segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Manuela de Azevedo, jornalista, 104 anos

A jornalista Manuela Saraiva de Azevedo nasceu em Lisboa, em 31 de Agosto de 1911. Faz hoje 104 anos, comemorados com o lançamento do livro de contos O Pão que o Diabo Amassou, na Casa da Imprensa. Editado conjuntamente pela Casa da Imprensa e pelo Museu Nacional da Imprensa (MNI), o livro foi apresentado pelo jornalista e diretor do MNI, Luís Humberto Marcos. Primeira mulher jornalista com carteira profissional, ela é a mais antiga associada da Casa da Imprensa, a cujo Conselho Fiscal presidiu durante três mandatos consecutivos.

Amanhã, será condecorada pelo Presidente da República com o grau de Comendadora da Ordem da Liberdade.

domingo, 30 de agosto de 2015

50 anos de carreira de João Paulo Dinis na rádio

Diário de Notícias: "Comemora amanhã 50 anos de carreira no jornalismo. Ainda se lembra do seu primeiro dia"? João Paulo Dinis: "Foi na Rádio Peninsular e pela mão de Augusto Poiares. Desde os 13 anos que lhe pedia constantemente que me deixasse fazer um teste na rádio. Tanto insisti que ele acedeu. Dias depois de fazer o teste, o meu pai telefonou-me e disse que tinham gostado do meu registo de voz. O radialista Aurélio Carlos Moreira tinha gostado da minha gravação e convidou-me para apresentar o Pajú, que era um passatempo juvenil. Tinha 16 anos" [retirado de entrevista publicada hoje no Diário de Notícias].

João Paulo Dinis, 66 anos, faz amanhã 50 anos de atividade na rádio. Na madrugada de 25 de abril de 1974, ele foi o locutor nos Emissores Associados de Lisboa que passou uma das senhas do movimento dos capitães. Retiro da mesma entrevista do Diário de Notícias: "E foi então que se escolheu a canção que eu teria que anunciar, logo após a transmissão da senha, que era a frase: «Faltam cinco minutos para as 24 horas». A hora foi depois antecipada e marcada para quando faltassem cinco minutos para as onze da noite. Ele queria que eu colocasse no ar uma cantiga do Zeca Afonso, que estava proibido de passar na rádio e eu sugeri a canção E Depois do Adeus, de Paulo de Carvalho". [recorte do Diário Popular, 23 de novembro de 1972]

Em entrevista que me concedeu para o meu projeto de investigação de rádio (13 de fevereiro de 2012), João Paulo Dinis recordou-me esse seu começo com Augusto Poiares: "«oh, senhor Poiares, deixe-me ir lá à rádio para fazer lá um teste, eu gostava tanto». E ele olhava para mim, pois sabes agora, não sei quê. Também com doze anos, ele devia querer dizer «cresce e aparece», não é? Houve uma vez que eu disse «oh, senhor Poiares, eu só gostava de saber se tenho algum jeito para isto ou não, pronto que é para não estar agora aqui com ideias e não sei quê». Bem, tanto dei cabo da cabeça ao pobre homem que ele disse: «nós vamos gravar no dia tal às tantas horas. Aparece lá». E eu fui. Fui, deram-me um texto, eu li, não sei quê. Dias depois, o meu pai telefona-me e diz-me: «Olha, sabes uma coisa? Telefonou-me o nosso amigo Poiares». «Ah, foi E, então que tal»? Fiquei apurado para pôr voz lá no programa Voz do Casa Pia [o pai de João Paulo Dinis era um dos dirigentes do Casa Pia] Lembro-me perfeitamente o meu pai disse: «Olha não só para isso, mas há mais». Disse: «Mais? Então o que é que se passa»? O que é que tinha acontecido? O técnico, o Irnério Monteiro, que tinha feito a gravação em fita magnética do meu teste de voz gostou. Sabia que o Aurélio Carlos Moreira precisava de uma voz masculina para o programa que ele fazia que era o Passatempo Juvenil, que mais tarde ficou a chamar-se Paju, PaJu, Passatempo Juvenil. E mostrou a gravação ao Aurélio, e o Aurélio gostou, não sei quê, disse: «eh pá, onde é que está o contacto dele, não sei que mais e tal»". Estava-se em 1965.

Parabéns, caro locutor.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Museu de Espinho

A antiga fábrica de conservas Brandão e Gomes, instalada em 1894 em Espinho (sociedade depois alargada para instalações em Matosinhos, Setúbal e S. Jacinto), é atualmente o museu municipal de Espinho. Além de elementos ligados ao fabrico das conservas de peixe, há espaço para a arte xávega (pesca artesanal com uso de rede).



quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Museu Alberto Sampaio

Gostei tanto do museu Alberto Sampaio, em Guimarães, em abril último, que voltei. Admirei de novo A Degolação de São João Batista, argamassa de cal e pigmentos de Mestre Delirante de Guimarães, datada entre 1510 e 1530 e proveniente da sala do Capítulo do convento de São Francisco. 


terça-feira, 25 de agosto de 2015

Museu da Misericórdia do Porto

Localizado na rua das Flores, no Porto, no edifício sede da instituição de meados do século XVI até 2013. Tem salas dedicadas aos benfeitores, pintura, escultura, ourivesaria e paramentaria, sala da administração e igreja da Misericórdia. O museu abriu o mês passado.


domingo, 23 de agosto de 2015

Hermínio Martins

Em 2000, Carlos Leone organizou um livro com o título Rumo ao Cibermundo?, onde me juntou a um notável grupos de intelectuais: Rui Bebiano, Carlos Vidal e Hermínio Martins.

Hoje, dia em que se soube da morte de Hermínio Martins, vale a pena recordar o que ele escreveu então, um texto pujante de cerca de 25 páginas sob o título "Tecnociência e Arte". Com pouco espaço para parágrafos distintos, ele começou por identificar o conceito de sociedade científico-industrial em França entre 1815 e 1820. Depois, convoca-nos para olhar as visões saint-simonianas e positivistas, tornadas menos obsoletas que antes da onda do discurso do inevitabilismo ocidental liberal tecnocientífico nas democracias de mercado e de igual inevitabilismo do Estado socialista (p. 13). De passagem, Martins critica os modernistas, como Yeats, Pound, Joyce e Eliot, que rejeitaram o mito do progresso e da revolução mas se comprometeram com movimentos fascistas ou para-fascistas.

E também olhou para os fuuristas, para quem as máquinas se associavam ao belo e ao sublime. Os futuristas legaram-nos a palavra neolatria ou tecnolatria (p. 20). Tal, no fundo, queria significar o carinho pelo novo, pelo produzido pela novidade (o nosso António Ferro pode pertencer a este grupo, acrescento). Glorificar o novo é destruir os bens sobejantes, os modos de sentir antigos, em que se incluem os planeadores urbanos modernos.

No seu caminho, Hermínio Martins elucida-nos da nossa situação presente, a do estado da natureza cibernético, de natureza-como-informação, de estado de cultura cibernético (p. 25). O filósofo comparou a ciência militar e o desenvolvimento de instalações computacionais (com frequência, com o nosso desejo de elogiar os computadores e a internet, esquecemo-nos desta origem, acrescento). O autor quase acaba o seu texto, identificando um revivalismo do platonismo científico (p. 27), com espaço para a experimentação mental e para a crítica, empregando o termo re-uso, signifique ele o que significar, mas suficiente para permitir a liberdade de pensar, julgo eu.

Hermínio Martins nasceu em Maputo, Moçambique, em 1934. Na década de 1950, exilou-se no Reino Unido, onde ensinou nas universidades de Leeds e Essex e no St. Antony’s College da Universidade de Oxford. Publicou Classe, Status e Poder e outros Ensaios sobre o Portugal Contemporâneo (1998) na editora do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, coordenou a obra Dilemas da Civilização Tecnológica (2003), em que o seu discípulo José Luís Garcia desempenhou um papel importante, escreveu Hegel, Texas, e outros Ensaios de Teoria Social (Século XXI, 1996) e Experimentum Humanum: Civilização Tecnológica e Condição Humana (Relógio D’Água). Tinha quase pronto um volume com Rui Feijó, em que tratava o 5 de Outubro, o 28 de Maio e o 25 de Abril na perspetiva comparativa, histórica e sociológica. Nos últimos anos, a sociologia e filosofia da ciência e da tecnologia ocuparam parte substancial das suas reflexões (dados recolhidos no texto do jornal Público).


sábado, 22 de agosto de 2015

Coleção de Alberto Caetano

Eu e os outros é nome da mostra do arquiteto Alberto Caetano patente no Museu Nacional de Arte Contemporânea (Museu do Chiado), selecionada a partir de uma coleção com mais de 300 peças. Hoje, ele fez uma visita guiada a um grupo grande e interessado. Alberto Caetano relacionou grupos de dois ou três artistas, em cumplicidades estéticas ou afetivas para o colecionador: António Carneiro e Pedro Cabrita Reis, Jorge Molder e Albuquerque Mendes, Rui Chafes e Ilda David, Dan Flavin e Jorge Martins.

Primeira exposição organizada pelos Amigos do Museu do Chiado, o objetivo do grupo é levar ao museu coleções particulares de arte moderna e contemporânea de qualidade, sublinhando a especificidade do gosto de quem as reuniu.

 

Memórias de telecomunicações



O vídeo conta a visita ao Espaço-Memória das Telecomunicações (Valadares, Vila Nova de Gaia), guiada por Manuel Carvalho e Alcides Ferreira. O Espaço-Memória tem equipamentos telefónicos e de telecomunicações que foram usados na empresa Telefones de Lisboa e Porto, desaparecida em 1994 por fusão com outras empresas, de onde se originou a empresa Portugal Telecom.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

A Luz de Lisboa

Exposição patente no Torreão Poente do Terreiro do Paço (Lisboa). Tem pinturas, fotografias e filmes.

Confesso que levava uma grande expectativa, até porque a publicitei aqui. Gostei especialmente da paisagem sobre o rio Tejo, que se observa das janelas do torreão.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Recordar os esquecidos

Em Agosto, a tertúlia habitual da livraria Almedina, Recordar os Esquecidos, tem um formato diferente. Desta vez, é o próprio moderador dos debates o convidado. Assim, no sábado, dia 29, pelas 18:00, João Morales vai falar sobre livros e autores que caíram no esquecimento ou até mesmo passaram (injustamente) ignorados. Na praça Duque de Saldanha, 1, Atrium Saldanha (Lisboa). Neste ano, o grupo Almedina faz 60 anos.


terça-feira, 18 de agosto de 2015

145 anos de jornais de empresa em exposição na Biblioteca Nacional

A Biblioteca Nacional acolhe, entre 6 de outubro e 31 de dezembro, uma exposição sobre jornais de empresa, cujo primeiro espécime foi publicado em Maio de 1869 pela Caixa de Crédito Industrial. Intitulada Imprensa Empresarial em Portugal: 145 Anos de Jornais de Empresa, a mostra é comissariada por João Moreira dos Santos.

"Tendo por base uma amostra alargada de publicações – representativas de um universo de cerca de 900 títulos publicados nos últimos 145 anos – e um extenso trabalho de investigação académica, a exposição permite seguir a história económica e política de Portugal dos séculos XIX e XX, revelando os seus reflexos na linha editorial e gráfica dos chamados jornais de empresa. Assim, ao tom paternalista e reverencial dos periódicos editados durante o Estado Novo opôs-se a postura reivindicativa e revolucionária que emergiu no pós 25 de Abril em publicações como a revista Lisnave e o boletim Águas Livres (CAL/EPAL). Uma questão central é a da censura prévia, ilustrando-se a forma como o regime de Salazar controlava também a informação empresarial, validando ou rejeitando tanto o conteúdo como os directores e editores dos periódicos. Outro tema em destaque na exposição é o envolvimento nos jornais de empresa de personalidades de vulto da cultura nacional, como Cottinelli Telmo e Augusto de Santa-Rita, e do desporto, particularmente o atleta olímpico Mário Simas, e também de ilustradores e designers, nomeadamente Fernando Bento e Daciano da Costa, de jornalistas, incluindo José Augusto, Homero Serpa, Morais Cabral e Sérgio Acúrcio Pereira, e, ainda, de fotógrafos, muito particularmente o histórico Horácio Novaes. A nível institucional, destaca-se o importante papel desempenhado por empresas como a CP, Marconi, Caixa Geral de Depósitos, Shell, Philips e Renault, e o fenómeno do associativismo, através da Associação Portuguesa de Comunicação de Empresa (APCE). Para celebrar os 100 anos da edição do primeiro livro sobre os jornais de empresa, a exposição acolhe ainda uma inédita mostra de livros internacionais, exibindo obras raras editadas entre 1915 e 2011. Com tiragens por vezes superiores aos órgãos de comunicação social, os jornais de empresa – periódicos de carácter jornalístico destinados a trabalhadores, colaboradores, accionistas, clientes, fornecedores e revendedores – têm sido um género de imprensa negligenciado publicamente. O seu boom ocorreu nos anos oitenta, coincidindo com as mudanças políticas e económicas, sobretudo a liberalização e a abertura do mercado nacional" [imagem: capa digitalizada do número 1 do Boletim da CP, julho de 1929, com grafismo de Cottinelli Telmo].

João Moreira dos Santos é doutorando em Ciências da Comunicação (ISCTE) e tem realizado o seu percurso profissional entre os média e a comunicação empresarial. Actualmente, é autor do programa radiofónico diário Jazz a Dois (RTP/Antena 2), tendo colaborado nomeadamente nos jornais Expresso, Blitz, A CapitalJornal de Letras, em sites norte-americanos de referência e no seu próprio blogue, que fundou em 2003 (500 000 visitantes). Foi docente universitário e assessor de imprensa da Ministra da Saúde do XIV Governo Constitucional. A nível empresarial, dirigiu a comunicação do Banco de Fomento e Exterior, das multinacionais ABB e Ericsson, e da Comissão Nacional de Luta Contra a SIDA, tendo fundado no ano 2000 a sua própria agência. O autor publicou o primeiro livro português sobre a temática da comunicação empresarial: Imprensa Empresarial: Da Informação à Comunicação (2005, Edições Asa). Criou e produziu ainda eventos culturais de referência, nomeadamente para o Ministério da Economia e para o Centro Cultural de Belém, um dos quais distinguido em 2012 pela UNESCO.

[o texto segue o comunicado de imprensa enviado]

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O programa Página 1 no cinema Roma

Segundo o Diário Popular de 26 de novembro de 1971, José Manuel Nunes e José Videira apresentariam discos de José Mário Branco e Sérgio Godinho. Adelino Gomes deslocara-se a Paris para entrevistar o primeiro daqueles músicos. A rádio e a música estavam a despertar o país.


domingo, 16 de agosto de 2015

Telecomunicações

G. W. B. Pope realizou e A. Mota Braga fez as legendas. O filme chama-se Construção da Central da Lapa - 1954. O original tinha uma voz off que relatava em inglês a sequência do filme.

O engenheiro inglês G. W. B. Pope trabalhou na APT (Anglo-Portuguese Telephone) no Porto, onde foi dirigente. Ele tinha uma grande paixão pelo cinema, pois em sua casa montou uma sala de projetar cinema. Podemos dizer que era um amador e que aplicou à história da central da Lapa (Porto) o que viu nos filmes. Por vezes, deteta-se o neo-realismo dos filmes da época, nomeadamente quando os guarda-fios puxam um cabo ao longo de um campo plano. Fernando Gonçalves, que trabalhou na APT antes de enveredar pela carreira na rádio e no mundo dos espetáculos musicais, aparece no filme, mostrando um antes e um depois da automatização da central telefónica. Guarda-cabos, guarda-fios, mecânicos de construção têm uma boa representação.

Há pormenores da cidade do Porto nessa época, como as ruas 31 de janeiro (então Santo António) e Catarina. Curiosas também a sequência da chegada de equipamento strowger vindo de Inglaterra ao porto do Douro, junto à Ribeira, e toda a construção do edifício. Para engenheiros civis e de telecomunicações, vale a pena estabelecer comparações entre aquelas e as atuais tecnologias.

O filme a preto e branco é longo (28 minutos), dentro da classificação de curta-metragem. A meu ver, constitui uma pequena obra-prima e um enorme elogio às telecomunicações. Talvez haja hipóteses de uma nova leitura do filme em celulóide, se o original existir, o que poderia levar a uma divulgação internacional [eu não sei se existe espólio documental da APT em Londres]. [o meu agradecimento ao senhor Manuel Carvalho (Associação dos Trabalhadores e Reformados da Portugal Telecom) pela cópia digital].

sábado, 15 de agosto de 2015

Arquivos de memória

No passado dia 11, o Público editou um texto sobre arquivos de memória, com base numa experiência da Associação de Amigos do Parque e Museu do Côa. Disponível já em http://www.arquivodememoria.pt, há muitas entrevistas, incluindo idosos em lares, e um acervo de fotografias e outros documentos.

Duas ideias retirei da leitura do artigo. A primeira é de ordem antropológica, sobre costumes e práticas já desaparecidas, como comer carne apenas em ocasiões especiais. A segunda é de ordem histórica, com recolha de testemunhos das comunidades locais. Parece-me muito interessante desenvolver arquivos (de empresas, de tecnologias, de usos e de espaços sociais).


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Brigada Victor Jara

Já este ano, a Brigada Victor Jara conseguiu editar a sua obra completa através do sistema de crowdfunding, que funcionou bem e depressa. Agora vi-os ao vivo, na Figueira da Foz, com dez elementos (num total de 30 que passaram pela Brigada desde a sua formação). Duas características ressalto deste concerto: a unidade sonora, sem deixar espaço a registos individuais; os cuidados arranjos de músicas tradicionais. O concerto serviu ainda para dois músicos da região atuarem em alguns momentos, o que trouxe entusiasmo à plateia.

Ao longo dos meses mais recentes, tentei escrever sobre a música deles e sobre a música da Banda do Casaco, dois agrupamentos fascinantes e que marcaram a paisagem musical das quatro últimas décadas, mas ainda não consegui. Fica aqui apenas a lembrança da noite de ontem.


quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Da cultura oral à escrita

O Queijo e os Vermes, de Carlo Ginzburg (1976), não é propriamente um livro de férias. Nem eu pensava lê-lo, embora soubesse que a necessidade de ler sobre a teoria da micro-história me levaria um dia ao autor italiano. Uma cópia publicada na internet ajudou-me a resolver as dúvidas (2006, editado pela Companhia de Bolso, São Paulo).

O livro ajudou-me não pelo que eu procurava - apresentação e análise da teoria - mas interessou-me pela trama. O livro é como um romance, pois nos apresenta personagens quase efabulatórias e com ideias quase incríveis. Menocchio viveu no século XVI e tinha estranhas conceções de como o mundo fora criado. Ao início, o mundo era um caos e todo o volume se formou em massa, do mesmo modo que o queijo é feito de leite coagulado e do qual surgem vermes. Estes seriam os anjos, com Deus a tornar-se o melhor dos vermes e o mais potente dos homens (p. 97 da tradução feita no Brasil e que li). Claro que a insistente remissão para o queijo e os vermes, indica Carlo Ginzburg, teria em Menocchio uma função analógica-explicativa.

Menocchio de Montereale, o sítio onde morava no Friuli (Itália), que na realidade se chamava Domenego Scandela, era um moleiro que aprendera a ler e a escrever (mais aquela ação que esta), tornara-se uma espécie de intelectual que precisava de encontrar parceiros para a discussão das coisas do mundo e da religião. Os únicos parceiros que encontrou - e com quem se entusiasmou - foram elementos do Santo Ofício da Inquisição. Os interrogatórios para desmantelar as ideias estranhas do moleiro constituíram grosso volume que Ginzburg usou. Considerado apóstata, ficou três anos preso, após o que a sentença foi reconsiderada. Menocchio prometeu não voltar a rebelar-se contra as ordens do poder religioso. Obrigado, porém, a vestir uma roupa que o identificava com a decisão do tribunal inquisitorial. No final, Menocchio reincidiu e foi condenado à morte. As suas fantasias teológicas eram mais fortes do que ele.

Tenho pena de Marshall McLuhan não conhecer este Menocchio, pois certamente produziria uma brilhante exposição sobre ele. O moleiro viveu a transição histórica da linguagem gesticulada da cultura oral para a linguagem da cultura escrita (lida, mais precisamente). Leitor compulsivo das obras que encontrava, Menocchio construiu um mundo mental que não existia e, mais do que isso, contrário às leis e às regras da época. Além disso, por causa de uma cultura frágil, ele foi distorcendo o que lia, interpretando à sua maneira, de que resultou uma cosmogonia nova. Os mundos de cada indivíduo podem ser perturbadores ou ricos de complexidade de acordo com o modo como se olha o mundo. Exemplos disso as obras de cinema e os romances. No caso de Menocchio, à sua mente imaginativa, é preciso ver como se salta de um tipo de cultura para outro e qual o seu impacto.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Ainda os oitenta anos da rádio pública

Assisti a uma parte e ouvi uma outra parte da emissão que hoje a RDP faz para comemorar os 80 anos de vida. Gostei particularmente da horas dedicadas ao teatro radiofónico e ao desporto. Pelos convidados e pelas memórias levadas para as ondas de rádio, pode dizer-se que este meio é caloroso, universal e quase camaleão, pois se tem transfigurado sempre que surgem ameaças de outros media.


[na imagem, a mesa sobre música ligeira e clássica: André Cunha Leal, Armando Carvalhêda, António Macedo e José Pereira Bastos]

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

80 anos de rádio pública

A inauguração oficial da Emissora Nacional esteve marcada para 1 de agosto de 1935. Mas o marechal Carmona não pôde e só visitou a Emissora Nacional no dia 4 de agosto. O importante é que a semana passou em festa na rádio pública, então designada como rádio oficial. Amanhã, passam 80 anos da presença pública do presidente da República na Emissora.

Então, a presidência da Emissora Nacional estava a cargo de Henrique Galvão (anos mais tarde, ele rebelar-se-ia contra Salazar, em que a ação mais espetacular foi o desvio do navio Santa Maria). Galvão sucedera a António Joyce, homem muito ligado à música clássica mas sem experiência de contabilidade empresarial, o que fez derrapar as contas da estação. Para complicar as coisas, o orçamento era gerido pelos CTT, dirigido por Luís Couto dos Santos. A nova programação refletia um gosto mais popular, encontrado, por exemplo, no programa Hora da Saudade (com mensagens de portugueses para familiares residentes ou a trabalhar nas colónias africanas ou noutros países) e os Jogos Florais. Nos anos seguintes, nasceram outros programas que marcaram a Emissora, como Domingo Sonoro, Serão para Trabalhadores, teatro radiofónico, programas infantis e relatos de futebol. Dos locutores do primeiro período destaco Áurea Rodrigues, Maria Rezende e Fernando Pessa. António Ferro sucederia a Galvão na direção da Emissora em 1941.

Amanhã, na rádio pública, uma emissão especial (ver aqui): "Em oito horas de emissão não cabem oitenta anos de história da Rádio pública. Ainda assim, protagonistas de ontem e de hoje, sempre com os olhos no futuro, vão passar pela Antena 1 contando um tempo que foi e desvendando um outro que está a chegar. E, claro, a música vai estar sempre por perto. Aquela que integra a memória da Rádio, a que a canta a Rádio e a que faz hoje o quotidiano da Rádio. Ao vivo, das 10h00 às 18h00, Rogério Charraz, Oquestrada, Marco Rodrigues, Viviane, Paulo de Carvalho, António Manuel Ribeiro, Miguel Ângelo e Luís Represas vão cantar nesta emissão com realização de Armando Carvalhêda e produção de Ana Sofia Carvalheda". Ver ainda aqui várias histórias da rádio (sons e imagens).

Os meus parabéns à RDP, que mantém o património da rádio de 1935.

domingo, 2 de agosto de 2015

Claves

Quando Luís Pinheiro de Almeida lançou o seu último livro, Biografia do Ié-Ié, em abril de 2014, várias bandas da época ié-ié atuaram nessa sessão. Uma delas foi a dos Claves. Uma das melhores músicas da época pertencia a Luís Pinto de Freitas, Crer (1966), dessa banda, tocada no lançamento do livro, e de que eu fiz uma reprodução em vídeo de má qualidade mas que funciona como uma grande recordação, agora que o seu autor faleceu.

Obrigado, Luís Pinto de Freitas!


sábado, 1 de agosto de 2015

Festival de documentário em Melgaço


FILMES DO HOMEM - Festival Internacional de Documentário de Melgaço, organizado pela Câmara Municipal de Melgaço e pela Associação AO NORTE, de 4 a 9 de agosto, pretende promover e divulgar o cinema etnográfico e social, refletir com os filmes sobre identidade, memória e fronteira, e contribuir para um arquivo audiovisual sobre a região (http://www.filmesdohomem.pt/filmesdohomem.php#).