arrancou a SIC Notícias tinha uma média de 12 mil espectadores por dia, número que está hoje nos 29 mil. Os canais por subscrição (cabo, IPTV) têm actualmente cerca de 19% do share de audiência.

Depois da SIC Notícias surgiriam a RTPN (2004, ligada à RTP) e a TVI24 (2007, ligada à TVI), canais de subscrição que fazem parte das estratégias das estações generalistas a que pertencem, entendendo-se os canais de subscrição como constituindo uma outra plataforma de elaboração e transmissão da informação. Apesar da abundância de oferta de canais de informação, estes lutam contra duas questões: afunilamento da agenda, por falta de tempo de aprofundamento de informação e investigação, orçamento baixo (alguns produtores entregam programas a custo zero ou perto disso).

O directo ou o "jornalismo de secretária" (na crítica de Eduardo Cintra Torres) são usados com maior frequência do que seria desejado. Os jornalistas queixam-se, por seu lado, do peso e impacto das fontes de informação, muitas das quais se profissionalizaram em termos de estruturas. Pode acontecer uma perda de audiências mais jovens, menos interessadas em consumo de informação através da televisão, dada a transferência para a internet, embora o consumo da televisão generalista mantenha uma perplexidade: a par do peso dos noticiários, central nas programações, os canais tendem para um papel maior no entretenimento.


Recorde-se que o primeiro canal de notícias por subscrição surgiu em 1980, com a americana CNN. Em 1989, o canal Sky News, de Rupert Murdoch, era lançado, seguindo-se a oferta da CNN no Reino Unido em 1992. No ano anterior, 1991, a BBC abria o canal comercial que emitia 24 horas por dia, o World Service Television News, renomeado BBC World. Esta oferta seguia diversos desenvolvimentos, como a possibilidade de gravar em vídeo na década de 1980, que eliminava o processo mais lento e dispendioso do filme em película, a emissão em simultâneo através do satélite e redistribuição para outras cadeias de televisão em qualquer parte do mundo, a lenta aceitação do trabalho multi-tarefas (jornalista que escreve, regista em som e imagem e monta as peças), a flexibilidade e a maior velocidade permitidas pelas tecnologias digitais, a centralização da produção de informação e o aumento de serviços noticiosos pela expansão da internet (Georgina Born, 2005, Uncertain vision. Birt, Dyke and the reinventing of the BBC, p. 404).

DISCURSO SOBRE A TELEVISÃO PÚBLICA

"A «oferta televisiva tende a ser monotemática» com «três, por vezes quatro, novelas seguidas» nos canais privados, pelo que a função da RTP1 passa por ter uma «grelha vertical», com conteúdos diferentes todos os dias, e que apostem noutras áreas de actividade, como documentários ou concursos que «relevem o conhecimento» e «não humilhem» os participantes. [...] O responsável sublinhou ainda a aposta da estação na ficção nacional, concretizada em séries e telefilmes e não em telenovelas, já que «desde 2007» a RTP não produz um conteúdo do género" (José Fragoso, director de programas da RTP1, Diário de Notícias, , 19.1.2011).

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

FIRST ANNUAL LONDON FILM AND MEDIA CONFERENCE

It will take place 12-14 July 2011 at the Institute of Education, University of London, UK. The conference explores, celebrates and critiques the screen-based traditions of film, TV, and digital media. Organisers continue to accept proposals for 20-minute Papers and three-Paper Panels until the Revised Final Deadline of 31 March 2011. Keynote Speakers: Prof. Robert C. Allen (University of North Carolina, Chapel Hill), Prof. Julian Petley (Brunuel University, UK) and Prof. Michael Tracey (University of Colorado, Boulder). For full details of over 100 Papers already accepted from 33 nations, please see the conference website.

REGULAÇÃO DOS MEDIA NO REINO UNIDO

Jeremy Hunt, ministro da cultura do Reino Unido, em conferência ontem realizada, falou sobre uma próxima reformulação do sistema de regulação dos media naquele país. Em vista, a produção de um Livro Verde até ao final do ano para definir uma nova lei sobre comunicações em 2015. Hunt mostrou abertura à redução de regulação sobre a propriedade cruzada dos media a nível local e sobre as regras impostas à ITV, a maior emissora comercial de sinal aberto do país. Referiu igualmente a oferta da compra, pela News Corp de Rupert Murdoch, do capital do grupo de televisão por assinatura BSkyB que ainda não pertence ao grupo, questão posta à Comissão da Concorrência. Haverá uma decisão em breve, embora o ministro não quisesse comentar o andamento deste processo. Um canal de televisão local está também nos objectivos de Hunt, capaz de operar junto aos outros canais de serviço público (BBC), numa aproximação às comunidades locais. A renovação de licenças em 2012 foi outro tópico levantado pelo ministro inglês (fonte: Media Network).

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

ENTREPRENEURIAL DIMENSION OF THE CULTURAL AND CREATIVE INDUSTRIES

The Entrepreneurial Dimension of the Cultural and Creative Industries is a report prepared by Utrecht School of the Arts (Netherlands): "The abundance of studies on the CCI [...] have highlighted the critical impact of CCIs on growth and employment, and acknowledged their great economic, social, cultural and innovative potential. CCI activities act as important drivers of ‘economic and social innovation’ within the sector but also outside the CCI sector". The aim of the study is to provide a better understanding of the operations and needs of companies in the CCIs, namely small and medium-sized enterprises (SME). The intention is to describe some of the problems and provide recommendations.The study indicates specific challenges that could hamper entrepreneurship and prevent CCIs from benefiting from the internal market and the digital shift. It provides an understanding of the key determinants such as access to finance, market barriers, intellectual property rights, education and training, innovation, and collaborative processes. Read more.

RÁDIO PORTUGUESA

"Com a liberalização das rádios, no final dos anos 1980, e, depois, com a privatização, o meio renovou-se. Joaquim Vieira destaca aqui o papel da Rádio Comercial e do nome de João David Nunes, então seu director: «Aí houve uma renovação muito grande da linguagem radiofónica. E, depois, o aparecimento de projectos fortes privados, como a TSF, também veio trazer um papel inovador da rádio» (texto de Ana Machado no jornal Público sobre A nossa telefonia, livro de Joaquim Vieira, coordenador, Manuel Deniz Silva, Pedro Russo Moreira e Nuno Domingos, recentemente editado).

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O CIBERJORNALISMO SEGUNDO HELDER BASTOS

Origens e evolução do ciberjornalismo em Portugal é o mais recente livro de Helder Bastos, editado pela Afrontamento. Com quatro capítulos (contexto global do ciberjornalismo, antecedentes do ciberjornalismo em Portugal, periodização em três fases, e evolução do modelo de negócios), constitui um útil instrumento de trabalho para quem quer estudar e conhecer o jornalismo electrónico em Portugal.

Bastos identifica o começo do ciberjornalismo em Portugal em 1995 e distingue três períodos: implementação (1995-1998), expansão ou boom (1999-2000) e depressão e relativa estagnação (2001-2010). O terceiro capítulo, onde investiga esta matéria, já tinha sido objecto de edição, embora numa versão mais curta, na revista Jornalismo & Jornalistas. O autor chama a atenção para o facto do livro ser um contributo, focado que está na produção jornalística online com sede em empresas que recorrem ao trabalho de profissionais, não abordando especificamente a imprensa desportiva, económica, local e académica (p. 11).

Se o primeiro capítulo trata da contextualização genérica do ciberjornalismo a nível internacional, o terceiro, como escrito acima, narra os principais episódios da história nacional e o quarto debate os modelos de negócio (gratuito, pago, misto), o leitor fica atento ao capítulo 2, com os antecedentes do ciberjornalismo em Portugal. É o capítulo mais pequeno e menos central do livro, mas a sua leitura despertou-me uma grande curiosidade. Nessas páginas, Helder Bastos fala da substituição do analógico pelo digital, do mecânico pelo electrónico, da máquina de escrever pelo computador.

Afinal, tal período não está muito longe de nós. Segundo o autor, a primeira redacção a ser informatizada foi o já desaparecido Comércio do Porto, em meados de 1985 (p. 29). Um outro texto, de José Luiz Fernandes e Fernando Cascais, situa a introdução das tecnologias digitais nos media portugueses em 1983-1984, com a entrada de computadores nas redacções, mas não indica quando os jornais substituiram as máquinas de escrever. Isto é, as redacções dos principais jornais estavam informatizadas até ao final dessa década. O que significa que há pouco mais de vinte anos os computadores entraram nos media. Logo depois, entrou a internet e implantaram-se os jornais electrónicos. O mundo acelerou muito desde então.

Helder Bastos tem doutoramento em Ciências da Comunicação. É docente na Universidade do Porto, onde lecciona disciplinas relacionadas com a comunicação e o jornalismo. Foi jornalista entre 1988 e 2003, nomeadamente no Jornal de Notícias (primeiro profissional a trabalhar no online do jornal, e do país, dado que aquele jornal foi o pioneiro), Rádio Press e Diário de Notícias, onde ocupou o lugar de editor e responsável da redacção no Porto. Da sua obra publicada destaco Jornalismo electrónico. Internet e reconfiguração de práticas nas redacções (2000). É um dos fundadores do Centro de Investigação Media e Jornalismo (CIMJ) e co-fundador do Observatório do Ciberjornalismo (ObCiber).

Leitura: Helder Bastos (2010). Origens e evolução do ciberjornalismo em Portugal. Porto: Afrontamento, 106 páginas

CONGRESSO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA DOS MEDIA E DO JORNALISMO

Está aberta a chamada de trabalhos (call for papers) para o Congresso Internacional sobre História dos Media e do Jornalismo que o Centro de Investigação Media e Jornalismo (CIMJ) vai realizar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, nos próximos dias 6 e 7 de Outubro. Mais informações aqui.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

MUNDOS PARALELOS

Há algumas características nas revistas cor-de-rosa, de televisão, de mexericos e escândalos. Em primeiro lugar, os grupos de media (Cofina, Impresa, Impala) têm revistas no seu portefólio. Em segundo lugar, as narrativas (vida das celebridades, casamentos, escândalos, revelações "explosivas") sucedem-se em edições sequenciais. Por vezes, acompanha a actualidade (agenda, acontecimentos disruptivos, como o assassinato do cronista social Carlos Castro, que encheu as primeiras páginas das revistas das edições da semana passada). Em quarto lugar, há uma nítida articulação com a televisão, as estrelas das telenovelas e dos reality-shows.

Há um claro pagamento (em espécie, simbólico) de quem aparece - imagens do lar, produções como modelo. Por isso, infiro uma interacção da revista com a pessoa que aparece na capa. As situações retratadas nas páginas, por muito estranhas que possam parecer, dão conta de uma grande variedade - como se fosse uma fauna de tipo novo. Ao folhear as páginas das revistas dou-me conta de que não conheço muitas das personagens e apercebo-me de que têm carreiras sólidas em diversas profissões, estratos sociais e situações psicológicas: actores e vedetas de televisão, príncipes (em especial se vão casar ou o casamento passa por algum problema), modelos, acompanhantes (eufemismo para prostitutas), anónimos tornados celebridades pelos reality-shows, celebridades que são porque se encontram em festas frequentadas por outras celebridades, namoradas de futebolistas ou dirigentes desportivos, tarólogas, casais disfuncionais, marchands. Vejo fotografias de Andreias, Antónios, Josés, Carlos, Soraias, Melânias, Irinas, lânguidas ou empreendedoras, sorridentes e em pose, sozinhas ou em famílias grandes, em casa ou em viagem ou acabadas de chegar de viagem.

Concluo que as publicações das celebridades revelam a história de um país paralelo. Em vez de greves, quebra de salários, campanhas eleitorais, acidentes naturais, medo da vinda do FMI, há um mundo feito de paixões, beleza, concorrência, coisas boas da vida. Se estivéssemos naquelas páginas seríamos muito felizes, creio. Ou haveria leitores que se preocupassem com as nossas mágoas.

NOVO SÍTIO DA SOPCOM

A Sopcom (Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação) tem um novo sítio da internet: ver aqui.

CREATIVE INDUSTRIES IN ESTONIA, LATVIA AND LITHUANIA

Creative Industries in Estonia, Latvia and Lithuania 2010, annual review.

Discussions of the creative industries (CI) agenda in the Baltic countries date back to the beginning of 2000. The British Council has played a remarkable role in promoting the creative industries concept all over the world, and its contribution, through providing expertise and methodological
assistance in mapping endeavours, cannot be underestimated in the Baltic countries either. Attention first started to be paid to the creative industries at the national level in all three Baltic countries when the British Council (BC) introduced the concept to different ministries in the Baltics in 2005. As a result, the Ministries of Culture in all three countries seized the opportunity to adopt the definition and content into their cultural policy agenda. This period (of policy formation) saw the adaptation of the United Kingdom’s approach in terms of the ideas, structure and content of CI development. The first major steps at state level started with statistical mapping surveys of CI in Estonia, Latvia and Lithuania. The study processes included adapting the British definition of CI to the Baltic States – “The creative industries are those industries which have their origin in individual creativity, skill and talent, and which have the potential for wealth and job creation through the generation and exploitation of intellectual property” (DCMS, 1998). Estonia and Latvia have made some minor changes to this definition. In Estonia, a clause addressing ‘collective creativity’ was added – “Those industries that have their origin in individual and collective creativity, skill and talent and which have the potential for wealth and job creation through the generation and exploitation of intellectual property.” The Latvian Government in its political documentation pursues the following definition: [Creative industries involve] “activities, based on individual and collective creativity, skills and talents, which by way of generating and utilizing intellectual property, are able to increase welfare and create jobs. Creative industries generate, develop, produce, utilize, display, disseminate and preserve products of economic, cultural and/or recreational value. See more.

domingo, 16 de janeiro de 2011

MEMÓRIAS DE CRIADAS DE SERVIR

"As vidas invisíveis das empregadas internas" é o título de capa da Pública de hoje (texto de Luís Francisco). Em tema, a vida das empregadas domésticas internas, com histórias daquelas mulheres que trabalham em casa de outros, criam filhos que não são os seus e partilham alegrias e tristezas dos seus patrões. São histórias de vida: Henriqueta, Francisca, Lurdes. A Associação das Criadas de Servir tem estatutos de 1932 e artigos da imprensa na década de 1960 indicam que as empregadas internas não queriam fardas. Hoje, o Sindicato dos Trabalhadores de Serviços de Portaria, Vigilância, Limpeza, Domésticas e Actividades Domésticas abrange a defesa do interesse dessa actividade. Outrora, o trabalho pertencia a mulheres vindas da província, hoje, são imigrantes que ocupam as tarefas.

O tema parte da peça de Jorge Silva Melo, Fala da criada dos Noailles que no fim de contas vamos descobrir chamar-se também Séverine numa noite do inverno de 1975, em Hyères, actualmente a ser representada no teatro da Trindade (Lisboa). Séverine era o nome da empregada que trabalhava na casa dos condes de Noailles e que posava para pintores e entrou no filme de Luis Buñuel L'Âge d'Or (1930). Outros criados eram Mariette, Gisette, Lilette, Josette, Gaston.

A peça, inspirada em O Meu Último Suspiro, livro de memórias de Buñuel, e nas botinas do seu Diário de uma Criada de Quartoconta a história dos Noailles vistos a partir das recordações da criada Séverine (numa belíssima interpretação de Elsa Galvão). Os Noailles verdadeiros tinham casado em 1923. Já antes do casamento eram amigos de Jean Cocteau e Picasso; depois tornaram-se amigos, apoiaram projectos e compraram obras de, entre outros, Man Ray, Salvador Dalí, Balthus, Brancusi, Miró e Buñuel (caso do filme L'Âge d'Or). Importantes mecenas do cubismo e do surrealismo, a casa dos Noailles foi ocupada pelo exército italiano na Segunda Guerra Mundial e transformada em hospital. Depois, continuou a ser a residência dos Noailles, hoje é um centro de arte.

A criada Séverine mostra a vida íntima, social e artística dos condes segundo a sua cultura e perspectiva. Começa com a história do jantar do artista D. Luis Buñuel com o seu antigo mecenas e amigo Conde de Noailles, onde comem pescada cozida. Fala incessantemente de números: as 150 personagens de Buñuel, os 356 desenhos (de Picasso), as 203 lâmpadas fundidas do candelabro. De Picasso, sem o nomear, "Diz que é espanhol. Espero que não seja aquele pequenito e entroncado que me apalpava o rabo sempre que eu o ia servir e que vinha cá com uma mulher diferente sempre mesmo que fosse hoje e no dia seguinte e depois de amanhã". Sobre Wagner, também sem o nomear, a criada fala de "Uma música muito complicada que o senhor conde também gostava muito. A música da Isolda, morte dela ou assim. A Isolda era uma cadela da senhora condessa que dormia com ela e um dia morreu e fizeram esta música, a morte da Isolda". Sobre os artistas, a criada enuncia apenas os nomes próprios - Monsieur Jean [Cocteau], Monsieur Maurice [Ravel] (cujo ritmo e repetição musical ajudava a bater claras em castelo) -, refere-se perifrasticamente - "o espanhol pequenito e entroncado", "o rapaz do peito sem pêlos"). No final, surgem os fantasmas de 32 mecenas a invadir a cena, como Peggy Guggenheim, Calouste Gulbenkian, Catarina da Rússia e o próprio conde Charles de Noailles. Surgem outras citações ao vivo, como Déjeuner sur l'herbe de Manet.

sábado, 15 de janeiro de 2011

RÁDIO EM MAIS UM CONGRESSO

radio evolution: technology, contents, audiences. ECREA 2011 Radio Research Section. 14-16 de Setembro 2011, Universidade do Minho.

A Universidade do Minho (Braga-Portugal) vai acolher a próxima conferência da Secção de Rádio da ECREA que se realiza de 14 a 16 de Setembro de 2011. Mais informação aqui.

O REGRESSO DE JÚLIA PINHEIRO À SIC

Recebida em grande na SIC é o título da peça do Jornal de Notícias de hoje sobre o regresso de Júlia Pinheiro à SIC, depois dos seus êxitos na TVI. Escreveu Elsa Pereira: "Três exaustivas horas perfizeram a operação televisiva que assinalou ontem o reencontro de Júlia Pinheiro com a SIC. Só a viagem de sua casa até Carnaxide tomou quase um terço desse tempo. Foi tratada como uma estrela, com glamour e popularidade a rodos. [...] À espera, Júlia tinha a hierarquia máxima ao comando do canal: Francisco Pinto Balsemão, presidente do grupo Impresa, que detém a SIC, Luís Marques, director-geral da estação, Nuno Santos, director de Programas, ou Gabriela Sobral recém membro da direcção depois de ter deixado a TVI". Para o sociólogo Mário Contumélias, colaborador do jornal, o "espectáculo televisivo" foi um exagero, mas há que entender o público-alvo a que a emissão se dirigiu.

Para mim, a televisão precisa de estrelas e de momentos de grande impacto e a SIC está a capitalizar o investimento que fez.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

TELEVISÃO

Os canais comerciais anunciam estranhos programas para estes dias, o que demonstra que a luta pelas audiências está mais acesa do que nunca.

Na TVI, com apresentação de Iva Domingues, o programa Depois da Vida vai mostrar Carlos Castro a falar com a sua mãe. A essência do programa é a ligação entre convidados e pessoas que já faleceram, através da médium Anne Germain. O programa havia sido gravado há algum tempo, pois, como os media têm informado, Carlos Castro morreu assassinado a semana passada. A ERC promete reagir a este facto.

Por seu lado, a SIC, que tem o programa de Conceição Lino à tarde onde mostra partos em directo, vai transmitir no programa da manhã, também em directo, as intervenções cirúrgicas de Maya (não é uma, são várias).

SAPO COMO AGREGADOR

A relação do portal Sapo com a RTP e o grupo Controlinveste alterou-se no começo deste ano. Assim, a RTP passa a assegurar directamente a comercialização do espaço publicitário do seu sítio, feito durante um ano pelo Sapo. No caso das AddWords e dos vídeos do YouTube, o processo já era tratado directamente com a Google. Por seu lado, os sítios de Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF deixaram de ser comercializados pelo Sapo (fonte: Meios & Publicidade).

ILUSTRAÇÃO


O Coração e a Garrafa: uma animação da ilustradora Catarina Sobral. Para ver, clicar aqui. Contacto: aqui.

WIKIPEDIA

"Com mais de 100 mil voluntários, a Wikipedia é já uma das maiores fontes de informação global. A uma velocidade de 600 palavras por minuto, durante 24 horas por dia, uma pessoa poderia ler cerca de 27 milhões de palavras durante um mês. Em média, a cada 30 dias, a Wikipedia - que celebra amanhã 10 anos de existência - vê serem-lhe acrescentadas 30 milhões de vocábulos" (Económico).

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

EXPOSIÇÃO SEMENTES NO MICROONDAS NA ALT FABRIK

DIREITO DA CULTURA

"O Direito da Cultura é um novo ramo do conhecimento que trata de aproximar duas matérias científicas: o Direito e a Cultura". Ler mais.

PLURALISMO PARTIDÁRIO, RTP E ERC

"O director de informação da RTP afirmou hoje que os dados da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) sobre pluralismo partidário na estação pública são um “absurdo jornalístico” que pode colidir com o código deontológico da profissão. [...] “É um absurdo jornalístico que pode no limite levar a criar notícias e a fazer jornalismo 'excel'”, declarou o director de informação da RTP" (Público).

DIÁRIO DE UMA ESTAGIÁRIA

"Ir estagiar para a [...] é o sonho de qualquer pessoa que tire o curso em Comunicação Social, Jornalismo, Ciências da Comunicação e por aí adiante, e que queira mesmo seguir jornalismo. Entrar naquela redação com vinte ou vinte e poucos anos é ter o futuro na nossas mãos e poder olhá-lo, mesmo alí à nossa frente.[...] É que se achavamos que era aquilo que queriamos fazer, passado uns dias temos toda a certeza do mundo que é mesmo aquilo e só aquilo que queremos fazer da vida. [...] mesmo sem darmos ainda voz às peças, ver o nosso trabalho na televisão é tipo... não sei explicar! Só que depois, passados os 5 ou 6 meses de estágio, acaba tudo... Hoje foi o dia de acabar tudo para a [...]. Uma choradeira, um pranto, nem falava [...] Sabemos que até podemos ser bons, que temos muitas capacidades e que até escrevemos muito bem, mas isso é logo contornado pelas dificuldades do mercado de trabalho, pela crise, pelos estagiários deste mundo que são aos milhões e que trabalham a custo zero. Por isso, o dia de acabar tudo chega a todos... e eu sou a próxima" (Jojozinha, o blog).

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

CINE-TEATRO DE GOUVEIA: “A MENINA DE PEDRA”, 22 DE JANEIRO, 21:30

COMUNICAÇÃO & CULTURA - DOIS NÚMEROS DA REVISTA

Pós-género e A festa são os dois mais recentes números de Comunicação & Cultura, revista do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da UCP.

"Como poderá uma figura tão calculista e artificial, tão clínica e estranhamente artificial, tão despida de erotismo genuíno, ter-se tornado o ícone da sua geração"? (Camille Paglia, citada por Isabel Gil e Carla Ganito, coordenadoras do número Pós-género). A figura é, claro, Stefani Joanne Angelina Germanotta, aliás, Lady Gaga. O título do editorial das coordenadoras esclarece melhor: "Paródia, pastiche, perversão e política: a teoria no reino do pós-género". Continuam as duas autoras: "Oriunda da classe média nova-iorquina e educada em escolas de elite, a artista usa o modelo social sob a forma de apropriação inversa, isto é, aproveita o modelo da cultura dominante de fundo capitalista contra si própria". Lady Gaga usa as estruturas da culturalite: a construção da celebridade, os mecanismos de marketização, as novas tecnologias visuais. Gil & Ganito distinguem quatro formulações recorrentes do termo pós-género, associadas ou conotadas ao feminismo liberal, feminismo radical, ciberfeminismo e pós-género + pós-moderno. O volume tem textos de Angela McRobbie, Elizabeth Nivre, Sónia Sebastião, Carla Ganito, Cláudia Álvares e Daniel Cardoso, Lara Duarte, Fernando Ampudia de Haro e Lauro António, além de entrevistas a Gilles Lipovetsky, por Carla Ganito e Ana Fabíola Maurício, e Gaye Tuchman, por Gonçalo Pereira Rosa.

Sobre a festa, escrevem os organizadores do volume (Artur Teodoro Matos, Mário Lages e Roberto Carneiro) que ela "está indeclinavelmente associada à contingência humana e à sua incontornável pulsão comunitária. Na alegria como na tragédia, na vida como na morte, na efeméride como na elegia, a festa celebra o mistério humano da ciclicidade, o retorno geracional, o memorial do tempo e a sua inexorável passagem". O número tem textos de Joaquim de Sousa Teixeira, Ana Isabel Buescu, Alfredo Teixeira, Helena Rebelo Pinto e Maria Teresa Ribeiro, Luís Fagundes Duarte, Marta Lobão Araújo, Nelson Ribeiro e Mário Lages, com uma entrevista a Richard Grusin, por Diana Gonçalves.

INDICATORS FOR INDEPENDENCE AND EFFICIENT FUNCTIONING OF AVMS REGULATORY BODIES

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

CIDADES - 7

Berlim, Buenos Aires, Istambul, São Francisco, Nova Iorque, Manila, Sidney são as cidades registadas por David Byrne. São diários que recuam a quase quinze anos de vida, escritos quando Byrne se deslocava a cidades onde actuava como músico ou expunha (p. 15).

Encantei-me com o que ele escreveu sobre Manila. Escreveu sobre política - que é pragmática, social, psicológica e expressão de um contexto mais amplo. A política inclui música, paisagem, comida, roupa, religião, tempo, é o reflexo das ruas e dos cheiros (p. 177). Byrne ficou num pequeno hotel, longe da zona da classe alta, com uma marginal colada à baía, cheia de quiosques, vendedores e bares e cafés com esplanadas, alguns com música ao vivo ou gravada. Ele queria dormir um pouco, após um voo cansativo, mas a música disco que se ouve impede-o de repousar. Eis que passeia pela marginal, onde ouve uma versão de In da Club de 50 Cent, num sintetizador radical. Noutro sítio, em Binondo, há máquinas de karaoke por todo o lado, mesmo no meio da rua. Há imitadores de Neil Young ou Seals & Crofts, só que com um ligeiro sotaque. Bairro de ruas estreitas, o trânsito é limitado a motas ou carrinhas pequenas, sendo os jeepneys os veículos maiores. Nas ruas, compra-se fruta, vegetais, toalhetes, CD e DVD piratas, peixe fresco, remédios, lembrando outras cidades como Marraquexe, Kuala Lumpur, Cartagena e outras.

Byrne escolhe também Istambul por prazer. Adora a cidade, pela localização física - delimitada por água, dispersa em três grandes extensões, com os minaretes como úteis pontos de referência. Passa por cafés cheios de pessoas que jogam gamão e fumam narguilés (p. 103). Ele compra umas imitações de uma marca conhecida de sapatos. Também compra uns baixo-relevos de dupla face de Atatürk e algumas estampas antigas de mapas árabes. Byrne descreve a sua ida à festa da dança do ventre (p. 113), em que as bailarinas são acompanhadas de quatro músicos (dois percussionistas, um tamborileiro e um banjo turco).

Acabo o percurso de Byrne por Buenos Aires, a Paris do sul. Ele descobriu um género de calão, o vesre, em que se invertem as sílabas (vesre é o contrário de reves). Tango passa a ser gotan, café con leche passa a feca con chele (pp. 131-132). Longe do centro da cidade, descobre uma festa e uma fila que não termina. Teria quatro quilómetros de comprimento, meio milhão de pessoas. São crentes de São Caetano, o padroeiro dos desempregados. É a este santo que as pessoas rezam quando precisam de emprego; algumas também rezam porque têm emprego.

Não, ainda não acabo. Afinal, tenho uns minutos para ler o que escreveu sobre Londres. A capital inglesa é um amontoado de antigas aldeias, logo tem vários centros, escreve Byrne (p. 239). Em Hyde Park, observa o que considera cães da classe alta: setters, scotties, whipets. Cruza-se com uma matrona da classe alta e os seus filhos. Traz um casaco de caça verde, umas calças bege e botas Wellington. Os filhos também têm adereços semelhantes, parecendo estar no meio das Terras Altas escocesas. Pergunta o escritor: estarão à procura de um pedaço de terra para chapinarem as botas? Ou dar uns tiros quando passarem os cisnes ou os patos?

David Byrne nasceu na Escócia (1953) mas a sua cultura é dos Estados Unidos. É músico e compositor, tendo sido o fundador da banda Talking Heads. Gosta de bicicleta e visita as cidades com uma bicicleta dobrável. Os seus amigos ficam intrigados quando o vêem da primeira vez num percurso mas habituam-se rapidamente. Escreve Byrne que atravessar uma cidade "de bicicleta é como percorrer os caminhos colectivos do sistema nervoso central de uma qualquer vasta mente global" (p. 13).

Leitura: David Byrne (2010). Diário da bicicleta. Lisboa: Quetzal

CINEMATECA HOMENAGEIA BÉNARD DA COSTA

ECREA: TRENDS AND CHALLENGES IN STRATEGIC AND ORGANIZATIONAL COMMUNICATION

Workshop Theme: The Dialogue Imperative. Trends and challenges in strategic and organizational communication. 5 & 6 of May, 2011. The workshop will be host by the Faculty of Communication and Arts of the University of Beira Interior and by the research center LabCom, located in Covilhã, Portugal. Target participants: Scholars and postgraduate students of Organizational and Strategic Communication. Research students are encouraged and supported to take advantage of the formal and informal mentoring opportunities afforded by participation in the Workshop and other activities of the Section. The Workshop provides members with valuable professional development opportunities, including networking and presentation, and learning about the latest trends in Organizational and Strategic Communication research.

domingo, 9 de janeiro de 2011

LOLA

Lola (2009), do realizador filipino Brillante Mendoza (1960), é um dos filmes que mais gostei em 2010. Pela história e pela mensagem que transmite.

Duas avós (lola em filipino) têm de decidir o destino das suas famílias pobre de Malabon, em Manila. A história de cada uma é, se quisermos, complementar da outra. Uma delas, Lola Sepa (Anita Linda), vê o neto ser assassinado, a outra, Lola Purificação (Rustica Carpio) procura salvar o neto da prisão por ter assassinado. Lola Sepa usa a sua pequena pensão para comprar o caixão para o neto, pede um empréstimo para o funeral, negoceia com Lola Purificação a indemnização que a leve a desistir de apresentar queixa contra o neto desta (logo, a libertação da prisão). A avó Purificação empenha a televisão e comete pequenas fraudes na sua venda de legumes para obter o dinheiro para pagar a indemnização. Ambas cuidam de familiares - netos ou filho doente.


O realizador e a argumentista Linda Casimiro tinham visto uma notícia na televisão sobre uma avó que procurava apoio para o neto, preso por ter morto alguém de modo acidental. Outro artigo contava que uma mulher idosa pedira dinheiro para enterrar o neto. Ao ligar as duas histórias como uma narrativa, surge parte da ficção de Lola.

O filme foi feito em dez dias durante a época das chuvas em Manila; Brillante Mendoza quis mostrar como isso cria dificuldades às comunidades. O ambiente e o movimento permanente de água funcionaram como uma metáfora de vida e de morte. A água é simultaneamente fonte da vida e motor de destruição e catástrofe. Assim, ao juntar o crime ao efeito da água, mostra-se como as vidas das pessoas aparecem afectadas no espanto, na perda e na dor - no caso, aos olhos das duas velhas mulheres.

Das imagens mais fortes que retive, uma foi a do canal. Uma das frentes das casas dava para um canal. O pedido de esmolas para apoiar o funeral, o funeral em si, o uso dos barcos como meio de transporte, as conversas que as mulheres tinham com os passageiros dos barcos, as pequenas reuniões na varanda voltada para o canal, faziam deste o espaço público principal. Outra foi a da prisão e da conversa da avó Purificação com o seu neto. Uma terceira imagem forte surgiu no final do filme, quando se dá uma espécie de milagre dos peixes: a avó Sepa vê e pesca peixes no seu "aquário" da casa que dá para o canal. A leitura é de esperança - a um período tão complicado parecia surgir um período de abundância. Uma quarta imagem é a da conversa entre as duas avós num restaurante de fast food, quando acertam o preço da indemnização a pagar.

As duas avós são profissionais do cinema desde há muito. Anita Linda (nascida em 1924) participou em mais de 200 filmes - ela está activa desde a década de 1940, Rustica Carpio (nascida em 1930) trabalhou muito no cinema durante a década de 1970.

Trailer em http://www.imdb.com/video/screenplay/vi2450458393/.

sábado, 8 de janeiro de 2011

SIC NOTÍCIAS

Ontem, num programa da noite da SIC Notícias, canal de televisão por subscrição que comemora dez anos de actividade, falava-se de mudanças que o canal introduziu no panorama do audiovisual. Alguém apontava a rapidez e a rotina dos noticiários de hora a hora à procura de breaking news. Barbie Zelizer (1999: 351), ao abordar o impacto da CNN na altura da guerra do Golfo, indica que o canal por cabo não alterou a prática jornalística mas tornou-a mais rápida, mais contínua, menos polida e menos editada. Parece-me que o modelo também se aplica à SIC Notícias.

Leitura: Barbie Zelizer (1992/1999). "CNN, the Gulf war, and journalistic practice". In Howard Tumber (ed.) News. A Reader. Oxford: Oxford University Press

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

REDES DE TELEVISÃO

É útil a informação veiculada pelos desdobráveis que acompanham as contas das empresas de televisão por subscrição (Meo e Zon). Filmes, música, jogos e widgets (janelas, botões, ícones) são ofertas em crescimento e que alteram profundamente o modo como se consome a televisão, tornando-a um concorrente ou complemento do computador. A Meo tem uma oferta de 2500 filmes, a Zon atinge os 4000; os widgets da Meo incluem Facebook, Flickr, Banca de Jornais, os da Zon Twitter, Flickr, Picasa, Quiosque (jornais), Quiz. A Zon publicita mesmo: "Zon widgets: o melhor da Net agora na sua televisão". A música a partilhar com os amigos nas redes sociais no Meo (televisão) é dada igualmente para computador e telemóvel a partir da adesão a um endereço de computador. Os jogos do Meo incluem aventura, tiros, corridas, luta, desporto, arcade. Acima, escrevi complemento, mas talvez seja melhor melhor falar de convergência de media ou reaproveitar o conceito de network (rede) usado pelos americanos. A Meo e a Zon são empresas IPTV (Internet Protocol TV, grupos de telecomunicações com um pacote de quatro ofertas: telefonia, banda larga, telefonia móvel e televisão por subscrição).

PNET DESIGN

O PNETdesign, que teve início em 31 de Março último, procura "reflectir, de modo cumulativo, as várias esferas de produção, criação e gestão do design em Portugal e no mundo, atravessando campos de actividade que articulam o mercado, a educação, os eventos, o branding, o ciberdesign, o design gráfico e, também, a opinião".

Segundo o seu coordenador Luís Carmelo, professor de semiótica e gestor do projecto ChiadoDesign: "Quando hoje em dia olhamos com atenção à nossa volta, não é difícil percebermos de imediato como o design se entranhou na nossa vida. Tudo, de facto, aparece incorporado e moldado pelo design: os jornais que lemos, as cadeiras em que nos sentamos, as imagens que pululam nos sites e outdoors, os sapatos com que andamos ou as malas e sacos onde guardamos as nossas coisas. O design resolve problemas, atrai a estética até ao nosso corpo e parece conferir ao mundo que nos rodeia, objecto a objecto, uma espécie de pulsação. Esta omnipresença do design tornou-se tão comum que acaba por misturar um fio de surpresa – quando nos concentramos na sua presença – com a mais elementar constatação do óbvio.  A quase invisibilidade do design é um dos aspectos mais fascinantes do seu triunfo no nosso dia-a-dia. Ao envolver-nos, o design preserva a maior das discrições mas garante um novo tipo de bem-estar".


Sítio de grande qualidade, aconselha-se a acompanhar.

NOTA PARA REFLECTIR MAIS À FRENTE

Esta semana (e já na anterior), há um conjunto de notícias sobre a morte de grande número de animais, sem uma explicação plausível:  aves em dois estados americanos (atribuiu-se a fogos de artifício na passagem de ano), morte por frio de peixes nos Estados Unidos, Brasil e Nova Zelândia, rolas-comuns na cidade italiana de Faenza (aqui com o pormenor de misteriosa mancha azul no bico).

Porquê este agendamento? Faltam outras notícias? Quem dá as notícias: cientistas, observadores anónimos em busca de segredos? Assunto trazido à imaginação por filme ou série de televisão recente? Ou: há outros “surtos” de notícias sobre morte de animais em grande quantidade? Sei que as notícias de gripe A, este ano, não têm o impacto do ano anterior. O assunto saiu quase de agenda. Por norma, há um tema de pânico no topo: doenças, mistérios, coisas inexplicáveis, acidentes naturais. Muitas vezes, dá boas imagens, possui ingredientes de boa narrativa. Mas, de histórias de mortandades de animais, não me lembro nos anos mais recentes. Talvez indicie nova abordagem do pânico e da catástrofe.

Assunto a reflectir ao longo destes dias, pois parece-me existir um quadro (framing) interessante.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

RISCOS NA INTERNET

Portugal é um dos países com menor incidência de riscos online para crianças e jovens, abaixo da média europeia (12%), segundo resultados do inquérito inédito a 23000 crianças europeias de 9 a 16 anos, apresentados em Outubro de 2010 no Luxemburgo, no Safer Internet Forum, pela equipa do projecto EU Kids Online, coordenado pela Professora Sonia Livingstone da LSE (Reino Unido).
Apenas 7% das crianças e jovens portugueses declarou já se ter deparado com riscos como pornografia, bullying, mensagens de cariz sexual, contacto com desconhecidos, encontros offline com contactos online, conteúdo potencialmente nocivo gerado por utilizadores e abuso de dados pessoais. A maioria das crianças não declarou ter tido qualquer experiência perturbadora online e sente-se confortável em actividades na internet que alguns adultos consideram arriscadas. Contudo, os jovens portugueses de 11 a 16 anos estão entre os que mais declaram ter sentido bastantes vezes que estavam a fazer um uso excessivo da internet (49%), muito acima da média europeia (30%).

O inquérito, cujo trabalho de campo foi feito na Primavera de 2010, revelou também que 78% das crianças e jovens portugueses entre 9 e 16 anos usam a internet, estando entre os que acedem mais à internet nos seus quartos (67%) do que noutros lugares da casa (26%). Esta diferença é mais acentuada do que a média europeia (respectivamente 48% no quarto e 37% noutros lugares da casa).

Cristina Ponte, coordenadora nacional do projecto e professora de Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa, alerta que estas conclusões podem denunciar um padrão: "a utilização da internet pelas crianças e jovens portugueses nos seus quartos pode conduzir a um uso menos controlado da internet e a uma falta de acompanhamento por parte dos pais, que pode diminuir a falta de apoio das crianças em caso de haver exposição a alguns riscos online. O inquérito veio também mostrar que são as mais novas as que mais expressaram desconforto pelas situações de risco que experimentaram".

No próximo dia 4 de Fevereiro, realiza-se uma conferência nacional para discutir como Portugal aparece no retrato. Saber mais.