segunda-feira, 31 de outubro de 2005

O PRIMEIRO RÁDIO NO JORNAL O SÉCULO

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Diz a legenda da revista TSF em Portugal (cerca de 1925): "postos receptores para pequenos e grandes comprimentos de ondas, que garantem a recepção do serviço de imprensa transmitida pelas principais rádios da Europa e da América". A publicação não inclui o receptor do Diário de Notícias, pois a imagem não chegou a horas.

De notar que o aparelho ainda não tinha uma caixa, deixando ver as válvulas electrónicas [um perigo], enquanto o altifalante é exterior, embora o operador tenha auscultadores. Há ainda um conjunto de botões, o que significa a difícil sintonia dos receptores naquele tempo.
O MEU HALLOWEEN HÁ QUATRO ANOS

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O desenho da abóbora está colado na montra da livraria Food For Thought, em Amherst, Estado de Massachusetts (Estados Unidos), no final de Outubro de 2001.
A NUVEM E O PÔR-DO-SOL, A PARTIR DA JANELA DO MEU ESCRITÓRIO



Lisboa, às 18:13 de hoje, após um aguaceiro.
COISAS BOAS

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bockoutubro.JPGOs mupis contêm algumas mensagens sobre alimentos e bebidas, como queijo, vinho e cerveja. Esta última associa-se à música, agora que os prémios MTV estão à porta.

Ainda não são os anúncios de Natal, pois se esperam - certamente - consolas, telemóveis e televisores de alta definição, além de outros bens electrónicos, mas sabe bem olhar e fixar as marcas e as qualidades de bens de consumo alimentar.
NOVA GUERRA NO CLUBE DE VÍDEO

Trata-se de um título apelativo, este editado ontem no El Pais e assinado por Patricia Fernández de Lis.

elpais301020052.jpgEscreve a jornalista: "O DVD tem um problema: está velho. O formato acaba de cumprir dez anos e, nesse período, a tecnologia do televisor avançou muito mais. Neste momento, aproximadamente metade dos aparelhos que existem nos lares são já de alta definição". Há uma segunda questão, a da pirataria. Os estúdios estão interessadíssimos em que a nova geração do DVD inclua uma forte protecção contra cópias.

Depois, os novos discos terão uma capacidade de armazenamento de informação entre cinco e dez vezes a actual, tudo devido ao laser azul, que substituirá o agora vermelho. Ora, aqui reside uma terceira questão: os fabricantes estão divididos em dois campos, como já escrevi no blogue. De um lado, o Blu-ray, da Sony, apoiada por 140 empresas, no que representa 90% do mercado de computadores e 80% dos videojogos; de outro lado, o HD-DVD, da Toshiba, NEC e os estúdios Universal, a que se juntaram recentemente a Microsoft e a Intel.

A disputa traz logo à memória as guerras perdidas da Sony com o videogravador Betamax e o formato próprio de DVD. Os analistas, contudo, acham que a Sony aprendeu com os seus erros, além de que é proprietária de dois dos maiores estúdios de cinema em Hollywood (Columbia e MGM), o que significa apoio da indústria de conteúdos, como prevê um analista da Forrester, Ted Schadler.

Neste Natal, haverá o lançamento da tecnologia Blu-Ray na consola Playstation, enquanto se aponta para a Primavera de 2006 a saída dos primeiros modelos do DVD com essa tecnologia. Claro que fico à espera de quem ganhe para optar pela aquisição de um novo modelo cá para casa.

domingo, 30 de outubro de 2005

O SEGUNDO ANIVERSÁRIO DA BRITISH PATHÉ

Ocorreu há muito pouco tempo a passagem do segundo aniversário do sítio da British Pathé, totalmente digitalizado (3500 horas de vídeo, 12 milhões de fotografias e 75 anos de actividade, como se lê no frontispício do sítio).

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As estatísticas referentes aos últimos 12 meses mostram que houve cerca de 15 milhões de páginas vistas, com uma média de 11 minutos de visita. No total, os visitantes viram 750.000 clips, havendo dezenas de milhar descarregados pelo público nas escolas e em serviços de educação.

Para quem ainda não conhece, recomendo uma visita à British Pathé, um magnífico repositório da memória visual de um país (e não só).
O FENÓMENO DOS JORNAIS GRATUITOS

publico30102005.jpgO Público de hoje (caderno "Local") dedica duas páginas a analisar a penetração dos jornais gratuitos, que "está a contribuir para aumentar os hábitos de leitura em Portugal. Ler nos transportes públicos, em Lisboa, é uma crescente tendência e basta fazer uma pequena viagem no metro, autocarro ou comboio para comprovar", diz o lead do texto de Alexandra Reis.

Para mim, o trabalho da jornalista é imprescindível para se compreender o fenómeno.
A EXPANSÃO AUDIOVISUAL DA PRISA

Vem hoje claramente definido no El Pais: a expansão audiovisual do grupo detentor do importante jornal madrileno e de parte da TVI, a Prisa.

elpais30102005.jpgEm reunião tida ontem, na ilha de Ibiza, os maiores responsáveis da Prisa traçaram objectivos para o próximo ano: ampliar a actividade na área da televisão (com a nova cadeia em sinal aberto, a Cuatro, e com a entrada no capital da portuguesa TVI) e implantação espanhola e internacional (América latina) da rádio.

Enquanto Jesús de Polanco, o presidente do grupo, recordou os 20 anos da gestão da SER, a cadeia de rádios do grupo, orgulhoso pelo aumento contínuo de "quotas de credibilidade", o jornalista Iñaki Gabilondo (director de informação da SER) considerou que a rádio se identifica com a realidade do país, conciliando "autonomia e unidade com interesses distintos, a variedade, a diversidade e contradições aparentes".

A não esquecer: a Prisa tomou, recentemente, parte da propriedade da Media Capital, detentora do canal de televisão TVI e de um conjunto de estações de rádio, de entre as quais avulta a Rádio Comercial. Nos últimos meses, tem havido uma discussão em Portugal acerca desta aquisição, temendo-se pela produção e difusão de conteúdos televisivos; contudo, não houve referências à rádio, área em que a Prisa é igualmente forte.
ENTRADAS PARA UM DICIONÁRIO (IV)

[conclusão de mensagens colocadas em 28 de Agosto e 6 e 19 de Outubro]

Tipologias

Fidelidade versus experimentação, aceitação versus contestação, corrente (grupo) versus elos (pequeníssimos grupos), fãs de massa versus fãs de culto, cidade versus nichos. Isto num plano abstracto, e não no das profissões. O jornalismo digital – a sua discussão – pressupõe profissões. Estas são modos de aplicar uma tecnologia, um saber, e fazer um produto útil a uma comunidade, “trocável” ou combinável (montante e jusante) por outros produtos. Ideias e conceitos nucleares: estruturas, redes, desintermediação, apropriação de tecnologias, recepção, discussão e crítica, apropriação geracional, desníveis culturais, regionais e geracionais (uma geografia de produção e consumos), indústrias culturais e indústrias criativas, gatekeeping (quem selecciona, quais as razões), uniformidade versus diversidade, democracia versus autoritarismo e ditaduras, publicitação versus anonimato, grupos de pressão, responsabilidade [accountability] social dos profissionais (no caso dos jornalistas, os “cães de guarda” dos jornalistas, isto é: objectividade, isenção e proximidade), campo social, cultural e político (Bourdieu), ementas de media e das indústrias culturais, racionalização e acaso, movimentos contraditórios de forças complementares e opostas (campo), ligações empresas/investigação universitária, previsibilidade e aleatoriedade, privacidade e publicidade, infra-estruturas, tomada de poder nas instituições, P2P, retrocesso da ideia de massa, novas iliteracias, emprego instável e reciclagem permanente, centramento nos produtos de sucesso, juvenilização, distinção, catálogo/colecção. Planos ético e dos valores (na indústria, cultura e economia dos países, regiões e espaços inter-países, como a União Europeia). O que distingue o jornalista das outras profissões das indústrias culturais? Em muitas delas, releva-se a criatividade, o engenho, a perspicácia, a arte (telenovela, série, concurso); no jornalista, a procura da verdade e o direito de informar. Além de que uma notícia pode pesar muito mais do que uma obra (televisão, rádio, cinema) em termos de impacto junto de uma audiência. Eis o meu programa de pesquisa, não empírico mas reflexivo.

Os media electrónicos e as suas tecnologias – válvula electrónica (começos do século XX), transístor (anos 1950/1960), circuitos integrados (anos 1970), digitalização (anos 1980), uso de novos materiais (cristais líquidos). O peso do ecrã face ao telefone. As (tele)comunicações rápidas. As tecnologias vitoriosas e os diferentes contributos (ver H. Rheingold e D. Gillmor, este com a ideia de códigos e usos abertos), de sucessos e fracassos (como, no começo do século XX, Lee de Forest e o seu broadcasting). Outro exemplo: o uso amigável do Macintosh (com os ícones a esconderem a linguagem informática das funções, como Sherry Turkle mostrou). O uso amigável e a formalização da complexidade. Os usos abertos (Gillmor) e a flexibilidade (Linux).
SOBRE O LIVRO DE DINA CRISTO

Já aqui escrevera sobre o lançamento, na passada segunda-feira, do livro de Dina Cristo, A rádio em Portugal e o declínio do regime de Salazar e Caetano (1958-1974). Aproveitei o fim-de-semana para o ler.

O texto divide-se em três partes: 1) discursividades: da rádio tradicional à rádio nova, 2) dispositivo técnico e condições de actuação, 3) rádio e poder: estratégias e relações. Tese de mestrado defendida em 1999, ainda bem que se processou a sua publicação, pois cobre um até agora pouco trabalhado período - e que será bom comparar, embora num outro meio de comunicação, com a tese de doutoramento de Ana Cabrera (sobre a imprensa no período marcelista), quando esta for editada.

Do livro, destaco as páginas intituladas Plano económico (pp. 73-78), onde a autora analisa a publicidade que "inundou a rádio, nos anos 50" (p. 73). As pequenas estações englobadas nos Emissores Associados de Lisboa e Emissores Norte Reunidos (Porto) beneficiariam com ela, após hesitações políticas ao longo de duas décadas, sobre a sua necessidade ou não para o funcionamento das emissoras. Uma das maiores estações de então, o Rádio Clube Português, aproveitaria o boom publicitário para inaugurar estúdios na rua Sampaio e Pina (Lisboa) e um novo emissor de ondas médias (p. 75). Com a liberalização publicitária, reaparecia o produtor independente (de que já havia antecedentes nos anos de 1930), formando-se empresas como APA, Produções Lança Moreira, Gilberto Cotta, Sonarte, que passariam a dominar as rádios privadas (p. 77). Mas na década de 1970, o peso excessivo dos produtores, que enchiam os programas com publicidade, começaram a ser contestados.

Dina Cristo, nas páginas iniciais, dá conta da rádio instalada no começo dos anos 1950 e na ruptura que se preparou nos finais da década de 1960, com relevo para programas como PBX (Carlos Cruz e Fialho Gouveia, 1967), Página 1 (José Manuel Nunes, Rádio Renascença, 1968), Tempo Zip (1970) e Limite. A esta programação, dispersa pelo Rádio Clube Português e Rádio Renascença, a autora designa-a como a rádio nova, em que a reportagem de rua e a passagem de discos novos criariam outros públicos de rádio, jovens embora minoritários. Ela chama a atenção para a importância da Rádio Universidade como centro irradiador de novas experiências estéticas que possibilitaram essa renovação da rádio em Portugal, em condições difíceis, dada a permanente censura.

A obra agora editada tem uma preocupação pelo lado jurídico do meio e por momentos de maior peso político por que a rádio passou. Daí, o realce dado à preparação do golpe de estado de 25 de Abril de 1974 - e os seus preparativos na rádio (pp. 28-32) - e à radiodifusão no começo da guerra colonial (1961) (pp. 44-54). E também à descrição e análise da propaganda, dividida em três parcelas: subversiva, de integração, contrapropaganda (pp. 93-118).

Baseada em entrevistas com agentes radiofónicos que participaram no período estudado (ao todo, 18) e na análise dos arquivos de Salazar, da polícia política PIDE/DGS e da RDP (rádio pública, até 1974 com a designação de Emissora Nacional), bem como leitura da imprensa da época, conclui-se que o trabalho de Dina Cristo está bem documentado e possui uma escrita leve, combinando o registo da citação com a análise histórica e social da época, o que permite uma leitura rápida e agradável.

Leitura: Dina Cristo (2005). A rádio em Portugal e o declínio do regime de Salazar e Caetano (1958-1974). Coimbra: MinervaCoimbra, 148 páginas, €16.

sábado, 29 de outubro de 2005

MEIO SEGUNDO PARA TRANSMITIR UM FILME

Uma empresa japonesa desenvolveu uma tecnologia que transmite um filme de duas horas em meio segundo, no que constitui a velocidade mais rápida alcançada em cabos de fibra óptica, lê-se, em texto de quinta-feira passada, no blogue Media Network Weblog.

Trata-se da Kansai Electric, empresa que usa uma tecnologia que atinge a velocidade de um terabit por segundo, o que representa uma velocidade cem vezes maior que a empregue actualmente na transmissão de dados entre cidades. A empresa ainda não decidiu quando disponibiliza a tecnologia no mercado, mas aponta para 2010 como data provável do seu fornecimento.
A INFLUÊNCIA DO DESPORTO NO JORNALISMO GLOBAL

A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) e a representação europeia entendem que os jornalistas serão os grandes perdedores se continuam a ceder à pressão crescente dos desportos nos media, lê-se em texto do sítio da European Federation of Journalists, datado de anteontem. Aidan White, secretário geral da FIJ, disse que "O negócio desportivo é uma força poderosa no jornalismo moderno, exercendo uma influência sem precedentes sobre o mercado dos media, colocando novos desafios à reportagem de investigação, [mas sendo, contudo,] uma peça chave no desenvolvimento global dos media".

Em Copenhaga, nos próximos dias 6 a 10, ocorrerá um encontro de jornalistas, com investigadores e líderes desportivos.
VIDEOJOGOS MÓVEIS

De acordo com a última newsletter do Obercom, os jogos móveis foram, "durante o último ano, [...] o segmento com maior crescimento dentro da indústria de Videojogos". São também os que apresentam maiores desafios em termos de desenvolvimento e distribuição: "Ao contrário de outras áreas de negócio no mercado de Videojogos, os Jogos Móveis são criados para ser compatíveis com centenas de modelos de dispositivos portáteis (consolas, telemóveis, PDAs)", lê-se ainda no mesmo texto.
DIREITOS DE AUTOR

Segundo notícia do Expresso (caderno de "Economia"), e aproveitando a próxima vinda de Leonardo Chiariglione, presidente do MPEG (Moving Pictures Experts Group), a Portugal, o sistema de direitos de autor será alargado à internet a partir de Fevereiro de 2006 (texto produzido por João Ramos). Isto quer dizer que se poderão resolver os problemas de pirataria, havendo já um padrão, o DMP (Digital Media Project), a usar nos ficheiros de música e de vídeo.
O PRÓXIMO DESAPARECIMENTO DA GRANDE REPORTAGEM

GR.jpgLi num jornal de hoje que a Grande Reportagem irá desaparecer. A revista vai no seu 16º ano de edição e foi uma publicação de prestígio e referência nos seus anos iniciais.

Uma crítica que li recentemente é que a Grande Reportagem não tinha publicidade que a sustentasse, funcionando ultimamente como revista a acompanhar a edição de sábado do Diário de Notícias e do Jornal de Notícias. A notícia do próximo desaparecimento da revista dizia mesmo que o director, Joaquim Vieira, já estava de saída. No entanto, ele ainda assina o editorial de hoje, edição em que o tema central é a recordação do terramoto em Lisboa há 250 anos.

As publicações da Lusomundo Media, agora propriedade de Joaquim Oliveira, são, como indica a ficha técnica publicada na Grande Reportagem (por ordem alfabética): Açoriano Oriental, Evasões, Diário de Notícias, Grande Reportagem, Jornal do Fundão, Jornal de Notícias, National Geographic, Notícias Magazine [que acompanha a edição dominical do Diário de Notícias e Jornal de Notícias], Playstation2, Viagens, Volta ao Mundo e 24 Horas.
O NOVO ROSTO DE A MINHA RÁDIO!

aminharadio.JPGEscreve António Silva: "Com a aproximação dos 3 anos de existência do domínio aminharadio.com era mais do que evidente que se tornava imperioso alterar o aspecto do site. Embora este template fosse pobre, uma das vantagens era a simplicidade de navegação ofericida pela utilização de frames. Está na hora de aderir às novas tecnologias da internet, mais potentes e com funcionalidades mais interessantes".

Lê-se ainda no sítio do blogueiro do Porto: "O que se pretende é que façam chegar a vossa opinião sobre o novo site, atendendo ao facto de o conteúdo ser o mesmo, variando apenas o desenho. As cores ainda não são definitivas, aliás, aceitam-se sugestões, mas, relativamente ao fundo e cor do texto não andará muito longe do que irá ficar. Notem ainda que alguns links não funcionam porque remetem para ficheiros php ou cgi que não estão no caminho certo. Por favor vejam o site e enviem as vossas opiniões e sugestões".

Dos serviços que presta, relevo os seguintes: Rádio restauro, Galeria de recordações, Base de recursos, Classificados, Rádio notícias, Sub domínios disponíveis e Elo Rádio.

Trata-se de um layout clássico mas muito prático e bem arrumado. Por mim, está bem assim.

sexta-feira, 28 de outubro de 2005

O MEU LIVRO

Retiro do Diário de Notícias de ontem a seguinte informação sobre o meu livro: "Lançamento Rogério Santos «viaja» pela rádio. O jornalista Adelino Gomes apresenta dia 2 de Novembro, na Fnac do Chiado, às 18.30, o livro As Vozes da Rádio, 1924-1939, de Rogério Santos. A obra inclui elementos para a compreensão histórica da rádio em Portugal, desde o começo da radiodifusão como actividade regular até à II Guerra Mundial".

Obrigado.
MIGUEL GASPAR NA CHEFIA DE REDACÇÃO DO DIÁRIO DE NOTÍCIAS

Soube, há minutos aqui em Coimbra, da nomeação de Miguel Gaspar para chefiar a redacção do Diário de Notícias, verificada ontem à noite.

Recordo o texto que ele publicou na edição de hoje, com a lucidez habitual, sobre a blogosfera e a campanha eleitoral. Escreve no começo do seu texto: "A televisão continua a ser o centro das atenções de qualquer campanha política. Mas, ano após ano, a blogosfera vem-se afirmando como um terreno paralelo cada vez mais importante para o debate político".

Desejo as maiores felicidades ao Miguel Gaspar, da geração do director António José Teixeira. Ambos fizeram parte do grupo de jovens editores quando o jornal foi reprivatizado por volta de 1992 (eles e outros colegas apareceram em páginas de publicidade do próprio jornal, a dar conta da nova identidade do Diário de Notícias). Auspicio que as mudanças ocorridas trarão um outro fôlego a um periódico tão importante como este.
NEGÓCIOS DIGITAIS

Escreve hoje, no blogue Intermezzo, a professora Beth Saad: "Todos sabem que acompanho sistematicamente tendências, movimentações e rumos dos negócios do mundo digital, especialmente daqueles vinculados ao jornalismo. Os temas «reinvenção dos jornais», «novas formas de negociação de conteúdos», entre outros, têm sido recorrentes nos últimos meses, merecendo destaque aqui no Intermezzo.

"Penso que estamos assistindo à configuração de um novo ciclo de modelos de negócios para a mídia digital, similar ao ocorrido até o ano 2000, na fase pré-bolha da web, só que de uma forma mais madura e planejada. O discurso e as ações, agora, tendem para a aceitação de que a transformação do suporte papel como meio de difusão noticiosa é irreversível e novos suportes para leitura dos jornais começam a ser levados em conta pelos publishers. Que tal «ler» o seu jornal no iPod"?

Estou de acordo com o que aparece no texto do Intermezzo e aconselho a seguir os links por ela propostos. Há novos desafios que convém estarmos atentos quanto à sua influência nos media e nas indústrias culturais.
MAIS UMA TESE DE MESTRADO EM RÁDIO

Defendida esta manhã, aqui em Coimbra, uma tese de mestrado com a nota máxima, a de Sílvio Santos, intitulada A rádio no quotidiano. Estudo sobre hábitos de audição de adultos e jovens no concelho de Coimbra, na Faculdade de Letras desta cidade (Instituto de Estudos Jornalísticos, de onde estou a escrever o post).

O texto divide-se em três partes: contexto e revisão teórica, investigação da rádio e suas audiências, hábitos de audição no concelho de Coimbra. A tese teve como objectivos identificar o papel e o lugar da rádio no quotidiano dos ouvintes de Coimbra. O agora mestre, pelo método de inquérito, abordou duas gerações, a dos pais e a dos filhos: 1) 17-19 anos, 73 indivíduos, com respostas predominantemente femininas, cerca de 3/4, "sem paciência para ouvirem programas falados", 2) 40-58 anos, pais daqueles jovens, 101 indivíduos, com equilíbrio entre homens e mulheres, habituados a ouvir informação em rádio.

Como principais conclusões, Sílvio Santos apresentou: 1) a rádio é um elemento presente no quotidiano dos grupos, 2) a audição de rádio é uma actividade em simultâneo com outras (80%), 3) a rádio é o principal suporte para audição de rádio, 4) um número maior de respondentes prefere ouvir as estações nacionais, mas procura informação nas rádios locais, 5) a esmagadora dos ouvintes fazem-no nas frequências de FM e não em DAB. O grupo dos jovens ouve música em casa enquanto estuda, ao fim da tarde e à noite, preferindo música e as estações RFM, Mega FM e Cidade FM. Já o grupo mais velho ouve rádio de manhã cedo, buscando um misto de música e informação (Antena 1 e TSF). Uma ideia interessante da tese agora defendida é a de considerar a escuta de rádio no automóvel como uma extensão da esfera íntima do lar, o que explica melhor o comportamento dos ouvintes adultos.

quinta-feira, 27 de outubro de 2005

CENTROS COMERCIAIS, DE NOVO

A aula de hoje contou com a presença da directora de marketing do centro comercial Colombo, Carla Gouveia Pereira.

O que ela nos contou? Descreveu o modo como se traça o perfil do cliente, através de estudos quantitativos de mercado: 1) mall tracking, realizado uma vez por semestre, com entrevistas directas a clientes, através de questionário estruturado (mil entrevistas, com cota de porta, hora e dia), 2) geotracking, realizado uma vez por ano, através de contactos telefónicos (quase cinco mil, com divisão de género e idade).

Através destes estudos, conseguem-se obter perfis de proveniência, frequência de visita, classes sociais, faixas etárias, meio de transporte usado para chegar ao centro comercial e tipologia de famílias. Se o mall tracking é a fonte primária para decisões de topo, o estudo geotracking permite analisar perfis demográficos, taxa de penetração, informação do centro comercial mais visitado, taxa de frequência média mensal, notoriedade (top of mind, tipo "qual o centro comercial que melhor conhece", e espontânea). Objectivos fundamentais: medir o impacto de vendas e tráfego no próprio centro comercial e nos concorrentes.

Uma ideia importante para a matéria leccionada na cadeira de Públicos e Audiências é a designação de tipos de púbicos: assim, num centro comercial, podem distinguir-se públicos: 1) desinteressados (o executivo que apenas quer ir à FNAC ou a lojas de topo), 2) racionais e equilibrados, e 3) ambiciosos (os que não têm poder de compra mas querem comprar).

O centro comercial Colombo é o maior em dimensão - como escrevi na mensagem de ontem -, com perto de 400 lojas. Tem uma dimensão mais larga do que servir Lisboa - é regional, pelo que as estratégias de marketing e comunicação nunca visam apenas Lisboa, mas concelhos como Amadora, Loures, Odivelas, Sintra. Uma vez que o número de lojas é elevado, qualquer acção global do centro comercial depende das mesmas lojas. E distinguem-se lojas âncora (como a FNAC, Continente, Zara e os cinemas), de maior dimensão, e lojas satélite, mais pequenas.

Dado que o centro tem oito anos, já atingiu a sua maturidade. Dantes, a ida do cliente (ou user) podia ser apenas o passeio; agora, existe uma maior concorrência. Daí o crescimento em termos de oferta de bens e serviços, em compras e lazer, que mantêm o Colombo como um dos mais visitados. A loja que faz chaves, o sapateiro "rápido", a costureira, entram também no conceito de centro comercial, onde grande número de lojas são franchisadas e de marcas de âmbito nacional ou internacional.

Uma última ideia que ficou da apresentação de Carla Pereira é a dos eventos especiais, que decorrem na praça central: culturais-informativos, ligados ao ambiente e de solidariedade social. Agora que caminhamos a passos largos para o Natal, a animação vai associar-se a esse período (serão seis noites de montagem do evento).

quarta-feira, 26 de outubro de 2005

UM BLOGUE A ACOMPANHAR

O B2OB, de Mónica André, merece uma visita. O lema dela é Barreiras e Oportunidades Organizacionais ao Blogging.
NOVAS RUAS EM LISBOA

Para mostrar quem são as personalidades (ou outra modalidade) que dão o nome a novos arruamentos, a Câmara Municipal de Lisboa editou alguns folhetos.

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Faço apenas uma referência às fábricas do Beato, uma zona outrora muito industrial e agora mais ocupada com serviços. Na página de abertura do folheto, lê-se: "A industrialização da zona do Beato dos finais do século XIX e século XX marcou a arquitectura e o imaginário daquela parte da cidade de Lisboa que justificam que agora se perpetue na toponímia os nomes das Fábricas que são expoentes simbólicos dessa memória" (vereadora Ana Sofia Bettencourt). O folheto, como os demais, é editado pela Comissão Municipal de Toponímia da Câmara Municipal de Lisboa, com coordenação de António Trindade, acompanhados por uma bibliografia de apoio aos textos (escritos por vários autores).
CENTROS COMERCIAIS

No dia 25 de Setembro último, o Público dava o destaque aos centros comerciais. A razão era a comemoração do vigésimo aniversário do centro Amoreiras, em Lisboa.

cc1.jpgA bela fotografia da capa do jornal pertence a Miguel Madeira e os cuidadosos textos têm a assinatura de Ricardo Dias Felner, Dulce Furtado, Luísa Pinto e Andréia Azevedo Soares. O que me proponho aqui é olhar e reflectir estes textos jornalísticos.

Escreve Ricardo Dias Felner que o Amoreiras, vinte anos depois, "está na moda. Nunca esteve tanto na moda", com a estética renovada das 208 lojas e a população que a frequenta ("um misto de executivas com malas Louis Vuitton, aristocratas de Cascais e yuppies"). O aparecimento do Colombo traria uma quebra de quantidade (cerca de 12%), com uma recuperação posterior (das razões apontadas falava-se da existência da estação de metro junto ao Colombo e, mais recentemente, dos problemas trazidos pela indecisão em avançar com o túnel do Marquês, ligado directamente às Amoreiras). Curioso é que a área bruta locável (ABL) ser muito maior no Colombo (o maior do país, com 119739 metros quadrados e quase 30 milhões de visitantes em 2003), enquanto o Amoreiras ocupa a 25ª posição (26118 metros quadrados e cerca de 11 milhões de visitantes em 2003). Em termos de volume de vendas o Amoreiras não apresenta números, sendo o Colombo o de maior número (média mensal de €53 milhões), seguindo-se o Norte Shopping (€35 milhões).

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Uma das peças que me chamou mais a atenção [em cinco páginas de texto, o que é notável, tanto mais quando o patrão do Público é igualmente detentor de grandes superfícies, e com os jornalistas a manifestarem um distanciamento e isenção total face a esse poder] é a que tem o título De templos do consumo a áreas de lazer, escrito por Andréia Azevedo Soares. Ela recolhe dados de sociólogos, como Alice Duarte, professora da Faculdade de Letras do Porto, a acabar uma tese de doutoramento com o título Novos consumos e identidades em Portugal - uma perspectiva antropológica, para quem as pessoas se apropriaram de lugares que, sendo de posse privada, acabam "por assumir as funções de um espaço público". A mesma socióloga destacou o facto de haver pessoas velhas que marcam encontros com os netos nos centros comerciais ou fazem caminhadas pelos corredores, dado ali estarem protegidas da chuva, do frio e do calor. Além de que os centros comerciais oferecem segurança, casas de banho gratuitas e estacionamento garantido (embora pago).

expresso22102005.jpg

Já no Expresso do pretérito sábado, e com peça assinada por Catarina Nunes (e fotografia de João Carlos Santos), se dava conta de uma outra realidade no consumo, a das marcas que procuram fazer frente à Ikea. Por exemplo, as lojas Habitat, segundo se lê no texto, "vão passar a denominar-se área, num espaço multimarca direccionado para o mercado de luxo". Além desta última característica, esta cadeia de lojas apostará em tendências e produtos básicos. Também marcas como Lamartine, Dimensão e Kit Market reposicionam-se em termos de segmentos de decoração e perfis de consumidores.

Texto recente sobre o tema: Pedro Monteiro (2003). "Espaço público no centro comercial: o Amoreiras como porta de entrada". Trajectos, 3: 9-19

terça-feira, 25 de outubro de 2005

tecnologia e sociedade.jpgCONVITES

Aos leitores(as) do blogue, convido para os seguintes eventos:

1) conferência Tecnologia e Sociedade, na Universidade Católica (ed. Biblioteca, sala das exposições), dia 27, pelas 18:30. Serei um dos conferencistas, onde falarei sobre blogues.

2) apresentação do meu livro As vozes da rádio por Adelino Gomes (Público), na FNAC-Chiado, dia 2 de Novembro, pelas 18:30.


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prisma.jpgREVISTA ELECTRÓNICA PRISMA.COM

Sai a 30 deste mês a revista prisma.com, do departamento de Ciências da Informação e Comunicação da Universidade do Porto (Centro de Estudos em Tecnologias Artes e Ciências da Comunicação - CETAC).

No número inicial haverá textos de, entre outros, Helder Bastos, Eduardo Meditsch e Mariana Segala e Fernando Zamith. Desejo aos organizadores muitos sucessos e longa vida.

segunda-feira, 24 de outubro de 2005

CARLOS CAPUCHO DEFENDEU TESE DE DOUTORAMENTO EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NA UCP

Com o título Magia, luzes e sombras - uma perspectiva educacional sobre vinte cinco anos de filmes no circuito comercial em Portugal (1974-1999), Carlos Capucho obteve a nota máxima na defesa da sua tese de doutoramento, hoje na Universidade Católica Portuguesa (Lisboa). Trata-se, e mais um motivo de satisfação, do primeiro doutor em Ciências da Comunicação da Faculdade de Ciências Humanas daquela universidade.

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Dentro de uma perspectiva pedagógica, e conforme a sua apresentação ao júri, a investigação levou em conta "a defesa de um quadro de preparação técnica e científica que habilite os educadores e os formandos para a compreensão dos mecanismos da comunicação mediatizada no sentido de os dotar com capacidade crítica, essencial para o exercício de tarefas educativas no campo dos media". Noutras partes do mesmo texto, destaca a importância da "formação dos agentes educativos (docentes, formadores e animadores culturais)", dada a complexa mas importante "rede de códigos verbais, sonoros, icónicos, retóricos, estilísticos" do cinema. Lê-se ainda: "No caso específico do cinema, compreender um filme significa não só reconhecer e identificar os elementos visuais e sonoros mas também compreender o discurso fílmico que se concentra nos códigos cinematográficos".

A matéria de investigação de Carlos Capucho dividiu-se em dois corpus complementares. O primeiro apresenta dados globais sobre os 6728 filmes exibidos comercialmente nas salas portuguesas durante os 25 anos de análise. A fonte principal foi o BC - Boletim Cinematográfico, publicação do Secretariado do Cinema e do Audiovisual da Igreja Católica, e que o novo doutor integrou durante 19 anos enquanto crítico (1974/1993) [o encerramento do BC ocorreu em 1998, por questões financeiras]. As referências a 1999 foram feitas com recurso a fichas críticas do CINEDOC - Centro de Documentação Cinematográfica, que integrou elementos da anterior equipa do BC. Para a tese, o autor seleccionou 733 obras, seguindo critérios de "qualidade da linguagem cinematográfica, a importância relativa dos realizadores e a pertinência educacional dos conteúdos fílmicos". Já quanto à segunda parte do corpus empírico da tese, Carlos Capucho estudou seis filmes, cinco representando cada um dos continentes e o último Portugal (o filme Os mutantes, de Teresa Villaverde, 1997).

A arguência esteve a cargo dos professores Mário Jorge Torres e Vítor Reia-Baptista. O orientador da tese foi o professor Manuel Pinto.

domingo, 23 de outubro de 2005

DIREITOS DIGITAIS NA INDÚSTRIA DA MÚSICA

A newsletter do Obercom, chegada à minha caixa do correio hoje à noite, informa acerca do "relatório de avaliação das propostas sobre a reforma e a regulação da gestão colectiva dos direitos" na indústria da música, a pedido da Phonograpfic Performance Limited (PPL).

Lê-se que, "Como resultado do impacto da pirataria, da gestão dos direitos digitais e do crescente número de canais de distribuição, verifica-se, hoje, um conjunto de incertezas relativamente ao futuro da indústria da música, com a perspectiva de um beautiful digital world". Na peça assinada por N.V., assinala-se ainda que "A Comissão Europeia propõe a implementação de uma Directiva sobre as sociedades de gestão colectiva, com vista a melhorar a transparência, modernizar a regulamentação, aumentar a concorrência e promover a separação de serviços".

Trata-se, obviamente, de um tema sério e que procuro acompanhar sempre com muita atenção.
A ENTREVISTA DE JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS AO EXPRESSO ("ÚNICA")

O que se lê na capa, a seguir ao título, é: "Jornalista, professor e escritor, confessa que quase não vê televisão".

expresso221020052.jpgFiquei estupefacto com o lead. E li a (quase) exclamação de Manuel Pinto no seu blogue Jornalismo e Comunicação sobre o mesmo assunto. Mas há, quanto a mim, injustiça no assunto.

No interior da entrevista, a propósito de um livro que José Rodrigues dos Santos (JRS) vai lançar, O codex 632, onde sustenta que Cristóvão Colombo era português, ele explica como consegue conciliar, em termos de tempo, actividades tão dispersas como jornalista, professor e escritor: "Já não preciso de pesquisar muito a matéria que ensino na Faculdade - lecciono Jornalismo Televisivo e Atelier de Jornalismo Televisivo. Por outro lado, escrever é o meu hóbi. Gosto mesmo de escrever. Não preciso de me impor uma disciplina. Não passeio em centros comerciais e quase não vejo televisão".

A um cirurgião, que está todo o dia no hospital, não se exige que continue a exercitar nas horas vagas, em casa ou no café. Ou de um técnico de contas não se espera que faça contas ou balancetes nas horas de descanso. Um ou outro podem escrever, fazer jornalismo num meio regional ou simplesmente ir ao futebol acompanhar a sua equipa. JRS não gosto de centros comerciais ou não vê televisão em casa - e isso não quer dizer que não trabalhe bem em televisão, pois tem as horas de serviço na RTP e as aulas. É legítimo que deixe as suas horas vagas para escrever.

Claro que ele é rápido: escreve 10 páginas por dia. Quando defendeu a tese de doutoramento, estava no dia seguinte (ou dois ou três dias depois) a editar o primeiro volume dessa tese numa editora de prestígio de Lisboa. Mas as críticas a ele também podem ter razão de existir, pois ignoro o contexto total delas. Criticável poderá ser o facto de JRS dizer que precisa de fazer pouca investigação para leccionar. Como eu gostava de ter essa segurança e não andar sempre à procura de novidades. Talvez seja porque ele ensine matérias práticas e eu teóricas!
A RÁDIO EM PORTUGAL E O DECLÍNIO DE SALAZAR E CAETANO 1958-74

É o título do livro de Dina Cristo, editado pela MinervaCoimbra, a lançar amanhã na Escola Superior de Educação de Coimbra, pelas 14:30, e com apresentação de Sansão Coelho [uma "voz" histórica da RDP - Centro].

Retiro do comunicado da editora a seguinte informação: "A rádio é cumplicidade, ligação de um país que, entre 1958 e 1974, se revela tripartido, entre quem está a favor - da guerra de África e do regime -, quem está contra e quem resiste, a ambos. As lutas ideológicas passam pela escuta fiel do ambiente sonoro que envolve a nação: a rádio de integração, a rádio subversiva e a rádio nova. Portugal é um país à escuta. A rádio é, nos anos 60, o Sistema Nervoso Central da sociedade portuguesa".

Na obra, e ainda seguindo o mesmo comunicado, "a autora mergulha no universo radiofónico ao longo da queda do Estado Novo: analisa a programação e a informação na Parte I, o enquadramento legal, técnico e económico na II e na Parte III a propaganda, a censura e as relações entre a rádio e o poder político".

Dina Cristo é professora e investigadora de Teoria da Comunicação e de História dos Media na Escola Superior de Educação, em Coimbra. Da autora, conheço já um texto publicado na revista Observatório (nº 4, de Novembro de 2001), com o nome A rádio ao tempo de Salazar e Caetano - censura, propaganda e resistência.

Isto é: a história da rádio, de mal estudada, passa a ter várias obras editadas no mesmo ano. A juntar a estas, uma outra boa notícia: o arquivo da RDP está a ser classificado e digitalizado, ficando mais acessível aos investigadores a partir de meados do próximo ano. Espera-se, assim, que 2006 (válido para anos subsequentes) seja uma outra boa colheita em termos de publicações sobre a rádio em Portugal.
PÚBLICOS DE CULTURA

No caderno "Actual" do Expresso de ontem, Jorge Martins, do Instituto Português do Livro e das Bibliotecas (IPLB), falou sobre públicos de cultura.

Comentou ele: "Há dez anos fez-se o grande estudo da iliteracia, fizeram-se estudos sobre hábitos de leitura, monografias sobre bibliotecas. Neste momento podemos dizer com alguma segurança que temos um panorama melancólico, onde 50 por cento da população portuguesa alfabetizada se encontra no nível mais baixo das competências de leitura. Mas na área do livro não temos estatísticas em Portugal".

Segundo a entrevista, o Observatório de Actividades Culturais (OAC) irá "desenvolver um plano periódico de audição", após análise com editores e livreiros. A estratégia do responsável do IPLB - não presente na última feira do livro em Frankfurt - é "criar públicos, o que pode significar, por exemplo, roubar públicos aos outros media, o que não significa canibalizar os outros media. A televisão pode fazer muitíssimo pelo desenvolvimento da leitura em Portugal. Os jornais já o fazem". O entrevistado lembra campanhas de outros países. Na Alemanha, foi lançada uma campanha recente com o slogan Choca os teus pais. Lê um livro; em Espanha está a haver o incentivo de ler nos transportes públicos, com o patrocínio dos transportadores.

Para Jorge Martins, aumentar públicos do livro é um desígnio nacional comum. Eu ficar-me-ia com uma palavra mais simples, a da prática da leitura como importante para o conhecimento. Fico à espera do que o responsável da área vai fazer especificamente.
OS 40 ANOS DA REDE GLOBO

Valério Brittos e César Bolaño organizaram um livro editado este ano com o título Rede Globo. 40 anos de poder e hegemonia (Paulus, S. Paulo, Brasil).

Retiro alguns elementos de um dos capítulos, assinado por Pedro Jorge Braumann (Escola Superior de Comunicação Social/Lisboa e RTP), intitulado A Globo em Portugal: uma história de sucesso (pp. 171-186): "O casamento entre a SIC [estação privada] e a Globo foi quase perfeito. O principal responsável da primeira, Francisco Pinto Balsemão, trazia o know-how de um grande grupo de imprensa em Portugal, mas com poucos conhecimentos de televisão, e a Globo trazia 15% do capital, a experiência de uma operação de sucesso no Brasil e, sobretudo, a exclusividade do principal produto comercial, as telenovelas, que garantiam audiência, principalmente no prime-time, e com elas as receitas comerciais de publicidade, garantindo para si própria rentabilidade financeira na valorização do capital aplicado e na venda de programas a bom preço e num mercado em crescimento" (p. 183).

A Globo começara a passar telenovelas na estação pública (RTP) - em 1977, com Gabriela - e transferira-se para o canal privado pouco depois de este ter começado a emitir (1992). O capital investido na SIC seria vendido, já em 2003, ao banco BPI por €20 milhões, operação com substanciais mais-valias financeiras (p. 176).
UM MANUAL DE JORNALISMO

Com a chancela da Letras Contemporâneas (Florianópolis/SC, Brasil), Jorge Pedro Sousa editou este ano Elementos de jornalismo impresso.

Trata-se de um bom manual de jornalismo. No final da obra, Jorge Pedro de Sousa interroga-se: "Muitas vezes me perguntam o que é que ensino aos meus alunos? Porque é que alguns dos meus alunos se tornam jornalistas razoáveis ou mesmo bons e outros não?" (p. 395).

No prólogo, o professor da Universidade Fernando Pessoa (Porto) já havia respondido: "Em primeiro lugar, este é um manual destinado, principalmente, aos estudantes de graduação em Ciências da Comunicação, particularmente àqueles que pretendem vir a exercer o jornalismo ou a assessoria de imprensa. Ora, quem dá os primeiros passos no jornalismo numa escola, superior ou secundária, ainda não sofreu o processo de formação, aculturação e socialização na profissão e na empresa a que os neófitos são sujeitos, para o bem e para o mal" (p. 5).

O livro é, em segundo lugar, um manual "com utilidade pedagógica, orientado para o ensino das técnicas básicas de expressão jornalística no ensino superior e no ensino secundário, dentro do contexto português". Não é um livro para profissionais mas um texto dedicado aos jovens que querem ser jornalistas.

Critérios de noticiabilidade, objectividade, a sala de redacção e fontes de informação constituem alguns dos temas abordados no primeiro capítulo. A redacção, o design e a infografia, assim como o fotojornalismo e o cartoonismo, ocupam os restantes capítulos. Este é o sexto livro publicado pelo autor na editora brasileira.

sábado, 22 de outubro de 2005

COMENTÁRIOS AOS POSTS

Como a minha caixa de comentários está a servir de "ninho" a publicidade de páginas pessoais e comerciais, decidi retirar a possibilidade a leitores(as) interessados(as) em aqui deixar opiniões. As minhas desculpas por tal decisão. Contudo, querendo comunicar comigo, podem fazê-lo por e-mail.
SAÍU O Nº 7 DA MEDIA & JORNALISMO

Com capa e tema actuais, a Media & Jornalismo, propriedade do CIMJ - Centro de Investigação Media e Jornalismo e editado pela MinervaCoimbra, tem textos de Lance Bennett e colegas (Evitar a palavra tortura), Kees Brants (Quem tem medo do infotainment), Estrela Serrano (A campanha presidencial de 2001 na televisão, revisitada), Susana Salgado (A comunicação do poder ou o poder da comunicação) e Luísa Luna e Rousiley Maia (A construção da imagem pública e a disputa de sentido na mídia).

Retiro o segundo parágrafo do editorial, assinado pela direcção, composta por Nelson Traquina, Estrela Serrano e Cristina Ponte: "A comunicação política, o papel dos media e do jornalismo na cobertura da actividade política e, em especial, das campanhas eleitorais, encontram-se amplamente estudados nos Estados Unidos e na Europa, começando a sê-lo também em Portugal. Este número proporciona uma visão sobre alguns aspectos marcantes da investigação internacional nessa matéria, apresentando alguns resultados empíricos relativos a Portugal".

A revista tem 147 páginas identificadas e não traz preço de capa - o que me parece uma falha a evitar em números seguintes (anda à volta de €12; comprei-a ontem mas não fiquei com qualquer elemento comprovativo).
4º CONGRESSO DA SOPCOM (VII)

Um dos trabalhos que mais gostei na mesa de jornalismo foi o de Luísa Teresa Ribeiro, A redacção de um diário regional católico como espaço de socialização. Como base, ela partiu da redacção do Diário do Minho, jornal onde trabalha e seu objecto de estudo, o qual funciona como um espaço de socialização. A autora fez um inquérito a 19 dos 21 jornalistas (as não respondentes tinham justificação: uma estava de licença de maternidade, a outra era a própria investigadora).sopcom3.JPG

Da observação que fez - e que serve para o seu trabalho de tese de mestrado em curso na Universidade do Minho -, entende haver um trabalho colectivo e altamente organizado, em que o jornalista é confrontado com uma política própria da organização, havendo uma auto-selecção (os estagiários já conheciam o jornal). Há notas curiosas, como a identidade católica condicionar a linguagem, a não busca do lucro como objectivo prioritário do jornal, a aprendizagem feita em especial com as chefias (conquanto um número significativo de profissionais terem o curso de comunicação social, como a autora referiu numa outra comunicação apresentada ao congresso), a permanente troca de opiniões no seio da redacção e a criação de amizades entre os colegas.

maximino.jpgJornalismo de proximidade eis o grande objecto de Luísa Teresa Ribeiro, o mesmo que um livro que descobri em Aveiro, o de José Carlos Maximino, Jornais e jornalistas na grande área metropolitana de Aveiro (edição de "A Folha Cultural", em 2005).

Maximino, jornalista do Jornal de Notícias, primeiro responsável pela informação diária da Rádio Independente de Aveiro (RIA) e antigo professor de História da Comunicação na escola profissional de Aveiro (EPA), produz neste livro um "trabalho monográfico, rigoroso quanto possível, que pretende retratar a chamada «imprensa regional e local», sem a preocupação de seguir a definição legal" (do resumo inicial, página 17).

Ainda não tive tempo de ler o livro, mas olhando o índice descobre-se a cobertura da imprensa, rádio, televisão, páginas pessoais da internet e blogues.

navio.jpgObservação: o livro foi comprado na livraria O navio de espelhos, quase atrás do teatro da cidade, projecto de dois anos e que faz lembrar a Ler Devagar, aqui em Lisboa, com a qual existe uma relação de propriedade. Trata-se de um espaço agradável (e que substitui a livraria Notícias, no Fórum Aveiro, onde agora funciona uma vulgar loja de serviços FNAC; há cinco anos, quando trabalhei em Aveiro, durante meio ano, ia frequentemente a essa livraria, onde encontrei edições recentes que não se vêem nas livrarias de Lisboa). Desejo muita sorte aos proprietários da livraria, assim como à jovem simpática e bonita empregada, estudante universitária em design, que me contou algumas coisas daquele espaço e dos fluxos de cultura da cidade.
4º CONGRESSO DA SOPCOM (VI)

O lançamento de livros foi um dos pontos altos do congresso (embora o adiantado da hora tivesse levado muitos congressistas a desistirem e sairem do auditório muito antes) [apesar do meu nervosismo, pois um dos livros a lançar era meu, reconheço o elevado nível da mesa "responsável" pela demora, a qual reuniu José Pacheco Pereira, Eduardo Prado Coelho, Luís Marques, da RTP, para além de José Paquete de Oliveira e Moisés Lemos Martins, presidente cessante e novo presidente da SOPCOM].

sopcom6.JPGOs livros apresentados, para além do meu, foram os de Valério Brittos e César Bolaño (org.) (Rede Globo: 40 anos de poder e hegemonia) e Gisela Machado (O primeiro dia Europeu de Portugal - cenas de uma união selada pela televisão). No meu caso, agradeço as palavras carinhosas de Helena Sousa, que apresentou o livro, a presença de Fernando Correia, da editorial Caminho, e a Óscar Mealha, principal organizador do congresso e de um incansável apoio perante problemas que sempre surgem numa actividade deste tipo [na imagem, em primeiro plano, um dos autores do livro Rede Globo].
4º CONGRESSO DA SOPCOM (V)

Um dos projectos de investigação na área dos media melhor estruturados, quanto a mim, é o Mediascópio, da Universidade do Minho (declaração de interesse: participei em recente estudo, ainda não publicado). Por isso, acompanhei com muito interesse a apresentação feita por Manuel Pinto (texto dele e de Helena Sousa).

sopcom9.JPGComo pontos de partida, o projecto busca os processos de convergência (suportes, conteúdos e regulação), interdependências (económicas, políticas, sociais), aceleração das mudanças e dificuldades de incorporar memórias e ler a realidade. Os media, a memória e o jornalismo como enunciador e produtor de metadiscurso conduziram à necessidade de reunir e sistematizar informação e analisar criticamente, isto para verificar tendências e que constituem objectivos do projecto.

Como linhas de actividade, o grupo sediado em Braga já tem uma base de dados com sete mil referências documentais, trabalho feito diariamente, uma cronologia (1995-1999) [apresentada em 2000 numa belíssima sessão no Clube dos Jornalistas, onde eu levara uns apontamentos para ler, mas não o cheguei a fazer, penitenciando-me sempre por tal, dada a qualidade do trabalho de Manuel Pinto e dos seus colegas], outra cronologia mais recente (2000-2004), em fase de edição, e uma análise quinquenal, praticamente concluída para edição, estudos de caso (serviço público de televisão, já publicado) e exemplos de derrapagem da ética do jornalismo (em fase de edição).

As áreas privilegiadas de produção científica são: jornalismo (auto-regulação, qualidade, ciberjornalismo, transformações na profissão), políticas de comunicação nacional e comunitária) e publicidade (linguagens, instituições, negócios).
4º CONGRESSO DA SOPCOM (IV)

A mesa de jornalismo decompôs-se em quatro sessões ao longo dos dois dias (24 comunicações de investigadores de Portugal e do Brasil). Eu não pude presenciar tudo, até porque era um dos coordenadores da mesa de comunicação e política, conjuntamente com o João Carlos Correia (UBI).sopcom8.JPG

Mas, do que vi e sabia anteriormente, acho que é uma área de investigação de grande crescimento, o que me regozija muito. Destaco - sem ser injusto para com outros trabalhos - os das jovens investigadoras Marisa Torres da Silva (As "cartas ao director" no jornal Público: um estudo de caso), Vanda Calado (Mediação jornalística dos eventos partidários: lógicas de mediatização do campo jornalístico), Luísa Ribeiro (A redacção de um diário regional católico como espaço de socialização), Daniela Bertocchi (Géneros jornalísticos em espaços digitais) e Ana Martins (Da caixa mágica à caixa de Pandora - repensar os poderes e os limites da TV. O caso da SIC Notícias).sopcom7.JPG E dos investigadores seniores saliento Fernando Correia e Carla Baptista (Anos 60: um período de viragem no jornalismo português), Ana Cabrera (O papel dos jornalistas no marcelismo) e Joaquim Fidalgo (Jornalistas na busca inacabada de identidade).

Estes trabalhos, em grande parte, resultam de projectos académicos, como teses de mestrado e doutoramento; dois deles são projectos de investigação sediados no Centro de Investigação Media e Jornalismo (CIMJ). Há uma pluralidade de metodologias, indo da análise documental - como eu fiz na minha comunicação à mesa - a entrevistas e inquéritos e observação participante.

Fico pela apreciação sumária de um dos acima citados, pertencente a Daniela Bertocchi (gostaria de falar também do excelente trabalho de Ana Martins, mas não tomei as notas suficientes). Eu ouvira-a falar em Janeiro passado e encontro um grande desenvolvimento e amadurecimento desde então. Bolseira na Universidade do Minho e participante no projecto Mediascópio daquela universidade, ela está a estudar os géneros jornalísticos no digital. Ganham pertinência as perguntas: que formatos tradicionais vão para o digital? Ou, em vez disso, há uma classificação nova nos géneros digitais? Num blogue, por exemplo, misturam-se notícias breves com reportagens ou crónicas. Mas não nos apercebemos ou não as enquadramos como se faz num jornal, que tem destaques, colunas, títulos, tipo de letra diferente, filetes. Para ela, um blogue não é um género mas um suporte onde cabem vários géneros. E, num esquema que mostrou mas eu não consegui reproduzir totalmente no papel, fala em género impresso (jornal, as notícias do telemóvel, a publicação de arquivos) e em género dialógico (o bate-papo num chat, que também se pode aplicar à rádio).

Nota suplementar 1: os trabalhos da mesa foram coordenados por Cristina Ponte (Universidade Nova de Lisboa) e Jorge Pedro Sousa (Universidade Fernando Pessoa).

Nota suplementar 2: o jornalismo constitui um grupo de trabalho (GT) dentro da SOPCOM (Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, fundada em 1997); os coordenadores deste GT são Manuel Pinto (Universidade do Minho), Jorge Pedro Sousa (Universidade Fernando Pessoa, Porto) e eu próprio, eleitos em assembleia do GT durante o congresso. Em havendo interessados em aderir ao GT ou simplesmente saber o que estamos a fazer é contactar um de nós.
4º CONGRESSO DA SOPCOM (III)

Para mim, ouvir (ou ler) José Pacheco Pereira é um encanto, tal a sua heterodoxia e riqueza de perspectivas. Desta vez com um pessimismo tecnológico, conquanto ele entenda que as tecnologias não causam, por si só, efeitos sociais. O político e historiador - mas também filósofo -, na mesa alargada a outros pensadores como Prado Coelho, apresentou uma lista de seis tendências [coisas, como lhe chamou] que estão a mudar o espaço público da sociedade nas democracias modernas, industriais e ocidentais.

sopcom4.JPGEm primeiro lugar, refere-se à digitalização do mundo, na sequência do que Negroponte anunciara, a passagem dos átomos aos bits. A viragem do mundo analógico para o digital ocorre na imagem, na música, nos vídeos e, um dia, nos cheiros. Como efeito, há a fusão num só continente, o da perda da propriedade e da posse, a dissolução da autoria. E, ainda, da individuação. O pensamento desalinhado de Pacheco Pereira leva-o a falar na nova luta de classes: os mais ricos voltam para o analógico: os relógios como status de riqueza, as aparelhagens de hi-fi analógicas.

Como segunda tendência, o orador aludiu à biologização dos "devices" [mecanismos], cada vez mais próximos do corpo humano, em aparelhos portáteis ou no ecrã plano que se pode estender a todos os compartimentos da casa. As máquinas entram na roupa e no corpo (caso de cegos que vêem a partir de câmaras). E distinguiu o telemóvel como o "device" que mais mudou a sociabilidade nos anos mais recentes. Hoje é má educação não estar presente, não atender. O telemóvel erode os movimentos pessoais, faz um escrutínio voluntário.

O mundo já não é o da sociabilidade. Regredimos à aldeia global (não no sentido mcluhaniano), porque se reduz o espaço público. Terceira tendência menos clara, quanto a mim, embora carregada de metaforismo, Pacheco Pereira fez a referência ao PowerPoint que usamos nas comunicações aos congressos, que remete para os domínios da retórica e da argumentação. A aldeia global é-a no sentido da perda da privacidade, também visível nos blogues, onde há pessoas que expõem a sua vida. É possível reconstituir as vidas, a partir destes diários. E a internet está cheia de pathos individual, de angústias, o que remete para a quarta coisa, em Pacheco Pereira.

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A manipulação da memória é um tema que eu já ouvira ele falar. Nomeadamente o programa da Microsoft, o MyLifeBits, que começou por ser uma ideia de digitalizar álbuns de fotografias mas pode terminar como sendo um backup (cópia) da nossa vida. E esta - em todos os actos de um indivíduo - pode arquivar-se num disco duro. O medo dele é o roubo que se pode fazer das memórias das vidas das pessoas, com todas as possibilidades de chantagem.

Como sequência, o orador elencou a mediação de software, a capacidade de controlar a busca de software. Escolher o que quisermos a partir de uma oferta vasta de software pode significar exclusões sociais. Daí ele ter referido, de novo e no mesmo discurso, à luta de classes. Os mais ricos obterão mais e melhor informação através de literacias específicas. E, de passagem, embora sem fazer uma ligação coerente a meu ver, destacou o efeito dos reality-shows enquanto consumo que "dá" felicidade (simular, encontrar o par para casar, reencontrar gente que se perdeu).

No seu texto, José Pacheco Pereira frisou os pontos essenciais da democracia: pathos, logos e ethos, emoção, razão e ética ou virtude, afinal as grandes descobertas que os gregos nos legaram. Ora, disse o orador, a sociedade moderna é dominada pela demagogia, isto é, por um dos elementos. E o consumo dos novos media (em busca do prazer e da satisfação) leva a uma degradação da democracia em demagogia. Certamente, ele teria em vista a situação mundial mas casos recentes da história portuguesa.
4º CONGRESSO DA SOPCOM (II)

Alfonso Sanchéz-Tabernero, vice-reitor da Universidade de Navarra (e até há um mês director da Faculdade de Comunicação daquela universidade), falou sobre o repensar dos media. Para ele, existem quatro factores: 1) tecnologia, 2) legislação, 3) públicos, e 4) decisões dos proprietários dos media. Foi este último ponto o fulcro da sua intervenção.sopcom2.JPG

E avançou com seis propostas: 1) custos (a sua contenção, com despedimentos, pode não ser o melhor caminho, pois se perde massa crítica, memória e experiência), 2) fracasso no futuro se a aposta se mantiver - em especial na televisão - nos três esses (sensacionalismo, sangue e sexo), 3) qualidade como grande vantagem competitiva (e que significa procura do público, padrões profissionais, identidade própria, imaginação e criatividade, exclusividade, desenho atraente, mensagem compreeensível, proximidade temporal e geográfica, bom papel nos media impressos e conteúdos divertidos), 4) qualidade enquanto equipa motivada, 5) qualidade como inovação, 6) aposta no optimismo.

Para quem quiser saber mais do conferencista, aconselho as obras:

Sánchez-Tabernero, Alfonso, e M. Carvajal (1992). Media concentration in the European Market. New trends and challenges. Pamplona: Universidad de Navarra

Sánchez-Tabernero, Alfonso, Inmaculada Higueras, Mercedes Medina Laverón, Francisco Pérez-Latre e José Luis Orihuela (1997). Estrategias de marketing de las empresas de televisión en España. Pamplona: EUNSA
4º CONGRESSO DA SOPCOM (I)

Já acabou o quarto congresso da SOPCOM, realizado nos dias 20 e 21 deste mês, em Aveiro. O congresso foi uma maratona de comunicações - muitas delas de jovens investigadores, o que significa que estamos diante de uma área (de banda larga, como se ouviu no congresso) francamente promissora. Teve também a curiosidade (vantagem) de um blogue, pelo menos, escrever em directo do congresso, o Jornalismo e Comunicação.

sopcom1.JPGO primeiro orador foi o ministro Augusto Santos Silva, que falou sobre regulação dos media enquanto questão estratégica. Para ele, a regulação tem uma história social e intelectual, baseada na intervenção pública a partir da posição do Estado não produtor, feita pela instância normativa, com formas de intervenção pública. Sendo, na perspectiva do ministro, a regulação dos media uma ideia fulcral quanto à cidadania (dos sujeitos e da democracia), ele abordou três pontos: 1) regulação do mercado, 2) regulação a favor dos regulados (garante da independência dos media face ao poder político e económico), 3) regulação a favor dos cidadãos. O ministro falou ainda de auto-regulação e hetero-regulação e dos princípios gerais da nova entidade reguladora, que zelará pelo respeito dos cidadãos, pela não concentração dos media e pela independência dos media, com poderes sancionatórios face ao incumprimento das leis e acompanhando a convergência dos media e das telecomunicações para lidar com as novas realidades do audiovisual.

Não retirando o mérito do texto e do pensamento de Augusto Santos Silva - apenas conheço o que ele leu -, parece-me haver zonas cinzentas ou mal explicadas, que convém esclarecer. Contudo, reconheço e aprecio o seu sentido de humildade intelectual, quando ele entende haver a necessidade de se fazer uma ampla discussão pública dos temas agora em discussão. Na sua comunicação, diria que o facto do novo regulador já estar instituido tal não implica a inexistência da participação social (a sociedade civil). Assim, sendo-me permitido expressar a minha opinião, acho que deveria existir uma outra formulação para além da acordada, em que a direcção da nova entidade é uma emanação directa do parlamento, órgão que eu respeito, mas que acaba por reflectir as tendências maioritárias deste. Uma entidade será independente se é de nomeação de uma outra, reproduzindo os equilíbrios, tensões e negociações existentes no parlamento? E os profissionais? E as associações do sector? E as associações em geral, mas que reflectem a sociedade e o impacto dos media?

quarta-feira, 19 de outubro de 2005

ANDARILHO

O blogueiro está feito nómada. Ele parte hoje para Aveiro para participar no 4º congresso da SOPCOM, que decorre amanhã e sexta-feira.

Para além de intervir com uma comunicação sobre Armando de Miranda (1904-1975), jornalista e cineasta (realizou o Capas Negras, com Amália Rodrigues), tenho responsabilidade na condução da mesa de Comunicação e Política, dirigida pelo colega João Carlos Correia (Universidade da Beira Interior), enquanto o meu livro As vozes da rádio, 1924-1939 será apresentado por Helena Sousa (Universidade do Minho).

Por isso, é muito provável que o blogueiro volte ao I.C. apenas no fim-de-semana. Continuem a preferir o I.C.
ENTRADAS PARA UM DICIONÁRIO (III)

[continuação de mensagens colocadas em 28 de Agosto e 6 de Outubro]

Cadeia de valor e clusters

Empresas que contratam outras para determinados trabalhos – isso é visível no cinema e na televisão. Mas também na imprensa (cadernos, produtos que acompanham os jornais, promoções e colecções). Em que o jornalista se torna produtor de conteúdos. É esta dicotomia que também procuro reflectir – autonomia do jornalista (igual a profissional liberal) versus colaborador de um produto.

Análise SWOT

Temos pela frente cinco anos de transformações fantásticas: aplicação das tecnologias, uma nova geração no poder, novos conhecimentos, cultura digital iniciada nos videojogos (e já não na televisão), publicidade que procura meios quase personalizados, marketing de distribuição, P2P, novas estéticas (narrativas), perda da ideia de massa começada no começo do séc. XX. A estes pontos fortes, enunciados nas linhas anteriores, juntam-se pontos fracos: crescimento de iliteracias (electrónicas, geográficas), emprego instável e sujeito a reciclagens permanentes, centramento nos produtos de sucesso, que leva a fórmulas repetidas até à exaustão. Estas são também as ameaças, juntando-se o domínio de cada vez menos (apesar de mais ideias vindas de mais pessoas, que funcionam como pioneiros) – logo mais poder – e em geografias mais concentradas. E oportunidades? O regresso da cultura, da inovação, de redes e espacialidades. A cultura parece-me imprescindível – não a local, mas um mix entre o local e o universal, que permite mestiçagens, novas estéticas (não vanguardistas ou elitistas mas de marca, de posição espacial e geracional), mais artes performativas (no sentido do dinâmico, por oposto ao estático), em combinatórias não previsíveis.

terça-feira, 18 de outubro de 2005

PARA SABER QUEM ESCREVEU SOBRE O ENCONTRO DE BLOGUES DA COVILHÃ

no fim-de-semana passado
, consultar o blogue Insustentável Leveza.
AGENDAS CULTURAIS E COMERCIAIS

Já tenho aqui referenciada a publicação de agendas culturais. Hoje, deixo mais algumas capas desse tipo de publicações (o meu agradecimento, de novo, a Carlos Filipe Maia, da publicação 30 dias, da câmara de Oeiras).

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Na agenda cultural do Centro lê-se: "Days are shorter and colder; nights come earlier. [...] Autumn is special. [...] But the joy will also come to the streets during the «Cortejo da Latada»". Trata-se de uma publicação em português, inglês e francês, e abrange os concelhos de Coimbra, Figueira da Foz, Alvaiázare, Arganil, Cantanhede e muitos mais da região centro do país. Espectáculos, exposições, cinema e animação, entre outras modalidades, servem os públicos da cultura e do lazer.

Também a What's in Estoril, como o nome quer dizer, é um publicação orientada para os turistas que visitam aquela zona do país, esta em português, espanhol e inglês. Casino, praias, património e restaurantes fornecem informação adequada para quem quer passar ali uns dias agradáveis. Inglês e português são as línguas de outra publicação, Algarve, tendo em conta os mesmos públicos-alvo. Um dos títulos da capa é "Algarve Seniors Open of Portugal", apontando mais precisamente para quem se espera no sul do país.

Castelhano e inglês são as línguas do Follow me Lisboa, certamente disponível em todos os hotéis da cidade. Se o inglês indica um público oriundo dos mais diversos países, o espanhol significa a atenção para com os visitantes do país vizinho. Ópera (Carmen), ExperimentaDesign e ModaLisboa 2005 são os temas de capa do número deste mês.

agenda112.jpgFinalmente, e acompanhando a edição de um jornal, o Avenidas Novas surge em primeira edição (Outono/Inverno). É um repositório útil de lojas de malas, sapatos, acessórios, beleza e saúde, óptica, viagens, decoração, restaurantes e cafés, escrito em português e inglês. Tem, segundo o meu gosto, uma capa muito bonita (da empresa de comunicação Oficina Criativa).

Por exemplo - e saltou-me logo à vista -, o concerto de Natal aqui da zona é na igreja de S. João de Deus, dia 17 de Novembro, em hora ainda a anunciar, com a presença do coro de Santa Maria de Belém. É certo que o Natal vem longe, mas nada como marcar já na agenda. E, depois, há as tardes calmas no lobby do Hotel Roma: a próxima é a 23 de Novembro. Quem tiver disponibilidade, não se esqueça. E uma conversa com Gérard Castello Lopes sobre o café Vává, ali na avenida Estados Unidos, é um tema de conversa/entrevista na secção "Os cineastas das Avenidas Novas".
A PINTURA DE HÉLIO CUNHA

Hoje, apetece-me escrever sobre um pintor que conheço há muitos anos e que inaugurou uma exposição ontem, na galeria Espaço d'Arte PT (Porto).

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São cerca de trinta pinturas a óleo de um autor que eu posso designar de tardo-surrealista (designação inventada por mim). Mas nele também se observa a influência dos dourados e dos símbolos dos pré-rafaelitas [a imagem seguinte tem o título Iluminata].

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Do catálogo, cujo texto escrevi, retiro: "Talvez porque pinte habitualmente de manhã, as suas cores são vivas, quentes e solares da cidade branca, e as suas formas quedam sem contornos. O barroquismo de algumas composições deixa-se contaminar por referências mais pessoais: surrealismo, imaginário pré-rafaelita, mitologia como Lima de Freitas a reelaborou, cromatismo emprestado dos fauvistas, equilíbrio geométrico da op-art.

"Sobre ele já se escreveu cultivar as razões antigas do ser, mas vejo-o mais perplexo com a realidade de hoje: a transfiguração, a cópia desmaterializada, as máquinas e os objectos industriais que ligam os corpos enquanto próteses e extensões.

"O tema trazido hoje por Hélio Cunha à galeria é a cidade de oiro, onde coabitam esboços e trabalhos finais, afinal a adolescência revisitada em estádio maduro da existência. Nalgumas obras, vê-se o comprazimento face aos elementos naturais: a terra e o ar. Já o fogo parece dissimular-se em raios de luz de tons azuis, que reflectem uma nem sempre quieta linha de água".