sexta-feira, 17 de agosto de 2007

FÉRIAS


O blogue Indústrias Culturais vai de férias.

Regressa em Setembro.

SAPATOS


Mensagem dedicada a leitores(as) que gostam especialmente de sapatos.

Jonathan Walford (à direita na imagem, retirada do sítio TheRecord.com), licenciado em História e Estudos em Museologia pela Universidade Simon Fraser, leccionou e começou a sua carreira no campo museológico em 1977, na área da moda. Foi historiador da moda e curador do museu de sapatos Bata (Toronto) durante onze anos. Depois, levou a sua colecção de traje antigo (oito mil peças) para Kickshaw, em parceria com Ken Norman (à esquerda na fotografia). Walford é, desde 1998, o director artístico da colecção, preparando os dois um museu capaz de albergar a colecção.

Agora, Walford publicou o livro The Seductive Shoe. Four centuries of fashion footwear (com 429 ilustrações). Escreve na introdução que o calçado foi, inicialmente, uma necessidade de proteger as pessoas dos elementos (chuva, frio, calor). Mas hoje, e cada vez mais, o calçado é uma moda. Acrescento eu, uma indústria criativa muito importante.





Protecção, modéstia e utilidade, eis como o calçado era visto no começo. Mas o sapato passaria a ser também definido pela construção, pelo estilo e pela cor (Walford, 2007: 11). A sandália grega e romana conferiram ao calçado esse duplo estatuto de necessidade e de beleza. Na idade média, o calçado apareceu escondido por baixo da roupa, readquirindo estatuto de moda após o Renascimento. Os materiais são múltiplos, da madeira aos tecidos. O salto no sapato feminino constitui uma presença regular, para tornar mais altas as suas portadoras.

Folheando o livro, pois ainda não houve tempo para o ler, deparam-se-me magníficos modelos, de botas francesas de 1882 (p. 102) a um modelo, igualmente francês, de pele e com salto metálico (1982) (p. 235). Isto é, em cada página ou par de páginas, apresenta-se um modelo e faz-se uma longa e esmerada explicação histórica e social.

Também editado este ano (lançamento comercial nos Estados Unidos no próximo mês) saíu New Shoes. Contemporary footwear design, de Sue Huey e Rebecca Proctor.




Sue Huey é editora da
Worth Global Style Network (WGSN) para calçado e acessórios, a mais reputada agência de previsão de moda em todo o mundo. Huey trabalhou anteriormente como designer de sapatos e acessórios para a marca Escada. Rebecca Proctor é jornalista de moda a trabalhar em Londres e tem interesses específicos em calçado e acessórios, escrevendo para publicações como Sam, Amelia's Magazine, and Urban Junkies.

New Shoes. Contemporary footwear design é um catálogo de designers de calçado da actualidade. Há muitos designers italianos, ingleses, franceses, finlandeses, espanhóis, americanos, japoneses, mas nem sequer um português. Isto ilustra a ainda escassa internacionalização de designers nacionais nesta importante indústria criativa e a ausência de escritórios ou lojas de referência em cidades como Londres, Nova Iorque, Paris ou Tóquio.

Fico-me com Minna Parikka, finlandesa que estudou design de calçado em Leicester e lançou a sua própria marca em 2005 (pp. 133-139). Ela combina o moderno com estilos vindos dos anos 1930 a 1950, em que o salto não é demasiado alto. Há, assim, algum revivalismo mas cultivando cores vivas. Parikka tem ainda modelos mais confortáveis, para caminhadas ou saídas de fim-de-semana.

Para concluir, escrevo sobre o volume Stiletto, de Caroline Cox (2005).


Fala, obviamente do stilleto, do salto alto (agulha, estilete), criado pela alta sapataria italiana nos anos 50 e considerado o símbolo supremo da feminilidade. Claro que não falta Vivienne Westwood com a sua redescoberta do salto alto nos anos 1970, referência directa ao fetichismo original. Estávamos na era punk.

Ou, se quisermos um gosto mais clássico, podemos ver Marilyn Monroe (contracapa do livro de Cox), em fotografia de Getty Images/Hulton Archive.

Leituras: Caroline Cox (2005).Stiletto. Londres: Mitchell Beazley
Jonathan Walford (2007). The Seductive Shoe. Four centuries of fashion footwear. Londres: Thames & Hudson
Sue Huey e Rebecca Proctor (2007). New Shoes. Contemporary footwear design. Londres: Laurence King Publishing

Fotografias: montras de lojas da Av. de Roma (Lisboa)

FALAR DE... - AS ACTIVIDADES DA LIVRARIA ALMEDINA (LISBOA)


Com organização conjunta de José Carlos Abrantes e Livraria Almedina, aqui estão as propostas dos colóquios Falar de... para os meses de Setembro a Novembro naquela livraria ao Saldanha, em Lisboa (clicar na imagem para ler melhor o conteúdo). São propostas sobre imagens e livros.

AFINAL, OS GRATUITOS TAMBÉM DESAPARECEM


Retiro da newsletter Meios & Publicidade de hoje a informação do encerramento do jornal gratuito Diário Desportivo.

Depois da pausa para férias, o dia de ontem marcaria o regresso do jornal, o que não aconteceu. Parece ter havido desinteresse dos accionistas, os quais tinham por objectivo distribuir 100 mil exemplares do jornal em Lisboa e no Porto. Com o encerramento, ficam sem trabalho 10 jornalistas.

Lançado a 8 de Janeiro último, o Diário Desportivo teve três directores, o primeiro dos quais o conhecido radialista Fernando Correia.

MUDAR A IMAGEM DOS ESTADOS UNIDOS NO MUNDO MUÇULMANO


Relata a ABC News que os Estados Unidos estão a trabalhar numa nova via para melhorar a sua imagem junto dos países muçulmanos, o YouTube e o desporto, neste caso o baseball. O motivo imediato é falar do jogador Cal Ripken Jr.'s, enquanto a subsecretária de Estado para a Diplomacia Karen Hughes aparece igualmente no vídeo.

Como há todo um mundo céptico, as crianças são o alvo prioritário. Hughes, que esteve a visitar um campo de férias de Verão para crianças pobres em Marrocos, disse que a melhor maneira de eliminar a desconfiança dos muçulmanos contra os Estados Unidos é expor os jovens aos valores americanos. Ela, falando também na qualidade de mãe, considera que as crianças têm espíritos mais abertos. E os americanos iniciariam logo a construção de blogues, vídeos e chats para atingir os seus alvos, considerando que os media tradicionais estão já saturados.

Depois do desastre do Iraque, os americanos vão ter de fazer mesmo muita comunicação on-line e muitos vídeos no YouTube!

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

NOVIDADES DA EDITORA LIVROS HORIZONTE


Em Setembro, a editora Livros Horizonte, entre outros, lança os seguintes livros:

- José Augusto França, Rafaelo Bordalo Pinheiro (3ª edição)
- Nelson Traquina, Marisa Torres da Silva e Vanda Calado, A Problemática da Sida (colecção Media & Jornalismo)
- Carlos Franco, O Mobiliário das Elites de Lisboa na Metade do Séc. XVIII

A EXPOSIÇÃO DE SAPATOS NÃO É UMA EXPOSIÇÃO


Li nos jornais que o Museu Nacional do Traje e da Moda tinha uma exposição temporária sobre sapatos. Estando a preparar material de estudo sobre o assunto, dirigi-me lá, com a forte expectativa de obter informações valiosas.

A exposição resume-se a cinco vitrinas numa sala acanhada e sem ventilação (a manhã de hoje estava fresca mas no interior não se podia ficar muito tempo), entre a sala da recepção e a entrada para o corpo central do museu [imagem retirada do jornal Público de ontem]. Nem uma só etiqueta inventariando os escassos pares de sapatos, alguns em mau estado de conservação. Uma empregada veio ter comigo dizendo que só hoje colocariam etiquetas.

Procurei informação suplementar no sítio do
museu. Da primeira vez, ainda abriu uma janela com links, mas não consegui abrir nenhum destes e, numa segunda tentativa, não voltei a entrar no sítio, com erro no servidor.

Uma exposição daquele tipo não tem valor científico - pela dimensão, pela ausência de informação junto às peças e por falta de catálogo ou desdobrável. Não posso deixar passar em silêncio a minha indignação pela grande displicência neste processo. A meu ver, mais valia não publicitar nos jornais. O museu é nacional e vem nos roteiros turísticos.


Preço de entrada no museu: €3.

ENCOMENDAR E RECEBER AO MESMO TEMPO UMA PIZZA E UM LIVRO


Trata-se de uma parceria entre a Biblioteca Municipal de Espinho e a empresa de pizzas PIZZA HUT. Isto é, quem encomendar uma pizza para comer em casa pode, ao mesmo tempo, encomendar um livro/DVD ou CD que receberá em simultâneo com a comida.

Esta proposta de Isabel Sousa, directora da Biblioteca Municipal de Espinho, parece ser inédita e inovadora em termos de promoção do livro e da leitura. Tem como destino os detentores do Cartão Único da referida biblioteca (15 mil utentes até agora) e o serviço funciona até às 23 horas.

Pergunta um velho do Restelo: será que funciona? Ou a parceria remete para outras áreas, como a responsabilidade social da empresa de pizzas e a sua ligação à cultura?

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

ANUÁRIO DO OBERCOM


Já foi editado no primeiro semestre do ano mas só agora tive oportunidade de o ler (apenas fiz, aqui, uma pequena nota após a sua recepção electrónica). O sexto Anuário da Comunicação 2005-2006, do OberCom, analisa 10 áreas: televisão, cinema, vídeo, áudio, rádio, consolas e videojogos, imprensa, telecomunicações, tecnologias da informação e da comunicação, e publicidade. Tem ainda uma segunda parte com textos de especialistas em várias áreas.

Seguem-se as linhas principais de cada área, na minha perspectiva, colocando ainda algumas impressões e sugestões.

Da televisão, conclui-se que o tempo médio dispendido por espectador é de 4:17:56 (bastante acima das habitualmente consideradas três horas e alguns minutos), com as mulheres a gastarem mais tempo com o aparelho (56,2%), na faixa etária acima dos 64 anos e na classe D (33,2%). Nos canais generalistas, o género com mais programas é a informação (RTP) e a ficção (SIC e TVI). Segue-se a publicidade (não considerei a coluna Diversos, pois ela deveria ser desagregada dado ter a maior percentagem de todos os géneros). O género cultura geral/conhecimento é o que mais ocupa a RTP, mas também o género arte e cultura, este inexistente na TVI. O canal com mais audiência (TVI) atinge os 39%.

Quanto ao cinema, há 75 produtoras nacionais, tendo produzido 47 projectos em 2005 (19 curtas metragens, 15 longas metragens e 13 documentários). Há 17 distribuidoras, a maior delas a Atalanta, seguindo-se a Lusomundo. Quanto ao parque cinematográfico, Lisboa tem 49 recintos perfazendo 173 salas, a que se sucede o Porto com 87 salas. A percentagem de espectadores é de 38,2% em Lisboa e 22,5% no Porto, o que dá 60,7% apenas nestas duas cidades. Mas regista-se uma quebra de espectadores, argumentando os investigadores do OberCom as dificuldades económicas da população, concorrência do mercado de DVD e pirataria através de descarregamentos ilegais na internet.

No sector vídeo, conclui-se pela existência de videogravadores em quase 2,2 milhões de lares no país, sendo o Grande Porto a área com maior densidade desses equipamentos. Um factor de influência na aquisição é a idade da dona de casa, sendo a faixa etária 35-44 anos a que apresenta maior número de equipamentos. Além disso, quanto mais elevada a classe social mais possibilidades existem de equipamento em casa. Em termos de títulos, no primeiro semestre de 2006 atingiram-se pouco acima dos três mil, com proeminência dos americanos. O maior peso dos videogramas classificados é o da classe etária M/12 (24,4%), seguindo-se a M/6 (23,8%). A um aumento do DVD corresponde uma quebra de títulos em sistema VHS.

Quanto ao áudio, o OberCom fala de uma redução do volume de unidades vendidas (pouco mais de 3,5 milhões no primeiro semestre de 2006), sendo os discos oriundos da produção internacional os mais vendáveis, a que se seguem, por esta ordem, a produção nacional, as colectâneas e o repertório clássico. Se os CD estão a diminuir receitas, o mercado do vinil parece recuperar após a morte anunciada. Em termos de empresas, a EMI vem à frente (20,7%), sucedendo a Universal (17,6%). Se a cassete desapareceu, o estudo não inclui dados relativos aos descarregamentos de música, legais ou ilegais.

O sector da rádio é caracterizado fundamentalmente pelas audiências, que atingem 4,9 milhões de ouvintes. A maioria constitui-se por homens (54,2), no escalão 25-34 anos (23,8%). A RFM é a estação mais escutada (21% de share de audiência), seguindo-se a Renascença (13,1%). Pelas cronotopias diárias, a prática de ouvir rádio ocorre em percursos usando o automóvel (29,4%), vindo depois a audição em casa (28,4%) e no emprego (10,2%), quase sempre em regime de multi-tarefas (ouvir rádio enquanto se faz outra actividade).

Em termos de consolas e videojogos, há 26,2% de lares portugueses com este tipo de equipamento. A taxa de penetração é maior em homens (53,8%) e na faixa etária 15-17 anos (52,7%), seguindo-se a de 25-34 anos (31,5%), e na classe média (36,2%). A Playstation 2 lidera o mercado (29,5%) com 275 títulos de jogos, seguindo-se os jogos para computador (24,7%). A classificação de títulos nas consolas aponta para um público muito jovem (38,9% dos jogos têm classificação para maiores de 4 anos, sendo que destes jogos 69,7% funcionam na consola Gameboy Advance). Já em termos de jogos de computador não há uma tão acentuada concentração etária nas crianças e adolescentes. A maior parte da produção vem do Reino Unido (633 títulos), seguindo-se a Espanha e a França.

Da imprensa, o estudo aponta para uma quebra de consumo (25,9% de audiência no primeiro semestre de 2006). O jornal mais lido é o Jornal de Notícias, seguido do Correio da Manhã. O segmento etário que mais compra jornais é o de 25-34 anos (20,8%) e o de 35-44 (19,3%). Mas os leitores acima dos 64 anos são igualmente bons compradores de jornais. Há mais leitores masculinos (52,4%) que femininos. Quanto a profissões, 26,7% são inactivos ou reformados ou desempregados, 17,4% trabalhadores qualificados/especializados, concentrando-se a compra e a leitura na Grande Lisboa (19,9%). A perda de compra de jornais tem, no entender do OberCom, diversas razões, casos da preferência dos mais jovens pela internet e da concorrência dos jornais gratuitos.

Na área das telecomunicações, as principais características residem na perda de acessos telefónicos fixos e número de chamadas (133 milhões), substituídos pelos telefones móveis (6,5 mil milhões de chamadas), alargando ainda o volume de SMS (4,6 mil milhões de mensagens). O OberCom atribui o uso social do SMS a camadas jovens da população.

Nas tecnologias de informação e de comunicação, o número de ISP (fornecedores de serviços) tem baixado, funcionando actualmente 28. A ligação doméstica é por ADSL (35%), telemóvel de banda estreita (33%) e cabo (31%). A banda larga atinge já 24%. A utilização do computador é mais masculina (46%), sendo o nível etário 16-24 o maior consumidor (83%). A condição de estudante é propícia ao uso do computador. Dos utilizadores, 36% afirma gastar uma a cinco horas por dia, utilizando o correio electrónico (81%), telefone (16%) e blogues (10%). Mas também faz parte do uso do computador a pesquisa de bens e serviços (84%), jogar ou descarregar jogos, imagens e música (46%).

Finalmente, quanto à publicidade, os maiores investimentos são na televisão (70,2%), seguindo-se a imprensa (18,1%). Em 2006 registou-se um aumento dos investimentos publicitários, relativamente aos anos anteriores (cerca de 15%). Em termos de agências de publicidade, há mais de 3500, com 64,2% delas concentradas em Lisboa. As principais agências são a Euro RSCG, Y&R Red Cell e a Publicis. Do lado dos anunciantes, a maior é a Reckitt Benckiser, seguindo-se a Vodafone e a Modelo Continente Hipermercados.

Dos comentários e críticas destaco os seguintes: 1) os sectores de rádio e telecomunicações são os com maior dificuldades de caracterização, esperando-se melhor tratamento de dados (programação e principais grupos regionais de emissores e anunciantes na rádio; desagregação por empresas e serviços nas telecomunicações), 3) tratamento mais fino do cinema (a colocação dos títulos exibidos é excessiva, pois nem sequer há comparação com outros sectores como a televisão e os videojogos), 4) confusão na área das tecnologias de informação e de comunicação, pois recuperam-se algumas áreas já trabalhadas como a televisão e os telemóveis mas não a rádio, bastando referir-se a indicadores de acesso a computadores (tenho dúvidas se esta matéria não ficaria melhor no sector de telecomunicações), 5) em virtude das fontes primárias de informação serem diversas, não há uma nomenclatura sempre igual e clara, desejando-se melhorias no próximo anuário com a produção própria de estatísticas (ou recebendo-as do INE, como a apresentação de Gustavo Cardoso indica), 6) no estudo, como noutros estudos, a análise de consumos não é totalmente correcta, pois aponta apenas para um maior uso as faixas etárias mais jovens nos casos da internet ou do telemóvel e esquece que há empresas que massificaram o seu uso desde há dez anos e os seus utilizadores pertencem a faixas etárias mais velhas; isto significa que a metodologia científica empregue, o inquérito, não foi suficientemente bem aproveitada, 7) esta crítica surge, mas mais matizada, quanto aos videojogos, em especial os de computador, em que há faixas adultas, acima dos 35 anos, que são jogadores compulsivos.

AUDIÇÃO DE RÁDIO


Ouvir rádio é uma actividade mais frequente no período da manhã (seis às dez horas), segundo os dados para o primeiro semestre de 2007 do Bareme Rádio. 33,3% dos ouvintes fazem-no, coincidindo com a deslocação para o local de trabalho ou escola, a maioria em automóvel particular.

Também o período de final da tarde (17 às 19 horas) é outro período de ponta em termos de audição de rádio, a que correspondem 19,8% do total dos ouvintes. Trata-se do período de regresso ao lar.


CURSO SOBRE CULTURA EM S. PAULO


Diversidade cultural, mestiçagem, o monstro é o curso que começa hoje ao fim da tarde em São Paulo, Brasil. Políticas culturais, diversidade cultural, gestão cultural, cultura digital e democracia cultural são alguns dos módulos oferecidos no curso. Para saber mais, clicar em www.pensarte.org.br.


MOTOR DE BUSCA EM SINGAPURA


Um novo motor de busca desenvolvido por uma empresa de Singapura, a Singapore Press Holdings (SPH), cujo serviço será oferecido a partir de 2008, projecta suplantar os gigantes Google e Yahoo como ferramenta primária na busca de informação local. Tal facilitará, aos habitantes daquela cidade Estado, o trabalho de procura de dados.

Fonte:
AsiaMedia - Media News Daily

terça-feira, 14 de agosto de 2007

QUANTIFICAR A ECONOMIA DOS MEDIA EM PORTUGAL


O projecto Análise Prospectiva dos Media em Portugal: Tendências, Mercado e Emprego (no âmbito do POEFDS) é uma reflexão sobre o papel económico e social dos media, identificando-se cinco ângulos de observação da actividade dos media: mercado e políticas gerais de emprego, informação e comportamento do consumidor, sistema educacional e competências profissionais, práticas de organização e gestão empresarial, impactos das tecnologias de informação e comunicação.

Constituído por três partes e nove capítulos, o volumoso estudo, a ser editado em livro, é coordenado por Paulo Faustino e apresenta recomendações orientadas para três planos: empresas, instituições de ensino e políticas públicas.

Como recomendações para as empresas, sugere-se a redefinição do portfolio de produtos e a definição do modelo de gestão. Com o desenvolvimento dos media on-line, desaparecerá a designação de versão on-line do meio original, deixando a internet de replicar a informação disponível em papel. Outra recomendação dirige-se à abertura dos arquivos, o que gerará novas receitas publicitárias. Defende-se também a contratação de profissionais específicos para a venda de espaço publicitário on-line. O incentivo de micro-pagamentos na informação específica é uma outra medida para as empresas.

Já no tocante a recomendações em termos de políticas públicas, os investigadores indicam uma canalização maior de fundos governamentais para centros de ensino e formação, numa aposta em modalidades de formação adequadas, caso do e-learning ou do blearning. Outra medida aconselhada pelo estudo consiste na criação de programas de incentivo à internacionalização da indústria de conteúdos em Portugal e benefícios fiscais a micro-empresas, em particular em regiões desfavorecidas. Pretende-se ainda fomentar a regulação do mercado sobre a propriedade dos media, através da actuação junto de instituições reguladoras ou da criação de políticas que garantam o equilíbrio entre o pluralismo e a concentração na indústria.

Finalmente, quanto a recomendações às instituições de ensino, deve haver uma maior cooperação entre estas e as empresas do sector. O desenvolvimento do mercado dos media – em particular no que respeita às novas tecnologias, transformações ao nível dos perfis profissionais e fragmentação das audiências – exige, por exemplo, o desenvolvimento de plataformas on-line (vídeo, áudio, multimedia e texto) e a preparação de profissionais em departamentos comerciais, área fulcral para as empresas de media.

A equipa coordenada por Paulo Faustino e com Guilherme Pires como assistente de investigação, teve como consultores séniores e informantes privilegiados Alan Albarran, Alfonso Sánchez Tabernero, Francisco Perez-Latre, Aldo Van Weezel, Paul Murschetz, Fernando Cascais, Luísa Ribeiro, Luciano Patrão, Rui Cádima, João Palmeiro, Robert Picard, José Faustino, Pedro Pinto, Alfredo Maia, Afonso Camões, Francisco Pinto Balsemão, Tiago Cortez e Luís Montez, como investigadores séniores Carla Martins, Renato Leite, Maria José Sousa, Helena Costa e Paula Cordeiro e como inquiridores e investigadores júniores Cátia Candeias, Margarida Ponte, Andreia Santos, Pedro Marques, Ana Sofia Monteiro, João Manso, Pedro Diogo Carreira, Vanda Ferreira, Joana Pinheiro, Ana Marta Carvalho e António Costa. O design da capa pertence a Nuno Murjal/Quatrocês.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

FILHA DO MAR

Filha do Mar foi uma novela de Manuel Arouca para a TVI (2002), quando este canal privado de televisão estava a arrebatar a liderança de audiências à SIC. Li agora o livro, editado em 2002, e em que Ana Casaca deu uma ajuda, ao transformar o guião em livro.

A história conta-se depressa: Salvador, em viagem de veleiro chega à ilha do Faial, nos Açores, acompanhado dos amigos Guilherme e Tutas. Aí conhece Marta, jovem médica, por quem se apaixona. Quando se vai embora, com a promessa de voltar, deixa Marta grávida (mas sem aquele saber do sucedido). Ao chegar a Nova Iorque, final do périplo marítimo, conhece Sofia, que igualmente fica grávida de Salvador. No regresso, na passagem pelos Açores, Marta é informada, por Guilherme e Tutas, da morte de Salvador, uma mentira que perdura em grande parte da narrativa.

Marta é mãe de Maria. Quando o pai dela morre, vai trabalhar para Santarém, para o Centro de Saúde, em que a sua especialidade é pediatria. Rapidamente, descobre que Salvador não morrera, vive em Santarém, está casado com Sofia e é pai de Tomás, que se torna o melhor amigo de Maria na escola e a quem convida para a sua festa de anos.

A narrativa é muito rápida, pois a festa do pequeno Tomás está descrita na página 23. Depois, na página 31, Salvador procura Marta, que o evita. Já na página 59, os dois encontram-se, estando Salvador disposto a perdoar a Marta o ela ter engravidado com outro homem, que ela não contesta. O equívoco só se desfaz na página 165, quando Eduardo, irmão de Salvador, espera Marta para casar com ela. Aí Salvador tem a certeza de Maria ser sua filha.

Quase toda a história resulta da indecisão de Salvador se separar de Sofia e ir viver com Marta, a que se acrescenta uma gravidez de Sofia já no final da narrativa [fotografia do autor retirada do sítio do Jornal de Notícias]. Falta caracterizar Guilherme, veterinário e que é o mau da fita, mas, no livro não tem o castigo que costuma acontecer no final das telenovelas. Melhor: é esquecido, apesar de promessas de vingança por parte de Salvador. E caracterizar a tia Concha, que ouve Salvador, mas também Sofia e Eduardo. Ela é uma espécie de oráculo, ouvindo e aconselhando.

O livro termina com um dos três finais assinados por Manuel Arouca, aquele com quem o autor mais simpatiza. Sofia sacrifica-se: morre ao dar à luz uma filha. Antes confessara a Salvador ter tido um caso amoroso com Guilherme, anos anteriores ao casamento com ele. Marta, que tratará da bebé, casar-se-á com Salvador nos Açores.

A história é de uma grande inverosimilhança. Não se percebe porque Salvador não falou com Marta no regresso do veleiro aos Açores, não se percebe o papel de Guilherme em grande parte do livro, os filhos naturais (de Chica; do pai de Salvador e Eduardo) não tem o mesmo destino, ou seja, o reconhecimento paternal. As profissões de Salvador (arquitecto a trabalhar num projecto de museu com italianos) e Sofia (grande quadro de uma empresa financeira) teriam poucas possibilidades de êxito numa cidade fora de Lisboa. A acção decorre em apenas três sítios: as casas de Salvador e Marta e o restaurante/bar Migalhas, adequadas a uma série televisiva barata.


Os homens têm sentimentos e atitudes fracas, caso de Tutas, de que se percebe ter uma incapacidade sexual mas frouxamente explicada no livro. Já as mulheres são muito mais corajosas, quer Marta quer Sofia, independentes economicamente e capazes de ter filhos sem o apoio dos companheiros (no caso apenas Salvador). Mas as mulheres (por uma questão de honra individual) aceitam ser menosprezadas pelos homens: Marta porque não cortou com o boato de ter andado com outro homem (e talvez outros) e engravidado; Sofia porque teve um caso com Guilherme num momento de fragilidade económica. A tia Concha fora vista como insensata pela sua vida pessoal e sentimental, mas poucos dados são mostrados, o mesmo acontecendo com Chica. Assim, apesar da independência das mulheres, o universo dos vencedores é o dos homens.

O livro tem um duplo movimento: 1) rapidez de acção - gravidez, morte, deslocação para outra cidade, quase casamento de Marta com Eduardo, paixão daquela com Salvador, 2) lentidão de decisão - Salvador passa o tempo a dialogar ora em casa dele, com Sofia, dizendo que vai sair de casa, ora em casa de Marta, afirmando que quer viver com esta. Os diálogos curtos do começo do livro tornam-se mais compridos a partir do meio do texto, ocupando frequentemente duas páginas: entre Salvador e Marta, entre Salvador e Sofia, entre Eduardo e Marta, entre Sofia e Guilherme.

A história não tem qualquer densidade - social, cultural, política. Nem sequer se percepciona a hora de ocorrência dos diálogos [imagem de Dalila Carmo, que faria o papel de Marta, retirada de Fórum dos Morangos]. Os diálogos são quase exclusivos dos elementos do triângulo amoroso - Salvador, Marta, Sofia - e das personagens próximas: Guilherme e Eduardo. O mesmo não acontece com a gente do povo: o campino, irmão natural de Salvador e Eduardo, aparece indicado devido a uma queda de cavalo; de Chica, a confessora de Marta, pouco mais se sabe do que a sua história triste mas corajosa de mãe.

Todo o espaço da história é dedicado ao vaivém de Salvador, decerto para fazer derramar lágrimas nos espectadores da novela. Fazer despertar sentimentos - alegria, mágoa - é um objectivo primário num canal popular de televisão. Afinal, o importante da televisão popular é ter espectadores que comprem os produtos publicitados e não se esgotem em histórias de grande complexidade intelectual. A televisão é entretenimento, dizem os gestores de um canal popular.

A linguagem que se encontra em algumas partes do livro confirma a orientação popular da história: a força do destino, o sangue do seu sangue.

Há outra questão pertinente: por regra, há adaptação de livros a guiões cinematográficos ou televisivos. A densidade psicológica e a trama narrativa de acontecimentos no livro têm de ser traduzidos em bipolaridades como o bem e o mal, as dúvidas de estar num lado ou no outro. Mas as telenovelas mais elaboradas já são mais complexas: nem as personagens más são totalmente más nem as boas são tão puras. Isto porque a natureza humana não é simples. Além disso, as novelas passam mensagens sociais e de mudança de estilos de comportamento, das doenças a modos de sociabilidade. Filha do Mar não tem nada disto, é uma história primária, quase para adolescentes ou pessoas com competências intelectuais básicas. Talvez seja um modelo ideal para aumentar as audiências.


Manuel Arouca, que nasceu em Moçambique e concluiu Direito, foi o responsável por guiões de outras novelas como Baía das Mulheres, Jardins Proibidos e Jóia de África, este adaptado de original da Felícia Cabrita. O seu primeiro romance teve o título de Filhos da Costa do Sol (anos 80). Na novela passada na TVI, Dalila Carmo fez de Marta. A jovem actriz trabalharia no filme de Manoel Oliveira Vale Abrãao como Marina e em série de Morangos com Açúcar, ao lado de outras figuras como Benedita Pereira ou Diogo Amaral. Já Marcantónio Del Carlo foi Salvador, tendo já trabalhado em Nuvem de Ana Luísa Guimarães (1992), Coitado do Jorge de Jorge Silva Melo (1993), Sinais de Fogo de Luís Filipe Rocha (1995), Adão e Eva de Joaquim Leitão (1995), Capitães de Abril de Maria de Medeiros (2000) e Tudo Isto é Fado de Luís Galvão Telles (2004). O papel de Sofia foi desempenhado por Fernanda Serrano [ver mais informações na Wikipedia]. Destaque ainda para a música na novela da TVI: Dina cantou o tema principal, com letra de Ana Zanatti, enquanto João Pedro Pais interpretava Ninguém como Tu e José Cid tinha igualmente uma canção.

Leitura: Manuel Arouca (2002). Filha do Mar. S. João do Estoril: Sopa de Letras

domingo, 12 de agosto de 2007

JOY DIVISION


Ian Curtis, vocalista dos Joy Division, morreu em 1980 de suicídio. Agora, na próxima sexta-feira, no Festival Internacional de Cinema de Edinburgo, será apresentado o filme Control, de Anton Corbijn, sobre aquele cantor e a sua banda de Manchester. O lançamento do filme no circuito comercial está previsto para 5 de Outubro, pelo menos no Reino Unido. Para os fãs mais jovens que nunca viram a banda actuar ao vivo mas conhecem os New Order, a banda herdeira daquela, o filme será um inesquecível tributo.

No Observer de hoje, o fotógrafo Kevin Cummins escreve sobre os dias de começo dos Joy Division. Ele lembra o concerto punk dos Sex Pistols em Manchester, no Verão quente de 1976. Então, impressionados com os Pistols, todos os fãs da música quiseram criar uma banda. Seria o que aconteceu com Ian Curtis e os seus colegas Bernard Sumner, Stephen Morris e Peter Hook. Começaram por se chamar Stiff Kittens, mudaram-se para Warsaw e estabilizaram em Joy Division. Estava-se em Janeiro de 1978. Cummins fotografou os músicos, indo agora publicar essas imagens em Outubro (ver www.tohellwithpublishing.com). Control, de Anton Corbijn, contemporâneo de Cummins na publicação NME, seria o seu primeiro vídeo sobre uma banda pop.



Cummins lembra que as imagens que tirou aos Joy Division as quis colocar num dos jornais: NME ou Observer. Então não tinha muito dinheiro e as imagens que fez com a sua Nikon foram raras, pois o rolo custava dinheiro e também a sua revelação. Ainda não havia as máquinas digitais. A sua recordação dos Joy Division é que o grupo não era muito simpático, cultivando alguma distância, ou mesmo arrogância, bastante diferentes dos Fall, outra banda de culto em Manchester. O álbum Unknown pleasure, em Junho de 1979, traria a distinção para Ian Curtis e os colegas.

No texto de hoje do Observer, Cummins fala também das controvérsias políticas dos Joy Division e dos gostos de Curtis e colegas: Velvet Underground, David Bowie, Lou Reed. E da paixão de Curtis pelo futebol e pelo Manchester City. Finalmente, Cummins acha que o filme não representa bem os Joy Division: falta-lhe humor; Tony Wilson, o dono da Factory Records onde os Division gravaram, é mal representado.

300


No ano de 480 a. C., Leónidas, o rei de Esparta, enfrentou Xerxes, o imperador da Pérsia. Leónidas tinha um pequeno exército, constituido por apenas quatro mil soldados; do outro lado, muitas dezenas ou centenas de milhar de soldados. O rei espartano recebeu as tropas inimigas no estreito das Termópilas, junto ao mar. A estratégia urdida por ele foi desmontada por um traidor, que revelou a Xerxes um atalho, encurralando os espartanos. Léonidas preferiu morrer com a sua guarda de elite, os 300, a render-se.

O filme 300, de Zack Snyder - com Gerard Butler a fazer o papel de Leónidas, o brasileiro Rodrigo Santoro a fazer de Xerxes e Lena Headey no desempenho da rainha Gorgo - adaptou a história de Frank Miller (em banda desenhada; ver artigo sobre ele na
Wikipedia).

Há cinco elementos que quero destacar. Primeiro, não se trata de uma reconstrução histórica perfeita. Fica a narrativa dos 300 heróis junto do rei. Até a reconstituição da cidade de Esparta ou o vestuário dos guerreiros tem muitos elementos ficcionais.

Depois, existe uma estilização grande por causa do trabalho digital do filme. Na realidade, a maioria dos planos (perto de 1500) sofreu tratamento digital, o que torna o filme de um forte impacto visual, com cores vivas mas artificiais. As cenas de combate foram travadas, na realidade, sob um fundo azul do estúdio, a que se acrescentariam imagens do fundo da cena por computador - no campo, junto ao mar, na cidade.

Em terceiro lugar, devido à história ter sido retirada de uma banda desenhada, há uma aproximação a esta indústria cultural. Mas também ao universo dos videojogos. Na parte final dos combates, há dois espartanos que lutam contra os persas tomando posições como se fossem as de um videojogo. E ao mundo dos filmes de ficção científica, embora aqui o tempo seja o passado. Detecta-se a mesma construção de herói quase da grandeza de um deus, mas igualmente humano e com sentimentos e emoções. O filme, aliás, destinou-se a um grupo etário jovem, identificado com as narrativas do cinema do fantástico.

Uma outra ideia tem a ver com o trabalho de produção. As filmagens decorreram em 60 dias, ignorando eu o tempo de pós-produção, certamente muito mais demorado. Para dar um aspecto mais real às personagens, houve necessidade dos actores treinarem de modo físico para as cenas das lutas impressionarem muito. Depois, devido ao ecrã azul de fundo usado nas filmagens, actores e actrizes foram bastante maquilhados para acentuarem gestos e atitudes; no produto final, não há neles uma ruga, um sinal, um problema de pele.

Finalmente: em 300, Leónidas defende a liberdade e a democracia contra o ditador e opressor imperador da Pérsia. Na actualidade, os Estados Unidos reclamam esses valores da liberdade contra a ditadura do Irão. Será que os Estados Unidos se sentem o herdeiro universal da Grécia? Isto porque a sociedade militarizada de Esparta tinha regras distintas da democracia como hoje a entendemos. No filme, a mulher tinha um lado participativo que a democracia ateniense não possuía: às mulheres, como aos estrangeiros, escravos e crianças, estava vedado o direito de votar. Aqui, a rainha tem um papel activo e de negociação. O Irão actual é, afinal, a Pérsia antiga, embora as fronteiras não coincidam totalmente. E Leónidas é um homem valente, que olha de frente os desafios, com todo o corpo preparado para a luta, ao passo que Xerxes é um indivíduo afectado, barroco nos seus piercings e forma de expressão, duvidoso na sua estratégia. George W. Bush, o actual presidente americano, não é propriamente semelhante a Leónidas.


[imagens recolhidas do sítio Allocine.com]

sábado, 11 de agosto de 2007

HAUS DES RUNDFUNKS


A Casa da Rádio em Berlim foi um edifício pensado para o efeito (1929-1931). É lá que, desde 2003, funciona a Rundfunks Berlin-Brandenburg (RBB). Em Lisboa, após a legislação que instituíu a Emissora Nacional (1933), falou-se igualmente numa Casa da Rádio. Chegou mesmo a haver um projecto, mas nunca houve dinheiro para a sua concretização. O edifício inaugurado esta década para albergar a RTP - rádio e televisão públicas - é o que se pode melhor assemelhar a esse desejo antigo.

Obrigado ao Eduardo por, ao visitar a Haus des Rundfunks, em Berlim, não se esquecer do meu interesse pela rádio; daí o postal. Um forte abraço (igualmente estival) para ele.


Agora efabulemos. Imagine-se que o senhor Mustafa Karakus, cujo nome parece turco, mas eu não o conheço nem sei se ele tem tez morena ou, quiçá, bigode, indica-me o transporte mais fácil para ir da rua Behrenstrasse, perto da avenida das Tílias, para a rua Masurenallee, em Charlottenburg. Certamente me indica o autocarro 12 para a Sophie-Charlotte Platz, ou o metro que passa por lá. Não sei a distância até à Casa da Rádio, mas, para além da visita, talvez se consiga igualmente assistir a um concerto. Que tal ouvir Schumann, opus 129, e Brahms, sinfonia nº 4?

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

BERND BECHER


O Arte Photographica, um dos blogues convidados do jornal Público, pertence a Sérgio B. (Barreiro) Gomes, que se inspira "na ousadia empreendedora da revista A Arte Photographica (1884-1885), exemplo pioneiro da paixão pelos assuntos estéticos e técnicos da fotografia no Portugal de Oitocentos".

Hoje, Sérgio B. Gomes publica um texto naquele jornal de qualidade sobre a morte de Bernd Becher, o elemento masculino do casal Becher, que se dedicou, durante quase cinquenta anos, a fotografar depósitos de água, elevadores e torres de carvão, silos, altos fornos e outras estruturas da revolução industrial entretanto tornadas obsoletas (em
21 de Agosto de 2005, eu escrevera sobre o casal, a partir de uma exposição da colecção Joe Berardo no Centro Cultural de Belém - Construir/Desconstruir/Habitar).

Foi um trabalho de "obsessão apaixonada", escreve o jornalista. Tratou-se, continua ele, "de um meticuloso programa de documentação fotográfica, minimalista e conceptual", ou, de outro modo, "uma forma sistemática e tipológica de fazer arqueologia industrial".

Trata-se de um texto que aconselho a ler na totalidade (ver o blogue Arte Photographica).

WEB 3.0


O principal responsável do Google, Eric Schmidt, esteve recentemente no Fórum Digital de Seul. Ao ser-lhe pedido como definia a Web 3.0, começou por gracejar dizendo que a Web 2.0 é "uma palavra de marketing". Mais a sério, Schmidt disse que enquanto a Web 2.0 se baseia numa arquitectura a que chamou Ajax, a Web 3.0 terá "aplicações que funcionam interrelacionadas". As características serão: aplicações pequenas e podendo correr em qualquer aparelho (computador ou telemóvel), muito adaptadas ao cliente e distribuídas de modo "viral" (redes sociais, e-mail, etc).

Eis a resposta dada por Schmidt recolhida no YouTube, feita por
Seokchan (Channy) Yun (via Journalism.co.uk [mail@journalism.co.uk].

SOBRE O PLÁGIO


1. Uma das desvantagens da internet é o esquecimento. Procura-se um tema no Google, chega-se a um texto, faz-se a busca num outro e outro textos.

Guardam-se ficheiros sem indexar títulos, autores e datas. Unem-se, com corte e cola, como se fosse um ready-made à Marcel Duchamp. Perde-se a origem, dá-se começo a um novo texto. Mas as frases, os tempos dos verbos e os sujeitos estão lá, continuam a ter uma origem remota. Se a frase for citada de frase citada de frase original há duas, três ou mais cópias de fragmentos de textos. Um texto fabricado com origem na internet é como a conversa em torno de um tema ou acontecimento, num dia e em vários locais e com várias pessoas: a originalidade em cada um dos sítios é escassa. Mas é muita, simultaneamente, porque cada indivíduo olha o tema de um ângulo específico.

Uma frase, uma página, uma ideia – será que pertence(m) a um autor? Por isso, a acusação de plágio a alguém pode apanhá-lo de surpresa, perguntando: "mas copiei o quê? Há hipóteses de me redimir e voltar a escrever"? O juíz tem um espaço curto para a decisão. Porque a sua decisão, por justa que possa parecer, pode criar mais injustiças. A copiou uma vez e é punido, B já copiou algumas vezes mas nunca foi detectado. O juíz pode ser um moralista com pecados mais pesados. Mas a sociedade deu-lhe essa legitimidade.

2. O espelho na água e a sombra do sol no indivíduo ou no edifício parece o princípio da cópia. Não existe na realidade, mas parece um duplo. A cópia é o que é análogo, imitado, copiado. O pintor renascentista retomava temas, feitos por ele próprio, da escola a que pertencia ou porque recebia outra encomenda sobre a mesma matéria. Quantas vezes o compositor romântico pegou nas melodias populares e as adaptou às suas harmonias? Curioso, o que é analógico é mais facilmente copiado pelo digital, quando este pretende ser puro e distinto daquele. A criança aprende por imitação – às vezes agarra-se a uma frase e repete-a sem cessar, porque lhe descobre uma sonoridade. Na sociedade de massa, os consumos seguem comportamentos. Compramos uma marca porque está na moda e entramos num círculo pessoal se adquirimos essa marca.

A natureza copia-se permanentemente, em forma de ciclo; isto é, repete-se. Todos os dias, o Sol nasce. Todos os dias precisamos de nos alimentar. Um período escolar é a repetição de gestos, acções. O percurso de ida e volta casa-emprego aborrece-nos, em especial quando encontramos uma fila de trânsito. Já as conversas intermináveis que temos com amigos e familiares agradam-nos, mesmo que desponte uma incompreensão ou desarmonia.

O eco é um sinal que retorna porque embate numa superfície. O que no concerto rock é aumentado pela amplificação. Quando queremos que a nossa voz seja mais forte – ou atinja um ponto mais longínquo – juntamos as mãos em volta da boca, como se fosse um funil ou megafone. Na publicidade, usam-se a iluminação e os espelhos para adequar a luz actual, se se filma em exteriores. Quando atravessamos uma alameda, indo de automóvel, há uma harmonia de sons resultante do ruído do motor, da deslocação do automóvel e do eco nos troncos das árvores. O vento é um propagador do som: um foguete de festa, o levantar vôo de um avião, uma conversa, chegam-nos com mais pormenor se a direcção do vento for favorável. Estamos no domínio da transmissão e da sua recepção.

3. As tecnologias electrónicas de reprodução levaram tal prática da cópia mais longe. Com a digitalização, as cópias são gémeas, nada as distingue. A partilha de ficheiros é o estádio mais recente e puro desse ideal de cópia e de semelhança.

O trabalho científico ressente-se disso. Por um lado, as cópias permitem acesso, como lembrou Benjamin quando escreveu sobre a perda da aura com a reprodução técnica (na fotografia, no cinema). O quadro num museu inacessível passou a estar disponível no ecrã, com explicações, comentários e críticos. Por outro lado, a cópia elimina a origem. Como disse atrás, a procura na internet faz-nos esquecer as ligações, o começo. Muito menos nos preocupa a propriedade das ideias. Há uma espécie de democracia de acesso e direito a usar as ideias. Hoje, toda a gente pesquisa na internet. Como se isso desse o direito a utilizar a informação produzida por outro. Existe uma atitude de quase despeito se se chama a atenção para o erro de plagiar.

Encontra-se um lado defensável. Com o correr do tempo, uma ideia original é partilhada. O indivíduo dá um contributo, uma inovação, por exemplo; a sociedade convida o indivíduo a partilhar a sua ideia. Com os anos, os direitos de um autor cessam, o seu património passa para a sociedade. O que significa que o trabalho colocado na internet é universal e legalmente acessível por todos. Mas deve mencionar-se o ponto de partida. O link (a ligação) existe para isso. Não o cumprir, é desrespeitar, é tomar por sua a propriedade de alguém.

O indivíduo copia, mas também se copia. Caso de um músico de capacidades limitadas. Os acordes, as músicas que escreve, são em número reduzido – ele passa a vida a repetir-se. O mesmo acontece ao pequeno escritor. Claro que um burocrata faz o mesmo ao longo da vida, mas não se preocupa com isso. Acha-o natural, como a Terra à volta do Sol. A literatura dá-nos exemplos dessa rotina, desse vaivém quase sincronizado, como Steinbeck, como em O inverno do nosso descontentamento, em que o merceeiro passa pela rua a caminho do emprego sempre à mesma hora, como se estivesse cronometrizado. Ou igualmente com o filósofo Kant, de casa para a universidade, durante décadas seguidas. Ou ainda com o cinema de João César Monteiro, em Vaivém.

Uma ruptura estética perde o seu valor quando a sociedade em geral recupera as qualidades dessa ruptura e a integra nos valores dominantes. Estamos no domínio das formas. Uma autoestrada ou um aeroporto são do domínio do equilíbrio, do previsível, do plano. Os objectos que nela se deslocam ou poisam têm um comportamento similar, pois o contrário redunda em acidente.

4. Ora, com a internet, há outro espaço. Tornamo-nos demiurgos, criadores. Mesmo que o objecto que criamos não seja nosso. Como o ficheiro está ali à mão e não tem quem o reivindique, é como se fosse nosso. Possui o mesmo valor que o ar, está disponível. Não precisamos de pagar por ele. Mas pergunto – não precisamos mesmo de pagar pelo valor disponibilizado pela internet? Ou, então, o que copiamos já não tinha valor antes da cópia?

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

EMPRÉSTIMO PAGO NAS BIBLIOTECAS?


A Clara Assunção, do blogue A Biblioteca de Jacinto, tem tomado parte na discussão sobre empréstimo ou aluguer de obras das bibliotecas aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Eu próprio aludira ao assunto
aqui, mas ela merece ser lida, pois tem muito mais autoridade na matéria!

GRANDELLA


Francisco Grandella (1853-1934), nascido em Aveiras de Cima, no concelho da Azambuja, filho de médico, veio para Lisboa trabalhar no comércio ainda muito jovem. De marçano na rua dos Fanqueiros, estabelece-se por conta própria aos 27 anos na rua da Prata. A loja chamava-se Fazendas Baratas, onde aplicou o preço fixo e faz propaganda comercial.


Em 1881, no Rossio, abriria a Loja do Povo. Nove anos depois, e após ter sido obrigado a sair da Loja do Povo, adquiria um prédio onde construiria os Armazéns Grandella.

Acusado de contrabando para conseguir preços baixos nos produtos que vendia, Grandella aproveitou a ideia em termos publicitários, anunciando uma remessa seguinte do seguinte modo: "Chegaram mais fazendas de contrabando". Ele obtinha preços mais em conta porque dispensara intermediários, indo às fábricas com dinheiro na mão e obtendo descontos, para além de comprar saldos.

Grandella, que viajaria pela Europa, ficara impressionado com o Printemps de Paris. Em Lisboa, os Grandes Armazéns do Chiado (abertos em 1894) seriam os seus concorrentes. Grandella introduziu o anúncio comercial, a possibilidade de trocar ou reembolsar o dinheiro caso o cliente não gostasse do produto, a entrega ao domicílio e a publicação de catálogos com as colecções.

Os Grandes Armazéns democratizariam o comércio da moda e impuseram modelos de vestuário e um novo gosto. Do ponto de vista arquitectónico, os Armazéns Grandella prestariam tributo ao ferro, para além das escadarias imponentes e de inúmeras secções que se tornaram uma atracção em toda a Lisboa. Os Armazéns funcionavam em articulação com a confecção de malhas, manufacturas de fiação e tecelagem de algodão e lã e mobiliário em ferro, com fábricas em Alhandra e Benfica. Em Benfica, Grandella edificou uma vila composta por muitas casas destinadas aos operários.


Grandella tinha a instrução primária, muito importante então, além de ter aprendido francês. Tornar-se-ia activista no combate ao analfabetismo, edificando escolas primárias em vários locais (Aveiras, Benfica, Tagarro, Foz do Arelho). Aqui, funcionava o seu ideal republicano, a que juntara a adesão à maçonaria, visível nos símbolos arquitectónicos da escola de Benfica, actual Biblioteca-Museu República e Resistência. Grandella passara igualmente pela política, tendo sido vereador na câmara de Lisboa em 1908.


Leitura: João Mário Mascarenhas (org.) (1994). Grandella, o grande homem. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa [usei a edição de 2001]

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

EXPOSIÇÕES EM BARCELONA


Se fosse a Barcelona, não perdia estas exposições. Em especial Mujer, etcétera - Moda y mujer en las colecciones.

UTILIZADORES DOS SÍTIOS DA RÁDIO NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2007


A RFM online liderou tanto em utilizadores únicos como em páginas visitadas (newsletter da Marktest de ontem). No primeiro semestre de 2007, recebeu 350 mil visitantes diferentes, que consultaram quase 9 milhões de páginas. Em segundo lugar, ficou a Cidade FM online, com 293 mil utilizadores únicos e 7,3 milhões de páginas. O sítio cotonete.clix.pt foi o terceiro com mais visitantes, os mesmos 293 mil da Cidade.

Já em tempo despendido, a liderança foi da Cidade FM online, com 123 mil horas. A RFM online ficou em segundo, com 112 mil horas e a Rádio Comercial online em terceiro, com 102 mil horas.


terça-feira, 7 de agosto de 2007

CINEMA PORTUGUÊS


Saiu agora, com a chancela da Campo das Letras, o livro O cinema português através dos seus filmes, obra coordenada por Carolin Overhoff Ferreira.

Segundo a coordenadora, docente na Universidade Católica Portuguesa (Porto), o livro surge no "panorama de novos cursos universitários relacionados com o audiovisual e o cinema, e no contexto de um maior número de estudos mais aprofundados das diferentes épocas e vertentes do cinema nacional". No livro, analisam-se 23 filmes que "pudessem ser representativos e indicar as características mais importantes para cada época do cinema português".

O livro está estruturado em seis capítulos, assim apresentados: 1) anos 30 e 40 - a primeira e única indústria, 2) anos 50 - estagnação e neo-realismo, 3) anos 60 - um cinema novo, 4) anos 70 - após o 25 de Abril [de 1974], 5) anos 80 - entre a escola portuguesa e o cinema comercial, 6) anos 90 até à actualidade - cinema contemporâneo.

Colaboram no livro: Bárbara Barroso, Carolin Overhoff Ferreira, Fausto Cruchinho, Jorge Campos, Jorge Leitão Ramos, Jorge Seabra, José de Matos-Cruz, Lisa Shaw, Luís Reis Torgal, Malte Hagener, Maria do Rosário Leitão Lupi Bello, Martin Barnier, Oliver Vogt, Paulo Cunha, Paulo Filipe Monteiro, Paulo Jorge Granja, Randal Johnson e Ronald Balczuweit. Daniel Ribas participou em capítulo escrito por Carolin Overhoff Ferreira e na correcção de traduções e artigos de investigadores estrangeiros. Além de nomes mais conhecidos como Jorge Leitão Ramos (crítico de cinema), Luís Reis Torgal(docente universitário e coordenador do livro O cinema sob o olhar de Salazar), Paulo Filipe Monteiro (docente universitário) e José de Matos-Cruz (Cinemateca Portuguesa), há uma pleîade de jovens investigadores, alguns saídos do curso de Som e Imagem da UCP (Porto), como Bárbara Barroso e Daniel Ribas, o que mostra a importância daquela licenciatura.


O livro agora à venda nas livrarias pode ser acompanhado pela leitura do texto de João Mário Grilo (O cinema da não-ilusão), com um capítulo sobre a história do cinema português, que o realizador e professor dividiu em quatro períodos (começos - 1896-1930; cinema de actores - 1930-1950; cinema de autores - 1960-1990; cinema de produtores - 1990 em diante). Do mesmo João Mário Grilo saíu recentemente o título As lições do cinema. Manual de filmologia, guiões das 23 aulas que o autor dá na cadeira de Filmologia na licenciatura de Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa.

De realçar que será lançado, possivelmente já em Setembro, um livro de Carlos Capucho sobre vinte e cinco anos de filmes no circuito comercial em Portugal (1974-1999), baseado na sua tese de doutoramento.

LIVRO CASTELHANO E PORTUGUÊS


Tengo Algo de Arbol/Tenho Qualquer Coisa De Árvore, edição em castelhano e em português da editora Intensidez, será apresentado este mês em Salamanca e depois em Évora em Setembro.

Silvia Zayas apresenta uma obra de autores contemporâneos representativos como Antonio Gamoneda, José Luis Puerto, Gaspar Moisés Gómez, Juan Carlos Mestre, Tomás Sanchez Santiago, Ildefonso Rodríguez, Victor M. Díez, Silvia Zayas, Aldo Z. Sanz, Eloisa Otero, Miguel Suárez, Rubén Mielgo e Jorge Pascual.

[Para saber mais, ver o sítio http://www.intensidez.com/]

OS JOVENS E AS NOTÍCIAS


Retiro a seguinte informação do relatório do Joan Shorenstein Center sobre imprensa, política e políticas públicas, dirigido pelo professor Thomas E. Patterson (Universidade de Harvard) e publicado o mês passado (pode ser lido em aqui).

O relatório, assente num inquérito nacional de 1800 entrevistas a adolescentes e adultos jovens e mais velhos, procurou saber os consumos de notícias diárias por parte dos jovens. A conclusão a que se chegou indica que os jovens lêem menos os jornais e obtêm mais informação através da televisão e da internet.

Algumas décadas atrás não havia grandes diferenças em termos de hábitos de notícias entre jovens e mais velhos, mas hoje os mais novos não fazem da leitura diária uma rotina. Se há analistas que indicam que os mais jovens dedicam menos tempo às notícias, outros consideram que a revolução digital os está a trazer de volta. Outros ainda indicam que a internet leva os jovens a muitas outras coisas que não as notícias. O desacordo estende-se à definição do que é notícia: será que o conceito desta inclui os programas de “infotainment” e os que se relacionam com estilos de vida, crime e celebridades?

Sabe-se bem que a leitura de jornais tem descido abruptamente nos anos mais recentes. O que ilustra que o jornal não faz parte dos hábitos do jovem americano. Enquanto 35% dos respondentes acima dos 30 anos lêem jornais todos os dias, apenas 16% dos respondentes com idades compreendidas entre os 18 e os 30 dizem ler notícias todos os dias e apenas 9% dos com idades compreendidas entre 12 e 17 anos. Isto é, metade dos adolescentes raramente lê jornais diários.

Por outro lado, os noticiários de televisão (nacional e regional) perderam audiências na década passada. Perto de 60% dos respondentes mais velhos indicam ver diariamente notícias na televisão, número que baixa para 30% nos adolescentes e jovens adultos. A rádio, que teve um renascimento nas décadas passadas, em parte devido ao tempo gasto na condução de automóveis, apresenta um terço de ouvintes de entre os respondentes. Mas a audição de notícias na rádio é mais baixa que na televisão. E a escuta radiofónica é uma actividade menos activa que a leitura do jornal ou o acompanhamento do noticiário televisivo.

Já a exposição às notícias na internet está a crescer. Um quinto dos respondentes disseram seguir as notícias através da internet numa base diária. Mas há diferenças quando se fala de grupos etários. Entre os mais velhos, 55% lêem as notícias na internet, número que baixa para 46% entre os jovens adultos e 32% entre os adolescentes.

O relatório, com 35 páginas, traz uma conclusão perdida no seu interior e que me parece justo salientar aqui. Não é tão importante saber se o jornal de papel vai desaparecer e a internet ocupar o seu território como saber se o consumo de notícias irá reduzir com as gerações mais novas, atraídas por outros interesses. É que conhecer as notícias significa melhor cidadania, traduzível em espírito crítico e melhor democracia. O texto não é tão explícito como estas minhas palavras mas apreende-se o sentido.

Utilizadores das notícias

Um em cinco de adultos mais velhos tem necessidade de informação dada por jornais, mas apenas um em doze jovens adultos tem a mesma necessidade. O quadro é levemente mais brilhante no caso da televisão: um em seis jovens adultos vê notícias na televisão, com igual proporção nos adolescentes. Ouvir notícias pela rádio significa uma audiência regular mais pequena que a televisão.

As notícias da rádio e da internet conseguem ter mais atenção que as dos jornais, mas mesmo nestes casos muitos adolescentes e adultos jovens evitam-nas. Dois em cinco jovens têm pouco interesse nas notícias locais e nacionais fornecidas pela televisão. Mas o que causa mais impacto saber é que os jovens americanos dedicam pouca atenção aos jornais, apesar dos outros media despertarem igualmente pouco interesse.

Um indicador procurado pelo inquérito foi saber se os respondentes se lembravam das notícias de topo do dia anterior. Quase metade não se recordava da principal história do dia anterior. E apenas raramente uma notícia atingia toda a população, como aconteceu com os acontecimentos trágicos do 11 de Setembro de 2001. E o nível etário também conta: os mais velhos lembram-se mais da história do dia anterior (62%) que os mais novos (43%), com os adolescentes no fundo da tabela (10%). Os mais novos são ainda os que têm mais dificuldades em identificar o elemento factual de cada história.

Nos anos 40, havia uma espécie de sobreposição das audiências noticiosas. As pessoas interessavam-se pelas notícias e não pelo meio que as veiculava. A diferença residia em que os mais velhos viam mais noticiários televisivos que os mais novos. Os estudos dos anos 60 e 70 encontram o mesmo modelo mas com uma alteração. Passa a haver um peso maior da televisão do que da imprensa. Ver televisão é um modo mais desatento de seguir as histórias. Além de que as notícias chegam à hora do jantar. A televisão passaria a ser um ritual, que inclui as crianças. Quando as crianças acabam a escola, muitas adquirem hábitos próprios de ver televisão, afastando-se desse ritual. A capacidade de gerar interesse pelas notícias da televisão generalista acaba nos anos 80, com o crescimento da televisão por cabo. Os espectadores já não precisam de ver as notícias à espera que chegue o programa de entretenimento.

A internet veio alterar ainda mais os hábitos, ao criar hábitos diários individuais. Cada utilizador serve-se da internet de acordo com os seus interesses muito pessoais. E a internet não é particularmente poderosa na fomentação de hábitos de leitura das notícias. O utilizador da internet gasta menos tempo que o leitor de jornais ou o espectador de televisão na procura de notícias. Claro que a internet, com o uso de imagens e texto e a sua versatilidade, poderá determinar o regresso da leitura das notícias: é que fornece um meio de comunicação em dois sentidos, o que os media mais velhos eram incapazes de fazer.



[pequenos vídeos realizados aquando da apresentação, no ISCTE, do número 8 da revista Trajectos, com os conceituados jornalistas Diana Andringa e Adelino Gomes como comentadores, em 19 de Outubro de 2006]

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

A ILUSTRAÇÃO EM JUAN MARTÍNEZ (II)


[texto a partir do livro de Juan Martínez]

Autores como Omar Calabrese falam da influência exercida sobre o sistema cultural contemporâneo por noções científicas como teorias da catástrofe, fractais, teorias da complexidade e caos. A arte contemporânea adquire uma dinâmica de cariz barroco, estabelecendo-se um paralelismo entre a situação presente e a pluralidade dos mundos do século XVII, como consequência dos descobrimentos geográficos, científicos e perceptivos.

O princípio essencial do método surrealista põe em crise o significado das coisas tal como aparecem ou como se entendem sob o critério do sentido comum. O surrealismo atende a realidades como criações da mente na ausência de actividade consciente, situações paradoxais, alucinação e loucura.

Desde os anos 60, a actividade gráfica transformou os parâmetros espacio-temporais,aderindo aos mais diversos objectos em virtude de uma versatilidade inédita na escala e na sua adaptação a todo o tipo de suportes [imagem retirada do sítio de Juan Moro].

Nos últimos 500 anos de cultura ocidental produziu-se um crescimento exponencial no peso que adquiriu a imagem de reprodução gráfica, até atingir, no nosso tempo, o dos meios de comunicação de massa, o domínio da imagem mediática
. Estamos na época de obra de arte da reprodução (Walter Benjamin).

A arte do século XX fez a contínua revisão crítica das formas de percepção, representação, recepção de e sobre a imagem, experimentação exaustiva dos materiais, suportes, procedimentos e métodos geradores de produtos artísticos. Há a busca generalizada de novas formas de expressão, baseadas na novidade e idiossincrasia temática ou ideológica, iconográfica ou simbólica, estatística e física da imagem. Face ao império de um único sistema de representação dominante, que desde o Renascimento esteve assente nas perspectivas cónica e aérea, assim como no naturalismo do claro-escuro, a explosão morfológica e idiomática que começa no século XIX encontra a sua plenitude nas vanguardas da primeira metade do século XX. Assim, apresenta-se-nos como uma excepção e quase uma singularidade evolutiva.

Desde os anos 1960 com a arte pop e as tendências conceptuais foi-se derivando pouco a pouco para um tipo de obra em que iria dominar cada vez mais a utilização, de forma directa e indirecta, de meios mecanizados de reprodução e elaboração da imagem. Esta vê-se mais bidimensional e desmaterializada que nunca.

Com a criação digital nasce o conceito central de interface, de vínculos interligados ou interactivos. Mas a criação digital entronca estruturalmente nos sistemas gráficos históricos e bebe a tradição do pensamento e do conhecimento através de diagramas e esquemas, jogos visuais, labirintos e hieróglifos.

Nas artes plásticas produziu-se, de forma progressiva, uma passagem do objectual, que actuava directamente em e sobre o papel e a tela, ao visual, mediante um processo de desmaterialização da imagem que, começando com a fotografia e meios de reprodução gráfica como a serigrafia, se consumou na arte digital. O fenómeno de desmaterialização é a consequência lógica do crescente domínio dos meios de comunicação.

A imagem gráfica, sendo teoricamente uma, possui uma natureza dupla e diacrónica, pois pode ter uma multiplicidade e mutação quase infinita a partir de um original: repetição, redundância, variação, fragmentação, deformação, descontextualização, interferência, intervenção e instalação. A nova imagem mediatizada converte-se numa parte discreta de material plástico, codificado em cada caso, formando parte do património pessoal, colectivo ou universal para seu uso consciente ou aleatório.


Leitura: Juan Martínez Moro (2004). La ilustración como categoría. Una teoría unificada sobre arte y conocimiento. Gijón: Ediciones Trea, pp. 174- 187

domingo, 5 de agosto de 2007

FRAUDE LITERÁRIA


Há 35 anos, Nixon mandara ilegalmente escutar o que se dizia no congresso dos democratas (hotel Watergate), processo que mais tarde resultou na sua resignação ao cargo de presidente dos Estados Unidos.


Quase nessa mesma altura, um romancista de novelas e de uma biografia de um falsificador de quadros, Clifford Irving, estava a publicar uma biografia do milionário e excêntrico Howard Hughes, garantindo ter a autorização devida para o fazer. Editora: McGraw-Hill. A revista Life, então a perder leitores, comprou os direitos para a sua pré-publicação.

Mas provou-se ser uma fraude. Quase perfeita, envolvendo um outro romancista, que fazia o trabalho de pesquisa, Richard Susskind. Para além dos dois autores, apenas a quinta mulher de Irving e uma antiga namorada deste, Nina van Pallandt, do antigo duo dinamarquês Nina & Frederick, sabiam da falsidade. Irving forjara cartas de Hughes imitando a sua forma de escrever.

Estava-se entre o final de 1971 e o princípio de 1972, quando o próprio Howard Hughes, homem ligado aos media, aviador e excêntrico, desmentiu ter autorizado a escrita do livro. Curioso é que - nota Philip French na sua coluna de cinema na edição de hoje do Observer - nessa semana de Janeiro de 1972 o filme mais visto nos Estados Unidos se chamava Diamonds are forever, em que James Bond visita Las Vegas e protege um milionário que vivia recluso chamado Willard White, claramente inspirado em Hughes.


Clifford Irving foi julgado e preso, a sua mulher igualmente presa na Suíça, por movimentar a conta do dinheiro antecipado pela editora para pagar ao milionário [fotografias de Irving, Hughes e Susskind retiradas do sítio Crime Library].

O filme Golpe quase perfeito tem Richard Gere e Alfred Molina como interpretando os papéis dos dois escritores. Realizado pelo sueco Lasse Hallström, autor de outros filmes como Chocolate e Regras da casa, Golpe quase perfeito é um filme agradável de ver. Isto apesar do próprio Irving declarar que a história é inexacta.

Na história do filme é clara a dupla realidade traçada por Clifford Irving: a realidade propriamente dita e a recriada por si. Esta passava pela gravação de conversas inexistentes e por igualmente inventada violência exercida por colaboradores directos do milionário sobre o escritor.

Um último pormenor também curioso é o da antiga namorada de Irving, a dinamarquesa Nina van Pallandt, ter ganho com a visibilidade do caso. Ela foi convidada para entrar no filme de Altman The long goodbye (1973) e desempenhou o papel de uma das clientes de Richard Gere no filme American gigolo (1980).