PRIMEIRO JORNAL DA GERAÇÃO IPOD
Foi lançado o NEWS, o primeiro jornal tablóide alemão para a jovem geração dos computadores e internet, lê-se hoje na newsletter do European Journalism Centre. O jornal está orientado para leitores entre os 20 e os 29 anos, muito ocupados profissionalmente e com pouco tempo para a leitura de um jornal. Curiosamente, o jornal traz uma página inteira de comentários tirados dos fóruns dos blogues alemães! O NEWS tem uma distribuição gratuita, mas apenas para a cidade de Frankfurt. Pode ainda ser carregado em formato PDF.
E, em Portugal, quando temos um jornal para a geração iPod?
Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
quinta-feira, 30 de setembro de 2004
SOBRE OS PINS
Recentemente, começou a circular o jornal quinzenal O Mundo Universitário, dirigido por Gonçalo Sousa Uva, de distribuição gratuita (ver sítio mundouniversitario). Esta segunda-feira saíu o número 4.
Aproveito um texto de Vanessa Marques sobre pins, publicado no referido número: "São redondos, pequenos e baratos. Objectos de culto nos anos 80, os pins regressam agora como complemento essencial".
E, logo a seguir, escreve a jornalista: "Nos anos 90 as t-shirts com slogans deram cartas. Hoje, para dar a conhecer o que nos vai na alma, já não é preciso tanto. Basta prender um pin na lapela". Para Vanessa Marques, os pins tinham sido moda na década de 1980, associada ao movimento punk, dando a conhecer gostos musicais, mensagens e ideologias políticas. Mas, agora, reflectem apenas gostos: "politizados, abstractos, divertidos, atrevidos ou feitos à medida".
O texto é acompanhado por pins que dizem "P.M.S. Punish Men Severely" (ai!), "I feel Goodie", "Don't offer me a cigarette", "My brain hurts", etc. É o círculo da moda. Vanessa Marques espera que, neste Outono, o pin seja "presença indispensável em todas as lapelas". Daí, ela referir um sítio, Wear It With Pride [mensagem: We love badges and we think you do too], onde se podem encomendar mais de 600 pins distintos, ao preço de €3.
O mesmo jornal traz, entre outras matérias, uma entrevista com Manuela Azevedo, dos Clã. Para que conste, eu sou fã da banda, gostando de temas como Problema de expressão e Espectáculo.
Recentemente, começou a circular o jornal quinzenal O Mundo Universitário, dirigido por Gonçalo Sousa Uva, de distribuição gratuita (ver sítio mundouniversitario). Esta segunda-feira saíu o número 4.
Aproveito um texto de Vanessa Marques sobre pins, publicado no referido número: "São redondos, pequenos e baratos. Objectos de culto nos anos 80, os pins regressam agora como complemento essencial".
E, logo a seguir, escreve a jornalista: "Nos anos 90 as t-shirts com slogans deram cartas. Hoje, para dar a conhecer o que nos vai na alma, já não é preciso tanto. Basta prender um pin na lapela". Para Vanessa Marques, os pins tinham sido moda na década de 1980, associada ao movimento punk, dando a conhecer gostos musicais, mensagens e ideologias políticas. Mas, agora, reflectem apenas gostos: "politizados, abstractos, divertidos, atrevidos ou feitos à medida".
O texto é acompanhado por pins que dizem "P.M.S. Punish Men Severely" (ai!), "I feel Goodie", "Don't offer me a cigarette", "My brain hurts", etc. É o círculo da moda. Vanessa Marques espera que, neste Outono, o pin seja "presença indispensável em todas as lapelas". Daí, ela referir um sítio, Wear It With Pride [mensagem: We love badges and we think you do too], onde se podem encomendar mais de 600 pins distintos, ao preço de €3.
O mesmo jornal traz, entre outras matérias, uma entrevista com Manuela Azevedo, dos Clã. Para que conste, eu sou fã da banda, gostando de temas como Problema de expressão e Espectáculo.
quarta-feira, 29 de setembro de 2004
SOBRE OS CULTURAL STUDIES (CONT.)
Codificação/descodificação
Neste blogue, já chamei a atenção para um livro de Stuart Hall, um dos pais fundadores dos cultural studies, editado o ano passado no Brasil, com o título Da diáspora. Identidades e mediações culturais. Vou agora seguir uma entrevista por ele dada e publicada na mesma obra, em que Hall destaca a génese do artigo, apresentado num colóquio da Universidade de Leicester, onde vigoravam modelos empíricos tradicionais como a análise de conteúdo e a pesquisa dos efeitos na audiência.
Teve, pois, um primeiro sentido provocatório, o qual considera que qualquer mensagem não tem um aspecto transparente, único, como ensina a teoria matemática da informação. O segundo sentido vem na sequência, e é o do contexto político. Trata-se da ideia que o significado não é fixo, não existindo uma lógica determinante que permita decifrar o significado. O sentido passa a ser multirreferencial, num reflexo directo da influência da semiótica nos cultural studies.
Hall acha que o lado da descodificação está formulado de modo bem inferior ao da codificação. O que ele tentou fazer foi trabalhar a noção de que não existe um significado fixo único. Assim, não haverá uma leitura fixa. Depois, há o oposto disto, a leitura oposicionista, que entende ou não o sentido preferido na construção da mensagem, mas retira do texto exactamente o oposto. Finalmente, ele fala do sentido negocial, que quer dizer um número diferente de posições (de interpretação). As leituras negociadas serão, provavelmente, as de maior número e elaboradas na maior parte do tempo.
O que constituem as audiências? Estas compartilham alguns referenciais do entendimento e da interpretação, alguns referenciais de leitura. Ler nesse sentido não é apenas o indivíduo dos "usos e gratificações". Não se trata de uma leitura puramente subjectiva: ela é compartilhada, possui uma expressão institucional, relaciona-se com o facto de que uma pessoa faz parte de uma instituição.
Tal leva Stuart Hall a falar em leitura preferencial. Ela é um modo determinante, quer dizer que, se uma pessoa detém o controlo dos aparelhos de significação do mundo e o controlo dos meios de comunicação, essa pessoa escreve os textos. Mas uma leitura preferida nunca é completamente bem sucedida - permanece um exercício de poder na tentativa de hegemonizar a leitura da audiência. E conclui que se uma pessoa tem uma leitura preferencial isso quer dizer que já pré-estruturou as descodificações que provavelmente conseguirá.
Codificação/descodificação
Neste blogue, já chamei a atenção para um livro de Stuart Hall, um dos pais fundadores dos cultural studies, editado o ano passado no Brasil, com o título Da diáspora. Identidades e mediações culturais. Vou agora seguir uma entrevista por ele dada e publicada na mesma obra, em que Hall destaca a génese do artigo, apresentado num colóquio da Universidade de Leicester, onde vigoravam modelos empíricos tradicionais como a análise de conteúdo e a pesquisa dos efeitos na audiência.
Teve, pois, um primeiro sentido provocatório, o qual considera que qualquer mensagem não tem um aspecto transparente, único, como ensina a teoria matemática da informação. O segundo sentido vem na sequência, e é o do contexto político. Trata-se da ideia que o significado não é fixo, não existindo uma lógica determinante que permita decifrar o significado. O sentido passa a ser multirreferencial, num reflexo directo da influência da semiótica nos cultural studies.
Hall acha que o lado da descodificação está formulado de modo bem inferior ao da codificação. O que ele tentou fazer foi trabalhar a noção de que não existe um significado fixo único. Assim, não haverá uma leitura fixa. Depois, há o oposto disto, a leitura oposicionista, que entende ou não o sentido preferido na construção da mensagem, mas retira do texto exactamente o oposto. Finalmente, ele fala do sentido negocial, que quer dizer um número diferente de posições (de interpretação). As leituras negociadas serão, provavelmente, as de maior número e elaboradas na maior parte do tempo.
O que constituem as audiências? Estas compartilham alguns referenciais do entendimento e da interpretação, alguns referenciais de leitura. Ler nesse sentido não é apenas o indivíduo dos "usos e gratificações". Não se trata de uma leitura puramente subjectiva: ela é compartilhada, possui uma expressão institucional, relaciona-se com o facto de que uma pessoa faz parte de uma instituição.
Tal leva Stuart Hall a falar em leitura preferencial. Ela é um modo determinante, quer dizer que, se uma pessoa detém o controlo dos aparelhos de significação do mundo e o controlo dos meios de comunicação, essa pessoa escreve os textos. Mas uma leitura preferida nunca é completamente bem sucedida - permanece um exercício de poder na tentativa de hegemonizar a leitura da audiência. E conclui que se uma pessoa tem uma leitura preferencial isso quer dizer que já pré-estruturou as descodificações que provavelmente conseguirá.
terça-feira, 28 de setembro de 2004
SOBRE OS CULTURAL STUDIES
Os franceses Armand Mattelart e Érik Neveu têm escrito sobre o movimento dos cultural studies, de origem inglesa.
A primeira empresa sobre a matéria que eu conheço deles foi publicada na prestigiada revista Réseaux, em Novembro-Dezembro de 1966, com a elaboração de um bem fundamentado dossier, aliás indicado na capa. São quase 40 páginas de análise, assinada pelos dois professores, a que se seguem outros textos escritos por Phil Cohen, Dick Hebdige, David Chaney e Raymond Williams (que polarizariam algumas das ideias principais dos estudos culturais) e Brigitte Le Grignou.
Agora, em edição francesa saída o ano passado e prontamente traduzida para o castelhano (2004), os dois autores alargam o estudo desta importante corrente de investigação inglesa mas que se estendeu pelo mundo, caso dos Estados Unidos, Austrália e Brasil (e deste para Portugal, através de Isabel Ferin). É sobre este último texto de Mattelart e Neveu que basearei parte substancial da minha aula de hoje de Públicos e Audiências, na Universidade Católica Portuguesa, a partir das 8:30.
Um centro de investigação em Birmingham
Os trabalhos dos fundadores dos cultural studies tinham em vista estudar o impacto das operações de renovação urbana do East End, o nascimento das novas cidades e os efeitos desestruturantes sobre a sociabilidade popular, com a degradação de espaços de convívio – ruas, praças, jardins, pubs – e a alteração da ecologia das relações de vizinhança, parentesco e geração.
Surge um segundo objectivo, o das relações entre gerações, as formas de identidade, as subculturas específicas, com estudos sobre a crise política e económica nos anos de governo de Thatcher e da desindustrialização massiva dos anos 1980. O pânico moral provocado pelas lutas entre mods e rockers levou ao estudo da juventude e da autoridade, em Cohen (1972). Por seu lado, Hebdige analisou o quotidiano dos punks e dos mods (1979) e o valor simbólico atribuído à scooter italiana (1988), enquanto Corrigan descreve a ociosidade dos adolescentes que permanecem dentro da cidade sem terem nada para fazer (1993). Resumindo: o interesse dado às práticas culturais levou os investigadores a ver a diversidade dos produtos culturais consumidos pelas classes populares.
Birmingham será um dos primeiros centros a atrair a atenção das ciências sociais sobre áreas como a publicidade e a música rock. Mas serão os media audiovisuais e os seus programas de informação e entretenimento os que merecem mais estudo. O destaque vai para o texto de Hall (codificação e descodificação, escrito em 1973, e a que voltarei amanhã), em que o funcionamento de um meio não se limita à transmissão mecânica (emissor e receptor) mas dá forma ao material discursivo (discurso, imagens, relato). Aqui, intervêm dados técnicos, condições de produção e modelos cognitivos. A noção de descodificação indica que os receptores têm um estatuto social, uma cultura. Escutar um mesmo programa não quer dizer ter uma interpretação única.
Os cultural studies são o exemplo de uma escola fecunda, porque: 1) tornaram a cultura um terreno de acção e erudição, 2) combinaram investigação e compromisso, 3) articularam disciplinas distintas como a análise literária, a etnografia e a sociologia do desvio.
Notam-se, porém, algumas debilidades nesta corrente. Por exemplo, estão pouco familiarizados com a sociologia, incluindo a da cultura, e a economia. Não vêem a criação cultural como um espaço de concorrência e interdependência entre produtores, em que é fundamental a noção de campo (de Bourdieu). Por outro lado, o aparecimento da revista Media, Culture & Society, lançado por investigadores de Leicester e Londres, defenderá o estudo da economia (política), por oposição a Birmingham.
Os franceses Armand Mattelart e Érik Neveu têm escrito sobre o movimento dos cultural studies, de origem inglesa.
A primeira empresa sobre a matéria que eu conheço deles foi publicada na prestigiada revista Réseaux, em Novembro-Dezembro de 1966, com a elaboração de um bem fundamentado dossier, aliás indicado na capa. São quase 40 páginas de análise, assinada pelos dois professores, a que se seguem outros textos escritos por Phil Cohen, Dick Hebdige, David Chaney e Raymond Williams (que polarizariam algumas das ideias principais dos estudos culturais) e Brigitte Le Grignou.
Agora, em edição francesa saída o ano passado e prontamente traduzida para o castelhano (2004), os dois autores alargam o estudo desta importante corrente de investigação inglesa mas que se estendeu pelo mundo, caso dos Estados Unidos, Austrália e Brasil (e deste para Portugal, através de Isabel Ferin). É sobre este último texto de Mattelart e Neveu que basearei parte substancial da minha aula de hoje de Públicos e Audiências, na Universidade Católica Portuguesa, a partir das 8:30.
Um centro de investigação em Birmingham
Os trabalhos dos fundadores dos cultural studies tinham em vista estudar o impacto das operações de renovação urbana do East End, o nascimento das novas cidades e os efeitos desestruturantes sobre a sociabilidade popular, com a degradação de espaços de convívio – ruas, praças, jardins, pubs – e a alteração da ecologia das relações de vizinhança, parentesco e geração.
Surge um segundo objectivo, o das relações entre gerações, as formas de identidade, as subculturas específicas, com estudos sobre a crise política e económica nos anos de governo de Thatcher e da desindustrialização massiva dos anos 1980. O pânico moral provocado pelas lutas entre mods e rockers levou ao estudo da juventude e da autoridade, em Cohen (1972). Por seu lado, Hebdige analisou o quotidiano dos punks e dos mods (1979) e o valor simbólico atribuído à scooter italiana (1988), enquanto Corrigan descreve a ociosidade dos adolescentes que permanecem dentro da cidade sem terem nada para fazer (1993). Resumindo: o interesse dado às práticas culturais levou os investigadores a ver a diversidade dos produtos culturais consumidos pelas classes populares.
Birmingham será um dos primeiros centros a atrair a atenção das ciências sociais sobre áreas como a publicidade e a música rock. Mas serão os media audiovisuais e os seus programas de informação e entretenimento os que merecem mais estudo. O destaque vai para o texto de Hall (codificação e descodificação, escrito em 1973, e a que voltarei amanhã), em que o funcionamento de um meio não se limita à transmissão mecânica (emissor e receptor) mas dá forma ao material discursivo (discurso, imagens, relato). Aqui, intervêm dados técnicos, condições de produção e modelos cognitivos. A noção de descodificação indica que os receptores têm um estatuto social, uma cultura. Escutar um mesmo programa não quer dizer ter uma interpretação única.
Os cultural studies são o exemplo de uma escola fecunda, porque: 1) tornaram a cultura um terreno de acção e erudição, 2) combinaram investigação e compromisso, 3) articularam disciplinas distintas como a análise literária, a etnografia e a sociologia do desvio.
Notam-se, porém, algumas debilidades nesta corrente. Por exemplo, estão pouco familiarizados com a sociologia, incluindo a da cultura, e a economia. Não vêem a criação cultural como um espaço de concorrência e interdependência entre produtores, em que é fundamental a noção de campo (de Bourdieu). Por outro lado, o aparecimento da revista Media, Culture & Society, lançado por investigadores de Leicester e Londres, defenderá o estudo da economia (política), por oposição a Birmingham.
segunda-feira, 27 de setembro de 2004
O PROCESSO DE BOLONHA E A FORMAÇÃO EM MEDIA E JORNALISMO
Este é o título de um post colocado hoje no blogue Jornalismo e Comunicação, por Manuel Pinto. A quem ainda não passou por aquele blogue, aconselho uma visita. É que se trata de uma importante reflexão sobre o futuro do ensino do jornalismo e dos media, com base na declaração de Bolonha.
Este é o título de um post colocado hoje no blogue Jornalismo e Comunicação, por Manuel Pinto. A quem ainda não passou por aquele blogue, aconselho uma visita. É que se trata de uma importante reflexão sobre o futuro do ensino do jornalismo e dos media, com base na declaração de Bolonha.
150 ANOS DO JORNAL COMÉRCIO DO PORTO
Fez, no passado dia 2 de Junho, 150 anos que o jornal Comércio do Porto iniciou a sua edição. Só agora este blogue dá conhecimento da comemoração, pois apenas nestes dias me apercebi da data.
Foi efectivamente a 2 de Junho de 1854 que O Commercio anunciava os seus propósitos: "A Praça do Porto precisa dum Jornal de Comércio, Agricultura e Indústria, onde se tratem as matérias económicas, históricas e instrutivas destes três poderosos elementos em que assenta a prosperidade das nações modernas. A Praça o reclama pela sua importância no interior, e pelo seu nome nos mercados estrangeiros".
O jornal publicar-se-ia, nessa altura, às segundas, quartas e sextas-feiras, custando o exemplar 40 réis no escritório (rua de Belomonte, 74) e na rua dos Caldeireiros. Então, a maioria dos jornais eram órgãos de partidos políticos. Manuel Carqueja e Henrique Carlos de Miranda entendiam viável o lançamento de um jornal dedicado às questões comerciais. Para a redacção, convidaram António Joaquim Xavier Pacheco, escrivão do Tribunal do Comércio. O jornal seria impresso na rua de Belomonte, na Tipografia Comercial (ver imagem em baixo, à esquerda).
Cento e cinquenta anos na vida de um jornal é muito tempo. Na minha vida recordo-me de várias facetas dessa vida do jornal, ainda a sede funcionava na Avenida dos Aliados, quase em frente à sede de outro jornal, o Jornal de Notícias. Mais recentemente, mudou de instalações e de propriedade. Desde Novembro de 2001, está integrado no grupo Prensa Ibérica, a que pertencem outros títulos como A Capital (Lisboa) e jornais espanhóis como o Faro de Vigo, num total de 16 diários nos dois países ibéricos. O seu proprietário é Francisco Javier Moll de Miguel.
[informações retiradas da edição especial do jornal. O actual director é Rogério Gomes]
Fez, no passado dia 2 de Junho, 150 anos que o jornal Comércio do Porto iniciou a sua edição. Só agora este blogue dá conhecimento da comemoração, pois apenas nestes dias me apercebi da data.
Foi efectivamente a 2 de Junho de 1854 que O Commercio anunciava os seus propósitos: "A Praça do Porto precisa dum Jornal de Comércio, Agricultura e Indústria, onde se tratem as matérias económicas, históricas e instrutivas destes três poderosos elementos em que assenta a prosperidade das nações modernas. A Praça o reclama pela sua importância no interior, e pelo seu nome nos mercados estrangeiros".
O jornal publicar-se-ia, nessa altura, às segundas, quartas e sextas-feiras, custando o exemplar 40 réis no escritório (rua de Belomonte, 74) e na rua dos Caldeireiros. Então, a maioria dos jornais eram órgãos de partidos políticos. Manuel Carqueja e Henrique Carlos de Miranda entendiam viável o lançamento de um jornal dedicado às questões comerciais. Para a redacção, convidaram António Joaquim Xavier Pacheco, escrivão do Tribunal do Comércio. O jornal seria impresso na rua de Belomonte, na Tipografia Comercial (ver imagem em baixo, à esquerda).
Cento e cinquenta anos na vida de um jornal é muito tempo. Na minha vida recordo-me de várias facetas dessa vida do jornal, ainda a sede funcionava na Avenida dos Aliados, quase em frente à sede de outro jornal, o Jornal de Notícias. Mais recentemente, mudou de instalações e de propriedade. Desde Novembro de 2001, está integrado no grupo Prensa Ibérica, a que pertencem outros títulos como A Capital (Lisboa) e jornais espanhóis como o Faro de Vigo, num total de 16 diários nos dois países ibéricos. O seu proprietário é Francisco Javier Moll de Miguel.
[informações retiradas da edição especial do jornal. O actual director é Rogério Gomes]
domingo, 26 de setembro de 2004
DA LEITURA DO JORNAL PÚBLICO DE HOJE
Retratos
1) "quase todos os portugueses agarram é no seu carro e vão alegremente gastar dinheiro comcestinhos de compras nas grandes superfícies. Isso dói-me. Em Itália há poucos mega-espaços comerciais: as autoridades não deixam. E aí as cidades estão cheias de mercearias e drogarias. [...] Fiquei horrorizado com o documento apresentado ao Governo o ano passado pela MacKinsey em que se diz que Portugal deve apostar nos mega-espaços comerciais. Isto significa a destruição de um dos vínculos mais fundamentais da cidade: a troca. Fazê-la nas auto-estradas é uma enorme ferida na cidade" (entrevista de João Seixas, que coordenou um mega-estudo sobre Lisboa e está a fazer doutoramento na Universidade Autónoma de Barcelona, feita pela jornalista Ana Henriques, na p. 50 da edição em papel).
2) "A casa dispõe de um pequeno bar e, segundo José Levita, vice-coordenador da secção, foi preciso comprar três aparelhos de televisão - «um para a telenovela da TVI, outro para a da SIC e outro para a Sport TV». Em quase tudo se assemelha a um clube recreativo local" (peça jornalística assinada por Maria José Oliveira a propósito de uma secção do Partido Socialista, na avenida Almirante Reis, em Lisboa, na p. 12 da edição em papel).
3) "nunca me esqueci a cara de uma rapariga (bem bonita!) a quem perguntámos à saída de um filme de sucesso que passava no São Jorge [...]: «O que é que pensa do cinema português»? Com uma expressão de repulsa profunda disse só isto: «Que horror»! E fugiu para um táxi. [...] os portugueses comportam-se assim com quase tudo o que é português, não é só com o cinema. Os portugueses detestam o país em que vivem" (entrevista do cineasta Alberto Seixas Santos a Maria João Seixas, na revista Pública, p. 32).
Tenho reflectido em quase todas estas questões aqui no blogue. Se se tratasse de um teste para os meus alunos, as perguntas que gostaria de fazer seriam: qual a identidade cultural dos portugueses? Porque são tão pessimistas?
Do provedor e do articulista
As páginas assinadas por Joaquim Furtado e Mário Mesquita (aqui parcialmente) andam à volta de um tema: o colóquio de domingo passado na associação Abril em Maio - e que eu fiz eco esta semana no blogue [adenda incluida a 27 de Setembro: obrigado ao leitor anónimo que me corrigiu o nome do provedor]. O texto de Furtado merece ser lido com muita atenção e reflexão. Trata-se daquilo a que chamo de "circulação circular de informação" - ver o meu post desta semana com esse título. A jornalista Clara Raimundo escreveu sobre o colóquio e aludiu à comunicação do jornalista Acácio Barradas, o qual entendeu ter sido mal interpretado na peça noticiosa e escreveu uma carta ao provedor, que dedicou o espaço todo à questão.
Como estive presente e notei o tom sincero embora irónico de Acácio Barradas, posso fazer o papel de observador participante que escreve uma etnografia. Apesar de perceber da justeza do incómodo de Acácio Barradas, partilho da sensação descrita pela jornalista em que ele foi duro, excessivamente duro, na apreciação do trabalho escrito no jornal. Barradas entende que a jornalista (estagiária), com o método que escolheu, conquistará, "sem demora, um lugar efectivo na redacção do Público, com perspectivas de rápida ascensão a um posto de comando". O provedor ouviu a jornalista, que respondeu: "Pelos vistos, não sabe, mas fica a saber, até porque é do conhecimento geral aqui na redacção: os quadros do Público estão fechados há alguns anos, e, quando terminar o meu estágio, há já vários colegas recém-licenciados (sim, aqueles em cujo mérito não crê) na lista de espera para me substituir". A meu ver, o provedor actuou de modo muito equilibrado, cumprindo bem as suas funções (p. 10 da edição em papel).
Também o texto de Mário Mesquita aborda, na sempre grande acutilância de olhar o jornalismo, as questões do poder económico e financeiro dos patrões dos media sobre o jornalista.
Um dúvida me persegue desde há muito. Não sou jornalista, embora tenha um cartão passado pela Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (nº TE 873) [pois a actividade que exerço no jornalismo não é a minha principal fonte de rendimento], e já saltei de profissão duas vezes nos últimos dez anos (técnico e assessor de relações públicas, imagem e comunicação numa empresa tecnológica; professor universitário). Formulo as seguintes perguntas: nas outras profissões, não há pressão do patrão ou do chefe sobre um subordinado que produz trabalho e informação tão importante como a do jornalista? Ou será apenas porque os jornalistas encontram espaço nos próprios media para discutirem os parâmetros da profissão e os profissionais de outros místeres o não conseguem? Ou isso acontece porque os media formam (são veículos de) a opinião pública e isso coloca os jornalistas como uma das principais - senão a principal - actividades em permanente escrutínio?
Retratos
1) "quase todos os portugueses agarram é no seu carro e vão alegremente gastar dinheiro comcestinhos de compras nas grandes superfícies. Isso dói-me. Em Itália há poucos mega-espaços comerciais: as autoridades não deixam. E aí as cidades estão cheias de mercearias e drogarias. [...] Fiquei horrorizado com o documento apresentado ao Governo o ano passado pela MacKinsey em que se diz que Portugal deve apostar nos mega-espaços comerciais. Isto significa a destruição de um dos vínculos mais fundamentais da cidade: a troca. Fazê-la nas auto-estradas é uma enorme ferida na cidade" (entrevista de João Seixas, que coordenou um mega-estudo sobre Lisboa e está a fazer doutoramento na Universidade Autónoma de Barcelona, feita pela jornalista Ana Henriques, na p. 50 da edição em papel).
2) "A casa dispõe de um pequeno bar e, segundo José Levita, vice-coordenador da secção, foi preciso comprar três aparelhos de televisão - «um para a telenovela da TVI, outro para a da SIC e outro para a Sport TV». Em quase tudo se assemelha a um clube recreativo local" (peça jornalística assinada por Maria José Oliveira a propósito de uma secção do Partido Socialista, na avenida Almirante Reis, em Lisboa, na p. 12 da edição em papel).
3) "nunca me esqueci a cara de uma rapariga (bem bonita!) a quem perguntámos à saída de um filme de sucesso que passava no São Jorge [...]: «O que é que pensa do cinema português»? Com uma expressão de repulsa profunda disse só isto: «Que horror»! E fugiu para um táxi. [...] os portugueses comportam-se assim com quase tudo o que é português, não é só com o cinema. Os portugueses detestam o país em que vivem" (entrevista do cineasta Alberto Seixas Santos a Maria João Seixas, na revista Pública, p. 32).
Tenho reflectido em quase todas estas questões aqui no blogue. Se se tratasse de um teste para os meus alunos, as perguntas que gostaria de fazer seriam: qual a identidade cultural dos portugueses? Porque são tão pessimistas?
Do provedor e do articulista
As páginas assinadas por Joaquim Furtado e Mário Mesquita (aqui parcialmente) andam à volta de um tema: o colóquio de domingo passado na associação Abril em Maio - e que eu fiz eco esta semana no blogue [adenda incluida a 27 de Setembro: obrigado ao leitor anónimo que me corrigiu o nome do provedor]. O texto de Furtado merece ser lido com muita atenção e reflexão. Trata-se daquilo a que chamo de "circulação circular de informação" - ver o meu post desta semana com esse título. A jornalista Clara Raimundo escreveu sobre o colóquio e aludiu à comunicação do jornalista Acácio Barradas, o qual entendeu ter sido mal interpretado na peça noticiosa e escreveu uma carta ao provedor, que dedicou o espaço todo à questão.
Como estive presente e notei o tom sincero embora irónico de Acácio Barradas, posso fazer o papel de observador participante que escreve uma etnografia. Apesar de perceber da justeza do incómodo de Acácio Barradas, partilho da sensação descrita pela jornalista em que ele foi duro, excessivamente duro, na apreciação do trabalho escrito no jornal. Barradas entende que a jornalista (estagiária), com o método que escolheu, conquistará, "sem demora, um lugar efectivo na redacção do Público, com perspectivas de rápida ascensão a um posto de comando". O provedor ouviu a jornalista, que respondeu: "Pelos vistos, não sabe, mas fica a saber, até porque é do conhecimento geral aqui na redacção: os quadros do Público estão fechados há alguns anos, e, quando terminar o meu estágio, há já vários colegas recém-licenciados (sim, aqueles em cujo mérito não crê) na lista de espera para me substituir". A meu ver, o provedor actuou de modo muito equilibrado, cumprindo bem as suas funções (p. 10 da edição em papel).
Também o texto de Mário Mesquita aborda, na sempre grande acutilância de olhar o jornalismo, as questões do poder económico e financeiro dos patrões dos media sobre o jornalista.
Um dúvida me persegue desde há muito. Não sou jornalista, embora tenha um cartão passado pela Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (nº TE 873) [pois a actividade que exerço no jornalismo não é a minha principal fonte de rendimento], e já saltei de profissão duas vezes nos últimos dez anos (técnico e assessor de relações públicas, imagem e comunicação numa empresa tecnológica; professor universitário). Formulo as seguintes perguntas: nas outras profissões, não há pressão do patrão ou do chefe sobre um subordinado que produz trabalho e informação tão importante como a do jornalista? Ou será apenas porque os jornalistas encontram espaço nos próprios media para discutirem os parâmetros da profissão e os profissionais de outros místeres o não conseguem? Ou isso acontece porque os media formam (são veículos de) a opinião pública e isso coloca os jornalistas como uma das principais - senão a principal - actividades em permanente escrutínio?
sábado, 25 de setembro de 2004
O FENÓMENO DOS BLOGUES EM PORTUGAL
Joana Baptista, num estudo realizado no âmbito da sua tese de licenciatura em Comunicação Social, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, fez um estudo sobre os blogues em Portugal.
Segundo ela, "A partir dos questionários devolvidos estabelecemos o perfil da amostra com o auxílio das respostas às perguntas de classificação, que se prendem com a profissão, o género e a idade dos inquiridos.Deste modo, é de salientar que as profissões de carácter liberal, a par dos estudantes, são as que detêm maior frequência absoluta na tabela. De facto, são os professores que lideram o ranking de profissões, sendo que a dinâmica de blogues integra tanto professores universitários como de outros níveis de ensino escolar. Em cinquenta indivíduos, oito são professores, o que perfaz 16%. Também os jornalistas e os estudantes são adeptos dos blogues e apresentam-se na tabela com 8% das frequências relativas para cada uma destas profissões".
Dos cinco blogues mais consultados, Joana Baptista elenca os seguintes: 1) Barnabé, 2) Abrupto, 3) Aviz, 4) Blasfémias, e 5) Janela Indiscreta.
A autora criou um blogue onde explica os resultados do seu trabalho. Pode ser consultado em http://seminarioinvestigacao.blogspot.com/.
Joana Baptista, num estudo realizado no âmbito da sua tese de licenciatura em Comunicação Social, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, fez um estudo sobre os blogues em Portugal.
Segundo ela, "A partir dos questionários devolvidos estabelecemos o perfil da amostra com o auxílio das respostas às perguntas de classificação, que se prendem com a profissão, o género e a idade dos inquiridos.Deste modo, é de salientar que as profissões de carácter liberal, a par dos estudantes, são as que detêm maior frequência absoluta na tabela. De facto, são os professores que lideram o ranking de profissões, sendo que a dinâmica de blogues integra tanto professores universitários como de outros níveis de ensino escolar. Em cinquenta indivíduos, oito são professores, o que perfaz 16%. Também os jornalistas e os estudantes são adeptos dos blogues e apresentam-se na tabela com 8% das frequências relativas para cada uma destas profissões".
Dos cinco blogues mais consultados, Joana Baptista elenca os seguintes: 1) Barnabé, 2) Abrupto, 3) Aviz, 4) Blasfémias, e 5) Janela Indiscreta.
A autora criou um blogue onde explica os resultados do seu trabalho. Pode ser consultado em http://seminarioinvestigacao.blogspot.com/.
DISTINÇÃO - PRÉMIOS DN ATRIBUÍDOS EM CINCO CATEGORIAS
Era este o título de uma notícia editada ontem no Diário de Notícias, na sua secção dos media (p. 53 na edição em papel).
No interior da notícia, fazia-se referência aos prémios relativos ao primeiro semestre do ano, e nas categorias de reportagem, tema, entrevista, reportagem fotográfica e correspondentes. Os vencedores eram jornalistas daquele diário da Avenida da Liberdade, os quais eu felicito.
Mas a minha dúvida é: quem atribui os prémios? É uma entidade externa? Ou são prémios internos? A notícia não dá conta desse pormenor, o qual é, no meu parecer, significativo para a compreensão e lógica dos prémios. É que se são prémios internos até parecem jogos florais, com a devida ressalva para tal desígnio, outrora - há 60 anos - prestigiado.
Era este o título de uma notícia editada ontem no Diário de Notícias, na sua secção dos media (p. 53 na edição em papel).
No interior da notícia, fazia-se referência aos prémios relativos ao primeiro semestre do ano, e nas categorias de reportagem, tema, entrevista, reportagem fotográfica e correspondentes. Os vencedores eram jornalistas daquele diário da Avenida da Liberdade, os quais eu felicito.
Mas a minha dúvida é: quem atribui os prémios? É uma entidade externa? Ou são prémios internos? A notícia não dá conta desse pormenor, o qual é, no meu parecer, significativo para a compreensão e lógica dos prémios. É que se são prémios internos até parecem jogos florais, com a devida ressalva para tal desígnio, outrora - há 60 anos - prestigiado.
SERÁ QUE F.F. SABE ESCREVER EM PORTUGUÊS?
Por vezes, não entendo o português que me falam. É o exemplo de quando ouço pronunciarem a palavra habelitado (!) quando se escreve habilitado, assim mesmo com dois i-i e não com e-i. Na escola primária, onde aprendi a ler e a escrever, nunca me ensinaram tal barbaridade. O uso de pronúncias erradas leva a que surjam palavras escritas como descriminam no portal www.portugal.gov.pt, na página de referência a cursos de formação de licenciados. Alguns encartados dizem que, em caso de i em duas sílabas juntas, o primeiro i assume o som de e [palavra correcta: discriminam]. Outra palavra ainda mais característica é devedida [escreve-se dividida].
A mesma incompreensão acontece quando leio alguma prosa jornalística. É o caso da crítica de cinema saída hoje no Expresso (caderno "Actual") sobre o filme André Valente, de Catarina Ruivo. F.F., o autor da prosa, enreda-se em expressões como "cadáver do Cinema Novo", "malheur do Cinema Novo" (porquê infeliz ou desastre?), "saco de plástico que diz Verdes Anos", "toca à campainha do Cinema Novo", "detector de mentiras", "g.p." (presumo que seja grande plano), "ambiente irrespirável", "está perdido, narrativa e simbolicamente", "tal gato com o rabo de fora", "sorriso proibido".
Da análise ao filme (realização, interpretação), nada. Presumo que se trate de um mero e mesquinho exercício intelectual de vingança sobre uma linha produtiva do cinema português da segunda metade do século passado, a que a realizadora Catarina Ruivo esteja ligada, ainda que apenas afectiva e não geracionalmente. Sobre a compreensão dessa Lisboa cinzenta, o abandono do lar pelo pai, a tentativa de suicídio da mãe ou o quotidiano numa escola de Lisboa (para mim, parece-me quase de um subúrbio da cidade, embora entreveja as árvores do parque de Monsanto) - as razões sociais, culturais e estéticas - nada. Apenas, escreve F.F., se salva o que vem de fora, o emigrante da Rússia.
Talvez porque me pareçam adequadas as interpretações de Rita Durão e do jovem Leonardo Viveiros, não concorde com o que F.F. escreve. À estrela que Francisco Ferreira dá ao filme no quadro publicado pelos críticos do Expresso eu faria corresponder um zero pelo trabalho do mesmo crítico. E pergunto: não haverá um editor no jornal que ensine o jornalista-crítico a escrever um texto que se compreenda e que leve um espectador a optar pela ida ao cinema ou não de modo consciente? Um crítico enquanto mediador deve desempenhar um papel pedagógico e informativo, acompanhado de um tom explicativo ou interpretativo, claro. Deve escrever para os outros, sem pensar no seu grande umbigo.
Eu não compreendo - nunca compreendi - como nós, portugueses, somos tão críticos com o que fazemos e nos rendemos tão facilmente ao que vem de fora. Talvez porque somos intolerantes perante o sucesso do vizinho do lado e ambicionamos o carro novo, a casa nova ou, mesmo, a namorada nova que ele tem.
Por vezes, não entendo o português que me falam. É o exemplo de quando ouço pronunciarem a palavra habelitado (!) quando se escreve habilitado, assim mesmo com dois i-i e não com e-i. Na escola primária, onde aprendi a ler e a escrever, nunca me ensinaram tal barbaridade. O uso de pronúncias erradas leva a que surjam palavras escritas como descriminam no portal www.portugal.gov.pt, na página de referência a cursos de formação de licenciados. Alguns encartados dizem que, em caso de i em duas sílabas juntas, o primeiro i assume o som de e [palavra correcta: discriminam]. Outra palavra ainda mais característica é devedida [escreve-se dividida].
A mesma incompreensão acontece quando leio alguma prosa jornalística. É o caso da crítica de cinema saída hoje no Expresso (caderno "Actual") sobre o filme André Valente, de Catarina Ruivo. F.F., o autor da prosa, enreda-se em expressões como "cadáver do Cinema Novo", "malheur do Cinema Novo" (porquê infeliz ou desastre?), "saco de plástico que diz Verdes Anos", "toca à campainha do Cinema Novo", "detector de mentiras", "g.p." (presumo que seja grande plano), "ambiente irrespirável", "está perdido, narrativa e simbolicamente", "tal gato com o rabo de fora", "sorriso proibido".
Da análise ao filme (realização, interpretação), nada. Presumo que se trate de um mero e mesquinho exercício intelectual de vingança sobre uma linha produtiva do cinema português da segunda metade do século passado, a que a realizadora Catarina Ruivo esteja ligada, ainda que apenas afectiva e não geracionalmente. Sobre a compreensão dessa Lisboa cinzenta, o abandono do lar pelo pai, a tentativa de suicídio da mãe ou o quotidiano numa escola de Lisboa (para mim, parece-me quase de um subúrbio da cidade, embora entreveja as árvores do parque de Monsanto) - as razões sociais, culturais e estéticas - nada. Apenas, escreve F.F., se salva o que vem de fora, o emigrante da Rússia.
Talvez porque me pareçam adequadas as interpretações de Rita Durão e do jovem Leonardo Viveiros, não concorde com o que F.F. escreve. À estrela que Francisco Ferreira dá ao filme no quadro publicado pelos críticos do Expresso eu faria corresponder um zero pelo trabalho do mesmo crítico. E pergunto: não haverá um editor no jornal que ensine o jornalista-crítico a escrever um texto que se compreenda e que leve um espectador a optar pela ida ao cinema ou não de modo consciente? Um crítico enquanto mediador deve desempenhar um papel pedagógico e informativo, acompanhado de um tom explicativo ou interpretativo, claro. Deve escrever para os outros, sem pensar no seu grande umbigo.
Eu não compreendo - nunca compreendi - como nós, portugueses, somos tão críticos com o que fazemos e nos rendemos tão facilmente ao que vem de fora. Talvez porque somos intolerantes perante o sucesso do vizinho do lado e ambicionamos o carro novo, a casa nova ou, mesmo, a namorada nova que ele tem.
A IMPRENSA EM PORTUGAL: TRANSFORMAÇÕES E TENDÊNCIAS
UM LIVRO DE PAULO FAUSTINO
Foi ontem lançado o livro de Paulo Faustino, intitulado A imprensa em Portugal: transformações e tendências. Trata-se de um excelente estudo sobre a imprensa no nosso país nos últimos cinco anos, mas com um pano de fundo que remete para os últimos 15 anos.
O livro, com 267 páginas de texto, está dividido em sete capítulos, abordando os seguintes temas: evolução e dinâmicas empresariais (cap. 1), evolução e tendências de consumo da imprensa (cap. 2), análise económica e financeira da imprensa (cap. 3), gestão, estratégia e marketing na imprensa (cap. 4), grupos de imprensa (cap. 5), actores do mercado (cap. 6) e tendências na imprensa (cap. 7). O texto é acompanhado de muitos quadros e gráficos.
Para mim, os capítulos com mais interesse para o conhecimento da realidade nacional são os 2º, 3º e 5º. O autor analisa quer a imprensa nacional, quer a imprensa regional [área onde mais tem investido em termos de investigação], quer a imprensa especializada.
Paulo Faustino, que prepara o doutoramento na Universidade Complutense, de Madrid, tem uma perspectiva optimista do mercado. Por um lado, acredita que já se está em recuperação do investimento publicitário, o que conduz a uma melhoria da situação dos media escritos no nosso país. Por outro lado, observa a existência de uma indústria mais bem desenvolvida do que a descrita nas análises estatísticas fornecidas pela WAN (World Association of Newspapers), que coloca Portugal no segundo pior lugar de leitura de jornais a nível da União Europeia, antes do alargamento a 25 países. Se Portugal tem um número baixo de diários, a situação inverte-se em termos de imprensa regional e local. Aliás, um dos méritos do texto agora publicado é o da apresentação de elementos referentes ao país nos últimos anos, a partir de dados que ele coligiu e que suprime algumas carências que nem o último anuário do Obercom supriu.
Trata-se - e aqui não é o local para se fazer uma análise mais detalhada - de uma das mais importantes publicações sobre a matéria e que será, com certeza, objecto de estudo nas universidades e no meio empresarial da indústria. O autor apresenta, sempre que pode, valores respeitantes ao último semestre de 2004, o que dá conta de uma grande actualidade. E quem quiser estudar a formação e peso dos grupos económicos dos media escritos encontra tudo neste trabalho de referência. É esta a minha impressão sincera depois de ter lido o seu original antes de ser impresso.
Adenda escrita às 10:30: a apresentação do livro coube a Rui Cádima (Universidade Nova de Lisboa e anterior director executivo do Obercom) e Timoteo Alvarez (Universidade Complutense de Madrid). Deste último retive algumas ideias de memória (pois não levei o meu caderninho de notas), menos centrado no livro de Paulo Faustino e mais na realidade da indústria.
Para Alvarez, antigo jornalista, professor catedrático e director de uma empresa de comunicação, os media escritos ainda têm uma longa e frutuosa vida à sua frente. Contudo, ele apontou alguns estrangulamentos, nomeadamente em Espanha. Os investimentos publicitários têm sido desviados da imprensa para a televisão regional e local, em que alguns projectos, na sua opinião, são ilegais. Além disso, nos últimos anos, os jornais têm sido obrigados a reconhecer erros na informação que prestam, caso do New York Times ou o El Pais (na sexta-feira da semana passada), ou são revelados segredos de poder e abuso do poder por alguns antigos jornalistas, caso do Le Monde, em 2003.
A imprensa, considera Timoteo Alvarez, tem de continuar na senda da objectividade, da imparcialidade e da confirmação de informação a partir de duas fontes credíveis. Até porque a indústria é rentável, como no começo da sua apresentação o professor de Madrid afirmou. Ele pôs em confronto os jornais existentes na época de Franco (muitos deles estatais e dando prejuízo) e os mesmos periódicos após a transição democrática (todos eles dando lucro).
E destacou o jornal El Pais, o meio impresso paradigmático em Espanha. Iniciado há perto de 30 anos, o equilíbrio financeiro foi conseguido poucos anos depois, tendo estabilizado frequentemente em lucros, após impostos, na ordem de 18 milhões de pesetas (fazendo um câmbio à época – uma peseta equivalente a 1$50 – e convertendo para a moeda comum actual, teríamos grosseiramente, €5,4 milhões). Hoje esse valor anual baixou consideravelmente, mas continua na senda dos resultados positivos.
UM LIVRO DE PAULO FAUSTINO
Foi ontem lançado o livro de Paulo Faustino, intitulado A imprensa em Portugal: transformações e tendências. Trata-se de um excelente estudo sobre a imprensa no nosso país nos últimos cinco anos, mas com um pano de fundo que remete para os últimos 15 anos.
O livro, com 267 páginas de texto, está dividido em sete capítulos, abordando os seguintes temas: evolução e dinâmicas empresariais (cap. 1), evolução e tendências de consumo da imprensa (cap. 2), análise económica e financeira da imprensa (cap. 3), gestão, estratégia e marketing na imprensa (cap. 4), grupos de imprensa (cap. 5), actores do mercado (cap. 6) e tendências na imprensa (cap. 7). O texto é acompanhado de muitos quadros e gráficos.
Para mim, os capítulos com mais interesse para o conhecimento da realidade nacional são os 2º, 3º e 5º. O autor analisa quer a imprensa nacional, quer a imprensa regional [área onde mais tem investido em termos de investigação], quer a imprensa especializada.
Paulo Faustino, que prepara o doutoramento na Universidade Complutense, de Madrid, tem uma perspectiva optimista do mercado. Por um lado, acredita que já se está em recuperação do investimento publicitário, o que conduz a uma melhoria da situação dos media escritos no nosso país. Por outro lado, observa a existência de uma indústria mais bem desenvolvida do que a descrita nas análises estatísticas fornecidas pela WAN (World Association of Newspapers), que coloca Portugal no segundo pior lugar de leitura de jornais a nível da União Europeia, antes do alargamento a 25 países. Se Portugal tem um número baixo de diários, a situação inverte-se em termos de imprensa regional e local. Aliás, um dos méritos do texto agora publicado é o da apresentação de elementos referentes ao país nos últimos anos, a partir de dados que ele coligiu e que suprime algumas carências que nem o último anuário do Obercom supriu.
Trata-se - e aqui não é o local para se fazer uma análise mais detalhada - de uma das mais importantes publicações sobre a matéria e que será, com certeza, objecto de estudo nas universidades e no meio empresarial da indústria. O autor apresenta, sempre que pode, valores respeitantes ao último semestre de 2004, o que dá conta de uma grande actualidade. E quem quiser estudar a formação e peso dos grupos económicos dos media escritos encontra tudo neste trabalho de referência. É esta a minha impressão sincera depois de ter lido o seu original antes de ser impresso.
Adenda escrita às 10:30: a apresentação do livro coube a Rui Cádima (Universidade Nova de Lisboa e anterior director executivo do Obercom) e Timoteo Alvarez (Universidade Complutense de Madrid). Deste último retive algumas ideias de memória (pois não levei o meu caderninho de notas), menos centrado no livro de Paulo Faustino e mais na realidade da indústria.
Para Alvarez, antigo jornalista, professor catedrático e director de uma empresa de comunicação, os media escritos ainda têm uma longa e frutuosa vida à sua frente. Contudo, ele apontou alguns estrangulamentos, nomeadamente em Espanha. Os investimentos publicitários têm sido desviados da imprensa para a televisão regional e local, em que alguns projectos, na sua opinião, são ilegais. Além disso, nos últimos anos, os jornais têm sido obrigados a reconhecer erros na informação que prestam, caso do New York Times ou o El Pais (na sexta-feira da semana passada), ou são revelados segredos de poder e abuso do poder por alguns antigos jornalistas, caso do Le Monde, em 2003.
A imprensa, considera Timoteo Alvarez, tem de continuar na senda da objectividade, da imparcialidade e da confirmação de informação a partir de duas fontes credíveis. Até porque a indústria é rentável, como no começo da sua apresentação o professor de Madrid afirmou. Ele pôs em confronto os jornais existentes na época de Franco (muitos deles estatais e dando prejuízo) e os mesmos periódicos após a transição democrática (todos eles dando lucro).
E destacou o jornal El Pais, o meio impresso paradigmático em Espanha. Iniciado há perto de 30 anos, o equilíbrio financeiro foi conseguido poucos anos depois, tendo estabilizado frequentemente em lucros, após impostos, na ordem de 18 milhões de pesetas (fazendo um câmbio à época – uma peseta equivalente a 1$50 – e convertendo para a moeda comum actual, teríamos grosseiramente, €5,4 milhões). Hoje esse valor anual baixou consideravelmente, mas continua na senda dos resultados positivos.
sexta-feira, 24 de setembro de 2004
UM ANÚNCIO
Este blogue não é uma bolsa de emprego. Contudo, tirei o seguinte anúncio da newsletter do DOTJOURNALISM (sítio: http://www.journalism.co.uk).
Título do emprego: Editor
Salário a pagar pelo maior semanário de economia: 40 a 44 mil libras + bónus + automóvel
Data de abertura do anúncio: 17/9/2004
Data de fecho do anúncio: 5/10/2004
Detalhes completos: um anúncio para editor de um dos principais semanários de economia não aparece com muita frequência, pelo que não deve deixar passar esta oportunidade. Se possui experiência a nível sénior num meio de comunicação de qualidade e estiver à procura de uma mudança significativa na carreira, leia este anúncio, por favor.
Este perfil elevado deve-se ao facto do semanário ter perdido o seu editor, que já estava no lugar há muito tempo. A sua saída criou uma oportunidade rara de emprego numa área dos media quer em papel e internet.
A revista cobre um sector importante e muito activo no retalho que emprega uma força de trabalho elevada e em números aparece a seguir ao sector público. Por isso, dá sempre notícias de capa nos jornais nacionais e aparece habitualmente nos de índole regional.
Consolidação, internacionalização, compras pela internet, chips, propriedade, emprego, cadeia de valor e logística são algumas das histórias publicadas nas colunas a par das actividades de personalidades da indústria – Phillip Green, Stuart Rose, Charles Dunstone, Terry Leahy e Ken Morrison, para nomear apenas alguns.
Além de gerir uma equipa editorial de catorze jornalistas, o seu papel é o de implementar o relançamento da publicação, de modo a ter uma boa leitura em conteúdos. Espera-se ainda que explore as notícias publicadas noutros media e dê a cara em conferências, prémios e nos media.
Responsabilidades:
* Responsabilidade total na estratégia e direcção editorial
* Gestão da equipa editorial de catorze jornalistas
* Manter-se actualizado sobre as mudanças na indústria e no panorama económico e político do sector
* Escrever leads, notícias, análises e reportagens
* Editar
* Trabalhar com o director de arte e design da revista
* Dirigir conferências e entregar prémios
* Actuar como o rosto público da revista
* Trabalhar directamente com o director editorial em áreas suplementares
Exige-se:
* Experiência, pelo menos, ao nível de director-adjunto numa publicação semanal dentro do sector
* Forte capacidade de liderança de uma equipa
* Demonstração de bom senso
* Conhecimentos de design
* Confiança com os patrões da indústria
Benefícios:
25 dias de férias, esquema de complemento de reforma, acções, pacote de férias suplementares, seguro de vida (incluindo o da sua mulher), seguro médico, seguro de viagens, check-up médico, cobertura para cuidados dentários e vouchers de cuidados para crianças.
Contactar com: Allan Cross, Director, The Media Network (Editorial Recruitment Specialists), 28 Mortimer Street, London N1 3AG
Telephone: [indicativo internacional]020 7637 9227
Sítio: http://www.tmn.co.uk
Email: across@tmn.co.uk
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Título do emprego: Editor
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Data de abertura do anúncio: 17/9/2004
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Este perfil elevado deve-se ao facto do semanário ter perdido o seu editor, que já estava no lugar há muito tempo. A sua saída criou uma oportunidade rara de emprego numa área dos media quer em papel e internet.
A revista cobre um sector importante e muito activo no retalho que emprega uma força de trabalho elevada e em números aparece a seguir ao sector público. Por isso, dá sempre notícias de capa nos jornais nacionais e aparece habitualmente nos de índole regional.
Consolidação, internacionalização, compras pela internet, chips, propriedade, emprego, cadeia de valor e logística são algumas das histórias publicadas nas colunas a par das actividades de personalidades da indústria – Phillip Green, Stuart Rose, Charles Dunstone, Terry Leahy e Ken Morrison, para nomear apenas alguns.
Além de gerir uma equipa editorial de catorze jornalistas, o seu papel é o de implementar o relançamento da publicação, de modo a ter uma boa leitura em conteúdos. Espera-se ainda que explore as notícias publicadas noutros media e dê a cara em conferências, prémios e nos media.
Responsabilidades:
* Responsabilidade total na estratégia e direcção editorial
* Gestão da equipa editorial de catorze jornalistas
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* Editar
* Trabalhar com o director de arte e design da revista
* Dirigir conferências e entregar prémios
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Exige-se:
* Experiência, pelo menos, ao nível de director-adjunto numa publicação semanal dentro do sector
* Forte capacidade de liderança de uma equipa
* Demonstração de bom senso
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Benefícios:
25 dias de férias, esquema de complemento de reforma, acções, pacote de férias suplementares, seguro de vida (incluindo o da sua mulher), seguro médico, seguro de viagens, check-up médico, cobertura para cuidados dentários e vouchers de cuidados para crianças.
Contactar com: Allan Cross, Director, The Media Network (Editorial Recruitment Specialists), 28 Mortimer Street, London N1 3AG
Telephone: [indicativo internacional]020 7637 9227
Sítio: http://www.tmn.co.uk
Email: across@tmn.co.uk
CENTROS COMERCIAIS
Tinha em vista fazer uma visita ao novo outlet de Alcochete, designado Freeport e considerado o maior da Europa (não tenho possibilidades materiais de confirmar ou não a informação), com 200 lojas, um complexo de 21 salas de cinema e um anfiteatro para concertos. Fi-lo agora, e eis as minhas impressões.
O acesso é simples. A estrada, após a ponte Vasco da Gama, foi melhorada e alargada para duas faixas (como está a acontecer na via de acesso ao IKEA, em Alfragide), o que ilustra o modo como as empresas e conjuntos de empresas influenciam os acessos. À entrada, o consumidor ouve nos altifalantes a emissão da Rádio Capital. O outlet está disposto em semi-circunferência e as artérias chamam-se rua do Clautro, rua do Coreto, avenida do Sol, alameda dos Oásis, praça das Estrelas. O estacionamento é ao ar livre, mas também existe um parque subterrâneo pago.
Onde me lembrei de George Ritzer e Roland Barthes
Há ainda muitas lojas por abrir: Zara, Pull & Bear, Benetton, Miss Sixty, Mango, Cortefiel, Levi's, Meskla, Versace (embora outra já esteja aberta), Vista Alegre. Encontram-se lojas de produtos semelhantes ou aproximados umas juntas às outras, como a de sneakers (ténis) Brooklin's e a Adidas, e a zona da restauração. Também a Calzedonia tem uma loja aberta e outra para abrir. O mesmo ocorre com os restaurantes, caso do El Tapas, de cozinha espanhola.
Eu chegara pouco antes da hora de almoço, ido directamente das aulas na Universidade. Dei ainda uma volta e tirei fotografias (havia seguranças por todo o lado, mas não importunaram a minha tarefa). Depois, escolhi o restaurante japonês Hong Sha Long, numa atitude de internacionalização e porque ainda me lembrava do filme Lost in translation, de Sofia Copolla. Trata-se de uma sala ampla, onde corre um tapete rolante (como se fosse uma linha de montagem) com os pratinhos de comida. Para acompanhar, um empregado vestido de quimono pergunta qual o prato principal que se quer e a bebida. Usei com êxito os pauzinhos para comer!
Foi aí que me lembrei de George Ritzer, no seu livro The McDonaldization of society, que acabei de ler. Livro muito crítico para com a comida fast-food, ele assenta que nem uma luva ao restaurante onde fui no outlet. O restaurante possui mesas clássicas, onde me sentei, mas também uma espécie de bancada (que lembra uma manjedoura) mesmo em frente do tapete rolante. E também me lembrei de Roland Barthes, com a sua dicotomia de paradigma e sintagma. O restaurante tem a indicação de "comida à discrição", pelo que se pode comer todos os pratinhos desejados, numa escolha aleatória de variantes dentro de um princípio: a comida que anda no tapete rolante.
No conjunto das lojas, os preços são convidativos para os consumidores. Na loja Valentim de Carvalho há livros desde €1,5, a Calzedonia outlet intimissi vende um biquini por €9,9 (quando o preço seria de €49 a €55). Outra loja tem indicado, para umas calças de homem, o valor "normal" de €45 e "outlet" de €22. Algumas das lojas que vi ostentam a diferenciação de preços em inglês (retail price e outlet price). Em muitas lojas, os descontos podem ir até 50%.
Como diria Ritzer, os artigos são baratos, convidando à sua compra, mas a sua qualidade é apenas média e o design não é, em geral, o melhor (muitas vezes, as peças provêm de colecções que não tiveram saída na época de lançamento). E o que é barato fica caro pois há a deslocação de automóvel e o pagamento da portagem na ponte. E a recriação de ambientes de rua e praças é artificial, pois não há organicidade como se observa no casco histórico das cidades, onde as pessoas que circulam nas lojas moram nas vizinhanças. Além de que há uma grande uniformidade, pois as lojas que existem no outlet encontramo-las em múltiplos espaços.
Quanto ao complexo de cinemas, parece-me um grande erro haver tantas salas (21). Haverá frequência de pessoas que chegue? É certo que o preço ronda os €3,5, mais baixo que os €5 de uma sala aqui no centro de Lisboa. E há um factor suplementar: cada cadeira individual tem incrustado um recipiente apropriado para receber embalagens com pipocas! Mas não podemos esquecer que, segundo dados agora publicados pelo Anuário de Comunicação do Obercom (2003-2004), o número de espectadores de cinema está a baixar (19,4 milhões em 2002 para 18,7 milhões em 2003) enquanto aumenta o número de sessões (522 mil em 2002 para 559 mil em 2003). Ora, a área abrangida pelo outlet não será certamente tão abrangente para encher as salas, mesmo que cada elemento de um agregado familiar se disperse e veja o seu filme favorito.
Alcochete entre o passado e o futuro
Até se dar a construção da ponte Vasco da Gama, Alcochete era quase uma aldeia, mesmo afastada do Montijo. Possui um pequeno centro histórico com um monumento ao rei D. Manuel I, que ali nasceu, e um pequeno cais de embarque para barcos que faziam a ligação regular com Lisboa. Perto, existe um pequeno restaurante, o Alcochetano, onde se serve bom peixe. Já não vou lá há mais de dois anos. A largada de touros na vila é um espectáculo divertido e, claro, arriscado para quem afronta os animais. Com a ponte, as urbalizações cresceram entre Alcochete e Montijo, levando a uma rápida transformação. O outlet Freeport e o Fórum Montijo são os centros comerciais que abastecem as novas zonas mas também a população já residente, o que significa, com toda a probabilidade, a agonia do comércio tradicional local.
As perguntas que não consegui obter resposta são as seguintes: quem visita o outlet? Que poder de compra tem? São visitantes da margem sul do Tejo? Ou vêem da metrópole lisboeta? Ou os que se deslocam entre Lisboa e o Alentejo? Há espanhóis entre os compradores? O outlet de Alcochete não faz concorrência ao outlet do Carregado, situado numa outra via de grande tráfego, a A1? E se o outlet redundar num flop, como parece estar a acontecer ao centro comercial Alvaláxia, junto ao novo estádio do Sporting? Será que temos mercado em Portugal para tantas lojas e centros comerciais? Ou será uma forma de modernidade saloia, quando crescem as críticas noutros locais, apesar do optimismo de Paco Underhill, em The call of the mall. How we shop e que eu gostei muito de ler?
Tinha em vista fazer uma visita ao novo outlet de Alcochete, designado Freeport e considerado o maior da Europa (não tenho possibilidades materiais de confirmar ou não a informação), com 200 lojas, um complexo de 21 salas de cinema e um anfiteatro para concertos. Fi-lo agora, e eis as minhas impressões.
O acesso é simples. A estrada, após a ponte Vasco da Gama, foi melhorada e alargada para duas faixas (como está a acontecer na via de acesso ao IKEA, em Alfragide), o que ilustra o modo como as empresas e conjuntos de empresas influenciam os acessos. À entrada, o consumidor ouve nos altifalantes a emissão da Rádio Capital. O outlet está disposto em semi-circunferência e as artérias chamam-se rua do Clautro, rua do Coreto, avenida do Sol, alameda dos Oásis, praça das Estrelas. O estacionamento é ao ar livre, mas também existe um parque subterrâneo pago.
Onde me lembrei de George Ritzer e Roland Barthes
Há ainda muitas lojas por abrir: Zara, Pull & Bear, Benetton, Miss Sixty, Mango, Cortefiel, Levi's, Meskla, Versace (embora outra já esteja aberta), Vista Alegre. Encontram-se lojas de produtos semelhantes ou aproximados umas juntas às outras, como a de sneakers (ténis) Brooklin's e a Adidas, e a zona da restauração. Também a Calzedonia tem uma loja aberta e outra para abrir. O mesmo ocorre com os restaurantes, caso do El Tapas, de cozinha espanhola.
Eu chegara pouco antes da hora de almoço, ido directamente das aulas na Universidade. Dei ainda uma volta e tirei fotografias (havia seguranças por todo o lado, mas não importunaram a minha tarefa). Depois, escolhi o restaurante japonês Hong Sha Long, numa atitude de internacionalização e porque ainda me lembrava do filme Lost in translation, de Sofia Copolla. Trata-se de uma sala ampla, onde corre um tapete rolante (como se fosse uma linha de montagem) com os pratinhos de comida. Para acompanhar, um empregado vestido de quimono pergunta qual o prato principal que se quer e a bebida. Usei com êxito os pauzinhos para comer!
Foi aí que me lembrei de George Ritzer, no seu livro The McDonaldization of society, que acabei de ler. Livro muito crítico para com a comida fast-food, ele assenta que nem uma luva ao restaurante onde fui no outlet. O restaurante possui mesas clássicas, onde me sentei, mas também uma espécie de bancada (que lembra uma manjedoura) mesmo em frente do tapete rolante. E também me lembrei de Roland Barthes, com a sua dicotomia de paradigma e sintagma. O restaurante tem a indicação de "comida à discrição", pelo que se pode comer todos os pratinhos desejados, numa escolha aleatória de variantes dentro de um princípio: a comida que anda no tapete rolante.
No conjunto das lojas, os preços são convidativos para os consumidores. Na loja Valentim de Carvalho há livros desde €1,5, a Calzedonia outlet intimissi vende um biquini por €9,9 (quando o preço seria de €49 a €55). Outra loja tem indicado, para umas calças de homem, o valor "normal" de €45 e "outlet" de €22. Algumas das lojas que vi ostentam a diferenciação de preços em inglês (retail price e outlet price). Em muitas lojas, os descontos podem ir até 50%.
Como diria Ritzer, os artigos são baratos, convidando à sua compra, mas a sua qualidade é apenas média e o design não é, em geral, o melhor (muitas vezes, as peças provêm de colecções que não tiveram saída na época de lançamento). E o que é barato fica caro pois há a deslocação de automóvel e o pagamento da portagem na ponte. E a recriação de ambientes de rua e praças é artificial, pois não há organicidade como se observa no casco histórico das cidades, onde as pessoas que circulam nas lojas moram nas vizinhanças. Além de que há uma grande uniformidade, pois as lojas que existem no outlet encontramo-las em múltiplos espaços.
Quanto ao complexo de cinemas, parece-me um grande erro haver tantas salas (21). Haverá frequência de pessoas que chegue? É certo que o preço ronda os €3,5, mais baixo que os €5 de uma sala aqui no centro de Lisboa. E há um factor suplementar: cada cadeira individual tem incrustado um recipiente apropriado para receber embalagens com pipocas! Mas não podemos esquecer que, segundo dados agora publicados pelo Anuário de Comunicação do Obercom (2003-2004), o número de espectadores de cinema está a baixar (19,4 milhões em 2002 para 18,7 milhões em 2003) enquanto aumenta o número de sessões (522 mil em 2002 para 559 mil em 2003). Ora, a área abrangida pelo outlet não será certamente tão abrangente para encher as salas, mesmo que cada elemento de um agregado familiar se disperse e veja o seu filme favorito.
Alcochete entre o passado e o futuro
Até se dar a construção da ponte Vasco da Gama, Alcochete era quase uma aldeia, mesmo afastada do Montijo. Possui um pequeno centro histórico com um monumento ao rei D. Manuel I, que ali nasceu, e um pequeno cais de embarque para barcos que faziam a ligação regular com Lisboa. Perto, existe um pequeno restaurante, o Alcochetano, onde se serve bom peixe. Já não vou lá há mais de dois anos. A largada de touros na vila é um espectáculo divertido e, claro, arriscado para quem afronta os animais. Com a ponte, as urbalizações cresceram entre Alcochete e Montijo, levando a uma rápida transformação. O outlet Freeport e o Fórum Montijo são os centros comerciais que abastecem as novas zonas mas também a população já residente, o que significa, com toda a probabilidade, a agonia do comércio tradicional local.
As perguntas que não consegui obter resposta são as seguintes: quem visita o outlet? Que poder de compra tem? São visitantes da margem sul do Tejo? Ou vêem da metrópole lisboeta? Ou os que se deslocam entre Lisboa e o Alentejo? Há espanhóis entre os compradores? O outlet de Alcochete não faz concorrência ao outlet do Carregado, situado numa outra via de grande tráfego, a A1? E se o outlet redundar num flop, como parece estar a acontecer ao centro comercial Alvaláxia, junto ao novo estádio do Sporting? Será que temos mercado em Portugal para tantas lojas e centros comerciais? Ou será uma forma de modernidade saloia, quando crescem as críticas noutros locais, apesar do optimismo de Paco Underhill, em The call of the mall. How we shop e que eu gostei muito de ler?
quinta-feira, 23 de setembro de 2004
PROGRAMA DO CLUBE DOS JORNALISTAS
HOJE NO CANAL PÚBLICO 2:, ÀS 00:00
O tema é A crise de identidade dos jornalistas, e conta com António Jorge Branco (TSF), Rosa Maria Sobreira (autora do livro Os jornalistas portugueses, 1933-1974) e Fernando Correia (jornalista, docente universitário e autor do best-seller Os jornalistas e as notícias). A moderação é de Carla Martins, a quem auspicio uma boa estreia nesta função. Há ainda depoimentos de jornalistas seniores, como Diana Andringa e Avelino Rodrigues, e juniores, como Cátia Candeias, agora no Público mas que no último número da revista MediaXXI fez um trabalho notável.
HOJE NO CANAL PÚBLICO 2:, ÀS 00:00
O tema é A crise de identidade dos jornalistas, e conta com António Jorge Branco (TSF), Rosa Maria Sobreira (autora do livro Os jornalistas portugueses, 1933-1974) e Fernando Correia (jornalista, docente universitário e autor do best-seller Os jornalistas e as notícias). A moderação é de Carla Martins, a quem auspicio uma boa estreia nesta função. Há ainda depoimentos de jornalistas seniores, como Diana Andringa e Avelino Rodrigues, e juniores, como Cátia Candeias, agora no Público mas que no último número da revista MediaXXI fez um trabalho notável.
CENTROS COMERCIAIS, OUTRA VEZ
Ainda me recordo da movida que foi a abertura do centro comercial Brasília, na rotunda da Boavista, no Porto. Marcou um tempo novo de lojas, num espaço já densamente comercial. Há quantos anos foi isso? Já lhe perdi a conta.
A verdade é que começou um novo período de consumo. Lojas muito iluminadas, umas junto às outras [no Porto diz-se "à beira", em Lisboa diz-se "ao pé"], com um ambiente climatizado. A frequência de compradores ou simples mirones era elevada. Os jornais fizeram referência à "catedral de consumo". Depois, anos mais tarde, o espaço de lojas alargava-se, com chão mais nobre (passando da matéria plástica para pedra) e lojas mais modernas. O fluxo de visitantes ampliou-se, creio que se faziam excursões ao sítio para admirar e comprar. Até abriu um cinema, o Charlot. Vi lá algumas fitas, embora a sala não fosse a minha preferida.
Mais tarde, talvez há uns dez anos (ou mais, que a memória esbate o tempo), abriram novos centros comerciais na zona e entravam na rota do consumo os centros comerciais tipo GaiaShopping, onde as lojas eram predominantemente de marcas internacionais, fosse roupa, ténis ou equipamentos eléctricos.
O Brasília, de lojinhas familiares, com poucos produtos a rodarem as montras, entrou em declínio inexorável. Os críticos e racistas começariam a dizer: até já tem lojas de indianos! Mas estas acabam por ser úteis, vendendo acessórios para informática, computadores e telemóveis.O cinema fechou, como mostra a imagem em cima, muitas lojas estão vazias, o centro comercial parece um fantasma, até se ouve o eco dos sapatos passando no chão de plástico ou de pedra.
Quantos shoppings, outrora brilhantes, procurados por gente sempre apressada a comprar, estão degradados ou entram numa velhice triste? E, se estes entram em crise, também a actividade comercial fora do espaço fechado sofre. É que, apesar da concorrência, passava a haver uma complementaridade, pois o centro comercial funcionava como um pólo, uma âncora, como se diz agora.
Mas, no meio desse vazio, pode haver espaço para uma surpresa. E que contraria a regra dominante, embora não saiba por quanto tempo. Prometo voltar ao assunto.
Ainda me recordo da movida que foi a abertura do centro comercial Brasília, na rotunda da Boavista, no Porto. Marcou um tempo novo de lojas, num espaço já densamente comercial. Há quantos anos foi isso? Já lhe perdi a conta.
A verdade é que começou um novo período de consumo. Lojas muito iluminadas, umas junto às outras [no Porto diz-se "à beira", em Lisboa diz-se "ao pé"], com um ambiente climatizado. A frequência de compradores ou simples mirones era elevada. Os jornais fizeram referência à "catedral de consumo". Depois, anos mais tarde, o espaço de lojas alargava-se, com chão mais nobre (passando da matéria plástica para pedra) e lojas mais modernas. O fluxo de visitantes ampliou-se, creio que se faziam excursões ao sítio para admirar e comprar. Até abriu um cinema, o Charlot. Vi lá algumas fitas, embora a sala não fosse a minha preferida.
Mais tarde, talvez há uns dez anos (ou mais, que a memória esbate o tempo), abriram novos centros comerciais na zona e entravam na rota do consumo os centros comerciais tipo GaiaShopping, onde as lojas eram predominantemente de marcas internacionais, fosse roupa, ténis ou equipamentos eléctricos.
O Brasília, de lojinhas familiares, com poucos produtos a rodarem as montras, entrou em declínio inexorável. Os críticos e racistas começariam a dizer: até já tem lojas de indianos! Mas estas acabam por ser úteis, vendendo acessórios para informática, computadores e telemóveis.O cinema fechou, como mostra a imagem em cima, muitas lojas estão vazias, o centro comercial parece um fantasma, até se ouve o eco dos sapatos passando no chão de plástico ou de pedra.
Quantos shoppings, outrora brilhantes, procurados por gente sempre apressada a comprar, estão degradados ou entram numa velhice triste? E, se estes entram em crise, também a actividade comercial fora do espaço fechado sofre. É que, apesar da concorrência, passava a haver uma complementaridade, pois o centro comercial funcionava como um pólo, uma âncora, como se diz agora.
Mas, no meio desse vazio, pode haver espaço para uma surpresa. E que contraria a regra dominante, embora não saiba por quanto tempo. Prometo voltar ao assunto.
quarta-feira, 22 de setembro de 2004
COMO SE ESCOLHEM AS NOTÍCIAS
As notícias são produzidas tendo em conta a actualidade, significado social, interesse público da matéria, consonância e novidade - disse, sintetizando intervenções nos dias anteriores, Cristina Ponte, da Universidade Nova de Lisboa, no colóquio de domingo último na Associação Abril em Maio. E perguntou: quanto custa fazer uma notícia? Há "boas" personagens nas notícias?
Pegando na comunicação de Mário Mesquita, na sexta-feira, sobre "Os 30 anos do 25 de Abril no Jornal de Notícias", salientou-se o espaço do (de um) jornal como promotor, narrador e intérprete [de acontecimentos e factos, acrescento eu]. A efeméride tornou-se comemoração e celebração, numa escrita virada para o consenso e que rasura, por isso, a dissensão. Ou, por outras palavras, e ainda para Mário Mesquita - segundo a síntese de Cristina Ponte [eu funciono como segundo repetidor, pelo que qualquer erro ou omissão a mim deve ser imputado] -, a memória sacraliza e esquece ou apaga. É como no caso das notícias da necrologia, em que apenas assomam determinados aspectos, normalmente descontando os excessos e elevando as virtudes.
Dos dois outros comunicadores presentes na sessão de domingo à tarde, que eu acompanhei, Acácio Barradas destacou a deslocação do poder, nas redacções, dos jornalistas para os conselhos de administração, enquanto José Mário Silva (caderno DNA, do Diário de Notícias) mostrou a importância da blogosfera na actividade jornalística actual. Para este último jornalista, a blogosfera não é alternativa aos media existentes mas assume-se como um suplemento.
As notícias são produzidas tendo em conta a actualidade, significado social, interesse público da matéria, consonância e novidade - disse, sintetizando intervenções nos dias anteriores, Cristina Ponte, da Universidade Nova de Lisboa, no colóquio de domingo último na Associação Abril em Maio. E perguntou: quanto custa fazer uma notícia? Há "boas" personagens nas notícias?
Pegando na comunicação de Mário Mesquita, na sexta-feira, sobre "Os 30 anos do 25 de Abril no Jornal de Notícias", salientou-se o espaço do (de um) jornal como promotor, narrador e intérprete [de acontecimentos e factos, acrescento eu]. A efeméride tornou-se comemoração e celebração, numa escrita virada para o consenso e que rasura, por isso, a dissensão. Ou, por outras palavras, e ainda para Mário Mesquita - segundo a síntese de Cristina Ponte [eu funciono como segundo repetidor, pelo que qualquer erro ou omissão a mim deve ser imputado] -, a memória sacraliza e esquece ou apaga. É como no caso das notícias da necrologia, em que apenas assomam determinados aspectos, normalmente descontando os excessos e elevando as virtudes.
Dos dois outros comunicadores presentes na sessão de domingo à tarde, que eu acompanhei, Acácio Barradas destacou a deslocação do poder, nas redacções, dos jornalistas para os conselhos de administração, enquanto José Mário Silva (caderno DNA, do Diário de Notícias) mostrou a importância da blogosfera na actividade jornalística actual. Para este último jornalista, a blogosfera não é alternativa aos media existentes mas assume-se como um suplemento.
terça-feira, 21 de setembro de 2004
SENADO NORTE-AMERICANO PREPARA LEGISLAÇÃO DA TELEVISÃO DIGITAL
A próxima mudança tecnológica na televisão (da analógica para a digital) preocupa o Senado dos Estados Unidos. Nesse sentido, o presidente da Comissão de Comércio do Senado, John McCain, procura disponibilizar mil milhões de dólares de ajuda aos consumidores que não possam adquirir os novos receptores de sinal digital, transição que decorrerá até 2009.
O governo tem interesse em ter nas suas mãos as frequências analógicas, pois pode leiloá-las a serviços comerciais, traduzindo-se tal em muitos milhões de dólares. Segundo McCain, o dinheiro para apoiar os consumidores virá do bolo conseguido com esse leilão. Além disso, o espaço radioeléctrico libertado beneficiará instituições de segurança pública que pretendem mais espaço de frequências para comunicarem em caso de actos terroristas ou crises nacionais.
O switch-off começará em 2007 ou quando 85% da população americana estiver apta a receber os novos sinais digitais. Esta segunda especificação poderá atrasar a mudança tecnológica. Se, por um lado, a maior parte das estações de televisão já emite a programação em sinal digital simultaneamente com o analógico, poucos lares americanos possuem receptores digitais, bastante mais caros que os analógicos.
Informação recolhida no blogue Media Network Weblog.
A próxima mudança tecnológica na televisão (da analógica para a digital) preocupa o Senado dos Estados Unidos. Nesse sentido, o presidente da Comissão de Comércio do Senado, John McCain, procura disponibilizar mil milhões de dólares de ajuda aos consumidores que não possam adquirir os novos receptores de sinal digital, transição que decorrerá até 2009.
O governo tem interesse em ter nas suas mãos as frequências analógicas, pois pode leiloá-las a serviços comerciais, traduzindo-se tal em muitos milhões de dólares. Segundo McCain, o dinheiro para apoiar os consumidores virá do bolo conseguido com esse leilão. Além disso, o espaço radioeléctrico libertado beneficiará instituições de segurança pública que pretendem mais espaço de frequências para comunicarem em caso de actos terroristas ou crises nacionais.
O switch-off começará em 2007 ou quando 85% da população americana estiver apta a receber os novos sinais digitais. Esta segunda especificação poderá atrasar a mudança tecnológica. Se, por um lado, a maior parte das estações de televisão já emite a programação em sinal digital simultaneamente com o analógico, poucos lares americanos possuem receptores digitais, bastante mais caros que os analógicos.
Informação recolhida no blogue Media Network Weblog.
1º FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA INDEPENDENTE - INDIE LISBOA 2004
Vai decorrer, entre 24 de Setembro e 2 de Outubro, no cinema São Jorge, em Lisboa, o Indie Lisboa 2004. Há filmes em competição (longas e curtas metragens, primeiras e segundas obras, terminadas entre 2003 e 2004), observatório (filmes essenciais no panorama actual do cinema independente) e herói independente (homenagem ao festival de cinema de Sundance).
Dos filmes em exibição, destaco os portugueses A cara que mereces, de Miguel Gomes, em competição (1 de Outubro, pelas 21:30), Noite escura, de João Canijo (29 de Setembro, pelas 21:30) e Lisboetas, de Sérgio Trefaut (dias 27 e 28 deste mês). Os filmes estrangeiros são todos legendados em português. Preços: €3 (com descontos: €2). Podem ver-se mais informações no sítio IndieLisboa2004.
Vai decorrer, entre 24 de Setembro e 2 de Outubro, no cinema São Jorge, em Lisboa, o Indie Lisboa 2004. Há filmes em competição (longas e curtas metragens, primeiras e segundas obras, terminadas entre 2003 e 2004), observatório (filmes essenciais no panorama actual do cinema independente) e herói independente (homenagem ao festival de cinema de Sundance).
Dos filmes em exibição, destaco os portugueses A cara que mereces, de Miguel Gomes, em competição (1 de Outubro, pelas 21:30), Noite escura, de João Canijo (29 de Setembro, pelas 21:30) e Lisboetas, de Sérgio Trefaut (dias 27 e 28 deste mês). Os filmes estrangeiros são todos legendados em português. Preços: €3 (com descontos: €2). Podem ver-se mais informações no sítio IndieLisboa2004.
ZÉ NUNO... SENA SANTOS
São as primeiras e as últimas palavras da coluna de Eduardo Prado Coelho, no Público de hoje, coluna que acabei de ler agora mesmo. Claro que se refere a José Nuno Martins, de quem escrevi ontem aqui, e Francisco Sena Santos, que era a "voz" da Antena 1, e de quem também já escrevi aqui.
Como sempre, li atentamente o que Prado Coelho escreveu. E subscrevo. Acrescento, no rol de nomes que ele elenca, que António Pinto Ribeiro está a fazer o doutoramento no ISCTE. Mas não poderá ele fazer mais coisas? Será que o país, como diz Prado Coelho, é tão grande que permita ter estes nomes - a que ele acrescenta Mega Ferreira e Vicente Jorge Silva - na prateleira?
São as primeiras e as últimas palavras da coluna de Eduardo Prado Coelho, no Público de hoje, coluna que acabei de ler agora mesmo. Claro que se refere a José Nuno Martins, de quem escrevi ontem aqui, e Francisco Sena Santos, que era a "voz" da Antena 1, e de quem também já escrevi aqui.
Como sempre, li atentamente o que Prado Coelho escreveu. E subscrevo. Acrescento, no rol de nomes que ele elenca, que António Pinto Ribeiro está a fazer o doutoramento no ISCTE. Mas não poderá ele fazer mais coisas? Será que o país, como diz Prado Coelho, é tão grande que permita ter estes nomes - a que ele acrescenta Mega Ferreira e Vicente Jorge Silva - na prateleira?
CIRCULAÇÃO CIRCULAR DA INFORMAÇÃO
Os jornalistas descrevem o mundo com os seus óculos, há uma separação entre pólo intelectual e pólo comercial nos jornais e existe a circulação circular da informação - eis três ideias ou metáforas presentes em Pierre Bourdieu no seu conhecido livro Sobre a televisão (1997, em edição portuguesa da Celta). Pelo primeiro, ficamos a saber que os jornalistas não olham o mundo tal como ele é, mas dão-nos a informação a partir dos seus conhecimentos, da sua realidade subjectiva. Eles operam uma selecção e uma construção (p. 12). Aliás, isso acontece com qualquer um de nós. O que quer dizer que a objectividade é um valor muito difícil de alcançar pelo jornalista. Pela segunda ideia, Bourdieu chama a atenção para a passagem de um jornalismo inicial, feito por homens para quem o lucro não era o motor essencial do jornal, para uma actividade comercial, em que a publicidade paga é o elemento principal. O jornalismo é uma actividade económica, como outra qualquer.
Por circulação circular da informação, uma aparente tautologia, Pierre Bourdieu começa por afirmar que ninguém além dos jornalistas lê tantos jornais (p. 18). É uma espécie de jogos de espelhos que reflectem mutuamente e produzindo um efeito de encerramento. Escreve ele: "para fazer o programa do jornal televisivo do meio-dia, preciso de ter visto os títulos do das vinte horas da véspera e os diários da manhã, e para fazer os meus títulos do jornal da tarde preciso de ter lido os jornais da manhã" (p. 19). Este é um dos princípios do agendamento, em que uns acabem por se citar aos outros.
A minha alusão à obra do já desaparecido Bourdieu tem a ver com o jornal A Capital. Com nova direcção e novo layout, o jornal possui uma página de citações de blogues. No passado dia 16, coube a vez de uma mensagem deste blogue merecer a honra de post do dia, o da véspera, dia 15. Eu intitulara o post Centros comerciais: comprar com agrado. Tratava-se da leitura de um texto estimulante de Turo-Kimmo Lehtonen e Pasi Mäenpää sobre esse tema.
A Capital transcreveu na íntegra o meu texto e colocou a assinatura do autor, entrando no jogo de espelhos que falava Bourdieu. Ao ler no formato de jornal de papel, os meus olhos dirigiram-se, de imediato, para a coluna do centro, onde aparece escrita a seguinte frase: [...] havia disponibilidade de se disponibilizarem". Nunca na vida deixaria escapar uma repetição de vocábulos ou da mesma raiz, se olhasse para o papel, ou me distanciasse do texto. Isto denota, pois, a rapidez da escrita da mensagem, sem o copy-desk necessário. Por vezes, posso produzir erros de português, por simpatia de teclas próximas, ou esquecer-me de um acento.
Claro que fiquei contente por ver o texto citado no jornal. Mas quero reflectir em dois pontos. O primeiro é o de destacar a facilidade em se preencher uma página. Basta um jornalista procurar nos vinte ou trinta blogues que produzem informação acutilante - segundo os seus critérios jornalísticos de valor-notícia - para ocupar esse espaço vazio, e em pouco tempo de pesquisa. O segundo é a afirmação da importância da blogosfera na pesquisa diária dos jornalistas, a par de outras fontes de informação como as agências noticiosas ou o serviço de agenda.
[O meu obrigado a João Morales e Cristina Ponte que, usando meios de comunicação diferentes, me chamaram a atenção para a página de A Capital]
Os jornalistas descrevem o mundo com os seus óculos, há uma separação entre pólo intelectual e pólo comercial nos jornais e existe a circulação circular da informação - eis três ideias ou metáforas presentes em Pierre Bourdieu no seu conhecido livro Sobre a televisão (1997, em edição portuguesa da Celta). Pelo primeiro, ficamos a saber que os jornalistas não olham o mundo tal como ele é, mas dão-nos a informação a partir dos seus conhecimentos, da sua realidade subjectiva. Eles operam uma selecção e uma construção (p. 12). Aliás, isso acontece com qualquer um de nós. O que quer dizer que a objectividade é um valor muito difícil de alcançar pelo jornalista. Pela segunda ideia, Bourdieu chama a atenção para a passagem de um jornalismo inicial, feito por homens para quem o lucro não era o motor essencial do jornal, para uma actividade comercial, em que a publicidade paga é o elemento principal. O jornalismo é uma actividade económica, como outra qualquer.
Por circulação circular da informação, uma aparente tautologia, Pierre Bourdieu começa por afirmar que ninguém além dos jornalistas lê tantos jornais (p. 18). É uma espécie de jogos de espelhos que reflectem mutuamente e produzindo um efeito de encerramento. Escreve ele: "para fazer o programa do jornal televisivo do meio-dia, preciso de ter visto os títulos do das vinte horas da véspera e os diários da manhã, e para fazer os meus títulos do jornal da tarde preciso de ter lido os jornais da manhã" (p. 19). Este é um dos princípios do agendamento, em que uns acabem por se citar aos outros.
A minha alusão à obra do já desaparecido Bourdieu tem a ver com o jornal A Capital. Com nova direcção e novo layout, o jornal possui uma página de citações de blogues. No passado dia 16, coube a vez de uma mensagem deste blogue merecer a honra de post do dia, o da véspera, dia 15. Eu intitulara o post Centros comerciais: comprar com agrado. Tratava-se da leitura de um texto estimulante de Turo-Kimmo Lehtonen e Pasi Mäenpää sobre esse tema.
A Capital transcreveu na íntegra o meu texto e colocou a assinatura do autor, entrando no jogo de espelhos que falava Bourdieu. Ao ler no formato de jornal de papel, os meus olhos dirigiram-se, de imediato, para a coluna do centro, onde aparece escrita a seguinte frase: [...] havia disponibilidade de se disponibilizarem". Nunca na vida deixaria escapar uma repetição de vocábulos ou da mesma raiz, se olhasse para o papel, ou me distanciasse do texto. Isto denota, pois, a rapidez da escrita da mensagem, sem o copy-desk necessário. Por vezes, posso produzir erros de português, por simpatia de teclas próximas, ou esquecer-me de um acento.
Claro que fiquei contente por ver o texto citado no jornal. Mas quero reflectir em dois pontos. O primeiro é o de destacar a facilidade em se preencher uma página. Basta um jornalista procurar nos vinte ou trinta blogues que produzem informação acutilante - segundo os seus critérios jornalísticos de valor-notícia - para ocupar esse espaço vazio, e em pouco tempo de pesquisa. O segundo é a afirmação da importância da blogosfera na pesquisa diária dos jornalistas, a par de outras fontes de informação como as agências noticiosas ou o serviço de agenda.
[O meu obrigado a João Morales e Cristina Ponte que, usando meios de comunicação diferentes, me chamaram a atenção para a página de A Capital]
segunda-feira, 20 de setembro de 2004
COMO SE FAZ A PENETRAÇÃO DAS ONDAS HERTZIANAS: O CASO DE MARROCOS
Vem ontem no El Pais o modo como as ondas hertzianas são “conquistadas” por novos colonizadores. O exemplo é Marrocos. A peça, escrita por Ignacio Cembrero, dá conta da perda da influência da língua espanhola nos media audiovisuais do vizinho do Sul.
Nos anos de 1970, era aceite ver, ouvir e aprender a língua e a cultura espanhola através da televisão. Mas hoje as influências são outras: de Espanha só se sintoniza quando há jogos de futebol. A audiência marroquina busca os canais nacionais (58%), os canais árabes generalistas, como a libanesa LBC, a egípcia ESC e a Al-Jazeera (30%), e os canais ocidentais (12%). Já na Tunísia, os canais pan-árabes têm uma quota de 42%, seguidos dos nacionais (40%) e dos franceses (18%), e, na Argélia, a televisão francesa atinge metade dos telespectadores, repartindo-se as audiências ainda pelos canais árabes (30%) e pelas cadeias nacionais (20%). Estes são dados da Sigma Conseil, um instituto de sondagens que opera no Magrebe.
O artigo, que é muito curioso dado que os imigrantes marroquinos têm um peso destacado em Espanha, dá conta de algumas modificações recentes no panorama audiovisual de um país próximo de Espanha (e nosso também): Marrocos. Há 14 meses atrás, a então embaixadora americana exigiu – no campo da rádio – uma alteração à lei daquele país, de modo a implantar a estação de FM Sawa, a versão árabe da Voice of America. O êxito da sua programação – uma mistura de música árabe e anglo-saxónica com a informação – conduziu a que 73% da população de Casablanca e Rabat, as duas maiores cidades do país, sintonizassem a Sawa (inquérito da AC Nielsen de Abril último). A percentagem sobe a 88% entre os jovens com menos de 30 anos.
Mas a próxima liberalização do audiovisual em Marrocos está a mexer com outros países. Chirac, o presidente francês, já prometeu instalar a Médi Sat no próximo ano, uma estação de televisão. E a BBC pressionou para que pudesse emitir televisão, embora as autoridades tenham remetido para depois da alteração legislativa. Já na Tunísia, a francesa TF1 e a italiana Finvest (de Berlusconi) associaram-se à primeira cadeia privada, Hannibal TV, que começará a emitir no próximo mês de Outubro.
O jornalista pergunta: e Espanha, o que está a fazer? É que apenas a Radio Exterior de España emite em árabe e somente 14 horas semanais, muito menos que a RAI italiana.
Vem ontem no El Pais o modo como as ondas hertzianas são “conquistadas” por novos colonizadores. O exemplo é Marrocos. A peça, escrita por Ignacio Cembrero, dá conta da perda da influência da língua espanhola nos media audiovisuais do vizinho do Sul.
Nos anos de 1970, era aceite ver, ouvir e aprender a língua e a cultura espanhola através da televisão. Mas hoje as influências são outras: de Espanha só se sintoniza quando há jogos de futebol. A audiência marroquina busca os canais nacionais (58%), os canais árabes generalistas, como a libanesa LBC, a egípcia ESC e a Al-Jazeera (30%), e os canais ocidentais (12%). Já na Tunísia, os canais pan-árabes têm uma quota de 42%, seguidos dos nacionais (40%) e dos franceses (18%), e, na Argélia, a televisão francesa atinge metade dos telespectadores, repartindo-se as audiências ainda pelos canais árabes (30%) e pelas cadeias nacionais (20%). Estes são dados da Sigma Conseil, um instituto de sondagens que opera no Magrebe.
O artigo, que é muito curioso dado que os imigrantes marroquinos têm um peso destacado em Espanha, dá conta de algumas modificações recentes no panorama audiovisual de um país próximo de Espanha (e nosso também): Marrocos. Há 14 meses atrás, a então embaixadora americana exigiu – no campo da rádio – uma alteração à lei daquele país, de modo a implantar a estação de FM Sawa, a versão árabe da Voice of America. O êxito da sua programação – uma mistura de música árabe e anglo-saxónica com a informação – conduziu a que 73% da população de Casablanca e Rabat, as duas maiores cidades do país, sintonizassem a Sawa (inquérito da AC Nielsen de Abril último). A percentagem sobe a 88% entre os jovens com menos de 30 anos.
Mas a próxima liberalização do audiovisual em Marrocos está a mexer com outros países. Chirac, o presidente francês, já prometeu instalar a Médi Sat no próximo ano, uma estação de televisão. E a BBC pressionou para que pudesse emitir televisão, embora as autoridades tenham remetido para depois da alteração legislativa. Já na Tunísia, a francesa TF1 e a italiana Finvest (de Berlusconi) associaram-se à primeira cadeia privada, Hannibal TV, que começará a emitir no próximo mês de Outubro.
O jornalista pergunta: e Espanha, o que está a fazer? É que apenas a Radio Exterior de España emite em árabe e somente 14 horas semanais, muito menos que a RAI italiana.
JOSÉ NUNO MARTINS
Como ando com as leituras dos jornais em atraso, só agora li o texto de Adelino Gomes, editado na Pública de ontem, sobre José Nuno Martins. Eu, que fui um ouvinte atento de programas dele, em especial Os cantores do rádio, não posso deixar de anotar e saudar aqui no blogue o texto do jornalista sobre o realizador de programas de rádio.
Recordo com muita alegria a música que servia de introdução a Os cantores do rádio, de Chico Buarque da Holanda. Em português de Portugal, os cantores cantam na rádio, o meio de comunicação, servindo o artigo masculino para designar o aparelho de recepção [ou telefonia, como é vulgar dizer-se em Lisboa], ao passo que, no português do Brasil, o masculino designa também o meio. Já não tenho a certeza, mas o programa era emitido à hora de almoço de um dos dias do fim-de-semana. Chico Buarque, Toquinho, Maria Betânia, Gilberto Gil e Gal Costa emparelhavam com outros músicos mais populares e regionais. Havia sempre uma grande animação naquele programa, além de música constantemente renovada, bem apresentada e enquadrada.
José Nuno Martins também passou por outro programa de culto (pelo menos para mim), o Em Órbita, entre os anos 1960 e 1970. Mas não me lembro tão bem dele como o Cândido Mota ou o Júlio Isidro. E ainda João David Nunes, por exemplo, de quem José Nuno Martins era amigo desde o liceu, leio agora no texto da Pública. Ora, o radialista regressou este Verão à rádio, à Antena 1. Chorou, escreve Adelino Gomes, depois de década e meio a fazer outros trabalhos, nomeadamente no vídeo. E vai começar um programa de música brasileira na nova grelha da estação pública. É o regresso da magia radiofónica.
Como ando com as leituras dos jornais em atraso, só agora li o texto de Adelino Gomes, editado na Pública de ontem, sobre José Nuno Martins. Eu, que fui um ouvinte atento de programas dele, em especial Os cantores do rádio, não posso deixar de anotar e saudar aqui no blogue o texto do jornalista sobre o realizador de programas de rádio.
Recordo com muita alegria a música que servia de introdução a Os cantores do rádio, de Chico Buarque da Holanda. Em português de Portugal, os cantores cantam na rádio, o meio de comunicação, servindo o artigo masculino para designar o aparelho de recepção [ou telefonia, como é vulgar dizer-se em Lisboa], ao passo que, no português do Brasil, o masculino designa também o meio. Já não tenho a certeza, mas o programa era emitido à hora de almoço de um dos dias do fim-de-semana. Chico Buarque, Toquinho, Maria Betânia, Gilberto Gil e Gal Costa emparelhavam com outros músicos mais populares e regionais. Havia sempre uma grande animação naquele programa, além de música constantemente renovada, bem apresentada e enquadrada.
José Nuno Martins também passou por outro programa de culto (pelo menos para mim), o Em Órbita, entre os anos 1960 e 1970. Mas não me lembro tão bem dele como o Cândido Mota ou o Júlio Isidro. E ainda João David Nunes, por exemplo, de quem José Nuno Martins era amigo desde o liceu, leio agora no texto da Pública. Ora, o radialista regressou este Verão à rádio, à Antena 1. Chorou, escreve Adelino Gomes, depois de década e meio a fazer outros trabalhos, nomeadamente no vídeo. E vai começar um programa de música brasileira na nova grelha da estação pública. É o regresso da magia radiofónica.
EPISÓDIOS CONTADOS POR EDUARDO STREET
Enquanto iniciava a preparação das aulas desta semana, prestei toda a atenção ao pequeno programa (Episódios contados, pequeno em dimensão, claro) dentro do grande programa Jardim da música, de Judite de Lima, na Antena 2, que escuto sempre que posso.
Foi há minutos atrás que ouvi Eduardo Street e tomei umas pequenas notas. Fiquei a saber que Eduardo Street prepara para Outubro um programa nas manhãs de domingo, uma memória semanal da Antena 2. O segundo canal da RDP começou a emitir em 1944; comemorar-se-ão pois 60 anos em breve. Ao longo dos anos, o canal teve vários nomes: Programa 2, Lisboa 2, RDP 2, Antena 2. Por volta de 1954-1955, emitia cinco horas diárias, depois do horário da Rádio Universidade.
Eduardo Street recordou alguns dos nomes dos locutores, que não tive tempo para apontar todos. Por isso, prefiro não escrever os poucos que consegui fixar. Mas registei o quanto importante era a escolha dos locutores, selecta, podemos dizer. Apesar de haver estórias curiosas que ilustram pela negativa essa escolha. Um dia, faltando o locutor, foi arranjado um à pressa. Então, durante a transmissão de uma peça, o locutor aumentaria e baixaria o som, enunciando o nome do compositor, do maestro, dos músicos!
Boa sorte ao programa de Eduardo Street, por um fã da rádio.
Enquanto iniciava a preparação das aulas desta semana, prestei toda a atenção ao pequeno programa (Episódios contados, pequeno em dimensão, claro) dentro do grande programa Jardim da música, de Judite de Lima, na Antena 2, que escuto sempre que posso.
Foi há minutos atrás que ouvi Eduardo Street e tomei umas pequenas notas. Fiquei a saber que Eduardo Street prepara para Outubro um programa nas manhãs de domingo, uma memória semanal da Antena 2. O segundo canal da RDP começou a emitir em 1944; comemorar-se-ão pois 60 anos em breve. Ao longo dos anos, o canal teve vários nomes: Programa 2, Lisboa 2, RDP 2, Antena 2. Por volta de 1954-1955, emitia cinco horas diárias, depois do horário da Rádio Universidade.
Eduardo Street recordou alguns dos nomes dos locutores, que não tive tempo para apontar todos. Por isso, prefiro não escrever os poucos que consegui fixar. Mas registei o quanto importante era a escolha dos locutores, selecta, podemos dizer. Apesar de haver estórias curiosas que ilustram pela negativa essa escolha. Um dia, faltando o locutor, foi arranjado um à pressa. Então, durante a transmissão de uma peça, o locutor aumentaria e baixaria o som, enunciando o nome do compositor, do maestro, dos músicos!
Boa sorte ao programa de Eduardo Street, por um fã da rádio.
MOVIMENTO PARAOLÍMPICO
Como sabem, estão a decorrer na Grécia, os Jogos Paraolímpicos. A primeira medalha de prata por um nacional foi ganha ontem, na prova de dez mil metros, por Carlos Ferreira, um cego total. Todos os portugueses ficaram contentes com esta magnífica prestação nacional [esperemos que mais medalhas sejam conquistadas], atendendo às dificuldades específicas dos atletas em competição.
A campanha publicitária é, a meu ver, muito bonita, como esta imagem o ilustra (fotografia de Kenton Tatcher e apoio do banco Totta para a Federação Portuguesa de Desporto para Deficientes). Assente sobre uma coluna, a atleta lança o dardo, numa pose que lembra as imagens gregas da cultura clássica.
A escolha do tema, já há dias sugerido pela Patrícia Santos, é uma (também, e ainda que pequena) homenagem a António Silva, o blogueiro de A Minha Rádio. Depois de longos meses de contactos por meio da internet e dos blogues, fui conhecer o António à Faculdade de Letras do Porto (a minha primeira casa de aprendizagem universitária, se bem que noutro edifício), na passada sexta-feira. Em quase duas horas de amena e amiga conversa, ele explicou-me como trabalha o blogue e como editou as minhas imagens, numa altura em que eu ainda não possuía a destreza tecnológica para o fazer. Ao António basta um teclado igual ao meu e um sintetizador de voz para publicar as mensagens e colocar as imagens (o monitor e o rato, embora presentes, são prescindíveis). Custou-me, inicialmente, a entender o português com sotaque brasileiro que o software acoplado ao seu computador produz. Mas, depois, habituei-me a ouvir essa voz mecânica.
Um muito obrigado, António - extensível à Maria João, que também conheci -, pelo que aprendi nessa deslocação à minha velha faculdade de letras. Claro que não fiquei frustrado por ter ido aí. Pelo contrário, saí muito contente, senti-me maravilhado ao perceber que a maior adversidade não pode ser obstáculo à realização pessoal. Apenas obriga a maior esforço e preserverança. Registo, e espero que não leve a mal a minha inconfidência sobre o que me disse, a sua saudade em ler um livro em papel, de o folhear. Sabe, António, eu também não gosto de ler os jornais na internet. Prefiro a leitura aleatória em vez de sequencial, como me contou - eu, que nunca pensara nesses tipos de leituras e nas suas diferenças.
Como sabem, estão a decorrer na Grécia, os Jogos Paraolímpicos. A primeira medalha de prata por um nacional foi ganha ontem, na prova de dez mil metros, por Carlos Ferreira, um cego total. Todos os portugueses ficaram contentes com esta magnífica prestação nacional [esperemos que mais medalhas sejam conquistadas], atendendo às dificuldades específicas dos atletas em competição.
A campanha publicitária é, a meu ver, muito bonita, como esta imagem o ilustra (fotografia de Kenton Tatcher e apoio do banco Totta para a Federação Portuguesa de Desporto para Deficientes). Assente sobre uma coluna, a atleta lança o dardo, numa pose que lembra as imagens gregas da cultura clássica.
A escolha do tema, já há dias sugerido pela Patrícia Santos, é uma (também, e ainda que pequena) homenagem a António Silva, o blogueiro de A Minha Rádio. Depois de longos meses de contactos por meio da internet e dos blogues, fui conhecer o António à Faculdade de Letras do Porto (a minha primeira casa de aprendizagem universitária, se bem que noutro edifício), na passada sexta-feira. Em quase duas horas de amena e amiga conversa, ele explicou-me como trabalha o blogue e como editou as minhas imagens, numa altura em que eu ainda não possuía a destreza tecnológica para o fazer. Ao António basta um teclado igual ao meu e um sintetizador de voz para publicar as mensagens e colocar as imagens (o monitor e o rato, embora presentes, são prescindíveis). Custou-me, inicialmente, a entender o português com sotaque brasileiro que o software acoplado ao seu computador produz. Mas, depois, habituei-me a ouvir essa voz mecânica.
Um muito obrigado, António - extensível à Maria João, que também conheci -, pelo que aprendi nessa deslocação à minha velha faculdade de letras. Claro que não fiquei frustrado por ter ido aí. Pelo contrário, saí muito contente, senti-me maravilhado ao perceber que a maior adversidade não pode ser obstáculo à realização pessoal. Apenas obriga a maior esforço e preserverança. Registo, e espero que não leve a mal a minha inconfidência sobre o que me disse, a sua saudade em ler um livro em papel, de o folhear. Sabe, António, eu também não gosto de ler os jornais na internet. Prefiro a leitura aleatória em vez de sequencial, como me contou - eu, que nunca pensara nesses tipos de leituras e nas suas diferenças.
domingo, 19 de setembro de 2004
JANTAR DE BLOGUEIROS
Pelo que escreve o Tadechuva, em post de hoje, o jantar na Parque Expo foi um sucesso. Juntaram-se 50 blogueiros em franca confraternização. Espero aparecer no próximo jantar.
E amanhã espero retomar a colocação de posts.
Pelo que escreve o Tadechuva, em post de hoje, o jantar na Parque Expo foi um sucesso. Juntaram-se 50 blogueiros em franca confraternização. Espero aparecer no próximo jantar.
E amanhã espero retomar a colocação de posts.
quinta-feira, 16 de setembro de 2004
NUVENS SOBRE O SUN ONLINE
O diário mais vendido no Reino Unido, o Sun, vai cortar grande parte do editorial da sua publicação online. O conteúdo colocado na internet é o mesmo da edição em papel, com distribuição gratuita. Um inquérito conduzido pela direcção do jornal concluiu que cerca de 90 mil leitores diários preferem ler na internet, abandonando a compra da edição em papel. A leitura impressa terá caido 5% apenas em Agosto de 2004. Informação recolhida em The Observer, de 12 de Setembro.
O diário mais vendido no Reino Unido, o Sun, vai cortar grande parte do editorial da sua publicação online. O conteúdo colocado na internet é o mesmo da edição em papel, com distribuição gratuita. Um inquérito conduzido pela direcção do jornal concluiu que cerca de 90 mil leitores diários preferem ler na internet, abandonando a compra da edição em papel. A leitura impressa terá caido 5% apenas em Agosto de 2004. Informação recolhida em The Observer, de 12 de Setembro.
UM NOVO MÁXIMO EM VISITAS A ESTE BLOGUE
Quero saudar todos(as) que passam pelo meu blogue. Ontem, foi ultrapassada a barreira dos 300 visitantes, valor que eu nunca imaginara atingir.
O meu obrigado especial ao Brasil (com 60% de visitantes) e Moçambique (apesar de quota mais modesta, não posso deixar de dar relevo. Aos moçambicanos(as) que me visitam, não hesitem, mandem emails).
Quero saudar todos(as) que passam pelo meu blogue. Ontem, foi ultrapassada a barreira dos 300 visitantes, valor que eu nunca imaginara atingir.
O meu obrigado especial ao Brasil (com 60% de visitantes) e Moçambique (apesar de quota mais modesta, não posso deixar de dar relevo. Aos moçambicanos(as) que me visitam, não hesitem, mandem emails).
CARTAS AOS BLOGUEIROS EM CONFRATERNIZAÇÃO
No dia 18, um grupo de blogueiros vai estar em confraternização num restaurante na Parque Expo, aqui em Lisboa. Por troca de agenda, vi-me impossibilitado de estar presente (é certo que vou estar noutra confraternização pelo rio Douro acima, o que equilibra). Quero desejar a todos que o convívio decorra bem e que novas e estimulantes amizades se produzam.
O fenómeno dos blogues, por recente, merece a pena ser estudado. E era minha intenção estabelecer contactos informais, criar uma rede de novos blogues, para os poder estudar (como fiz num outro convívio em Vila Nova de Gaia, a 1 de Maio, publicando aqui os resultados de um pequeno questionário, e como escrevi no último número da revista MediaXXI, a partir de um inquérito que enviei aos meus blogues favoritos). Mais tarde ou mais cedo, dedico-me a um estudo mais sério do fenómeno (talvez no decurso do ano lectivo 2005-2006, se nada de surpreendente acontecer e a FCT apoiar financeiramente uma bolsa de pós-doutoramento).
Curiosamente, foi em 18 de Setembro de 2003 que o Jornal de Notícias (Porto) publicou, na sua primeira página, o título aqui ao lado. E, nesse mesmo dia, a RTP fazia uma ligação para Braga, onde Manuel Pinto, professor da Universidade do Minho, falou dos blogues, em directo para o Telejornal das 20:00.
É que, em 18 e 19 de Setembro, realizar-se-ia o primeiro encontro de blogues [na altura grafava-se o termo blog ou weblog], em Braga, na Universidade do Minho. Tudo por iniciativa de Manuel Pinto e de outros colegas da sua escola, e que teve a adesão de Paulo Querido e Pedro Fonseca, blogueiros e jornalistas respectivamente do Expresso e do Público, grandes animadores desse encontro e que, depois, publicariam textos significativos nos seus jornais (ver os dois recortes seguintes). Sem esquecer Jose Luis Orihuela, da Universidade de Navarra, com a sua sabedoria e entusiasmo na área do jornalismo digital. [adenda colocada às 8:30: chamo a atenção para o texto de Manuel Pinto, de hoje, no seu blogue Jornalismo e Comunicação, que remete para uma reflexão de Pacheco Pereira].
Nessa altura, eu estava a concluir um texto sobre a história da rádio (ainda não publicado) e apresentei uma comunicação em que comparava a história dos blogues com essa outra tecnologia electrónica da minha paixão. Eu considerei que os blogues, portadores de uma nova cultura, favoreciam a pedagogia. Tinha em vista o reforço do trabalho desenvolvido na sala de aula, conforme a minha própria experiência, defendendo que memória e interactividade eram dois elementos dessa nova cultura.
Além da parte de intervenções e debates, houve também um pequeno momento de convívio, um blogbeer, numa praça central de Braga, à noite. A temperatura ainda estava amena e a cavaqueira prolongou-se por mais de duas horas. A imagem aqui dá conta de um pormenor, esperando eu que os meus amigos e colegas António Granado, à esquerda, e Joaquim Fidalgo, à direita, não se importem de eu publicitar esta pose [vejo agora que a minha cerveja já tinha "voado"].
Observação: como escrevo no início do post, no fim-de-semana vou estar entre o Porto e Trás-os-Montes, a reencontrar amizades e paisagens. O blogue fica em descanso por três dias. Talvez na segunda-feira conte alguma coisa da parte final dos debates que a Abril em Maio promove nestes dias sobre a construção das notícias.
No dia 18, um grupo de blogueiros vai estar em confraternização num restaurante na Parque Expo, aqui em Lisboa. Por troca de agenda, vi-me impossibilitado de estar presente (é certo que vou estar noutra confraternização pelo rio Douro acima, o que equilibra). Quero desejar a todos que o convívio decorra bem e que novas e estimulantes amizades se produzam.
O fenómeno dos blogues, por recente, merece a pena ser estudado. E era minha intenção estabelecer contactos informais, criar uma rede de novos blogues, para os poder estudar (como fiz num outro convívio em Vila Nova de Gaia, a 1 de Maio, publicando aqui os resultados de um pequeno questionário, e como escrevi no último número da revista MediaXXI, a partir de um inquérito que enviei aos meus blogues favoritos). Mais tarde ou mais cedo, dedico-me a um estudo mais sério do fenómeno (talvez no decurso do ano lectivo 2005-2006, se nada de surpreendente acontecer e a FCT apoiar financeiramente uma bolsa de pós-doutoramento).
Curiosamente, foi em 18 de Setembro de 2003 que o Jornal de Notícias (Porto) publicou, na sua primeira página, o título aqui ao lado. E, nesse mesmo dia, a RTP fazia uma ligação para Braga, onde Manuel Pinto, professor da Universidade do Minho, falou dos blogues, em directo para o Telejornal das 20:00.
É que, em 18 e 19 de Setembro, realizar-se-ia o primeiro encontro de blogues [na altura grafava-se o termo blog ou weblog], em Braga, na Universidade do Minho. Tudo por iniciativa de Manuel Pinto e de outros colegas da sua escola, e que teve a adesão de Paulo Querido e Pedro Fonseca, blogueiros e jornalistas respectivamente do Expresso e do Público, grandes animadores desse encontro e que, depois, publicariam textos significativos nos seus jornais (ver os dois recortes seguintes). Sem esquecer Jose Luis Orihuela, da Universidade de Navarra, com a sua sabedoria e entusiasmo na área do jornalismo digital. [adenda colocada às 8:30: chamo a atenção para o texto de Manuel Pinto, de hoje, no seu blogue Jornalismo e Comunicação, que remete para uma reflexão de Pacheco Pereira].
Nessa altura, eu estava a concluir um texto sobre a história da rádio (ainda não publicado) e apresentei uma comunicação em que comparava a história dos blogues com essa outra tecnologia electrónica da minha paixão. Eu considerei que os blogues, portadores de uma nova cultura, favoreciam a pedagogia. Tinha em vista o reforço do trabalho desenvolvido na sala de aula, conforme a minha própria experiência, defendendo que memória e interactividade eram dois elementos dessa nova cultura.
Além da parte de intervenções e debates, houve também um pequeno momento de convívio, um blogbeer, numa praça central de Braga, à noite. A temperatura ainda estava amena e a cavaqueira prolongou-se por mais de duas horas. A imagem aqui dá conta de um pormenor, esperando eu que os meus amigos e colegas António Granado, à esquerda, e Joaquim Fidalgo, à direita, não se importem de eu publicitar esta pose [vejo agora que a minha cerveja já tinha "voado"].
Observação: como escrevo no início do post, no fim-de-semana vou estar entre o Porto e Trás-os-Montes, a reencontrar amizades e paisagens. O blogue fica em descanso por três dias. Talvez na segunda-feira conte alguma coisa da parte final dos debates que a Abril em Maio promove nestes dias sobre a construção das notícias.
quarta-feira, 15 de setembro de 2004
O MEU PRIMEIRO LIVRO DE 2005
Chegou-me, hoje, dia 15 de Setembro, pela Amazon do Reino Unido, o meu primeiro livro editado em 2005!
Isto é, três meses e meio antes do ano acabar, já há livros com a marca do ano seguinte. Esta operação de marketing visa prolongar a vida do livro, pois, durante quinze meses, ostenta a data de um ano. Espantoso! O mais interessante ainda é que se trata de uma segunda edição com um novo capítulo sete e uma nova secção no capítulo três.
O livro terá saído mesmo um destes dias, pois a Amazon enviou-me separadamente este livro de um conjunto de livros que eu já recebi na segunda-feira. A meu ver, trata-se de um bom exemplo para as editoras portuguesas que colocam o ano de publicação mesmo que o livro saia a 31 de Dezembro.
Ritzer reeditou este ano outro dos seus livros, The McDonaldization of society, com um subtítulo pomposamente designado por Revised new century edition. Nada, portanto, é deixado ao acaso. A editora de ambos os livros é a Pine Forge Press.
O autor tem uma visão pessimista da sociedade de consumo. Em McDonaldization of society, por exemplo, ele escreve sobre a previsibilidade da sociedade de consumo, que "realça a disciplina, a ordem, a sistematização, a formalização, a rotina, a consistência e a operação metódica" (p. 86). Referindo-se concretamente ao fast-food, ele diz que empregados e clientes se relacionam de um modo ritualizado, rotinizado e até previamente escrito (pelo menos da parte dos empregados, que têm uma lista precisa de perguntas e do que podem e não podem fazer). Há regras em termos de uniforme, tamanho de cortes de cabelo e até adereços como colares ou brincos. Ou seja, dá-se a minimização do perigo e do desagradável (p. 105).
Chegou-me, hoje, dia 15 de Setembro, pela Amazon do Reino Unido, o meu primeiro livro editado em 2005!
Isto é, três meses e meio antes do ano acabar, já há livros com a marca do ano seguinte. Esta operação de marketing visa prolongar a vida do livro, pois, durante quinze meses, ostenta a data de um ano. Espantoso! O mais interessante ainda é que se trata de uma segunda edição com um novo capítulo sete e uma nova secção no capítulo três.
O livro terá saído mesmo um destes dias, pois a Amazon enviou-me separadamente este livro de um conjunto de livros que eu já recebi na segunda-feira. A meu ver, trata-se de um bom exemplo para as editoras portuguesas que colocam o ano de publicação mesmo que o livro saia a 31 de Dezembro.
Ritzer reeditou este ano outro dos seus livros, The McDonaldization of society, com um subtítulo pomposamente designado por Revised new century edition. Nada, portanto, é deixado ao acaso. A editora de ambos os livros é a Pine Forge Press.
O autor tem uma visão pessimista da sociedade de consumo. Em McDonaldization of society, por exemplo, ele escreve sobre a previsibilidade da sociedade de consumo, que "realça a disciplina, a ordem, a sistematização, a formalização, a rotina, a consistência e a operação metódica" (p. 86). Referindo-se concretamente ao fast-food, ele diz que empregados e clientes se relacionam de um modo ritualizado, rotinizado e até previamente escrito (pelo menos da parte dos empregados, que têm uma lista precisa de perguntas e do que podem e não podem fazer). Há regras em termos de uniforme, tamanho de cortes de cabelo e até adereços como colares ou brincos. Ou seja, dá-se a minimização do perigo e do desagradável (p. 105).
MEXIDAS NO TOPO DOS MEDIA DA PT
Os dois jornais de qualidade de Lisboa dão hoje destaque a alterações na orgânica dirigente da Lusomundo Media (LM), a holding de comunicação social do grupo PT. A Luís Delgado, junta-se Mário Bettencourt Resendes na administração da empresa (que também é nomeado administrador executivo da Global Notícias, que fica por baixo do chapéu de chuva da LM, e que tutela as publicações do grupo excepto a rádio TSF). Para além do que as notícias dos jornais trazem, gostaria de deixar aqui três comentários.
Um sobre a notícia do Público, assinada por Paulo Miguel Madeira, a de que Resendes é uma "personalidade politicamente mais moderada". Presumo que relativamente a Delgado. Estas coisas deviam ser mais adequadamente escritas, sem ambiguidades, e os leitores ficavam a ganhar, até porque é traçado um percurso profissional pormenorizado de Luís Delgado. A notícia do Diário de Notícias, não assinada e na última página, dá conta de quem sai (como no futebol, só se fala em reforços, mas omite-se, por vezes, que é o "looser"). Para além de Henrique Granadeiro, destacado para a fundação PT (que entra em concorrência directa, creio, com a Fundação Portuguesa das Comunicações, onde a PT é parceira), a notícia revela que sai da estrutura Zeinal Bava, gestor que tem tido uma carreira fulgurante no grupo PT (indicado pelo grupo bancário Espírito Santo). A sua saída parece ser um desaire. Ao invés, as subidas de Delgado e, em especial, Resendes são de salientar.
A mudança de nomes, com o reforço de jornalistas de elevada craveira - quer se goste ou não politicamente deles -, em detrimento de homens da área financeira, como Bava, é um indício que a PT se prepara para mudanças mais profundas na sua área dos media. Vendas? Compras? Reorientação estratégica?
Os dois jornais de qualidade de Lisboa dão hoje destaque a alterações na orgânica dirigente da Lusomundo Media (LM), a holding de comunicação social do grupo PT. A Luís Delgado, junta-se Mário Bettencourt Resendes na administração da empresa (que também é nomeado administrador executivo da Global Notícias, que fica por baixo do chapéu de chuva da LM, e que tutela as publicações do grupo excepto a rádio TSF). Para além do que as notícias dos jornais trazem, gostaria de deixar aqui três comentários.
Um sobre a notícia do Público, assinada por Paulo Miguel Madeira, a de que Resendes é uma "personalidade politicamente mais moderada". Presumo que relativamente a Delgado. Estas coisas deviam ser mais adequadamente escritas, sem ambiguidades, e os leitores ficavam a ganhar, até porque é traçado um percurso profissional pormenorizado de Luís Delgado. A notícia do Diário de Notícias, não assinada e na última página, dá conta de quem sai (como no futebol, só se fala em reforços, mas omite-se, por vezes, que é o "looser"). Para além de Henrique Granadeiro, destacado para a fundação PT (que entra em concorrência directa, creio, com a Fundação Portuguesa das Comunicações, onde a PT é parceira), a notícia revela que sai da estrutura Zeinal Bava, gestor que tem tido uma carreira fulgurante no grupo PT (indicado pelo grupo bancário Espírito Santo). A sua saída parece ser um desaire. Ao invés, as subidas de Delgado e, em especial, Resendes são de salientar.
A mudança de nomes, com o reforço de jornalistas de elevada craveira - quer se goste ou não politicamente deles -, em detrimento de homens da área financeira, como Bava, é um indício que a PT se prepara para mudanças mais profundas na sua área dos media. Vendas? Compras? Reorientação estratégica?
CENTROS COMERCIAIS: COMPRAR COM AGRADO
Esta mensagem segue um texto de Turo-Kimmo Lehtonen e Pasi Mäenpää, escrito em 1997, o qual reflecte o acto de visitar e comprar (ou não) num centro comercial. Embora o estudo dos dois autores tenha por base um centro comercial de Helsínquia, o East Centre Mall, ele pode aplicar-se aos centros comerciais de Portugal. Estou a pensar no Colombo, no Vasco da Gama e no Amoreiras (todos em Lisboa), no Fórum Almada (Almada), e no Arrábida Shopping e no Norte Shopping (Porto). Mas também em centros de uma só marca, como o IKEA. Obviamente que seria mais oportuno e enriquecedor efectuar trabalhos empíricos nestes locais, para perceber melhor a psicologia, a sociologia e a antropologia destes espaços, do que produzir uma síntese de um trabalho de finlandeses.
Nos anos 1980, o comércio de retalho começava a concentrar as suas actividades nos grandes centros comerciais [na imagem, corredor do Centro Colombo, em Lisboa]. Para além dos preços mais baixos para lojistas e clientes, havia disponibilidade de se disponibilizarem lojas de produtos e bens muito diferentes, num só sítio. O centro comercial imita um centro urbano “vivo”, mas sem o ruído do tráfego – lojas, cafés, restaurantes e espaços para descansar – e com uma temperatura sempre agradável, onde as pessoas se “sentem bem”. No caso finlandês aqui focado, o East Centre Mall, trata-se de um espaço urbano orientado para as compras, e que acabou por trazer um novo nível cultural a Helsínquia, com a sua arquitectura a imitar as ruas de lojas, passagens e mercados. Mas torna-se um sítio diferente, com a estrutura da cidade em duas direcções – os subúrbios e o centro.
Práticas e prazeres das compras modernas
Do ponto de vista funcional, um centro comercial é um passo mais desenvolvido que o conceito de comércio, que começou nos armazéns de Paris, em meados do séc. XIX. Qualquer cliente olha os objectos expostos e toca-os, sem que um empregado apareça. A interacção central já não é a discussão dos preços, mas o contacto directo com os bens presentes.
Gera-se um ambiente agradável, pois o centro é, ele próprio, um espectáculo de entretenimento. Pode falar-se da ideia de comprar com agrado. Num centro comercial, há um movimento orientado para o consumo num espaço onde cada um tem a possibilidade de fazer compras, definição que implica que o seu frequentador faça ou não compras. O que é essencial no comprar com agrado é o sonho romântico e a estetização do meio ambiente. Para além de um sítio onde se compram bens essenciais, é um lugar para ir. Deste modo, há duas importantes maneiras de compreender o conceito de centro comercial: 1) comprar é uma actividade social agradável, 2) comprar significa uma actividade rotineira de manter as necessidades humanas. Claro que estes dois tipos não se excluem.
Os prazeres da compra derivam da possibilidade de autonomia e da sociabilidade a ela ligada, interacção não pronunciada ou consciente e verbalizada. Comprar é também um ritual – no sentido da interacção, como explicou Goffman. Ir a um centro comercial significa um tempo gasto com outros(as) a partilhar gostos e um estilo. E expressa e reproduz distinções sociais de tempo e espaço, separando as esferas de “casa” e do “emprego” ou da semana de trabalho e do fim-de-semana e lazer. Há, pois, duas esferas – prática-económica e de prazer – não exclusivas mas interligadas, constituindo a totalidade da acção.
Os autores chamam sociabilidade de rua ao modo como as pessoas desconhecidas umas das outras partilham olhares mas não se dirigem pela palavra. Há sempre a possibilidade de comunicação recíproca mesmo que ocorra raramente.
Leitura: Turo-Kimmo Lehtonen e Pasi Mäenpää (1997). “Shopping in the East Centre Mall”. In Pasi Falk e Colin Campbell (Eds.) The Shopping Experience. Londres: Sage
Esta mensagem segue um texto de Turo-Kimmo Lehtonen e Pasi Mäenpää, escrito em 1997, o qual reflecte o acto de visitar e comprar (ou não) num centro comercial. Embora o estudo dos dois autores tenha por base um centro comercial de Helsínquia, o East Centre Mall, ele pode aplicar-se aos centros comerciais de Portugal. Estou a pensar no Colombo, no Vasco da Gama e no Amoreiras (todos em Lisboa), no Fórum Almada (Almada), e no Arrábida Shopping e no Norte Shopping (Porto). Mas também em centros de uma só marca, como o IKEA. Obviamente que seria mais oportuno e enriquecedor efectuar trabalhos empíricos nestes locais, para perceber melhor a psicologia, a sociologia e a antropologia destes espaços, do que produzir uma síntese de um trabalho de finlandeses.
Nos anos 1980, o comércio de retalho começava a concentrar as suas actividades nos grandes centros comerciais [na imagem, corredor do Centro Colombo, em Lisboa]. Para além dos preços mais baixos para lojistas e clientes, havia disponibilidade de se disponibilizarem lojas de produtos e bens muito diferentes, num só sítio. O centro comercial imita um centro urbano “vivo”, mas sem o ruído do tráfego – lojas, cafés, restaurantes e espaços para descansar – e com uma temperatura sempre agradável, onde as pessoas se “sentem bem”. No caso finlandês aqui focado, o East Centre Mall, trata-se de um espaço urbano orientado para as compras, e que acabou por trazer um novo nível cultural a Helsínquia, com a sua arquitectura a imitar as ruas de lojas, passagens e mercados. Mas torna-se um sítio diferente, com a estrutura da cidade em duas direcções – os subúrbios e o centro.
Práticas e prazeres das compras modernas
Do ponto de vista funcional, um centro comercial é um passo mais desenvolvido que o conceito de comércio, que começou nos armazéns de Paris, em meados do séc. XIX. Qualquer cliente olha os objectos expostos e toca-os, sem que um empregado apareça. A interacção central já não é a discussão dos preços, mas o contacto directo com os bens presentes.
Gera-se um ambiente agradável, pois o centro é, ele próprio, um espectáculo de entretenimento. Pode falar-se da ideia de comprar com agrado. Num centro comercial, há um movimento orientado para o consumo num espaço onde cada um tem a possibilidade de fazer compras, definição que implica que o seu frequentador faça ou não compras. O que é essencial no comprar com agrado é o sonho romântico e a estetização do meio ambiente. Para além de um sítio onde se compram bens essenciais, é um lugar para ir. Deste modo, há duas importantes maneiras de compreender o conceito de centro comercial: 1) comprar é uma actividade social agradável, 2) comprar significa uma actividade rotineira de manter as necessidades humanas. Claro que estes dois tipos não se excluem.
Os prazeres da compra derivam da possibilidade de autonomia e da sociabilidade a ela ligada, interacção não pronunciada ou consciente e verbalizada. Comprar é também um ritual – no sentido da interacção, como explicou Goffman. Ir a um centro comercial significa um tempo gasto com outros(as) a partilhar gostos e um estilo. E expressa e reproduz distinções sociais de tempo e espaço, separando as esferas de “casa” e do “emprego” ou da semana de trabalho e do fim-de-semana e lazer. Há, pois, duas esferas – prática-económica e de prazer – não exclusivas mas interligadas, constituindo a totalidade da acção.
Os autores chamam sociabilidade de rua ao modo como as pessoas desconhecidas umas das outras partilham olhares mas não se dirigem pela palavra. Há sempre a possibilidade de comunicação recíproca mesmo que ocorra raramente.
Leitura: Turo-Kimmo Lehtonen e Pasi Mäenpää (1997). “Shopping in the East Centre Mall”. In Pasi Falk e Colin Campbell (Eds.) The Shopping Experience. Londres: Sage
terça-feira, 14 de setembro de 2004
CARTOON DE ANTÓNIO
O cartoon de António na última edição do Expresso merece uma interpretação semiótica. Confesso que hesitei bastante em abordar o tema, dada a sua grande sensibilidade e susceptibilidade temática. O blogue tem uma linha editorial de análise das indústrias culturais em Portugal e em sentido geográfico mais amplo e não procura efeitos fáceis nos posts aqui colocados. Em pano de fundo, a recente vinda a Portugal de um barco holandês que se propunha discutir a questão do aborto e a tomada de decisão do ministro da Defesa e do Mar no sentido da proibição da sua atracagem num porto nacional, que o cartoonista António trabalha.
O que me interessa é ler o cartoon no seu todo, munido das ferramentas da semiótica. No sentido denotativo, vê-se um marinheiro (cujos traços ampliam e exageram os elementos fisionómicos do ministro) a bordo do navio, referente este que nos remete para o assunto. O barco tem um conjunto de canhoneiras, que o identifica como sendo de guerra, o ministro aparece vestido de marinheiro e, por detrás de si, está a representação dos mastros em forma de cruz de Cristo (material que aparenta ser em madeira). Estamos já no domínio do sentido conotativo. Cada um destes elementos assume-se como parcela da realidade apresentada mas aponta para um segundo sentido. A legenda faz concordância com a conotação.
Há, contudo, um outro sentido conotativo, quiçá ainda mais importante. Querelle [que facilmente podemos traduzir por querela, disputa] aponta para um obra de Jean Genet, escrita por ele em 1947, Querelle de Brest. De que trata a obra? Da história de um marinheiro amoral e assassino, Querelle, que proclamava: "A minha mulher é o mar; a minha amante é o meu capitão".
Genet (1910-1986) foi abandonado pelos pais e passou muito tempo da sua juventude numa instituição para delinquentes juvenis. No período antes da Segunda Guerra Mundial vagueou por vários países europeus como ladrão e prostituto. Em 1943, seria preso por roubo, altura em que começou a escrever. Os seus personagens mostravam o mundo que ele conhecia: homossexuais, ladrões, prostitutas e párias de toda a espécie. Depois, seria preso vários vezes até que apanhou uma pena para toda a vida em 1948. Talvez porque fosse um período pós-guerra, de apaziguamento social, talvez porque os seus textos chamassem a atenção para um bas-fond que urgia solucionar socialmente, o certo é que escritores de nomeada, como Jean-Paul Sartre, André Gide e Jean Cocteau, assinaram uma petição para a sua libertação. A autobiografia de Genet apareceria no ano seguinte, O diário do ladrão.
Em 1982, o realizador alemão Rainer Werner Fassbinder faria um filme baseado na obra de Genet, Querelle de Brest, que nem os fãs do cineasta gostaram. Fassbinder faleceria pouco depois. E o que é o filme nos mostra? Ambientes sórdidos, paisagens artificiais onde os valores e os bons costumes desapareceram. Creio que subsistia no filme tão somente a solidariedade entre párias, um código de honra entre pares.
A importância dos cartoons
Eu aprecio muito a indústria cultural dos cartoons e banda desenhada. No jornal Público, por exemplo, posso ler o jornal a correr, mas delicio-me a ler os bonecos do Luís Afonso (o ano passado laureado com um prémio do Clube de Jornalistas). Ainda hoje, o seu "Bartoon" lembra a discussão desta semana em torno do Serviço Nacional de Saúde. Conversa o homem do bar com o seu cliente (ainda com a caneca cheia): "Esta história de as taxas moderadoras serem aplicadas de acordo com o rendimento dos utentes... levanta-me uma dúvida... quando formos ao hospital... levamos o cartão de saúde ou a declaração de IRS?". Num quadro económico de escrita visual dos seus bonecos, as mensagens de Afonso têm uma sabedoria que só um alentejano pode firmar.
Quando se folheia uma história da banda desenhada, vêm sempre em primeiro lugar os cartoonistas. Em Portugal, quantas histórias aos quadradinhos (quadrinhos, no Brasil) são trabalhadas por homens geniais? Lembro-me, a correr, de Rafael Bordalo Pinheiro, Cottinelli Telmo, Adolfo Simões Muller, Stuart Carvalhais, Carlos Botelho [como gostaria de escrever sobre ele aqui no blogue, em tendo tempo], cada qual com a sua estética, cores, formatos de balões, sempre de enorme criatividade. E os fanzines, como O Mosquito ou o Mundo de Aventuras. A descoberta recente de Mattiotti e das mangas japonesas despertou em mim memórias doces da infância e da minha juventude nos primeiros teens.
O cartoon de António na última edição do Expresso merece uma interpretação semiótica. Confesso que hesitei bastante em abordar o tema, dada a sua grande sensibilidade e susceptibilidade temática. O blogue tem uma linha editorial de análise das indústrias culturais em Portugal e em sentido geográfico mais amplo e não procura efeitos fáceis nos posts aqui colocados. Em pano de fundo, a recente vinda a Portugal de um barco holandês que se propunha discutir a questão do aborto e a tomada de decisão do ministro da Defesa e do Mar no sentido da proibição da sua atracagem num porto nacional, que o cartoonista António trabalha.
O que me interessa é ler o cartoon no seu todo, munido das ferramentas da semiótica. No sentido denotativo, vê-se um marinheiro (cujos traços ampliam e exageram os elementos fisionómicos do ministro) a bordo do navio, referente este que nos remete para o assunto. O barco tem um conjunto de canhoneiras, que o identifica como sendo de guerra, o ministro aparece vestido de marinheiro e, por detrás de si, está a representação dos mastros em forma de cruz de Cristo (material que aparenta ser em madeira). Estamos já no domínio do sentido conotativo. Cada um destes elementos assume-se como parcela da realidade apresentada mas aponta para um segundo sentido. A legenda faz concordância com a conotação.
Há, contudo, um outro sentido conotativo, quiçá ainda mais importante. Querelle [que facilmente podemos traduzir por querela, disputa] aponta para um obra de Jean Genet, escrita por ele em 1947, Querelle de Brest. De que trata a obra? Da história de um marinheiro amoral e assassino, Querelle, que proclamava: "A minha mulher é o mar; a minha amante é o meu capitão".
Genet (1910-1986) foi abandonado pelos pais e passou muito tempo da sua juventude numa instituição para delinquentes juvenis. No período antes da Segunda Guerra Mundial vagueou por vários países europeus como ladrão e prostituto. Em 1943, seria preso por roubo, altura em que começou a escrever. Os seus personagens mostravam o mundo que ele conhecia: homossexuais, ladrões, prostitutas e párias de toda a espécie. Depois, seria preso vários vezes até que apanhou uma pena para toda a vida em 1948. Talvez porque fosse um período pós-guerra, de apaziguamento social, talvez porque os seus textos chamassem a atenção para um bas-fond que urgia solucionar socialmente, o certo é que escritores de nomeada, como Jean-Paul Sartre, André Gide e Jean Cocteau, assinaram uma petição para a sua libertação. A autobiografia de Genet apareceria no ano seguinte, O diário do ladrão.
Em 1982, o realizador alemão Rainer Werner Fassbinder faria um filme baseado na obra de Genet, Querelle de Brest, que nem os fãs do cineasta gostaram. Fassbinder faleceria pouco depois. E o que é o filme nos mostra? Ambientes sórdidos, paisagens artificiais onde os valores e os bons costumes desapareceram. Creio que subsistia no filme tão somente a solidariedade entre párias, um código de honra entre pares.
A importância dos cartoons
Eu aprecio muito a indústria cultural dos cartoons e banda desenhada. No jornal Público, por exemplo, posso ler o jornal a correr, mas delicio-me a ler os bonecos do Luís Afonso (o ano passado laureado com um prémio do Clube de Jornalistas). Ainda hoje, o seu "Bartoon" lembra a discussão desta semana em torno do Serviço Nacional de Saúde. Conversa o homem do bar com o seu cliente (ainda com a caneca cheia): "Esta história de as taxas moderadoras serem aplicadas de acordo com o rendimento dos utentes... levanta-me uma dúvida... quando formos ao hospital... levamos o cartão de saúde ou a declaração de IRS?". Num quadro económico de escrita visual dos seus bonecos, as mensagens de Afonso têm uma sabedoria que só um alentejano pode firmar.
Quando se folheia uma história da banda desenhada, vêm sempre em primeiro lugar os cartoonistas. Em Portugal, quantas histórias aos quadradinhos (quadrinhos, no Brasil) são trabalhadas por homens geniais? Lembro-me, a correr, de Rafael Bordalo Pinheiro, Cottinelli Telmo, Adolfo Simões Muller, Stuart Carvalhais, Carlos Botelho [como gostaria de escrever sobre ele aqui no blogue, em tendo tempo], cada qual com a sua estética, cores, formatos de balões, sempre de enorme criatividade. E os fanzines, como O Mosquito ou o Mundo de Aventuras. A descoberta recente de Mattiotti e das mangas japonesas despertou em mim memórias doces da infância e da minha juventude nos primeiros teens.
ENTREGA DE PRÉMIOS GAZETA 2003, DO CLUBE DE JORNALISTAS
Ontem, no Hotel Carlton Palace, às 20:00. O Clube de Jornalistas - Press Club, a maior associação privada de jornalistas, não sindical e não mutualista, atribui os prémios Gazeta do Jornalismo desde 1984, patrocinados pela Portugal Telecom.
As imagens têm a seguinte legenda: 1ª) Carlos Fino (Prémio Gazeta de Mérito), pelo trabalho na cobertura da guerra do Iraque. O jornalista vai abandonar a profissão para ir trabalhar como adido em Brasília; 2ª) representante do Jornal do Centro (Prémio Gazeta de Imprensa Regional); 3ª e 4ª) Liliana Garcia (Prémio Gazeta Revelação). A jornalista pertence aos quadros do Jornal do Centro, em Viseu; 5ª e 6ª) Ana Sousa Dias (Grande Prémio Gazeta), pelo trabalho na televisão Por outro lado.
Ontem, no Hotel Carlton Palace, às 20:00. O Clube de Jornalistas - Press Club, a maior associação privada de jornalistas, não sindical e não mutualista, atribui os prémios Gazeta do Jornalismo desde 1984, patrocinados pela Portugal Telecom.
As imagens têm a seguinte legenda: 1ª) Carlos Fino (Prémio Gazeta de Mérito), pelo trabalho na cobertura da guerra do Iraque. O jornalista vai abandonar a profissão para ir trabalhar como adido em Brasília; 2ª) representante do Jornal do Centro (Prémio Gazeta de Imprensa Regional); 3ª e 4ª) Liliana Garcia (Prémio Gazeta Revelação). A jornalista pertence aos quadros do Jornal do Centro, em Viseu; 5ª e 6ª) Ana Sousa Dias (Grande Prémio Gazeta), pelo trabalho na televisão Por outro lado.
segunda-feira, 13 de setembro de 2004
JORNALISMO E JORNALISTAS - JJ
Saíu o número 19 da JJ, correspondente a Julho/Setembro. O tema de capa é Ana Sousa Dias, entrevistada por Carla Martins. Ana Sousa Dias é o rosto de um dos melhores programas de televisão, Por outro lado.
Mas há mais motivos de grande interesse na leitura da revista do Clube de Jornalistas. Assim, Fernando Cascais (director do CENJOR e meu colega na Universidade Católica Portuguesa) analisa os provedores do leitor, Felisbela Lopes (Universidade do Minho) entrevista o jornalista da SIC Pedro Coelho, a propósito da tese de mestrado que este recentemente defendeu sobre televisão de proximidade - e sobre a qual eu escrevi neste blogue -, e Isabel Travancas (Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil) aborda o tema O jornalista como personagem de cinema. Este blogueiro conta também com um texto, que é a comunicação feita ao último congresso da SOPCOM, realizado na Covilhã este ano, com o título Alberto Bessa e a sua história do jornalismo.
E, claro, informação sobre os Prémios Gazeta 2003, hoje entregues pelo presidente da República, e que espero dar conta neste blogue amanhã. A grande premiada é exactamente Ana Sousa Dias. Outros prémios vão para Carlos Fino (Gazeta de Mérito), Liliana Garcia (Prémio Revelação) e Jornal do Centro (Viseu) (Prémio Gazeta Imprensa Regional).
Saíu o número 19 da JJ, correspondente a Julho/Setembro. O tema de capa é Ana Sousa Dias, entrevistada por Carla Martins. Ana Sousa Dias é o rosto de um dos melhores programas de televisão, Por outro lado.
Mas há mais motivos de grande interesse na leitura da revista do Clube de Jornalistas. Assim, Fernando Cascais (director do CENJOR e meu colega na Universidade Católica Portuguesa) analisa os provedores do leitor, Felisbela Lopes (Universidade do Minho) entrevista o jornalista da SIC Pedro Coelho, a propósito da tese de mestrado que este recentemente defendeu sobre televisão de proximidade - e sobre a qual eu escrevi neste blogue -, e Isabel Travancas (Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil) aborda o tema O jornalista como personagem de cinema. Este blogueiro conta também com um texto, que é a comunicação feita ao último congresso da SOPCOM, realizado na Covilhã este ano, com o título Alberto Bessa e a sua história do jornalismo.
E, claro, informação sobre os Prémios Gazeta 2003, hoje entregues pelo presidente da República, e que espero dar conta neste blogue amanhã. A grande premiada é exactamente Ana Sousa Dias. Outros prémios vão para Carlos Fino (Gazeta de Mérito), Liliana Garcia (Prémio Revelação) e Jornal do Centro (Viseu) (Prémio Gazeta Imprensa Regional).
NOVAS TECNOLOGIAS E CONSUMO DOMÉSTICO (III)
[continuação das mensagens de 7 e 9.9.2004]
Economia moral do lar [texto editado no capítulo que escrevi para a obra organizada por Carlos Leone, 2000, Rumo ao cibermundo?]
O lar apresenta-se como unidade social, cultural e doméstica, tomando parte activa no consumo de objectos e significados dos membros que constituem os membros da família e unidade económica complexa em si, naquilo a que Silverstone, Hirsch e Morley (1996: 43) chamaram “economia moral”. Os autores conceptualizaram um modelo para compreender a relação família/público - a que chamaram a economia moral do lar – economia de significados e atribuição de valores e economia significativa (real/psicológica) sobre objectos e tecnologias e o seu consumo (e escolhas, através de cognições, avaliações, elementos estéticos e biografia dos objectos).
Os elementos do sistema de troca são: 1) apropriação – compra, 2) objectização – recriação para exposição, 3) incorporação – novas funções, e 4) conversão – aceitação, mudança. Instituição que produz bens e serviços de valor económico tangível do mesmo modo que uma empresa, a economia moral inclui as actividades dos seus membros, no lar e no mundo do trabalho, nos momentos de lazer e nas compras feitas individualmente, seguindo um calendário próprio de consumo. Nota-se, porém, uma diferença fundamental: enquanto o produtor trabalha para a família, o consumidor produz dentro da família (Wheelock, 1996: 150).
Assim, encarado como unidade social de estrutura complexa, hoje, no lar reflectem-se as lutas e as negociações internas que envolvem pais e filhos, gerações mais velhas e mais novas e dinâmicas funcionais e estéticas de sexo masculino por oposição às do sexo feminino (Silverstone e Hirsch, 1996: 32). Face aos equipamentos tecnológicos, há uma permanente disputa e apropriação interior no lar: a decisão de aquisição e a orientação do consumo reflectem uma relação social de poder entre os vários elementos do agregado familiar. Geralmente, a escolha parte do homem, mas as indústrias tecnológicas esforçam-se por conquistar as mulheres, que detêm um forte poder psicológico de opção nas aquisições de equipamentos. Daí, os fabricantes elaborarem uma produção contínua de mensagens e discursos dirigidos ao sexo feminino.
Afigura-se-me fundamental, pois, apreciar o consumo doméstico da rádio, televisão, internet e outros equipamentos electrónicos, concluindo pelos significados negociados pelas audiências activas face aos programas produzidos e a ligação dos telespectadores e ouvintes a acontecimentos distantes (MacKay, 1997).
Leituras: 1) Hugh MacKay (1997). “Consuming communication technologies at home”. In Hugh MacKay (ed.) Consumption and everyday life. Londres, Thousand Oaks e Nova Deli: Sage
2) Jane Whellock (1996). “Ordenadores personales, género y un modelo institucional para el ámbito doméstico”. In Roger Silverstone e Erich Hirsch (eds.) Los efectos de la nueva comunicación. Barcelona: Bosch
3) Roger Silverstone e Eric Hirsch (eds.) (1996). Los effectos de la nueva comunicación. Barcelona: Bosch
4) Roger Silverstone, Eric Hirsch e David Morley (1996). “Tecnologías de la información y de la comunicación y la economía moral de la familia”. In Roger Silverstone e Eric Hirsch (eds.) Los effectos de la nueva comunicación. Barcelona: Bosch
5) Rogério Santos (2000). "Indústria cultural, tecnologias e consumos". In Carlos Leone (org.). Rumo ao cibermundo? Oeiras: Celta
[continuação das mensagens de 7 e 9.9.2004]
Economia moral do lar [texto editado no capítulo que escrevi para a obra organizada por Carlos Leone, 2000, Rumo ao cibermundo?]
O lar apresenta-se como unidade social, cultural e doméstica, tomando parte activa no consumo de objectos e significados dos membros que constituem os membros da família e unidade económica complexa em si, naquilo a que Silverstone, Hirsch e Morley (1996: 43) chamaram “economia moral”. Os autores conceptualizaram um modelo para compreender a relação família/público - a que chamaram a economia moral do lar – economia de significados e atribuição de valores e economia significativa (real/psicológica) sobre objectos e tecnologias e o seu consumo (e escolhas, através de cognições, avaliações, elementos estéticos e biografia dos objectos).
Os elementos do sistema de troca são: 1) apropriação – compra, 2) objectização – recriação para exposição, 3) incorporação – novas funções, e 4) conversão – aceitação, mudança. Instituição que produz bens e serviços de valor económico tangível do mesmo modo que uma empresa, a economia moral inclui as actividades dos seus membros, no lar e no mundo do trabalho, nos momentos de lazer e nas compras feitas individualmente, seguindo um calendário próprio de consumo. Nota-se, porém, uma diferença fundamental: enquanto o produtor trabalha para a família, o consumidor produz dentro da família (Wheelock, 1996: 150).
Assim, encarado como unidade social de estrutura complexa, hoje, no lar reflectem-se as lutas e as negociações internas que envolvem pais e filhos, gerações mais velhas e mais novas e dinâmicas funcionais e estéticas de sexo masculino por oposição às do sexo feminino (Silverstone e Hirsch, 1996: 32). Face aos equipamentos tecnológicos, há uma permanente disputa e apropriação interior no lar: a decisão de aquisição e a orientação do consumo reflectem uma relação social de poder entre os vários elementos do agregado familiar. Geralmente, a escolha parte do homem, mas as indústrias tecnológicas esforçam-se por conquistar as mulheres, que detêm um forte poder psicológico de opção nas aquisições de equipamentos. Daí, os fabricantes elaborarem uma produção contínua de mensagens e discursos dirigidos ao sexo feminino.
Afigura-se-me fundamental, pois, apreciar o consumo doméstico da rádio, televisão, internet e outros equipamentos electrónicos, concluindo pelos significados negociados pelas audiências activas face aos programas produzidos e a ligação dos telespectadores e ouvintes a acontecimentos distantes (MacKay, 1997).
Leituras: 1) Hugh MacKay (1997). “Consuming communication technologies at home”. In Hugh MacKay (ed.) Consumption and everyday life. Londres, Thousand Oaks e Nova Deli: Sage
2) Jane Whellock (1996). “Ordenadores personales, género y un modelo institucional para el ámbito doméstico”. In Roger Silverstone e Erich Hirsch (eds.) Los efectos de la nueva comunicación. Barcelona: Bosch
3) Roger Silverstone e Eric Hirsch (eds.) (1996). Los effectos de la nueva comunicación. Barcelona: Bosch
4) Roger Silverstone, Eric Hirsch e David Morley (1996). “Tecnologías de la información y de la comunicación y la economía moral de la familia”. In Roger Silverstone e Eric Hirsch (eds.) Los effectos de la nueva comunicación. Barcelona: Bosch
5) Rogério Santos (2000). "Indústria cultural, tecnologias e consumos". In Carlos Leone (org.). Rumo ao cibermundo? Oeiras: Celta
domingo, 12 de setembro de 2004
LEITURAS DE JORNAIS E REVISTAS
1) Expresso, de ontem. Luís Delgado nomeado para a presidência da Lusomundo Media, que agrupa os jornais Diário de Notícias e Jornal de Notícias e a rádio TSF, grupo que conhece bem profissionalmente. Até agora, Luís Delgado tem sido administrador delegado da agência de notícias Lusa. Anteriormente, foi director-adjunto do Diário de Notícias, fundador do primeiro e mais prestigiado jornal electrónico, o Diário Digital, e conhecido pela sua polémica coluna no Diário de Notícias, "Às direitas".
2) El Pais, de hoje. A Telefonica (equivalente espanhola da Portugal Telecom) lança uma ofensiva em banda larga em ADSL, para ganhar um mercado de quatro milhões de clientes até 2006. Em vez da tarifa plana (€39,07 mensais), lançou uma tarifa ondulada de €9,9 mensais por 11 horas de navegação, podendo ainda somar módulos de tempo (€0,024 por minuto). Além disso, a Telefonica financiará a aquisição de computadores, convertendo-se em fornecedor das tecnologias de informação para 94% de lares espanhóis ainda sem acesso à banda larga. Entretanto, a concorrência prepara-se para lançar a estrela da estação: a comunicação telefónica através da internet. E Portugal e a Portugal Telecom que boas surpresas nos preparam para este regresso de férias?
3) The Sunday Telegraph, de hoje. Richard Desmond, proprietário do jornal Daily Express e da revista OK, prepara-se para lançar uma revista de moda concorrente da Elle e da Vogue. O título da nova publicação será Be Happy, e sairá na Primavera de 2005. Desmond irá gastar entre dois e cinco milhões de libras em publicidade, incluindo a televisão. A Be Happy assemelhar-se-á à Lucky, uma revista pertencente a Condé Nast (editor da Vogue), e que combina moda e compras. Desmond acredita que a perda de influência da Elle no mercado inglês (cerca de 154 mil exemplares mensais) dá espaço à nova publicação.
4) Magazine Artes, de Setembro. Apoiada pelo IPLB, do Ministério da Cultura, e cerca de 13 anúncios em 100 páginas, a revista insere-se na área que considero de indústrias culturais. Traz entrevistas, reportagens e muita informação sobre espectáculos (filmes, teatro, bailado), livros, escritos de modo simples. Destaco a reportagem Televisões: a cultura no feminino. Escrita por Ana Leonor Martins, o texto fala-nos dos rostos femininos que apresentam programas de cultura na televisão. A pergunta de partida é: "Porque será que a maioria dos programas culturais televisivos em Portugal são apresentados por mulheres?". Este é o número 21 da publicação e custa €3,5.
1) Expresso, de ontem. Luís Delgado nomeado para a presidência da Lusomundo Media, que agrupa os jornais Diário de Notícias e Jornal de Notícias e a rádio TSF, grupo que conhece bem profissionalmente. Até agora, Luís Delgado tem sido administrador delegado da agência de notícias Lusa. Anteriormente, foi director-adjunto do Diário de Notícias, fundador do primeiro e mais prestigiado jornal electrónico, o Diário Digital, e conhecido pela sua polémica coluna no Diário de Notícias, "Às direitas".
2) El Pais, de hoje. A Telefonica (equivalente espanhola da Portugal Telecom) lança uma ofensiva em banda larga em ADSL, para ganhar um mercado de quatro milhões de clientes até 2006. Em vez da tarifa plana (€39,07 mensais), lançou uma tarifa ondulada de €9,9 mensais por 11 horas de navegação, podendo ainda somar módulos de tempo (€0,024 por minuto). Além disso, a Telefonica financiará a aquisição de computadores, convertendo-se em fornecedor das tecnologias de informação para 94% de lares espanhóis ainda sem acesso à banda larga. Entretanto, a concorrência prepara-se para lançar a estrela da estação: a comunicação telefónica através da internet. E Portugal e a Portugal Telecom que boas surpresas nos preparam para este regresso de férias?
3) The Sunday Telegraph, de hoje. Richard Desmond, proprietário do jornal Daily Express e da revista OK, prepara-se para lançar uma revista de moda concorrente da Elle e da Vogue. O título da nova publicação será Be Happy, e sairá na Primavera de 2005. Desmond irá gastar entre dois e cinco milhões de libras em publicidade, incluindo a televisão. A Be Happy assemelhar-se-á à Lucky, uma revista pertencente a Condé Nast (editor da Vogue), e que combina moda e compras. Desmond acredita que a perda de influência da Elle no mercado inglês (cerca de 154 mil exemplares mensais) dá espaço à nova publicação.
4) Magazine Artes, de Setembro. Apoiada pelo IPLB, do Ministério da Cultura, e cerca de 13 anúncios em 100 páginas, a revista insere-se na área que considero de indústrias culturais. Traz entrevistas, reportagens e muita informação sobre espectáculos (filmes, teatro, bailado), livros, escritos de modo simples. Destaco a reportagem Televisões: a cultura no feminino. Escrita por Ana Leonor Martins, o texto fala-nos dos rostos femininos que apresentam programas de cultura na televisão. A pergunta de partida é: "Porque será que a maioria dos programas culturais televisivos em Portugal são apresentados por mulheres?". Este é o número 21 da publicação e custa €3,5.
ISTO NÃO É UM CATÁLOGO
Na realidade, são apenas quatro folhas de informação (capa, informações sobre Olga Roriz e a sua companhia, um texto dela sobre a peça e a ficha artística e técnica)
Para mim, também o bailado Confidencial não é um bailado, excepto na última cenografia. O resto é um cruzamento de artes (indústrias culturais e artes artesanais - ou artes simplesmente). Com recurso a memórias do cinema de animação (o homem borracha), ao music-hall (directa ou indirectamente a Elis Regina, Marlene Dietrich, Astor Piazzolla), à música tradicional (russa), ao circo, à mímica, à performance. E ao teatro, em especial.
Já estou de acordo quando Olga Roriz escreve "não procuro nas palavras mas nas acções, na violência da música, na obsessão de um cenário repetitivo". E entusiasmei-me com a sua inventividade - das cadeiras de bar ou café, aos baldes com flores, às penas de ave (ou era uma matéria sintética?) na parte final do espectáculo e aos jogos coreográficos desenvolvidos pelos cinco bailarinos, a parte mais empolgante de todo o trabalho.
Mas continuei sem ver bailado. Apenas transgressão, como o paraíso ao negro [no título, procurei a referência de Magritte, aqui a obra de Yourcenar], com um casal fazendo amor e um homem defecando. E memórias, que a pequena Sara Cal nos lembrava, tirando continuadamente as suas fotografias Photomaton, num piscar de olhos para que não esquecessemos que estávamos a assistir a uma obra de arte. É isso, a peça de Roriz é arte pela arte, é um olhar estético cheio de volúpia. Sem o poder telúrico do seu Pedro e Inês, de Julho do ano passado, onde os elementos terra e água são fundamentais na coreografia, ela própria uma contaminação de outras artes e em que as tecnologias de informação assumem um peso imprescindível.
Na realidade, são apenas quatro folhas de informação (capa, informações sobre Olga Roriz e a sua companhia, um texto dela sobre a peça e a ficha artística e técnica)
Para mim, também o bailado Confidencial não é um bailado, excepto na última cenografia. O resto é um cruzamento de artes (indústrias culturais e artes artesanais - ou artes simplesmente). Com recurso a memórias do cinema de animação (o homem borracha), ao music-hall (directa ou indirectamente a Elis Regina, Marlene Dietrich, Astor Piazzolla), à música tradicional (russa), ao circo, à mímica, à performance. E ao teatro, em especial.
Já estou de acordo quando Olga Roriz escreve "não procuro nas palavras mas nas acções, na violência da música, na obsessão de um cenário repetitivo". E entusiasmei-me com a sua inventividade - das cadeiras de bar ou café, aos baldes com flores, às penas de ave (ou era uma matéria sintética?) na parte final do espectáculo e aos jogos coreográficos desenvolvidos pelos cinco bailarinos, a parte mais empolgante de todo o trabalho.
Mas continuei sem ver bailado. Apenas transgressão, como o paraíso ao negro [no título, procurei a referência de Magritte, aqui a obra de Yourcenar], com um casal fazendo amor e um homem defecando. E memórias, que a pequena Sara Cal nos lembrava, tirando continuadamente as suas fotografias Photomaton, num piscar de olhos para que não esquecessemos que estávamos a assistir a uma obra de arte. É isso, a peça de Roriz é arte pela arte, é um olhar estético cheio de volúpia. Sem o poder telúrico do seu Pedro e Inês, de Julho do ano passado, onde os elementos terra e água são fundamentais na coreografia, ela própria uma contaminação de outras artes e em que as tecnologias de informação assumem um peso imprescindível.
TEATRO E MÚSICA DO BRASIL EM PORTUGAL
Enquanto a praça de touros do Campo Pequeno, aqui ao pé de minha casa, não fica pronta, os taipais que cobrem a área enchem-se de informação de espectáculos de teatro e música. Curiosamente, há uma série de peças de teatro brasileiro que estão a decorrer ou se anunciam para breve.
Assim, Thiago Lacerda e Maria Fernanda Cândido actuam no polémico Evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago, no teatro S. Luiz, entre 14 de Setembro e 10 de Outubro, Cláudia Raia e Miguel Falabella em Batalha de arroz, no Tivoli, de 8 de Setembro a 2 de Outubro, e Regina Duarte em Coração de bazar, no Tivoli, de 13 a 24 de Outubro.
Actrizes e actores são bem conhecidos do público lisboeta através das telenovelas vindas do outro lado do Atlântico.
Também os músicos que tocam em Lisboa (e também no Porto) têm um longo contacto com o público português, pelo que é natural a sua presença no nosso país.
Em Lisboa, Ney Matogrosso actuará a 25 de Setembro no Coliseu e Egberto Gismonti e Olívia Byinton tocarão na Aula Magna a 28 de Setembro. Enquanto o Coliseu é uma sala grande, a Aula Magna (Reitoria da Universidade Clássica) é um espaço mais íntimo e acolhedor.
Não sei aquilatar da qualidade dos espectáculos (nem sou crítico de teatro ou música), apenas posso constatar a quantidade. Por um lado, há um fluxo interessante daquele país do Atlântico ocidental para este cantinho da Europa. Por outro lado - e isto tem a ver com a ecologia dos sinais (designação inventada agora por mim, aparentada à semiótica) -, sinto que o espaço público é bombardeado por imensa informação rapidamente perecível, como são os outodoors e os mupies. Nós não temos capacidade de absorver a oferta que nos é dada em toda essa comunicação. Em terceiro lugar, é curioso constatar que alguns dos cartazes estão colocados em espaços pagos de publicidade, como os outdoors, de que é exemplo a peça em que entram Cláudia Raia e Miguel Falabella - para além de aparecerem em jornais e revistas -, mas outros estão situados em espaços ilegais de publicidade, caso desses taipais aqui perto de minha casa.
Noutra altura, inundavam a praça informações sobre touradas, com cavaleiros, forcados e touros da ganadaria de A ou de B... O mês de Setembro era um período de fortes emoções nesse sentido.
Enquanto a praça de touros do Campo Pequeno, aqui ao pé de minha casa, não fica pronta, os taipais que cobrem a área enchem-se de informação de espectáculos de teatro e música. Curiosamente, há uma série de peças de teatro brasileiro que estão a decorrer ou se anunciam para breve.
Assim, Thiago Lacerda e Maria Fernanda Cândido actuam no polémico Evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago, no teatro S. Luiz, entre 14 de Setembro e 10 de Outubro, Cláudia Raia e Miguel Falabella em Batalha de arroz, no Tivoli, de 8 de Setembro a 2 de Outubro, e Regina Duarte em Coração de bazar, no Tivoli, de 13 a 24 de Outubro.
Actrizes e actores são bem conhecidos do público lisboeta através das telenovelas vindas do outro lado do Atlântico.
Também os músicos que tocam em Lisboa (e também no Porto) têm um longo contacto com o público português, pelo que é natural a sua presença no nosso país.
Em Lisboa, Ney Matogrosso actuará a 25 de Setembro no Coliseu e Egberto Gismonti e Olívia Byinton tocarão na Aula Magna a 28 de Setembro. Enquanto o Coliseu é uma sala grande, a Aula Magna (Reitoria da Universidade Clássica) é um espaço mais íntimo e acolhedor.
Não sei aquilatar da qualidade dos espectáculos (nem sou crítico de teatro ou música), apenas posso constatar a quantidade. Por um lado, há um fluxo interessante daquele país do Atlântico ocidental para este cantinho da Europa. Por outro lado - e isto tem a ver com a ecologia dos sinais (designação inventada agora por mim, aparentada à semiótica) -, sinto que o espaço público é bombardeado por imensa informação rapidamente perecível, como são os outodoors e os mupies. Nós não temos capacidade de absorver a oferta que nos é dada em toda essa comunicação. Em terceiro lugar, é curioso constatar que alguns dos cartazes estão colocados em espaços pagos de publicidade, como os outdoors, de que é exemplo a peça em que entram Cláudia Raia e Miguel Falabella - para além de aparecerem em jornais e revistas -, mas outros estão situados em espaços ilegais de publicidade, caso desses taipais aqui perto de minha casa.
Noutra altura, inundavam a praça informações sobre touradas, com cavaleiros, forcados e touros da ganadaria de A ou de B... O mês de Setembro era um período de fortes emoções nesse sentido.
sábado, 11 de setembro de 2004
SEPTEMBER, 11, 2001
My memories of New York City, one month and two weeks after the big tragedy of September, 11 (photos of Ground Zero and around a church at the neighbour on a Saturday afternoon, and the Broadway at 1:00 AM, pictures I'd took with my old camera Pentax).
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My aim at staying in the USA was to search information on news about HIV-AIDS at the W.E.B. Du Bois Library, the Massachusetts University library, in Amherst, MA, to prepare my PhD thesis, with a grant from Luso-Americana Foundation.I saw a lot of squirrels there.
I spent a weekend in New York for visiting the city and their museums (MOMA and Guggenheim). I travelled in the Peter Pan trucks between Amherst, MA, and NYC.
My memories of New York City, one month and two weeks after the big tragedy of September, 11 (photos of Ground Zero and around a church at the neighbour on a Saturday afternoon, and the Broadway at 1:00 AM, pictures I'd took with my old camera Pentax).
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My aim at staying in the USA was to search information on news about HIV-AIDS at the W.E.B. Du Bois Library, the Massachusetts University library, in Amherst, MA, to prepare my PhD thesis, with a grant from Luso-Americana Foundation.I saw a lot of squirrels there.
I spent a weekend in New York for visiting the city and their museums (MOMA and Guggenheim). I travelled in the Peter Pan trucks between Amherst, MA, and NYC.
sexta-feira, 10 de setembro de 2004
AS IDAS AO CINEMA EM PORTUGAL NO PRIMEIRO SEMESTRE DO ANO
Segundo a newsletter do Obercom, no primeiro semestre de 2004, registaram-se, em Portugal, 6,7 milhões de entradas em salas de cinema. As receitas brutas de bilheteira somaram 27,6 milhões de euros no mesmo período, segundo o texto de Maria João Taborda. A Paixão de Cristo e Shrek 2 encabeçam a lista dos filmes mais vistos nos primeiros seis meses do ano.
Apesar da grandeza dos números, trata-se de um decréscimo de 27,5% relativamente ao período homólogo de 2003, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), quando mais de 9,1 milhões de bilhetes foram vendidos.
Já fora do período, Julho teve os melhores resultados do ano, em termos de frequência de salas e de receitas de bilheteira, segundo dados recolhidos pelo ICAM junto dos promotores cinematográficos, salientada ainda na mesma newsletter.
Segundo a newsletter do Obercom, no primeiro semestre de 2004, registaram-se, em Portugal, 6,7 milhões de entradas em salas de cinema. As receitas brutas de bilheteira somaram 27,6 milhões de euros no mesmo período, segundo o texto de Maria João Taborda. A Paixão de Cristo e Shrek 2 encabeçam a lista dos filmes mais vistos nos primeiros seis meses do ano.
Apesar da grandeza dos números, trata-se de um decréscimo de 27,5% relativamente ao período homólogo de 2003, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), quando mais de 9,1 milhões de bilhetes foram vendidos.
Já fora do período, Julho teve os melhores resultados do ano, em termos de frequência de salas e de receitas de bilheteira, segundo dados recolhidos pelo ICAM junto dos promotores cinematográficos, salientada ainda na mesma newsletter.
OS PROGRAMAS MAIS VISTOS EM TELEVISÃO
Segundo a Marktest.com (Media Monitor), os canais generalistas passaram maioritariamente programas de ficção no primeiro semestre de 2004. Assim, os quatros canais de sinal aberto (RTP1, 2, SIC, TVI) dedicaram 22,7% da sua grelha a programas de ficção, com a duração média diária à volta das cinco horas e meia por estação.
A seguir, vem a publicidade (18,9% da emissão, numa média diária de quatro horas e meia por canal). Esta segunda posição da publicidade no conjunto das horas de emissão diz bem da sua importância e da distorção no conjunto das emissões. Mas a televisão comercial não pode viver sem a sua fonte de rendimento.
Em terceiro lugar vêm os programas de informação, com 17,4% nas grelhas dos canais generalistas, com uma média diária superior às quatro horas por canal. Divertimento, Cultura Geral e Conhecimento, Juventude e Desporto foram outros tipos de programas com maior oferta na televisão. É de realçar ainda o peso do desporto (Euro 2004) no final do período agora em análise, campeonato em que Portugal foi vice-campeão.
Segundo a Marktest.com (Media Monitor), os canais generalistas passaram maioritariamente programas de ficção no primeiro semestre de 2004. Assim, os quatros canais de sinal aberto (RTP1, 2, SIC, TVI) dedicaram 22,7% da sua grelha a programas de ficção, com a duração média diária à volta das cinco horas e meia por estação.
A seguir, vem a publicidade (18,9% da emissão, numa média diária de quatro horas e meia por canal). Esta segunda posição da publicidade no conjunto das horas de emissão diz bem da sua importância e da distorção no conjunto das emissões. Mas a televisão comercial não pode viver sem a sua fonte de rendimento.
Em terceiro lugar vêm os programas de informação, com 17,4% nas grelhas dos canais generalistas, com uma média diária superior às quatro horas por canal. Divertimento, Cultura Geral e Conhecimento, Juventude e Desporto foram outros tipos de programas com maior oferta na televisão. É de realçar ainda o peso do desporto (Euro 2004) no final do período agora em análise, campeonato em que Portugal foi vice-campeão.
DNA - UM FORTE APOIO INSTITUCIONAL
Há algum tempo atrás foi o caderno "Actual" do Expresso a ter o apoio institucional do banco Millennium BCP. Agora, cabe a vez ao caderno "DNA" do Diário de Notícias receber apoio institucional do Banco Espírito Santo (BES). Diz o editorial de hoje do suplemento: "Esta edição do DNA marca um novo passo na relação saudável e feliz que pode haver entre o universo editorial e o lado comercial que suporta os produtos de Imprensa".
Quando o caderno do Expresso passou a ostentar a marca do banco houve logo críticas. Não entendo porquê. Se um banco patrocina um bom produto, e o caderno do Expresso é um belíssimo produto, porque não associar um apoio? O banco ganha uma imagem ligada à cultura e à informação; o jornal reduz custos de produção. O mesmo ocorre com o "DNA", um magnífico caderno do Diário de Notícias. Neste caso, é a fotografia a privilegiada.
Esperemos agora que haja um banco - o BPI, por exemplo - que apoie blogues. No meu, sempre poderia introduzir melhorias e colocar mais informação. Vou ponderar escrever uma carta aos bancos. Há mais algum blogue/blogueiro que quer partilhar comigo este pedido de mecenato?
DN Música
No caderno "DNA" vem também o "DN: Música", outro espaço conseguido da edição de sexta-feira. O director é Nuno Galopim, que escreve bem. Hoje, para além do editorial sobre um tema actual - os downloads musicais -, ele escreve sobre a banda Blondie, a propósito da saída de uma caixa de singles. Informação útil. Mas há expressões que fiquei sem perceber muito bem o que querem dizer, tais como "a carga cosmética do teclados", "garantiram o efeito de gatilho", "mesmo sem gemas maiores". Vale a pena usar estas formas de português?
Há algum tempo atrás foi o caderno "Actual" do Expresso a ter o apoio institucional do banco Millennium BCP. Agora, cabe a vez ao caderno "DNA" do Diário de Notícias receber apoio institucional do Banco Espírito Santo (BES). Diz o editorial de hoje do suplemento: "Esta edição do DNA marca um novo passo na relação saudável e feliz que pode haver entre o universo editorial e o lado comercial que suporta os produtos de Imprensa".
Quando o caderno do Expresso passou a ostentar a marca do banco houve logo críticas. Não entendo porquê. Se um banco patrocina um bom produto, e o caderno do Expresso é um belíssimo produto, porque não associar um apoio? O banco ganha uma imagem ligada à cultura e à informação; o jornal reduz custos de produção. O mesmo ocorre com o "DNA", um magnífico caderno do Diário de Notícias. Neste caso, é a fotografia a privilegiada.
Esperemos agora que haja um banco - o BPI, por exemplo - que apoie blogues. No meu, sempre poderia introduzir melhorias e colocar mais informação. Vou ponderar escrever uma carta aos bancos. Há mais algum blogue/blogueiro que quer partilhar comigo este pedido de mecenato?
DN Música
No caderno "DNA" vem também o "DN: Música", outro espaço conseguido da edição de sexta-feira. O director é Nuno Galopim, que escreve bem. Hoje, para além do editorial sobre um tema actual - os downloads musicais -, ele escreve sobre a banda Blondie, a propósito da saída de uma caixa de singles. Informação útil. Mas há expressões que fiquei sem perceber muito bem o que querem dizer, tais como "a carga cosmética do teclados", "garantiram o efeito de gatilho", "mesmo sem gemas maiores". Vale a pena usar estas formas de português?
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