Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
Não se pode mandar o ministro da Cultura embora?
Tenho ouvido coisas inusitadas do ministro. Deve ser porque eu oiço rádio - falta-me a imagem da televisão para contextualizar. Hoje, em Évora, anunciou que ia despedir o responsável do CCB, quando chegasse a Lisboa. Mas não indicava o nome do sucessor porque é um homem honesto. Não me lembro de um ministro tão rude.
domingo, 28 de fevereiro de 2016
Problema da rádio
Hoje de manhã, no programa da provedora do ouvinte, Paula Cordeiro ouviu João Almeida, diretor da Antena 2, falar da nova grelha do canal a partir de 2 de abril próximo e da promessa de atualização do sítio da internet do mesmo canal. Lembrei-me de uma entrevista de João Alferes Gonçalves que me deu em 27 de junho de 2012: "há arquivos da televisão e, de vez em quando, veem as imagens, há a RTP Memória. Não há a Rádio Memória. Ninguém vai buscar os arquivos da rádio do que foi feito. E depois os jornais, claro está, tudo disponível nas hemerotecas. No caso da rádio não há sequer arquivos sonoros da Rádio Renascença". Também ousamos sugerir que haja mais memória na rádio pública.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016
Colóquio sobre propaganda, cultura e entretenimento em Portugal
No colóquio realizado ontem no Arquivo Distrital do Porto, intitulado Propaganda, Cultura e Entretenimento em Portugal na Primeira Metade do Século XX, entre os diferentes oradores, destaquei, pelo interesse pessoal nas matérias, Pedro Cerdeira falou sobre a Gazeta dos Caminhos de Ferro durante a I Guerra Mundial , nas dificuldades de circulação e na oportunidade perdida em termos de turismo, apesar do apelo à viagem e aos caminhos de ferro, Paulo Cunha falou da exibição itinerante de cinema em Guimarães e no teatro Jordão (ver excerto da comunicação no vídeo), Luísa Marroni falou da exposição colonial do Porto (1934), do 1,3 milhões de visitantes e da documentação portátil em torno da exposição (livros, folhetos, catálogos, selos), Carla Ribeiro falou de António Ferro e do seu percurso final (Berna e Roma) (ver excerto da comunicação no vídeo), Tiago Baptista falou do cinema e do Jornal Português, Rosário Pestana falou do entretenimento e música gravada e das estratégias comerciais, produção e consumo, em torno do maestro Frederico de Freitas (ver excerto da comunicação no vídeo), Manuel Deniz da Silva falou do filme A Severa e das repercussões da introdução do cinema sonoro e Pedro Russo Moreira falou sobre a construção do vedetismo na Emissora Nacional no período entre 1940 e 1950.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016
Rádio Renascença passa do Chiado para a Buraca
A Rádio Renascença esteve quase 80 anos no Chiado, entre a rua Capelo e a rua Ivens. Desde 1937, a Emissora Católica funcionou ali, crescendo para cima (Pensão Nova Capelo, que chegou a pertencer aos pais de Francisco Igrejas Caeiro, um nome mítico da rádio portuguesa) e para o lado (Casa do Algarve, onde decorriam animados bailes e mais atividades lúdicas e associativas). No edifício, a desocupar até daqui a três meses, irá funcionar um hotel. Isto é, muitos anos (ou décadas) depois da saída dos jornais do Chiado e do Bairro Alto, as indústrias culturais da zona reformulam-se.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
Tennessee Williams nos Artistas Unidos
Vi Doce Pássaro da Juventude no Teatro Nacional de S. João (Porto) e Gata em Telhado de Zinco Quente no Teatro Municipal de São Luiz. Jorge Silva Melo quis homenagear os atores com quem vem trabalhando nos quase vinte anos dos Artistas Unidos: Maria João Luís, Catarina Wallenstein, Rúben Gomes, Américo Silva, Isabel Muñoz Cardoso, Vânia Rodrigues, Nuno Pardal, Tiago Matias, João Vaz.
Daí, nasceu a ideia de revisitar Tennessee Williams (a terceira peça está programada para 2017: Noite da Iguana) e fazer percorrer as peças pelo país. Assim, Gata em Telhado de Zinco Quente estreou em Viseu. São peças cujo longo primeiro ato trata da relação entre homem e mulher numa situação de transgressão ou a indiciá-la: o gigolo (Chance Wayne, por Rúben Gomes) e a atriz decadente Alexandra del Lago, por Maria João Luís), com uma dependência monetária e emocional numa, a homossexualidade escondida no casal ainda jovem (Brick Pollit, por Rúben Gomes, e Maggie, por Catarina Wallenstein). Mas também triângulos amorosos, com Heavenly. O mais interessante é descobrir que estas histórias se desenrolam numa América de finais da década de 1940 e inícios da seguinte, com códigos morais ainda muito rigorosos.
As mulheres são violentadas mas adquirem poder - pela coragem, persistência ou simples deixar correr o tempo -, mas os homens parecem sair sempre a perder. Tennessee Williams atribui alguma equivalência nos estatuto dos homens nas duas peças: Chance é uma espécie de personagem negra por oposição a Brick, nos dois há uma adolescência feliz mas perdida definitivamente: a doença de Chance transmitida a Heavenly em Doce Pássaro da Juventude, a amizade aparentemente não sexual de Brick pelo já falecido Skipper. Mas Chance pode também ser encarado como criminoso degenerado, designação próxima de homossexual. Há ainda o papel do pai autoritário, certamente bebido na experiência familiar do dramaturgo: o pai Heavenly quer vingar a doença venérea, o pai Pollit diferencia violentamente os dois filhos, punindo aquele que aparenta ser o mais próximo do ideal de prosperidade.
Daí, nasceu a ideia de revisitar Tennessee Williams (a terceira peça está programada para 2017: Noite da Iguana) e fazer percorrer as peças pelo país. Assim, Gata em Telhado de Zinco Quente estreou em Viseu. São peças cujo longo primeiro ato trata da relação entre homem e mulher numa situação de transgressão ou a indiciá-la: o gigolo (Chance Wayne, por Rúben Gomes) e a atriz decadente Alexandra del Lago, por Maria João Luís), com uma dependência monetária e emocional numa, a homossexualidade escondida no casal ainda jovem (Brick Pollit, por Rúben Gomes, e Maggie, por Catarina Wallenstein). Mas também triângulos amorosos, com Heavenly. O mais interessante é descobrir que estas histórias se desenrolam numa América de finais da década de 1940 e inícios da seguinte, com códigos morais ainda muito rigorosos.
As mulheres são violentadas mas adquirem poder - pela coragem, persistência ou simples deixar correr o tempo -, mas os homens parecem sair sempre a perder. Tennessee Williams atribui alguma equivalência nos estatuto dos homens nas duas peças: Chance é uma espécie de personagem negra por oposição a Brick, nos dois há uma adolescência feliz mas perdida definitivamente: a doença de Chance transmitida a Heavenly em Doce Pássaro da Juventude, a amizade aparentemente não sexual de Brick pelo já falecido Skipper. Mas Chance pode também ser encarado como criminoso degenerado, designação próxima de homossexual. Há ainda o papel do pai autoritário, certamente bebido na experiência familiar do dramaturgo: o pai Heavenly quer vingar a doença venérea, o pai Pollit diferencia violentamente os dois filhos, punindo aquele que aparenta ser o mais próximo do ideal de prosperidade.
sábado, 20 de fevereiro de 2016
Oito odiados
Quentin Tarantino é realizador de cinema e guionista dos mais conhecidos dos Estados Unidos. Muita da sua fama provém do emprego da violência nos seus filmes, que encontramos de novo em Oito Odiados. Se nos filmes com Uma Thurman, restava a esperança de uma vingadora com alguma razão por detrás da sua força demolidora, no filme mais recente não há marcas de humanidade. Aliás, para uma história de ficção, parece-me haver uma improbabilidade: todos os odiosos morrem mais os que foram vítimas da violência, sem ficar ninguém para contar a história ao escritor e guionista.
Mas os Oito Odiados tem alguns elementos de excelente referência, tais como a longa caminhada desde o horizonte de uma carruagem (ou diligência, como li), uma espécie de fantasma a anunciar premonitoriamente a trama ficcional. A câmara está fixa a mostrar um lento movimento até perto do ângulo de visão do espectador. Dentro da carruagem, um caçador de criminosos John Ruth (Kurt Russell) transporta uma criminosa, Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), que espera a forca em troca de uma boa quantia de recompensa para o caçador por a ter apanhado. No decurso da viagem, cai um grande nevão e, na estrada, indivíduos pedem boleia. Com modos muito rudes e autoritários, até violentos, Ruth aceita a sua entrada. Todos vão parar a uma estalagem - uma loja de retrosaria como aparece também indicada - e dos estalajadeiros não há sinal. Mas o velho negro que combateu pelo lado do Norte adivinha incongruências no registo de um possível colaborador dos donos da estalagem. E a morte por ingestão de café com veneno levanta mais suspeitas.
Após o intervalo, Tarantino mostra-nos imagens do líquido venenoso entornado para dentro da cafeteira, depois de nos indicar que a criminosa Daisy Domergue viu a ação. Aqui, há outro elemento de referência do filme - a ideia de guião não-linear, voltando a ação para trás e mostrando os hóspedes mais antigos, que assassinariam os donos da estalagem e os seus empregados. O objetivo era esperar a chegada da criminosa para ser libertada.
A história decorre poucos anos depois da Guerra Civil Americana (1861-1865) e o realizador levanta velhos traumas, como a luta entre Norte e Sul. Os de um lado e do outro aparecem representados no filme e mais um negro (que acusa o do sul de ser esclavagista). Para completar falta apenas uma personagem índia. No filme, há uma permanente representação de cumplicidades e de traições, ninguém escapa a esse destino fatal. Calculo que tenha havido muita discussão nos Estados Unidos por causa do recordar esses tempos e sem uma grelha crítica de apoio ao espectador. E, fora dos Estados Unidos, o filme também magoa, porque ele apenas uma sociedade desigual, violenta e sangrenta, afinal a imagem que temos do yankee que se tornou o polícia do mundo.
Mas os Oito Odiados tem alguns elementos de excelente referência, tais como a longa caminhada desde o horizonte de uma carruagem (ou diligência, como li), uma espécie de fantasma a anunciar premonitoriamente a trama ficcional. A câmara está fixa a mostrar um lento movimento até perto do ângulo de visão do espectador. Dentro da carruagem, um caçador de criminosos John Ruth (Kurt Russell) transporta uma criminosa, Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), que espera a forca em troca de uma boa quantia de recompensa para o caçador por a ter apanhado. No decurso da viagem, cai um grande nevão e, na estrada, indivíduos pedem boleia. Com modos muito rudes e autoritários, até violentos, Ruth aceita a sua entrada. Todos vão parar a uma estalagem - uma loja de retrosaria como aparece também indicada - e dos estalajadeiros não há sinal. Mas o velho negro que combateu pelo lado do Norte adivinha incongruências no registo de um possível colaborador dos donos da estalagem. E a morte por ingestão de café com veneno levanta mais suspeitas.
Após o intervalo, Tarantino mostra-nos imagens do líquido venenoso entornado para dentro da cafeteira, depois de nos indicar que a criminosa Daisy Domergue viu a ação. Aqui, há outro elemento de referência do filme - a ideia de guião não-linear, voltando a ação para trás e mostrando os hóspedes mais antigos, que assassinariam os donos da estalagem e os seus empregados. O objetivo era esperar a chegada da criminosa para ser libertada.
A história decorre poucos anos depois da Guerra Civil Americana (1861-1865) e o realizador levanta velhos traumas, como a luta entre Norte e Sul. Os de um lado e do outro aparecem representados no filme e mais um negro (que acusa o do sul de ser esclavagista). Para completar falta apenas uma personagem índia. No filme, há uma permanente representação de cumplicidades e de traições, ninguém escapa a esse destino fatal. Calculo que tenha havido muita discussão nos Estados Unidos por causa do recordar esses tempos e sem uma grelha crítica de apoio ao espectador. E, fora dos Estados Unidos, o filme também magoa, porque ele apenas uma sociedade desigual, violenta e sangrenta, afinal a imagem que temos do yankee que se tornou o polícia do mundo.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016
Fernando (que) pessoas?
Ontem, vi (e gostei de) o ensaio da peça (monólogo) Fernando (que) Pessoas?, texto de Fátima Franco, encenação de Maria João Miguel e interpretação de Gonçalo Cabral para o Teatro Bocage. Os textos do poeta e os heterónimos, mas também a paixão por Ophelia (assim mesmo com ph), os tiques e os pequenos vícios, num trabalho intenso do ator a ocupar sozinho todo o palco, buscando vozes, ritmos e atmosferas. No início, Pessoa levanta-se, como se acordasse do seu túmulo, e voltasse lentamente ao mundo, num desdobramento de personagens, recolhendo do chão cheio de cascas de árvore os adereços: óculos, chapéu, caderno de apontamentos e chávena de café.
A estrear no dia 20 de fevereiro, pelas 16:00. Saber mais em Teatro Bocage.
Colóquio sobre os 80 anos da revista O Mosquito
Foi hoje ao final do dia, na Biblioteca Nacional. Nele, intervieram João Manuel Mimoso, António Martinó Coutinho, Carlos Gonçalves e José Ruy (nos vídeos, parcelas das intervenções do primeiro e último dos oradores).
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016
Emissora Nacional
Do blogue Largo dos Correios (de António Martinó Coutinho) retiro o início de uma mensagem (e imagens) sobre a rádio pública: "A Emissora Nacional de Radiodifusão, a que chamávamos mais simplesmente Emissora Nacional, iniciou as suas experiências técnicas em Maio de 1934. Após esse período de adaptação, o serviço público foi oficialmente inaugurado no dia 4 de Agosto de 1935, cumprindo-se portanto hoje 80 precisos anos sobre a data. Então, o presidente da República do tempo, general António Óscar de Fragoso Carmona, visitou as instalações, cujo director era o capitão Henrique Galvão, um homem do regime que mais tarde se insubordinaria contra o Estado Novo".
E mais adiante: "As primeiras lembranças regulares da experiência radiofónica pessoal estão ligadas à II Guerra Mundial. Foi uma iniciativa quotidiana do meu avô José Cândido e, mais do que sintonizado na Emissora Nacional, era nos programas em língua portuguesa da BBC, pela voz inconfundível de Fernando Pessa, que eu ouvia embevecido as proezas dos aliados na sua luta sem tréguas contra os nazis. A voz de Londres falava e o mundo, incluindo-me, acreditava… A Emissora também era ouvida, e muito, tanto nos seus noticiários como nos programas de variedades e até nos folhetins radiofónicos. Lembro-me bem do longo conto Iratan e Iracema, de Olavo d’Eça Leal, de que tenho guardado o texto dos episódios, publicado no semanário Rádio Nacional. E podia lá esquecer-me dos diálogos, únicos e irrepetíveis, do Zèquinha e da Lelé, escritos por Aníbal Nazaré e Nelson de Barros (inspirados autores de revista) e interpretados por Vasco Santana e Irene Velez" [abaixo, reprodução do texto publicado no Expresso, 5 de agosto de 1955, que também retirei do blogue de António Martinó Coutinho].
E mais adiante: "As primeiras lembranças regulares da experiência radiofónica pessoal estão ligadas à II Guerra Mundial. Foi uma iniciativa quotidiana do meu avô José Cândido e, mais do que sintonizado na Emissora Nacional, era nos programas em língua portuguesa da BBC, pela voz inconfundível de Fernando Pessa, que eu ouvia embevecido as proezas dos aliados na sua luta sem tréguas contra os nazis. A voz de Londres falava e o mundo, incluindo-me, acreditava… A Emissora também era ouvida, e muito, tanto nos seus noticiários como nos programas de variedades e até nos folhetins radiofónicos. Lembro-me bem do longo conto Iratan e Iracema, de Olavo d’Eça Leal, de que tenho guardado o texto dos episódios, publicado no semanário Rádio Nacional. E podia lá esquecer-me dos diálogos, únicos e irrepetíveis, do Zèquinha e da Lelé, escritos por Aníbal Nazaré e Nelson de Barros (inspirados autores de revista) e interpretados por Vasco Santana e Irene Velez" [abaixo, reprodução do texto publicado no Expresso, 5 de agosto de 1955, que também retirei do blogue de António Martinó Coutinho].
sábado, 13 de fevereiro de 2016
Sobre a pintura de Rui Sanches
Na conversa sobre pintura com Rui Sanches, a propósito da exposição Suite Alentejana, hoje às 17:00, João Pinharanda e João Queiroz falaram sobre as obras expostas na Fundação Portuguesa das Comunicações. No vídeo abaixo, incluo a primeira parte da intervenção de João Pinharanda, que falou nomeadamente da estranheza da obra exposta e da relação com o desenho e a escultura. O crítico de arte e autor do catálogo sobre a exposição destacou bastante a importância do espaço nas obras expostas. Nas paisagens presentes não existe uma linha de horizonte, mas signos, como bandeiras ou pontos, em que o vertical assume particular relevo. Por seu lado, João Queiroz, evidenciou a negociação entre formas ou entes coloridos (linhas, pontos, cores). Na sua linguagem mais filosófica (que juntou à de historiador em Pinharanda), ele vê conjuntos de elementos muito diferenciados que lutam nas obras mas conseguem um acordo entre si.
O título da exposição deve-se à admiração que o escultor/pintor tem pela obra de Luís de Freitas Branco, em especial a 1ª Suite Alentejana. No conjunto de interações com a vasta audiência, foi salientado o facto de Rui Sanches não se sentir pressionado pelo mercado, dando lugar à experimentação permanente e à liberdade de não passar a vida a reproduzir as suas formas e conteúdos em obras sucessivas.
O título da exposição deve-se à admiração que o escultor/pintor tem pela obra de Luís de Freitas Branco, em especial a 1ª Suite Alentejana. No conjunto de interações com a vasta audiência, foi salientado o facto de Rui Sanches não se sentir pressionado pelo mercado, dando lugar à experimentação permanente e à liberdade de não passar a vida a reproduzir as suas formas e conteúdos em obras sucessivas.
A história da rádio segundo Álvaro de Andrade (6)
Álvaro de Andrade, ao recordar a sua intervenção juntando essas duas paixões, convidaria artistas e críticos a pronunciarem-se sobre a representação radiofónica da peça A Ceia dos Cardeais, de Júlio Dantas, numa espécie de estudo qualitativo de audiências. A peça era interpretada por Alexandre de Azevedo, António Sacramento e Henrique de Albuquerque, belas vozes claras e das melhores de então - 1936. O crítico não encontrava muita diferenciação nas cenas, com pouca allure (que poderei traduzir por elegância) e vibração. Por exemplo, Alexandre de Azevedo não dava "duplo colorido às frases". Isto é, como a peça só tinha vozes masculinas, graves, falhava a cor do espetáculo que outros tons podiam fornecer. Mesmo o bater de louças e vidros no começo da peça lembrava outra peça, envolvendo comensais velhinhos. A rádio, finalizo, e a propósito do Dia Mundial da Rádio, hoje comemorado, é o conjunto da voz, a palavra e os múltiplos cambiantes sonoros.
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016
Rádio e digital em Paula Cordeiro
Hoje ao fim da tarde foi lançado o livro de Cordeiro, Impressão Digital, publicado pela Chiado Editora. Provedora do ouvinte da rádio pública e docente universitária (ISCSP), o livro é uma recolha de textos que a autora foi publicando na revista Briefing e no portal Liga-te à Media. Retiro algumas ideias da contracapa do livro: sem ser um livro de aparato científico, aponta pistas para a teoria e destaca a importância do digital na vida quotidiana e a aparente inadaptação das marcas e da comunicação social ao novo paradigma comunicacional.
Da apresentação do livro por Luís Marinho, ele realçaria as palavras amor e paixão pelo objeto rádio, que a autora investiga por dentro. E elogiaria o facto de Paula Cordeiro defender o regresso da palavra à rádio. Este meio foi relevante quando nos falou ao ouvido. Só a rádio consegue contar histórias que encantam quem as escuta. A rádio é, deste modo, um contexto propício à comunicação e à cultura, acrescento.
Independent descontinua edição em papel
Leio no Diário de Notícias que os jornais britânicos Independent e Independent on Sunday vão ter as últimas edições em papel no próximo mês de março. Lançados em 1986, foram comprados por Evgeny Lebedev em 2010. O jornal tem 58 milhões de leitores online e já é rentável.
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016
Colóquio sobre O Mosquito na Biblioteca Nacional
Por ocasião dos 80 anos do lançamento da revista juvenil de banda desenhada O Mosquito, que se publicou durante dezassete anos e na qual diversos artistas portugueses iniciaram ou desenvolveram as suas carreiras, a Biblioteca Nacional de Portugal e o Clube Português de Banda Desenhada promovem um colóquio, a 17 de fevereiro, pelas 17:00, no auditório da BN, com entrada livre. Uma exposição associada, com exemplares da revista, publicações associadas e construções oferecidas como separatas, estará patente na Biblioteca Nacional até ao dia 29 fevereiro de 2016.
O programa conta a participação de José Ruy (leitor de primeira hora e posteriormente colaborador da revista onde publicou O Reino Proibido) sobre a parceria de Tiotónio e Raul Correia na criação e desenvolvimento de O Mosquito, António Martinó Coutinho sobre memórias portuenses de Hélder Pacheco relativas a O Mosquito, Carlos Gonçalves sobre as construções de O Mosquito, e João Manuel Mimoso, complementado com uma visita guiada à exposição.
O programa conta a participação de José Ruy (leitor de primeira hora e posteriormente colaborador da revista onde publicou O Reino Proibido) sobre a parceria de Tiotónio e Raul Correia na criação e desenvolvimento de O Mosquito, António Martinó Coutinho sobre memórias portuenses de Hélder Pacheco relativas a O Mosquito, Carlos Gonçalves sobre as construções de O Mosquito, e João Manuel Mimoso, complementado com uma visita guiada à exposição.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016
Mais espectadores de cinema na Europa, incluindo Portugal
Em 2015, contabilizaram-se 1210 milhões de espectadores nas salas de cinema europeias contra 1151 milhões de 2014, o que significa um aumento de 5,2%, dados revelados pelo projeto MEDIA Salles, do Programa Media da União Europeia (a partir de notícia do Diário de Notícias).
Dos países com maior aumento de frequência de cinema em circuito comercial estão Portugal (mais 20,4%), Finlândia (20,3%) e Dinamarca (15,8%). Ainda de acordo com a notícia que sigo, o Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA) já anunciara que Portugal contabilizou 14,5 milhões de espectadores em 2015. Dos países com maiores taxas de exibição, a Alemanha e Reino Unido também tiveram aumentos de idas ao cinema, ao passo que a França teve uma leve queda. O projeto MEDIA Salles assinala ainda uma aceleração do processo de conversão tecnológica das salas de cinema (existência de 36200 salas com projeção em digital, um total de 95% do total).
Dos países com maior aumento de frequência de cinema em circuito comercial estão Portugal (mais 20,4%), Finlândia (20,3%) e Dinamarca (15,8%). Ainda de acordo com a notícia que sigo, o Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA) já anunciara que Portugal contabilizou 14,5 milhões de espectadores em 2015. Dos países com maiores taxas de exibição, a Alemanha e Reino Unido também tiveram aumentos de idas ao cinema, ao passo que a França teve uma leve queda. O projeto MEDIA Salles assinala ainda uma aceleração do processo de conversão tecnológica das salas de cinema (existência de 36200 salas com projeção em digital, um total de 95% do total).
sábado, 6 de fevereiro de 2016
Um ano sem ti
É o título da peça em cena no Clube Estefânia (Espaço Escola de Mulheres Oficina de Teatro, Lisboa), em produção da Buzico, com texto e encenação de João Ascenso, cenografia de Francisco Peres e figurinos de João Ascenso e Ruy Malheiro. Prefiro a encenação à história: Mónica (Raquel Rocha Vieira) perdeu o marido, Henrique (Pedro Barroso); este gostara anteriormente de Luísa (Isabel Guerreiro); Jorge (Ricardo Lérias) era amigo de ambas e confessara um dia que gostava de Henrique. Não era um triângulo, mas um quadrado. Amigas desde a infância, na adolescência e como jovens adultas Mónica e Luísa brincavam a trocar namorados e a classificá-los, como se fossem coisas ou joguetes nas suas mãos. Depois, Henrique apareceu, começou a gostar de Luísa mas apaixonou-se por Mónica, com quem casou. No dia do acidente que o vitimou, ele telefonara a Luísa e levava no casaco uma velha fotografia com ela. Rompera com Luísa e queria voltá-la a ver muito. Isto é revelado ao longo da história.
Na história, a viúva Mónica aparece doente e encerrada em casa há um ano, sem capacidade de fazer sequer um lanche, com o apoio desvelado de Jorge. Quando chega Luísa, desfaz-se o desequilíbrio - ela considera Mónica de boa saúde e Jorge obstinado e vítima. Chama-lhe porteira com algum carinho mas desata logo a reprovar o seu comportamento. Henrique, morto e amado/odiado passeia-se pelo palco como um fantasma, narra partes da história para a compreendermos melhor. Cada personagem fala com os espectadores, a narrar a sua perspetiva e segredos, com a luz (de Paulo Santos) focada nas suas palavras, deixando as outras personagens no escuro e em suspenso. Luísa vem também até à janela, a realçar a sua posição. No fundo, os três amigos são viúvos e suspensos nas suas memórias, que procuram levá-las até à eternidade. Jorge, aparentemente o elemento mais frágil, seria o guardador dessa memória. Quando todos compreendem que a situação se torna insustentável, pelas contradições que encontram e pelos segredos contados finalmente, voltam à antiga amizade e à vida. A janela aberta por Luísa com a ajuda de Jorge é a imagem mais bem conseguida disso.
João Ascenso, que terá imaginado como se pode perder alguém que se ama, olhou agora, quando preparou a encenação, o texto com estranheza. Porém, encontrou sentido nessa travessia.
Retiro da página do Facebook de Isabel Guerreiro as suas impressões sobre os colegas de representação: "Ricardo Lérias, meu mestre na vida, orientador de tanta coisa. Protector. Amigo. Companheiro. E agora voltamos juntos a palco. Da primeira vez que o fizemos sentimos a faísca. Agora fazemos faísca... «porteira»! Pedro Barroso, tu nem tens noção da enormidade que és como actor. E do quanto me tens dado. Pequenas trocas de olhar, muito rápidas porque não podemos mais, têm sido o bastante. Obrigada! João podes escrever uma coisa que eu possa olhar para o Pedro de frente e usar esta enormidade dele? Obrigada! Raquel, não é fácil de repente subir a um palco e uma desconhecida ser a tua melhor amiga que te traiu mas que tu amas perdidamente na mesma. Mas foi. E porquê? Porque tu estás ao meu lado e fazes a Mónica. Não receies. A tua entrega diária mostra bem o que és. Todos os teus mimos são um bálsamo. Vamos fazer isto de mãos dadas".
Na história, a viúva Mónica aparece doente e encerrada em casa há um ano, sem capacidade de fazer sequer um lanche, com o apoio desvelado de Jorge. Quando chega Luísa, desfaz-se o desequilíbrio - ela considera Mónica de boa saúde e Jorge obstinado e vítima. Chama-lhe porteira com algum carinho mas desata logo a reprovar o seu comportamento. Henrique, morto e amado/odiado passeia-se pelo palco como um fantasma, narra partes da história para a compreendermos melhor. Cada personagem fala com os espectadores, a narrar a sua perspetiva e segredos, com a luz (de Paulo Santos) focada nas suas palavras, deixando as outras personagens no escuro e em suspenso. Luísa vem também até à janela, a realçar a sua posição. No fundo, os três amigos são viúvos e suspensos nas suas memórias, que procuram levá-las até à eternidade. Jorge, aparentemente o elemento mais frágil, seria o guardador dessa memória. Quando todos compreendem que a situação se torna insustentável, pelas contradições que encontram e pelos segredos contados finalmente, voltam à antiga amizade e à vida. A janela aberta por Luísa com a ajuda de Jorge é a imagem mais bem conseguida disso.
João Ascenso, que terá imaginado como se pode perder alguém que se ama, olhou agora, quando preparou a encenação, o texto com estranheza. Porém, encontrou sentido nessa travessia.
Retiro da página do Facebook de Isabel Guerreiro as suas impressões sobre os colegas de representação: "Ricardo Lérias, meu mestre na vida, orientador de tanta coisa. Protector. Amigo. Companheiro. E agora voltamos juntos a palco. Da primeira vez que o fizemos sentimos a faísca. Agora fazemos faísca... «porteira»! Pedro Barroso, tu nem tens noção da enormidade que és como actor. E do quanto me tens dado. Pequenas trocas de olhar, muito rápidas porque não podemos mais, têm sido o bastante. Obrigada! João podes escrever uma coisa que eu possa olhar para o Pedro de frente e usar esta enormidade dele? Obrigada! Raquel, não é fácil de repente subir a um palco e uma desconhecida ser a tua melhor amiga que te traiu mas que tu amas perdidamente na mesma. Mas foi. E porquê? Porque tu estás ao meu lado e fazes a Mónica. Não receies. A tua entrega diária mostra bem o que és. Todos os teus mimos são um bálsamo. Vamos fazer isto de mãos dadas".
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016
Grande Prémio de Teatro Português
Estão abertas as candidaturas para a edição de 2016 do Grande Prémio de Teatro Português promovido pelo Teatro Aberto em parceria com a Sociedade Portuguesa de Autores. Os candidatos devem enviar as obras que desejam submeter ao concurso até 26 de fevereiro de 2016. Trata-se da 20ª edição do prémio que já levou ao palco do Teatro Aberto dez textos inéditos estreados entre 1997 e 2013. Regulamento do concurso disponível em Sociedade Portuguesa de Autores e Teatro Aberto.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016
Da fotografia ao azulejo
Da Fotografia ao Azulejo é uma exposição temporária que se pode visitar no museu Soares dos Reis (Porto). O tema é o azulejo enquanto decoração de espaços públicos e privados desde o século XVII em Portugal. Fachadas de edifícios de casas das cidades, mercados, instalações fabris e estações ferroviárias contam-se entre as que têm azulejos como elementos decorativos. Em muitas situações, os azulejos contam histórias ou são representações da paisagem, da sociedade e de momentos de trabalho. Lisboa, Porto (Vila Nova de Gaia) e Aveiro foram os centros fabris de trabalho do azulejo.
A exposição, para além de um grande repositório de imagens de locais onde ainda se veem os azulejos, mostra a maneira como artesãos e artistas pintam os azulejos a partir de modelos, nomeadamente fotografias. As fontes gráficas incluem livros, revistas e postais. Fotografias de Joshua Benoliel e de fotógrafos locais são empregues. Estas imagens trazem associadas a si a ideia de verdade. No Porto, há edifícios notáveis pelos azulejos, como a estação ferroviária de S. Bento e igrejas dos Congregados e de Santo Ildefonso, todos de autoria do pintor Jorge Colaço, produzidos em fábricas de Lisboa (Sacavém e Lusitânia). Já os painéis da igreja do Carmo (Porto) foram realizados nas fábricas de Vila Nova de Gaia (Senhor d'Além e Torrinha) [texto a partir do folheto que acompanha a exposição].
A exposição, para além de um grande repositório de imagens de locais onde ainda se veem os azulejos, mostra a maneira como artesãos e artistas pintam os azulejos a partir de modelos, nomeadamente fotografias. As fontes gráficas incluem livros, revistas e postais. Fotografias de Joshua Benoliel e de fotógrafos locais são empregues. Estas imagens trazem associadas a si a ideia de verdade. No Porto, há edifícios notáveis pelos azulejos, como a estação ferroviária de S. Bento e igrejas dos Congregados e de Santo Ildefonso, todos de autoria do pintor Jorge Colaço, produzidos em fábricas de Lisboa (Sacavém e Lusitânia). Já os painéis da igreja do Carmo (Porto) foram realizados nas fábricas de Vila Nova de Gaia (Senhor d'Além e Torrinha) [texto a partir do folheto que acompanha a exposição].
terça-feira, 2 de fevereiro de 2016
Arte urbana
Dentro das comemorações dos 25 anos, a APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) promoveu a realização do mural de arte urbana Introspeção, dos artistas Frederico Draw e Rodrigo Alma (Colectivo RUA), localizado na rua Dona Estefânia, em Lisboa, e destinado a comunicar a missão da associação à comunidade onde se insere, através da arte. Realizado entre os dias 7 e 9 de novembro de 2015, o projecto contou com o apoio do Hotel Neya e da Galeria de Arte Urbana da Câmara Municipal de Lisboa (texto a partir de notícia do jornal Público).
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016
A rádio na JJ - Jornalismo e Jornalistas
"O objetivo do texto é traçar linhas de atuação da informação na Emissora Nacional no final do Estado Novo e início do regime democrático. Passou-se de uma época assente em valores noticiosos oficiais, imutáveis e apologéticos das realizações políticas de Salazar, Caetano e Tomás para um período experimental e pleno de contradições, com preocupações diferentes como condições de vida
do povo e exaltação de uma sociedade mais justa", escrevo no começo de texto agora publicado na revista Jornalismo e Jornalistas (número 61, respeitante a outubro-dezembro de 2015). Observação: no texto, menciono o tenente-coronel José Luís Ferreira da Cunha, secretário de Estado, como interveniente na legislação da nacionalização da rádio em dezembro de 1975, quando a mesma se deve a António Almeida Santos, então ministro da Comunicação Social. Ferreira da Cunha estava então a braços com uma acusação de ter pertencido a um organismo do Estado Novo.
O número da revista é dedicado aos 80 anos da entrada em funcionamento da Emissora Nacional e tem textos de Luís Bonixe, Elsa Costa e Silva, Madalena Oliveira, Ana Isabel Reis, Maria José Brites, Ana Jorge e Mário Rui Cardoso, além de uma entrevista à provedora do ouvinte Paula Cordeiro.
O número da revista é dedicado aos 80 anos da entrada em funcionamento da Emissora Nacional e tem textos de Luís Bonixe, Elsa Costa e Silva, Madalena Oliveira, Ana Isabel Reis, Maria José Brites, Ana Jorge e Mário Rui Cardoso, além de uma entrevista à provedora do ouvinte Paula Cordeiro.
[textos e imagens retiradas de Rádio & Televisão, 8 de abril de 1972, Flama, 3 de novembro de 1972, e Diário Popular, 6 de maio de 1974]
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