terça-feira, 30 de setembro de 2008

MAR POR MEDIO - GALIZA E PORTUGAL - A CONSTRUCIÓN DUN ESPAZO COMÚM DE COMUNICACIÓN E CULTURA


As XVI Xornadas Mar por Medio este ano teñen como temática: "Galiza e Portugal, a creación dun espazo común de comunicación e cultura".


Coas mesmas tratamos de crear un foro de debate no que, durante tres días, profesionais do sector cultural (música, literatura, xestión cultural) de Galiza e, sobre todo, de Portugal dean conta da situación actual e das posibilidades futuras. Con vistas a falar máis polo miúdo destas posibilidades, este ano habilitouse un espazo na programación para que os profesionais do sector teñades a ocasión entrevistarvos en privado cos ponentes se vos parezan de interese.

A inscrición é gratuíta e nela podedes, xa desde agora, reservar as vosas entrevistas. O prazo de inscrición para profesionais remata este venres 3 de outubro.

Atoparás toda a información na páxina web das xornadas: http://www.marpormedio.com.

ILUSTRAÇÃO NO FEMININO


Ilustração no Feminino é a organização de uma exposição com cerca de 100 obras levada a cabo pela Junta de Freguesia de S. João da Madeira, que "decidiu publicar a agenda-catálogo que representa a interpretação, por mais de trinta artistas portuguesas de várias gerações de ilustradoras, de um mesmo texto literário, o conto russo «A minha mãe é a mulher mais bela do mundo»".

Continuando a citar a apresentação da iniciativa, lê-se que ela, "promovida no ano internacional do diálogo intercultural, quis celebrar também a importância da leitura polissémica. Ler o mundo na sua infindável diversidade, ler as relações infinitas e únicas que se tecem entre os seres, ler as várias formas de expressões artísticas e técnicas usadas".

Decorre nos próximos dias 2 a 4 de Outubro (o programa completo está
aqui e o número de ilustradoras é muito grande, como se pode ver aqui). O blogueiro adorava estar lá, mas as obrigações profissionais impedem mesmo uma visita rápida.

Retiro uma das ilustrações publicadas no sítio da internet, mas vale a pena clicar
aqui para ver a colecção.


Uma muito feliz iniciativa. Parabéns!

ESCREVERIA ADORNO SOBRE SHARON STONE?

  • Para o consumidor, não há nada mais a classificar que não tenha sido antecipado no esquematismo da produção. A arte sem sonho destinada ao povo realiza aquele idealismo sonhador que ia longe demais para o idealismo crítico. Tudo vem da consciência, em Malebranche e Berkeley da consciência de Deus; na arte para as massas, da consciência terrena das equipes de produção. Não somente os tipos das canções de sucesso, os astros, as novelas ressurgem ciclicamente como invariantes fixos, mas o conteúdo específico do espectáculo é ele próprio derivado deles e só varia na aparência. Os detalhes tornam-se fungíveis. A breve sequência de intervalos, fácil de memorizar, como mostrou a canção de sucesso; o fracasso temporário do herói, que ele sabe suportar como good sport que é; a boa palmada que a namorada recebe da mão forte do astro; sua rude reserva em face da herdeira mimada são, como todos os detalhes, clichés prontos para serem empregados arbitrariamente aqui e ali e completamente definidos pela finalidade que lhes cabe no esquema. Confirmá-lo, compondo-o, eis aí sua razão de ser. Desde o começo do filme já se sabe como ele termina, quem é recompensado, e, ao escutar a música ligeira, o ouvido treinado é perfeitamente capaz, desde os primeiros compassos, de adivinhar o desenvolvimento do tema e sente-se feliz quando ele tem lugar como previsto. O número médio de palavras da short story é algo em que não se pode mexer. Até mesmo as gags, efeitos e piadas são calculados, assim como o quadro em que se inserem. Sua produção é administrada por especialistas, e sua pequena diversidade permite reparti-las facilmente no escritório. A indústria cultural desenvolveu-se com o predomínio que o efeito, a performance tangível e o detalhe técnico alcançaram sobre a obra, que era outrora o veículo da Ideia e com essa foi liquidada. Emancipando-se, o detalhe tornara-se rebelde e, do romantismo ao expressionismo, afirmara-se como expressão indómita, como veículo do protesto contra a organização. [Max Horkheimer e Theodor Adorno (1985). Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, pp. 117-118]
Quando Adorno escreveu, conjuntamente com Horkheimer, o livro Dialética do Esclarecimento estava no exílio, fugido da Alemanha nazi. Em especial o capítulo sobre "A indústria cultural: o esclarecimento como mistificação das massas" marcou a sua filosofia, ponto de progresso que chegaria até Teoria Estética, texto editado postumamente em 1970. A Dialética é um livro pessimista, aporético.

Sharon Stone, a super-dotada actriz americana muito conhecida por um descruzar de pernas no filme Instinto Fatal (1992, com sequela em 2006), aparece num anúncio da Dior. No sítio da
Sack's, lê-se que "Capture Totale, o primeiro produto anti-idade baseado em uma profunda pesquisa tecnológica e sociológica. Capture Totale oferece resultados anti-idade extraordinários e conta com tecnologias de vanguarda em sua composição. Esta nova geração de cosméticos está aliada a um novíssimo conceito – uma geração de mulheres completamente satisfeitas e confortáveis com sua real idade. Assim como a estrela da campanha de Capture Totale, Sharon Stone, estas mulheres estão em busca da beleza serena e completa".

Certamente, Adorno não hesitaria em escrever sobre a actriz e a publicidade e sobre os "clichés prontos para serem empregados arbitrariamente aqui e ali e completamente definidos pela finalidade que lhes cabe no esquema". Já não há exílio ou histeria mas procura da beleza até ao fim da vida.

RECURSOS SOBRE ADORNO


Para ler:
1) o capítulo do livro de Max Horkheimer e Theodor Adorno, Dialética do Esclarecimento, "A Indústria Cultural: o esclarecimento como mistificação das massas", clicar aqui,
2) o prólogo à primeira edição alemã da Dialéctica do Esclarecimento (ou Iluminismo) (versão em castelhano), clicar aqui.

MAHLER NA RÁDIO


É sempre impressionante (e arrepiante) ouvir Mahler (5ª sinfonia). Agora, na Antena 2.

INDÚSTRIA CULTURAL EM HEINZ STEINERT


O conceito de indústria cultural em Adorno e Horkheimer aparece na forma de singular, referindo-se à produção de coisas como o princípio de uma forma específica de produção cultural (Steinert, 2003: 9). A cultura subordina-se à forma de mercadoria. Actualmente, usa-se também o plural indústrias culturais, que distingue produtos diferentes e géneros de produção (Steinert, 2003: 170), e inclui as indústrias da edição, musical, cinematográfica e da televisão e, mais raramente, as indústrias da ópera, dos museus e galerias e da arquitectura e da construção. Em simultâneo, estabeleceu-se um novo campo académico de “gestão cultural” nas escolas de negócios e nas universidades.

O que era originalmente uma crítica filosófica tornou-se uma descrição empírica de como se produzem os bens culturais, continua Steinert (2003: 171). Mas os bens ou coisas culturais não são menos bens que os da indústria pesada, pois a modernização da produção de bens não reduz o carácter de coisa do produto.

A conclusão é que, nos media e entretenimento, a mudança para indústrias culturais é muitas vezes entendida como um avanço decisivo sobre a simplificação de Adorno e Horkheimer. O argumento é que a cultura agora está muito diversificada, oferecendo sempre algo diferente para pessoas com gosto particular.

Steinert escreve: a nossa compreensão da cultura está pluralizada para incluir ritmos e harmonias mecânicas (e electrónicas) da música popular, telenovelas e talk-shows, ao lado de peças refinadas e distintas da herança aristocrática europeia. Por um lado, não há lugar a restrições à entrada nas galerias de arte e nos concertos, supondo-se que tudo seja bom, claro e alegre. Por outro lado, os intelectuais adquirem o estatuto de especialistas altamente remunerados, abandonando a antiga função da reflexividade. Steinert procura restabelecer o primeiro significado de indústria cultural como cultura transformada em coisa ou bem, e distinto dos media (2003: 10).


O lamento de Steinert aproxima-se do dos autores que estuda, dentro da linha da teoria crítica de influência marxista, e afasta-se de outros autores que eu cunho de liberais-pluralistas, como Bernard Miège, Enrique Bustamante e David Hesmondhalgh, que trabalham o plural indústrias culturais, e Justin O'Connor e Andy C. Pratt, que trabalham o conceito de indústrias criativas. Alguns destes autores já tiveram referências aqui no blogue.

Leitura: Heinz Steinert (2003). Culture Industry. Cambridge: Polity. Nascido em 1942, foi, até ao último ano lectivo, professor de Sociologia no J.W.Goethe Universität (Frankfurt). Escreveu sobre Adorno (em Viena), jazz e criminologia, entre outros temas. Foi igualmente docente em Viena (Institute for the Sociology of Law and Criminology), cidade onde reparte residência com Frankfurt. Steinert esteve em Setembro de 2001 em Nova Iorque, onde iniciou um projecto de investigação no departamento de Sociologia da New York University sobre o 11 de Setembro. Excepto a organização do volume Welfare Policy from Below, não conheço outra obra de Steinert em inglês ou francês, o que dificulta o seu conhecimento fora da língua alemã. Esperam-se, pois, traduções (não ouso pedir para português).

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

JORNAIS CULTURAIS


O 21º Encontro Europeu de Jornais Culturais realizou-se este fim-de-semana em Paris. Organizado pela rede de jornais culturais, Eurozine, e os franceses Sens Public, Multitudes e Esprit, em cooperação com Ent'revues, estava previsto reunir mais de 100 editores e intelectuais e explorado o tema do multilinguismo na Europa e a sua relação com a edição e a transformação nos media.

Se o blogueiro descobrir mais elementos, reportá-los-á aqui.

SOBRE INDÚSTRIA CULTURAL


Horkheimer e Adorno usaram o termo indústria cultural em dois sentidos: 1) refere a produção de coisas como o princípio de uma forma específica de produção cultural, em que a produção cultural de coisas ou mercadorias contrasta com a ideia burguesa da arte como algo isento de interesse prático, como “l’art pour l’art”, 2) denota um ramo específico de produção, como estúdios cinematográficos, fábricas de discos, rotativas dos jornais diários, estações de rádio e de televisão.

Torna-se necessário distinguir entre os dois significados do termo no texto original, dados pelo artigo definido: 1) “a indústria cultural” refere-se aos media e aos seus meios de fabrico, 2) “indústria cultural” significa o princípio da actividade cultural da forma coisificada ou mercantilizada.

[Heinz Steinert (2003). Culture Industry. Cambridge: Polity, pp. 9-10]

MEDIA ALTERNATIVOS E DE COMUNIDADE


Retiro do sítio Media Network de anteontem (escrito por Andy Sennitt) a informação que o Parlamento Europeu apoia a instalação de media alternativos e de comunidades, a partir do relatório de Karin Resetarits (do partido liberal austríaco) para promover o pluralismo e a diversidade cultural.

Com origem na velha família das rádios livres e piratas, os media alternativos são com frequência meios comunitários, dirigidos a um tipo de população (grupos religiosos como os muçulmanos e etários como idosos e jovens), podendo distinguir-se dos media comerciais pelo facto de não procurarem o lucro mas a ligação social com a comunidade que servem.

A senhora Resetarits entende que os media alternativos não isolam mas, pelo contrário, integram as pessoas numa comunidade, informando-as dos seus direitos, em especial na área da educação e no acesso a serviços públicos, promovendo os cidadãos a tomar parte na vida activa e a ouvir os seus problemas e interesses.

Karin Resetarits especifica que os apoios devem incluir os de natureza legal, financeira e técnica, como a atribuição de frequências. Ela espera que, quando a Comissão Europeia publicar no próximo ano o seu relatório sobre o pluralismo nos media, tenha em conta as propostas de media alternativos e de comunidade, os quais contribuem necessariamente para o pluralismo.

domingo, 28 de setembro de 2008

RECURSOS SOBRE ADORNO

Stanford Encyclopedia of Philosophy (SEP)

PAULO GHIRALDELLI JR VÊ ASSIM A INDÚSTRIA CULTURAL EM THEODOR ADORNO



Vídeos de Paulo Ghiraldelli Jr sobre indústria cultural em Adorno.

ROTTERDAM


Recordação dos canais de Rotterdam.

IMACULADOS, DE DEA LOHER, NO TEATRO ABERTO


Imaculados, de Dea Loher, é o nome da peça a estrear em Novembro no Teatro Aberto. A peça cruza "as histórias de várias personagens numa linguagem actual, contemporânea e quase cinematográfica. Numa sucessão de cenas curtas, como se estivéssemos a fazer zapping, vamos conhecendo as histórias que se vão entrelaçando umas nas outras encontrando pontos comuns. São destinos cruzados que as contingências da vida separaram, que criam uma dança de roda marcada pelo humor do desespero e a energia de viver" (comunicado da companhia).

A encenação é de João Lourenço e o espectáculo conta com treze actores: Irene Cruz, Francisco Pestana, Carmen Santos, Ana Nave, Ana Brandão, Inês Rosado, Luís Barros, Pedro Ramos, Amílcar Azenha, Quimbé, Carlos Pisco, Cátia Ribeiro e Ana Rita Trindade. Deste conjunto, três actores e duas actrizes foram escolhidos de entre as candidaturas presentes nas audições do mês passado.

FOTOGRAFIA DE EDGAR MARTINS


Edgar Martins, português nascido em Macau (China), é licenciado em fotografia pela University of Arts London e é considerado um dos jovens artistas mais inovadores.

A sua exposição Tipologies estará presente em vários locais do mundo, incluindo a Fundação do Oriente (Lisboa), em Março do próximo ano (data a confirmar).

sábado, 27 de setembro de 2008

MOMENTO DA VERDADE


Não vi ainda o novo programa de Teresa Guilherme, Momento da Verdade, mas já li muitos comentários sobre o mesmo, o primeiro dos quais escrito por Eduardo Cintra Torres no Público de há uma semana atrás. Na segunda-feira passada, Manuel Pinto, da Universidade do Minho, escrevia acerca do programa no jornal digital Página 1. Ontem, na sua habitual coluna do Público, Graça Franco tinha como assunto o mesmo tema, apontando ainda para um artigo-comentário do presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, o que me levou a pensar no assunto.



Mesmo sem ter visto o programa, o que me inibe de tecer um comentário totalmente justo, pois me baseio apenas nos comentários escritos, há algumas reflexões a fazer. Primeiro, não vigora nenhum regime de censura no país, pelo que qualquer programa pode ser emitido, desde que não quebre regras de bom senso e de conduta moral. Ciclicamente, há vozes que se levantam contra determinados programas, que ofendem a moral e os costumes. Lembro-me do Big Brother, cuja abjecção também me dei conta aqui. E também de Morangos com Açúcar, hoje sem fortes críticas, apesar do programa se manter no ar. A existência de regulador é precisamente para analisar casos que quebrem regas.

Segundo, a existência da televisão comercial generalista passa pela obtenção de cada vez mais audiências. Isso é gerado por programas que chamem a atenção pública, e que incluem o inédito e o escândalo. O saudoso Eduardo Prado Coelho - às designações de paleotelevisão e neotelevisão, ou grosso modo, a televisão pública de canal único e a televisão comercial - acrescentava a designação pós-televisão, querendo ele dizer a televisão em que o indivíduo anónimo, não conhecido do grande público, entra na televisão e participa em programas onde a regra é expor as suas fraquezas e intimidades. O Big Brother, de novo, representaria um elemento fundamental na definição desse critério. Agora, mais abjecto ainda é o programa de Teresa Guilherme, como se lêem nas críticas. A SIC tem necessidade de se aproximar das audiências da TVI, de quem se afastou desde 2000. Um programa que dê escândalo é uma boa forma, dentro da etiqueta da pós-televisão, de chamar audiências. Não será um programa informativo, antes de riso cavalar, mas é uma maneira de ganhar mercado.

Terceiro, as empresas de comunicação, neste caso a televisão, são as principais interessadas. Devem auto-regular os seus conteúdos, pois um sucesso de momento pode tornar-se fracasso à distância.

Quarto, competindo ao Estado regular e não estar no negócio - que no caso não é verdade pois dispõe de canais públicos -, tem de possuir um órgão firme que verifique o que se passa. Li que o presidente da ERC considera o programa próximo da prostituição mas que não pode fazer nada. Porque o programa é um formato importado e que está (ou esteve) em exibição em muitos outros países, o que quer dizer que não se pode imiscuir num modelo já transmitido, sob o risco de ser chamado censor. Sei que o regulador está preocupado desde o seu começo, quando lançou um concurso para um estudo de análise do impacto dos programas de televisão sobre públicos sensíveis ou especializados, trabalho esse que deve estar em vias de conclusão, presumo.

Ora, se o Estado deve regular, os cidadãos têm de se unir em volta de temas que lhe dizem respeito: o desemprego, a poluição, o sucesso escolar, e a televisão. A meu ver, há duas formas simples de organização: a criação de uma opinião pública forte, caso dos textos expressos acima, e a instituição de organismos privados sem fins lucrativos que se tornem vozes activas em termos de pressão como associações de espectadores ou observatórios. Se queremos ter uma sociedade mais equilibrada, sem ou com menos problemas, temos de encontrar soluções.


[imagem de uma casa de prostituição no distrito de luz vermelha de Amsterdam; apesar de "não poder", por o modelo estar instituído há séculos, a autarquia holandesa procura reduzir a dimensão geográfica do distrito de luz vermelha, substituindo esses espaços por galerias e espaços de criatividade envolvendo jovens e instituições de lazer e cultura]

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

VELHOS E NOVOS MEDIA


Ontem, numa mesa redonda em Fátima organizada pelo Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja, discutia-se o impacto do digital na comunicação. O tema preciso era Panorama do digital em Portugal: jornais, rádios, televisões - a realidade duma nova galáxia. Na mesa, acrescentámos a internet.

Algumas propostas geraram uma discussão muito acesa e estimulante. Como pano de fundo estava o eventual desaparecimento dos media clássicos devido ao impacto crescente da internet, em especial junto dos mais jovens. Uma corrente argumentava que os jovens já não consomem rádio ou televisão mas a internet, pelo que não haveria futuro para jornais, revistas, rádio e televisão. Alguém disse que este seria um discurso optimista (do lado dos defensores da internet); para mim, será um discurso redutor.

Passo a explicar sucintamente, eu que sou consumidor regular de internet - vê-se aqui no blogue.

Os jornais gratuitos têm vindo a aumentar tiragens desde o seu aparecimento, o que quer dizer que a imprensa em papel ainda não está em extinção. Pode mudar o modelo de negócio, como dizem os economistas. Se a rádio e a televisão genralistas são gratuitas, pagas pela publicidade, por que não jornais também gratuitos? Claro que se pode concluir: os jornais gratuitos fornecem informação, mas um leitor informado procura outras leituras (o conceito de público em Daniel Dayan). A televisão continua a ser consumida por jovens, mas não em todo o horário de transmissão, o que leva os emissores a dividir mais criteriosamente a grelha de programas atendendo às audiências. Por outro lado, o cabo atrai níveis etários mais jovens. Vê-se como alguns programas mais irreverentes no cabo ganharam audiências e migraram para os canais generalistas, que ainda conferem mais prestígio e visibilidade que aqueles. Além disso, a venda de séries de televisão nas FNAC e noutros locais, com grande destaque nas prateleiras, ilustra um consumo mais especializado - e que os mais jovens compram desde que tenham dinheiro para tal.

Quanto à internet, o aparente separador de gerações, parece-me que os mais velhos vão adquirindo competências, certamente de modo menos veloz e sofisticado que os mais jovens, mas aderindo ao email, às redes sociais e trocando mensagens com conteúdos de entretenimento. A blogosfera é um campo de experiência que engloba vários níveis etários. Amadurecido o mercado para os mais novos, as empresas de telecomunicações e de conteúdos procuram inevitavelmente os mais velhos para lhes vender produtos e serviços.

Um outro elemento a reflectir é o grau de atenção. Com mais media, a atenção individual é menor. Acrescento que estar na internet significa, com grande probabilidade, menor concentração que ler um livro de filosofia, por exemplo, o qual exige tempo e esforço de compreensão. Logo, o grau de atracção é diferente, o que não quer dizer que aquela seja mais importante que este. Outro elemento prende-se com a abundância de informação, pois esta não é sinónimo de qualidade. Uma pesquisa no Google serve como exemplo - a entrada mais popular e visitada de um tema não significa que seja a melhor, porque o Google é um algoritmo que fornece quantidade.

Não esqueço a tendência principal - o maior consumo do meio mais novo e a descida lenta dos meios mais clássicos. A publicidade colocada nos vários meios dá conta dessa tendência, com uma quebra nos media em geral e uma subida lenta mas promissora na internet.

O que escrevo não corresponde a uma interpretação linear ou indica um equilíbrio entre os vários media ou níveis etários. Mas, a par de outras variáveis como poder de compra (classes sociais) ou local de habitação, pretendo demonstrar, ainda que de modo impressivo, que a realidade é mais complexa que a imagem da morte anunciada dos media clássicos.

EXPOSIÇÃO


A cooperativa Curtas Metragens inaugura amanhã, pelas 22:30, a exposição YOUR TIME MY SPACE, FILM SPACE FILM TIME, YOUR SPACE MY TIME, de Graham Gussin, na Solar - Galeria de Arte Cinemática Cinematic Art Gallery, em Vila do Conde (à Rua do Lidador).

Para saber mais, ver o sítio
www.curtas.pt/solar.

LEGISLAÇÃO SOBRE OS BLOGUES


Noticia o euobserver.com (texto de Leigh Phillips) de ontem, que o parlamento europeu abandonou a ideia de classificar os blogues em termos do seu estatuto legal.

Melhor: a resolução aprovada prefere uma discussão aberta sobre os assuntos relacionados com o estatuto dos blogues. Isto porque, num período de concentração da propriedade, se deve salvaguardar o pluralismo nos jornais, programas de televisão, rádio e internet.

A deputada de centro-esquerda Marianne Mikko, da Estónia, queria estabelecer o estatuto legal dos blogueiros, com revelação dos seus interesses e uma classificação voluntária dos blogues. No geral, os parlamentares europeus concluem que a protecção das fontes no caso dos blogues não é clara e não há garantias legais quando são levados a tribunal. Oe eurodeputados querem que os autores dos blogues saiam do limbo, deixando o estatuto de anónimos.

O texto de Leigh Phillips, do
euobserver.com, lembra também que, em Junho passado, o governo sueco legislou no sentido das autoridades poderem aceder aos emails e conversas telefónicas de cidadãos, proposta próxima da de Mariane Mikko quanto aos blogues.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

PRIMEIRAS JORNADAS CINEMA EM PORTUGUÊS



Organizadas pelo curso de Cinema da Universidade da Beira Interior, a realizar entre 9 e 12 de Dezembro de 2008, na Covilhã.

Os temas principais são: 1) O Cinema de Manoel de Oliveira, 2) Cinema Português e Cinema em Português (análise e crítica, história, estética, política).

A organização das jornadas indica que, na próxima semana, fornecerá o endereço electrónico para consulta das normas de publicação e formulário para o envio de propostas de comunicação.

EXPOSIÇÕES DE PAULA REGO E ANOS 80


No CAMB (Centro de Arte Manuel Brito), no Palácio dos Anjos, em Algés, a partir de 4 de Outubro.

EMERGENT ENCOUNTERS IN FILM THEORY

Intersections Between Psychoanalysis and Philosophy
An International Film Studies Conference


CALL FOR PAPERS
Keynote Speakers: Parveen Adams (Fellow of the London Consortium) and Steven Shaviro (Wayne State University).


  • Interdisciplinary approaches to the theoretical discussion of the cinematic medium have often engaged with philosophical or psychoanalytic perspectives. While philosophy and psychoanalysis are by no means opposed schools of thought, the potential to develop new ways of understanding film remains an opportunity to be explored. In seeking out further lines of enquiry, the study of intersections between cinema/philosophy/psychoanalysis, seems most pertinent to our generation of ‘film thinking’, to invoke Daniel Frampton’s concept of the ‘film mind’, whose future still stands, to some extent, in the shadow of psychoanalysis. Recent philosophical models of thought offered by film theorists such as Frampton and D.N Rodowick embrace a new ontological grasp of the cinema, but what then are the implications of this shift for psychoanalysis? The question, therefore, remains whether philosophy and psychoanalysis are indeed irreconcilable, or if the specific philosophical turn sets up boundaries that unjustly seal off the possibility of dialogue between the two methodologies.
Please send abstracts by 14th November 2008 to encounters@kcl.ac.uk.

PERSONA, PELA COMPANHIA BOAS RAPARIGAS

Encenação: João Pedro Vaz, Tradução: Armando Silva Carvalho, Cenografia: Cláudia Armanda, Design de Luz: Nuno Meira, Sonoplastia: Luís Aly, Elenco: Maria do Céu Ribeiro e Sandra Salomé. Teatro de Bolso, Rua do Heroísmo, 86, Porto.

Saber mais aqui.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

COLÓQUIO INTERNACIONAL 1808-2008 DOIS SÉCULOS DE IMPRENSA


Realiza-se, em 2 e 3 de Outubro de 2008, o Colóquio 1808 - 2008. Dois Séculos de Imprensa organizado pelo Grupo de Investigação Estudos de Comunicação e Educação (coordenado por Isabel Vargues, docente da Universidade de Coimbra e investigadora do CEIS20, Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX). O objectivo é "aprofundar temas relacionados com a história da imprensa e dos meios de comunicação nos séculos XIX e XX bem como apontar novos desafios". Local: Auditório da Universidade de Coimbra.


O programa é o seguinte:

2 de Outubro (Quinta-feira)
9:30 - Sessão de Abertura
10:00 - Conferência de Abertura - José Marques de Melo (Universidade Metodista de S. Paulo) .
Apresentação por Isabel Ferin (FLUC/CIMJ)
11:00 Mesa Redonda – A Imprensa no Século XIX. Moderação: João Rui Pita (FFUC / CEIS20)
Intervenientes: Ana Teresa Peixinho (FLUC / CEIS20) - «Jornalismo e Literatura no século XIX: uma introdução»; Isabel Nobre Vargues (FLUC / CEIS20) - «O Conimbricense, um jornal exemplar na imprensa local e nacional»; José Miguel Sardica (UCP) - «“Parler le language des foules”. Napoleão e a opinião pública em Portugal (1807-1809)»
14:30 - Mesa Redonda – O Jornalismo no século XX. Moderação: Mário Matos e Lemos (CEIS20). Intervenientes: José Carlos Abrantes (Ex-Provedor do Leitor Diário de Notícias) - «Imprensa e Internet: da conversa de café à CNN do Século XXI»; Carlos Camponez (FLUC / CIMJ) - «Da vulgata localista à vulgata da proximidade - crítica da economia de proximidade dos media»; João Figueira (FLUC / CEIS20) - «A luta política como critério noticioso»
16.00 - Comunicações Livres - Apresentação: Luís Mota ( ESEC/CEIS20). Intervenientes: João Rui Pita (FFUC / CEIS20) - «Farmácia, Medicamentos e Saúde Pública na Minerva Lusitana»; Lennon Schneider (Mestrando na UC) – “Hipólito José da Costa e o Correio Braziliense – pioneiros do jornalismo luso-brasileiro”; Noémia Malva (CEIS20) - «O Jornal República Portuguesa e o jornalista João Chagas»; Marco Gomes (Doutorando na UC) - «A imprensa portuguesa na Revolução de Abril: novas formas de comunicar política»
3 de Outubro (Sexta-feira)
9:30 - Mesa Redonda – Novos Desafios dos Media. Moderação: Maria João Silveirinha (FLUC / CIMJ). Intervenientes: Clara Almeida Santos (FLUC / CEIS20) - «Dos mass media aos mess media?»; Sílvio Santos (FLUC / RDP) - «Para onde vai a rádio? Perspectivas de desenvolvimento do sector privado e do serviço público»; Bruno Vicente (Diário de Coimbra) - «Jornalismo Regional: mecânicas de trabalho»
11:15 - Conferência de Encerramento - Jesus Timóteo Alvarez (U. Complutense de Madrid) - «Revoluciones Inutiles». Apresentação por Isabel Nobre Vargues (FLUC /CEIS20)

terça-feira, 23 de setembro de 2008

O ANTIGO PROVEDOR SOBRE A ANTENA 2

  • "Eu acho que houve impulsos demasiados quando o novo director tomou conta dos destinos da Antena 2. Há deficites grandes na programação da Antena 2 que se prendem, por exemplo, com a divulgação científica, divulgação de experiências de teatro radiofónico, de radioarte. Tudo são coisas desgarradas, não há conceptualização nenhuma a esse nível. O que houve foi a vontade de alterar modelos, paradigmas de programação da própria estação. E com isso o que resulta? Perdeu-se o público. Na tentativa revelada pelos próprios responsáveis em conversas comigo, tentava-se conquistar e regenerar o público. Empurraram-se daqui para fora, com maus modos, os grandes profissionais que sustentaram durante anos a Antena 2. Gente do conhecimento, da cultura, conceptualizadores, criativos e depois há a subida à antena de gente impreparada no próprio exercício da língua que falamos" (José Nuno Martins, anterior provedor do ouvinte da rádio pública, em entrevista a Luís Bonixe, publicada na revista Jornalismo e Jornalistas, Julho/Setembro de 2008).
Sobre o animador dos programas da manhã, José Nuno Martins diz: "Eu cheguei a ter peritos que consideram que o jornalista, que não está ali como jornalista, mas como animador das manhãs da Antena 2, como um prodigioso erro de casting. Dado o tipo de performance que apresenta, lamentavelmente, eu acho que sim. Concordo com esta dura realidade. Trata-se de um erro de casting e sobretudo de um erro de arrogância. Há uma arrogância muito grande".

AINDA A HISTÓRIA DA FM NOS ESTADOS UNIDOS


Escrevem Cristopher H. Sterling e Michael C. Keith, em Sounds of change. A history of FM Broadcasting in America (2008), que o ano de 1958 foi promissor para a FM, com as rádios emitindo naquele tipo de modulação saindo da letargia dos anos mais recentes. Assistira-se a uma recuperação das estações em AM (com a programação dos êxitos top forty) e à expansão inicial da televisão. Instalaram-se mais estações que nos anos anteriores e o marketing à estereofonia na rádio em FM entusiasmou os consumidores americanos. Ressurgia, assim, a importância da FM dos anos 1930 e 1940. Depois, foi um movimento imparável. Em 1979, as estações de FM suplantavam o número das estações de AM. Mas, em simultâneo, começava a nova decadência da FM, ameaçada pela rádio de satélite e pelos mais recentes mp3.

A história da FM na Europa é distinta. A Segunda Guerra Mundial destruira muitas estações de rádio. A FM foi a oportunidade de reconstruir o sistema, com um novo sistema. Por exemplo, na parte da Alemanha ocupada pelas forças aliadas, instalaram-se estações de FM. Nas décadas de 1950 e 1960, outros países europeus assistiam ao lançamento da modulação por frequência.

Posso concluir, embora isso não seja incluído no livro de Sterling e Keith, que a instalação da FM na Europa foi mais política e social e nos Estados Unidos mais comercial. Contudo, e aí sigo os dois autores, ainda está por determinar o muito do impacto cultural da rádio nessas décadas.

IV ENCONTRO DE BLOGUES - CALL FOR PAPERS


Nos próximos dias 14 e 15 de Novembro de 2008, realizar-se-á o IV Encontro de Blogues, em instalações da Universidade Católica Portuguesa, sob o título Blogues e cultura. O encontro é promovido pelo Centro de Estudos de Comunicação e Cultura (CECC).

Os temas em discussão em três painéis sucessivos serão: blogues e segmentação da blogosfera, blogues culturais e educação, e blogues e negócio.

Convidamos todos os interessados a apresentar comunicações para o email encontrodeblogues@fch.lisboa.ucp.pt, até 15 de Outubro, dentro dos temas acima referidos. Os candidatos serão notificados até 25 de Outubro da sua aceitação ou não.

O tipo de letra a utilizar na comunicação é Times New Roman, corpo 12, com espaço e meio de intervalo entre linhas e título das secções em bold. O texto da comunicação proposta deve incluir título, nome do autor e instituição a que o autor pertence, não ultrapassando 10 páginas A4.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

CURSO DE ESTÉTICA FOTOGRÁFICA


"A maioria dos cursos destinados a fotógrafos baseiam-se quase exclusivamente em conteúdos de carácter técnico. Embora essa componente seja essencial, é apenas a base sobre a qual o fotógrafo deverá construir a sua visão pessoal. Para complementar essa aprendizagem vimos propor uma abordagem baseada na componente estética da imagem, com o objectivo de fomentar a criação de hábitos de reflexão e crítica, e o enriquecimento das perspectivas criativas do fotógrafo".

Texto de Mário Pires, na introdução do folheto do curso de estética fotográfica, que vai lançar na Yron, à Rua de São Bento, 170, em Lisboa, às terças-feiras, de 7 de Outubro a 2 de Dezembro de 2008.

Mário Pires, responsável pela produção áudio/visual e multimédia num centro de formação profissional, é o fotógrafo oficial do Festiva de Músicas do Mundo de Sines desde 2005 (aqui no blogue já publiquei trabalhos dele, com a sua autorização).

Ver mais informações no sítio
Estética Fotográfica.

ARMSTRONG E A RÁDIO EM FM


Tenho um grande apreço por Edwin Howard Armstrong (1890-1954), engenheiro eléctrico americano e inventor de três circuitos electrónicos fundamentais para a história da rádio: circuito regenerativo ou de feedback (1912), super-heterodino (1918) e sistema de FM (1933). Poderia mesmo dizer que, sem ele, a rádio não seria o que é hoje.

O conhecimento que tenho (das leituras que fiz) do circuito regenerativo é que este foi um dos pioneiros e mais usados mas ainda tinha uma tecnologia deficiente com muitos ruídos de electricidade estática. Um receptor ao lado de outro induzia ruídos difíceis de reduzir.

Em 1917, Armstrong tornava-se assistente universitário na Universidade de Columbia [fotografia retirada do sítio NNDB]. No ano seguinte, seguia para França, ao serviço das forças armadas americanas. Então com o posto de capitão, ele desenvolve a segunda grande inovação na rádio: o circuito super-heterodino. Visto à distância de décadas, era um circuito muito fácil e lógico, usando três a quatro andares (da detecção e oscilação à amplificação) com válvulas electrónicas. A melhor qualidade sonora e a eliminação de muitos ruídos de feedback tornaram-no um modelo dominante em, talvez, quarenta anos de rádios de AM. Na minha adolescência, entretive-me a construir ou reparar aparelhos com essa tecnologia.

Regressado a Nova Iorque, já com a patente de major, título que usou sempre, apesar de sair do serviço militar após o final da Primeira Guerra Mundial, vendeu as suas patentes à RCA, pois os seus circuitos eram fulcrais para o desenho dos receptores. Em cinco anos, Armstrong tornava-se um homem rico e o maior accionista individual da RCA, então uma das maiores empresas de rádio.

No final da década de 1920, Armstrong andava intrigado com o falhanço das experiências de FM (modulação por frequência). Até aí, os rádios usavam AM (modulação por amplitude). Ele tentou usar mais largura de banda em FM e obteve resultados surpreendentes. Como era accionista da RCA e amigo de Sarnoff, o principal dirigente da RCA (uma ligação mais próxima resultara do casamento de Armstrong com a secretária de Sarnoff), apresentou uma proposta para maior experimentação de receptores FM. Estava-se no final de 1933. Sarnoff deu-lhe espaço no 85º andar do novo Empire State Building [imagem retirada do sítio
yonkershistory, mostrando Armstrong e a mulher na lua-de-mel: o presente que ele lhe deu foi o primeiro receptor portátil].

Contudo, como Sarnoff julgou que a FM implicava criar uma novo sistema de rádio, obrigando a eliminar toda a estrutura de AM, além de que a televisão começava a dar os primeiros passos, houve um retrocesso na aceitação da proposta de Armstrong. A amizade entre os dois acabou, com o engenheiro inventor a procurar outros investidores e a chamar a atenção da FCC, o organismo estatal que regulava as telecomunicações e a radiodifusão, e a ordem dos engenheiros americana. A FCC conduziu audições com os principais protagonistas da rádio e produziu documentação que abriu caminho à aceitação da FM como um novo meio.

Em 1935, Armstrong associou-se a Carmine R. “Randy” Runyon, que passaria a transmitir em 110 MHz (megahertz). A qualidade superior da transmissão musical - ou de sons como o cair de um garfo - entusiasmaria muita gente. Mas, surgiu uma espécie de problema do ovo e da galinha: não havia programas em FM para justificar a aquisição de receptores; não havendo receptores não se podiam desenhar programas próprios. No nosso tempo, isso acontece com o DAB.

Em 1938, Armstrong vendia um bloco de acções que tinha na RCA. Com o dinheiro conseguido, implantou uma estação de raiz, com uma torre bem visível e que pudesse emitir sinais a longa distância. Em simultâneo, encomendou 25 aparelhos receptores à General Electrics (por preços que hoje andariam à volta de quatro mil dólares cada um, uma pequena fortuna, dado que eram feitos totalmente à mão). Assim, a GE foi a primeira empresa a construir aparelhos de FM. Armstrong, na sua cruzada, conquistou alguns emissores comerciais, persuadindo-os da melhor qualidade musical. Um deles foi John Shepard III, muito respeitado nomeadamente no estado de Massachusetts. A Westinghouse, um outro operador e fabricante, aderiu igualmente à proposta de Armstrong.

Curiosamente, Armstrong fez uma defesa do uso da FM nas frequências entre 41 e 50 MHz, reagindo à nova alocação de frequências proposta pela FCC para a banda dos 88 a 108 MHz, adoptada mais tarde e ainda hoje em vigor. Tal discussão arrastar-se-ia durante os anos da Segunda Guerra Mundial.


Em meados da década de 1940, a televisão iria disputar a atenção de todos, dos investidores aos consumidores. A FM atrasar-se-ia. Felizmente que a melhor qualidade de som face ao AM, o advento da estereofonia em 1961 e a massificação dos receptores nos automóveis levaram a FM a ultrapassar a AM, com este subordinada à transmissão de informação. As décadas de 1960 a 1980 foram de grande brilho para a FM.

No nosso país, seria apenas na década de 1960 que a FM começou a entrar em casa de todos nós. Primeiro como repetição da programação de AM, depois com programação própria. A FM renovaria, ou revolucionaria mesmo, as concepções estéticas e culturais do país. Infelizmente, ainda não está estudado esse contributo.

[texto construído a partir da leitura do livro de Cristopher H. Sterling e Michael C. Keith (2008) Sounds of change. A history of FM Broadcasting in America. Chapel Hill: The University of North Carolina Press, capítulos 1 e 2, pp. 13-66]

ASSISTÊNCIA JURÍDICA AOS BLOGUES


A organização americana Media Bloggers Association (MBA) criou um sistema de apoio legal aos blogueiros que é semelhante ao oferecido nos media tradicionais.

A iniciativa inclui a BlogInsure, um tipo de seguro que cobre questões judiciais como difamação, infracção em direitos de autor e invasão da privacidade.

A mesma associação americana promove um curso online sobre legislação dos media, em parceria com o Poynter Institute. Isto afirma a crescente importância dos blogues em termos de comunicação.

Ver mais em Journalism.co.uk.

domingo, 21 de setembro de 2008

INDÚSTRIA CULTURAL EM ADORNO


Adorno e Horkheimer usaram o conceito indústria cultural pela primeira vez em 1947. Quarenta anos depois, Adorno revisitava o conceito ("A indústria cultural", 1968, impresso no livro coordenado por Gabriel Cohn Comunicação e indústria cultural, p. 287).

Adorno informa que o uso do termo indústria cultural substituía o de cultura de massa, pois este indica uma cultura surgindo espontaneamente das próprias massas, ou, se quisermos, uma forma contemporânea de arte popular. Já a indústria cultural projecta "produtos adaptados ao consumo das massas e que em grande medida determinam esse consumo". A indústria cultural, continua Theodor Adorno, refere-se à concentração económica e administrativa e é uma integração deliberada dos seus consumidores, a partir do alto, forçando a união de domínios, separados há milénios, da arte superior e da arte inferior, com o prejuízo de ambos.

Pouco mais à frente, Adorno conclui que o consumidor não é rei ou sujeito, como faz crer a indústria cultural, mas o seu objecto. E fala de mercadoria e de total perda de autonomia da obra de arte.


Aplicação prática: ler com atenção a entrevista a José Eduardo Moniz, director-geral da TVI, publicada hoje na "Pública", revista dominical do jornal Público.

VIANA DO CASTELO

PORTO DE SETÚBAL


sábado, 20 de setembro de 2008

ESPAÇO DO DESENHO

Espaços do Desenho/Drawing Spaces, um projecto a ser lançado em 16 de Outubro, pelas 20:30h, na Fábrica Braço de Prata (Rua da Fábrica do Material de Guerra, 1, Lisboa), tem como objectivo criar uma sala projecto na Fábrica Braço de Prata "que promova práticas investigativas em torno do desenho. Através de um programa anual de actividades a decorrer entre Outubro de 2008 e Setembro de 2009, este projecto promoverá a colaboração entre artistas e investigadores Portugueses e artistas e investigadores do Reino Unido".

O projecto, segundo os seus responsáveis "envolve 12 residências e exposições que servirão de plataforma para um conjunto de tertúlias e debates relacionados com o tema do desenho. Peculiar a este projecto serão as diversas propostas feitas ao público para aceder ao desenho, procurando-se, através delas, apelar a um sentido de agência partilhado por todos e qualquer um".

Para saber mais, procurar no blogue
Espaços do Desenho/Drawing Spaces.

CIDADES VELHAS


As velhas zonas portuárias à espera do camartelo final (Setúbal, Matosinhos). Quantas memórias fabris, sociais e culturais encerram aquelas paredes?

MUSEU BOIJMANS VAN BEUNINGEN (ROTTERDAM)


O museu Boijmans Van Beuningen, em Rotterdam, deve o seu nome a dois principais doadores de obras ali existentes. O primeiro, um advogado nascido em Utreque, F. J. O. Boijmans, deu a sua colecção à cidade de Rotterdam em 1847. Muitas das obras foram depois vendidas por causa da sua má qualidade, permanecendo 127 pinturas da colecção inicial. O segundo, um comerciante e proprietário de navios, D. G. van Beuningen, também nascido na cidade vizinha de Utreque mas elemento importante da elite de Rotterdam que contribuiu para aquisições importantes do museu nas décadas de 1920 e 1930. Após a morte de Beuningen, os seus herdeiros ofereceram a sua colecção de 189 pinturas, 17 desenhos, 30 esculturas e cinco peças de prata.


O museu tem pinturas dos irmãos Van Eick, Ticiano, Bosch, Bruegel o Velho, Dali, Magritte e Kandinsky, entre outros. Um dos quadros mais famosos é a Torre de Babel, de Bruegel. O museu alberga igualmente pintura medieval e renascentista.

A arquitectura do interior do museu é muito peculiar. Várias das salas são pequenas e têm longos e repousantes sofás.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

MUSEU DAS MALAS E DAS CARTEIRAS


O museu Hendrikje, em Amsterdam, divide-se em três áreas específicas - museu propriamente dito, ocupando dois andares, cafetaria e restaurante, e loja. Dos dois andares, o superior abrange as malas produzidas entre os séculos XVI e XVIII e o inferior os séculos XIX e XX.

O que começou por ser uma recolha de malas por parte de Heindrikje Ivo a par do seu marido Heinz Ivo, na actividade de antiquário, tornou-se uma preciosa colecção ao fim de 30 anos, com bom gosto e objectos de estilo. Mais de 2500 malas e carteiras constituem o espólio do museu. Sigrid Ivo, a filha do casal, cresceu neste ambiente; mais tarde, como historiadora de arte, especializou-se na história da mala e é hoje a directora do museu, e é autora de artigos (como o texto que acompanha o livro Bags, aqui destacado) e docente da história da mala.

A mala ou carteira ou saco é um objecto identificado habitualmente como acessório feminino. Contudo, da leitura feita no museu, percebe-se que os homens também as usam - para viagem, para armazenar tabaco ou projectéis (caça).

O museu dá uma atenção especial aos materiais. Elenquei os seguintes: couro, metal, tecido, plástico, papel couché, tartaruga, marfim, veludo, bordado (lantejoulas, missangas), limoges, ráfia, prata. No museu estão cinco séculos de história. Se, no século XVI, pequenas bolsas (chateleines) podiam esconder-se na volumosa roupa feminina, no decurso do século XIX a mala autonomiza-se e adquire formas e emprega materiais distintos como os referidos acima. Tiras e correntes passavam a segurar a mala, transportada ao ombro ou a tiracolo. Um pouco antes, no século XVIII, a descoberta de Pompeia e de tudo o que se relacionava com a cultura grega e romana tornou populares motivos dessas culturas nas malas. Já no século XX, materiais como o plástico davam origem a uma nova gama de malas e carteiras, com cores e formas inovadoras e até bizarras por vezes, mas materiais nobres como o couro mantinham forte popularidade.

O museu fica situado numa casa de Amsterdam, na rua Herengracht, datada de 1664. Tectos de duas das salas são dos séculos XVII e XVIII, o que tornam o edifício ainda mais histórico.


As últimas cinco imagens, retiradas do livro Bags, editado pela
The Pepin Press, que autorizou a reprodução [Images taken from Bags, published by The Pepin Press, www.pepinpress.com], dão conta da variedade de cores e de formas das malas usadas pelas senhoras.

FOTOGRAFIA DE ESPECTÁCULO


Vai realizar-se um workshop intitulado Fotografia de Espectáculo, conduzido por Susana Paiva, em 27 e 28 deste mês, na sede da Sociedade Recreio Artístico, em Aveiro (não tenho mais pormenores da localização daquela instituição).

Conteúdos: 1) Imagem e memória. A materialização do efémero, 2) Dos bastidores ao palco. Dramaturgia da imagem, 3) Retratos de Artistas. O estúdio Harcourt, 4) Imagens que mentem – a fotografia em Duane Michals, 5) A realidade da ficção - Sophie Calle e Jeff Wall, 6) Planificação de uma sessão fotográfica. Elaboração de um projecto fotográfico, 7) Realização de trabalho prático individual a partir do projecto traçado por cada participante, 8) Apresentação dos projectos e discussão dos resultados.

23 DE SETEMBRO NA LIVRARIA PÓ DOS LIVROS

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

AINDA A TESE DE DOUTORAMENTO DE CÉLIA QUICO


Com grande destaque na primeira página do Público de hoje, indica-se que a "televisão está a perder importância para os jovens portugueses. Para a maioria, a Internet é a principal forma de ocupação dos tempos livres quando estão em casa e o telemóvel é o aparelho de que mais sentiriam a falta" (texto de João Pedro Pereira na página 9).

Célia Quico, docente da Universidade Lusófona e quadro superior da ZON, inquiriu 962 jovens dos 12 aos 18 anos. Do uso de tecnologias electrónicas, ela concluiu que os jovens fazem 55,4% de downloads de filmes, músicas e jogos, 22% filmam diariamente com o telemóvel, 55,7% vêem vídeos no YouTube e 65,8% usam programas de chat. A agora doutora em Ciências da Comunicação "nega o risco de isolamento social. «Os jovens usam estes meios como forma de potenciar a sociabilidade. O uso da tecnologia não vai isolá-los»". Pelo contrário, ela defende a emergência de uma cultura participativa em blogues e partilha de fotografias e vídeos.

CONSUMOS DE INTERNET


Embora investigações como Célia Quico sejam fundamentais, há aspectos igualmente essenciais que precisam de ser estudados. Um deles é o conteúdo: o que se procura? porquê? qual a aplicação?


Dou um exemplo do meu próprio blogue, a partir da análise disponível pelo
Getclicky, uma ferramenta analítica da internet (clicar em cima da imagem para a ampliar). Nos dias mais recentes escrevi sobre as bandas para pré-adolescentes e adolescentes Tokio Hotel e Jonas Brothers. Resultado: 80 visitas nos últimos três a quatro dias. No dia 15, escrevi sobre a morte Richard Wright, antigo músico dos Pink Floyd. O que escrevi sobre este resumia-se a dar conta do óbito, a fazer um link para dois sítios ou blogues e a falar das gratas recordações da minha juventude quando ouvia um determinado disco dessa banda. Ou seja, a informação que inseri não tem qualquer valor informativo, formativo ou de entretenimento - é somente uma memória pessoal. Mas serviu para 141 visitantes entrarem no meu blogue.

No texto sobre os Jonas Brothers eu destacara que um
vídeo desta banda americana já fora visto quase 40 milhões de vezes. Mas lembro-me que faltavam umas dezenas de milhar para chegar a esse número. Ora, o acesso que fiz agora ao mesmo vídeo indica já 40,808,698 visitas, um salto enorme.

Conclusão: o consumo é enorme mas pode não passar disso mesmo, consumo de massa, número grande que não responde a mais do que consumo. Junta-se a isso moda, redes sociais. Da mesma maneira que a geração dos meus pais e avós descobriu a rádio (espero escrever mais sobre isto) e a minha geração descobriu a televisão e fez o consumo possível de cultura de massa (americana, ocidental), a geração mais jovem faz a sua iniciação no meio mais recente, a internet. A nova geração consome muito, como as anteriores consumiam o que podiam, mas com pouco impacto sobre o conhecimento. Ficarão as memórias apenas, como nas gerações anteriores. O telemóvel é um outro meio muito popular, mas está a cruzar-se cada vez mais com a internet, no que será uma fascinante fusão para os anos mais próximos.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

OS MEDIA DEPOIS DA MASSA


É o tema da conferência internacional da EMMA (European Media Management Association), a decorrer na ESCP-EAP European School of Management de Paris, em 13 e 14 de Fevereiro de 2009. O call for papers decorre até 5 de Dezembro próximo.

Para ver o texto completo do call for papers, ver aqui.

FOTOS DOS LEITORES


Telefonias (rádios) em mesa de restaurante do Redondo (Alentejo), Abril 2008. Fotografia de telemóvel: Eduardo Cintra Torres.

ANÁLISE DE PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS


A ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social) tornou pública a atribuição ao CIES-ISCTE do estudo de análise de publicações periódicas referentes ao ano de 2008.

Segundo a Deliberação 3/OUT/2008 da ERC, entregaram propostas as seguintes entidades: CIMJ – Centro de Investigação Media e Jornalismo, CIES - Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE, NÚMENA – Centro de Investigação em Ciências Sociais e Humanas, CISION Portugal, S.A., CAPP – Centro de Administração e Políticas Públicas do ISCSP, e Formalpress.

SONY - O GIGANTE DA MÚSICA


Conforme a newsletter de hoje do European Journalism Centre, a Comissão Europeia deu luz verde ao gigante electrónico japonês Sony para comprar a etiqueta Sony BMG, detida pela alemã Bertelsmann (€ 840 milhões). Já o mês passado, a Sony anunciara a intenção de comprar 50% da Sony BMG pertencente aquela firma alemã.
Agora, a Sony torna-se a única proprietária da Sony BMG, renomeada Sony Music Entertainment Inc. e que passa a ser a segunda maior empresa de música em todo o mundo. Como reflexo disto, enquanto os executivos da UE não vêem problemas na fusão, as etiquetas independentes temem que a diversidade cultural seja afectada pelo surgimento desse titã da música. A associação independente europeia IMPALA acusou mesmo a UE de não ter feito uma investigação profunda sobre as consequências deste negócio.

O BARRISTA E O AGUARELISTA


Nestas férias, conheci (ou conheci melhor) um barrista e um aguarelista. Nesses dois artistas/artesãos, verifiquei um percurso de vida bastante semelhante. Um encontrou a cerâmica por perda do posto de trabalho (encerramento da fábrica), outro começou a pintar aguarelas porque temia que a tecnologia eliminasse o seu trabalho (o computador). Ambos desenvolveram actividades do domínio das manualidades (tela ou papel, barro), sujeitos aos materiais (duas dimensões na aguarela, três dimensões no barro), autodidactas na produção e encontro de formas e de cores.

Um é mais urbano (mas pinta a paisagem harmoniosa da natureza e faz retratos de gente bonita), outro é mais industrial (dentro da ecologia rural em que vive, com cruzamento de temas agrários e ofícios antigos ou mais recentes). Ambos reproduzem um mundo mítico, simbólico, desaparecido ou em vias de desaparecimento. Um segue a tradição do lugar e dos artesãos do barro (Rosa Ramalho, Júlia Ramalho, Rosa Côta, Mistério), nas imagens e no imaginário, mas usa já cores vivas e introduz cenas mais modernas, a visão do mundo dos anos 1970 e 1980 a partir de um meio rural com a fábrica ao lado. O outro procura os clássicos para confirmar o seu gosto (os impressionistas representados no museu da Quai d'Orsay, em Paris). Nenhum é erudito ou obteve conhecimento académico, ambos são populares, conquanto um procure o cânone da harmonia dentro do naturalismo.

Ambos são produtores e comercializam o seu produto criativo. Ou seja, trabalham no ateliê e deslocam-se ao local da exposição ou da feira, o que lhes permite um contacto directo e muito frequente com clientes. Tais relações permitem encomendas, mas não há um patrocínio ou mecenato directo. A pequena encomenda (uma peça a partir de ideia ou fotografia) pode levar o artesão a novas formas – o que significa um percurso variado ao longo da vida de criação, o que torna o estudo do artista mais difícil de estudar ao historiador e esteta.

Cenas populares num, retratos e paisagens noutro, são as formas mais habituais. O que permite, afinal, um estudo próximo, bem como o percurso pessoal e o envolvimento social de cada um. Os dois misturam tradição e inovação, mas estão muito atentos aos gostos dos clientes. Estes, do mesmo modo, possuem uma cultura média, gostando do realismo e do naturalismo e rejeitando possivelmente as vanguardas abstractas.

A aguarela encontra um lugar definido na casa, um espaço nobre. O boneco de barro coloca-se na prateleira, tem menor dimensão que a aguarela e não está fixo num local da casa, o que lhe retira carga simbólica. Por isso, um aspira ao estatuto de artista enquanto o outro assume a humildade do seu labor. Aliás, os preços praticados pelos dois criadores reflectem essa distinção.

Um dos artesãos é profissional independente há vinte anos – e está representado em colecções em vários pontos do mundo. O outro começou há quatro anos, mas a sua elaboração mais significativa é dos dois anos mais recentes – e o museu da Olaria tem à venda peças suas. A liberdade profissional e de opções estéticas pode encalhar na ausência ou diminuição de vendas, o que não garante um rendimento regular, apesar de não se verificar uma situação de intermitência.

O trabalho de ambos é isolado, solitário. O trabalho individual ilustra a actividade pré-moderna ou, pelo menos, não pós-moderna, com esta assente em divisão de tarefas, constituição de equipas, distribuição de competências e aplicação de conhecimentos numa das etapas da cadeia de valor. O artesão domina todo o processo de produção, encarrega-se da promoção e da venda. Ao invés, o consumo é baixo, a mudança de formas e conteúdos é lenta, a demanda dos clientes não exige inovação constante. O que significa baixos riscos e rendimentos, numa ecologia económica da conservação do património e sem crescimento significativo.

Os dois procuram a exposição individual ou o stand pessoal para expor e vender os produtos. Por vezes, recorrem a agentes que colocam os seus trabalhos, intermediários que cobram até 40% do preço de venda. O que inviabiliza a regularidade de tal exposição. Há ligação a entidades oficiais nos dois casos, tipo câmara municipal, associação ou IEFP, provada a necessidade de inserção para promoção e colocação das peças criadas.

Não apurei as reais condições de exportação destes produtos criativos, apesar de aguarelas estarem presentes em colecções estrangeiras. Mas parece-me que o seu consumo se destina a comunidades geográficas relativamente próximas dos criadores, com algumas excepções aquando da realização de exposições ou venda em feiras fora desses centros onde residem e trabalham os artesãos.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A LEITURA DO MEU BLOGUE


Está a ser feita com dificuldades, pois a coluna central afundou-se. Ela só é lida após o final da coluna da esquerda.

Espero resolver rapidamente esta anomalia. Não quero que a coluna sofra a mesma síndroma do Cais das Colunas, à Praça do Comércio.


Actualização às 16:42 - A leitura do blogue voltou a ser perfeita. Obrigado, José Nunes.

TESE DE DOUTORAMENTO EM DIRECTO NA INTERNET


Conforme já aqui escrevi, Célia Quico apresenta hoje as suas provas de doutoramento com o título Audiências dos 12 aos 18 anos no contexto da convergência dos media em Portugal: emergência de uma cultura participativa?, pelas 14:30, na Universidade Nova de Lisboa, ali à avenidade Berna.

A prova de Célia Quico, que estuda um formato de media que solicita a criação e partilha de conteúdos pelos seus utilizadores, será transmitida em directo pela internet (streaming web), a partir do SAPO Vídeos (http://videos.sapo.pt/).

Ocupado numa cerimónia oficial na minha própria Universidade, não poderei estar presente, mas renovo os desejos de boa sorte nas provas.

O LIVRO DE MARK DEUZE


O livro de Mark Deuze Media Work é uma excelente análise ao mundo dos media, em especial quatro grandes áreas: 1) publicidade, relações públicas e marketing, 2) jornalismo, 3) produção de cinema e televisão, e 4) design e desenvolvimento de jogos (ver o blogue de
Deuze). Como autores de base, Deuze segue Scott Lash e John Urry. Mas igualmente Zygmunt Bauman e o seu conceito de modernidade líquida, pelo que mudança e insegurança (trabalho precário, freelancer) nos media seguem a perspectiva daquele investigador de origem polaca.

Em termos de conclusões, Deuze trabalha dez conceitos base, entre os quais instituições desabitadas (empresas que albergam trabalho temporário), cultura da convergência, indústrias criativas, efeito da ampulheta (relação entre grandes empresas e micro-empresas), divisão internacional do trabalho da cultura, grupos de trabalho semi-permanente, ecologia dos projectos, produção da autenticidade, narcisismo das pequenas diferenças (associado ao culto da criatividade).

Para esta mensagem, retiro algumas ideias do capítulo sobre a produção de cinema e televisão (pp. 171-199). Assim, segundo Deuze, o trabalho no cinema, na televisão e no vídeo caracteriza-se como precário e freelancer, movendo-se entre o emprego intensivo e o desemprego de curta ou média duração, baseado em projectos, com permanente incerteza a nível de rendimentos. O autor analisa igualmente o outsourcing, em que os grandes estúdios distribuem por pequenas empresas os riscos de produção, embora mantenham o controlo do marketing, distribuição e exibição.

Como nas outras indústrias culturais, no mundo do audiovisual e do cinema há incertezas quanto ao sucesso de cada produto, cujo processo de elaboração é complexo e possui uma elevada divisão de tarefas. Por outro lado, existe uma maior internacionalização das produções (co-produções), verificável desde a década de 1990.

No capítulo, o autor reflecte sobre a quase total ausência da formação em novo hardware e software e equipamento, o que conduz à individualização da responsabilidade de aprender e formar e traduz implicações importantes no modelo de trabalho: as empresas não pagam o tempo dedicado à formação e à auto-aprendizagem. Uma estratégia relevante de recrutamento é a combinação do recrutamento de pessoal (concurso e reputação em rede de colegas, que conduz a indicações para entrada num projecto).

Por isso, o trabalho criativo resulta numa satisfação pessoal intensa, a desregulação e desintegração vertical das empresas são acompanhadas pela prevalência de redes sociais informais e ligações pessoais que facilitam o acesso a um trabalho e, a nível tecnológico, há subcontratação de serviços e projectos em especialistas e actividades especiais. Assim, e como conclusão do capítulo, Deuze considera que as características da cultura de trabalho nos media – muitas horas, incerteza de trabalho, falta de estabilidade nos rendimentos, níveis de elevado stress, intenso trabalho de equipa – têm consequências directas no trabalho.


Leitura: Mark Deuze (2007). Media Work. Cambridge e Malden, MA: Polity, 278 páginas

AMSTERDAM


O século XVII foi o período mais importante para Amsterdam (Amsterdão). Em 1648 foi feita a paz com a Espanha católica, a praça Dam torna-se o centro cívico, comercial e cosmopolita, o comércio das especiarias, como a pimenta, torna-se uma actividade fundamental. À volta de três grandes canais erguem-se muitas casas magníficas que ainda podem ser vistas. Algumas delas apresentam uma fachada inclinada - não se trata de queda eminente mas de construção adequada ao içar de mercadorias para o andar mais alto.





segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A MORTE DE RICHARD WRIGHT


Teclista dos Pink Floyd (ver Wikipedia e Sound + Vision), hoje, de cancro. Nascera em 1943.

As saudades que tenho em ouvir Dark Side (1973) - e da época, dos amigos e da cultura de massas. Oh, como o tempo passou!

SOBRE A FM


Cristopher H. Sterling e Michael C. Keith publicaram este ano Sounds of change. A history of FM Broadcasting in America.

Inicialmente, a FM (frequência modulada) era oferecida nos rádios com AM (modulação de amplitude ou onda média). Programas e publicidade eram iguais nas duas gamas de frequência. Mas, na década de 1960, a regulação nos Estados Unidos e na Europa permitiu que a FM se tornasse independente. Sterling e Keith consideram que a FM atraiu o movimento de contracultura, grupos minoritários, público não comercial e a rádio universitária. Em 1979, a rádio em FM ultrapassava as audiências de AM. Mas surgiriam nuvens, entretanto, com a rádio digital (satélite, internet, DAB), e com uma programação mais comercial, pouca variedade e publicidade excessiva.

Para mim, a rádio é o meio mais mágico. Porque cresci a ouvir a rádio, precisamente em FM. E as boas e inolvidáveis recordações, como o programa Em Órbitra, o teatro radiofónico, a música clássica, os locutores, a publicidade, o impacto que a rádio teve na viragem do regime político e, porque não?, a música pimba antes e depois de 1974 - que recusei na altura mas gostaria de a estudar sociologicamente, se voltasse a investigar a história da rádio. Falta-me o tempo neste momento, mas o meu coração está ali, na rádio e na sua fabulosa história.


Recebi o livro hoje. Gostaria de o ler rapidamente e fazer uma pequena recensão e dedicá-la aos amigos da rádio e aos que me dão muito prazer em ouvir rádio, como o programa a ser transmitido esta tarde e começo da noite na estação Radar. E a Adelino Gomes, que vai fazer um belíssimo lugar como provedor do ouvinte.

SOBRE O JORNALISMO COMO PROFISSÃO MUTANTE


O texto de Paulo Querido no Público do passado sábado sobre jornalismo é um contributo importante para a compreensão do jornalismo de papel. Escreve ele, em dada altura, que, quanto mais banda larga disponível, haverá maior quebra nas vendas dos jornais. Num outro sítio, escreve que o emprego no jornalismo tende a ser mais freelance que o emprego com garantias e salário fixo. Escreve ainda sobre os pequenos editores (como os blogues), a publicidade e a maturidade dos jornais gratuitos - que são, no fim de contas, jornais de papel. Embora de modo mitigado (e compreendo-o muito bem), Paulo Querido (Mas Certamente que Sim) anuncia uma nova tendência possível: a par de despedimentos, há também contratações.

É um artigo preciso e corajoso. O qual me obrigou a pensar, eu que tenho responsabilidades no ensino de jovens que escolhem precisamente esta profissão (ou arco de profissões em torno dos media). Que direi aos meus estudantes? Que têm o desemprego ou a não entrada na profissão como perspectiva mais provável? Lembro-me de um artigo recente de Vasco Pulido Valente, extremamente ácido, afirmando que o jornalismo é um curso muito vago (a propósito de um grau académico da candidata à vice-presidência americana), o que causa mais dúvidas e perplexidades a quem se candidata ao curso universitário e à profissão.

Felizmente que Paulo Querido não tem razão. Explico-me melhor. A leitura dos jornais e dos media electrónicos de hoje dá conta da falência do quarto banco americano (Lehman Brothers) e das consequências em cadeia, como as quebras nas bolsas asiáticas e europeias (e, presumo, americanas). De Espanha, a indústria do imobiliário continua em queda, arrastando um pessimismo nas bolsas e nas actividades em geral. Ontem, o Observer trazia uma análise da situação económica do Reino Unido que poderei descrever como catastrófica, como a deslocalização de fábricas. Mesmo a Jaguar Land Rover, agora em mãos indianas, vai sofrer cortes. Um analista diz que muitas empresas já cortaram em actividades fora do negócio principal, o chamado outsourcing, pelo que não resta mais nada senão fechar as empresas.

Ou seja, Paulo Querido não tem razão, porque a realidade económica internacional está toda pessimista. Claro que isso dá-lhe razão - esperando todos nós que seja uma crise apenas conjuntural. O desemprego que se detecta no jornalismo segue a tendência das outras actividades. O que há é uma reflexão maior sobre o jornalismo - nos próprios media. E Paulo Querido é um bom analista - como igualmente o director do Público, José Manuel Fernandes, de quem li um ou mais artigos nos meses mais recentes e sobre a mesma temática. Se profissionais de outras profissões tivessem acesso regular leríamos mais artigos realistas mas pessimistas.

Observação: o jornalista, no seu Mas Certamente que Sim, atenua a coragem revelado no artigo: "escrever um dia destes um artigo sobre o futuro do papel electrónico, que só por milagre de multiplicação das rosas económicas poderá substituir o papel enquanto suporte pessoal mas talvez tenha uma hipótese como herdeiro, também, dos jornais murais, disponível na paisagem urbana seguindo os passos dos… televisores".