sexta-feira, 30 de abril de 2010

O PRÉMIO DOS DEOLINDA

Os Songlines Music Awards 2010, organizados pela revista inglesa Songlines, premiaram os portugueses Deolinda, na categoria "Newcomer", com o álbum Canção ao Lado. Também na lista final de nomeados estiveram os luso-suecos Stockholm Lisboa Project (que se apresentam hoje no Montijo e amanhã em Cascais), na categoria "Cross-Cultural Collaboration", e Lura, cantora de origem cabo-verdiana mas nascida em Lisboa, na categoria "Best Artist". Mais informação aqui.

MUTAÇÕES DAS INDÚSTRIAS CULTURAIS (III)

O cinema em Portugal foi, política e culturalmente, marcado pela lei 7/71, com um sistema de apoio à criação de obras. Então foi previsto o IPC (Instituto Português de Cinema), actualmente ICA (Instituto do Cinema e do Audiovisual). Em 1974, com a mudança de regime, houve alterações, com o Estado a assumir o papel de produtor das obras cinematográficas. Depois, na altura de Manuel Maria Carrilho como ministro da Cultura, o objectivo passava pela produção nacional anual de 20 longas-metragens. Em 2004, dava-se corpo a nova legislação no cinema, criando-se um Fundo de Investimento ao Cinema e Audiovisual (FICA), com uma taxa de financiamento a cobrir pelos canais de televisão mas também por distribuidores de cinema e de televisão por cabo, em especial o último sector referido, pois se tem tornado o centro de actividades e de lucros na cadeia de valor do audiovisual e do cinema. O FICA entrou em actividade em 2007, mas, pouco tempo depois, colocava-se o problema do financiamento, tema de críticas recentes, como nos chegam dos media.

Assim, em Portugal, há dois meios principais de financiamento do cinema: o ICA (com orçamento anual de 16 milhões de euros e voltado para o apoio artístico de projectos cinematográficos a concurso) e o FICA (com objectivos mais comerciais de apoio). Além desta área de financiamento, que procura trazer estabilidade ao sector (apesar das críticas), é importante assinalar transformações na área do audiovisual, como a existência de cursos universitários para formar criadores e a base de produção de conteúdos de ficção na televisão desenvolvida pela TVI durante o período em que José Eduardo Moniz esteve à frente daquela rede. Também a aposta em conteúdos de língua portuguesa tem sido um objectivo, e que se reflecte na empregabilidade. Um estudo recente, de Augusto Mateus, apontou para que, por 100 euros que o Estado investe, retornam 30 por via de impostos (IVA, IRS).

Dados recentes da actividade do cinema em Portugal em 2009 apontam para um preço médio de bilhete de cinema de 4,7 €, um total de 577 ecrãs de cinema, sendo 180 digitais, com 73 milhões de € em receita, 82,3% de quota de mercado repartida por três exibidores (a Lusomundo lidera nos mercados da distribuição e da exibição e tem ainda uma forte presença na televisão por cabo), com 50 obras nacionais prontas em 2009 (14 longas-metragens) e que representam (dos 15 filmes nacionais estreados) apenas 2,5% do mercado, um dos mais baixos em toda a Europa. Por resolver, e dada a rápida mutação dos ecrãs para o digital, um modelo de apoio às pequenas salas, nomeadamente fora de Lisboa (o caso do Alentejo é dramático, com Évora a não ter uma única sala de cinema, mas também no Porto, onde a quebra de ecrãs dentro de edifícios na cidade baixou muito nos anos mais recentes). Desde 2007, há um projecto em discussão. É que se, em 2009, o analógico representava 68% do mercado de salas, estima-se que o digital possa ultrapassar este ano o sistema mais antigo.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

GREEN PAPER ON CULTURAL AND CREATIVE INDUSTRIES

  • Green Paper on "Unlocking the potential of cultural and creative industries": The consultation is open to individual citizens and organisations and in particular national, regional or local authorities, the European institutions and associations from the cultural and creative industries. Period of consultation: from 27.04.2010 to 30.07.2010.

    Objective of the consultation: The objective of this consultation is to gather views on various issues impacting the cultural and creative industries in Europe, from business environment to the need to open up a common European space for culture, from capacity building to skills development and promotion of European creators on the world stage. The responses to the consultation will inform the Commission and help it ensure that EU programmes and policies involving cultural and creative industries are "fit for purpose".
More information: European Commission Culture.

EXPOSIÇÃO DE DESENHO HUMORÍSTICO EM LISBOA

No dia 3 de Maio, pelas 17:30, inaugura na Galeria de Exposições dos Paços do Concelho de Lisboa a exposição O Jogo da Política Moderna!, que "constitui uma excelente oportunidade para, a partir do desenho humorístico e da caricatura política e social publicada na imprensa pelos humoristas portugueses da época, mergulhar na política" da I República Portuguesa. Peças das colecções municipais, algumas até inéditas (Hemeroteca Municipal de Lisboa e Museu Rafael Bordalo Pinheiro) [informação da organização].

INTERNATIONAL CONFERENCE ON COMMUNICATION

July, 12-19, 2010

Bitola, Macedonia Hosted by COMMUNIS and International Slavic Institute in Bitola, Macedonia

The International organization for research, training and development COMMUNIS is pleased to announce a five days international and multidisciplinary conference dedicated to the Language of Communication. We are welcoming broad participants, including researchers, educators, students, professors, NGO representatives and other interesting institutional representatives to present their papers, to share their research results and to discuss in all offered topics and sessions. This conference will focus the various types of communications (interpersonal, nonverbal, mass-communications, organizational etc.) between people, groups and organizations in general and the education, economy, history, politics, electronic media, arts (performing art especially) as a part of particular sciences.

The interactivity in those fields of interests enters the aspects of interdisciplinary which is generating new context and completely different observation of the problems and situations not recognizable before. Also, The Language of Communication is a kind of understanding the tendency of cross-culturality as very important and very attractive research point for the modern scientists. Topics of the conference:

1. Mass media and Political Communication
2. Gender and Communication
3. Public opinion and Communication
4. The Rhetoric of Violence
5. Media and Children Education
6. Voting in Transitional Countries (Media Approach)
7. New Media and Former Communists Countries
8. Politics, Nationalism and Media
9. Interculturality and Racism
10. Religion and Media
11. TV and Early Children Education
12. Electoral Campaign and Media
13. Film and Politics
14. Interculturalism and Domestic Politics
15. Family Communications in Eastern and Western European Countries

More information: here

CANAL DE CULTURA ESCANDINAVO

Dois políticos conservadores, um da Noruega e outro da Suécia, publicaram um artigo num jornal em que defendem a criação de um canal cultural de televisão pan-nórdico que contribua para o melhor conhecimento da cultura dos países escandinavos. O projecto seria similar ao fundado há mais de 20 anos pela França e pela Alemanha, o Arte (via Media Network, em texto de ontem).

JORNALISMO DE INVESTIGAÇÃO

Um ano após a Reuters ter começado a desenvolver jornalismo de investigação, a agência informa ir alargar a área como resultado do aumento da procura (ler mais aqui).

quarta-feira, 28 de abril de 2010

TEATRO NACIONAL DE SÃO CARLOS

O maestro britânico Martin André será o director artístico do Teatro Nacional de São Carlos (TNSC) a partir de 1 de Agosto próximo. Substitui Christoph Dammann. Jorge Salavisa será o presidente do Conselho de Administração do Opart (empresa pública que gere o Teatro São Carlos e a Companhia Nacional de Bailado) a partir de 18 de Maio próximo. Jorge Salavisa é o actual director do Teatro de São Luiz (base: notícia do Público Online).

SONDAGENS EM BLOGUES

A ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social) deliberou sobre uma "queixa de Raquel Martins pela publicação de sondagens em blogues de Matosinhos, designadamente no blogue de Narciso Miranda, sem que as mesmas tenham sido acompanhadas das respectivas fichas técnicas exigidas pela lei. Considerando que a Lei das Sondagens supõe a existência de uma intervenção mediada por entidade sujeita a regulação da ERC para que se possa aplicar e verificando que os blogues não são subsumíveis no conceito de órgão de comunicação social, o Conselho Regulador deliberou não dar provimento à queixa apresentada" (sublinhado meu; ver o documento aqui, com data de 17.2.2010).

CANAL DE MÚSICA

Segundo o sítio Meios & Publicidade, a RTP projecta um canal de televisão para a área musical, podendo implicar uma associação com a Portugal Telecom (PT).

APOIO AO CINEMA

Gabriela Canavilhas, ministra da Cultura, afirmou que haverá a entrega de 6,6 milhões de euros pelo Estado ao Fundo de Investimento para o Cinema e Audiovisual (FICA) até final de Junho. Esse valor provém do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN).

terça-feira, 27 de abril de 2010

INDÚSTRIAS CULTURAIS NO BRASIL

  • Lisboa, 27 abr (Lusa) - As diversas indústrias culturais podem vir a representar, para as economias do Brasil e América Latina, um contributo maior do que os setores da soja ou pescas, destacou hoje um responsável do ministério da Cultura brasileiro. "No Brasil e na América Latina as expetativas são de que as industriais culturais representem entre cinco e sete por cento do PIB, mais do que o setor da soja, da pesca ou construção civil", afirmou o secretário do ministro da Cultura do Brasil. Armando Ferreira, que esteve em Lisboa para falar sobre os desafios e oportunidades da língua portuguesa e a sua dimensão cultural, no ISCTE, salientou a importância e necessidade de "investir na cultura, que hoje é um dos setores de ponta da nova economia" [RTP].

MÁQUINAS E ARTE

JAZZ EM AGOSTO NA GULBENKIAN

INDÚSTRIAS CULTURAIS NA UNIÃO EUROPEIA

  • "As indústrias culturais e criativas (ICC) são factor de desenvolvimento, disseram e repetiram estudos científicos revelados ao longo dos últimos anos. E quem pode operar mudanças, os políticos, parece ter já incorporado o discurso. Falta passar à prática. Para isso, como ferramenta, a Comissão Europeia criou um Livro Verde, um documento que pretende estruturar o sector e que veicula uma mensagem clara: se quiser fortalecer-se economicamente, a Europa deve investir mais em sectores como a música, o cinema, os media, a moda, as artes plásticas, o design, a publicidade, a arquitectura, o turismo cultural, as artes performativas ou o património" (Vítor Belanciano, Público Online de hoje) [ver blogue aqui].

TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO

As tecnologias de comunicação são como os supermercados: têm sempre alguma coisa nova. Nos últimos 30 anos, ouvimos continuamente falar de novas tecnologias. De início, o termo referia-se aos gravadores de vídeo ou à televisão por cabo, depois ao computador portátil e agora à internet. Em cada período, as pessoas acreditam que o novo aparelho substitui e elimina o antigo, que os media pessoais substituem os media de massa, que finalmente os indivíduos se expressam sem intermediários e que as novas comunidades (e as redes sociais) juntam as pessoas de todo o mundo. Os reformistas acreditam que uma nova tecnologia resolve os problemas da educação e da democracia, enquanto as Cassandras percepcionam os novos media como uma ameaça à cultura ou aos direitos dos cidadãos.

[tradução livre do começo do livro de Patrice Flichy (2007). The internet imaginaire. Cambridge, MA, e Londres: The MIT Press]

segunda-feira, 26 de abril de 2010

OS DIAS DA MÚSICA

Nos Dias da Música, de sexta-feira até ontem, venderam-se quase trinta mil bilhetes, com uma taxa de ocupação das salas a rondar os 87%. O tema foi As Paixões da Alma.

No próximo ano, o Centro Cultural de Belém acolherá o tema Da Europa ao Novo Mundo, com música criada entre o final do século XIX e o final da Segunda Guerra Mundial.

LIVRO SOBRE CURTAS-METRAGENS

A Agência da Curta Metragem, que promove, programa e distribui a produção nacional de curta-metragem, faz agora 10 anos. Nesse contexto, organiza uma série de iniciativas em que se incluem o lançamento do livro e programa itinerante de cinema Agência, Uma Década em Curtas, o debate "O Futuro Próximo: uma década de curtas-metragens em Portugal" e associação à Festa “Club Docs Indie Party".

O livro será lançado amanhã 27 de Abril, pelas 17:30, no Palácio Galveias (Lisboa). Tem coordenação de Daniel Ribas (investigador universitário) e Miguel Dias (director do Curtas Vila do Conde e Agência da Curta Metragem), em colaboração com Dario Oliveira (director do Curtas Vila do Conde), e reúne uma série de textos da autoria de Miguel Dias, Augusto M. Seabra (crítico de cinema), Daniel Ribas, Davide Freitas (programador e produtor da Agência da Curta Metragem), e entrevistas/conversas a alguns realizadores nacionais por Daniel Ribas, Sérgio C. Andrade (jornalista), Manuel Halpern (jornalista), João Lopes (crítico de cinema) e Rui Xavier (realizador e fotógrafo).

domingo, 25 de abril de 2010

JORNAL 57

Em texto publicado no número 41 da revista Jornalismo e Jornalistas (já aqui referida), Álvaro Costa de Matos escreve sobre O jornal 57 e o Movimento de Cultura Portuguesa: história & memória. Contextualiza o aparecimento do jornal 57: lançado no importante ano de 1957, época em que, apesar da ditadura política, se assistiu a uma forte viragem em parte proporcionada pelo Diário Ilustrado e pela consolidação de revistas e jornais, casos da Vértice (1942-), do Globo (1943-1959), do Panorama (1941-1959), de O Tempo e o Modo (1961-1977), da Revista Filosófica (1951-1958) e de Filosofia (1954-1961).


O jornal 57 editou 11 números, com média de 3 a 4 números por ano, o que revela uma certa irregularidade. Dirigido por António Quadros, contou com a colaboração de outras figuras importantes do pensamento da época, como Orlando Vitorino, Afonso Cautela, Luís Zuzarte, Francisco Sottomayor, Ernesto Palma, Azinhal Abelho, Alfredo Margarido e Ana Hatherly. À colaboração literária juntou-se uma menor colaboração plástica, dada a assunção do texto em detrimento da imagem: Jorge Costa, Santiago Areal, Vieira da Silva e António Botelho.

No jornal 57, António Quadros assumiu o lugar de maior destaque, com textos sobre filosofia da história, estética e arte, existencialismo, ensino, cultura e ciência, dança e cinema, além de recensões e crítica literária. O programa filosófico e cultural do jornal era a filosofia portuguesa, como a conferida por Sampaio Bruno e Leonardo Coimbra, a necessidade dos "novos" assumirem a potencialidade criadora no sentido de um destino e missão como a que Camões, Guerra Junqueiro, Teixeira Pascoaes e Fernando Pessoa assumiram.

Álvaro Matos considera muito elevado o contributo do jornal 57, em especial o dinamismo e valorização da cultura portuguesa e o contributo dado ao conhecimento e divulgação de pensadores como Hegel, Nietzsche, Freud, Voltaire, Balzac, através de traduções, e da publicação de originais portugueses como Afonso Botelho, Natércia Freire e Agustina Bessa Luís.

Álvaro Matos é coordenador da Hemeroteca Municipal de Lisboa e investigador do Centro de Investigação Media e Jornalismo.

BRASÍLIA

Gostei de ler o artigo de Jorge Marmelo sobre Brasília na passada quarta-feira, dia 21 de Abril, no jornal Público (link aqui).

  • "Temos uma qualidade de vida muito melhor do que no Rio de Janeiro ou São Paulo, apesar de os problemas estarem aumentando com o crescimento da cidade e o desenvolvimento das regiões próximas. Mas a violência não é tanta [como noutras cidades brasileiras] e temos um céu lindo. E o traço do arquitecto", diz a bióloga, recordando os versos de Linha do Equador, a canção de Caetano Veloso: "Céu de Brasília, traço do arquitecto/gosto tanto dela assim."

    Victor Alegria, um português de 71 anos que chegou a Brasília há quase 47, fugido do Estado Novo, e que reclama a capital brasileira como uma segunda pátria, tem uma visão equidistante: reconhece os problemas da cidade, da violência e miséria da periferia à inadequação da cidade aos pedestres. "Quem não tem carro, sofre. Brasília é corpo, cabeça e rodas", diz. Mas, acrescenta, "tem possivelmente o melhor nível de vida do Brasil", "uma das melhores assistências médicas, boas moradias, muito lazer e bons restaurantes" [parcela de texto de Jorge Marmelo].
[imagem e vídeo originalmente colocados no blogue em 25 de Novembro de 2008]


sábado, 24 de abril de 2010

O HOMEM DA CABEÇA DE PAPELÃO

Sábado, 1 de Maio pelas 21:00, a Casa da Animação [Rua Júlio Dinis, 210, Ed. Les Palaces, Porto] promove a apresentação pública do filme de animação O Homem da Cabeça de Papelão, com a presença dos autores do filme, Luís da Matta Almeida e Pedro Lino. Estes conduzirão uma conversa informal com público sobre o processo criativo e aspectos ligados à produção da obra.

No mesmo dia será inaugurada a exposição O Homem da Cabeça de Papelão. Apoiado na lógica narrativa do filme, o visitante acompanha os passos do processo de produção: da escrita do guião a um fluxo contínuo de imagens - estudos visuais e de personagens, storyboard, layouts, esboços para animação e desenhos finais – pontuado por algumas peças audiovisuais que revelam line tests, gravação de vozes e making of.

O filme, de Luís da Matta Almeida e Pedro Lino, baseia-se no conto homónimo de João do Rio e conta a história de Antenor, que tinha um defeito terrível: só dizia a verdade, a verdade verdadeira. A família tudo tentou para o curar, em vão. Já adulto, consulta um relojoeiro que lhe oferece uma cabeça de papelão para substituir a sua, enquanto esta estiver a ser arranjada. Com esta nova cabeça nada voltará a ser como antes (informação fornecida pelos promotores). Ver o trailer aqui.

TRIBOS URBANAS

O texto que provocou a leitura alargada ao grupo foi o de Carles Feixa e Laura Porzio, a partir de fotografias de Mireia Bordonada, intitulado "Um percurso visual pelas tribos urbanas em Barcelona", e incluído no livro organizado por José Machado Pais, Clara Carvalho e Neusa Mendes de Gusmão O Visual e o Quotidiano (2008).

Apresenta-se dividido em duas partes, uma teórica e outra empírica, com base nas fotografias de Mireia Bordonada. O texto organiza um percurso através das tribos urbanas conduzido pela máquina fotográfica, procurando os discursos e os significados culturais produzidos em lugares distintos (p. 109).

Assim, a análise debruça-se sobre as culturas e estilos juvenis em Barcelona, a partir da segunda metade da década de 1970, e a produção teórica em volta desse tema. Primeiro, foi a promoção de estudos de opinião sobre consumo cultural e audiovisual e subculturas (culturas emergentes, delinquência juvenil, haxixe), multiplicidade de estilos (el pijo, com identidade da classe alta, marcha nocturna e makinero, como resultado dos novos locais de diversão e da música electrónica). Nos finais da década de 1980 e começo da seguinte, são visíveis os estudos como balanço teórico-conceptual, bem como os trabalhos sobre ultras do futebol, skinheads e okupas e etnografias com novas metodologias e enquanto resultado da expansão da investigação universitária, nomeadamente em teses de doutoramento, além de relatórios aplicados e ensaios gerais. Apesar de espaço escasso, o texto dedicou atenção às culturas juvenis do punk e do hip-hop/rap e do graffiti.

Para a presente década, os autores enunciam três grandes tendências das culturas juvenis em Espanha: 1) activismo (alternativos, antiglobalização, neo-hippismo na moda),  2) cultura da dança (techno, fashion, rave), 3) difusão da internet e geração de "culturas de quarto" e comunidades virtuais (cyberpunks, hackers).

As culturas juvenis mostram hibridação e identidades variáveis e efémeras. Nos meus próprios contactos, verifiquei as conclusões do texto. Após a leitura, uma entrevistada dizia que, quando se procura o mundo do trabalho, há a tendência para retirar piercings e disfarçar tatuagens. O jovem adulto considerava o graffiti como um período curto na adolescência, reconhecendo o risco e a imaturidade dessa intervenção cívica. Outros leitores falaram de subculturas que o texto não indica: os emos, as lolitas. A sua análise fica para outra ocasião.

Leitura de base: Carles Feixa, Laura Porzio e Mireia Bordonada (2008). "Um percurso visual pelas tribos urbanas em Barcelona". Em José Machado Pais, Clara Carvalho e Neusa Mendes de Gusmão (org.) O Visual e o Quotidiano. Lisboa: ICS, pp. 87-113

sexta-feira, 23 de abril de 2010

IEN ANG EM LISBOA

Ien Ang, conhecida mundialmente pelo seu texto Desperately seeking audiences (1991), estará em Lisboa (Universidade Católica Portuguesa, edifício da Biblioteca Universitária João Paulo II, Sala Brasil) na próxima quarta-feira, dia 28 de Abril, às 15:00. Título da conferência: Making Art and Scholarship Matter: Navigating the Collaborative Turn.

A professora Ien Ang lecciona Estudos Culturais e é directora fundadora do Centre for Cultural Research da Universidade de Western Sydney.

DIA MUNDIAL DO LIVRO

O Diário de Notícias de hoje dedica três páginas ao Dia Mundial do Livro, focando os dez anos de existência de livros electrónicos no país.

Lê-se no começo do trabalho de Pedro Fonseca: "Mais de dez anos após o lançamento dos primeiros livros electrónicos em Portugal, é hoje lançada a primeira associação entre um fabricante de leitores de livros electrónicos (e-reader) e uma editora nacional. A Samsung revela o seu E60 (disponível em Junho) e a parceria com a Babel para disponibilizar conteúdos multimedia para esses dispositivos".

José Afonso Furtado, especialista em livros electrónicos, tema sobre o qual tem escrito muito, aparece no jornal a dizer o que pensa sobre os novos livros. Para ele, "A tendência é para a compra de fragmentos de informação. Os utilizadores querem apenas a informação de que necessitam, numa filosofia de acesso cada vez mais rápido e permanente e de qualquer local".

MUTAÇÃO DAS INDÚSTRIAS CULTURAIS (II)

A rádio e a televisão não são hoje prisioneiras das ondas hertzianas como nas décadas passadas. Com a internet, já não existem os constrangimentos ao crescimento de canais de distribuição. Por isso, não se pode dizer que a rádio é somente FM ou a televisão VHF e UHF como se não diz que o jornal tem apenas edição em papel.

A rádio tem outro aspecto a salientar. Os estudos de opinião indicam que as pessoas gostam de ouvir rádio, mas os programadores tendem a introduzir histórias nos seus programas. Os ouvintes acabam por ser “apanhados” pelas narrativas. O Jogo da Mala da Renascença foi um êxito na década de 1980, com António Sala como um dos radialistas protagonistas. Na RFM, quando a radialista da manhã Carla Rocha resolveu casar o tema foi muito discutido dentro do programa. As histórias do nascimento do seu filho e a substituição dela durante a sua ausência por maternidade e o concurso criado para encontrar outra radialista trouxeram picos de audiências à estação.

A rádio continua a manter uma característica fundamental, a da criação e manutenção de uma comunidade de ouvintes, quer na rádio linear e hertziana quer na rádio não linear e de internet. As redes sociais acreascentam-se como novo espaço de ligação entre rádio e comunidades, como o Facebook. A estratégia principal é ter uma comunicação apelativa em FM e mantê-la no online.

A internet possibilita também a existência de acções de promoção de programas e a subsequente possibilidade de captação de investimento publicitário que tem escapado aos media tradicionais. Estima-se que o retorno publicitário da rádio na internet atinja um valor de 3 a 5%, pequeno ainda mas com grandes possibilidades de crescer, a partir de um investimento nos novos media por parte das estações na ordem dos 20%/30% anuais.

[Ver primeiro texto deste tema em 10 de Abril de 2010]

ANTÓNIO SALA EM ANÁLISE NO PÚBLICO

Saído da Rádio Renascença há pouco tempo, o radialista fala das suas memórias profissionais em entrevista. A ler.

AFINAL, FELISBELA LOPES NÃO SERÁ PROVEDORA

A mesma fonte, onde li ontem sobre a possível nomeação de Felisbela Lopes para provedora do telespectador da RTP, indica hoje que o Conselho de Opinião daquela estação pública rejeitou o nome. Agora, fala-se em José Rebelo, docente do ISCTE e membro do próprio Conselho de Opinião da RTP.

INVESTIMENTO PUBLICITÁRIO EM MARÇO DE 2010

Segundo a Media Monitor, a Euro RSCG foi a agência com mais investimento publicitário durante o mês de Março, com € 35,5 milhões, a preços de tabela, seguindo-se a Ogilvy & Mather (€ 28,9 milhões) e a Publicis (€ 23,9 milhões). Dos anunciantes, o primeiro é Unilever (€ 20,3 milhões), seguido pela P&G (€ 13,8 milhões) e a L’Oreal (€ 13,1 milhões) [fonte: Meios & Publicidade].

quinta-feira, 22 de abril de 2010

FELISBELA LOPES APONTADA PARA PROVEDORA DO TELESPECTADOR

Felisbela Lopes, docente da Universidade do Minho e pró-reitora daquela universidade, está apontada para suceder a José Manuel Paquete de Oliveira, que cessa agora as suas funções. De Felisbela Lopes, cuja obra no domínio da televisão é notável, tem-se escrito aqui no blogue.

Votos de muito sucesso no novo cargo.

CURSO DE FOTOGRAFIA

A partir de 18 de Maio, às terças-feiras, durante seis semanas, com cada sessão das 20:00 às 22:00, vai começar o curso O Fotográfico como Retrato e "Readymade". O curso "experimentará em torno destas questões, convocando o readymade, a fotografia, o cinema, a pintura e o digital, o rosto e o corpo, a identidade, a paisagem e a cartografia, a ausência e a presença, o verdadeiro e o falso, a realidade e a fantasia, a unicidade e a multiplicidade" (texto da organização). Professor: José António Leitão. Saber mais aqui.

CULTURASCÓPIO

Dora Santos Silva, do blogue Culturascópio, modernizou a imagem do seu meio de comunicação, aproximando-o de um sítio. Bem estruturado e com rubricas distintas e actualizadas. Envio daqui as minhas congratulações.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

CALL FOR VIDEOS

Audiovisual Thinking is the world's first journal of academic videos and now announces the launch and Call for Videos of that online journal. Audiovisual Thinking is a pioneering forum where academics and educators can articulate, conceptualize and disseminate their research about audiovisuality and audiovisual culture through the medium of video. International in scope and multidisciplinary in approach, the purpose of Audiovisual Thinking is to develop and promote academic thinking in and about all aspects of audiovisuality and audiovisual culture. Advised by a board of leading academics and thinkers in the fields of audiovisuality, communication and the media and hosted by Copenhagen University, the journal seeks to set the standard for academic audiovisual essays now and in the future. The Audiovisual Thinking Journal is edited by (in alphabetical order): Thommy Eriksson, Chalmers University of Technology, Göteborg, Petri Kola, University of Art and Design, Helsinki, Sanna Marttila, University of Art and Design, Helsinki, Oranit Klein Shagrir, Hebrew University, Jerusalem, and Inge Sørensen, University of Copenhagen. Video submissions are welcome from all fields of study - namely from the areas of the Arts, Journalism, Media and Communication studies - and, as one would expect, the main criteria for submissions are that the discussion and thinking are conveyed through audiovisual means. Submit your video here.

AUDIÊNCIAS DA RÁDIO (1º TRIMESTRE DE 2010 FACE A 2009)

Foram divulgados pela Marktest os dados referentes à audiência de rádio no primeiro trimestre de 2010. Coloquei os dados de share de audiência comparando-os com igual período de 2009.

Rádio Sim e Mega FM (Grupo Renascença), M80 e Cidade FM (Grupo Media Capital Rádio) e Antena 3 (Grupo RDP) foram estações que subiram. O reach semanal (indicador do número de indivíduos que ouvem rádio pelo menos uma vez por semana) diminuiu de 83,5% em 2009 para 80,8% em 2010 (universo: 8311409 indivíduos com mais de 15 anos em Portugal continental).

CONVERGING PATHWAYS TO NEW KNOWLEDGE

"Technology has brought fundamental change into our society ─ change that we can describe in tectonic terms as a ‘digital shift’. However, this digital shift is about much more than new online tools, greater efficiency, speed or relentless tides of information. Technology has changed how we think. The digital shift is about new ways of working, new ways of reflecting, new approaches to problem solving and, as a result, new ways of building and sharing knowledge" (Katherine Watson, Director of LabforCulture, Converging Pathways to New Knowledge, 2010).

SALAMANCA NA SEMANA SANTA

terça-feira, 20 de abril de 2010

TVI

André Cerqueira é o novo director de programas da TVI. Passa a acumular com o cargo de director da Plural, empresa do grupo dedicada à ficção. Substitui Luís Cunha Velho, responsável pela direcção de programas desde Agosto de 2009, quando José Eduardo Moniz saiu.

UM DIA A FALAR DE IMAGENS

4 de Dezembro de 2006.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

LEITURA FRESCA DA REVISTA JJ

Recebi agora o número 41 da revista Jornalismo e Jornalistas, com quatro temas de capa: blogosfera e media, imprensa e ambiente, entrevista ao anterior provedor do leitor do jornal Público e história do jornal 57. No interior, destaco o artigo de António Granado.

Trata-se de um número a quem vou dedicar especial atenção, pelo que li e pelo que concordo e discordo. No primeiro tema, os blogues são apreciados do ponto de vista interno dos jornalistas (ou colunistas de jornais), pelo que não há uma tese que conduza ao ponto de interrogação. Lembro que o assunto foi levantado no primeiro encontro de blogues promovido pela Universidade do Minho em 2003, pensando-se que a blogosfera poderia substituir o jornalismo. Além disso, o título situa os media mas o que vemos são jornalistas a falarem da blogosfera, o que me parece igualmente não bem conseguido no texto (embora haja uma entrevista a uma jornalista da rádio e outra a um jornalista da televisão).

Do trabalho de Rui Brito Fonseca, há uma análise de 388 artigos sobre ambiente em jornais nacionais no período de 1976 a 2005, com três tópicos: tema, discurso do risco e do benefício, e newsplay (que o autor não traduz e causa algum embaraço - será desempenho da notícia? papel da notícia? impacto da notícia? agendamento?, relacionado com destaque, dentro de uma lógica de sensacionalismo). As figuras, com recurso a gráficos, são ininteligíveis (o ideal é pôr quadros clássicos com números dentro). Da bibliografia, sinto a falta dos textos de Luísa Schmidt e de Gonçalo Pereira, para mais vindo de um estudante de doutoramento do ISCTE. Contudo, fica um registo de interesse, quando o autor assinala 1986 como ano em que os jornais começaram a prestar mais atenção aos temas do ambiente, devido à entrada do país na União Europeia e porque os governos começavam a ter mais estabilidade política.

Salto para a crónica de António Granado. Fixo-me em dois pontos, o primeiro sobre o ensino do jornalismo estar desfasado da realidade social, tecnológica e económica, o que considero ser um bom tema para discussão. O segundo é sobre o conceito e prática do gatekeeper, que o jornalista e docente universitário entende já não ter razão de existir. Aqui não me parece haver razão em António Granado. Ao jogar com os termos ingleses gatekeeper (aquele que selecciona assuntos para notícias) e gravekeepers (guardadores de sepulturas), não explica que hoje existem novos gatekeepers. O manancial de informação é tão grande que cada cidadão precisa de quem escolha e aponte perspectivas. Nós não conseguimos ver 500 canais de televisão ou um milhar de sítios da internet por dia. Ao princípio, ficamos fascinados com a oferta exuberante mas, depois, rendemo-nos a dois a três canais ou dois ou três sítios, por manifesta falta de tempo e de critérios de auto-selecção. Penso sempre no que escreveu Anthony Smith sobre a abundância da informação e no que Michael Schudson disse quando reflectiu que o mundo precisa dos jornalistas como aqueles que separam a notícia dos acontecimentos e fazem uma interpretação desses factos.

A revista Jornalismo e Jornalistas é uma publicação regular do Clube dos Jornalistas. Tem uma informação na ficha técnica (p. 3) que, infelizmente, já não corresponde à verdade: o programa de televisão CJ acabou em 16 de Dezembro de 2009, como se pode ler aqui.

domingo, 18 de abril de 2010

SALAZAR E A BBC

Nelson Ribeiro, que defendeu tese de doutoramento o ano passado, publica agora um artigo na revista Journalism Studies vol. 11, nº 2, de 2010, intitulado "Salazar's interference in the BBC Portuguese Service during World War II", onde salienta os limites da independência jornalística do serviço europeu da BBC durante os anos da Segunda Guerra Mundial (ver vídeo que coloquei no blogue, aqui).

Armando Cortesão, irmão do conhecido historiador Jaime Cortesão, era um refugiado político português em Londres. Trabalhava para o serviço europeu da BBC, mas as influências do governo português - nomeadamente através do embaixador Armindo Monteiro - fizeram com que o comentador e radialista saísse da rádio britânica. Além das boas relações criadas por Armindo Monteiro, o governo de Salazar contava com o coronel Frederick Clement Egerton, que visitara Portugal e escrevia sobre o nosso país e o regime do Estado Novo.

Abstract do artigo aqui. Ver o vídeo com Bob Franklin, a apresentar a edição de Abril de 2010, em que aparece o artigo de Nelson Ribeiro, aqui.

WHAT A STORY

Elizabeth Bird (1997: 101) escreveu que as pessoas retêm como notícias aquelas com características memoráveis como o escândalo. Num outro texto, escrito em parceria com Robert Dardenne (1993: 276), concluiu que, apesar das notícias não serem ficção, elas contam uma história sobre a realidade, contêm partes sedutoras nas suas narrativas. Há um lado das notícias que nos espanta, que nos marca pela sua imprevisibilidade e impacto, que nos leva a dizer "que coisa estranha", "que tipo de história".

Isto vem a propósito do quadro noticioso que se fazia na quinta-feira a propósito do vulcão da Islândia. Uma pessoa avisada dizia-me que o mundo parecia estar a acabar, devido à sucessão de acidentes naturais mais recentes. Recordo os terramotos do Haiti e do Chile, a tromba de água na Madeira e no Rio de Janeiro, um pequeno tornado em Lisboa. Ela não se lembrava que os acidentes naturais fazem parte da natureza em si e que a televisão encontra imagens espectaculares nesses acidentes, de uma beleza inaudita mesmo que se trate da tragédia mais profunda, pelo que amplifica o efeito de um modo quase ensurdecedor.

Parece que a natureza quer rivalizar com as imagens prodigiosas do cinema de animação em 3D. Estas, afinal, não passam de pálida representação das possibilidades da natureza em mostrar simultaneamente o belo e o feio, que o fotógrafo e o cineasta captam esteticamente mas que o operador de televisão aproveita para impacto imediato.

O quadro noticioso do vulcão mudou rapidamente. Um assunto, para se manter no ar, precisa de novos enquadramentos, de novas histórias. Na sexta-feira, a questão natural tornou-se económica: os aviões que não podem voar, as pessoas que ficam retidas no aeroporto, Angela Merkl que não pode regressar à Alemanha, o presidente da República que vem de automóvel da República Checa até Barcelona, os comboios no canal da Mancha com lotação esgotada, os hotéis cheios em Paris. Hoje, a notícia aponta para uma situação económica na aviação pior que no 11 de Setembro de 2001 após o ataque que provocou a queda das torres gémeas de Nova Iorque. Num sentido mais prosaico, os países do sul da Europa, mais sujos (pig, no inglês), mantêm os vôos, que se tornam impossíveis nos países do norte, considerados mais limpos. De repente, o canal noticioso alargava-se com novas histórias.

Logo de imediato, esqueceu-se o quadro inicial da sucessão de acidentes naturais - ampliados pelas violentas imagens dos media, em especial a televisão, com um apelo inconsciente ao medo, como noutros casos ao escândalo - e passa-se a uma multiplicidade de histórias, o que torna (auto-)centrais os media na sociedade. A informação não se reduz à notícia mas amplia-se com a história.

Escreveram Bird e Dardenne (1993: 266) que as notícias criam ordem a partir da desordem, transformam o saber em contar. E traduzem o espanto do impacto do desastre natural, do escândalo e do crime numa história que nos leva a conversar e a recordar.

Leituras: S. Elizabeth Bird e Robert W. Dardenne (1993). "Mito, registo e «estórias»: explorando as qualidades narrativas das notícias". No livro de Nelson Traquina (org.) Jornalismo: questões, teorias e «estórias». Lisboa: Vega
S. Elizabeth Bird (1997). "What a story! Understanding the audience for scandal". No livro de James Lull e Stephen Hinerman (ed.) Media scandals. Cambridge: Polity Press

sábado, 17 de abril de 2010

MEMÓRIA FUTURA


Demian Cabaud Quarteto, Saxofínia + Banda da Armada Portuguesa, Bernardo Sassetti Trio. Ambientes sonoros distintos, públicos variados, horas imperdíveis.

UM DIA LONGO E VARIADO

O músico usava sapatos de modelos diferentes em cada pé. O sociólogo fez as contas em contos, manifestando a desadaptação ao euro. Os jovens explicaram-me as razões porque usam tatuagens. Hibridismo cultural, pensei eu.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A DEMISSÃO DE MARTIM AVILLEZ

"Martim Avillez Figueiredo, director do diário i, do grupo Lena, demitiu-se do cargo. Numa carta dirigida à administração do jornal, Avillez Figueiredo afirma sentir-se «defraudado». [...] Segundo informação da Lusa, André Macedo, director executivo do jornal, foi convidado a assumir o cargo, mas só dará uma resposta na segunda-feira" [Público online].

Havia uma certa previsibilidade na ocorrência, a partir do momento em que sairam notícias dando conta que o grupo Lena pretendia vender o diário e os jornais regionais que detém a propriedade. Depois, ao longo dos meses de existência do i, as vendas não subiram muito. O mercado de jornais em papel está muito difícil e um diário novo enfrenta uma concorrência muito grande. A incerteza quanto ao futuro torna-se maior.

LIVROS DE ANTÓNIO QUADROS EM CONSULTA

António Quadros Ferro é neto de António Quadros e bisneto de António Ferro e Fernanda de Castro, tendo criado o blogue António Quadros para falar da vida e da obra desse seu familiar. Agora, informa que a biblioteca de António Quadros está disponível para consulta na sede cultural da Fundação António Quadros, em Lisboa.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

TEATRO DA VERTIGEM

À procura de emprego, de Michel Vinaver, no Teatro da Vertigem, Bela Vista, S. Paulo, no dia 20 de Abril de 2004.

SOBRE MUSEUS

Maria Vlachou é mestre em Museologia (University College London, 1994), com uma tese sobre a temática do marketing de museus. Além de outras actividades gratificantes ao longo da década, ela é directora de Comunicação do Teatro Municipal São Luiz desde 2006. Agora, iniciou um blogue, Musing on Culture, em que os tópicos principais são os museus, o teatro, a arte e a cultura. Vale a pena consultá-lo.

WORLD INTERNET POLICY PROJECT (WIP2) WORKSHOP - CALL FOR PAPERS

ISCTE, Lisbon, Portugal (6 July 2010).

The increasing centrality of the Internet has made it the focus of policy and regulatory initiatives around the world. Members of the World Internet Project are building on their collaborative network to identify and track key policy developments around the world in ways that can capture trends and better inform debate aimed at avoiding the over- or under-regulation of one of the most important information and communication technology developments of the digital age.

This workshop in Lisbon will be the first organized around the World Internet Policy Project (WIP2), and will be linked to the annual World Internet Project meetings that will follow immediately after the workshop.

The organizers of the workshop invite abstracts of papers or presentations from among but also beyond the WIP membership, who wish to participate in this first workshop. Proposed papers or presentations would be welcomed on such topics as:

- freedom of expression
- privacy and data protection
- copyright and intellectual property

Organizers include: Gustavo Cardoso, LINI – Lisbon Internet and Networks Institute; William Dutton, Oxford Internet Institute; and Jeffrey Cole, Centre for the Digital Future (USC).

COMUNICAÇÃO E A INDÚSTRIA CULTURAL DA MÚSICA

Participação de Pedro Costa, director da editora Clean Feed/ Trem Azul, hoje, às 15:00, no anfiteatro 0.5 do Complexo Pedagógico da Penha da Universidade do Algarve, em Faro. Organização colaborativa de: Departamento de Comunicação, Artes e Design (Universidade do Algarve), CIAC (Centro de Investigação em Artes e Comunicação) e AGM (Associação Grémio das Músicas).

SONHO

Sonhei que morava nesta praça e ia todos os dias à biblioteca municipal ler jornais. Vi pessoas que comiam gelados e se sentavam no chão a fazer palavras cruzadas ou a cantar ou a apanhar sol. Outras estavam nas esplanadas a beber champanhe, a desenhar para a próxima exposição ou simplesmente a conversar. Só não me lembro se havia churros com chocolate na pastelaria Torres.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

CONFERÊNCIA DE BRIAN WINSTON

The Myth of the Information Revolution foi o tema da conferência de Brian Winston ontem, dia 13, na Universidade Católica Portuguesa (Lisboa). Docente da Universidade de Lincoln (Reino Unido), Winston tem escrito sobre os media em geral e a rádio em particular.

Winston citou Raymond Williams, Marshall McLuhan e Fernand Braudel. Foi sintomática a sua simpatia para com as teorias deste último, a quem pediu emprestadas as ideias de acelerador e travão para se referir à ciência e à tecnologia. Usando a semiótica, e a distinção entre langue e parole, a ciência envolve a tecnologia - ou esta evolui dentro daquela e de acordo com o interesse da sociedade. Por isso, Winston salientaria o moldar social da tecnologia.

O conceito de Winston ideação aplica à relação entre protótipo da tecnlogia, invenção (que é uma transformação desta naquela) e o número de indivíduos envolvidos nessa transformação. O cinema é um bom exemplo: ao mesmo tempo, inventores nos Estados Unidos, na Alemanha, na Inglaterra e em França estavam a patentear o cinema, no ano de 1895.


terça-feira, 13 de abril de 2010

O MUSEU COMO LUGAR DE DISTINÇÃO PARA TODOS

A primeira edição do livro de Karsten Schubert, The curator's egg, é de 2000, reimpresso em 2002 e, agora, em 2009, com um novo capítulo. É a terceira edição do texto que eu acabei de ler, e que considero uma das leituras mais interessantes deste ano.

Schubert faz primeiro uma análise diacrónica dos museus, desde o século XVIII. O primeiro museu no sentido moderno foi o do Louvre, edificado num palácio outrora casa real, e que se tornou um repositório de grandes colecções reais. O Louvre como o conhecemos nasceu após a revolução francesa de 1789, apesar de já ter sido discutido ainda no ancien régime, nomeadamente pelo conde de Angiviller. O que até ao final do século XVIII era um privilégio de visita apenas para a aristocracia passou para o domínio público mais vasto. Aberto em 1793, a posição política assumida era que o museu teria um papel central na formação da nova sociedade. Dominique-Vivant Denon colocou obras de Rafael na Grande Galerie e convidou Napoleão a visitar o espaço. Havia uma explicação forte: às vitórias militares de Napoleão tinham significado a vinda de tesouros de arte oriundos do Vaticano, da Áustria, da Alemanha e da Itália, nomeadamente.

O British Museum, apesar de mais antigo, pois foi criado em 1759, tinha outra filosofia, pois nessa altura ainda não era encarado como museu propriamente dito. Não estava instalado num antigo palácio real, não reunia colecções pertencentes inicialmente a entidades reais, aristocráticas ou eclesiásticas e não tinha uma visão propagandística. Mas, com a ascensão política e imperialista da Inglaterra, o museu adquiriu igual estatuto. Mais tarde, o mesmo aconteceria com a Alemanha, a partir da década de 1870 e com mais ênfase a partir de 1900. Representantes dos museus, ajudados por diplomatas, exércitos e armadas, escrutinavam todo o globo. Por isso, a pedra roseta acabou por ficar em Londres após a derrota napoleónica, os franceses tentaram impedir a ida dos mármores do Partenon para Londres, ingleses e franceses disputaram os palácios da Suméria.

Em Berlim, a figura de Wilhelm Bode como responsável dos museus prussos e director do departamento de pintura e escultura emerge como principal protagonista. Por Bode passaram muitas aquisições e doações de colecções, além das suas enormes qualidades de académico e investigador. Por exemplo, entre 1897 e 1905 publicou o catálogo completo da pintura de Rembrandt. A aquisição do Altar do Pergamon (1878) e da Porta Ishtar da Babilónia tornaram Berlim o centro dos museus da Europa e do mundo. Depois, a aquisição de obras impressionistas e expressionistas, além da arte de outras partes do mundo, possibilitaram o erguer da ilha dos museus. A Segunda Grande Guerra e a partilha de Berlim entre aliados e soviéticos em 1945 veio interromper o florescimento daquele espaço, só retomado nos anos a seguir à queda do muro de Berlim em 1989.

Já no século XX, o centro mundial dos museus vira-se para Nova Iorque. Novas correntes, a distinção entre museus de origem pública e privada, o apoio directo e contínuo a artistas que permitiriam dar conta da evolução do trabalho destes ao longo de anos e décadas, a colocação de museus em blocos semelhantes aos habitacionais, numa integração do museu no tecido urbano, foram algumas novas características criadas e desenvolvidas nos Estados Unidos e, em especial, em Nova Iorque. A Segunda Grande Guerra permitiu ainda uma larga aquisição de obras europeias, dada a situação de conflito nos principais países do nosso continente, ajudada pelo poder financeiro americano. Schubert enfatiza a criação do Museum of Modern Art (MoMA). Alfred Barr desenhou o MoMA como laboratório em que o público devia participar e uma marca corporativa forte, isto é, o primeiro museu mundial dedicado somente à arte moderna. O expressionismo abstracto teve o seu apogeu nas exposições deste museu, reflectindo igualmente a própria produção americana. Também Thomas Kren e o Guggenheim têm lugar no texto de Schubert, nomeadamente a ideia de franchise como o museu de Bilbau, o que permite a circulação de obras pelo mundo. Ora, o autor chama a atenção para a habitual fragilidade das obras e para a contextualização destas com o espaço onde habitualmente estão, ilustrando alguns fracassos de exposições.

O grande momento seguinte, segundo Schubert, seria o Centro George Pompidou, criado pelo presidente francês logo após os acontecimentos estundantis de 1968. O museu perdia a autoridade e infabilidade anteriores e tornava-se parte integrante das práticas quotidianas, associadas a uma definição mais lúdica de cultura. O plano arquitectural pertenceu a Renzo Piano e Richard Rogers, em que a parede como separador desaparecia e dava lugar à flexibilidade, adaptando os espaços às necessidades de cada exposição. Por outro lado, desenvolvia-se a conceptualização de época em exposição por oposição à narrativa linear do MoMA. Mas, do mesmo modo que o museu americano, o museu francês também dedicou uma grande importância aos catálogos, o que aconteceria igualmente com a Tate Modern (Londres).

No seu livro, Karsten Schubert presta atenção à relação entre o curador, o artista, os donos dos museus (instituições, fundações, doadores) e as audiências. Nomeadamente a partir da década de 1980, os curadores passaram a preocupar-se com os orçamentos e a necessidade de organizarem exposições apropriadas a grandes massas. As áreas como cafetarias, restaurantes e lojas de venda de produtos relacionados com os museus ganharam peso. O museu adquiria uma posição de local de entretenimento e de informação, deixando para trás a ideia do museu como local de observação lenta e atenta da obra. As décadas seguintes reforçaram esta tendência, abrindo espaço às instalações e à fotografia, com criação de percursos que facilitassem a circulação dos visitantes, caso da pirâmide do Louvre que funciona como entrada mais fácil de acesso ao museu.

Contudo, as últimas palavras do livro de Schubert vão no sentido do museu como elitista, embora para toda a gente. A leitura atenta, a fruição, o conhecimento adquirido do visitante precisam de ter da parte do curador espaço para investigar e tornar acessível mas com produção intelectual profunda. E o autor explica a importância dos grandes museus institucionais, como locais de grandes repositórios de obras, e os museus mais pequenos, de colecções de época ou corrente ou artista, com lógicas diferentes de exposição (nas imagens seguintes, obra de Joana Vasconcelos, da exposição Sem Rede, na Fundação Berardo, de Março a Maio de 2010, e entrevista a António Cachola, em Abril de 2009, em visita ao MACE - Museu de Arte Moderna de Elvas).



Leitura: Karsten Schubert (2009). The curator's egg. Londres, Manchester e Santa Monica, CA: Ridinghouse, 187 p., 21,45 €

segunda-feira, 12 de abril de 2010

IMPRESSÃO SOBRE O JORNALISMO

Muitos editores de jornais e dos meios audiovisuais acham que o jornalismo está em declínio e metade deles acredita que os empresários sairão do negócio se não encontrarem outras fontes de receita (New York Times).

CRUZAMENTO DE TEATRO, CINEMA E MEIOS DIGITAIS

Em Abril de 2009, a Universidade do Algarve organizou o I Simpósio Internacional em Comunicação, Cultura e Artes no âmbito das actividades do CIAC (Centro de Investigação em Artes e Comunicação). O objectivo era cruzar diferentes formas de expressão artística e comunicacional, casos do teatro, do cinema e dos novos ambientes digitais. O livro nasceu dessa realização.

A organizadora da obra é Gabriela Borges, docente daquela universidade. O livro inicia uma nova colecção, fruto da colaboração do CIAC com a editora Gradiva, sendo Mirian Tavares, docente da Universidade do Algarve, a sua coordenadora. Como indiquei acima, os textos abordam o teatro (António Branco, David Antunes, José Simões de Almeida Junior, José Paulo Pereira), cinema (Mirian Tavares, Rosana Soares, Hudson Moura), autoria (Ana Isabel Soares, Josette Monzani, Gabriela Borges) e meios digitais (Erik Felinto, Bruno Silva, Nelson Zagalo).

Leitura: Gabriela Borges (org.) (2010). Nas margens. Ensaios sobre teatro, cinema e meios digitais. Lisboa: Gradiva, 214 p., 14 €

domingo, 11 de abril de 2010

FALTA INTERNACIONALIZAÇÃO DA CULTURA PORTUGUESA

"Os artistas e produtores culturais portugueses continuam a não pensar à escala internacional. Em 2008, só sete por cento dos espectáculos portugueses foram vendidos para circuitos externos, menos de metade dos espectáculos vindos de outros países que os portugueses consumiram. Falta também perspectiva mundial: quer na importação, quer na exportação, os nossos parceiros são sobretudo a Europa - a Espanha, em particular" (Público, pp. 12-13 na edição em papel; Público online).


[a partir de estudo realizado pelo Observatório das Actividades Culturais (OAC) para o Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais - GPEARI - do Ministério da Cultura sobre a mobilidade internacional dos artistas e outros profissionais de cultura]

CINEMA QUE PARECE CINEMA

Alain Resnais nasceu em 1922 e o seu mais recente filme é Ervas Daninhas (2009), um manifesto muito modernista do cinema. A história é, aparentemente, simples: um homem de mais de 50 anos (André Dussollier) encontra uma carteira que pertence a uma mulher (Sabine Azéma). Entrega a carteira na polícia, mas procura descobrir quem é a mulher. Traça-se uma relação estranha de aproximação e afastamento entre os dois, o homem casado mas com uma mulher que o compreende e aceita até certo ponto (Anne Consigny), embora o filme não nos dê muitas indicações. Os aviões são um elemento mais fino dessa relação esboçada, acabando o filme (um dos finais do filme) com o homem a pilotar uma avioneta que era previamente conduzida pela mulher. O polícia que serve de ligação entre ambos é uma personagem estranha e interessante, ao mesmo tempo.

O que mais interessa no filme é a forma: a voz off que revela os pensamentos das personagens, a abertura do filme mostrando as ervas do chão, a nascerem de entre as fracturas do asfalto da rua, os sapatos dos transeuntes (e a compra de sapatos por parte da mulher personagem central do filme), o uso de imagens de computador quando o pequeno avião cai aparentemente (só se vê a marcha irregular dele no avião e um ténue estrépido), com a apresentação de uma paisagem quase perfeita de floresta e campos de cultivo e jardins, como se fosse um blockbuster americano de animação tipo Avatar. Também a iluminação das personagens me impressionou, com clichés remetendo para a memória do cinema, e o imenso humor. O filme não é verosímel, é uma construção, uma ilusão, e o segundo final ilustra isso, género: "mãe, se fosse um gato podia comer os croquetes"? Fica uma agradável sensação ao ver o definitivo fim na película.

sábado, 10 de abril de 2010

CROSSROADS IN CULTURAL STUDIES - CALL FOR HOSTS: 2012

The Association for Cultural Studies (ACS) seeks proposals from individuals and institutions interested in hosting the biannual “Crossroads in Cultural Studies” conference in 2012.

Founded in 2002, the Association for Cultural Studies (ACS) aims at forming and promoting an effective worldwide community of cultural studies. It is intended as a tool for building strong interdisciplinary and transnational connections by offering meaningful meeting places for the great diversity of committed scholars in this field. The ACS helps establish, maintain and strengthen contacts between cultural studies scholars and workers across different disciplines and within as well as between the different countries and regions of the world, by spreading information and encouraging collaborative work, facilitating the creation and linking of local, national and regional cultural studies groups.

The most important event ACS organizes to achieve these objectives is the Crossroads in Cultural Studies Conferences, which were started in 1996 in Tampere, Finland. Although cultural studies was becoming increasingly international and multi-centered – or rather centerless because of its virtual nature – cultural studies people had scarce opportunities to see each other, to exchange ideas and to socialize. The Crossroads in Cultural Studies Conferences were designed to fill this gap in the cultural studies community.

The Crossroads in Cultural Studies Conferences are not organized around specific themes. Subthemes inform plenary and spotlight sessions and individual panels. The 2010 Crossroads conference will be held in Hong Kong. Previous locations include: Tampere, Finland;  Birmingham, England; Urbana, Illinois, USA; Istanbul, Turkey; Kingston, Jamaica.

[ACS - The Association for Cultural Studies]

LIVRARIAS BERTRAND COMPRADA PELA PORTO EDITORA

A Porto Editora vai comprar a cadeia de livrarias Bertrand, o clube Círculo de Leitores e várias editoras até agora detidas pelo grupo editorial alemão Bertelsmann (Público online, às 8:33).

Com esta aquisição, o mercado editor português do livro e das livrarias fica mais concentrado. Na área editorial, passam a existir dois grandes grupos, Porto Editora e Leya. Juntas facturaram mais de 180 milhões de euros em 2008, com uma quota de 47%. Também a Almedina tem um papel importante nesta distribuição do mercado português. Quanto a livrarias, a Bertrand disputa a liderança com a FNAC, embora a aposta seja distinta, com o grupo francês a alojar-se em centros comerciais e a Bertrand a ter lojas também nas principais artérias das cidades.

Ainda segundo a notícia do Público, também em edição de papel, um estudos de mercado da GfK indica que o sector do livro facturou 137 milhões de euros entre Janeiro e Novembro de 2009, mais 7% face a 2008.

MUTAÇÃO DAS INDUSTRIAS CULTURAIS (I)

Nas indústrias culturais de hoje, notam-se algumas tendências, de que aqui deixo um rápido traço. A primeira é a da revolução digital, cujas principais implicações são a redução de barreiras à entrada de novos grupos de media, com quebra de valor de investimento inicial. Se, até algum tempo atrás, havia um investimento avultado em estúdios de televisão, linha gráfica, equipas, o simples acesso à internet através de computador permite fazer muitas das actividades. O Google e o YouTube são bons exemplos. Numa escala mínima, neste blogue, consigo colocar imagens e vídeos a custo zero.

A digitalização permite a distribuição de conteúdos em mais plataformas, com mais qualidade e preço mais reduzido. Algumas dessas plataformas estão a emergir, como o iPad ou a webTV. As tecnologias aproximam os até então diferenciados produtores e consumidores, naquilo a que muitos autores chamam de cultura pro-am (profissional e amador), como Henry Jenkins, e que é um segundo ponto que deixo à reflexão. A possibilidade de adquirir conhecimentos e competências no amador leva à redução de agentes intermediários (ou gatekeepers), embora surjam novos. Mas importa aqui realçar que qualquer indivíduo, com um computador e a ligação à internet, pode capturar mais valor, dentro do conceito de Michael Porter de cadeia de valor e de deslocação do valor ao longo dessa cadeia de valor. O valor está cada vez mais nas plataformas de distribuição que na produção, mas esta torna-se múltipla e leva a ao surgimento e de novas formas de distribuição, com mais concorrência, o que baixa o valor intrínseco a cada plataforma.

A revolução digital representou, segundo Nicholas Negroponte, quatro principais características: 1) resistente à obstrução, isto é, uma obra é facilmente reprodutível, 2) conversível e arquivável, 3) manipulável e trasnformável, e 4) imparcial. A imparcialidade reflecte outra mutação nos media. Os teóricos e os gestores de media concluem pela redução da distinção entre notícia e entretenimento. Michael Schudson escreveu que a informação é mais leve e um acontecimento ou problemática concentrados num período curto de tempo com imagens de grande espectacularidade, que despertam sentimentos de emoção como acontece quando vamos ao cinema. Os gestores entendem que a redução da diferença está nas tecnologias mais comuns nos diversos media, o que se traduz num novo modelo de negócio. O que significa o esboroar da ideia de diferença dos media tradicionais. O meu blogue, uma vez mais, é um pequeno exemplo dessa mutação.

O novo modelo de negócio significa olhar de outra forma a monetização, terceira ideia aqui expressa. Palavra ainda só usada pelos especialistas, ela indica que as novas plataformas produzem outras fontes de rendimento que não apenas a publicidade (nos jornais, na televisão), mas aproveitam a relação mais próxima entre notícia e promoção de evento, nos anúncios colocados nos blogues pelo Google AdSense, na sinergia entre uma telenovela e as histórias que as revistas cor-de-rosa contam (casamentos, separações, uma gravidez da estrela A ou B). A publicidade era esmagadora nos media tradicionais (60 a 70% na imprensa, 100% na rádio e na televisão). Com a baixa de barreiras à entrada nos novos media e o surgimento de novos parceiros, a publicidade é distribuída por mais actividades mediáticas, a que se acrescentam as novas possibilidades de medir o efeito e impacto da publicidade nos indivíduos receptores. Daí o sector comercial e de marketing das empresas de media passarem a ter mais poder, procurando soluções integradas multimedia ou de comunicação global. Isto faz-se através de uma maior integração da publicidade nos conteúdos. As revistas de moda são um bom exemplo dessa mistura, com a produção de peças informativas em que o aspecto comercial se articula com a notícia, o que torna essas peças mais próximas de comunicados de imprensa, de comerciais autênticos e de actividades de relações públicas que a notícia que informa e analisa. Para os directores de marketing e comerciais, esta mistura de informação e entretenimento e relações públicas cria comunidades de valor e de credibilidade. A recente expansão do Facebook é um exemplo. A publicidade é crescentemente substituída pelo product placement, isto é, a promoção do produto dentro do programa feita pelo animador ou pelo artista. Os aspectos éticos são revistos com o lado comercial (a regulação tem de ser forte neste terreno).

A mutação das indústrias culturais significa igualmente uma redefinição da missão dos media em si. Antes, havia um conjunto de tecnologias específicas, produzindo bens culturais e informativos claros. O negócio das indústrias culturais hoje tem de ser feito em referência a audiências e não a meras tecnologias, num quarto ponto aqui deixado. Cada audiência tem gostos e interesses que ao emissor compete conhecer e segmentar. O que leva a uma nova forma de produzir conteúdos - e significa uma variável cultural não desprezível. Tal acarreta a percepção que a estrutura da produção de conteúdos se alterou nos anos mais recentes, e cujas ondas de choque vêm chegando (menos consumo de jornais em papel, mais consultas em sítios de internet dedicados à informação, transferência de espectadores mais jovens dos canais generalistas para o cabo). Além disso, a empresa de media tem de fazer ofertas em mais plataformas, adaptando os conteúdos a cada uma dessas plataformas, o que significa fazer mais e de forma barata, com um profissional a não trabalhar apenas para uma marca (jornal, rádio) mas para o grupo de media. O que conduz a novas estruturas internas centradas não na tecnologia mas nas audiências e nas plataformas.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

ESTÃO A CHEGAR OS DIAS DA MÚSICA NO CCB

Em 1649, ano em que parte para Estocolmo a convite da rainha Cristina da Suécia, René Descartes (1596-1650) publica o Tratado das Paixões, correntemente conhecido como As Paixões da Alma. No CCB, vamos ouvir música sob este mote, de 23 a 25 de Abril de 2010.

CINEMA E PSICANÁLISE : IMAGENS REVERSÍVEIS

A decorrer até 18 de Maio, às terças-feiras, das 21:30 às 23:30, na Fundação Serralves (Porto), concebido por Eduardo Paz Barroso, orientado por Maria de Fátima Cabral e Eduardo Paz Barroso e moderado por Rui Mota Cardoso:

  • Quando vemos Cinema e o pensamos (de Chaplin a Fellini, de Hitchcock a Truffaut, de Welles a David Lynch, e assim sucessivamente), encontramos um continente de sonhos. A Psicanálise é, como se sabe, uma forma de conhecimento que tem contribuído, e de modo decisivo, para a compreensão e interpretação dos fenómenos estéticos.

O REGRESSO DA REVISTA OS MEUS LIVROS

A revista Os Meus Livros vai voltar às bancas já em Maio. Encerrada com a edição de Março deste ano, o título foi adquirido pela CE Livrarias, empresa da Coimbra Editora. O director continua a ser João Morales, a quem saúdo, assim como a editora.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

A MORTE DO CRIADOR DO PUNK

"Malcolm McLaren, o manager dos Sex Pistols que ajudou a definir o punk, morreu hoje em Nova Iorque, aos 64 anos, vitimado por um cancro" (Público online, às 20:34).

IX INCONTRO DELL'OSSERVATORIO SCIENTIFICO DELLA MEMORIA SCRITTA, FILMICA, ICONOGRAFICA E DEL PATRIMONIO AUTOBIOGRAFICO

Tessere i racconti del se fra fato e teleologia - La forza del destino e le costruzioni autobiografiche.


Castello Guevara – Bovino (Fg-It) ~ 28/07 > 1/08 2010 > o/ou 3 agosto/août (Museo Diocesano Bovino). Programma Provvisorio:

FINAL DA TAÇA DE PORTUGAL DE FUTEBOL FEMININO

No dia 10 de Abril, sábado, pelas 16:00, no Estádio Nacional, Jamor (Cruz Quebrada). Lê-se:

  • É desporto e ao mesmo tempo um acontecimento a não perder. A final da Taça de Portugal de futebol feminino disputa-se no Estádio Nacional pela primeira vez na história da modalidade. Frente-a-frente, as duas equipas com maior palmarés do futebol feminino português, a SU 1º de Dezembro (com 9 títulos nacionais e 4 Taças de Portugal) e o Boavista FC (com 11 títulos nacionais) “repetem” a final de 2007, que o 1º de Dezembro venceu por 5-0. Mas não quer dizer nada, porque prognósticos só no fim do jogo. Para a equipa de Sintra esta será a quinta presença na final, enquanto para as axadrezadas será a terceira presença. E se é costume dizer-se que a Taça é a festa do futebol e o Estádio Nacional o seu ex-líbris, com jogadoras como Carla Couto, Cátia Relíquias, Filipa Galvão, Dolores, Xana, Landinha, Verónica ou Sandra Silva (confesse lá… nunca tinha ouvido estes nomes, pois não?), a festa vai ser a dobrar. Não só porque a bola é redonda e são 11 para cada lado, mas porque o futebol é mesmo assim. E lá estará também, para tomar conta de tudo e de todas, a árbitra internacional, Sandra Bastos, auxiliada pelas assistentes Marlene Vieira e Olga Almeida. Últimas notas: há 30 mil lugares, a entrada é livre e que ganhem as melhores.
Informações: Federação Portuguesa de Futebol, fpf.pt, S. U. 1º Dez. e Boavista F. C. Feminino. Obrigado a Carlos Filipe Maia, pela dica.

ASSOCIAÇÃO DE INVESTIGADORES DA IMAGEM EM MOVIMENTO

No passado mês de Março de 2010, foi criada a AIM - Associação de Investigadores da Imagem em Movimento, entidade sem fins lucrativos que procura reunir os investigadores e promover a investigação da Imagem em Movimento (arqueologia de cinema, cinema, televisão, vídeo, CGI, internet, videojogos, etc.).

Para os mentores da associação, a AIM "surgiu da necessidade de reunir em Portugal, numa mesma entidade representativa, um conjunto de investigadores que têm em comum objectos e temas de pesquisa. À vontade de saberem exactamente quem são e onde trabalham, em que projectos estão envolvidos e a que instituições estão ou poderiam estar ligados, somou-se a coincidência gradualmente mais frequente de se encontrarem em conferências, colóquios e reuniões em volta do estudo das imagens em movimento".

Dois objectivos imediatos são a organização das I Jornadas de Investigação (Junho, Lisboa) e o envio de informação relevante, através do sítio da internet, de newsletters e do Facebook para os investigadores da imagem em movimento.

CONFERENCE ON CULTURE, POWER AND IDENTITY

University of Castilla-La Mancha. Facultad de Letras, Ciudad Real (Spain), 22-24 April, 2010. Idalina Conde (ISCTE-IUL Instituto Universitário de Lisboa) will present the paper Crossed concepts: Identity, Habitus and Reflexivity.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

AINDA O ENCONTRO DE INDÚSTRIAS CULTURAIS EM BARCELONA

Como aqui destaquei, o recente Fórum Europeu de Indústrias Culturais chamou a atenção para a importância das indústrias culturais e criativas. Segundo o blogue Cultural Entrepreneur, os dados apresentados nesse fórum apontam para 15% dos habitantes de Londres dedicados a essas indústrias, um crescimento de 10% na Europa entre 2000 e 2005 e um valor de 3,1% do PIB europeu.

OBSERVATÓRIOS CULTURAIS (I)

Cristina Ortega Nuere (2010). Observatorios culturales. Creación de mapas de infraestructuras y eventos. Barcelona: Ariel, 283 páginas, 23,5 euros.

Cristina Ortega tem doutoramento em Ócio [Lazer] e Potencial Humano e é docente da Universidade de Deusto (Bilbau e San Sebastián) e presidente da ENCATC - European Network of Cultural Administration and Training Centres.

A autora analisou 37 observatórios, incluindo o português (Observatório de Actividades Culturais), em todo o mundo e que olham a cultura como sector estratégico, com recolha de dados estatísticos, organização de eventos (conferências e congressos) e produção de documentos com vista a mapear as actividades de cultura e avaliar o impacto de políticas culturais.

O livro está dividido em três capítulos: observatórios culturais, mapas culturais, modelo para a realização de mapas de infra-estruturas e eventos culturais. A autora considera que os observatórios são importantes à cultura dado serem um elemento específico de avaliação das políticas culturais a partir de dados sociais e económicos recolhidos de modo estatístico, servindo ainda como medida de diálogo político e tomada de decisão (p. 30). As entidades que promovem os observatórios são instituições públicas, universidades, organismos internacionais e empresas. É a partir de 1995 que tem origem a maior parte dos observatórios da cultura (p. 45), embora com âmbitos e objectivos muito variados entre si: alguns procuram a reflexão e a investigação (recolha de legislação e regulação), outros são criados para recolher dados estatísticos, outros ainda para apoiar a tomada de decisão (investimentos em sectores precisos) (p. 49-54).

Cristina Ortega assinala a existência de três escolas de pensamento que têm desenvolvido investigações sobre os indicadores culturais: 1) a representada por G. Gerber e K. E. Rosengren, de análise das obras simbólicas, 2) a de Ronald Inglehart, com estudo de comportamento através de inquéritos, 3) a que aborda os indicadores culturais dentro do processo da criação ao consumo de bens e serviços culturais (p. 33).

O conceito de mapa cultural é um dos mais interessantes que o livro desenvolve. O mapeamento cultural permite estudar e compreender os sectores das indústrias culturais e criativas antes de tomar decisões de ordem política (p. 77). A autora usa uma abundante bibliografia constituída especialmente por relatórios de mapas culturais em Espanha e noutros países, com quadros e análise documental precisa. Sobre os conteúdos dos mapas, ela distingue análise, diagnóstico, indicadores e propostas; sobre o ponto de vista do estudo, faz a identificação, a envolvente, o contexto, a gestão, o conteúdo e a plataforma (p. 114). A parte final do livro, mais descritiva, aborda as infra-estruturas, actividades e eventos culturais, dando algum destaque à constituição de audiências, quando escreve sobre identidade e renovação de identidade (p. 187).

Nas páginas finais, como conjunto de reflexões, Cristina Ortega reforça a ideia do observatório cultural como instrumento de análise para a tomada de decisão política quanto à cultura, dá conta da incidência recente das mesmas instituições e da sua actual afirmação em várias áreas, o que inibe uma total comparabilidade entre observatórios, e à criação de redes entre esses institutos.

OBSERVATÓRIOS CULTURAIS (II)

Seguem-se ligações a 21 observatórios de cultura e centros de investigação associados à cultura (alguns não actualizam a sua informação há algum tempo, o que pode significar descontinuidade de actividades):

1) Centre for Cultural Policy Research, 2) CIRCLE - Cultural Information and Research Centres Liaison in Europe (Polónia), 3) Cultural Common – Center for Arts and Culture), 4) Cultural Policy Institute (Roménia), 5) European Institute for Comparative Cultural Research, 6) Fundación Interarts (Barcelona, Espanha), 7) Lab For Culture, 8) Observatório Culturale del Piemonte – Itália, 9) Observatório das Actividades Culturais de Portugal, 10) Observatório das Políticas Culturais da África/ Observatory of Cultural Policies in Africa, 11) Observatoire de la Culture et des Communications du Québec (Québec, Canadá), 12) Observatoire des Politiques Culturelles (Grenoble, França), 13) Observatoire des Mutations des Industries Culturelles (Saint-Denis, França), 14) Observatório de Cultura Urbana de Bogotá (Bogotá, Colômbia), 15) Observatório de Industrias Culturales (Buenos Aires, Argentina), 16) Observatório Vasco de la Cultura (Bilbao, Espanha), 17) Ossservatorio Culturale e Reti Informative (Lombardia, Itália), 18) Observatorio Internamericano de Políticas Culturales, 19) Osservatorio Culturale del Piemonte (Turim, Itália), 20) The Budapest Observatory e 21) ICAn - Institute for Cultural Analysis (Nottingham, Reino Unido).

OS JORNALISTAS NA PERSPECTIVA DE BALZAC E DE FIALHO

Não sei se Fialho de Almeida, quando editou o texto Os Jornalistas no livro Pasquinadas (1890, reeditado em 2009), conhecia o texto de Honoré de Balzac, Monografía de la prensa parisina (1843, reeditado em castelhano em 2009). Mas noto muito mais semelhanças do que diferenças entre estes dois textos separados por 47 anos, além das diversas alusões a textos franceses na escrita de Fialho.

Do trabalho de Fialho, já fiz uma curta referência aqui. Para ele, o jornalismo era um sítio de passagem, de preferência para o parlamento e para as actividades públicas e empresariais, ou "aposentadorias", como escreveu.

Do jornalista nefasto de Fialho salta-se para a caracterização mais fina e irónica de Balzac. Este escritor foi também jornalista e mesmo patrão de jornais (Le Figaro, La Caricature, Rénovateur, Quotidienne, La Chronique de Paris, Le Siècle, Revue Parisienne), algo que não soube fazer muito bem porque levou alguns desses empreendimentos à rápida falência. Para Balzac, havia dois tipos fundamentais de jornalista: 1) publicista (o jornalista que se aproxima rapidamente da vida política, como Fialho também analisou, o panfletário, o escritor de artigos de fundo), 2) crítico (o universitário, o que escreve sobre grandes obras, o folhetinista e até o anónimo).

A leitura de Balzac, quase 150 anos depois, mantém muita actualidade. A edição que consultei traz três textos introdutórios (Javier Díaz Noci, Antonio López Hidalgo e Pedro J. Crespo, o editor), que colocam muito bem a obra no seu tempo e cultura.