Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
terça-feira, 31 de março de 2009
MOSTRAÇÃO E DEMONSTRAÇÃO
Daniel Dayan escreve sobre o terrorismo-espectáculo na televisão, tendo como objecto de análise os actos terroristas de 11 de Setembro de 2001 e o modo como passaram na televisão. O momento da primeira transmissão é o de choque (p. 10), com os que fazem televisão a improvisarem e a difundirem imagens que lhes escapam. Os dias seguintes já não são os de difusão mas do desempenho deliberado, de performance da terapia, da gestão do trauma, do luto. A mostração inscreve-se numa demonstração. A este segundo momento, Dayan indica um terceiro, o do concerto das respostas públicas ao acontecimento, em que as respostas passam por diversas esferas públicas. A quarta performance é a dos públicos e dos mestres de pensamento que se pronunciam sobre o acontecimento, com justificações, acusações e condenações (p. 12).
Mais à frente, Daniel Dayan volta a analisar o mostrar e enquadrar (p. 237). A prática de mostrar implica formas de agir, numa convocação de Jürgen Habermas. Mas também aponta para as acções performativas de J. L. Austin, no que chama de behavitives (que daria, se traduzido, a improvável palavra comportamentativo) e o modelo dramatúrgico do funcionamento da esfera pública, numa recuperação dos trabalhos de Erwing Goffman. Sem esquecer a esfera de controvérsia legítima de Daniel Hallin e a esfera do desvio de Michael Schudson. E o trabalho que o próprio Dayan escreveu com Elihu Katz sobre a televisão cerimonial (p. 258).
O Terror Espectáculo. Terrorismo e Televisão, volume organizado por Daniel Dayan, e agora editado pelas Edições 70, contém capítulos de autores tão importantes como Paddy Scannell, Serge Tisseron, François Jost, Paolo Mancini, Roger Silverstone (já desaparecido), Barbie Zelizer, Michael Schudson, Annabelle Sreberny e muitos outros. Com 454 páginas, o livro divide-se em quatro partes, sendo a terceira ("Reagir") dedicada aos públicos.
Como gostaria de ter agora um dia livre para ler estas magníficas páginas. Parabéns a José Carlos Abrantes, o director da colecção, e Pedro Bernardo, o director da editora, pela ideia da publicação.
Daniel Dayan estará em Portugal em Maio em congresso organizado pelo Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da Universidade Católica Portuguesa, The (in)Visibility of War in Literature and the Media (7 a 9 de Maio).
ANTÓNIO PINTO RIBEIRO
segunda-feira, 30 de março de 2009
CULTURA E PODER
PERDAS NA INDÚSTRIA MUSICAL
Entretanto, a Associação Fonográfica Portuguesa indica acções contra a pirataria. Por exemplo, ontem, na Feira de Estela (Póvoa de Varzim), houve a apreensão de 11993 cópias pirata de obras fonográficas e videográficas e que estavam na posse de vendedores portugueses e marroquinos.
SERRALVES
Bethan Huws faz instalação, escultura, ready-made, obras textuais, aguarelas, filme, procurando reconstruir coisas e lugares que já perderam o sentido.
Por ser uma exposição de fotografia, não houve crítica aos trabalhos de Guy Tillim, "Avenue Patrice Lumumba", onde se mostra a paisagem africana pós-colonialismo: decadência ou regresso à natureza, caso das velhas estátuas agora jazendo em armazéns ao ar livre, a lentidão de gestos quotidianos, as cores. Aqui, há um igual perder o sentido dos objectos.
A meu ver, o mais belo é a arquitectura de Siza Vieira, onde aqueles objectos efémeros - porque expostos num tempo limitado - são como que o conteúdo que satisfaz as formas. Por vezes, confundo a janela que deixa ver a paisagem com a obra do artista, nos reflexos, nos contornos, nas silhuetas, na iluminação, na mistura de tudo.
TEATRO EM LISBOA: QUE ESTRATÉGIAS?
Hoje, a partir das 19:00, no Teatro São Luiz, Lisboa. Encontro com profissionais do Teatro e com Catarina Vaz Pinto, António Pinto Ribeiro, Nuno Artur Silva e Pedro Costa, inserido na iniciativa Estratégias para a Cultura em Lisboa, promovida pela Câmara Municipal de Lisboa e organizada pela Dinâmia/ISCTE.
Painéis:
1. 19:00-19:45 - Formação e construção das trajectórias profissionais. Convidados: Carla Bolito, Carlos Pessoa.
2. 19:45-20:30 - O Teatro e os seus públicos: difusão, circulação e formação de públicos. Convidados: Miguel Abreu, Teatro Praga.
3. 20:30-21:15 - Estratégias de programação e articulação entre a oferta teatral da cidade. Convidados: Mónica Calle, Miguel Seabra.
4. 21:15-22:00 - Os lugares do teatro em Lisboa. Convidada: Lúcia Sigalho.
5. 22:00-22:45 - O papel das autarquias na promoção teatral. Convidados: Rosália Vargas (a confirmar), Miguel Honrado.
domingo, 29 de março de 2009
CULTURALITE
Culturalite é o tema central do número 6, o mais recente da revista Comunicação & Cultura, da UCP.
No editorial, escreve Catarina Duff Burnay: "«Televisão lite» e «literatura lite» são expressões comummente usadas para designar os produtos das indústrias culturais. [...] O sexto número da revista Comunicação & Cultura, longe de quaisquer preconceitos, propõe-se reflectir sobre o lado lite da vida, através da apresentação de seis artigos que exploram as revistas femininas, o cinema de Hollywood, a televisão e a telenovela, enquanto dispositivos antropologicamente válidos e essenciais para uma análise actualizada do estado da arte das ciências da comunicação e dos estudos de cultura".
Eu acrescentaria: trata-se de um jogo feliz do uso da palavra inglesa light, da sua pronúncia e das possíveis grafias e significados em português: cultura leve e espécie de estádio que quer ser arte mas não tem suficiente categoria para isso, pelo menos segundo os intelectuais. Será cultura de massa, ou cultura pimba? E por que consegue tantas audiências e leitores?
O volume tem textos de Lawrence Grossberg (e uma entrevista a ele), Elisabeth Bronfen, Maria da Graça Setton, Isabel Ferin, Isabel Gil, Jorge Fazenda Lourenço e Miguel-Pedro Quádrio e uma entrevista a Mário Jorge Torres, que é mais um texto de autor que entrevista (o entrevistador foi mais operador de vídeo, como se vê na parcela abaixo).
PORTO, PRAÇA DA BATALHA
PORTO, RUA DE SANTO ILDEFONSO
A qualidade da fotografia revela a inépcia do fotógrafo. Muita luz na máquina fotográfica significa pouco contorno nos objectos ou pessoas. Estas parecem pouco mais do que silhuetas.
No canto inferior esquerdo, dois jovens conversam enquanto fumam. Estão mesmo juntos a um manequim (há um segundo mas não ficou enquadrado na fotografia), no que parece anunciar uma loja de chineses.
Mais acima uma tabuleta antiga indica a sede de O Informador Fiscal. Na página online de O Informador Fiscal, é-nos informado que "Nascemos há 74 anos na cidade do Porto. Hoje estamos em todo o País, ao serviço do contribuinte e do público em geral".
quinta-feira, 26 de março de 2009
CADERNO ÍPSILON
O caderno, que sai às sextas-feiras e é uma das áreas mais rentáveis economicamente do jornal, abrange assuntos de música e cinema, mas também artes do espectáculo e literatura. É um suplemento ligado à produção diária do P2, o segundo caderno do jornal, como aliás a reformulação da direcção decidida esta semana veio comprovar - a directora dos dois cadernos é a mesma.
O Ípsilon e o P2 preenchem a designação de jornalismo cultural, em que cada profissional tem, a par da objectividade factual sobre os acontecimentos, uma forma mais livre de escrita (subjectividade). E também cobre a designação de jornalismo literário.
Com uma média de 64 páginas (agora reduzidas a 48), tem muitas notícias de agenda - exposições, produções cinematográficas, música, arquitectura, artes, teatro, livros. Alguma informação da actualidade é retirada dos media de prestígio internacional, como Guardian, Variety, Hollywood Reporter. Decompõe-se em dois eixos centrais: crítica, opinião.
Versão online: http://ipsilon.publico.pt/.
[alguns destes elementos foram obtidos a partir de relatório de estágio de mestrado de Cláudia Silva, ontem defendido na Universidade Nova de Lisboa]
FUSÃO DE OPERAÇÕES JORNALÍSTICAS NO EXTERIOR
Fonte: European Journalism Centre, de hoje
APOIO AO JORNALISMO
Fonte: EUobserver, de ontem.
quarta-feira, 25 de março de 2009
PROJECTO DE INDÚSTRIAS CULTURAIS NO NORTE DE PORTUGAL
- O segundo projecto aprovado é o "Indústrias Culturais - Criativas", que visa o apoio à indústria cultural no Norte de Portugal, e Galiza (Espanha) e resulta de uma parceria entre a DRCN e a Junta da Galiza. A parceria prevê a criação de um Centro de Recursos e Apoio que estará sedeado em Vigo e terá como funções dinamizar, apoiar e promover a actividade industrial da cultura galaico-portuguesa, realizar encontros de profissionais e de artistas da euro-região e criar materiais de difusão e promoção destinadas às indústrias culturais. O projecto tem um orçamento de 1,7 milhões de euros.
ENCONTROS DO OLHAR 2009
Observação: o sítio do IPF está muito desactualizado.
A CULTURA SEGUNDO CARRILHO
- A cultura é hoje reconhecida como um factor decisivo no desenvolvimento de qualquer país, como um pilar que, nas suas diversas vertentes, contribui não só para o desenvolvimento dos países como para a afirmação dos povos e para a visão que eles têm do seu futuro. [...] Para já não falar da atonia e da desorientação que têm marcado áreas tão vitais como as do livro e da leitura, do cinema e do audiovisual, em que não se vislumbram, ao nível da tutela do sector, quaisquer opções, orientações ou políticas. A política cultural tornou-se assim cada vez mais invisível, ilegível e incompreensível, ameaçando fazer, dos anos 2005/09, uma legislatura perdida para a cultura. [...] Sem um orçamento minimamente realista, nenhuma política é possível. Por isso, a área da cultura deve ser dotada com 1% do Orçamento do Estado, sendo fundamental que se assuma de um modo absolutamente claro esse compromisso para a próxima legislatura. Essa meta poderá atingir-se gradualmente: 0,6 em 2010, 0,8 em 2011, 0,9 em 2012 e 1% em 2013. [...] No campo das responsabilidades estruturais estão as de assegurar um digno funcionamento de instituições nacionais da maior importância para o País, como a Biblioteca Nacional, a Torre do Tombo, a Cinemateca Nacional, os Teatros Nacionais de São Carlos, de D. Maria II e de São João, a Companhia Nacional de Bailado. Ou, ainda, de instituições como as Fundações de Serralves, da Casa da Música e do Centro Cultural de Belém. No âmbito das suas responsabilidades estruturais estão a de garantir a manutenção e a valorização do Património Classificado, nacional e mundial, assim como da Rede Nacional de Museus. Sem esquecer o seu papel, em todo o território, na Rede de Leitura Pública, na Rede de Cineteatros e na Rede de Arquivos.
O LIVRO DO FUTURO
Conforme noticiado antes, José Afonso Furtado, director da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian, falou hoje ao fim da tarde sobre As Novas Vidas do Livro, na Universidade Católica, uma organização do seu Centro de Estudos de Comunicação e Cultura.
Retiro algumas ideias, caso dos seis pontos da interacção tecnologias/mercados/tipos de conteúdo que acrescentam valor: 1) facilidade de acesso, 2) actualização rápida e sem custos elevados, 3) escala, isto é, capacidade de aceder à grande quantidade, 4) capacidade de pesquisa, 5) intertextualidade, e 6) multimedia. As tendências que detecta e em que está envolvido o livro do futuro são: 1) rede omnipresente, 2) desenvolvimentos tecnológicos, 3) passagem da economia do produto para a economia de serviços, 4) passagem da economia de compra e venda para a de licença, 5) modelos de pricing, 6) práticas sociais, e 7) ambiente de comércio electrónico.
[observação: além da qualidade amadora do vídeo, a captação de som foi prejudicada por ruído dentro da sala que não pude controlar]
terça-feira, 24 de março de 2009
O ERRO DO PS
Não está em causa a concentração da propriedade, fraca e de pouco poder em Portugal (basta pensar na facilidade com que a Prisa comprou a TVI, ou nas actuais dificuldades da SIC, nos despedimentos da Controlinveste e, agora, nas mudanças do Público), mas a alteração radical de paradigma. O pluralismo pode perder-se pelo simples desaparecimento dos media clássicos. Os sítios da internet, incluindo os blogues, não têm estruturas empresariais nem códigos éticos e deontológicos, não fazem investigação, não usam os princípios da acurácia (exactidão) e do contraditório e ainda não são modelos de negócio que empregam pessoas.
A meu ver, há um desfasamento total entre o que se legisla e o que nos já diz o presente. Quando acordarmos, na alegria de uma boa nova lei, o mundo está todo às avessas. Sem concentração da propriedade e sem pluralismo político.
JORNALISMO ESCRITO PAGO
MFJEP - Movimento a Favor do Jornalismo Escrito Pago
http://mfjep.wordpress.com/
O "Anti- Twitter"
O jornalismo, como o tivemos, não durará. Existe uma certa demissão na transferência para o virtual. O cidadão informado - que, acima de tudo, se quer, a ele próprio, informado – reduz-se, em grande medida, à fragmentação; ao pluralismo em linha. Encontra-se, parcialmente, desligado. Este modelo, como complemento de uma tentativa de agarrar o actual, embora menos reflectido, é já necessidade. Longe de substituir o conhecimento integrado que o artigo de opinião, a reportagem densa e a investigação demorada conferem.
Numa realidade em que muita da “actualidade” não passa de tentativa de desinformação, manipulação, apropriação ou veículo de marketing e propaganda, afirma-se a necessidade de atenção ao pormenor.
A tentação do entretenimento, o jornalismo direccionado, o argumento do consumidor activo encerra a contradição de um maior sedentarismo. A World Wide Web torna-se, assim, menos democrática. Na afirmação das nossas escolhas, vamos ao encontro do que já somos. A notícia “num clique”, confirma-nos: mantém-nos longe.
O jornalismo escrito, enquanto produto, não pode ser encarado exclusivamente como tal: ele é aquilo que me alerta para o que eu não sou. O único veículo que possuo para estar atento relativamente ao que é exterior à minha diminuta capacidade de alcance e atenção: o poder.
A acomodação do consumidor à formatação preguiçosa dos jornais em linha tem conduzido ao desinvestimento publicitário , diminuição qualitativa e consequente perda de novos leitores, emagrecimento de redacções e falência de inúmeras publicações a nível global.
O relativista, na sua constante necessidade de almofadar a realidade dirá que tudo se recompõe: o mercado regula sempre, como sempre nos quiseram fazer crer, apesar de inúmeros avisos, a interminável corte de padres economicistas. Começa aqui o problema: o mercado, visto como um gigante, ausente de influência humana. Redundância.
Segundo previsões, o formato em linha, numa hipotética realidade – de resto, segundo alguns, mais próxima do que desejaríamos acreditar – em que o suporte físico desapareça, poderá apenas suportar 10% dos custos que as publicações actuais exigem. Saber custa dinheiro. Pelos vistos, a democracia também.
Por isso, compro um jornal por dia.
Afonso Pimenta
Movimento
Faço parte dos muitos que, gradualmente, foram deixando de comprar jornais. O processo começou há anos. A partir de certa altura, todos os principais jornais estavam online. Na internet conseguia ler mais jornais do que seria possível em papel. Quando, há cerca de 8 anos, trabalhei como jornalista num site, nos meus favoritos havia uma pasta “Jornais”, e dentro, uma pasta para cada país. Entre jornais portugueses, espanhóis, franceses, ingleses, alemães, italianos e americanos, tinha uns 30 links disponíveis, que me permitiam saltar rapidamente para a página do jornal. Isto aconteceu, obviamente, na pré-história.
Actualmente, com a subscrição de feeds, o meu método anterior é algo de anacrónico e obsoleto. No Google Reader, no telemóvel, num PDA, em qualquer tipo de suporte é possível subscrever as actualizações de uma publicação online. É possível organizar, filtrar, personlizar a recepção dos novos textos, através do leitor de feeds que usarmos. Dessa forma podemos acompanhar, arquivar e pesquisar uma quantidade grande de informação. Sei perfeitamente que a internet oferece ferramentas interessantes e versáteis, que - e faço a inversão de sentido sem ironia - os jornais não podem substituir. O que motivou a minha participação no MFJEP não é sentir, de alguma forma, repulsa ou sobranceria em relação aos jornais e outras publicações online, e muito menos algum tipo de desprezo ou fobia em relação ao meio www.
Associo-me desde o início ao MFJEP - Movimento a Favor do Jornalismo Escrito Pago, porque vejo nesta iniciativa uma forma de cidadãos exigentes e atentos lutarem contra a degradação deste pilar fundamental da democracia que é o jornalismo.
Sei que dizer, em relação ao jornalismo, que se trata de “um pilar fundamental da democracia” é um cliché gasto pela repetição - pelo menos tanto quanto a expressão “movimento a favor”. Talvez o desinteresse e a falta de iniciativa, crónicas e contagiosas maleitas de que padecem os portugueses, expliquem que nos custe tanto movimentarmo-nos em conjunto a favor de algo que nos diz respeito. A maior parte das pessoas não se alarma com o perigo de degradação da qualidade do jornalismo, quanto mais reflectir sobre as suas consequências directas na degradação da qualidade da democracia. É também aqui que pretendemos atacar, ferindo a inércia e a preguiça, despertando e usando de saudável agitação.
Tal como o Afonso refere no texto que lançou este movimento, o jornalismo que conhecemos hoje, pode acabar dentro de pouco tempo. O modelo existente ainda tem o jornal de papel com o seu preço de capa e a sua publicidade tradicional, mesmo se nos sites se concentram mais serviços e, na maior parte dos casos, mais notícias e mais actualizadas que na versão em papel. Ora, com a queda nas compras e os custos de manutenção não só da versão impressa mas também da versão e serviços online, muitos jornais correm o risco de fechar. Outros, ainda que não acabem, poderão ser desvirtuados até ao ponto de se perderem grande parte dos critérios jornalísticos.
Se nada mudar, ficaremos entregues a um número (ainda mais) reduzido de jornais, quase todos apenas na versão online. E, o problema maior é esse, a versão online não será o que é hoje - com as redacções a serem reduzidas e os jornalistas a acumular tarefas e a ficar sem tempo para assegurar qualidade e rigor.
Compra um jornal por dia! Estás a assegurar o teu futuro, não só o dos jornais. Ou preferes um mundo sem informação credível? Escolhe viver num futuro em que a imprensa livre se reforça e consolida, em vez de desaparecer ou ficar moribunda.
Nuno Miranda Ribeiro (http://mfjep.wordpress.com/http://twitter.com/mfjepmfjep@live.com.pthttp://twitter.com/mfjepmfjep@live.com.pt)
GRANDES MUDANÇAS NO JORNAL PÚBLICO
- José Manuel Fernandes vai assumir a direcção da edição online do Público, acumulando com a direcção da edição em papel do diário da Sonaecom, avançou ao M&P o responsável.
O jornal vai assumir "um novo modelo organizativo" sendo criada uma direcção editorial operacional, que mantém a ligação com as outras direcções da empresa (financeira, comercial, marketing e produção), liderada por Nuno Pacheco, actual director-adjunto. Paulo Ferreira surge como director da edição impressa de segunda a quinta-feira e Manuel Carvalho fica com a direcção das edições em papel de sexta-feira a domingo. Bárbara Reis assume a direcção de edição dos suplementos Y, Fugas, Pública e P2. A mudança surge na sequência de uma reorganização interna do título, com vista a um maior foco no online, com implicações, além na distribuição de funções executivas na direcção editorial do título, na organização do funcionamento e horários de toda a equipa.
TELEVISÃO PARA CRIANÇAS E JOVENS
Como o título faz depreender, a investigação caracteriza a programação infantil e juvenil nos quatro canais generalistas (RTP1, RTP2, SIC e TVI) durante um ano (Setembro de 2007 a Outubro de 2008), isto é, a programação cujo público-alvo específico é constituída por 15,3% da população nacional. A monitorização teve por base a análise de grelhas de programação e de materiais audimétricos e com suporte no visionamento dos programas (p. 20). A programação incluiu duração, localização nas grelhas, géneros, formatos, temas, origem geográfica, público-alvo e formas de empacotamento dos programas (p. 21). Os autores deram relevo ao programa contentor, espaço conduzido por um ou mais apresentadores e preenchido essencialmente por séries de animação, mas também passatempos, concursos, reportagens e com inclusão de crianças no estúdio (p. 49).
Programação
A percentagem das emissões globais orientadas para as audiências mais jovens atinge 12,7% do total da emissão (p. 62), não muito distante da população dessas faixas etárias (15,3%, como acima escrevi). O segundo canal do serviço público (RTP2) destaca-se, dedicando um quarto do total do tempo de emissão aos públicos infanto-juvenis e com regularidade ao longo da semana. No total, os dois canais públicos emitem quase sete horas diárias e a SIC e a TVI juntas 4,5 horas diárias (p. 65). O texto coloca dúvidas quanto ao esvaziamento de programas para aquelas faixas etárias na RTP 1 (embora o canal 2 suprima esta debilidade). Aproximadamente dois terços da programação infantil e juvenil passa no horário matinal (6 às 12 horas) (p. 69), seguindo-se o segmento horário das 17 às 20 horas correspondente a 21% do total das emissões. Os autores entendem que este último segmento deveria ter uma maior percentagem de programas, dado as crianças estarem em casa, e reforçam esta posição quando analisam os horários de programação ao fim-de-semana, interrogando-se a quem interessa a programação em horas tão matutinas (p. 76). A TVI aposta no horário do fim da tarde, com Morangos com Açúcar, duas horas seguidas com um episódio novo e a repetição do da véspera (p. 81).
A ficção animação ocupa 67% da duração dos programas, seguindo-se a telenovela (17%). Esta última tem representantes como Morangos com Açúcar, Floribella, Chiquititas e Rebelde Way (p. 88). Os dois canais públicos são os que têm a maior percentagem de ficção animação, com destaque maior para a RTP2 em diversidade de linguagens, histórias, personagens, conteúdos e valores (p. 91). Os autores do estudo destacam a série Ilha das Cores, na RTP2, e concluem que a esmagadora maioria (83,5%) dos programas com currículo educativo se destina ao público infantil até aos cinco anos (p. 95). Ou seja: com o crescer da idade, a oferta televisiva é inferior. A diversidade de formatos de desenhos animados 2D pode estar relacionada com a maior existência nos mercados de televisão, por causa dos avanços tecnológicos e das técnicas de produção.
Sara Pereira, Manuel Pinto e Eulália Pereira identificam quatro temas principais na programação: convivência interpessoal (19%), acção e aventura (18%), descoberta e conhecimento do mundo/meio (14%) e situações da vida quotidiana (14%) (p. 106). Assim, privilegiam-se assuntos que as crianças observam na vida quotidiana e que os adultos valorizam no desenvolvimento dos mais pequenos. Os autores chamam a atenção para o tema enredos novelísticos que na TVI preenche 54% dos programas (p. 112), caso singular no estudo. De novo o impacto da série Morangos com Açúcar.
Quanto a origem da programação, 58% vem da Europa e 22% da América do Norte (p. 114). Regista-se o carácter residual da programação produzida na América do Sul (1%), em especial dadas as afinidades culturais e linguísticas com o Brasil e visíveis em programas para outras faixas etárias.
Ao longo dos 12 meses do estudo, e com a excepção da TVI, a estrutura de apresentação dos programas infantis e juvenis é a de bloco/contentor: na RTP 1, o "Brinca Comigo" (73,6% da programação do canal), na RTP 2, o "Zig Zag" (95,2%), na SIC, o "SIC Kids" (43,3%) (p. 148). A estrutura de contentor visa fidelizar o público (não saída para outros canais) (p. 150). O estudo também conclui que os canais operam numa lógica de sequencialidade horária, baseada na repetição diária e semanal do mesmo tipo de espaços (p. 152). Da parte das estações privadas, SIC e TVI, há predominância de telenovelas para as faixas etárias analisadas. A faixa etária 6-10 anos tem mais força na SIC e a dos 11-16 anos na TVI (p. 153).
O trabalho de Sara Pereira, Manuel Pinto e Eulália Pereira destaca ainda os dez programas mais vistos, a publicidade e autopromoções e patrocínios. Como outras principais conclusões, a equipa considera ainda haver pouca investigação sobre a programação oferecida às crianças, reconhecendo haver somente um programa estudado, "Rua Sésamo". E apontam quatro áreas problemáticas relacionadas com: 1) programas e as lógicas de programação, 2) estratégias e tácticas dos operadores televisivos, 3) crianças e quadros e contextos de vida, e 4) academia e investigação e estudos de mercado.
Um trabalho fundamental, hoje apresentado na conferência A Televisão e as Crianças, organizada pela ERC (na imagem, da esquerda para a direita: Estrela Serrano e Azeredo Lopes, ambos da ERC, e Marçal Grilo, da Fundação Gulbenkian, na abertura dos trabalhos).
segunda-feira, 23 de março de 2009
PINTURA E ARTES VISUAIS
- Este joven artista portugués compagina su empleo diario como macroeconomista con una multitud de actividades creativas que él ejerce con frescura y sin prejuicios de ningún tipo. Diseña moda, pinta, hace collages y construye esculturas e instalaciones. Además, de vez en cuando trabaja como modelo. Lo más interesante de todo es el modo en que integra todas estas facetas bajo un fuerte contenido intelectual que sabe fagocitar y exteriorizar a través de su siempre sorprendente obra.
QUINTO CANAL COM NOVO CHUMBO
O QUE PASSA NA CINEMATECA EM ABRIL DE 2009
- A constelação de sete estrelas maiores do firmamento de Hollywood brilha de novo nas tardes de segunda a sexta-feira na Sala Félix Ribeiro, com as inevitáveis excepções dos feriados da Páscoa. HUMPHREY BOGART brilha num dos seus mais míticos papéis, às ordens de Howard Hawks, em TO HAVE AND HAVE NOT, o tal filme em que encontrou a “rapariga do assobio” que o prendeu para o resto da vida, Lauren Bacall; MARLON BRANDO surpreende os seus admiradores com um talento inesperado, cantando e dançando ao lado de Frank Sinatra em GUYS AND DOLLS; GARY COOPER é a imagem perfeita do heróico soldado colonial na obra-prima do género, THE LIVES OF A BENGAL LANCER; CLARK GABLE é o amotinado Fletcher Christian em MUTINY ON THE BOUNTY, papel que lhe valeu uma nomeação para o oscar de melhor actor; CARY GRANT surge num dos seus mais enérgicos papéis, como editor de jornal em HIS GIRL FRIDAY; PAUL NEWMAN encontra pela primeira vez Robert Redford no mítico western, BUTCH CASSIDY AND THE SUNDANCE KID; e JOHN WAYNE aparece numa espectacular e “technicolorida” aventura, lutando contra um polvo gigante, no que foi o seu único encontro com Cecil B. DeMille, em REAP THE WILD WIND.
Os acólitos dos sete “deuses” são, este mês, apenas três devido aos feriados. Mas é um trio que vale por muitos mais, do clássico ERROL FLYNN ao moderno WARREN BEATTY, passando pelo mais popular dos “divos” da década de 50: ROCK HUDSON, pretexto para (re)apreciarmos alguns clássicos como THEY DIED WITH THEIR BOOTS ON, GENTLEMAN JIM, DESPERATE JOURNEY, THE LAWLESS BREED (todos de Raoul Walsh), MCCABE AND MRS. MILLER, de Robert Altman, e o surpreendente (e estreia nesta sala) $ (DOLLARS) de Richard Brooks.
ESPECTÁCULOS E SOCIOLOGIA DOS PÚBLICOS
De 2002 a 2006, abriram mais de 130 recintos em todo o país, entre bibliotecas, museus, teatros e centros culturais, alargando a oferta de programação e com melhores condições de acesso à cultura. Isso quer dizer que as autarquias têm dado um relevo especial à agenda da cultura.
Entre 1986 e 2003, houve um crescimento na evolução da despesa dos municípios (613%), mas processa-se uma inversão desde então, reflexo da crise económica. Por seu lado, o investimento do Ministério da Cultura foi mais elevado em 2001 e 2002.
O Plano Estratégico 2008-2015 distingue, no caso específico das artes do espectáculo, o finalizar o projecto de construção de teatros e cineteatros (financiados pelo POC/FEDER). O programa Difusão das Artes do espectáculo esteve em vigor em 2000-2002, complementando as redes de recintos. Há hoje mais espectáculos, festivais e eventos de rua. Contudo, processou-se uma quebra de público. A razão reside na oferta demasiado elevada face aos recursos financeiros e tempo disponível da população.
O texto agora disponível dá uma ênfase especial aos espectáculos promovidos pela ARTEMREDE - Teatros Associados, com 9253 espectadores em 2005 e 16740 em 2007. Quanto a formação, a associação realizou cursos de operador de som e imagem, técnico de palco, serviços educativos, gestão e programação de teatros municipais, marketing cultural e relações públicas, e-comunicação, percursos pela arte e cultura do século XX e outros. O plano mostra igualmente a importância da cultura em rede, com espaços de debate e reuniões. Nos anos de 2005 a 2007, o orçamento de promoção de espectáculos e actividades culturais alcançou cerca de 317 mil euros e as receitas atingiram um total de mais de 70 mil euros, enquanto os hotéis locais registaram ganhos de quase 48 mil euros e as gráficas locais um crescimento de quase 56 mil euros.
Das principais metas de consolidação e crescimento, o plano aponta cinco: novos associados (mais 5 a 10), orçamento de programação (aumento de 5% ao ano), públicos (mais 10% ao ano), criação artística (um mínimo de dois espectáculos novos por ano) e mecenato (correspondente a 5% do orçamento de programação). Desse modo, os eixos de intervenção estratégicos são seis: programação, públicos, formação, qualificação da gestão e funcionamento, sustentabilidade, governação e cultura de rede.
Os associados da ARTEMREDE - Teatros Associados são os municípios de (por ordem alfabética) Abrantes, Alcanena, Alçobaça, Almada, Almeirim, Barreiro, Cartaxo, Entroncamento, Moita, Montijo, Nazaré, Palmela, Santarém, Sintra, Sobral de Monte Agraço e Torres Novas. A meu ver, concelhos importantes como Cascais e Oeiras deveriam pertencer a esta associação.
Ver mais em ARTEMREDE.
NAS ORIGENS DO PERIODISMO MODERNO: CARTAS A ORESTES
- Toda a biografia de João Bernardo da Rocha Loureiro (1778-1853) só pode ser uma história intelectual, partindo do princípio que foi um homem de pensamento e acção. É sobretudo do homem que se tratará neste estudo biográfico, avisando que não se trata aqui de uma apresentação do liberalismo ou do vintismo. As referências à doutrina, certamente indispensáveis, serão incompletas e sumárias, preocupando-se José Augusto dos Santos Alves mais com as vias, os caminhos, que conduziram o autor das Cartas a Orestes à imagética liberal-vintista.
Quem era pois Rocha Loureiro? Como se formou? Que influências? É a estas interrogações que este pequeno exórdio tenta responder, sem pretensões, mas também sem “beatice”. João Bernardo da Rocha Loureiro foi um homem público, enquanto periodista e deputado. A sua biografia inscreve-se num encadeamento histórico que pesa sobre ele e sobre o qual agiu muitas vezes (informação da editora).
domingo, 22 de março de 2009
A MORTE DA REALITY STAR
Mais recentemente, ela protagonizou um casamento apoiado pelos media (22 de Fevereiro) e pretendeu que a sua morte fosse filmada em directo, o que não aconteceu. A sua mãe disse que ela dormiu nas últimas 24 horas, longe dos sobressaltos da sua vida dos últimos anos. Por seu lado, o primeiro-ministro inglês, Gordon Brown, considerou que ela fez muito pela divulgação do cancro cervical, a doença que a vitimou.
Gostaria de traduzir reality star por estrela da realidade, mas não me parece bem. Trata-se mais de uma celebridade, celébre pela celebridade em si, não consubstanciada em nada. Tornou-se conhecida por participar num programa onde pôs a nu uma deficiente formação escolar, escândalo na sociedade ocidental onde a escola tem um papel central, mas onde saem muitas pessoas com idêntica formação deficiente. O escândalo em torno dela cresceu quando insultou a actriz indiana. Mas, de celebridade "má", passou a celebridade "boa" e activista quando adoeceu e se casou e baptizou os dois filhos pequenos. Enquanto muitos escondem a doença, ela teve coragem (ou falta de prudência) exibindo as suas debilidades físicas. No sentido das estrelas do Big Brother, regra geral mediatizadas por desvios sociais, viveu uma existência desbragada e exuberante, condimentos essenciais para fazer notícias, manchetes e capas de revistas.
O EFEITO DA INTERNET NAS INDÚSTRIAS CULTURAIS
- A primeira vítima da partilha digital foi a indústria musical, já lá vai uma década. O cinema temeu o pior e, talvez por ter reagido cedo, escapou. A seguir foram os jornais a declararem-se vítimas da Internet, essa “praga” que supostamente destrói a capacidade de lucro das indústrias culturais.A próxima vítima chama-se indústria da informática. (Texto de arquivo; primeira versão publicada na semana passada no Expresso Multimedia).
FESTIVAL DE CURTAS-METRAGENS NO PORTO
A 2ª edição do Porto7 – Festival internacional de curtas-metragens do Porto vai decorrer de 10 a 14 de Junho, naquela cidade. É constituído por diversas secções:
1) Competição Internacional de Curtas-metragens – Curtas-metragens de ficção seleccionadas para esta secção. Prémios: Melhor Curta-metragem, Melhor Argumento Original, Melhor Actor, Jovem Realizador (até 30 anos),
2) Competição de Curtas-Metragens Porto7 – Curtas-metragens de ficção, sob o tema Porto. Prémio: Melhor Curta-metragem Porto7
3) Competição de Videoclip – Videoclips musicais. Prémio: Melhor Vídeoclip
4) Mostra de Curtas-Metragens – Exibição das Curtas-metragens concorrentes ao Festival, que apesar de não seleccionadas para a secção competitiva serão exibidas nesta mostra.
5) Mostra Porto7 Mood – Exibição de filmes seleccionados pela organização, com o intuito de promover, dinamizar e fomentar a produção cinematográfica.
A data limite para envio de filmes a concurso é 5 de Maio 2009.
Para saber mais, procurar em www.porto7.com.
sábado, 21 de março de 2009
AGENDA MEDIÁTICA E POLÍTICA
Episódios (ou pseudo-acontecimentos): anúncio da Antena 1; críticas do noticiário das 20:00 das sextas-feiras da TVI na ERC. Agentes sociais: partidos políticos (PS e PSD, aquele mais identificado em termos de nomes individuais, como Arons de Carvalho), entidade reguladora (ERC), media (TVI, identificado com José Eduardo Moniz, director do Público e colaboradores deste jornal, na edição de hoje, respectivamente José Manuel Fernandes, Eduardo Cintra Torres e José Pacheco Pereira).
Observação: quem tivesse lido a notícia publicada ontem - no Diário de Notícias e no Público - sobre a análise que a ERC vai fazer às críticas de espectadores à TVI, leria dois tipos distintos de abordagem, uma mais neutra no primeiro, outra dando relevo ao director-geral da TVI, ameaçando ir à guerra total se se comprovasse a ERC ser serva do poder. Nesta última notícia, percebeu-se uma melhor definição do enquadramento do tema, com uma identificação de quem era e o que pretendia. A notícia do Público, apesar de maior tendenciosa (por dar mais relevo a uma fonte de informação), era mais completa e mostrava melhor a realidade em jogo. A isto chamo campo de notícia: a perspectiva distinta nos vários media a partir de um facto (ou pseudo-facto).
Posições: pelo escrito acima, ela é mais visível e entendível no Público. Logo, e goste-se ou não, é um jornal a seguir nos próximos dias. A posição do Diário de Notícias é mais factual, menos interpretativa e comprometida com uma posição, com menos interesse político e intelectual.
Ameaças e oportunidades: a posição de Arons de Carvalho, em texto há uma semana publicado no Expresso, onde defendia a existência de uma campanha negra em torno do primeiro ministro, tem contraponto em José Eduardo Moniz, na notícia de ontem do Público, como aliás ele se expressou igualmente na semana passada em conferência na Católica. As posições de ambos estão bem definidas e expressam uma luta entre um partido político e um canal de televisão (e jornais como Público e Sol), o que ameaça a relação habitual de combate político: partido de poder versus partido de oposição. Esta ameaça está consubstanciada numa queixa da líder do principal partido de oposição durante a actual semana: Manuela Ferreira Leite disse que os media a não escutavam. Aqui, há duas interpretações: os media preferem ouvir o poder político de serviço e não a oposição; as propostas dela não convencem os media. A oportunidade é ver os media como continuadores da defesa da liberdade no espaço público, numa altura em que a opinião pública tem outra agenda: desemprego.
Última observação: em ano eleitoral, é compreensível que os pseudo-acontecimentos ganhem uma ampliação inexplicável noutros períodos. O anúncio da RDP deveria ter sido logo eliminado, ou pensado previamente no impacto que teria, mesmo antes da sua emissão. Há que prever as conotações. A tensão que existe em tempos de eleições é propícia a estas interpretações. O pedido de demissão da direcção da RDP é excessivo, faz parte da espuma dos dias. Ao invés, o comportamento da ERC continua a ser minuciosamente escrutinado; e a ERC é uma entidade de grande poder mas, ao mesmo tempo, frágil, pois ela emana da Assembleia da República; se a relação entre os dois principais partidos políticos está comprometida (como no caso do provedor de Justiça), tal significa que a entidade sofre igualmente dessa degradação da relação dos partidos.
PAVILHÃO 28
O ambiente é propício para as exposições/instalações. O efémero e o ilusório da duração, o reciclável, os materiais pobres, a noção escassa de beleza em termos de como os ocidentais se exprimiram desde antes do Renascimento, o trágico da humanidade, o habitar e deixar de ser habitado, o frio resultante desse desaparecimento, estão ali patentes. Há, não posso deixar de afirmar, o desespero de uma geração jovem. Urbana, muito letrada, parece que procura o desconforto, a pobreza material. E dar conta da desagregação das cidades - de partes das cidades, prontras para o camartelo - e das psicologias individuais.
Underconstruction, na ala direita, usa os vídeos como representantes maiores da arte. Filmes sobre a periferia de Lisboa, a miscigenação, a cultura dos outros, marginalizadas mas existentes e vivas. Apartamentos, na ala esquerda, conta por exemplo com RAM, que utilizou dois quartos da pavilhão para expor. De um lado, estão os seus graffitis pintados em rectângulos de vidro; do outro lado, ficaram as marcas desses quadros antes de migrarem para o lado. Resistem espaços brancos rodeados por sinais e cores e formas monstruosas, a apontar para a doença mental. Este lado, agora ausente de vida, revela traços de uma alegria perdida da habitabilidade. Ou: fala-nos das experiências de pintores radicais de finais do século XIX que indicavam a sua degradação física, explorando as cores e as formas nos quartos que habitavam, antes da explosão do graffti no espaço público, como acontece hoje. O abandono do Pavilhão 28 expressa-se em RAM como nas fotografias de Gundula Friese. Alemã, ela fotografou os locais desabitados da Alemanha oriental pós 1989. Ruínas, degradação, esquecimento, mesmo a má qualidade das fotografias, indicam um estado de alma da fotógrafa - e do resto dos artistas da exposição/instalação.
sexta-feira, 20 de março de 2009
ACESSO MAIS DIFÍCIL AOS MEDIA
Fonte: European Journalism Centre.
EXPOSIÇÃO NO MUSEU DO CHIADO
CONGRESSO SOBRE GÉNERO E MEDIA
A TELEVISÃO E AS CRIANÇAS
MAMELUCO
Mameluco significa híbrido brasileiro, filho de europeu colonizador com indígena. Como o nome sugere, Os mamelucO é uma mistura que se pode ter na música brasileira, do samba ao blues, do côco ao choro. Este ano, vão lançar um CD, tendo já quatro músicas gravadas, disponíveis no MySpace. São Huguêra no violão, voz e cavaquinho, Gunnar Vargas no violão e voz, Peu na gaita, Cláudio Oliveira no baixo, Dan! na bateria, Paula da Paz na voz e Rafael Franja na percussão.
Contactos: Vanessa Sórice.
quinta-feira, 19 de março de 2009
CIDADANIA DIGITAL
Começo da minha participação (segundo painel): "O presente artigo associa media digitais e responsabilidade social e procura justificar duas perspectivas: os media digitais promovem a cidadania e expressam a sociedade do conhecimento. Nele, abordam-se conceitos como responsabilidade social, criatividade e trabalho colaborativo, software social de livre acesso, jornalismo de cidadania e cultura pro-am, com análise de dois meios digitais de excelência, blogues e wikipedia".
CINEMA DE EDGAR PÊRA
BREVE - II
Diz ele que sem cidades cosmopolitas, com cenas artísticas e internacionais de prestígio, as indústrias criativas não têm um futuro muito adequado. Diz: as indústrias criativas não são solução milagrosa, nem se receita por decreto. E contesta a percentagem geralmente atribuída em termos de PIB. No caso português, isso passa por contabilizar televisão, cinema e música sem expressão de exportação. Além do deslumbramento com a tecnologia, que guia alguns dos teóricos das indústrias criativas.
BREVE - I
Sou lento a aceitar novos grafismos. Já o escrevi aqui numa das mudanças de grafismo do Público. Só por habituação (esquecimento do grafismo anterior) é que passo a gostar.
Mas não gosto do tratamento às fotografias. As fotografias de Vítor Constâncio e Dias Loureiro (página 2) ainda passam despercebidas, pela pequena dimensão das mesmas. Mas a de Rui Pereira, que nem sequer aparece mencionado na notícia, essa não. O texto refere uma acusação de António Costa, presidente da câmara de Lisboa, à polícia e ao Ministério da Administração Interna. Rui Pereira aparece com um sinal a abranger todo o nariz. Perguntas: foi operado ao nariz e anda com um penso? Usa uma máscara antigripe? Está vestido para o Carnaval? Não, a fotografia indica que há um vídeo com a notícia no novo sítio do jornal.
O tratamento gráfico da fotografia é um pavor!
quarta-feira, 18 de março de 2009
ANIVERSÁRIO DO BLOGUE
OBJECTIVOS DO WEBLOG
Este weblog destina-se a apresentar textos sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, videojogos, publicidade).
O Indústrias entra no sétimo ano de vida! A quantidade de textos que aqui publiquei! Deixei de escrever a palavra weblog, aportuguesando para blogue, mudei de grafismo do blogue (nem reflecti sobre a última mudança), dei conferências, escrevi um livro, encontrei e fiz muitas amizades graças ao blogue, inspirei outras pessoas a investigar sobre a área. Tantas coisas boas graças ao blogue.
O meu reconhecido agradecimento aos leitores.
REVISTA DE ARGUMENTISTAS E DRAMATURGOS
A APAD (Associação Portuguesa de Argumentistas e Dramaturgos) já editou o número 2 da sua revista trimestral dedicada ao cinema e ao teatro (ver aqui).
O tema do número é Empresas de Guionistas, onde se destacam os seguintes textos: entrevistas a Nuno Artur Silva (Produções Fictícias), Adriano Luz (Casa da Criação) e Nuno Bernardo (beActive), directório com as principais empresas de conteúdos, conversa com Alexandre Valente sobre Second Life, dois artigos sobre Robert Mckee (seminário em Lisboa, por Manuel Pureza; livro Story, por Jorge Palinhos), artigo sobre Direitos de Autor e análise a filmes (Ricardo Oliveira e Maria João Cordeiro) e ópera (António Lourenço).
Excerto do editorial:
- Os argumentistas nunca foram os mesmos, em Portugal, desde meados da décadade 90, quando um grupo de autores decidiu criar uma empresa que coordenassee tornasse viável a produção contínua de guiões. Nasciam as Produções Fictícias (PF). Foi a partir deste ponto de partida que procuramos ouvir alguns protagonistas de uma face mais empresariável dos argumentistas.
EXPOSIÇÃO APARTAMENTOS
- *Quer esteja enraizado ou desenraizado, o indivíduo vive sempre profundamente determinado pela relação com o seu interior e exterior. Em APARTAMENTOS, a individualidade é a palavra de ordem apresentando-se como um dos mais importantes valores artísticos. É necessário ter consciência de que o indivíduo vive o mesmo destino comum, mas cada um deles, vive-o de maneira diferente, a partir das suas próprias experiências. Por vezes, o indivíduo entra em ruptura com o exterior, com a realidade a que está confinado, optando por se manifestar a partir de uma perspectiva holístico-construtiva – em busca da unidade individual e que lhe permite aceder a uma noção e relação absoluta da realidade.*
*Com frequência, pretende-se encontrar um único modo de fruição no espaço onde os vários artistas expõem as suas obras. Em APARTAMENTOS acontece algo semelhante, com a única diferença de imaginar cada um dos artistas encerrados nos seus próprios casulos. Assim, o espaço ganha os contornos de uma longa mesa de degustação. *
*Este local permite, também, controlar as forças do ego, para que cada um dos artistas assegure a sua identidade e abordagens perante a individualidade. Consequentemente, não há qualquer tipo de fusão.*
*APARTAMENTOS** debate-se com o real facto de que a memória é efémera. É o reflexo do indivíduo se defender da pressão social e cultural exercida nos dias de hoje; na procura de novas possibilidades para confrontar o exterior, o real e a esteticidade do belo.*
terça-feira, 17 de março de 2009
LANÇAMENTO DO LIVRO DE HELENA CORDEIRO
Parte da minha apresentação do livro:
- O livro de Helena Cordeiro é sobre a leitura e o consumo de uma revista feminina, a Elle em edição portuguesa. Começa com as seguintes perguntas, na página 21: as capas da Elle veiculam que informação? O que destacam? Que temas principais? E que lugar têm as revistas na vida quotidiana da mulher portuguesa? A estas perguntas inteligentes, a autora deu respostas concretas, como se lê ao longo do livro.
[...] O Papel Principal, o livro de Helena Cordeiro, não é herdeiro das polémicas em torno do Centre for Contemporary Cultural Studies de Birmingham, mas segue as linhas propostas pelas autoras acima indicadas, como se observa na bibliografia desta obra. No conjunto, Joke Hermes foi a investigadora que Helena Cordeiro seguiu de mais perto. Basta ver o modo como construiu o seu quinto capítulo. Escreve ela, na página 139: "as revistas femininas são tornadas importantes para os seus leitores através da construção de repertórios (fazendo referências a sistemas de significado subliminares) e, consequentemente, contabilizando visões estereotipadas das leitoras".
Helena Cordeiro fez entrevistas em profundidade com dez mulheres leitoras das glossies, revistas de formato internacional, papel brilhante e preço elevado. Escolheu essas entrevistadas a partir de três variáveis: idade (25 a 40 anos), profissão, classe social/nível de vida (média, média alta). Obviamente, os resultados não são universais, mas representam aqueles estratos. A compreensão dos resultados só pode dar-se através da leitura da totalidade do capítulo. Mas fico-me com a observação que as revistas constituem uma "base de sustentação para os repertórios de conhecimento partilhado" (página 149).
Além do trabalho de inquérito, na sequência de trabalhos das autoras já identificadas, Helena Cordeiro fez análise de conteúdo às capas e às chamadas na capa. Usou, assim, uma segunda metodologia de investigação, elemento crucial em sociologia. Olhou e interpretou as capas da Elle durante dezassete anos, onde sempre apareceram mulheres bonitas, elegantes e jovens, num evidente estereótipo da realidade. É que as mulheres com que nos cruzamos todos os dias podem não corresponder a esse perfil físico sem deixarem de ser encantadoras. As capas são também do domínio da moda e dos conselhos físicos e higiénicos. Helena Cordeiro conclui com outro tipo: a revista ajuda a alimentar o mito da mulher bela que atingiu a igualdade e a liberdade. Na Elle – e mais noutras revistas –, encontramos mensagens fortes e apelativas da sexualidade. Destaque para outra conclusão: a importância da expectativa confirmada – quando se compra uma revista feminina, sabe-se à partida o que se vai encontrar (página 154). O mesmo se poderia dizer das revistas masculinas, de desportos motorizados, de artes e leilões.
[...] No começo do livro, Helena Cordeiro apresenta o editorial da primeira edição portuguesa da Elle, de autoria de uma jornalista entretanto desaparecida, Tereza Coelho. Escreveu ela que a Elle "Surgira em França depois da guerra, em Novembro de 1945, pelo entusiasmo e intuição de Hélène Lazareff (o marido, Pierre Lazareff, dirigia nesses tempos o France-Soir). Duas ideias básicas: surpreender a transformação quotidiana do mundo na viragem do século, afirmar a imagem de juventude que domina, cada vez mais, essa transformação" (página 19). Quotidiano em transformação e juventude são palavras chave da revista, então como hoje.
A estrutura da obra de Helena Cordeiro assenta em três partes, a primeira das quais fala da representação da mulher na imprensa do género, a segunda da revista feminina e a terceira do corpus da revista analisada, a Elle. Fico-me na segunda parte, capítulo três, no qual a autora divide em uso quotidiano dos media, leitura das glossies, tipologias e significados dados às revistas, importância das revistas femininas no quotidiano da mulher e construção de novas realidades.
LANÇAMENTO DE LIVRO HOJE
CURSO DE IMAGINÁRIA RELIGIOSA
De 1 de Abril a 20 de Maio, no Centro Cultural do Patriarcado de Lisboa. Módulos: Imaginária no norte de Portugal nos séculos XVII e XVIII - artistas, formas e funções, com Manuel Joaquim Moreira da Rocha (Faculdade de Letras/Universidade do Porto), O triunfo da escultura religiosa em madeira no Porto, do século XVIII ao século XX - oficinas, obras e artistas, com José Manuel Tedim (Universidade Portucalense), A escultura coimbrã do século XVI – as figuras, os retábulos, e as capelas todas-em-pedra, com Carla Alexandra Gonçalves (Universidade Aberta), A produção de imaginária religiosa em Lisboa no século XVIII – mestres, formas e influências, com Sandra Costa Saldanha (Centro Cultural do Patriarcado de Lisboa), Um percurso pela imaginária no Alentejo no período moderno, com Joaquim Oliveira Caetano (Museu de Évora), Imaginária religiosa no Brasil nos séculos XVII e XVIII - oficinas conventuais e escolas regionais, com Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Questões de iconografia na imaginária luso-oriental em marfim – séculos XVI-XVIII, com Maria Cristina Osswald (Universidade do Minho, UNED (Madrid) e UNICAMP (Brasil), Iconografia da Cruz de Cristo na imaginária portuguesa, com Carlos A. Moreira Azevedo (Escola das Artes/Universidade Católica Portuguesa).
segunda-feira, 16 de março de 2009
NEWSMAKING - I
Na internet, o texto tinha quatro blocos. Na notícia em papel, surgem apenas os dois blocos iniciais, com alguns ajustamentos. O que se omitiu na edição em papel foi fundamentalmente as vozes de especialistas ou outros que discordavam do modelo de museu da rádio.
O que aqui e agora quero salientar é a constatação da limitação ou constrangimento da edição em papel: o espaço disponível. O essencial (positivo) da informação está no papel; logo, o jornal prestou um bom serviço. Mas a ideia de contraste de opiniões, de exploração de contradições desaparece, apesar do texto em papel criticar a inexistência do museu da rádio como a lei da rádio o indica; logo, o jornal não informou bem.
O exemplo agora apresentado leva-me a reflectir em algo que nunca pensara. Diz-se que a televisão e a rádio dão informação em tempo real e os jornais reflectem. Mas a internet baralhou esta análise. Por um lado, acusa-se a informação via internet de ser jornalismo "sentado", em que o profissional está em frente do computador e busca aqui e ali e compõe as suas peças, sem qualquer investigação. Mas, por outro lado, a maior disponibilidade em espaço e tempo leva a que a internet seja mais profunda em análise que o jornal. Na notícia acima, publicada na internet, percebe-se que a jornalista falou/telefonou a quatro fontes, dando conta do contraditório sobre a questão; na notícia em papel, lê-se apenas o respondido por uma fonte.
Conclusão: o newsmaking (fazer as notícias) é (ou tende a ser) mais rico na internet.
NEWSMAKING - II
Ontem, domingo, no Público, Alexandra Prado Coelho, retoma o tema (página 19). Cita o Guardian (embora sem indicar data de edição) e segue de muito perto a notícia. E também a AFP (Agence France Presse), que possivelmente fez a divulgação da peça do Guardian (ou foi o Guardian que seguiu a France Presse?), nomeadamente a infografia que sustenta a imagem.
A minha leitura em termos de newsmaking é que o jornalista segue várias pistas e informações para escrever as suas peças. Podem ser de fontes directas (fontes oficiais, outras fontes), pesquisa pessoal ou artigos e peças jornalísticas em outros meios. Num livro que publiquei há três anos, chamei a isto campo de notícia: a informação circula pelos vários media e toma ângulos e perspectivas diferentes segundo o meio e o jornalista. No caso presente, justifica-se a oportunidade da publicação da notícia pelo impacto do que está em jogo.
NEWSMAKING - III
O newsmaking está em processo de rápida alteração. Não são apenas os jornais de âmbito nacional e mais comerciais, como New York Times e Público, que reflectem sobre as novas tendências, mas igualmente jornais locais e regionais. O problema, contudo, é que os jornais digitais ainda não desenvolveram um modelo de negócio adequado.
Agradecimento a Carlos Filipe Maia, que me fez chegar a informação.