Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
IMPRENSA LOCAL E REGIONAL: UM RETRATO ACTUAL
Foi hoje apresentado o estudo A imprensa Local e Regional em Portugal, da ERC.
O estudo decompõe-se em diversas fases, com diferentes metodologias: trabalho de campo (entrevistas a responsáveis dos meios locais e regionais), inquérito e análises financeira e jurídica. No inquérito, responderam 411 de um universo de 689 publicações. 80% destas publicações foram fundadas desde a década de 1980, o que significa juventude, 45% das quais têm versão electrónica da edição em papel. Dos jornalistas, 44,4% possuem carteira profissional de jornalista, 80,3% desempenha uma só função na publicação. 52,1% das publicações respondentes conta com menos de cinco colaboradores e 18,5% tem de 5 a 8 colaboradores, enquanto 18,5% não tem qualquer jornalista ao seu serviço. A publicidade comercial é a principal fonte de rendimento das publicações, seguindo-se assinaturas, publicidade institucional e venda em banca. De modo interessante, 31,9% são sociedades limitadas por quotas e 16,1% são fábricas de Igreja, traçando dois perfis de imprensa local e regional. A primeira tem mais colaboradores, títulos em papel e em formato electrónico e pertencem a grupos de media; a segunda tem menos colaboradores, títulos e uma periodicidade de edição mais alargada (quinzenal, mensal).
Da leitura do CD-Rom, retiro os seguintes dados: "A informação domina mais de metade da área impressa de três quartos das publicações analisadas (75,5%); a opinião ocupa até 20% da área impressa em 75,0% do total de publicações em estudo; o entretenimento, preenche uma proporção inferior a 10% da superfície impressa em 58,4% das publicações, estando ausente em 37,0% dos títulos em análise" (p. 437).
Seguindo estudos da Marktest, o trabalho agora apresentado traça o seguinte perfil dos leitores das publicações locais e regionais: mais homens (55%) do que mulheres, faixas etárias dos 25 aos 44 anos (41,3%), classes média baixa e média média (62,5%), reformados, pensionistas e desempregados (21,7%) (pp. 231-234).
Quanto a conclusões apresentadas na sessão da manhã (aquela onde pude estar presente), saliento: desenvolvimento de estratégias multimedia, integração em grupos de comunicação social, existência de projectos exclusivamente na internet, inexistência do controlo de tiragens, acesso nem sempre possível às fontes de informação, escassez de publicidade comercial, critérios de transparência na distribuição da publicidade, porte pago.
A ficha técnica do estudo tem os seguintes nomes - supervisão: Azeredo Lopes e Estrela Serrano; coordenação: Carla Martins e Telmo Gonçalves (ambos da Unidade de Análise de Média da ERC); analistas: Catarina Páscoa, Eulália Pereira, Pedro Puga (todos da Unidade de Análise de Média da ERC); Rui Mouta, Departamento Juridico da ERC; Henrique Dias Gonçalves, Gabinete de Estatística da ERC; Carla Oliveira (analista de media, colaboração externa); análise económico-financeira: Paulo Faustino, investigador, Media XXI – Consulting Research/Universidade do Porto.
O estudo decompõe-se em diversas fases, com diferentes metodologias: trabalho de campo (entrevistas a responsáveis dos meios locais e regionais), inquérito e análises financeira e jurídica. No inquérito, responderam 411 de um universo de 689 publicações. 80% destas publicações foram fundadas desde a década de 1980, o que significa juventude, 45% das quais têm versão electrónica da edição em papel. Dos jornalistas, 44,4% possuem carteira profissional de jornalista, 80,3% desempenha uma só função na publicação. 52,1% das publicações respondentes conta com menos de cinco colaboradores e 18,5% tem de 5 a 8 colaboradores, enquanto 18,5% não tem qualquer jornalista ao seu serviço. A publicidade comercial é a principal fonte de rendimento das publicações, seguindo-se assinaturas, publicidade institucional e venda em banca. De modo interessante, 31,9% são sociedades limitadas por quotas e 16,1% são fábricas de Igreja, traçando dois perfis de imprensa local e regional. A primeira tem mais colaboradores, títulos em papel e em formato electrónico e pertencem a grupos de media; a segunda tem menos colaboradores, títulos e uma periodicidade de edição mais alargada (quinzenal, mensal).
Da leitura do CD-Rom, retiro os seguintes dados: "A informação domina mais de metade da área impressa de três quartos das publicações analisadas (75,5%); a opinião ocupa até 20% da área impressa em 75,0% do total de publicações em estudo; o entretenimento, preenche uma proporção inferior a 10% da superfície impressa em 58,4% das publicações, estando ausente em 37,0% dos títulos em análise" (p. 437).
Seguindo estudos da Marktest, o trabalho agora apresentado traça o seguinte perfil dos leitores das publicações locais e regionais: mais homens (55%) do que mulheres, faixas etárias dos 25 aos 44 anos (41,3%), classes média baixa e média média (62,5%), reformados, pensionistas e desempregados (21,7%) (pp. 231-234).
Quanto a conclusões apresentadas na sessão da manhã (aquela onde pude estar presente), saliento: desenvolvimento de estratégias multimedia, integração em grupos de comunicação social, existência de projectos exclusivamente na internet, inexistência do controlo de tiragens, acesso nem sempre possível às fontes de informação, escassez de publicidade comercial, critérios de transparência na distribuição da publicidade, porte pago.
A ficha técnica do estudo tem os seguintes nomes - supervisão: Azeredo Lopes e Estrela Serrano; coordenação: Carla Martins e Telmo Gonçalves (ambos da Unidade de Análise de Média da ERC); analistas: Catarina Páscoa, Eulália Pereira, Pedro Puga (todos da Unidade de Análise de Média da ERC); Rui Mouta, Departamento Juridico da ERC; Henrique Dias Gonçalves, Gabinete de Estatística da ERC; Carla Oliveira (analista de media, colaboração externa); análise económico-financeira: Paulo Faustino, investigador, Media XXI – Consulting Research/Universidade do Porto.
PORTAL BUALA
BUALA é o "primeiro portal interdisciplinar de reflexão, crítica e documentação das culturas africanas contemporâneas em língua portuguesa, com produção de textos e traduções em francês e inglês. A língua portuguesa, aqui celebrada na diversidade de Portugal, Brasil e África, dialoga com o mundo, dando a conhecer melhor as singularidades e as pontes possíveis". O portal "pretende inscrever a complexidade do vasto campo cultural africano e diáspora negra em acelerada mutação económica, política, social e cultural. Entendemos a cultura enquanto sistemas, comunidades, acontecimento, sensibilidades e fricções. Políticas e práticas culturais, e o que fica entre ambas. Problematizar questões ideológicas e históricas, entrelaçando tempos e legados, diagnosticar os grandes desafios do continente e os protagonistas da cultura africana, pensar novos paradigmas que subvertam as tão instaladas relações de poder e dependência" (informações fornecidas pelo portal).
JORNADAS DE ARTES E COMUNICAÇÃO
O Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC) da Universidade do Algarve organiza, no dia 2 de Julho (9:30/19:00), as II Jornadas de Investigação em Artes e Comunicação. Estas "dirigem-se a um público especializado na área das artes e da comunicação e têm como objectivo divulgar a investigação que está a ser desenvolvida pelo Centro, bem como estimular o debate interdisciplinar entre as diversas áreas de especialização e de actuação do CIAC" (informação da organização). Ver mais informação em http://www.ciac.pt/.
terça-feira, 29 de junho de 2010
NÚMERO DA REVISTA JORNALISMO E JORNALISTAS
Saiu o número 42 da revista JJ - Jornalismo e Jornalistas, referente a Abril/Junho deste ano. A capa está ocupada com quatro assuntos: reinvenção do jornalismo (através do jornalismo dos cidadãos), media e blogosfera (continuação do número anterior), entrevista a Carlos Camponez (a propósito da sua tese de doutoramento sobre deontologia do jornalismo) e análise a 15 anos de ciberjornalismo em Portugal (assinado por Helder Bastos, o jornalista destacado para fazer o primeiro jornal online, o Jornal de Notícias).
HISTÓRIA DA MARKTEST
A Marktest, empresa que faz audimetria em Portugal, está a comemorar 30 anos de actividade. Pode conhecer-se a sua história aqui. No final de 1980, tinha três empregados e a tecnologia era formada por uma máquina de calcular, uma máquina de escrever manual e um computador PET 16 Bits. No mesmo ano, a empresa fez os seguintes trabalhos: ICV - Índice de Custo de Vida, IPCR - Índice de Poder de Compra Regional e Estudo na génese do Sales Index (sistema de gestão de informação de base concelhia).
segunda-feira, 28 de junho de 2010
FIM DO JORNAL 24 HORAS
Na sequência do que já escrevi aqui, o jornal 24 Horas vai ter a sua última edição amanhã. Outro jornal do grupo Controlinveste, o gratuito Global Notícias, terá a sua última edição na quarta-feira. Sem discutir aqui a qualidade dos dois jornais, a reflexão a fazer é a gravidade da situação dos media impressos que encerram.
LANÇAMENTO DE LIVRO DE MARTA TRAQUINO
Ao final da tarde de hoje, foi lançado na livraria Círculo das Letras, o livro de Marta Traquino (à esquerda na imagem), A construção do lugar pela arte contemporânea, com apresentação de Idalina Conde, docente do ISCTE e sua orientadora de dissertação de mestrado agora editada pela Húmus.
Marta Traquino trabalha o sentido do lugar na condição contemporânea, analisando a instalação no espaço público e a arte pública. Retiro um parágrafo da sua obra: "O artista que trabalha com o espaço público enfrenta um contexto díspar do artista em espaços institucionais da arte. Nestes ele constrói o seu «lugar» a ser visitado por pares, comissários e críticos de arte e os interessados com hábitos de visita a exposições, por vezes com certo conhecimento pré-elaborado sobre o que vão ver. O espaço público é, pelo contrário, um espaço vivido, com outras histórias e memórias, lógicas de funcionamento e organização. Aí, a arte vai ao encontro das pessoas, surpreendendo-as no seu dia-a-dia, como forma específica de comunicação e interpelação" (p. 125). A autora trabalha com os conceitos de site-specificity (espaço-específico) (p. 28) e lugar habitado, de onde retira exemplos de projectos de arte pública realizados no âmbito da Expo'98 como o Jardim das Ondas, de Fernanda Fragateiro (p. 129).
A apresentadora da obra, Idalina Conde, falou sobre a auto-reflexividade dos artistas, um dos elementos paradigmáticos do pós-modernismo, referindo o próprio papel de Marta Traquino, artista de instalações e docente, já em fase de pesquisa de doutoramento.
Marta Traquino trabalha o sentido do lugar na condição contemporânea, analisando a instalação no espaço público e a arte pública. Retiro um parágrafo da sua obra: "O artista que trabalha com o espaço público enfrenta um contexto díspar do artista em espaços institucionais da arte. Nestes ele constrói o seu «lugar» a ser visitado por pares, comissários e críticos de arte e os interessados com hábitos de visita a exposições, por vezes com certo conhecimento pré-elaborado sobre o que vão ver. O espaço público é, pelo contrário, um espaço vivido, com outras histórias e memórias, lógicas de funcionamento e organização. Aí, a arte vai ao encontro das pessoas, surpreendendo-as no seu dia-a-dia, como forma específica de comunicação e interpelação" (p. 125). A autora trabalha com os conceitos de site-specificity (espaço-específico) (p. 28) e lugar habitado, de onde retira exemplos de projectos de arte pública realizados no âmbito da Expo'98 como o Jardim das Ondas, de Fernanda Fragateiro (p. 129).
A apresentadora da obra, Idalina Conde, falou sobre a auto-reflexividade dos artistas, um dos elementos paradigmáticos do pós-modernismo, referindo o próprio papel de Marta Traquino, artista de instalações e docente, já em fase de pesquisa de doutoramento.
domingo, 27 de junho de 2010
IONESCO
Hoje é o dia derradeiro da representação da peça O rei está a morrer de Eugène Ionesco no teatro Comuna, numa encenação de João Mota.
Logo no começo da peça se anuncia que o rei Bérenger (Carlos Paulo) vai morrer no final do espectáculo (90 minutos depois). Quem o diz é Margarida (Tânia Alves), primeira mulher do rei, enquanto Maria (Ana Lúcia Palminha), segunda mulher do rei, procura manter vivo o seu amor. Margarida é apoiada pelo médico e carrasco (Rui Neto), enquanto a empregada (Mia Farr) e o sentinela (Alexandre Lopes) manifestam sentimentos contraditórios.
No texto que acompanha a apresentação da peça, lê-se: "Uma comédia que mostra o quão ridículos podemos ser quando nos confrontamos com a efemeridade da vida e o inútil apego que temos às coisas materiais". Ionesco, um dos principais nomes do teatro do absurdo, reflecte sobre o poder e a perda de poder e o modo como cada indivíduo olha a realidade e a morte que se aproxima cada dia ou cada hora. O rei Bérenger julgava ter o poder de fazer chuva ou mudar a orientação e movimento dos astros, mas o seu reino já se afundava no abismo, ou as fronteiras reduziam porque os países vizinhos aproveitavam a sua falta de força para imporem novas fronteiras, e os cidadãos morriam (afogados, assassinados, por desleixo ou falta de convicções). O poder já estava noutras mãos, nas da primeira mulher (e também no físico e médico e carrasco), enquanto se assiste à lenta e pouco digna agonia do rei.
Logo no começo da peça se anuncia que o rei Bérenger (Carlos Paulo) vai morrer no final do espectáculo (90 minutos depois). Quem o diz é Margarida (Tânia Alves), primeira mulher do rei, enquanto Maria (Ana Lúcia Palminha), segunda mulher do rei, procura manter vivo o seu amor. Margarida é apoiada pelo médico e carrasco (Rui Neto), enquanto a empregada (Mia Farr) e o sentinela (Alexandre Lopes) manifestam sentimentos contraditórios.
No texto que acompanha a apresentação da peça, lê-se: "Uma comédia que mostra o quão ridículos podemos ser quando nos confrontamos com a efemeridade da vida e o inútil apego que temos às coisas materiais". Ionesco, um dos principais nomes do teatro do absurdo, reflecte sobre o poder e a perda de poder e o modo como cada indivíduo olha a realidade e a morte que se aproxima cada dia ou cada hora. O rei Bérenger julgava ter o poder de fazer chuva ou mudar a orientação e movimento dos astros, mas o seu reino já se afundava no abismo, ou as fronteiras reduziam porque os países vizinhos aproveitavam a sua falta de força para imporem novas fronteiras, e os cidadãos morriam (afogados, assassinados, por desleixo ou falta de convicções). O poder já estava noutras mãos, nas da primeira mulher (e também no físico e médico e carrasco), enquanto se assiste à lenta e pouco digna agonia do rei.
O POVO: LIVRO E EXPOSIÇÃO NO MUSEU DA ELECTRICIDADE
De que falamos quando falamos de POVO? Este é o ponto de partida desta exposição, que propõe uma viagem pelos múltiplos sentidos deste conceito e da palavra que o nomeia. Com uma história milenar, é, contudo, nos últimos três séculos - do advento de liberalismos, nacionalismos e socialismos à actualidade - que se constrói uma ideia contemporânea de POVO. É isso que aqui se mostra.
[do folheto da exposição POVO, patente no Museu da Electricidade, uma das exposições que comemoram os cem anos de República em Portugal, até 19 de Setembro]
José Neves, coordenador da obra Como se Faz um Povo (Tinta da China), integrada na exposição, prefere identificar assim o povo:
"Trata-se, nestes discursos, de elaborar uma biografia - no caso, a biografia de um sujeito colectivo - e de desenvolver narrativas que procuram retratar uma nação ou um povo - no caso, Portugal e o povo português -, presumindo-se um sentido, que será possível ao historiador reconhecer, de modo a apurar uma identidade por entre as atribulações de uma ou mais vidas e dos caminhos astuciosos que estes tomam". (p. 13).
O livro tem quatro partes, com os temas: representação, cidadania e política popular; identidade nacional, cultura popular e revolução; sociedade, economia e quotidiano; arte, espectáculo e dissensão. Nesta última parte, conta com textos de Luís Trindade, João Pinharanda, Emília Tavares, Vítor Pavão dos Santos, Eduardo Cintra Torres, Rui Bebiano e Tiago Baptista.
No caso específico do texto de Cintra Torres, sobre televisão, ele fala de um tempo de televisão pastoral (ou pastoril?) - sobre a vida dos pobres e dos rurais -, correspondente aos anos iniciais da televisão em Portugal e ao tempo do regime do Estado Novo, e de um modelo pequeno-burguês, tipificado nos programas de variedades e em especial no Big Show SIC, com o "apresentador aos gritos, gargalhadas e saltos, um falso macaco como companheiro, povo-público em estúdio, de pé, dançando com os músicos, depois chamados pimba" (p. 436). Para o final da década de 1980, Cintra Torres defende um terceiro modelo, apesar da diversidade de plataformas (cabo, DVD), a televisão de consensualidade graças a programas como talk shows (Oprah Winfrey, Gato Fedorento). Contudo, e neste mesmo tempo, o autor distingue, por um lado, a elite cultural, com recursos a programas diversificados mais de seu agrado e, por outro lado, a perda da premência comunicação televisiva para o povo (p. 437). A meu ver, a consensualidade vai-se perder e o poder da televisão reparte-se com outras plataformas; o povo diversifica gostos. Ou, então, ele dilui-se como povo.
[do folheto da exposição POVO, patente no Museu da Electricidade, uma das exposições que comemoram os cem anos de República em Portugal, até 19 de Setembro]
José Neves, coordenador da obra Como se Faz um Povo (Tinta da China), integrada na exposição, prefere identificar assim o povo:
"Trata-se, nestes discursos, de elaborar uma biografia - no caso, a biografia de um sujeito colectivo - e de desenvolver narrativas que procuram retratar uma nação ou um povo - no caso, Portugal e o povo português -, presumindo-se um sentido, que será possível ao historiador reconhecer, de modo a apurar uma identidade por entre as atribulações de uma ou mais vidas e dos caminhos astuciosos que estes tomam". (p. 13).
O livro tem quatro partes, com os temas: representação, cidadania e política popular; identidade nacional, cultura popular e revolução; sociedade, economia e quotidiano; arte, espectáculo e dissensão. Nesta última parte, conta com textos de Luís Trindade, João Pinharanda, Emília Tavares, Vítor Pavão dos Santos, Eduardo Cintra Torres, Rui Bebiano e Tiago Baptista.
No caso específico do texto de Cintra Torres, sobre televisão, ele fala de um tempo de televisão pastoral (ou pastoril?) - sobre a vida dos pobres e dos rurais -, correspondente aos anos iniciais da televisão em Portugal e ao tempo do regime do Estado Novo, e de um modelo pequeno-burguês, tipificado nos programas de variedades e em especial no Big Show SIC, com o "apresentador aos gritos, gargalhadas e saltos, um falso macaco como companheiro, povo-público em estúdio, de pé, dançando com os músicos, depois chamados pimba" (p. 436). Para o final da década de 1980, Cintra Torres defende um terceiro modelo, apesar da diversidade de plataformas (cabo, DVD), a televisão de consensualidade graças a programas como talk shows (Oprah Winfrey, Gato Fedorento). Contudo, e neste mesmo tempo, o autor distingue, por um lado, a elite cultural, com recursos a programas diversificados mais de seu agrado e, por outro lado, a perda da premência comunicação televisiva para o povo (p. 437). A meu ver, a consensualidade vai-se perder e o poder da televisão reparte-se com outras plataformas; o povo diversifica gostos. Ou, então, ele dilui-se como povo.
sábado, 26 de junho de 2010
NOVA ORTOGRAFIA NO EXPRESSO
A partir desta semana, o semanário Expresso adopta a nova ortografia. Algumas razões para aceitar a alteração de mais de 3500 palavras da língua: já se escreveu mãi, sòzinho, telephone; agora escreve-se mãe, sozinho, telefone. Se adoptar passar a adotar, direcção a direção e Junho a junho, registam-se alterações como as efectuadas (efetuadas) antes. O mais difícil parece-me a retirada dos hífens: de fim-de-semana para fim de semana, de contra-revolução para contrarevolução.
ESTUDO DE IMPRENSA LOCAL E REGIONAL
Apresentação do estudo da ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social), A imprensa local e regional em Portugal, no dia 30, na Fundação Calouste Gulbenkian. Coordenação do estudo de Carla Martins e Telmo Gonçalves, ambos da Unidade de Análise de Média (ERC).
Lê-se no sítio da ERC: "O estudo é o primeiro a realizar uma abordagem transversal deste sector da imprensa, abrangendo as suas dimensões mais relevantes, entre as quais se destaca a caracterização geral do sector; um "diário de campo" elaborado com base em testemunhos de responsáveis de jornais locais e regionais; um enquadramento jurídico do sector; uma análise económico-financeira; uma análise dos públicos da imprensa local e regional; os resultados de um inquérito às publicações do sector; uma análise morfológica e de conteúdo de publicações locais e regionais e um levantamento das deliberações e decisões da ERC sobre este sector no ano de 2009".
Lê-se no sítio da ERC: "O estudo é o primeiro a realizar uma abordagem transversal deste sector da imprensa, abrangendo as suas dimensões mais relevantes, entre as quais se destaca a caracterização geral do sector; um "diário de campo" elaborado com base em testemunhos de responsáveis de jornais locais e regionais; um enquadramento jurídico do sector; uma análise económico-financeira; uma análise dos públicos da imprensa local e regional; os resultados de um inquérito às publicações do sector; uma análise morfológica e de conteúdo de publicações locais e regionais e um levantamento das deliberações e decisões da ERC sobre este sector no ano de 2009".
UM TIPO DE PUBLICIDADE
"Revista [título]. Promoção Você dá o Tom! Você escolhe o que quer ganhar. Sorte sua. Uma Scooter [marca] ou um curso de corte criativo e coloração na [empresa] em Londres. Na promoção Você dá o Tom, você escolhe o prêmio que mais combina com você. Pode ser um curso de corte criativo e coloração na [empresa] em Londres ou uma Scooter [marca]. Para concorrer basta responder à pesquisa no [sítio da internet]. Mande já suas informações e participe. A sorte é toda sua. E a escolha do prêmio também".
75 ANOS DA RÁDIO PÚBLICA
Tenho acompanhado os programas que a RDP (RTP) está a emitir com registos magnéticos e sua interpretação à volta dos 75 anos da Emissora Nacional (inaugurada oficialmente em 4 de Agosto de 1935 pelo presidente da República Óscar Carmona, apesar de emitir desde 1934). São memórias bem trabalhadas pelos profissionais que a rádio pública escolheu, casos de José Nuno Martins e Jaime Fernandes. No programa da manhã de hoje, o programa escolhido foi Graça com Todos (Parodiantes de Lisboa), recordando os irmãos Andrade, os seus principais animadores.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
BERARDO VERSUS CANAVILHAS
"Agora, a possibilidade de o Estado não conseguir cumprir a sua metade de obrigações na fundação que gere o Museu Berardo é um facto. Querendo, à partida, Berardo poderá sair do museu com a sua colecção, deixando vazio o módulo 3 do Centro Cultural de Belém após apenas três anos" (Público on line, de hoje, com a reacção de Joe Berardo à entrevista da ministra da Cultura). Curiosamente, em Abril último, Gabriela Canavilhas considerava que quem estava em falta nos compromissos do museu era o próprio Berardo. Parece-me existir algo estranho neste caso, relembrando as questões relacionadas com os directores dos museus de Arte Antiga, Nacional de Arqueologia e do Chiado (aqui, com a distinção de um concurso público ter afastado o anterior director).
CULTURA EM PORTUGAL
"Entendo que temos que criar condições no nosso país para os artistas e agentes culturais terem mercado. Temos que apostar e criar condições de mercado. Isto fará com que maior número de agentes esteja na actividade como contratado, interveniente directos, e não como dependente de subsídios. Criando uma teia de estruturas com capacidade financeira e compromissos com o MC para garantir programação contratando agentes – ou seja, criando pólos de economia cultural – criamos melhores condições, estabilidade e dignidade para os agentes. Diminuiria muito o espectro dos subsídios. É uma aposta que quero muito desenvolver e que vai assentar na rede de teatros e Cineteatros" (Gabriela Canavilhas, ministra da Cultura ao Público de hoje). Há "seis meses no cargo, traça o retrato de um ministério com milhares de trabalhadores independentes, muitos intermitentes, sem apoios sociais. São, precisamente, os que mais vão sofrer com a crise e os cortes previstos, reconhece", lê-se na mesma entrevista.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
PRIVATIZAÇÃO DA TOBIS
A Tobis Portuguesa, criada em 1932 com o intuito de apoiar e fomentar o desenvolvimento do cinema nacional (ver sítio da Tobis, de onde retirei a imagem), vai ser privatizada, com o Estado a alienar a participação de cerca de 96%. A decisão coube à ministra da Cultura e o anúncio foi feito pelo director do Instituto do Cinema e do Audiovisual no Parlamento. A Tobis emprega 66 pessoas, com cerca de 20 delas a trabalharem há mais de 25 anos na empresa, algumas atingindo quase 40 anos de actividade. No ano passado, a Tobis teve um prejuízo superior a quatro milhões de euros.
JORNAL 24 HORAS
O jornal diário 24 Horas vai fechar, com alguns dos profissionais a passarem para outros títulos do grupo Controlinveste (O Jogo, Diário de Notícias). Tablóide, o jornal teve um período de grandes vendas, contando com frequência histórias de celebridades ligadas à televisão. Em Janeiro de 2006, ficou conhecido por ter revelado elementos ligados ao processo Casa Pia. Fundado em 1998 por José Rocha Vieira, seria comprado pela PT e, depois, pela Controlinveste. Pedro Tadeu, seu director durante seis anos, foi substituído por Nuno Azinheira em Agosto de 2009.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
SERVIÇO PÚBLICO DE TELEVISÃO (VII)
[Retomo a série de mensagens que escrevi nos dias 1, 2, 3, 4, 5 (primeiro e segundo post) de Setembro de 2009]
Em Janeiro de 2009, a Ofcom, regulador inglês das telecomunicações e dos media, editou um relatório intitulado Putting Viewers First, com recomendações sobre o futuro do serviço público do audiovisual (doravante, refiro televisão). O relatório identificou várias mudanças e oportunidades sobre o sistema público de televisão (pp. 2-3), incluindo: transição do analógico para o digital, as audiências valorizam o conteúdo do serviço público e aceitam mantê-lo, os ingleses querem serviço público para além da BBC. As recomendações da Ofcom ao governo defendiam a manutenção do papel da BBC e do seu financiamento, privatização (free-up) dos canais ITV e Five com um envolvimento de serviço público limitado, criação de alternativa ao serviço público da BBC através do Channel 4. A Ofcom também apresentou modelos alternativos de financiamento do serviço público.
Petros Iosifidis, editor do livro Reinventing public service communication - European broacasters and beyond (2010), critica as recomendações da Ofcom. Argumenta que a pluralidade de conteúdos é mais importante que a pluralidade de fornecedores (ou pluralidade institucional, na linguagem da Ofcom) (Iosifidis, 2010: 24). Docente na área de media e comunicação do departamento de sociologia da City University de Londres, ele é um defensor do PSM (Public Service Media), como o conjunto de slides de uma sua comunicação (ver a seguir) o indica.
A análise da Ofcom, prossegue Iosifidis, considera que a viragem tecnológica para o digital (apagão analógico) e a concorrência intensificada reduzem o serviço público nos canais comerciais ou mesmo a sua suspensão. Há pelo menos três tipos de pressão: fragmentação da audiência, media alternativos, quebra de investimentos publicitários. Se os telespectadores têm cinco operadores de televisão com serviço público, as mudanças no mercado levarão à sua queda. O Digital Britain 2009 (p. 20) indicava a tendência da Ofcom: liberalização progressiva do Channel 3 e do Channel 5, de modo a poderem tornar-se totalmente comerciais, mas manutenção de serviço público concentrado na produção de originais (séries, por exemplo) e nos noticiários. Isto levaria a BBC a surgir com obrigações de serviço público de televisão quase em regime de monopólio.
Em Janeiro de 2009, a Ofcom, regulador inglês das telecomunicações e dos media, editou um relatório intitulado Putting Viewers First, com recomendações sobre o futuro do serviço público do audiovisual (doravante, refiro televisão). O relatório identificou várias mudanças e oportunidades sobre o sistema público de televisão (pp. 2-3), incluindo: transição do analógico para o digital, as audiências valorizam o conteúdo do serviço público e aceitam mantê-lo, os ingleses querem serviço público para além da BBC. As recomendações da Ofcom ao governo defendiam a manutenção do papel da BBC e do seu financiamento, privatização (free-up) dos canais ITV e Five com um envolvimento de serviço público limitado, criação de alternativa ao serviço público da BBC através do Channel 4. A Ofcom também apresentou modelos alternativos de financiamento do serviço público.
Petros Iosifidis, editor do livro Reinventing public service communication - European broacasters and beyond (2010), critica as recomendações da Ofcom. Argumenta que a pluralidade de conteúdos é mais importante que a pluralidade de fornecedores (ou pluralidade institucional, na linguagem da Ofcom) (Iosifidis, 2010: 24). Docente na área de media e comunicação do departamento de sociologia da City University de Londres, ele é um defensor do PSM (Public Service Media), como o conjunto de slides de uma sua comunicação (ver a seguir) o indica.
A análise da Ofcom, prossegue Iosifidis, considera que a viragem tecnológica para o digital (apagão analógico) e a concorrência intensificada reduzem o serviço público nos canais comerciais ou mesmo a sua suspensão. Há pelo menos três tipos de pressão: fragmentação da audiência, media alternativos, quebra de investimentos publicitários. Se os telespectadores têm cinco operadores de televisão com serviço público, as mudanças no mercado levarão à sua queda. O Digital Britain 2009 (p. 20) indicava a tendência da Ofcom: liberalização progressiva do Channel 3 e do Channel 5, de modo a poderem tornar-se totalmente comerciais, mas manutenção de serviço público concentrado na produção de originais (séries, por exemplo) e nos noticiários. Isto levaria a BBC a surgir com obrigações de serviço público de televisão quase em regime de monopólio.
terça-feira, 22 de junho de 2010
INDÚSTRIAS CULTURAIS NOS AÇORES
"A direcção regional da Cultura promove pelas 21H00 de amanhã [dia 23], no auditório da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, a segunda de uma série de três sessões que terão lugar também em Angra do Heroísmo, de consulta pública sobre a necessidade de se adequarem programas e políticas de âmbito regional, nacional e comunitário, aos desafios actuais e do futuro das Indústrias Culturais e Criativas" (via Correio dos Açores).
RUMOS LITERATURA ITAÚ CULTURAL 2010-2011
Estão abertas as inscrições para o concurso Rumos Literatura 2010-2011 do Itaú Cultural. Os estrangeiros que moram fora do Brasil "também podem se inscrever e enviar projetos de ensaios de Produção Literária ou Crítica Literária Brasileira Contemporânea para o edital Rumos Itaú Cultural Literatura 2010-2011. Vejam as características, prêmios, com se inscrever e demais informações do edital".
CURSO DE GRAVAÇÃO DE PROCESSAMENTO DE SOM
Curso de Gravação de Processamento de Som da Escola de Verão da Universidade Nova de Lisboa (FCSH/UNL), em 6 de Setembro (mais elementos, ver aqui).
CULTURA PARTICIPADA
Néstor García Canclini, no seminário do passado sábado, falou de um estudo que está a promover no México sobre jovens e emprego, situando-se nos trendsetters e em quatro áreas: 1) audiovisuais, 2) edição (livros, jornais e revistas), 3) música, 4) redes criativas digitais. Dirigindo-se a estudantes universitários ligados à cultura, foi um tema excelente.
Contudo, ao falar de trajectórias de vida, trabalho precário e por projectos e em empresas sem compromissos sociais, percebi que há mais campo de investigação. Por isso, julgo que o texto de José Machado Pais, Ganchos, tachos e biscates (2001), dá uma excelente complementaridade à investigação conduzida pelo antropólogo argentino e (e também de nacionalidade mexicana).
Em Ganchos, tachos e biscates, Machado Pais fez 14 entrevistas aprofundadas (p. 109) a jovens com distintas trajectórias de vida (reclusos, prostitutas, arrumadores de carros, distribuidores de pizzas, disc-jokeys), mapeando percursos profissionais (tipo de ocupações, duração, escolhas e abandonos, ritmos de trabalho, rendimentos), tendo como elementos primordiais o trabalho precário, a problemática de "ganhar a vida" em cada um dos entrevistados e as necessidades de consumo impulsionadas por um mercado de consumo juvenil e valores hedonistas (p. 113). O livro, ao desenvolver o conceito de trajectória de vida, inclui ideias relacionadas com vida familiar, vida escolar, vida profissional (p. 401). Ainda no capítulo de metodologias, que estou a seguir, José Machado Pais trabalhou as entrevistas gravadas em termos de análise de conteúdo segundo três níveis: sintáctico, semântico e pragmático (p. 114). E organizou o livro segundo dois tipos de conectividade - vertical, com cada capítulo a versar a história de um jovem ou mais dentro de um mesmo "ramo" de actividade; horizontal, confrontando categorias encontradas nas várias entrevistas (p. 121).
O que o todo do livro trata - e que referi acima - é o novo conceito de trabalho, não já a carreira mas a flexibilidade, o projecto, a precariedade. E em que, anuncia-se logo no começo do texto, muitos dos jovens lutam pela sobrevivência, inventando formas de ganhar dinheiro, não necessariamente associadas a identidades negativas e em que se pode desenhar um certo desempenho profissional (p. 16). Agregam-se ainda as ideias de fronteira, de margem e marginalidade, da passagem de uma sociedade forjada em instituições disciplinadoras (família, escola, Igreja, exército) para uma sociedade flexível e modulável (grupos de amigos, círculos de colegas) (p. 403), com indistinção crescente entre o que se considera de dentro e de fora. Por exemplo, a família é preenchida e substituída pelos media, a prisão torna-se a universidade de aprendizagem do crime, os alunos ameaçam os professores com a sua indisciplina.
Mas, ao mesmo tempo, é deixada uma mensagem de esperança numa sociedade muito contraditória: a escola da cultura prescritiva, de normas e planos de estudo, vai dando lugar à sociedade participada, de envolvimento dos jovens (p. 414). Aqui, apetece-me regressar a Canclini e ao seu conceito de trendsetters, de jovens criativos e modeladores de situações novas e ambiciosas. Onde contam as redes e a maleabilidade para aceitar/enfrentar desafios.
Leitura: José Machado Pais (2001). Ganchos, tachos e biscates. Jovens, trabalho e futuro. Porto: Ambar
Contudo, ao falar de trajectórias de vida, trabalho precário e por projectos e em empresas sem compromissos sociais, percebi que há mais campo de investigação. Por isso, julgo que o texto de José Machado Pais, Ganchos, tachos e biscates (2001), dá uma excelente complementaridade à investigação conduzida pelo antropólogo argentino e (e também de nacionalidade mexicana).
Em Ganchos, tachos e biscates, Machado Pais fez 14 entrevistas aprofundadas (p. 109) a jovens com distintas trajectórias de vida (reclusos, prostitutas, arrumadores de carros, distribuidores de pizzas, disc-jokeys), mapeando percursos profissionais (tipo de ocupações, duração, escolhas e abandonos, ritmos de trabalho, rendimentos), tendo como elementos primordiais o trabalho precário, a problemática de "ganhar a vida" em cada um dos entrevistados e as necessidades de consumo impulsionadas por um mercado de consumo juvenil e valores hedonistas (p. 113). O livro, ao desenvolver o conceito de trajectória de vida, inclui ideias relacionadas com vida familiar, vida escolar, vida profissional (p. 401). Ainda no capítulo de metodologias, que estou a seguir, José Machado Pais trabalhou as entrevistas gravadas em termos de análise de conteúdo segundo três níveis: sintáctico, semântico e pragmático (p. 114). E organizou o livro segundo dois tipos de conectividade - vertical, com cada capítulo a versar a história de um jovem ou mais dentro de um mesmo "ramo" de actividade; horizontal, confrontando categorias encontradas nas várias entrevistas (p. 121).
O que o todo do livro trata - e que referi acima - é o novo conceito de trabalho, não já a carreira mas a flexibilidade, o projecto, a precariedade. E em que, anuncia-se logo no começo do texto, muitos dos jovens lutam pela sobrevivência, inventando formas de ganhar dinheiro, não necessariamente associadas a identidades negativas e em que se pode desenhar um certo desempenho profissional (p. 16). Agregam-se ainda as ideias de fronteira, de margem e marginalidade, da passagem de uma sociedade forjada em instituições disciplinadoras (família, escola, Igreja, exército) para uma sociedade flexível e modulável (grupos de amigos, círculos de colegas) (p. 403), com indistinção crescente entre o que se considera de dentro e de fora. Por exemplo, a família é preenchida e substituída pelos media, a prisão torna-se a universidade de aprendizagem do crime, os alunos ameaçam os professores com a sua indisciplina.
Mas, ao mesmo tempo, é deixada uma mensagem de esperança numa sociedade muito contraditória: a escola da cultura prescritiva, de normas e planos de estudo, vai dando lugar à sociedade participada, de envolvimento dos jovens (p. 414). Aqui, apetece-me regressar a Canclini e ao seu conceito de trendsetters, de jovens criativos e modeladores de situações novas e ambiciosas. Onde contam as redes e a maleabilidade para aceitar/enfrentar desafios.
Leitura: José Machado Pais (2001). Ganchos, tachos e biscates. Jovens, trabalho e futuro. Porto: Ambar
segunda-feira, 21 de junho de 2010
INDÚSTRIAS CRIATIVAS
The Berlin Creative Industries. An empirical analysis of future key industries é um livro de Dieter Putcha, Friedrich Schneider, Stefan Haigner, Florian Wakolbinger e Stefan Jenewein, editado este ano.
O que diz? Fala em seis milhões de pessoas ligadas às indústrias criativas na União Europeia, com um resultado de 650 mil milhões de euros e cerca de 2,6% no PIB, com um crescimento económico superior ao da média das actividades económicas na comunidade europeia.
Quem escreve o livro? Professores universitários, consultores em desenvolvimento estratégico (o caso de Dieter Puchta) e cientistas de investigação económica.
O que acentua? A economia das indústrias criativas na cidade de Berlim por comparação com outras regiões alemãs. Na terceira parte do livro, os autores aplicam o modelo BEST para avaliar os efeitos das medidas de política económica no sector e no emprego.
O que diz? Fala em seis milhões de pessoas ligadas às indústrias criativas na União Europeia, com um resultado de 650 mil milhões de euros e cerca de 2,6% no PIB, com um crescimento económico superior ao da média das actividades económicas na comunidade europeia.
Quem escreve o livro? Professores universitários, consultores em desenvolvimento estratégico (o caso de Dieter Puchta) e cientistas de investigação económica.
O que acentua? A economia das indústrias criativas na cidade de Berlim por comparação com outras regiões alemãs. Na terceira parte do livro, os autores aplicam o modelo BEST para avaliar os efeitos das medidas de política económica no sector e no emprego.
PEÇA DAS OFICINAS DE TEATRO NA COMUNA
"Seis mulheres com diferentes percursos de vida encontram-se para tentar falar pela primeira vez e ultrapassar os gestos repetitivos com que aos poucos têm destruído as suas vidas e a daqueles que as rodeiam". Comuna Teatro de Pesquisa (Lisboa), 26 de Junho às 20:00. Vícios Anónimos, trabalho colectivo. Elenco: Ana Brilha, Filipa Marques, Patricia Caeiro, Rute Moura, Teresa Macedo e Vera Venancio. Direcção e Encenação: João Rosa. Ver mais em Oficinas de Teatro.
domingo, 20 de junho de 2010
sábado, 19 de junho de 2010
SEMINÁRIO DE CANCLINI
Para Néstor García Canclini, nas décadas mais recentes a teoria da sociedade caracteriza-se por três momentos: 1) teoria das totalidades sociais (macro-sociais), com modos de produção, existência das nações e abarcando totalidades sociais, onde se notabiliza a teoria do campo cultural de Bourdieu, 2) teoria dos pequenos relatos por oposição às grandes narrativas (décadas de 1980-1990), 3) teorias das redes sociais (Luc Boltanski e Eve Chiapello, Le nouvel esprit du capitalisme; Bruno Latour, We have never been modern). No passado, continua Canclini, havia uma relação literal entre produção de bens, representações e consumos; hoje, a maior parte do que se consome não é produzido no país que consome. Daí, a referência à crítica de marcas e logótipos (Naomi Klein, No logo). As condições territoriais continuam a ser importantes, do mesmo modo que a língua, mas a globalização relativizou essas totalidades. Por isso, a última forte influência: Antonio Negri e Michael Hardt, Império).
Parte substancial do texto de Canclini foi dedicado ao estudo de jovens, que ele vem conduzindo no México. O que o levou a falar de recursos e relações formais e informais, e que o aproxima de Latour, com múltiplos actores e redes, o que o afasta do conceito de campo cultural de Bourdieu. As estratégias criativas não são um campo de actividade marginal, reunindo artistas, criadores e cientistas, mas uma distribuidora de modo extensivo. Porém, o facto de ser marginal não evita que o centro, o poder, absorva a novidade e a criatividade. Canclini fala de um tempo, o da sua juventude e maturidade, de pensamento ilustrado, como oposto ao da informalidade, e de quatro etapas levando aquele pensamento à actualidade: 1) articulação audiovisual e digital, 2) relação entre empresas gigantes e pequenas empresas ou projectos, 3) inovação, e 4) consumo de bens culturais (lugares físicos) e acesso (digital).
O antropólogo argentino fala de trendsetters, noção que significa moda, estar na moda, introduzir um produto ou serviço no mercado, promover e divulgar qualidades e méritos, e que transitou do marketing para a sociologia e antropologia. Os trendsetters encontram-se nas tecnologias digitais, desenho gráfico, arquitectura, fotografia, ourivesaria, e individualmente combinam trajectórias de vida, atitudes sociais e culturais em processos formais e informais. Além da criação, os trendsetters são vendedores de produtos culturais novos e portadores de novos valores. E, seguindo Martin Hopenhayn (América Latina, desigual y descentrada, 2005), Canclini conclui que hoje os jovens têm mais qualificações académicas mas enfrentam piores condições no acesso ao emprego.
GRAFFITI TUGA (5)
Os abraços grátis (free hugs) inserem-se num movimento social começado em 2004, no qual se oferecem abraços a pessoas estranhas em locais públicos (ver wikipedia).
sexta-feira, 18 de junho de 2010
ENCONTRO DE MUSEUS EM S. PAULO
Decorre nos próximos dias 22, 23 e 24 de Junho, no Memorial da América Latina (Auditório Simon Bolívar, S. Paulo, Brasil), o II Encontro Paulista de Museus, cujo tema central é Ser diferente. Fazer diferença. O encontro contará com a presença de especialistas de nomeada, com "o propósito de estimular os profissionais e dirigentes da área de museus a reflectirem sobre as possibilidades de transformação e crescimento existentes em sua actividade" (ver mais aqui). Do programa, constam visitas aos museus da Língua Portuguesa, Pinacoteca do Estado, MASP, Museu do Futebol e Museu Afro Brasil.
CANCLINI NA GULBENKIAN
Da Convivência à Sobrevivência: Olhares desde a Arte e a Antropologia foi o título da conferência de Néstor García Canclini hoje ao fim da tarde na Gulbenkian, começando um ciclo de conferências "Próximo Futuro".
Canclini falou de iminência, das impressões artísticas, do artesanato, do desenho, traçando a passagem da tradição para a novidade, não o carácter antigo e sedimentado mas o valor assumido e distinto. Falou também da antropologia, uma espécie de recuperação - que partilha saberes das outras disciplinas - em que se escutam os actores sociais, os comportamentos da vida quotidiana, não as grandes teorias mas a aceitação que os autores se exprimem de muitas maneiras, a multiculturalidade.
NESTOR GARCÍA CANCLINI
Hoje, o professor Néstor García Canclini dará uma conferência intitulada Da Convivência à Sobrevivência: Olhares desde a Arte e a Antropologia, na Fundação Calouste Gulbenkian, no Auditório 2 do edifício sede da fundação. A organização pede que a audiência compareça às 18:00, para facilitar o processo de entrada na sessão inaugural do ciclo Grandes Lições.
Amanhã, Néstor García Canclini estará na Universidade Católica Portuguesa.
Nascido na Argentina, Néstor García Canclini (1939) é antropólogo e tem trabalhado as áreas de comunicação, cultura e pós-modernidade a partir da perspectiva latino-americana.
Amanhã, Néstor García Canclini estará na Universidade Católica Portuguesa.
Nascido na Argentina, Néstor García Canclini (1939) é antropólogo e tem trabalhado as áreas de comunicação, cultura e pós-modernidade a partir da perspectiva latino-americana.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
A LUFA-LUFA VISTA POR JOSÉ MACHADO PAIS
O livro Lufa-lufa quotidiana. Ensaios sobre cidade, cultura e vida urbana, de José Machado Pais (2010, Instituto de Ciências Sociais, 227 páginas, 14,4 euros) é um olhar sociológico sobre a vida quotidiana na cidade, antes caracterizada pelo paradigma da indolência e da lentidão e hoje palco do encontrão, da falta de tempo, da lufa-lufa, regime dromocrático onde tudo é feito a correr. Escreve o autor: "É esta percepção dinâmica que convém exercitar ao estudarem-se os tempos do quotidiano: tempos que se deslocam e desmembram ao percorrerem os espaços, numa dispersão e difusão de detalhes, numa fragmentação e justaposição de modos" (p. 16).
São páginas de sociólogo mas igualmente de escritor, dado o modo como capta o leitor com a sua narrativa, frequentemente divertida e mordaz. Para José Machado Pais, a cidade é palco do "dar nas vistas e não dar ouvidos", pelo que ele analisou a vida quotidiana através de objectos menos comuns de estudo, verdadeiras metáforas da vida urbana. Aqui entram o recenseamento de autocolantes de automóveis ("meu outro carro é mais potente", "o que levanta a cabeça do pobre é avião", "não me dê conselho; sei errar sozinho", "tá com pressa? Vai de bicicleta", "mulher de mini-saia é o mesmo que cerca de arame farpado; cerca a propriedade, mas não tapa a visão"), as mensagens que acompanham os pacotes de açúcar ("um dia ponho a mochila às costas e vou conhecer o mundo", "um dia pergunto o teu nome", "um dia levo para casa um cão abandonado"), o siglagês (mundo das siglas), o uso ou não de gravata (o autor informa possuir duas gravatas, a das bolinhas e a azul das riscas) - um ritual de arrumação, como lhe chama -, as fantasias sexuais das leitoras de revistas cor-de-rosa (pp. 107-109). Mas também as culturas juvenis, urbanas e quase marginais, como skaters, breakdancers, ravers e grafitters, artes de musicar (repentes e improvisações), o projecto Batoto Yetu e o modo como se fazem os estudos culturais, suas fontes documentais e mudanças de atitude [pena não ter incluido um capítulo sobre as mensagens nas t-shirts (camisetas, no Brasil)]. No conjunto do livro, concluo que o corpo do texto é de sociólogo mas a essência é de escritor.
Os capítulos tiveram uma vida anterior em forma de comunicações que o autor retrabalhou, e onde desenvolveu conceitos como metodologia das isotopias, globalização cronotópica, presenteísmo, modernidade reflexiva, espaço sedentário como estriado e espaço nómada como liso e aberto, escola formal e temporalidade monocromática e espaços fora da escola e com temporalidades policromáticas, cultura hegemónica que é mais de exclusão do que de inclusão (nomeadamente em grupos minoritários étnicos). Trabalhou afincadamente autores como Georg Simmel, Paul Ricoeur, Nestor García Canclini, Jesus Martín-Barbero, Anthony Giddens, Ulrich Beck, Gilles Deleuze e Felix Guattari, Manuel Castells, Arjun Appadurai e Jean Baudrillard.
Deixo algumas reflexões do autor. A primeira é das trajectórias de vida, em que o autor destaca a de um jovem (pp. 160-161), que vivera na Pedreira dos Húngaros, zona de Lisboa fustigada pelo tráfego de droga: "aprendi [lá] muitas coisas que sei hoje e se calhar foi de lá ter morado é que penso como penso hoje que esta vida é fuck, quantos mais problemas temos mais aparecem, e queremos resolver cenas mas mais se complicam". A segunda é sobre a diversidade cultural (e económica), quando cita o romance de cordel, o chamado património cultural imaterial (pp. 183-184): "O rico chega numa festa/De uniforme ou gravata/Com namorada bonita/Loura, morena ou mulata/O pobre é com uma feia/Que parece uma sucata". Há uma identidade que repousa sobre a diferença, uma cultura que não é erudita mas popular mas igualmente de reconhecer. A última é sobre os estudos da juventude (p. 138), tradicionalmente dominados por paradigmas que reflectiam a forma como ideologicamente os jovens eram representados: dependentes, não autónomos. Hoje, devido à exposição dos media e às tecnologias da informação, os jovens passaram a dispor de um poder não usufruido antes. Acrescenta José Machado Pais que se passou de uma época em que para se ser produtor eram necessárias aprendizagens específicas enquanto para se ser consumidor basta ter-se preferências.
José Machado Pais (1953-) é sociólogo no Instituto de Ciências Sociais e e escreveu nomeadamente A Prostituição e a Lisboa Boémia do séc. XIX aos Inícios do séc. XX (1985), Artes de Amar da Burguesia. Os Rituais de Galantaria nos Meios Burgueses do Séc. XIX em Portugal (1986), Culturas Juvenis (1993), Ganchos, Tachos e Biscates. Jovens, Trabalho e Futuro (2001), Sociologia da Vida Quotidiana.Teorias, Métodos e Estudos de Caso (2002) e Nos Rastos da Solidão. Deambulações Sociológicas (2006).
São páginas de sociólogo mas igualmente de escritor, dado o modo como capta o leitor com a sua narrativa, frequentemente divertida e mordaz. Para José Machado Pais, a cidade é palco do "dar nas vistas e não dar ouvidos", pelo que ele analisou a vida quotidiana através de objectos menos comuns de estudo, verdadeiras metáforas da vida urbana. Aqui entram o recenseamento de autocolantes de automóveis ("meu outro carro é mais potente", "o que levanta a cabeça do pobre é avião", "não me dê conselho; sei errar sozinho", "tá com pressa? Vai de bicicleta", "mulher de mini-saia é o mesmo que cerca de arame farpado; cerca a propriedade, mas não tapa a visão"), as mensagens que acompanham os pacotes de açúcar ("um dia ponho a mochila às costas e vou conhecer o mundo", "um dia pergunto o teu nome", "um dia levo para casa um cão abandonado"), o siglagês (mundo das siglas), o uso ou não de gravata (o autor informa possuir duas gravatas, a das bolinhas e a azul das riscas) - um ritual de arrumação, como lhe chama -, as fantasias sexuais das leitoras de revistas cor-de-rosa (pp. 107-109). Mas também as culturas juvenis, urbanas e quase marginais, como skaters, breakdancers, ravers e grafitters, artes de musicar (repentes e improvisações), o projecto Batoto Yetu e o modo como se fazem os estudos culturais, suas fontes documentais e mudanças de atitude [pena não ter incluido um capítulo sobre as mensagens nas t-shirts (camisetas, no Brasil)]. No conjunto do livro, concluo que o corpo do texto é de sociólogo mas a essência é de escritor.
Os capítulos tiveram uma vida anterior em forma de comunicações que o autor retrabalhou, e onde desenvolveu conceitos como metodologia das isotopias, globalização cronotópica, presenteísmo, modernidade reflexiva, espaço sedentário como estriado e espaço nómada como liso e aberto, escola formal e temporalidade monocromática e espaços fora da escola e com temporalidades policromáticas, cultura hegemónica que é mais de exclusão do que de inclusão (nomeadamente em grupos minoritários étnicos). Trabalhou afincadamente autores como Georg Simmel, Paul Ricoeur, Nestor García Canclini, Jesus Martín-Barbero, Anthony Giddens, Ulrich Beck, Gilles Deleuze e Felix Guattari, Manuel Castells, Arjun Appadurai e Jean Baudrillard.
Deixo algumas reflexões do autor. A primeira é das trajectórias de vida, em que o autor destaca a de um jovem (pp. 160-161), que vivera na Pedreira dos Húngaros, zona de Lisboa fustigada pelo tráfego de droga: "aprendi [lá] muitas coisas que sei hoje e se calhar foi de lá ter morado é que penso como penso hoje que esta vida é fuck, quantos mais problemas temos mais aparecem, e queremos resolver cenas mas mais se complicam". A segunda é sobre a diversidade cultural (e económica), quando cita o romance de cordel, o chamado património cultural imaterial (pp. 183-184): "O rico chega numa festa/De uniforme ou gravata/Com namorada bonita/Loura, morena ou mulata/O pobre é com uma feia/Que parece uma sucata". Há uma identidade que repousa sobre a diferença, uma cultura que não é erudita mas popular mas igualmente de reconhecer. A última é sobre os estudos da juventude (p. 138), tradicionalmente dominados por paradigmas que reflectiam a forma como ideologicamente os jovens eram representados: dependentes, não autónomos. Hoje, devido à exposição dos media e às tecnologias da informação, os jovens passaram a dispor de um poder não usufruido antes. Acrescenta José Machado Pais que se passou de uma época em que para se ser produtor eram necessárias aprendizagens específicas enquanto para se ser consumidor basta ter-se preferências.
José Machado Pais (1953-) é sociólogo no Instituto de Ciências Sociais e e escreveu nomeadamente A Prostituição e a Lisboa Boémia do séc. XIX aos Inícios do séc. XX (1985), Artes de Amar da Burguesia. Os Rituais de Galantaria nos Meios Burgueses do Séc. XIX em Portugal (1986), Culturas Juvenis (1993), Ganchos, Tachos e Biscates. Jovens, Trabalho e Futuro (2001), Sociologia da Vida Quotidiana.Teorias, Métodos e Estudos de Caso (2002) e Nos Rastos da Solidão. Deambulações Sociológicas (2006).
quarta-feira, 16 de junho de 2010
LIVRO DE ANTÓNIO PINTO RIBEIRO SOBRE CIDADES E VIAGENS
Alexandra Lucas Coelho (jornalista do Público) apresentou-o, dizendo que É Março e é Natal em Ouagadougou apenas na página 33 e em mais parte nenhuma do livro, um retrato diarístico de cidades e viagens de António Pinto Ribeiro.
O livro descreve cidades da China, da África, da Europa e, claro, o Brasil, país luminoso para o autor. Lê-se: Brasil imenso, Brasília, Rio de sol, na terra dos gaúchos, Inhotim. Para Pinto Ribeiro, o Brasil é o futuro e os brasileiros nascem já criativos (aprenderam connosco durante alguns anos, disse, divertindo-nos). Sobre Portugal, afinal, está descrente. E também da Europa. O mundo hoje faz-se na China, na África, na América latina.
Texto mais sombrio, nas palavras da apresentadora - cidade do México. Cidade ingovernável, disse o autor. Cidade que mais o encantou - Bogotá -, como que desfazendo preconceitos.
Fico-me por aqui, copiando um trecho da página 18, sobre Alexandria: "Há ainda Marguerite Yourcenar que, nos anos 30, aqui esteve hospedada neste hotel Cecil (hoje Sofitel) e aqui escreveu parte das Memórias de Adriano. E havia o cinema, o grande cinema egípcio que nasceu nos estúdios de Alexandria; e Omar Sharif, o actor egípcio fetiche de Hollywood; e o escritor Naguib Mafouz, Nobel da Literatura".
A apresentação decorreu hoje ao fim da tarde, na magnífica livraria Pó dos Livros, aqui em Lisboa. António Pinto Ribeiro é ensaísta, professor universitário e programador cultural.
O livro descreve cidades da China, da África, da Europa e, claro, o Brasil, país luminoso para o autor. Lê-se: Brasil imenso, Brasília, Rio de sol, na terra dos gaúchos, Inhotim. Para Pinto Ribeiro, o Brasil é o futuro e os brasileiros nascem já criativos (aprenderam connosco durante alguns anos, disse, divertindo-nos). Sobre Portugal, afinal, está descrente. E também da Europa. O mundo hoje faz-se na China, na África, na América latina.
Texto mais sombrio, nas palavras da apresentadora - cidade do México. Cidade ingovernável, disse o autor. Cidade que mais o encantou - Bogotá -, como que desfazendo preconceitos.
Fico-me por aqui, copiando um trecho da página 18, sobre Alexandria: "Há ainda Marguerite Yourcenar que, nos anos 30, aqui esteve hospedada neste hotel Cecil (hoje Sofitel) e aqui escreveu parte das Memórias de Adriano. E havia o cinema, o grande cinema egípcio que nasceu nos estúdios de Alexandria; e Omar Sharif, o actor egípcio fetiche de Hollywood; e o escritor Naguib Mafouz, Nobel da Literatura".
A apresentação decorreu hoje ao fim da tarde, na magnífica livraria Pó dos Livros, aqui em Lisboa. António Pinto Ribeiro é ensaísta, professor universitário e programador cultural.
FRONTEIRA EM MCLUHAN (III)
[continuação da mensagem de 8 de Junho de 2010]
Relembra McLuhan que Harold Innis desenvolveu uma aguda consciência da tradição oral no mundo antigo, isto como resultado dos seus estudos sobre o mundo moderno [Stephanie McLuhan e David Staines (org.) (2005). McLuhan por McLuhan. Rio de Janeiro: Ediouro]. McLuhan afirma que qualquer civilização repousa sempre numa forma escrita, seja qual for. O interesse de Innis pela interacção nas formas escritas e orais da experiência humana pode ter inspirado Eric Havelock no estudo sobre a tradição oral na Grécia antiga e os seus efeitos sobre a modelação da percepção e do comportamento humano no mundo antigo.
Os poetas gregos eram as enciclopédias tribais do tempo da cultura pré-clássica, as quais continham pensamentos e observações mas também técnicas relativas ao modo de conduzir a sociedade, governá-la e controlá-la. Segundo Havelock, os poetas foram os primeiros educadores, constituiram a instituição educacional desse tempo. O livro de Havelock, continua McLuhan, indicava a força de uma sociedade oral, que acolhe e regista técnicas para operar uma sociedade. McLuhan constatava uma semelhança nos comportamentos dos adolescentes do seu tempo face a esse tempo pré-clássico [conferência de 1967]. Ele previa que se estivesse a passar de uma sociedade escrita para uma oral, e a um ritmo mais veloz do que aquele em que os gregos desintegraram o seu culto oral por meio da palavra escrita. Autores mais recentes pegaram nesta posição de McLuhan e saudaram o novo paradigma audiovisual em detrimento do conhecimento trazido pelo livro e elogiaram o SMS (a mensagem via telemóvel).
Voltemos a McLuhan: uma das razões porque os letrados criaram vastas organizações militares no mundo antigo foi porque se tornou possível controlar homens a distância por meio de mensagens e mensageiros. O alfabeto criou o individualismo, mas também organizações imensas, exércitos e impérios, grande salto para um ambiente de informação, embora ler e escrever tivessem começado por ser ocupações de escravos na Grécia antiga. Os romanos levaram o livro a uma posição de dignidade e o cristianismo deu-lhe a sua mais alta consagração.
Relembra McLuhan que Harold Innis desenvolveu uma aguda consciência da tradição oral no mundo antigo, isto como resultado dos seus estudos sobre o mundo moderno [Stephanie McLuhan e David Staines (org.) (2005). McLuhan por McLuhan. Rio de Janeiro: Ediouro]. McLuhan afirma que qualquer civilização repousa sempre numa forma escrita, seja qual for. O interesse de Innis pela interacção nas formas escritas e orais da experiência humana pode ter inspirado Eric Havelock no estudo sobre a tradição oral na Grécia antiga e os seus efeitos sobre a modelação da percepção e do comportamento humano no mundo antigo.
Os poetas gregos eram as enciclopédias tribais do tempo da cultura pré-clássica, as quais continham pensamentos e observações mas também técnicas relativas ao modo de conduzir a sociedade, governá-la e controlá-la. Segundo Havelock, os poetas foram os primeiros educadores, constituiram a instituição educacional desse tempo. O livro de Havelock, continua McLuhan, indicava a força de uma sociedade oral, que acolhe e regista técnicas para operar uma sociedade. McLuhan constatava uma semelhança nos comportamentos dos adolescentes do seu tempo face a esse tempo pré-clássico [conferência de 1967]. Ele previa que se estivesse a passar de uma sociedade escrita para uma oral, e a um ritmo mais veloz do que aquele em que os gregos desintegraram o seu culto oral por meio da palavra escrita. Autores mais recentes pegaram nesta posição de McLuhan e saudaram o novo paradigma audiovisual em detrimento do conhecimento trazido pelo livro e elogiaram o SMS (a mensagem via telemóvel).
Voltemos a McLuhan: uma das razões porque os letrados criaram vastas organizações militares no mundo antigo foi porque se tornou possível controlar homens a distância por meio de mensagens e mensageiros. O alfabeto criou o individualismo, mas também organizações imensas, exércitos e impérios, grande salto para um ambiente de informação, embora ler e escrever tivessem começado por ser ocupações de escravos na Grécia antiga. Os romanos levaram o livro a uma posição de dignidade e o cristianismo deu-lhe a sua mais alta consagração.
PINTURA DE GRAÇA MORAIS
Graça Morais nasceu em Vieiro, Trás-os-Montes, em 1948. A sua pintura e a sua obra plástica transportam sempre o sentido da natureza, nas paisagens, nas cenas de representação humana, nos cenários com animais, na diferenciação do sagrado e do profano. Telas, carvão e pastel sobre papel, colagens e grafite, acrílico, aguarela, tinta da china e outros materiais num conjunto interessante de obras estão patentes no Centro de Arte Manuel de Brito, em Algés (Palácio dos Anjos).
Destaco dois conjuntos: os grafites sobre papel, de um erotismo suave, as pinturas feitas em Cabo Verde, onde a artista se interrogou sobre se teria nascido ali. Mitos do inconsciente, metamorfoses, o tempo do rosto, o corpo e outros temas - eis as pistas dadas pelo texto do catálogo, assinado por Miguel Matos. Realce ainda para os catálogos e livros sobre a artista, produzidos ao longo da sua carreira, e o vídeo feito pela filha.
Destaco dois conjuntos: os grafites sobre papel, de um erotismo suave, as pinturas feitas em Cabo Verde, onde a artista se interrogou sobre se teria nascido ali. Mitos do inconsciente, metamorfoses, o tempo do rosto, o corpo e outros temas - eis as pistas dadas pelo texto do catálogo, assinado por Miguel Matos. Realce ainda para os catálogos e livros sobre a artista, produzidos ao longo da sua carreira, e o vídeo feito pela filha.
Subscrever:
Mensagens (Atom)